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GESTÃO DE

DOCUMENTOS E
REGISTRO ESCOLAR

Nice Pastor Delacalle


A gestão documental
ética nas escolas
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Definir ética na gestão de documentos escolares.


 Refletir sobre o acesso às informações escolares e ao sigilo.
 Avaliar as consequências da falta de ética na gestão documental das
escolas para a vida das pessoas.

Introdução
Neste capítulo, você estudar a definição de ética e a importância de
as instituições escolares utilizarem códigos de ética para fortalecer a
credibilidade da gestão de documentos. Você vai também ler sobre
a necessidade da proteção de dados e as possíveis consequências da
quebra de sigilo para quem a realizou, para a instituição e para as demais
pessoas envolvidas. Por fim, você vai ver como a liderança e a coliderança
da administração escolar são importantes para a construção e a imple-
mentação de um código de ética na instituição escolar.

1 Definição ética na gestão de documentos


escolares
Para estudar sobre ética, é importante, antes de tudo, definir o que é esse
conceito. Primeiramente, vamos pensar a ética como um conceito filosófico.
Segundo Abbagnano (2007, p. 442), a ética pode ser vista de duas maneiras
fundamentais: a primeira, “[…] a considera como ciência do fim para o qual
a conduta dos homens deve ser orientada e dos meios para atingir tal fim,
deduzindo tanto o fim quanto os meios da natureza do homem”; e a segunda
“[…] considera como ciência do móvel da conduta humana e procura determinar
tal móvel com vistas a dirigir ou disciplinar essa conduta”.
2 A gestão documental ética nas escolas

Como é possível observar, há antagonismo entre os conceitos apresentados,


pois o primeiro busca o homem ideal, já o segundo apresenta caráter mais
pragmático, atendendo ao que poderíamos, grosso modo, chamar de interesses
passageiros.
De qualquer modo, ao associarmos um conceito de ética ao ambiente de
trabalho, estamos nos aproximando do segundo conceito, pois, na prática,
as empresas definem códigos de conduta profissional próprios, que visam
atender aos interesses da produção, do lucro e do melhor produto final ou
da melhor prestação de serviço possível. Portanto, definem-se padrões de
comportamentos para indivíduos enquanto representantes de instituições, em
qualquer nível hierárquico.
Há normas de comportamentos mais assertivos para que o funcionário
produza mais e melhor, considerando algumas condições que sejam salutares
e convenientes à organização. Por isso, inúmeras empresas apresentam seu
próprio código de ética, seu rol de princípios e normas que define o compor-
tamento esperado do colaborador da instituição, que o propaga e divulga para
fortalecer a credibilidade junto ao seu público.
A ética está ligada ao networking da organização; não somente sob o aspecto
da produtividade, mas também, e especialmente, em relação ao comprometi-
mento com a sociedade. Melo (2020, p. 9) explica que:

[…] o comprometimento das empresas com a ética não abrange apenas uma
boa reputação externa, mas o alinhamento dos seus profissionais com base em
padrões éticos como transparência, integridade, confiabilidade, honestidade,
valores esses que constroem ou destroem a imagem de uma organização.

Do ponto de vista prático, a ética profissional está intimamente ligada a


comportamentos aceitáveis e não aceitáveis no ambiente de trabalho. Diferentes
profissões organizam seus códigos de ética profissional, indicando condutas
que são ou não aceitáveis, visando garantir que os profissionais apresentem
no cotidiano de trabalho condutas íntegras, que enalteçam a profissão e os
profissionais junto à sociedade.
O código de ética visa regular não só as relações entre as pessoas no am-
biente de trabalho, mas também o comportamento dos profissionais fora desse
ambiente. Isso quer dizer que o código de ética indica que os profissionais não
devem divulgar certas informações sobre as organizações, especialmente as
que requerem sigilo ou discrição. Essas informações devem ficar dentro do
ambiente de trabalho.
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No contexto legal, a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), estabelecida


pelo Decreto-Lei nº. 5.452, de 1º de maio de 1943, traz menção específica sobre
o comportamento profissional não desejado, sob a punição de “[...] demissão
por justa causa” (BRASIL, 1943, documento on-line). Esse tipo de demissão
é altamente desabonador a qualquer profissional, porque fica registrada em
seus documentos profissionais e, via de regra, expressa que quem cometeu a
falta não é digna de confiança, conforme exarado a seguir (BRASIL, 1943,
documento on-line).

Art. 482 — Constituem justa causa para rescisão do contrato de trabalho


pelo empregador:
a) ato de improbidade;
b) incontinência de conduta ou mau procedimento;
c) negociação habitual por conta própria ou alheia sem permissão do empre-
gador, e quando constituir ato de concorrência à empresa para a qual trabalha
o empregado, ou for prejudicial ao serviço;
d) condenação criminal do empregado, passada em julgado, caso não tenha
havido suspensão da execução da pena;
e) desídia no desempenho das respectivas funções;
f) embriaguez habitual ou em serviço;
g) violação de segredo da empresa;
h) ato de indisciplina ou de insubordinação;
i) abandono de emprego;
j) ato lesivo da honra ou da boa fama praticado no serviço contra qualquer
pessoa, ou ofensas físicas, nas mesmas condições, salvo em caso de legítima
defesa, própria ou de outrem;
k) ato lesivo da honra ou da boa fama ou ofensas físicas praticadas contra
o empregador e superiores hierárquicos, salvo em caso de legítima defesa,
própria ou de outrem;
l) prática constante de jogos de azar.
m) perda da habilitação ou dos requisitos estabelecidos em lei para o exercício
da profissão, em decorrência de conduta dolosa do empregado (Incluído pela
Lei nº. 13.467, de 2017).
Parágrafo único — Constitui igualmente justa causa para dispensa de em-
pregado a prática, devidamente comprovada em inquérito administrativo,
de atos atentatórios à segurança nacional (Incluído pelo Decreto-Lei nº. 3,
de 27.1.1966).

Em linhas gerais, os incisos apresentados no art. 482 da CLT indicam


comportamentos inaceitáveis pelos contratantes, que abarcam questões rela-
tivas ao comportamento do trabalhador no contexto de atuação profissional,
ao relacionamento entre profissionais, ao trato das informações da empresa
contratante e a comportamentos sociais considerados não aceitáveis, que são
passíveis de punição ou de repreensão.
4 A gestão documental ética nas escolas

A demissão por justa causa é considerada uma violação aos códigos do contrato de
trabalho e pode trazer diferentes problemas para a vida profissional de um trabalhador.
Conheça um pouco mais sobre o tema, assistindo ao vídeo “Saiba em que situações
a demissão por justa causa pode ocorrer”, publicado no canal do Tribunal Superior
do Trabalho.

Assim como os trabalhadores contratados pelo regime celetista, os ser-


vidores públicos também têm um código de ética, nas diferentes esferas de
atuação: federal, estadual ou municipal. A base do código de ética dos servi-
dores públicos está na Constituição Federal brasileira de 1988, especialmente
no art. 37 (BRASIL, 1988, documento on-line):

Art. 37 — A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes


da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos
princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência
e, também, ao seguinte (Redação dada pela Emenda Constitucional nº. 19,
de 1998).

Além dos princípios expressos, há os princípios implícitos, como a pro-


bidade, a economicidade, a razoabilidade, a igualdade, o interesse público,
a supremacia do interesse público e o controle judicial. A administração
pública, independentemente do ente (federal, estadual ou municipal) tem suas
ações realizadas por agentes ou servidores públicos. Por isso, os princípios
da administração pública são os mesmos que regem os estatutos dos servi-
dores nas diferentes unidades da federação. É possível ilustrar o código de
ética dos servidores por outros instrumentos. Veja a seguir, como exemplo,
trechos dos princípios do Código de Ética dos servidores públicos do poder
executivo, contido no Decreto n°. 1.171, de 22 de julho de 1994 (BRASIL,
1994, documento on-line):

I — A dignidade, o decoro, o zelo, a eficácia e a consciência dos princípios


morais são primados maiores que devem nortear o servidor público, seja no
exercício do cargo ou função, ou fora dele, já que refletirá o exercício da
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vocação do próprio poder estatal. Seus atos, comportamentos e atitudes serão


direcionados para a preservação da honra e da tradição dos serviços públicos.
II — O servidor público não poderá jamais desprezar o elemento ético de sua
conduta. Assim, não terá que decidir somente entre o legal e o ilegal, o justo
e o injusto, o conveniente e o inconveniente, o oportuno e o inoportuno, mas
principalmente entre o honesto e o desonesto, consoante as regras contidas
no art. 37, caput, e § 4°, da Constituição Federal.
III — A moralidade da Administração Pública não se limita à distinção entre
o bem e o mal, devendo ser acrescida da idéia de que o fim é sempre o bem
comum. O equilíbrio entre a legalidade e a finalidade, na conduta do servidor
público, é que poderá consolidar a moralidade do ato administrativo.
IV — A remuneração do servidor público é custeada pelos tributos pagos
direta ou indiretamente por todos, até por ele próprio, e por isso se exige,
como contrapartida, que a moralidade administrativa se integre no Direito,
como elemento indissociável de sua aplicação e de sua finalidade, erigindo-se,
como consequência, em fator de legalidade.
V — O trabalho desenvolvido pelo servidor público perante a comunidade
deve ser entendido como acréscimo ao seu próprio bem-estar, já que, como
cidadão, integrante da sociedade, o êxito desse trabalho pode ser considerado
como seu maior patrimônio.
VI — A função pública deve ser tida como exercício profissional e, portanto,
se integra na vida particular de cada servidor público. Assim, os fatos e atos
verificados na conduta do dia-a-dia em sua vida privada poderão acrescer ou
diminuir o seu bom conceito na vida funcional.
VII — Salvo os casos de segurança nacional, investigações policiais ou in-
teresse superior do Estado e da Administração Pública, a serem preservados
em processo previamente declarado sigiloso, nos termos da lei, a publicidade
de qualquer ato administrativo constitui requisito de eficácia e moralidade,
ensejando sua omissão comprometimento ético contra o bem comum, impu-
tável a quem a negar.
VIII — Toda pessoa tem direito à verdade. O servidor não pode omiti-la ou
falseá-la, ainda que contrária aos interesses da própria pessoa interessada ou
da Administração Pública. Nenhum Estado pode crescer ou estabilizar-se
sobre o poder corruptivo do hábito do erro, da opressão ou da mentira, que
sempre aniquilam até mesmo a dignidade humana quanto mais a de uma Nação.
IX — A cortesia, a boa vontade, o cuidado e o tempo dedicados ao serviço
público caracterizam o esforço pela disciplina. Tratar mal uma pessoa que
paga seus tributos direta ou indiretamente significa causar-lhe dano moral. Da
mesma forma, causar dano a qualquer bem pertencente ao patrimônio público,
deteriorando-o, por descuido ou má vontade, não constitui apenas uma ofensa
ao equipamento e às instalações ou ao Estado, mas a todos os homens de boa
vontade que dedicaram sua inteligência, seu tempo, suas esperanças e seus
esforços para construí-los.
X — Deixar o servidor público qualquer pessoa à espera de solução que
compete ao setor em que exerça suas funções, permitindo a formação de
longas filas, ou qualquer outra espécie de atraso na prestação do serviço,
não caracteriza apenas atitude contra a ética ou ato de desumanidade, mas
principalmente grave dano moral aos usuários dos serviços públicos.
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XI — O servidor deve prestar toda a sua atenção às ordens legais de seus


superiores, velando atentamente por seu cumprimento, e, assim, evitando a
conduta negligente. Os repetidos erros, o descaso e o acúmulo de desvios
tornam-se, às vezes, difíceis de corrigir e caracterizam até mesmo imprudência
no desempenho da função pública.
XII — Toda ausência injustificada do servidor de seu local de trabalho é
fator de desmoralização do serviço público, o que quase sempre conduz à
desordem nas relações humanas.
XIII — O servidor que trabalha em harmonia com a estrutura organizacio-
nal, respeitando seus colegas e cada concidadão, colabora e de todos pode
receber colaboração, pois sua atividade pública é a grande oportunidade para
o crescimento e o engrandecimento da Nação.

Como é possível observar, o código de ética utilizado como referência neste


estudo apresenta, em seu início, o que denominam regras deontológicas, que
podem ser compreendidas, de modo prático, como os princípios da ação, os
princípios éticos que devem reger a ação dos servidores. Com mais detalhes
descritivos do que os constantes na CLT, há indicações que congregam o
comportamento desse servidor no relacionamento entre profissionais, relaciona-
mento com informações da repartição e comportamentos sociais considerados
não aceitáveis, que são passíveis de punição ou de repreensão no contexto de
vida cidadã, além de pontos que abominam a ação profissional que fomente
seus interesses particulares. Os demais códigos de ética de servidores públicos
podem ser encontrados nos seus estatutos, mas é possível inferir que seu teor
se assemelha ao código de ética utilizado como exemplo.

Para saber mais sobre os deveres e as proibições para os servidores públicos de sua
região, busque em seu navegador por “deveres e proibições dos servidores públicos do
(estado ou munícipio)” ou “estatuto dos servidores públicos do (estado ou munícipio)”.

Código de ética dos secretários


A categoria profissional possui sindicatos organizados em diferentes regiões
do País. Esses sindicatos organizaram a Federação Nacional das Secretárias e
Secretários (FENASSEC), cuja finalidade é de estudo, coordenação, proteção,
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defesa e orientação geral e legal da categoria profissional. Entre as ações


da associação, consta a publicação do código de ética dos profissionais de
secretariado, composto por 20 artigos. A seguir estão descritos alguns deles
(FENASSEC, 2020).

 O art. 3º enfatiza que as ações profissionais precisam se caracterizar


como exemplo, seguindo os códigos morais ou legais da sociedade,
como forma de zelar pela dignidade e valorização da própria profissão.
 No art. 5º constam itens que direcionam a atuação profissional com
base na verdade e no respeito e valorizam a qualificação contínua.
 O art. 6º versa sobre a importância do sigilo absoluto sobre os assuntos
e documentos que forem confiados ao profissional.
 O art. 7º proíbe que o profissional assine documentos que comprome-
tam a dignidade profissional da categoria, o que podemos interpretar
como qualquer tipo de documento que possa ser fraudulento, de origem
duvidosa, entre outros.
 O art. 8º traz a relevância do comportamento assertivo, respeitoso,
solidário e cortês para manter o clima de trabalho adequado e positivo,
especialmente entre os pares.
 O art. 9º proíbe a utilização da posição para obter favores ou facilida-
des pessoais, a conivência com o erro, a contravenção e as ações que
prejudiquem a reputação de outro profissional da mesma categoria
(clientelismo).

No que tange à relação com a empresa, há direcionamento para seu papel


de coliderança e de facilitação nos processos de implantação de políticas
administrativas e na relação interpessoal na sua área de atuação. Reitera-se
que é proibido obter favores ou prejudicar profissionais em função da sua
posição. Por, fim constam inúmeros artigos que defendem a própria relação do
secretário com a entidade de classe, corroborando ainda mais com o segundo
conceito de ética indicado no início deste estudo.

Para saber mais, pesquise em seu navegador por “código de ética dos profissionais
do secretariado”.
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Entre tantos temas presentes no cotidiano profissional do secretário escolar,


alguns merecem destaque e reflexão, como a produção, a elaboração e o sigilo
na produção ou na recepção de documentos, além do trato digno e respeitoso
com as pessoas do ambiente de trabalho ou externos a ele. A seguir, vamos
estudar esses temas.

2 Acesso às informações escolares e sigilo


Informação sigilosa é aquela que precisa ser restrita ou mantida em segredo.
O sigilo é um ordenamento legal na legislação brasileira. A Constituição
Federal de 1988, no art. 5º, prevê o direito ao sigilo e à privacidade das infor-
mações (BRASIL, 1988). A Lei Geral de Proteção aos Dados Pessoais, Lei
nº. 13.709, de 14 de agosto de 2018, regula os condicionantes de acesso aos
dados e informações pessoais, limitando esses, basicamente aos interesses
próprios, ao atendimento a questões de segurança pública ou à justiça criminal
(BRASIL, 2018).
É bastante que a escola receba pessoas apenadas (maiores ou menores de
idade) que precisam concluir os estudos ou prestar serviços comunitários,
pessoas com síndromes que exigem acompanhamento multidisciplinar, entre
outras inúmeras situações que podem ser consideradas diferentes do padrão e
que, em algumas instituições que não zelam pelo código de ética, podem gerar
curiosidade, especulações e discriminação. Por isso, é relevante que o secretário
escolar promova, no ambiente de trabalho, orientações aos funcionários, para
que não divulguem o conteúdo de documentos recebidos ou produzidos na
instituição. Esses documentos contemplam informações e dados de pessoas,
como decisões sobre avaliação, situação familiar, desempenho e relatórios
pedagógicos ou de avaliação da aprendizagem, de saúde, de desempenho
profissional (no caso de funcionários), entre tantos outros.
O sigilo não deve ser guardado somente para as situações descritas no
exemplo, mas para qualquer documento que contenha informações privativas
de uma pessoa ou da própria instituição. É importante não confundir sigilo
com falta de transparência ou falta de acesso à informação, pois são situações
bem distintas. A transparência está relacionada à gestão democrática e à
aplicação adequada dos recursos, ou seja, está vinculada às gestões adminis-
trativa, financeira e pedagógica da escola. Já o sigilo diz respeito ao direito do
indivíduo de ter garantia da privacidade de seus dados pessoais e informações
produzidas ou recebidas pela escola por meio de documentos.
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Buscando realizar uma reflexão que produza efeitos práticos no cotidiano


de trabalho, podemos tomar como exemplo o ato de matrícula de um estudante.
Esse processo requer que o funcionário da escola tenha acesso a informações
da vida privada do estudante, de sua ancestralidade, de seu endereço, telefone,
situação de saúde, situação civil, resultados de aprendizagem de escolarização
anterior, entre outras. Essas são informações privilegiadas, que, no ato de
matrícula, são confidenciadas ao funcionário, representante da instituição
e interesse público (escola). O cidadão que realiza a matrícula confia seus
dados pessoais a outrem, em decorrência da credibilidade que a instituição
oferece à sociedade e à comunidade. O acesso a essas informações requer
que o funcionário tenha comportamento ético. Isso significa não comentar
sobre detalhes dos dados e informações além do estritamente necessário para
a realização do ato administrativo, tampouco divulgar ou facilitar o acesso a
essas informações a outrem.
Ao continuarmos a situação da matrícula, os pais ou responsáveis informam
que o estudante realiza acompanhamento neurológico e psiquiátrico semanal.
Eles apresentam os relatórios para que a equipe pedagógica possa trabalhar de
forma multidisciplinar, buscando, em parceria com a equipe de saúde, o pleno
desenvolvimento do estudante. Nessa situação hipotética, cabe ao funcionário
encaminhar o relatório ao coordenador pedagógico, sem divulgar a situação e
sem expor o estudante ou sua família. Da mesma forma, a equipe pedagógica
deve estar ciente dos procedimentos éticos.
O descumprimento dessa confidencialidade constitui falta grave dos pontos
de vista funcional e legal. Nesse exemplo, os dados e as informações são
obtidos na realização da matrícula do estudante, mas pode ser entendido, de
forma análoga, aos demais documentos produzidos pela escola que contêm
informações privadas e precisam ser protegidas, podendo ser acessadas somente
nas situações previstas em legislação.
A probidade, a impessoalidade a moralidade, a razoabilidade e a eficiência
precisam estar presentes no contexto da gestão dos documentos escolares,
desde a recepção de documentos, passando pela elaboração e, posteriormente,
no arquivamento.
Compete ao secretário escolar, como uma coliderança ativa, a construção de
comportamentos profissionais adequados ao ambiente de trabalho. Para tanto,
é preciso lançar mão de diferentes estratégias, como orientações individuais
ou em grupo, treinamentos da equipe, organização e aplicação de protocolos
de trabalho que promovam o comportamento ético no ambiente profissional.
10 A gestão documental ética nas escolas

Conheça em detalhes a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais, que dispõe sobre o
tratamento de dados pessoais, inclusive em meios digitais, e visa proteger os direitos
de liberdade de privacidade e livre desenvolvimento da personalidade natural.

Produção dos registros escolares


A produção de documentos, uma das principais atribuições da secretaria
escolar, precisa ser realizada de modo uniformizado, por meio de métodos e
protocolos que regem a conduta na instituição e devem ser seguidos cotidia-
namente, considerando demandas e necessidades do destinatário final. Para
a elaboração dos documentos, há princípios a serem seguidos e verificações a
serem realizadas, como a legalidade, a hierarquia, a finalidade e a fidedignidade.
Ao refletirmos no princípio da legalidade, é necessário indagar-se o do-
cumento que está sendo produzido atende aos princípios legais, se faz parte
do rol da instituição e se não fere nenhum dos dispositivos regimentais da
instituição ou de outras esferas às quais a instituição tem relação hierárquica.
Já ao nos debruçarmos sobre o princípio da hierarquia, precisamos nos
deter não somente à execução de um documento, mas também à identificação
de quem tem a competência de assinar o documento produzido. Via de regra,
na escola, os funcionários elaboram os documentos que são conferidos pelo
secretário e pelo diretor da escola, sendo que ambos ou somente o diretor têm
competência legal de assinar um documento.
Ao buscarmos a finalidade de um documento, deparamo-nos com a im-
portância de entender o significado do documento, para identificar quais
os elementos que o constituem e como deve ser elaborado. Normalmente,
encontramos essas informações em manuais de redação técnicos para apoiar
o desenvolvimento do trabalho.
A fidedignidade está diretamente relacionada à qualidade do serviço
prestado, à seriedade e à autenticidade de um documento. Todos os documentos
produzidos pela escola precisam ter a chancela da verdade. O funcionário
precisa ser minucioso na elaboração de um documento ou na transcrição de
informações de um documento para outro, pois, após elaboração, conferência
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e assinaturas da autoridade local (diretor de escola), o documento ganha valor


legal.
Portanto, as atividades de escrituração requerem responsabilidade e com-
promisso ético dos funcionários e da equipe como um todo. A atuação com
base em uma conduta ética adequada dignifica o trabalho e as relações no
ambiente. No processo de elaboração de documentos e atos administrativos,
a impessoalidade precisa estar presente, ou seja, os documentos precisam ser
elaborados em nome da instituição. Seu teor precisa ser claro e objetivo não
deixando dúvidas ou equívocos em seu entendimento. A concisão do documento
é relevante, por isso, deve-se evitar o excesso de informações desnecessárias.

3 Consequências da falta de ética na gestão


documental das escolas para a vida das
pessoas
Os documentos produzidos pelas escolas públicas ou privadas são considerados
documentos públicos. A falta de ética na elaboração e na emissão de documen-
tos escolares pode promover situações administrativas como a realização de
averiguação de ilícito administrativo por parte das secretarias de educação.
No caso de comprovação do ilícito, as instituições privadas podem ter
cassadas suas autorizações de funcionamento. A situação de alunos e ex-alunos
fica bastante comprometida. Para quem estudou na instituição, por exemplo, os
documentos expedidos no período em que foi detectada a irregularidade dei-
xam de ter valor legal, precisando passar por procedimentos de verificação de
autenticidade e validação junto à respectiva regional da secretaria de educação.
No caso de instituições públicas, os responsáveis passam a responder
processos administrativos, incorrendo em penalidades previstas nos respec-
tivos estatutos, mas os documentos dos estudantes também são submetidos à
verificação de autenticidade.
No que tange à quebra de sigilo, do ponto de vista profissional, como
mencionado anteriormente, a CLT e o código de ética dos servidores pre-
veem a perda da função de quem comprovadamente cometeu o crime. Há
ainda a indicação de punição, contida no código penal brasileiro: “Art. 154
— Revelar alguém, sem justa causa, segredo, de que tem ciência em razão de
função, ministério, ofício ou profissão, e cuja revelação possa produzir dano
a outrem: Pena — detenção, de três meses a um ano, ou multa” (BRASIL,
1940, documento on-line). O código penal faz menções de penalidades diretas
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em diferentes artigos, que estão vinculados à gestão documental, a saber


(BRASIL, 1940):

 fraude na elaboração;
 supressão;
 destruição;
 ocultação;
 extravio;
 sonegação;
 inutilização;
 prevaricação;
 violação de sigilo funcional;
 inserção de dados falsos em sistemas de informações;
 modificação ou alteração não autorizada em sistemas de informações.

Portanto, além da situação de previsibilidade penal, a falta de ética na gestão


de documentos escolares tem consequências que prejudicam a credibilidade
da instituição e todos os que apresentam vínculo com ela.

ABBAGNANO, N. Dicionário de filosofia. 5. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007.


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1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.
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Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.
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Trabalho. Rio de Janeiro, 1943. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
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BRASIL. Lei nº. 13.709, de 14 de agosto de 2018. Dispõe sobre a proteção de dados pessoais
e altera a Lei nº. 12.965, de 23 de abril de 2014 (Marco Civil da Internet). Brasília, DF, 2018.
A gestão documental ética nas escolas 13

Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/Lei/L13709.


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Leituras recomendadas
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Brasília, DF, 2017. Disponível em: http://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/
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