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OS SACRIFÍCIOS
Levítico 7.28-38

Não há religião que não conceba algum tipo de sacrifício. Bastante diversificado entre
as diferentes religiões, o sacrifício reúne sempre elementos espirituais e materiais. É
um ato religioso em que o homem oferece à divindade uma doação ou uma oferta
valiosa.

A história das religiões registra, até mesmo, sacrifícios humanos praticados como
forma de expiação de males. Este fenômeno presente em diferentes cerimônias
religiosas pretende resolver os conflitos de relacionamento entre os homens e o
sagrado.

No entanto, observa o Prof. Waldomiro Piazza (Introdução à Fenomenologia Religiosa.


Petrópolis, Vozes Ltda.), que "é entre os israelitas que o sacrifício encontra a sua mais
bela e completa expressão religiosa".

E acrescenta: "o sacrifício assume a forma de um 'diálogo', em que o homem publica,


e, sensivelmente, através de coisas sacrificadas, adora, suplica, expia e agradece, isto
é, manifesta toda a gama de relações pessoais com Deus; e Deus responde,
concedendo os seus favores".

RITUAIS DE SACRIFÍCIO TEXTO


Holocausto Lv 1
Oblações Lv 2
Sacrifícios de Comunhão Lv 3
Sacrifícios
• pelo pecado do sumo sacerdote Lv 4.1-12
• da comunidade Lv 4.13-21
• de um chefe Lv 4.22-26
• de um homem do povo Lv 4.27-35
Casos Especiais Lv 5.1-13
O Sacrifício da Reparação Lv 5.14-26
Normas para os Sacerdotes quanto ao:
• Ritual do holocausto Lv 6.1 -6
• Ritual da Oblação Lv 6.7-16
• Ritual do Sacrifício pelo pecado Lv 6.17-23
• Ritual do Sacrifício de reparação Lv 7.1-10
• Ritual para o Sacrifício de comunhão Lv 7.11 -37

Mario Cimosa (Levítico e Números. São Paulo, Edições Paulinas), biblista italiano,
comenta que, em muitas religiões, os sacrifícios eram prerrogativa dos sacerdotes:
"somente eles sabiam como aproximar-se dos ídolos, e isso lhes concedia uma
posição de privilégio".

Porém, em Israel, a lei dos sacrifícios (Levítico) pertence a todos. E acrescenta: "não é
sem razão que neste livro se repete, continuamente, o que 'Moisés falava a todos os
israelitas".

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Em Levítico, Deus estabelece critérios e regras para o culto de seu povo. O seu
objetivo principal e conduzir o povo ao seu modelo de vida: "Sede santos, porque eu
sou santo".

Os primeiros sete capítulos de Levítico constituem a coleção do "Ritual dos


Sacrifícios". Observando o gráfico acima, elaborado a partir da Bíblia Sagrada Edição
Pastoral, será possível perceber as normas do Deus Santo para os sacrifícios. A Bíblia
de Estudo de Genebra observa que, neste manual de culto, há instruções para leigos
(Lv 1.1 -6.7) e para os sacerdotes (6.7-7.38).

Visando conhecer e aplicar os ensinos contidos neste "manual", consideramos


oportunas as seguintes colocações:

1 - CONHECENDO MELHOR OS SACRIFÍCIOS


Primeiramente, convém conhecer os sacrifícios exigidos por Javé. Ninguém podia
recusar-se a oferecer sacrifícios a Deus, nem mesmo o pobre ou carente. Era dever
de todo o homem. Daí o Dr. Harrison (Levítico. Edições Vida Nova e Editora Mundo
Cristão) observar que este regulamento refere-se mais às pessoas (individualmente)
do que ao povo (coletivamente).

De maneira sucinta, contentamo-nos em pontuar o assunto sobre alguns aspectos dos


sacrifícios, com base na já citada Edição Pastoral:

1.1. Holocausto. Era o sacrifício em que se queimava a vítima sobre o altar. Daí,
subia ao céu uma fumaça com aroma "bom, suave e agradável" - um sinal visível de
aceitação do sacrifício. Comumente adotado como homenagem à divindade, era um
gesto de gratidão e súplica, como na primeira oferta de sangue oferecida por Abel
(Caim ofereceu frutos da terra - Gn 4).

1.2. Oblação. Própria da cultura agrária, a oblação era o sacrifício sem sangue, sendo
uma oferta de manjares ou cereais "torrados". Era uma mistura de farinha de trigo,
azeite, incenso e sal, frita ou assada, que era dedicada como memorial ao Senhor.
Uma parte sem assar era separada para o sacerdote, como fonte de sua renda.

1.3. O fermento não era recomendável para os sacrifícios, porque "corrompia" os


alimentos. O sal era obrigatório, porque preservava e dava sabor aos alimentos e era
símbolo de amizade. As primícias representavam os melhores frutos (os primeiros
frutos da terra). O incenso era um símbolo da oração ou da súplica. Exalava um
perfume que representava a fragrância que subia aos céus, como se fosse a vida do
próprio adorador.

1.4. O sangue. Centro do sacrifício, o sangue representa a vida, a força e o vigor. Daí,
a importância da expressão presente no livro de Levítico e Hebreus: "sem
derramamento de sangue não há remissão" (Hb 9.22).

1.5. As pessoas. Os textos falam dos envolvidos nos sacrifícios: o sumo sacerdote e
a comunidade que são sagrados, por isto os rituais são mais sofisticados; o chefe e o
cidadão pertencem ao povo comum, e os rituais são mais simples.

Os textos detalham a forma de se apresentar os sacrifícios. O fiel era obrigado a


atentar para cada uma das exigências - desde a escolha do animal ou do fruto da
terra, o lugar, a forma de sacrificar, a posição, vestuário, enfim, tudo deveria ser
observado pelo adorador.

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Não importava apenas o cumprimento das normas; importava, também, a disposição


interior, pois Deus conhecia as intenções do coração do adorador. Somente desta
forma, o sacrifício cumpria o seu objetivo expiatório de resgatar a comunhão do
homem com o seu Deus.

2. COMPREENDENDO O SIGNIFICADO DOS SACRIFÍCIOS


Na antiga aliança, o animal ou o fruto da terra representava ou substituía o adorador
ou o pecador. Na nova aliança não há mais lugar para os sacrifícios. Jesus Cristo, o
Filho de Deus, vestiu-se de humanidade e veio "buscar e salvar o perdido". (Lc 19.10).

Ele pagou definitivamente a nossa dívida, constituindo-nos sacerdotes. Na linguagem


de João Batista, Ele é "o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo" (Jo 1.29):
Cordeiro perfeito, puro, imaculado, inocente, a oferta definitiva, o sacrifício último, o
único caminho para Deus (Jo 14.6).

Os sacrifícios deixam lições para os adoradores de todos os tempos. Em que sentido?


De forma resumida, destacamos:

2.1. Primeiro, Deus não quer mais sacrifícios ou holocaustos, e sim misericórdia
e que o conheçamos mais (Os 6.6). Lamentavelmente, há muitos ainda pregando e
exigindo sacrifício das pessoas. Após 500 anos de protesto dos reformadores, a venda
de indulgências ainda é praticada em muitas igrejas. Nessas pseudo igrejas, os
milagres só acontecem quando o "fiel" faz sacrifícios ou contribui com determinadas
quantias. Os próprios líderes parecem ignorar a mensagem libertadora do
evangelho:"pela graça sois salvos" (Rm 5.1,2; Ef 2.1-10); ou a prática do
evangelho:"Não negligencieis, igualmente, a prática do bem e a mútua cooperação;
pois, com tais sacrifícios, Deus se compraz" (SI 51.17; Hb 13.6).

2.2. Depois, é importante separar o melhor para Deus. Naqueles tempos, Deus
exigia o animal sem defeito, o melhor fruto, todo o cuidado possível quanto ao ritual.
Esta lição rasga o tempo e invade as nossas celebrações e atitudes. Mesmo gozando
da bênção da redenção em Cristo, não estamos isentos de separar o melhor que
temos e somos para o Senhor. Talentos, dons, recursos, tempo - tudo pertence a
Deus e deve ser colocado em seu altar, não para se obter graça de Deus, mas em
gratidão à sua maravilhosa graça. Ainda hoje, devemos dedicar a Deus "sacrifício de
louvor, que é o fruto dos lábios que confessam o nome do Senhor" (Hb 15.13;
compare com SI 50.14,23).

2.3. Devemos nos oferecer como sacrifícios vivos a Deus, através da vida de culto
e do culto da vida, em reconhecimento às misericórdias do Senhor, como recomendou
o apóstolo Paulo (Rm 12.1,2), ou através de "sacrifícios espirituais", conforme ensinou
o apóstolo Pedro (I Pe 2.5).

Ao analisar a entrega das ofertas, o Dr. Carral (Êxodo y Levitico. El Paso, Texas, Casa
Bautista de Publicacines) refere-se à Epístola aos Coríntios, em que "primeiro se
deram a si mesmos e depois deram a sua contribuição". E acrescenta: "Uma
contribuição dada, sem dar-se, antes, a si mesmo, não vale nada".

Finalmente, lembremos que "o sangue de Jesus... nos purifica de todo o pecado" (I Jo
1.7). Nenhum sacrifício é requerido do maior pecador. Jesus Cristo já pagou o preço:
"tudo está consumado". Somos salvos pela graça, mediante a fé; isto é dom de Deus!
Vivamos na perspectiva da graça: "Misericórdia quero e não sacrifício", diz o Senhor!
Aqui se abre o caminho para a busca de santidade!

AUTOR: REV. WILSON EMERICK DE SOUZA

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