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CANÇÃO DE EXALTAÇÃO
O CÂNTICO DE ANA

1 Samuel 2.1-10

Há uma tendência muito forte nas pessoas, que é a da exaltação pessoal. São II
aqueles que desejam ser elogiados, alcançar cargos para receber manifestações de
engrandecimento da sua própria pessoa e, acima de tudo, viver em busca de prestígio
pessoal. É triste, mas a vaidade pessoal tem atingido muitas pessoas, levando ao
fracasso, pois a Bíblia diz que aqueles que se exaltam serão humilhados.

Existem, pelo menos, três situações que têm levado muitos a práticas de pecados e a
quedas quase que irreparáveis: dinheiro, sexo e poder. Esses são três inimigos
perigosíssimos na vida dos cristãos.

Neste estudo, o enfoque reside não na exaltação da pessoa humana, dos mais fortes;
mas sim, na exaltação do próprio Deus, dos mais fracos, e dos ungidos do Senhor. No
pensamento de William Barclay, "o Cristianismo bem compreendido é a morte do
orgulho, a finalização dos títulos e prestígios humanos, e a distribuição da renda de
modo igualitário".

O contexto histórico
E importante dizer que o primeiro livro de Samuel apresenta um momento histórico de
grande importância para o povo israelita. O povo estava passando do sistema tribal
para o sistema tributário. Com essa mudança, tudo ficaria concentrado em mãos de
um poder estatal. É a passagem do período dos juízes para o dos reis.

A história de Samuel é a abertura dessa nova fase. Samuel nasce de forma milagrosa,
pois vem de uma mulher estéril e humilhada, para ser o símbolo da fidelidade dentro
desse novo sistema. Seu nascimento é tão importante neste contexto histórico, que
sua mãe, Ana, canta jubilosa e agradecida, exaltando a pessoa de Deus.

Este cântico celebra uma vitória do rei sobre os inimigos (v.10). Certamente foi
colocado aqui para expressar a esperança do povo de que o novo regime significasse,
de fato, uma salvação: a função do rei é tornar visível a própria ação de Deus, que
liberta dos inimigos (v.1) e instaura o reino da justiça (vv. 3-9).

Para isso, espera-se que desapareçam as desigualdades, e todos possam usufruir da


liberdade e da vida. Mas, essa salvação cantada e expressa no versículo 1, pode
significar, também, a salvação de Ana da perseguição de Penina (I Sm 1.1-7).

Acredita-se que essa poesia andava de mão em mão, e era cantada por ocasião das
festas populares em Israel, nos tempos de paz e felicidade. Ela se constitui numa peça
literária que mostra a cultura e o sentido poético da vida do povo.

O Dicionário Enciclopédico (Editora Vozes) informa: "O nome Ana significa


misericórdia, ou Deus compadeceu-se. O seu cântico de louvor é muito conhecido, e
se constitui num salmo do gênero dos hinos, o qual serviu de exemplo para o
Magnificat".

A Bíblia Vida Nova diz o seguinte: "Maria, mãe de Jesus, devia ter conhecimento
desse cântico, pois os dois poemas se assemelham (Lc 1.46-55). Geralmente, o
cântico é uma manifestação de alegria e de exaltação. Essa exaltação de Ana pode
ser compreendida de várias maneiras.

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1. A EXALTAÇÃO DE DEUS
Ana começa seu cântico exaltando a pessoa de Deus, e atribuindo a Ele toda a vitória
alcançada (v.1). Nessa exaltação, ela se refere ao Senhor Deus, declarando verdades
grandiosas sobre o ser de Deus. Isso prova que Ana conhecia profundamente a
pessoa de Deus e os seus feitos. Ela conhecia o Senhor como:

• Deus Salvador - "...porquanto me alegro na tua salvação"_{yA). Para Ana,


Deus é salvação; é aquele que socorre na hora certa e concede a vitória. No
cântico de Isaías pela restauração de Israel, o profeta também reconheceu que
Deus é salvação (Is 12. 2).

• Deus Santo - "Não há santo como o Senhor..." (v.2a). Realmente Deus é


Santo por natureza, e deseja que todos sejam santos também. Quando Isaías
teve a visão de Deus, ele contemplou a santidade do Senhor (Is 6. 3).

• Deus Único - "... porque não há outro além de ti..." (v.2b). Só há um Deus
digno de adoração e exaltação. No decálogo, esta idéia pode ser confirmada
através do primeiro mandamento (Êx 20.1-6).

• Deus Forte -"...e Rocha não há, nenhuma, como o nosso Deus" (v.2c). Rocha
é algo duro, forte, inquebrável e resistente. Assim é Deus, um ser forte e capaz
de todas as coisas; por isso, Ele merece ser exaltado.

• Deus Sábio - "...porque o Senhor é o Deus da sabedoria..." (v.3). Deus é


onisciente, ou seja, possui todo o conhecimento. É por isso que Tiago disse
que, Deus concede sabedoria (Tg 1.5,6).

• Deus Justo - "...e pesa todos os seus feitos na balança, "(v.3). Deus é reto
juiz, faz e fará justiça sobre todas as coisas. Tudo o que está encoberto, seja
bom ou ruim, será julgado pelo reto juiz (Ec 12.14).

2 - A EXALTAÇÃO DOS FRACOS


A partir do versículo 4, Ana começa a exaltar a Deus porque ele exalta os fracos. Ela
utiliza a figura do "arco", que é símbolo de força e poder, pois, na época, era a arma
mais poderosa (II Sm 1.18).

Mas Deus é aquele que quebra o arco dos fortes. Isso é algo completamente inovador,
e que produz uma mudança completa no pensamento humano; pois, para o homem,
quem sempre vence é o mais forte.

Mas Deus muda essa idéia, e concede vitória ao mais fraco. É uma verdadeira
revolução. Idéia semelhante encontra-se em Lucas 1.46-56, no cântico de Maria.
Maria cantou que os soberbos serão dispersos, que os tronos dos poderosos serão
derrubados, que os humildes serão exaltados, os famintos serão abastecidos, e os
ricos despedidos vazios.

Mas, no cântico de Ana, essa exaltação é assim descrita:

• Deus enfraquece os fortes e fortalece os fracos (v.4);


• Deus dá fome aos fartos e comida aos que têm fome (v.5);
• Deus tira o vigor dos que têm muitos filhos e dá filhos à mulher estéril (v.5);
• Deus levanta o pobre do pó e o faz herdar o trono (v. 8).

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Realmente, aqui, está evidenciado o privilégio dos fracos , pois Ana humilhou-se e foi
abençoada pelo Senhor que lhe concedeu não apenas um filho, mas cinco (I Sm 2.21).

A experiência de Davi é semelhante, pois, ao se arrepender, foi perdoado (II Sm


12.13). Assim aconteceu com o apóstolo Paulo, que submeteu-se ao Senhor,
revelando humildade e fraqueza, e tornou-se forte (II Co 12.9,10).

Essa verdade bíblica se constitui numa bênção confortadora e animadora para os


cristãos. Mesmo o crente é fraco em determinados momentos de sua vida, mas a
promessa divina é da exaltação dos fracos. A fraqueza humana colocada diante do
Senhor é transformada em força. Foi por isso que Paulo chegou a dizer com muita
convicção: "Tudo posso naquele que me fortalece" (Fp 4.13).

• Por que, na sociedade atual, os mais fracos são tão marginalizados ou


explorados?

3 - A EXALTAÇÃO DOS UNGIDOS


Ana conclui o seu cântico de exaltação ao Senhor, apresentando a exaltação do
ungido de Deus (vv. 9,10). O Dr. R. Shedd diz que esse ungido aqui mencionado é
uma palavra profética a respeito do rei Davi como protótipo de Cristo. Mais tarde,
Jesus vem ao mundo como o Ungido (Messias), o Prometido pelo Senhor.

Mas, o fato é que Deus exalta, ou seja, dá vitória àqueles que lhe são obedientes e
fiéis. Quem procura viver de modo santo é abençoado ricamente pelo Senhor. Os
ungidos serão exaltados. Ainda mais, o próprio Jesus mostrou que aqueles que o
seguem serão exaltados, chegando a assentá-los em tronos e torná-los juízes (Mt
19.28).

Vale a pena, portanto, estar com Deus, viver sempre em santidade de vida, obedecer
aos seus mandamentos, e procurar fazer a sua vontade. Com certeza, Deus honra os
seus filhos, conferindo-lhes vitórias.

Desafios
1. É necessário exaltar mais a pessoa de Deus não por aquilo que Ele faz por nós,
mas, acima de tudo, por aquilo que Ele é.

2. Uma vida de simplicidade agrada a Deus. Deus exalta os humildes. Por isso,
qualquer atitude de vaidade ou presunção, deve ser eliminada.

3. A igreja deve enfrentar a tentação de tornar-se cúmplice dos poderosos. Pelo


contrário, deve colocar-se ao lado dos mais fracos, assumindo a causa dos oprimidos.

AUTOR: REV. ANDERSON SATHLER

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