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Trabalho 4
Trabalho 4
CURSO DE TEOLOGIA
BRASÍLIA
2016
EGUIMAR MATIAS DOS SANTOS
KENNEDY DOS SANTOS FERREIRA
BRASÍLIA
2016
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 3
1 HÁBITOS E VIRTUDES............................................................................................ 4
2 VIRTUDES TEOLOGAIS ......................................................................................... 6
2.1 A FÉ ........................................................................................................................ 6
2.1.1 A fé e o seu objeto ........................................................................................... 6
2.1.2 O ato interior e exterior da fé .......................................................................... 7
2.2 ESPERANÇA ......................................................................................................... 9
2.3 CARIDADE .......................................................................................................... 11
3 VIRTUDES CARDEAIS........................................................................................... 13
3.1 A PRUDÊNCIA .................................................................................................... 13
3.1.1 As partes da prudência .................................................................................. 14
3.2 JUSTIÇA ............................................................................................................. 15
3.2.1 Partes da justiça ............................................................................................. 16
3.3 FORTALEZA ...................................................................................................... 18
3.4 TEMPERANÇA .................................................................................................. 19
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... 22
3
INTRODUÇÃO
1 HÁBITOS E VIRTUDES
1
AQUINO, Tomás de. Suma Teológica V. 4. ed. São Paulo: Loyola, 2014, p. 173
2
AQUINO, Tomás de. Verdade e conhecimento. 2. ed. São Paulo: Martins fontes, 2013, p. 161
3
AQUINO, Tomás de. Suma Teológica V. 4. ed. São Paulo: Loyola, 2014, p. 173
4
Ibid., p. 101
5
mais o sujeito ordena as virtudes para o Sumo Bem já nesta vida, tanto mais na outra
gozará mais plenamente daquilo que o Criador de igual modo dispensará a todos.
5
AQUINO, Tomás de. Suma Teológica IV. 3. ed. São Paulo: Loyola, 2015, p. 115
6
ORÍGENES. Patrística: contra Celso. São Paulo: Paulus, 2004, p. 463
6
2 VIRTUDES TEOLOGAIS
2.1 A FÉ
Na virtude da fé alguns aspectos como acreditar, inteligência, cognição, adesão,
compreensão, naturalidade e sobrenaturalidade, gradação, informalidade e forma são
frequentes numa explanação acerca dessa mesma virtude. Uma vez que a fé envolve a
inteligência humana, é inevitável que ela toque muitas realidades afins com a aquela,
seja no século presente, seja no século futuro. Por isso, é de suma importância uma
análise a respeito dessas realidades, já que elas têm implicações tão pertinentes na
sociedade humana.
A fé em sentido comum é acreditar aquilo que não se vê, tendo em vista
que “A fé é substância das coisas que se devem esperar e prova do que não se vê”.7 Mas
para acreditar é preciso um ato da inteligência, logo, a fé reside na parte cognoscitiva.
Pela adesão da fé a uma realidade que foge de sua compreensão, o sujeito adere a essa
realidade, embora não a compreenda, mas apenas entenda. É possível falar de uma fé
natural; outra sobrenatural. Há certa gradação acerca da fé quanto aos diversos sujeitos.
A fé é inicialmente informe, pois é ao longo da vida que Deus informa a fé do sujeito.
A Verdade primeira deve ser ansiada pelo sujeito. A razão de verdade
requer uma atividade cognoscitiva, “Portanto, a razão não diminui a fé”.8 Tal ato tem
envolvido a opinião e a ciência. Não há falsidade na fé revelada por Deus. As verdades
de fé devem ser distinguidas, a fim de uma melhor apresentação. A fé é um ato
cognoscitivo e está ligada à visão, ainda que não possua objeto.
7
AQUINO, Tomás de. Suma Teológica V. 4. ed. São Paulo: Loyola, 2014, p. 96
8
Ibid., p. 90
7
9
Ibid., p. 97
10
AQUINO, Tomás de. Suma Teológica V. 4. ed. São Paulo: Loyola, 2014, p. 97
11
Cf. Mt 17, 20
12
AQUINO, Tomás de. Suma Teológica V. 4. ed. São Paulo: Loyola, 2014, p. 73
13
Ibid., p. 53
8
poder entrar firmando-se na fé, que é alheia a todo o sentido, a fim de caminhar depois
pelo “caminho estreito” que é a outra noite, a do espírito”.14
É necessário crer mesmo naquilo que a razão natural pode provar. Por exemplo,
ninguém faz exame na comida de um restaurante com objetivo de verificar se a comida
em questão está envenenada. Ao contrário, por um ato de fé natural, acredita-se na boa
vontade de sujeito que a preparou. A fé pode distinguir-se de acordo com a disposição
dos diversos indivíduos. Há uma gradação da fé nos indivíduos, tal realidade se dá
consoante com as disposições dos sujeitos, mas não por parte de Deus.
A confissão é um ato exterior da fé que provêm do ato interior. A confissão da
fé é necessária para a salvação, pois “O que é necessário para salvação é objeto dos
preceitos da lei divina”.15 Ora, se é admitido um ato interior, logo, deve haver um ato
exterior. Uma fé individual não tem sentido, uma vez que o ser humano tem
características relacionais. A fé é levada ao termo por Deus mediante sua Palavra, por
isso, se ninguém anuncia, conseguintemente, a fé não será informada. Deus age na
natureza humana mediante a contribuição da liberdade dos indivíduos. Ele tinha um
projeto inicial, criou tudo, agora tudo mantém por sua presença, essência e poder, desse
modo, o ser humano pode colaborar na criação, querendo o que deve ser querido, e
rejeitando o que deve ser rechaçado, a fim de que todos cheguem à bem-aventurança.
Outras características, por exemplo, os efeitos da fé, os pecados contra ela, a
cegueira da mente e o embotamento do sentido têm serias implicações para a vida
humana seja para o bem, ou para o mal. Ora, o simples fato de aderir a Deus por meio
da fé gera “infinitas” consequências para vida intelectual e prática dos sujeitos. Há ainda
aspectos como a cegueira da mente, ou mesmo o embotamento do sentido, que fazem o
ser humano ceder bruscamente às partes mais ínfimas da alma, ou seja, ser mais animal
que humano, e tudo isso acontece mesmo na vida dos crentes.
O temor é efeito da fé. Pela fé purifica-se o coração humano, tendo em vista que
pelo amor o ser humano é impelido a amar o que se deve e rejeitar o que convêm. O
dom da inteligência existe simultaneamente com a fé. O dom da inteligência tem
encadeamentos especulativos, bem como práticos. A inteligência é aperfeiçoada pela
apreensão e pela reta razão acerca do objeto apreendido. A fé é fruto do dom da
inteligência. “Por isso, o homem precisa de uma luz sobrenatural para chegar a certos
14
CRUZ, São João da. Noite escura da alma. Rio de Janeiro: Traduzido pelas Carmelitas Descalças do
Convento de Santa Teresa, 1960, p. 28
15
AQUINO, Tomás de. Suma Teológica V. 4. ed. São Paulo: Loyola, 2014, p. 94
9
conhecimentos que não pode obter pela luz natural. E essa luz sobrenatural dada ao
homem chama-se dom da inteligência".16 Tudo isso, porque “Há, porém, coisas no
homem que nem sequer o espírito que nele habita conhece”.17
A heresia é uma espécie de infidelidade. A blasfêmia consiste numa afirmação
em detrimento da vontade divina. A blasfêmia contra o Espírito santo pode ter três
interpretações: o pecado simples contra Ele, ou seja, de forma oral; a impenitência final,
quer dizer, a inclinação habitual em desprezar os impulsos do Espírito para acolher a
Deus; e o pecado por malícia caracterizada, que por sua vez, se comete por fraqueza ou
ignorância.
A cegueira da mente é causada pela luxúria. A prudência pode não estabelecer o
meio-termo para a luxúria, pois a virtude é por assim dizer “a causa pela qual a nossa
natureza deverá tornar-se estável”.18 A ausência de virtude provocará um apego
imoderado pelas coisas sensíveis. Uma busca insaciável pelo prazer. Automaticamente,
alguém que só tem olhos para o prazer, torna-se cego para as coisas espirituais. O
embotamento do sentido é semelhante à cegueira da mente, com as respectivas
ressalvas. O embotamento do sentido não priva totalmente a possibilidade de chegar à
verdade das coisas. Todavia, protela consideravelmente a sagacidade do sujeito, fazendo
assim, com que seja necessário repetir muitas vezes um mesmo assunto para
compreendê-lo. Tal vício nasce da gula. Pois "Sendo a saúde o motivo do comer e
beber, o prazer junta-se a esta necessidade, como um companheiro perigoso”.19 Por isso,
na medida em que se come sem estabelecer o meio-termo, tanto mais se perde a noção
das coisas, espacialmente, psiquicamente e espiritualmente. “Assim, pois, o
embotamento do sentido com respeito À inteligência implica certa debilidade da mente
na consideração dos bens espirituais; mas a cegueira da mente implica total privação do
conhecimento”.20
2.2 ESPERANÇA
A esperança é a virtude teologal, que é base da existência cristã, por meio dela se
tem a firme confiança de obter a bem-aventurança e tudo o que a ela conduz. Ela é
16
Ibid., p. 131
17
AGOSTINHO, Santo. Confissões. 6. Ed. Petrópolis: Vozes, 2011, p. 241
18
NISSA, de Gregório. Patrística: A criação do homem; a alma e a ressurreição; a grande catequese. São
Paulo: Paulus, 2011, p. 256
19
AGOSTINHO, Santo. Confissões. 6. Ed. Petrópolis: Vozes, 2011, p. 270
20
AQUINO, Tomás de. Suma Teológica V. 4. ed. São Paulo: Loyola, 2014, p. 211
10
fundada na fé, que a faz aderir e agarrar-se à promessa divina, confiando na força que
vem de Deus.
Pode-se dizer que a experiência humana dessa virtude teologal se desdobra em
três níveis de realização:
No primeiro, o nível mais profundo, em nosso ser, no qual ela se identifica com
o próprio elã vital.
No segundo, no plano estritamente humano, ela vai ao encontro dos desejos e
projetos racionais, animando o viver, o conviver e o agir da pessoa e da sociedade.
No terceiro ela desemboca levando à perfeição o plano humano, retificando e
guiando os desejos, os projetos e as ações, assim ela se torna principio coerente e
unificador da vida, como coragem de existir, de aceitar e orientar o destino do homem,
no sentido do bem e de maneira responsável.
A esperança emerge, como dinamismo da vida, anterior à consciência, ela possui
um enraizamento profundo no impulso vital inconsciente ou pré-consciente, ou seja, ela
é vivida antes de ser conhecida, e é conhecida de maneira concreta, antes mesmo de ser
pensada de maneira abstrata.
Pode-se dizer que essa virtude é uma certeza prática, uma força que ajuda a viver
e a superar os grandes dilemas e crises da vida. Se, porém, ela carecer de uma base
racional ela será frágil e tenderá a sair da realidade e se tornará ilusão vazia.
Para santo Tomás de Aquino a esperança se difere das demais virtudes teologais,
essa virtude tem como fim ultimo alcançar a Deus, a bem-aventurança.
Os judeus e os gregos possuem concepções diferente no que se diz respeito ao
futuro, os gregos julgam o presente e orientam suas ações em consequencia dele; o
judeu porém, o que quer que ele espere, funda sua esperança em Deus.
Quem espera, espera algo, para Tomás o homem sempre espera Deus, ou seja, a
felicidade. Esperar é característica de alguém imperfeito e incompleto, e que confia no
que lhe deu razão para esperar, a esperança como dito anteriormente precisa ter razões,
e essa razão foi dada pelo próprio Deus, que conduziu o povo desde Abraão até a vinda
do Verbo que se fez carne, assim a esperança é baseada na promessa feita, ou seja, na
Palavra do próprio Deus, que promete no Antigo Testamento a posse ta terra, e no Novo
a Bem-Aventurança.
11
2.3 CARIDADE
Etimologicamente a palavra caridade origina-se no latim do termo Caritas, que
significa afeto ou estima, Caritas é derivado de Carus, que significa agradável, querido.
Para são Tomás de Aquino, a caridade é a amizade do homem para com Deus,
que o faz participar de sua bem-aventurança. S. Tomás define a caridade como "a
amizade com Deus" e diz: "Essa sociedade do homem com Deus, que é quase uma
conversa familiar com Ele, começa na vida presente por meio da graça e se aperfeiçoa
no futuro por meio da glória; uma e outra são mantidas pela fé e pela esperança" 21
A caridade é a rainha das virtudes, porque as outras virtudes sejam morais ou
teologais nos conduzem a Deus, ela, porém nos une a Ele, assim, onde houver a
caridade, haverá as demais virtudes.
O aquinate afirma que dentre as virtudes teologais a mais excelente é aquela que
mais alcança a Deus, a fé e a esperança alcançam a Deus à medida que o homem recebe
dele ou conhecimento da verdade ou a posse no bem. A caridade, porém alcança a Deus
para que nele permaneça e não para que dele o homem receba algo.
Tomás concebe que as virtudes teologais são mais excelentes que as virtudes
morais e intelectuais, pois a teologais consistem em alcançar a regra primeira que é
Deus. Na filosofia tomista é nítido que a caridade é posta como superior às outras
virtudes: “Daí resulta que a caridade é mais excelente que a fé e a esperança e, por
conseguinte, que todas as outras virtudes.” 22
O dicionário de filosofia Nicola Abbagnano, diz que a caridade é a virtude
fundamental do cristianismo, pois nela consiste o preceito fundamental que é o amor ao
próximo como a ti mesmo. Cristo com gestos e palavras ensinou a verdadeira caridade,
o apóstolo Paulo, porém, foi quem mais insistiu na superioridade da caridade em relação
às outras virtudes cristãs e afirma em sua carta aos Coríntios: “A caridade tudo suporta,
em tudo tem fé, tudo sustenta. Agora existem a fé, a esperança e a caridade, essas três
coisas, mas a caridade é a maior de todas”, I Cor 13, 7, 13.
21
AQUINO, Tomás de. Suma Teológica V. 4. ed. São Paulo: Loyola, 2014, p. 198
22
Ibid., p. 304
12
23
http://www.revistamirabilia.com/sites/default/files/pdfs/2010_02_05.pdf
13
3 VIRTUDES CARDEAIS
3.1 A PRUDÊNCIA
A prudência não reside na vontade. Por isso, pertence a razão cognoscitiva.
Porque “A visão não pertence à potência apetitiva mas à cognoscitiva. Por isso é
evidente que a prudência pertence diretamente à potência cognoscitiva”.24 Ela conhece
os singulares, bem como as realidades universais. Determina o fim para as virtudes
morais, ou seja, estabelece o meio-termo para as virtudes morais. Seu principal ato é
comandar, assim, é solícita. Pode se estender ao governo da multidão. Não há prudência
nos pecadores. Deve-se ainda ressaltar que o esquecimento pode avariar a prudência.
24
AQUINO, Tomás de. Suma Teológica V. 4. ed. São Paulo: Loyola, 2014, p. 586
25
Ibid., p. 597
26
Cf. Mt 10,16
14
27
AQUINO, Tomás de. Suma Teológica V. 4. ed. São Paulo: Loyola, 2014, p. 614
15
3.2 JUSTIÇA
Alguns aspectos gerais como o direito, justiça, injustiça e o julgamento são
imprescindíveis para o êxito dessa virtude. O justo é o objeto da justiça. É o ordenar do
homem no que diz respeito a outrem, já que “onde o poder de dominar se encontra, lá
está igualmente a imagem de Deus”.28 O direito, por sua vez, é uma obra ajustada a
outra pessoa, subdividindo-se em direito natural e positivo. A justiça é a vontade
28
CESARÉIA, Basílio de. Patrística: homilia sobre Lucas 12; homilias sobre a origem do homem;
tratato sobre o Espírito Santo. São Paulo: Paulus, 1998, p. 50
16
constante e perpétua de dar a casa um o seu direito, pois “Como já foi dito, o direito ou
o justo vem a ser uma obra ajustada ourem, segundo certo modo de igualdade”. 29 A
injustiça consiste em um vício especial, pois muitas vezes, embora seja quebrada a
ordem da justiça geral, ou seja, o bem comum, ela pode ter como matéria algumas ações
particulares, a modo de exemplo, um furto contra outrem. O julgamento é um ato de
justiça proferido por um juiz, que é responsável por aplicar o direito, por isso, “Chama-
se julgamento o ato do juiz como tal”.30
“Ora, o justo é o objeto da justiça”. 31
, ou pelo menos deveria ser. A justiça
consiste em dar a cada indivíduo aquilo que lhe compete. Isso posto, fica evidente que a
justiça se refere sempre a outra pessoa. Ora, se existe o justo e a justiça, desses dois
princípios são abstraídos o direito natural, positivo e das gentes. O direito natural é
aquilo que é adequado e proporcionado à outra coisa, seja por natureza, o macho à
fêmea; ou quando o objeto em questão não é observado de modo absoluto, por exemplo,
o direito a propriedade privada. O direito positivo consiste na promulgação, por parte de
uma sociedade, de uma lei positiva que tem, ou deveria ter, como base a lei natural. A
justiça legal regula as relações entre os diversos indivíduos em uma sociedade nas
inúmeras trocas nela existentes. A injustiça é a inconsideração, negligência, ou mesmo
fraqueza da vontade em dar a outrem aquilo que por direito lhe é devido. O julgamento
é licito. Por isso o salmista afirma que devemos esperar “até que o julgamento se
converta em justiça e todos os corações retos o sigam”32, ou seja, eles sigam a Deus o
Justo. As relações numa dada sociedade precisam ser julgadas por alguém que, por sua
vez, siga os primeiros princípios da razão humana, a título de exemplo, o de evitar o mal
e fazer o bem. Em outras palavras, cabe sempre a um terceiro iluminar qualquer
desavença entre dois. Cabe também a um terceiro julgar acerca da legalidade por parte
do Estado na distribuição dos bens devidos aos indivíduos de uma dada sociedade.
29
AQUINO, Tomás de. Suma Teológica VI. 3. ed. São Paulo: Loyola, 2014, p. 49
30
Ibid., p.85
31
Ibid., p. 46
32
Cf. Sl 94(93)
17
embora de modo absoluto, não façam dela parte a ela são anexadas, um exemplo, a
religião, a piedade filial, a gratidão, a punição, o respeito e a veracidade, bem como
algumas virtudes encontradas na prudência, a eubulia, synesis, gnome etc.
Todo princípio moral tem seu fundamento em fazer o bem e evitar o mal. A
justiça se refere aquilo que é devido a alguém, é regida por tal princípio. “Portanto, a
justiça diz respeito somente ao que é relativo a outrem”.33 A transgressão é pecado, de
vez que é ultrapassar o termo prefixado. A omissão quanto a um bem que é devido a
outrem é pecado. Assim, a transgressão é pecado, de vez que é ultrapassar o termo
prefixado. As partes subjetivas da justiça regem as relações dos indivíduos entre si,
igualmente, as relações do Estado com a comunidade, sendo elas a justiça comutativa e
distributiva. A primeira rege as relações entre indivíduos dentro de uma sociedade. A
segunda gere as relações do indivíduo para com o Estado e deste para com o indivíduo.
Há ainda uma infinidade de características acerca da justiça, seja em suas partes
integrantes, subjetivas ou potenciais, tais como: a restituição, a discriminação, o
homicídio, furto e a rapina, contumélia, difamação, murmuração, zombaria, maldição e
as fraudes cometidas nas compras e vendas etc.
Portanto, a virtude da justiça deve moderar a vida dos indivíduos numa dada
sociedade. O homem por meio de sua inteligência é capaz de extrair da natureza as leis
naturais, por exemplo, que do cruzamento entre um mamífero macho e uma fêmea é
gestado um terceiro. Desse modo, o homem, pela mesma inteligência pode estabelecer
um direito natural na sociedade humana, o direito a vida, que por sua vez é promulgado
por meio de uma lei positiva. Há ainda a possibilidade de interpretação acerca dessas
mesmas realidades, o que se entende por direito das gentes. Na sociedade há uma justiça
cumulativa, que regula as relações entre pessoas particulares na troca de produtos.
“Tal relação é dirigida pela justiça cumulativa, que visa o intercâmbio mútuo entre duas
pessoas. A outra relação é do todo às partes; a ela se assemelha a relação entre o que é
comum e cada uma das pessoas. A essa segunda relação se refere a justiça distributiva”.
34
A justiça distributiva deve regular a distribuição proporcional aos diversos indivíduos
dessa mesma sociedade. E tendo por base essas relações gerais, surgem as tantas outras
relações entre os sujeitos. O juiz tendo por base o direito deve praticar a justiça nas
relações entre os cidadãos. O leitor deve perceber o quanto as virtudes estão
33
AQUINO, Tomás de. Suma Teológica VI. 3. ed. São Paulo: Loyola, 2014, p. 58
34
AQUINO, Tomás de. Suma Teológica VI. 3. ed. São Paulo: Loyola, 2014, p. 97
18
interligadas, de modo que não seria possível aplicar a justiça, caso oculta-se a prudência
e vice e versa.
3.3 FORTALEZA
A virtude da fortaleza ou coragem é aquela que permite ao homem superar as
situações mais difíceis, extremas e inusitadas de sua vida, e de modo especial o medo
diante à morte. Essa virtude também protege o homem do desespero, proporcionando-
lhe coragem para o permitir o esperar, e o protege do vício da ira.
Pieper35 afirma que a fortaleza pressupõe a vulnerabilidade humana, pois, não
haveria o homem forte ou valente, se não existisse a vulnerabilidade, ou ainda, se ele
não estivesse propenso a dor, ao sofrimento. A morte é a mais grave ferida que os
homens podem sofrer, desse modo, a virtude da fortaleza capacita o homem a passar e
superar tal situação crítica. Segundo o mesmo Pieper, dizer que é forte é dizer que está
disposto a morrer, isso sem depreciar a vida.
Sobre essa virtude pode-se dizer com:
A fortaleza como virtude, não está ligada ou disposta à qualquer tipo de valentia,
bravura ou tenacidade, pois, há pessoas que não temem morrer, não por uma causa justa
ou amor ao bem, mas por impavidez que é semelhante a uma espécie de amor
pervertido, há valentia que se converte em fanatismo.
O que pode ser considerado substancialmente forte é aquele que é prudente, que
possui a justiça e valentia em suas ações, e que para agir na justiça é capaz de suportar a
injustiça feita a si.
35
1976, p. 184-185
36
AQUINO, Tomás de. Suma Teológica VII. 2. ed. São Paulo: Loyola, 2013, p. 46
19
Para Pieper, não há fortaleza sem prudência, a verdadeira fortaleza é aquela que
faz uma justa valorização das coisas que envolvem riscos, como as que se espera
proteger ou ganhar.
A fortaleza é a virtude da firmeza da alma, que a torna capaz de suportar mais
diversas dificuldades da vida. Essa virtude por sua vez, ajuda as outras virtudes a
resistirem aos ataques dos vícios, é de sua matéria retirar os diversos obstáculos que
impedem a vontade de seguir a razão, tais obstáculos sãos os riscos de morte, pois esse
risco dentre os males corporais é o maior, visto que elimina todos os bens corporais.
Dessa forma, a fortaleza fica incumbida de manter firme a vontade humana, para
que ela não recue diante de um bem da razão, por medo de um mal físico ou perigo
mortal. O martírio é o clássico exemplo de fortaleza. A que o aquinate diz: “pertence à
razão do martírio que o mártir se mantenha firme na verdade e na justiça contra os
assaltados dos perseguidores”.37 No martírio, o mártir segue solidamente apegado ao
bem da virtude, não abandonando a fé e nem a justiça por causa dos perigos de morte
que o ameaçam.
O resistir é uma das características de quem possui a fortaleza, porém, não é de
qualquer modo, são requeridas duas condições para o verdadeiro resistir: a primeira, é
que diante das ameaças, a tristeza não se apodere do coração do homem, e que ele não
desista do ato começado; a segunda é a que diante a luta prolongada e repleta de
dificuldades ele não venha a se cansar e desistir do ato. Nessa via Cícero, diz que é
necessário ao que possui a fortaleza, a perseverança, essa dá ao homem uma
permanência mais estável de uma decisão tomada livremente.
Para Pieper, há uma modalidade sobrenatural da fortaleza, esta seria um dom
espiritual, que se nutre pela virtude teologal da esperança, ele afirma que não é possível
a fortaleza sem a esperança, esperança da vitória definitiva, a esperança da vida eterna.
3.4 TEMPERANÇA
Para Comte-Sponville a temperança é a moderação pela qual o homem se
mantém senhor de seus prazeres e não escravos dos mesmos. “É o desfrutar livre, e que
por isso, desfruta melhor ainda, pois desfruta também sua própria liberdade”. 38
37
AQUINO, Tomás de. Suma Teológica VII. 2. ed. São Paulo: Loyola, 2013, p. 46
38
Comte-Sponville (2009, p. 46-47).
20
39
Idem 1.
40
AQUINO, Tomás de. Suma Teológica V. 4. ed. São Paulo: Loyola, 2014, p. 304
21
41
AQUINO, Tomás de. Suma Teológica VII. 2. ed. São Paulo: Loyola, 2013, p. 194
42
(SPINOZA, Ética V, proposição 52)
22
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AQUINO, Tomás de. Suma Teológica IV. 3. ed. São Paulo: Loyola, 2015.
AQUINO, Tomás de. Suma Teológica V. 4. ed. São Paulo: Loyola, 2014.
AQUINO, Tomás de. Suma Teológica VI. 3. ed. São Paulo: Loyola, 2014.
AQUINO, Tomás de. Suma Teológica VII. 2. ed. São Paulo: Loyola, 2013.
AQUINO, Tomás de. Verdade e conhecimento. 2. ed. São Paulo: Martins fontes, 2013.
CESARÉIA, Basílio de. Patrística: homilia sobre Lucas 12; homilias sobre a origem do
homem; tratato sobre o Espírito Santo. São Paulo: Paulus, 1998.
CRUZ, São João da. Noite escura da alma. Rio de Janeiro: Traduzido pelas Carmelitas
Descalças do Convento de Santa Teresa, 1960.
http://www.revistamirabilia.com/sites/default/files/pdfs/2010_02_05.pdf