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Raja yoga Brahma kumaris vivendo uma vida

melhor.

Lidando com a negatividade


Neste mundo, há tantas perguntas sobre nosso
futuro, o meio ambiente e a população, a situação
política e financeira, a distribuição de recursos. Só é
preciso pegar um jornal para perceber que o mundo
está numa situação terrível e por isso é fácil se tornar
negativo.
Se quero me tornar negativo, posso encontrar mil e
uma razões para sê-lo. Se permito que todos esses
fatores me influenciem, é como se mil armas fossem
apontadas para a minha cabeça e eu me torno
negativo. Outro fator são as pessoas que me
rodeiam; é muito fácil ser influenciado pela
negatividade delas.
Posso ser influenciado pelas pessoas com as quais
trabalho e às vezes, a negatividade delas me ataca e
fica difícil manter o equilíbrio, leveza e felicidade
por causa das reações e respostas negativas delas
para tudo ou pela minha resposta negativa a elas.
Posso não gostar da forma como falam comigo ou
olham para mim. Assim os sentimentos de ser
pressionado por todos os lados gradualmente
crescem. Como posso escapar?
Mesmo se eu escapasse, haveria outra percepção
profunda – que o problema na verdade não está no
mundo lá fora ou nas pessoas que estão comigo. Se
passo poucos momentos em uma reflexão honesta,
percebo que o que quer que esteja acontecendo
dentro de mim tem raiz na minha negatividade. Isso
não trará satisfação ou leveza e pode até causar
depressão ou peso, porque significa que percebi que
a negatividade está vindo de dentro. Como eu lido
com isso? Posso compreender. Ao compreender e
perceber, percorri um longo caminho para ser capaz
de consertar as coisas.
Compreendo que o período da história pelo qual a
civilização passa agora é particularmente escuro.
Porém não será para sempre. A condição do mundo
é horrível, mas mudará. Depois da escuridão, a luz
virá; a noite se torna dia. Isso acontecerá na
passagem do tempo. Não posso forçar o dia a vir,
não posso forçar o passo. Nessa condição, aprendo a
ser um observador desapegado. Posso fazer parte
dos movimentos que trarão o dia e não permitir que
coisas afetem o meu próprio estado interno de
consciência.
Isso requer um pouco de experiência. Posso traçar
uma analogia: um ator desempenha um papel no
palco e está totalmente envolvido em tudo o que está
acontecendo. Alguém que está na plateia é
consciente de tudo o que está acontecendo no palco
também, mas existe uma diferença no estado de
consciência. Tenho que aprender a ser ambos nesse
jogo da vida. Tenho que ser um ator e um
observador. Tenho que ser capaz de dar passagem e
olhar para as coisas a uma certa distância. Isso trará
fé e confiança ao fato de que a escuridão da noite
passará e a luz do dia virá.
E sobre a negatividade das outras pessoas? Sei que
se sou afetado pela negatividade das outras pessoas,
estarei conectado em um ciclo de ações, reações e
respostas às quais não tenho controle. Mas se as ver,
ouvir e as respeitar como seres humanos e
indivíduos e entender seus pontos de vista, não me
permitirei ser movido de minha posição interna de
estabilidade.
Se puder me certificar de que permaneço mestre de
mim mesmo, a negatividade deles fluirá sobre e
acima de mim e não me influenciará. Posso
perguntar a mim mesmo o que quero e então me
mover nessa direção para alcançar a meta. Posso
desenvolver a arte do desapego, sendo amigo e ainda
assim não permitindo que me toquem.
Posso traçar uma outra analogia: pensem na imagem
de uma flor de lótus. Ela se encontra em uma água
suja e estagnada, mas a lótus tem uma substância
cerosa em suas pétalas e nada consegue tocar a
superfície dela, a sujeira escorre. Posso criar essa
camada de proteção de modo que minha pureza e
estabilidade internas permaneçam não afetadas por
influências de fora.
Somente assim posso ser verdadeiro comigo mesmo.
De outra forma, torno-me uma marionete das
circunstâncias e situações que os outros criaram e
não serei mais um mestre dos meus próprios
sentimentos e destino. Aprendo a ter essa proteção
através da experiência do desapego e na consciência
de Deus e isso trará uma chuva de bênçãos
influenciando a mim e aos outros à minha volta.
Será que existe um ser humano criando uma
sombra sobre você?
Se estou reagindo contra alguém, é mais e mais
difícil e irritante lidar com aquela pessoa e estou
criando uma enorme carga para mim mesmo que
tornará difícil viver comigo mesmo e com a pessoa.
Se quero criar um ambiente de paz e amor em minha
volta, minha resposta negativa a alguém se torna
extremamente desconfortável para mim.
Devo tentar não permitir que esse aumento de
negatividade aconteça. Se isso já aconteceu, analiso
todo o processo e vejo que é uma forma sutil de ego
por pensar que a forma como eu agradeço, as coisas
que eu faço e o meu entendimento são todos
corretos, e da outra pessoa são errados. Então, estou
constantemente criticando – isso significará um
aumento dessa negatividade. Percebam o que vem
do próprio ego e aprendam humildade e respeito,
aceitem o valor dos indivíduos e reconheçam a
bondade neles.
Todos têm valores, eu apenas tenho que ter uma
visão correta e ser capaz de ver isso. Quando
começar a apreciar seus valores, perceberei que a
negatividade é minha. Sim, eles fazem as coisas de
uma forma diferente de mim, mas há variedade,
então, que eu as aprecie. Não posso mudá-los ou
controlá-los; o que posso fazer é mudar minha
atitude e minhas respostas. Se eu continuar a ter a
visão de amor e respeito por eles, sei que através
disso existe uma possibilidade muito boa de
influenciá-los e ajudá-los em seus processos de
mudança.
Se eu reajo contra eles, não serei capaz de
influenciá-los no futuro, porque minhas reações
criarão uma barreira entre nós, tornando a
comunicação muito difícil. Se mudo minha atitude
de uma forma sincera – não a partir de diplomacia
ou cortesia artificial, mas ao ver seu eterno estado
divino original – então, com respeito sincero, um
bom nível de comunicação surgirá e talvez, no
momento certo, possamos conversar e uma mudança
pode acontecer. Não devo permitir que a
negatividade destrua a comunicação com eles;
senão, crescerão paredes de tal forma que será difícil
resolver mais tarde.
Talvez, a coisa mais difícil para mim seja, em
termos da negatividade, o que sinto sobre mim
mesmo. Eu vejo minhas fraquezas, vejo as
dificuldades que criei, vejo os débitos emocionais
que acumulei e me pergunto como, ainda assim, é
possível lidar com tudo isso. Se perco a esperança,
as coisas se tornarão difíceis. Portanto, não permito
que o ciclo de negatividade venha a mim, não perco
amor por mim mesmo ou, de outro modo,
pensamentos negativos me empurrarão mais e mais
para baixo.
Assim que vejo que há a possibilidade desse ciclo de
negatividade começar, eu me asseguro de cortá-lo
naquele momento, porque ciclos são poderosos; um
pensamento fraco, e outro, e outro, e eu sou
enganado. Se não posso parar isso antes do começo,
isso me atrapalha.
Em primeiro lugar, devo ver a causa e o que é
preciso ser feito, e olhar o futuro de modo que eu
possa impedir que as coisas aconteçam; então, tomo
precauções para que isso não aconteça novamente.
Quando reconheço a mim mesmo como uma alma
eterna, altero minha visão de mim mesmo
completamente. Volto a perceber a minha própria
forma original e sinto o ser divino que
verdadeiramente sou. Então a esperança retorna.
Vindo da consciência dessa experiência de minha
própria imortalidade, de “eu” a alma, sou capaz de
mudar minha visão completamente. Sei que, nessa
consciência de ser um filho de Deus, tenho dentro de
mim a capacidade para a pureza, a paz e o amor. Se
permito que essas qualidades emerjam e passo
alguns minutos em silêncio a cada dia, apenas
deixando minha mente se tornar desapegada de
todas as outras coisas que normalmente ela
carregaria, então posso dar valor a quem eu
verdadeiramente sou.
À medida que esse estágio cresce, a influência disso
permanece mais longa a cada dia. À medida que
desenvolvo essa consciência de autorrespeito e
autoestima e me movo para fora do ciclo de
negatividade que me empurrava para baixo, eu me
asseguro que minha visão, palavras e ações mostrem
essa estima. Expressando valor e respeito pelos
outros, recebo deles a mesma resposta de volta.
No momento em que perco a estima, procuro
suporte e confirmação no mundo externo, e
normalmente, se estou procurando alguma coisa,
esta é negada. Somente nesse estado, em que gero
meu próprio autorrespeito, posso ganhar o respeito
dos outros. Esse é o meio através do qual posso
mudar minha própria imagem negativa sobre mim
mesmo.
Quando aprendo a remover a negatividade, sou
atraído pela beleza que a positividade pode trazer e,
por desenvolver um gosto por isso, aprendo a aceitar
a positividade e rejeitar a negatividade. Eu, portanto,
causo um grande impacto na atmosfera ao meu redor
e nas pessoas que estão comigo.
Mesmo que um só indivíduo esteja nesta consciência
de tornar as coisas positivas, de aprender a tratar as
coisas num modo positivo, isso faz grande diferença.
O peso do mundo existe por causa do acúmulo de
todos os nossos pensamentos e ações negativas, e o
único meio de podermos transformar e reformar isso
é através do poder da positividade. Isso nos permite
trazer mudanças em primeiro lugar em nosso meio
ambiente, local de trabalho, família e em casa, o que
inevitavelmente atingirá o exterior e mudará a
sociedade. No estado de falta de esperança e perda
de coragem, as forças da escuridão crescem de
forma mais pesada e mais forte.
Se me torno consciente de que sou um filho de
Deus, um ser de luz, um instrumento de luz e deixo
que a luz da consciência, sabedoria e verdade me
transformem, então posso me tornar um instrumento
que traz luz para o mundo à minha volta. No estado
de negatividade, há muito medo e ignorância. Se
consigo compreender isso, então o medo é reduzido
e gradualmente eliminado, e haverá uma grande
compreensão das razões para o estado de
negatividade do mundo e das minhas conexões
cármicas com os outros indivíduos. Ao compreender
todas essas coisas, a luz entrará na paisagem, a
escuridão será removida e eu saberei o que e como
fazer. Tenho que trazer luz para o mundo desse
modo, a escuridão não será capaz de influenciar-me
e serei capaz de ajudar a remover a escuridão dos
outros.
Sister Jayanti é diretora da Brahma Kumaris no
Reino Unido.

Lidando com a raiva


O que é a raiva? Ela pode ser superada? Deveríamos
tentar?
Se um de nós fosse perguntar para um grupo de
pessoas o que provoca a raiva, acho que haveria uma
grande variedade de respostas. De uma coisa tenho
certeza: qualquer que seja a causa, até mesmo uma
única palavra falada com raiva pode deixar uma
marca no coração de uma pessoa que permanece por
muito tempo e tem a habilidade de arruinar a beleza
de qualquer relacionamento.
Certo sábio disse: “Como pode haver paz na terra se
os corações dos homens estão como vulcões?”. Se
dentro da pessoa puder haver paz e liberdade em
relação à raiva, só então poderá viver em harmonia
com os outros. De que maneira podemos criar esse
senso de paz dentro de nós?
Começamos com o entendimento de que temos a
escolha para pensar e sentir da forma que queremos.
Se olharmos para o que é que nos dá raiva,
descobriremos que não há nada que tenha o poder
para nos fazer sentir dessa maneira. Podemos apenas
permitir algo que vai ativar nossa raiva – a raiva é
como nós respondemos a algum acontecimento ou a
alguém, mas pelo fato de estarmos acostumados a
reagir com impulso, nos esquecemos de escolher
como queremos nos sentir e respondemos
inapropriadamente nos deixando com sentimentos de
raiva.
Você já ouviu alguém dizendo: “Realmente odeio
quando você fala assim comigo?”. Ou como:
“Quantas vezes preciso lhe falar para fazer isso
dessa maneira?”. Uma lição é que, mesmo tentando,
nunca poderei controlar as circunstâncias, as pessoas
ou situações já que elas estão em constante
mudança. A única coisa que posso controlar é o
modo que escolho responder. Só posso aumentar
minha capacidade para tolerar; só eu posso
desenvolver minha habilidade para entender; e só eu
posso criar meu amor pelos outros mesmo que um
dia eles me elogiem e no outro eles me difamem.
O estilo de vida moderno está cheio de desafios.
Para enfrentá-los, tenho de começar a ver toda
interação dentro de nosso mundo como parte de um
grande drama ou jogo. E dentro desse drama, todo
indivíduo tem seu próprio papel singular a
desempenhar, que é essencialmente uma expressão
do seu próprio eu interior. Conforme aceito isso, ao
invés de passar meu tempo mantendo um olho no
que os outros estão fazendo, posso começar a usar
minha energia a fim de desempenhar meu próprio
papel para o melhor de minha habilidade. Não posso
possuir ou controlar o comportamento dos outros,
porque se eu o fizer, no final das contas, isso acabará
gerando conflitos. Ao invés disso, preciso praticar a
compreensão, pois qualquer ação de uma pessoa, de
acordo com seu próprio papel dentro do jogo, possui
alguma razão pela qual ela se comporta daquele
modo. Eu deveria tentar não tirar conclusões
precipitadas muito facilmente; e, em lugar de tentar
controlar o comportamento de outra pessoa, será de
longe mais fácil e mais produtivo focalizar minha
energia em minhas próprias ações.
Assim, o que há de tão errado em julgar as ações dos
outros? Há o perigo de que, se nos tornarmos muito
interessados nas atividades deles, poderemos
começar a sentir raiva por aquela pessoa, o que pode
nos levar a rejeitá-la. Nós a colocamos em algum
tipo de caixa e fixamos um rótulo nela. Então,
sempre que entramos em contato com aquela pessoa,
nós a vemos à luz de seu passado de enganos.
Agindo desse modo, estaremos efetivamente
prendendo essa pessoa nas suas ações passadas. Mas
se permitimos a essa pessoa a dignidade de sair de
fato de seu próprio engano – e se nossa visão lhes
permitir fazer isso – cedo ou tarde será possível que
as pessoas mudem.
Esse conceito de que a vida é um drama pode ajudar
a nos desapegarmos do que está acontecendo ao
nosso redor, e esse desprendimento ou espaço é de
grande ajuda em aprender a não fazer julgamentos
tão depressa sobre os outros. Se criamos um espaço
pequeno, um espaço saudável entre nós e o drama da
vida, descobrimos que aquele espaço atua como um
para-choque. Nós nem agarraremos alguém pela
garganta, nem o drama da vida poderá ser capaz de
subitamente nos arrebatar desatentos.
Esse é um dos muitos benefícios da prática da
meditação. Ela nos ajuda a criar espaço pessoal
dentro de nós mesmos de forma que tenhamos a
oportunidade para olhar, pesar a situação e
responder adequadamente por permanecer em um
estado de autocontrole. Quando estamos bravos, não
temos nenhum autocontrole. Naquele momento,
estamos num estado de caos interno, e a raiva pode
ser uma força muito destrutiva.
Diz-se que a raiva pode ser uma coisa útil. As
pessoas dizem: “Olhem para todos os problemas no
mundo. Alguém teria que ficar bravo com isso
senão, nada aconteceria?” Isso me faz lembrar da
história sobre um velho homem sentado perto de um
rio que falava com um grupo de discípulos. Sua mão
estava apoiada no chão quando um inseto veio
rastejando e o mordeu. Assim que fez isso,
escorregou e caiu no rio. Esse velho homem olhou
para trás e viu o inseto lutando no rio, então, ele o
apanhou e o colocou de volta à margem. Alguns
minutos depois, o mesmo inseto rastejou para cima
de sua mão e mordeu seu dedo, e novamente
escorregou e caiu no rio. O velho homem olhou de
novo, o apanhou, e novamente o tirou do rio.
Quando isso aconteceu pela terceira vez, um dos
discípulos perguntou: “Mestre, por que você faz
isso? O inseto o morde e você ainda o salva. Por que
você não o deixa se afogar e assim ele não o
morderá mais?” Ele respondeu: “É a natureza do
inseto picar, e é minha natureza salvar”. A natureza
de alguns seria a de criticar ou caluniar, ou até
mesmo nos desafiar. Ainda assim, isso está
completamente fora de nossas mãos. Podemos
somente fazer o que temos que fazer. Não podemos
justificar uma ação negativa dizendo, “Bem, você
faz a mesma coisa também”. Se dissermos isso,
então estaremos dizendo: “Só crescerei e mudarei
quando você decidir crescer e mudar. Está em suas
mãos”. Mas o crescimento acontece sempre assim?
Se esperarmos pelo outro para mudar, é provável
que esperaremos durante um tempo extremamente
longo.
Às vezes a raiva é usada como um tipo de
mecanismo de autodefesa, um guarda de sentinela
do lado de fora da fortaleza das paredes de nossos
egos internos. Quando qualquer pessoa tenta atacar
ou nos criticar, a raiva estoura e surgem demandas,
“Quem você pensa que é? Olhe para você!” A raiva
reage. Raiva é a emoção que tenta segurar todas as
outras ilusões juntas. Se qualquer um tenta atacar o
que nós acreditamos dentro de nós ou nos
preocupamos, a raiva sai para combatê-lo. Esse é um
exemplo de usar a raiva para proteger nosso eu
simulado, nosso senso de ego. Porém, através do
reconhecimento de nós mesmos como seres
espirituais e através da consciência e experiência da
beleza de nossa verdadeira natureza, nossa
dependência na aprovação de outras pessoas se
reduz, assim como nós redescobrimos uma quietude
interna e estabilidade. Por fim, a necessidade da
raiva como nosso protetor é eliminada.
Essa forma de estabilidade pode criar uma fundação
firme, um tipo de teimosia positiva. Outros podem
dizer tudo o que quiserem, e até pode ser verdade,
mas nós não perdemos nossa paz ou felicidade por
qualquer razão. Isso é respeitar o que é eterno dentro
de cada um de nós. Nós nos damos a oportunidade
para manter nossa própria paz da mente. Porque a
enfrentamos, nenhuma pessoa vai aparecer em nossa
porta com uma caixa cheia de paz e dizer: “Olhe,
acho que você poderia fazer algo com isso hoje!”.
Há uma história sobre Buda que ilustra um
importante princípio. Buda estava debaixo da árvore
do esclarecimento quando alguém que tinha ouvido
falar que Buda era uma pessoa iluminada, veio para
testar o seu autocontrole. Ele ficou em frente a Buda
e começou a xingá-lo, chamando-o de todos os
nomes possíveis, e não houve nenhuma reação por
parte dele. Algum tempo depois, essa pessoa cansou-
se e foi embora, descansou um pouco, voltou e
começou novamente. Ele abusou da família de Buda
e proferiu todo insulto que pôde pensar, mas ainda
assim não houve nenhuma reação. Ele ficou bem
cansado e então perguntou a Buda, “Estou
difamando-o de todas as maneiras e ainda assim
você não diz nada?”. Buda olhou para ele e disse:
“Se alguém lhe dá um presente, e você não o aceita,
com quem fica esse presente?”.
Isso mostra uma perspicácia crucial. Temos uma
escolha. Se aceitamos a tristeza de alguém, não
podemos culpar a outra pessoa e dizer: “É sua culpa,
você falou assim comigo”. Reconhecemos que
temos uma escolha em cada momento. Podemos
usar nosso intelecto como um filtro e decidir o que
vamos permitir entrar e o que vamos impedir que
nos afete.
Há dois métodos que as pessoas sugerem. Algumas
dizem que se você está bravo, então seja bravo como
uma forma de expressão – deixe que saia. Naquele
momento, ficamos livres da raiva, porque a
deixamos sair. Porém, conforme aprofundamos
nossa compreensão e experiência na maneira pela
qual nossa consciência trabalha, percebemos que
quanto mais fizermos algo, mais fundo aquele hábito
se torna. Assim, amanhã acharemos mais fácil ficar
bravos, porque nós já fizemos isso hoje. É como um
fumante que tenta deixar os cigarros. Quando ele
tiver vontade de fumar, ele fuma e sua vontade de
fumar passa. Ao invés de remover esse desejo, o ato
de fumar só preencheu temporariamente essa
vontade, e o hábito o levou a um aperto até mais
firme de maneira que amanhã o desejo será até mais
forte. Assim, a expressão não transforma o hábito ou
sentimentos.
Outra sugestão é reprimir a raiva. Se você sentir que
está ficando com raiva, pare, reprima-a. Mas essa é
uma situação de panela de pressão que me faz
esquentar cada vez mais por dentro até explodir!
Posso cortar a raiva por certo período de tempo. E,
na verdade, quando eu a estiver reprimindo, estarei
empurrando esses medos e emoções para meu
subconsciente onde eles emergirão de outra forma
como ervas daninhas.
Mas há um terceiro método, que poderia ser descrito
como sublimação ou mudança de forma. Pela prática
diária e aplicação de princípios espirituais em nossa
vida prática, a experiência de nossa própria paz
interna pode se tornar muito natural. Desse modo, da
mesma maneira que a água pode mudar sua forma de
sólido para líquido ou para gás, a energia que estava
sendo previamente usada para expressar e alimentar
a raiva também pode ser mudada para a força por
detrás da expressão de determinação ou coragem.
Em lugar de estar bravo com alguém para provar um
ponto de vista, nós podemos aprender a ser
positivos. Assertividade possui respeito por si
mesmo, enquanto a raiva não demonstra respeito
nem por si nem pelos outros. Somente libertando a
nós mesmos da raiva é que poderemos estar livres
para a experiência de paz de nossa verdadeira
natureza espiritual.
Há uma história sobre Alexandre, o Grande, quando
ele estava a ponto de voltar da Índia para a Grécia.
Por terem lhe dito para trazer um yogue consigo, ele
foi procurar na floresta. Por fim, achou um sentado
debaixo de uma árvore e quietamente se sentou
próximo a ele. Depois de certo tempo, o yogue abriu
os olhos. Alexandre disse a ele: “Quero que você
volte para a Grécia comigo”. O yogue apenas olhou
para ele. Alexandre continuou: “Se você vier
comigo, terá pessoas para dar atenção às suas
necessidades e você será conhecido por toda a
Terra”. Contudo, o yogue explicou que não tinha
nenhum desejo de ir. Assim, o exasperado
Alexandre puxou sua espada e gritou: “Você não
percebeu ainda quem sou, eu sou Alexandre, o
grande conquistador, e se quiser posso cortá-lo em
pedaços!” O yogue sorriu e respondeu: “Você fez
duas declarações, e nenhuma das duas é verdadeira.
Primeiramente, você não pode me cortar em
pedaços; pode prejudicar meu corpo, mas eu sou a
alma eterna, imortal. Em segundo lugar, você diz
que é Alexandre, o grande conquistador, mas eu
posso lhe falar que, na realidade, você não é nada
mais do que o escravo de meu escravo”. Alexandre
apontou sua espada para ele e exigiu que o yogue se
explicasse. O yogue então disse: “Eu conquistei a
raiva pelo processo de meditação, mas veja como a
raiva facilmente tirou o melhor de você. A raiva é
minha escrava, e você se tornou o escravo da raiva”.
Eu nunca soube o que Alexandre fez àquele yogue!
Yogesh Sharda é professor de meditação e
desenvolvimento espiritual, atualmente em Istambul,
onde é coordenador do Centro Brahma

A BELA E A FERA

Lesley Edwards esclarece o papel da


autoconsciência na construção do amor próprio.
Construir autoestima é falar sobre uma profunda
transformação pessoal. Não acredito que podemos
descobrir nosso verdadeiro valor sem fazer um
esforço para mudar, sem ter a coragem para nos
olharmos diretamente nos olhos, avaliar o que
vemos e então prosseguir a partir dali.
Certa vez, estava mostrando para uma classe de
crianças de 6 anos de idade alguns quadros que
ilustravam o ciclo de vida da borboleta e perguntei-
lhes como achavam que isso acontecia. A face de
um pequeno menino iluminou-se e ele exclamou:
“Eu sei, a lagarta tem o coração de uma borboleta!”.
Que sábia alma velha. É verdade que se soubermos,
dentro de nossos corações, em que queremos nos
tornar, então nos tornaremos aquilo.
Uma amiga percebeu recentemente que ela só era
capaz de se ver através dos olhos de outras pessoas.
Um conselheiro perguntou-lhe como se via, e ela
respondeu que as pessoas a achavam atraente,
inteligente e divertida. Posteriormente, ao ser
questionada a respeito do que ela via, percebeu com
horror que não via nada, só um reflexo dela mesma
nos olhos de outras pessoas, experimentando um
profundo sentimento de estar desconectada de si
mesma.
É um sentimento assustador quando não sabemos
quem somos. E muitos de nós não sabemos, ou
chegamos a um ponto na vida onde buscamos
seriamente um pouco de clareza. Nunca houve um
tempo em que nós estivemos com mais necessidade
de buscar algo como uma simples e velha sabedoria
– a espiritual, ao invés de uma explicação material
de quem nós somos. Por muito tempo fomos
surpreendidos com uma identidade baseada em
fatores externos como nosso trabalho, aparência,
talentos e relacionamentos. Olhamos as outras
pessoas, situações e circunstâncias para nos
definirmos, para nos afirmarmos e para serem a
fonte de nosso prazer. Nós nos perdemos ao nos
compararmos com os outros e ao nos medirmos a
partir de padrões materiais de sucesso e de
realizações.
Começar a nos recuperar dessa confusão significa
uma mudança de percepção de autoconsciência
física para autoconsciência espiritual ao nos vermos
como uma alma ou consciência espiritual que está
além da forma. O estado natural da alma é força
interna, e a expressão mais elevada da alma é
expressar aquela força na forma de amor, confiança,
coragem, e muitas outras qualidades positivas. Ter
nosso centro de gravidade firmemente ancorado
nessa parte de nós torna-nos maiores que o detalhe
de nossas vidas diárias. Dessa forma, para qualquer
desafio que a vida nos apresente, podemos ficar
firmes e sólidos. Ter uma experiência do Eu “traz
um sentimento de estar em um terreno sólido dentro
de si mesmo, num pedaço de eternidade o qual nem
sequer a morte física pode tocar…” (Marie-Louise
Von Franz).
É um grande desafio trabalhar com uma visão de si
mesmo que está além da imagem! – para sua
borboleta ter asas de compaixão, coragem, paz e
amor ao invés de promoção, beleza, riqueza e
sucesso! Ainda assim, tenho visto muitas pessoas
que meditam pela primeira vez conectadas com essa
realidade interna, suspirando aliviadas e
compartilhando experiências de uma liberdade
interna e leveza que nunca haviam sentido antes.
É claro que o verdadeiro desafio vem na integração
dessa experiência na vida diária. A autoconsciência
espiritual não significa ignorar seu mundo físico,
social e emocional, mas usar isso para lhe dar a força
do poder, as ferramentas e forças para trazer a cura e
mudança em todas as áreas de sua vida. Quando não
há uma consciência espiritual, você pode se pegar
tentando fazer mudanças superficiais quando as
coisas dão errado, como colocar enfeites e
decorações em cima de uma estrutura que está
cedendo ou pôr mais cobertura em um bolo podre –
o equivalente a comprar mais roupas, comer mais
comida, ou beber mais álcool quando você se sente
deprimido. Sem uma prática espiritual como a
meditação, você pode saber muito bem que
mudanças nas atitudes e comportamentos seriam
boas para você, mas, simplesmente, não tem energia
ou poder para colocá-las em prática.
A energia e a força interna experimentadas na
meditação o equipam com as armas certas para lutar
uma guerra não violenta – armas como paciência,
tolerância, perdão, compaixão, aceitação e
generosidade. O quão profundamente acreditamos
em nossos egos positivos e o quão reais tenham sido
as experiências de nosso eu espiritual, essa realidade
será inevitavelmente desafiada. Você pode acreditar
ser uma alma pacífica, amorosa, mas será que
consegue manter essa experiência face a doenças ou
críticas? Uma consciência espiritual significa estar
sempre pronto com as armas certas, onde batalha e
vitória são uma oportunidade para a alquimia. Onde
havia medo, deixe que haja coragem, onde havia
mentiras e ilusões – verdade; onde havia raiva –
aceitação; onde havia feridas – perdão. Ataques não
virão somente de fora. Nossa autoimagem é feita de
camadas e camadas de experiências passadas dentro
do nosso próprio subconsciente na forma de hábitos
profundamente arraigados de padrões negativos de
pensamento e comportamento. Mudança duradoura e
curativa requer um compromisso profundo para
fazer emergir ouro a partir do chumbo.
Ao despertarem para a sua espiritualidade, as
pessoas tipicamente descobrem um senso de
propósito e significado na vida. Isso não deveria ser
somente uma sensação passageira! O desafio é viver
diariamente com um senso de significado e
propósito. Será que você entende o significado dos
papéis que desempenha, o trabalho que faz, os
talentos que tem? Esse é um campo minado em
potencial de tensão, frustração e tédio, de sonhos
não realizados e sentimentos de fracasso. Ainda a
partir de uma perspectiva espiritual, tudo o que você
faz é apresentado exatamente com o que você
precisa para seu crescimento e mudança interna.
Você pode precisar estar em uma situação para
aprender paciência e humildade. Você pode estar
explodindo para mudar as coisas em um nível
externo, mas a melhor coisa que pode fazer, agora
mesmo, é mudar sua atitude e percepção frente ao
que faz. E então, esperar pacientemente pelo
momento quando a mudança que acontecerá não
será uma reação contra algo ruim, mas uma escolha
consciente para se mover em direção a algo bom.
O que significa traduzir autoconsciência espiritual
em suas relações com outras pessoas? Você é capaz
de amar? Você se ama bastante para amar outras
pessoas? – considerando o amor como um verbo e
não algo que será achado numa pessoa ideal, ou
numa situação ideal? – sendo tão comprometido para
ver ouro em outras pessoas assim como você vê o
ouro em você, apreciando o quão profundamente
conectadas estão essas duas percepções? Quando
nossos recursos internos estão fracos não
conseguimos suportar os ataques e defesas de outras
pessoas, e a coisa mais fácil que acontece é realçar
suas fraquezas como um modo de evitar a
responsabilidade por aquilo que estamos sentindo.
Ser estável em nossa própria consciência do eu
espiritual é ser capaz de reverter as coisas ao nosso
redor, de forma a enfrentar alguém vindo de um
contexto de raiva, medo ou ciúme. Passo a não ser
ameaçado, mas posso desarmar a negatividade do
outro ao vê-lo além daquilo, a partir de sua bondade.
Para manter essa visão precisamos de muito poder
espiritual. Quando você está cansado e com sua
energia em baixa, apega-se à aparência externa das
coisas e é muito mais fácil culpar, criticar e derrubar
os outros.
A verdadeira consciência do eu é ver e aceitar o
completo ciclo de vida de mudanças – que é a
lagarta, o casulo e então, a borboleta; assim como o
alquimista que usa o chumbo para fazer ouro e a luz
do dia que sempre segue a noite. Uma perspectiva
espiritual dá uma compreensão dessa história
completa e permite ver a história de algum lugar
“fora de” ou “além de” você, sem se prender muito a
qualquer pormenor. Isso lhe permite ver fraqueza e
força com equanimidade e estabilidade; vendo a
fraqueza como uma realidade temporária, mas não a
parte final da verdadeira identidade; vendo a
fraqueza como o avesso da força e sempre fazendo a
escolha para se mover de encontro à luz, movendo-
se para o ouro e movendo-se para o voo.
Sem ver todo o quadro, é muito fácil ficar preso a
uma pequena parte da história. Muitas pessoas
podem aceitar suas fraquezas, mas não suas forças.
Quando indagados a listar coisas positivas e
negativas sobre eles, a lista negativa vem mais fácil
e é bastante longa! Talvez se sintam mais seguros ao
ficarem em terreno familiar: “É minha personalidade
ser assim”, “Eu não posso mudar, eu nasci assim!”.
Ver a si mesmo em uma luz positiva é sair da zona
de conforto em direção a um território
perigosamente desconhecido. Faz-me lembrar das
crianças cujo único modo de alcançar e estabelecer
contato com os outros é por violência física, pois é a
única linguagem que eles conhecem. Para elas, as
estratégias de buscar atenção resultam em serem
constantemente advertidas. Mas, através disso,
adquirem exatamente o que querem: atenção. Para
aqueles cujas novas e subsequentes experiências de
vida foram caracterizadas pela dor e o sofrimento, é
necessário um esforço hercúleo de vontade e
coragem para dar um passo além disso e entrar numa
linguagem de amor.
Talvez menos comum, mas certamente um perigo
potencial, é quando aceitamos nossas forças, mas
vamos por vários caminhos a fim de evitar enfrentar
e aceitar as fraquezas. Nenhum de nós é perfeito, e
até mesmo as almas mais grandiosas têm um lado de
sombra. E essa sombra tem de ser vista e abraçada se
quisermos continuar crescendo. Coragem só pode vir
ao se enfrentar o medo. Compaixão só pode vir ao se
compreender a raiva. A paz que podemos
experimentar está somente em contraste ao caos.
Toda fraqueza é a força fora de equilíbrio: um
sentimento de inutilidade pode ser humildade
distorcida, e arrogância pode ser confiança por
razões erradas.
É uma arte olhar para a Bela e para a Fera com
equanimidade. E a maior ameaça a isso é o medo. O
medo é o grande espelho distorcido. Olhamo-nos no
espelho e vemos a Fera, e ficamos com a Fera,
porque ela diz “Eu não tenho nenhum motivo pelo
qual viver” e tem muitas desculpas para não ter de
fazer qualquer coisa. Ou, nós olhamos para dentro
do espelho e vemos a Bela e ignoramos a Fera. E se
a Fera não adquire pelo menos um aceno de
reconhecimento, ela nos perseguirá, levando-nos ao
labirinto de nosso subconsciente, demandando
sacrifícios – uma oportunidade perdida aqui, uma
relação danificada lá. Ela fará a sua cabeça,
manifestando-se como projeções, negações,
desculpas e distorções da verdade. Assim, a Bela
tem de se apaixonar pela Fera para transformá-lo
num príncipe. E o único modo para a Bela amar a
Fera é ir além do medo. Olhe para dentro do espelho
e veja além da Fera. Somente veja a luz. A luz
preenche você com o amor e a coragem para
enfrentar e transformar suas fraquezas, junto com a
força para expressar sua determinação.
Por dezesseis anos, Lesley Edwards dedicou-se ao
desenvolvimento espiritual interior com a Brahma
Kumaris. Sua carreira levou-a a ensinar, e ela se
entregou de coração a seu trabalho com crianças
em diversas escolas de Londres. Permaneceu
igualmente comprometida com sua busca espiritual.
Como estudante e professora na Brahma Kumaris,
ela foi um membro muito amado e respeitado na
família BK. Por quase quatro anos, conduziu uma
grande batalha interior com a esclerose múltipla e,
por fim, o câncer. Faleceu em junho de 1999, mas o
legado que deixou nos corações e mentes de todos
que a conheciam foi a visão de imensa coragem,
serviço altruísta e aceitação serena de seu papel
entre nós nesta vida.
Durante seus últimos cinco anos, uma de suas
principais áreas de foco foi o desenvolvimento da
autoestima. Ela desenvolveu e conduziu cursos pelo
Reino Unido, compartilhando tudo o que aprendeu
em sua própria jornada. Este é o segundo de dois
artigos que ela escreveu antes de sua morte. Como
você viu, pela maneira profunda e articulada com
que discorre sobre esse importante tópico, ela
realizou seu trabalho interno e nos falou
diretamente de sua própria experiência.

Lesley Edwards vai direto ao centro do desafio que


confrontamos diariamente – a reconstrução e a
manutenção da elevada autoestima.
No primeiro artigo sobre a construção da autoestima
(veja A Bela e a Fera), descrevi os primeiros dois
passos, a saber, conhecendo-se e aceitando-se:
conhecer e aceitar você mesmo como é, bom e mau;
e saber e aceitar você como poderia ser, fazendo a
escolha para perceber o seu potencial completo para
uma transformação positiva e apreciar o processo
espiritual que torna isso possível. Tendo entendido e
aceitado de onde você vem e para onde você vai, o
próximo passo é comprometer-se com a jornada. O
desafio de construir a autoestima verdadeira é uma
peregrinação na busca do Santo Graal. O Santo
Graal é o nosso valor, nosso propósito na vida, nossa
dignidade, nossa beleza, amor verdadeiro e uma paz
mental preenchedora. Jornadas podem ser coisas
perigosas. Às vezes é mais seguro permanecer em
casa com o conforto da recusa e apegos e sistemas
de suporte que nos dizem o quão maravilhosos
somos – abençoadamente ignorantes de todo o
trabalho que precisa ser feito. É quando nos
aventuramos fora de nossas zonas de conforto que
somos testados e desafiados.

PROTEJA-SE
O terceiro passo para construir a autoestima é
proteger-se. Isso significa ter cuidado. Você tem
inimigos. Haverá forças trabalhando para impedi-lo
de alcançar a sua “Sala da Alma”, aquele espaço
interno onde você pode sustentar a sua consciência
de alma e cultivar a sua conversa com Deus. Vozes
vão chamar por você a partir de outras salas. “Onde
você está?”, “Precisamos de você aqui!” Elas vão
impedi-lo de saber e aprender sobre Deus, o mestre
arquiteto do seu novo eu.
Numa peregrinação, enquanto você está
reconquistando a sua autoestima, é melhor viajar
sozinho pelo menos durante a parte substancial da
jornada. O propósito da sua vida no momento é
achar o Santo Graal. Mas isso não é um fim em si
mesmo. O mais importante é o que você fará com
ele depois que o encontrar. Então, o propósito da sua
vida é doar, expressar, compartilhar o que você
achou. É verdade que num certo sentido você não
pode separar os dois, pois ao doar, expressar e
compartilhar você também se descobre. Mas é um
equilíbrio delicado e, como tal, facilmente perdido.
Portanto, se estiver viajando próximo a outros,
assegure-se de dar-se espaço suficiente.
Enquanto Noé construía a sua arca, as pessoas
vinham e caçoavam dele. “O que está fazendo,
Noé?” Eles pensavam que Noé estava louco. Pode
ser que os outros não entendam por que você quer ir
à sua Sala da Alma para ficar quieto e conhecer
Deus. A lagarta não é a fase mais atraente na vida da
borboleta, mas é um passo essencial. Sem lagarta,
sem borboleta, é simples. Deus tem uma ordem de
preservação sobre você nessa época. Confie e tenha
a fé de que se você continuar indo para dentro de si a
fim de encontrar poder, então, o poder fará o seu
trabalho.
Proteger-se tem muito a ver com os relacionamentos
na sua vida, seu relacionamento consigo mesmo,
com Deus e com outras pessoas. Ponha seu
relacionamento consigo e com Deus em primeiro
lugar. Suas lições virão através de outras pessoas,
mas não perca de vista quem está aprendendo e
quem está ensinando.
Os relacionamentos com os outros são um modo de
nos conhecermos num nível mais profundo. Eles são
intensos, interessantes e verdadeiros. Precisamos de
alguém para nos sacudir, para espelhar de volta para
nós a nossa realidade. Mas precisamos ter cautela
em relação ao que eles estão espelhando de volta,
qual realidade, qual identidade. Se você está numa
peregrinação para encontrar a sua verdadeira
identidade, tenha cuidado com o que as outras
pessoas veem em você, pois você se verá com
aqueles olhos também, e isso poderá dar-lhe uma
sensação falsa de segurança; você pensa que está
bem, quando na realidade há muito com o que
poderia estar trabalhando em si. Quando você é
próximo a algumas pessoas, sua percepção fica
misturada com a percepção deles; às vezes você não
pode sequer dizer se seus sentimentos são seus
mesmos ou deles. Se eles não estão vendo a si
próprios claramente, irão projetar o que eles não
gostam neles em você, e se você não estiver fazendo
o seu trabalho adequadamente, projetará neles aquilo
de que não gosta em você! Todos os
relacionamentos são uma troca de força, as pessoas
competem por energia: A e B tomando suporte um
do outro, até que A não tenha mais a energia ou
interesse e retira o sentimento. E B, tendo se tornado
dependente, é então incapaz de encontrar aquela
energia tanto de dentro quanto de qualquer outro
lugar.
Num relacionamento ideal haverá uma troca de
amor de alta qualidade. Uma pesquisa científica
recente de Nova York, que tem atraído a atenção da
mídia, identificou três tipos de amor: luxúria,
atração e apego. Luxúria e atração falam por si
mesmas. Elas podem ser muito divertidas, mas pode
haver um preço muito alto a pagar em termos de sua
autoestima, e elas, por fim, causarão distração para
qualquer um numa peregrinação verdadeira. O
apego talvez prometa um amor mais profundo, mas
quantas pessoas você conhece que não podem viver
um sem o outro, mas que não podem realmente viver
um com o outro também? Eles amam odiar um ao
outro! Portanto, seja cuidadoso com a qualidade de
seus relacionamentos. Você realmente está
preparado para amar outro ser humano
adequadamente? Ou precisa aprender a amar-se
primeiro?
As coisas que nos atraem às outras pessoas são
frequentemente qualidades que nós mesmos
gostaríamos de ter. Se somos calmos e gentis,
poderemos achar atraentes as pessoas extrovertidas e
confiantes. Se somos fortes e dinâmicos, poderemos
achar atraentes as pessoas gentis e calmas. Em
qualquer caso, a única e verdadeira solução
definitiva é encontrar dentro de nós qualquer
qualidade que estamos procurando no outro. Isso
porque o poder que pode ser encontrado no retorno
ao estado natural da alma tem todos os ingredientes
necessários para a confecção de qualquer qualidade.
Dentro da lagarta da transformação espiritual existe
um equilíbrio perfeito de qualidades; um equilíbrio
do masculino e do feminino dentro de todos nós.
Assim, todos podemos ser fortes e gentis,
responsáveis e livres, aventureiros e cautelosos.
Quando vemos a alquimia daquilo que foi fraco
tornar-se forte, daquilo que foi idealista tornar-se
visionário, daquilo que foi preocupação tornar-se
liberdade – então, os relacionamentos mudam de
dependentes para interdependentes, de prejudiciais
para saudáveis.
Deus nos ensina a amar a nós mesmos. Por Ele não
ter nenhuma agenda escondida, Ele refletirá de volta
para nós somente nossas qualidades mais elevadas.
Nós não seremos capazes de projetar Nele nossas
próprias fraquezas; simplesmente teremos de aceitá-
las e nos apropriar delas. Ele não se projetará em
nós, porque Ele não tem fraquezas. Ele não tirará
nossa força, nem retirará o Seu poder, porque é
ilimitado. Ter um relacionamento com Deus é
necessário quando nossas baterias acabam. E isso é
o que pode acontecer para qualquer um procurando
pela autoestima.

POTENCIALIZAÇÃO
O passo final para construir a autoestima é se
potencializar. A força vem de todos os tipos de
lugares. Algumas energias serão temporárias, como
a excitação da cafeína ou da cocaína, que termina
deixando você se sentindo por baixo. O ímpeto da
energia de uma atração temporária também pode
deixá-lo sentindo-se vazio quando enfraquece, ou
machucado quando não é recíproco. Até mesmo
voar alto no sucesso e nas aquisições leva consigo a
inevitabilidade de descer à Terra com um choque
quando existe criticismo e mal-entendido.
A energia verdadeira o deixará tranquilamente
confiante, contente, satisfeito, receptivo, amoroso e
em paz. Você se sentirá conectado à sua própria
bondade interior, à fonte de bondade do universo e à
bondade nas outras pessoas. Você ficará estável e
calmo quando as coisas estiverem indo bem ou mal.
Você não precisará culpar ou criticar alguém ou
algo.
Você se amará – o que significa cuidar de suas
necessidades físicas, comendo a comida apropriada,
fazendo exercícios. Você despenderá tempo sozinho
sendo criativo, meditando ou apreciando o silêncio,
feliz com sua própria companhia e feliz na
companhia dos outros. Conhecerá suas limitações e
delineará fronteiras claras com confiança e calma
quando estiver no trabalho e em compromissos.
Para manter esse estado de autoestima, você
precisará ser muito cauteloso sobre o que causa
perdas à sua força interior. A força escoará se você
não for verdadeiro consigo mesmo. Todos nós temos
um barômetro interno que nos indicará quando
estivermos fora da trilha. Profundamente dentro da
alma, na silenciosa Sala da Alma do nosso ser, está a
nossa consciência. É nossa sabedoria interna, a parte
de nós que sabe realmente que o amor é um estado
do ser mais natural do que o ódio, que a paz é mais
natural do que o estresse. E ela sabe quando
violamos nossa própria verdade através de nossas
fraquezas, compulsões e sendo influenciados pelos
outros. Nossa consciência dói. Tornamo-nos
prisioneiros de nossa própria consciência. Eu disse
anteriormente que Deus não recolhe Seu poder, mas
nós podemos nos privar de tomar o poder da
bondade de Deus, e encontrar força na nossa própria
bondade se não somos verdadeiros com nós
mesmos. Se nos enganamos, se nos esquecemos de
quem realmente somos, se tomamos rápidas doses
de energia ao criticar os outros, por entrarmos em
ganância ou opções fáceis, nossa energia se escoará.
Se abusamos de nós ou de alguém, de algum modo
não teremos uma consciência clara. Isso acontecerá
em nossa mente. E quando formos à nossa Sala da
Alma, não haverá paz, mas punição. Punição
autoinfligida, a punição de uma mente atribulada.
É um paradoxo da espiritualidade, que a verdadeira
autoestima vem quando nós, de fato, vamos além de
nosso “eu”. Se transcendermos a nós mesmos, se
não tivermos desejos egoístas ou teimosos, podemos
nos tornar instrumentos da vontade de Deus. Então,
nosso propósito na vida torna-se muito claro. E é
somente quando temos um propósito claro que
podemos ter autoestima verdadeira. Quando vamos
além de nossos “Eus”, então, encontramos a alma.
Então, nosso propósito na vida torna-se
simplesmente aprender a amar e trazer paz à Terra
de qualquer maneira que pudermos. Pode ser através
da composição de uma sinfonia ou de assar bolos.
Isso realmente não importa.
Por dezesseis anos, Lesley Edwards dedicou-se ao
desenvolvimento espiritual interior com a Brahma
Kumaris. Sua carreira levou-a a ensinar, e ela se
entregou de coração a seu trabalho com crianças
em diversas escolas de Londres. Permaneceu
igualmente comprometida com sua busca espiritual.
Como estudante e professora na Brahma Kumaris,
ela foi um membro muito amado e respeitado na
família BK. Por quase quatro anos, conduziu uma
grande batalha interior com a esclerose múltipla e,
por fim, o câncer. Faleceu em junho de 1999, mas o
legado que deixou nos corações e mentes de todos
que a conheciam foi a visão de imensa coragem,
serviço altruísta e aceitação serena de seu papel
entre nós nesta vida.
Durante seus últimos cinco anos, uma de suas
principais áreas de foco foi o desenvolvimento da
autoestima. Ela desenvolveu e conduziu cursos pelo
Reino Unido, compartilhando tudo o que aprendeu
em sua própria jornada. Este é o segundo de dois
artigos que ela escreveu antes de sua morte. Como
você viu, pela maneira profunda e articulada com
que discorre sobre esse importante tópico, ela
realizou seu trabalho interno e falou diretamente de
sua própria experiência.

r. Roger Cole relembra os insights transformadores


que obteve quando explorou a questão da morte e
do morrer com um de seus grupos.
Um dos benefícios notáveis da autoconsciência
correta é a relativa liberdade em relação às
necessidades e dependências que normalmente
governam nossas vidas. Isso também estabelece uma
nova referência para os termos ‘propósito’ e
‘significado’. Tal orientação e liberdade capacitam
uma pessoa a experimentar paz e contentamento sem
deixar as responsabilidades “mundanas” para trás. É
um estado liberado, ainda assim influente e com o
potencial de criar um mundo muito melhor.

Em relação aos cuidados com os pacientes terminais,


temos a oportunidade de testemunhar esse potencial.
No meio dos anos 70, Elizabeth Kübler-Ross
escreveu um livro marcante: Sobre a Morte e o
Morrer. Ela delineou cinco estágios de adaptação
para uma condição terminal: raiva, negação,
barganha, depressão e aceitação. Quando o estágio
final de aceitação é manifestado, podemos ver o
exemplo da natureza original da alma emergir. E,
dentro desse exemplo, está imerso um espelho de
oportunidade; a oportunidade de descobrir nosso
verdadeiro ser.
Há um ou dois anos, pediram que eu falasse a
voluntários de um sanatório sobre os aspectos
espirituais no cuidado com pacientes terminais.
Durante a discussão, falei sobre esse estado de
aceitação não como quem simplesmente reconhece a
morte, mas como alguém que se compromete com a
notável beleza de uma alma. Com a esperança de
fazer uma demonstração, perguntei se alguém ali já
havia testemunhado tal beleza no momento de uma
morte.

Uma integrante do grupo, June, voluntariou-se e


disse que sim. A morte de sua mãe havia sido assim,
com uma aceitação verdadeira, apesar do fato de ela
ter ficado de cama completamente dependente. “Era
lindo”, ela disse. “Minha mãe estava radiante de paz
e o quarto totalmente preenchido com o seu amor.
Todos lá sentiam-se elevados e felizes por sua
companhia. Ela parecia muito contente. Era como se
estivesse rodeada por luz... como um anjo. Nunca
me esquecerei disso. Foi realmente especial.”

Não é mesmo maravilhoso que tal encanto possa


emergir no momento da morte? June e suas irmãs
estavam com sua mãe no momento em que ela
estava morrendo. Eu lhe fiz algumas perguntas. “Sua
mãe estava preocupada com alguma de vocês
naquele momento?” “Não”, disse June. “Ela sabia
que estávamos lá, mas estava além da preocupação
de como nós estávamos nos sentindo.”

“E sobre a sua fisionomia e as circunstâncias?”,


perguntei. “Ela estava aborrecida por causa de sua
aparência, ou sobre a doença, ou pelo fato de estar
morrendo?”
“Não...,” ela pausou. “... Mamãe estava em paz
consigo. Era como se seu corpo não existisse mais.
Havia apenas serenidade, e não havia nenhum tipo
de medo ali.”
“E sobre todos os problemas do nosso mundo?”,
perguntei. “Sua mãe estava incomodada com os
conflitos, privações e confrontos que estavam
acontecendo?” June riu, ao se lembrar da mãe.
“Mamãe sempre tinha uma opinião formada sobre
tudo. Ela costumava assumir uma postura rígida em
relação aos problemas ou raivosa, ou triste. Mas
agora que você mencionou isso... não, ela não estava
incomodada. Acho que deve ter simplesmente se
desapegado de tudo...” – June hesitou – “...ela se
desapegou de tudo.”

Essa última afirmação teve um efeito profundo na


sala. As palavras estavam carregadas de emoções
positivas. Houve uma pausa, e então um curto
silêncio, pleno e integrador. A vibração do grupo
ressoou com paz e harmonia na medida em que eu
fiz-lhe a última pergunta.

“Em relação a ‘desapegar-se de tudo’, logo antes de


sua mãe falecer, como ela estava? Sua mãe parecia
estar carregando o peso de qualquer um dos papéis
ou responsabilidades de sua vida?”
“Não, ela se tornou completamente livre...
completamente livre!”

Naqueles últimos momentos conscientes de sua


vida, a mãe de June havia se tornado completamente
livre. E liberada. Livre de todas as preocupações da
vida. Na essência de sua alma e “espírito vivo”;
liberada – e ainda assim, ocupando os retalhos de
seu corpo físico. Em tal momento, a alma
permaneceu despida e exposta, revelando o ser
verdadeiro e autêntico. Eu me refiro a isso como a
plena aceitação manifesta, e o descreveria como um
estado de graça. Ou como um estado de verdadeira
dignidade. A maioria das pessoas sente que, quando
há uma dependência ou uma necessidade de auxílio
em suas funções físicas, ocorre a perda de dignidade.
Acredito que isso seja uma má concepção que reflete
a ignorância humana. Ignorância essa que nasce da
consciência do corpo. À medida que estivermos
explorando esse conceito mais adiante, veremos
como a mãe de June mostrou-se uma prova viva
dessa ignorância. Espiritualmente ela estava num
estado de graça, revelando sua personalidade
verdadeira e original através da liberação. As
perguntas que fiz a June pretendiam explorar quatro
diretrizes principais através das quais a liberação
deixa a alma livre e vibrante: a liberação dos papéis
e das responsabilidades da vida; a liberação de ser
afetado por problemas, num mundo cada vez mais
complexo; a liberação do mundo material, incluindo
o corpo físico, suas doenças e aparência; e a
liberação dos apegos que formamos numa vida de
relacionamentos.
Através dessa liberação, a mãe de June entrou em
um estado de ser em que ela estava livre da
consciência de seu corpo. Ela se tornou
completamente “consciente da alma”. Em tal
experiência, ela naturalmente preencheu o quarto
com um brilho de amor, paz e aceitação. E, aqueles
que estavam em sua presença, ficaram felizes e
pacíficos. Acredito que isso refletiu um retorno à sua
condição original. Sua condição antes de nascer, a
de uma alma pacífica.

Testemunhando esse exemplo, podemos ver o


estabelecimento da consciência da alma face à
morte. Então alguém poderia perguntar, por que
esperamos tanto para encontrar tal serenidade? E por
que somos forçados a ser submissos – pela morte –
antes que possamos amar e nos desapegar?
Evidentemente, é possível fazer isso durante a vida,
e a mãe de nossa voluntária tentou nos mostrar isso.
A pergunta é: “Como?”
Considero que a transformação começa com a
iluminação. E essa iluminação é concedida como um
presente de percepção, não requerendo qualquer
esforço por parte do beneficiado. Quando há o
reconhecimento da oportunidade que a iluminação
oferece, a transformação pode ocorrer. A diferença é
que, nesse caso, um esforço deve ser feito. Na
iluminação, a experiência do indivíduo é semelhante
à da mãe de June. O crescimento espiritual ou a
transformação se referem a manter esse amor e essa
luz constantemente. O esforço precisa ser feito em
duas direções simultaneamente: na direção do estado
de ser; e na direção do estado de liberação. Na
verdade, ambos estão intimamente associados. O
esforço principal é o de se tornar consciente da alma
e livre de dependências. Liberado! Isso representa
uma identidade completamente nova.
Para a mãe de nossa voluntária, essa liberação foi
alcançada diante da morte. No processo do
falecimento, ela se tornou completamente
desapegada de todas as direções externas a si, ou
seja, externas à alma – o ser verdadeiro e autêntico.
Ao fazer isso, ela se tornou um vasilhame de
influência divina, irradiando amor, luz e paz àqueles
ao seu redor. Desapegou-se de sua família, ainda que
eles estivessem experimentando amor a partir dela.
Amor espiritual puro. Vocês não acham um
paradoxo ela ter se tornado tanto amorosa quanto
desapegada? Totalmente despreocupada sobre o
bem-estar de qualquer um. Apesar disso, era
amorosa e, quase sem fazer esforço, preenchia a
necessidade de todos por paz e felicidade. Sua
beleza espiritual emergiu com a exposição de sua
alma. Através dessa nudez, sementes de
transformação emanaram num brilho de pureza. E,
como um espelho, ela estava revelando a natureza
verdadeira da alma a qualquer um que entrava em
sua presença. June disse, “era como se ela estivesse
rodeada por luz... como um anjo”. Acho que ela era
um anjo.

Ao alcançar o estado de graça, a mãe de June


também revelou essa meta e objetivo do crescimento
espiritual: o de se tornar um anjo; ou, consciente da
alma. A partir desse exemplo, torna-se evidente que
é possível fazer isso. Sua consciência de alma foi o
estado de consciência (ou do ser) que serviu e
elevou os outros. Ele emanou um brilho automático
e natural de virtudes puras. Com uma folha do livro
dela, como feitores de esforços iluminados, podemos
nos transformar e nos tornarmos servidores
holísticos, espirituais, quaisquer que sejam nossos
papéis sociais ou profissionais. Enquanto a mãe de
June foi forçada por suas circunstâncias de morte,
nós temos a oportunidade de “abraçar a luz” de
acordo com nossa vontade própria. Ao dar-nos esse
exemplo, ela nos proporcionou essa oportunidade.
Uma oportunidade para aquisições até mais elevadas
que as dela.

Enquanto ela encontrou liberação e autorrealização


na morte, nós podemos fazer isso durante a vida.
Mas, primeiramente, temos de largar medos e más
concepções e compreender o paradoxo. Ao nos
desapegarmos daqueles a quem nós amamos,
transformamos a qualidade daquele amor em algo
divino e incondicional. Será que temos confiança
para nos desapegarmos dos relacionamentos? Ou
será que o nosso medo de perdermos algo é tão
grande? Não é fácil desapegar-se de um mundo do
qual você passou a depender. Mas é algo
maravilhoso render sua vida a um poder maior pois,
na rendição, você se torna um instrumento, sem
nenhuma carga sobre seus ombros. E você descobre
o deleite da leveza no serviço da humanidade. Acho
que os anjos não ficam tão preocupados sobre as
coisas. Ademais, por que eles deveriam? Afinal de
contas, eles são apenas ajudantes de Deus.

A mãe de June nos deu um relance da meta e


objetivo pessoal dentro da transformação e do
crescimento espiritual. E nós vimos, além da
iluminação, o estado de graça. Tal estado que inspira
a alma a fazer esforço para ser ela mesma, e tornar-
se livre, liberada da consciência do corpo.
Mencionando isso, quero dizer sobre termos uma
percepção separada do corpo físico; e sermos
liberados das quatro direções: dos apegos, das
responsabilidades, de ser afetado e do mundo
material.

Estamos agora adentrando na jornada do indivíduo.


Ao fazermos isso, teremos o cuidado de lembrar que
quem quer que viaje por esse caminho entra num
plano divino. Um poder maior inspira a
autotransformação e que esforços sejam feitos. A
iluminação é um presente de um poder maior. E a
motivação para fazer a jornada é sustentada a partir
dessa fonte divina. Também nos lembraremos de
que o indivíduo que faz a jornada contribui com
vibrações espirituais para a transformação do
mundo. Cada um é singular. Cada um foi
selecionado, cada qual com um papel a
desempenhar. Ainda assim, não é apenas um que é o
especial. Cada um está redescobrindo o seu
verdadeiro ser antes de permitir que ele permaneça
despido e exposto!

por Ken O’Donnell


- Redescubra a base para a transformação: a
diferença essencial entre o corpo físico e o espírito
não físico.
Entrar na dimensão do espírito é um processo muito
sutil, principalmente quando a mente está trancada
numa visão da realidade que exclui a eternidade. A
matéria, os sentidos e as coisas de interesse imediato
têm tal domínio sobre os pensamentos que a própria
natureza da existência torna-se distorcida. Vejo o
mundo não como ele é, mas como eu sou.
Minha vida gira dentro de limites, distinções e
desejos estreitos à medida que faço o jogo de
rotular-me e rotular os outros com base nas
características puramente físicas. Classifico o mundo
de acordo com sexo, raça, credo, nação, idade e
posição social, e coloco todos dentro de sua pasta no
meu arquivo interno. Devido a tais classificações,
surge conflito dentro de mim e a minha volta à
medida que busco defender o território assim
estabelecido — seja ele um papel, um trabalho, uma
posição na sociedade, o nome da família ou uma
nação. “Que ninguém transpasse meu território” é
uma placa não verbalizada plantada em meu
coração. Retirar os óculos do que pode ser chamado
de consciência do corpo, por intermédio da qual vejo
e julgo o mundo ao meu redor, requer algum
esforço. Experimentar o eu em sua luz verdadeira
requer um entendimento detalhado dos termos e
processos usados. Mas o próprio ato de dar tal passo
abre uma perspectiva totalmente nova de ver e reagir
ao mundo a minha volta.
Com insight sobre a natureza verdadeira das coisas,
a mesma vida que estou levando em termos de
trabalho, família e lazer torna-se o trampolim de
minha transformação. Abandonar a consciência dos
limites deste corpo físico e experimentar o eu
interior ou a alma é a essência da Raja Yoga.
Distúrbio e tensão individuais, e consequentemente
sociais, são o resultado da ignorância dos processos
do eu e do mundo em volta. A mente fica sem
descanso, agitando-se e pensando sem meta,
açoitada por ondas de sentimentos e emoções. Como
uma aranha presa em sua própria teia, fico
emaranhado nas teias que são a consequência de
minha própria ignorância dos fundamentos da vida.
Na vida, muitos acontecimentos não podem ser
explicados apenas em termos materiais. Em certos
momentos de crise ou inspiração, existem
experiências emocionais e espirituais profundas que
me separam do mundo ao redor. Nessas ocasiões,
refugio-me dentro de mim e leio livros religiosos ou
filosóficos sobre rituais ou símbolos a fim de
entender tais experiências. Além disso, sujeito-me a
uma constante crítica da vida ao meu redor a partir
de meus próprios pensamentos, sentimentos e
deduções.
Essas faculdades de pensar e formar ideias, de
desejos e de decisão (e todos os aspectos diferentes
que constituem minha personalidade) não são físicas
e, ainda assim, são reais. De fato, qualquer coisa que
eu possa perceber vem de duas fontes: o que é
detectado pelos sentidos físicos e o que surge de
impressões gravadas nessas faculdades sutis. As
coisas que consigo ver, degustar, ouvir, cheirar, bem
como meu próprio corpo, são formadas de matéria.
Mas as faculdades sutis da mente, do intelecto e da
personalidade são manifestações do que é chamado
de energia da consciência.
Essa energia consciente é também chamada de alma
ou espírito. A alma é a entidade sutil que não pode
ser medida por nenhum processo nem instrumento
físico. A parte não material de cada um de nós existe
e, na realidade, ela é o ser verdadeiro ou o que
simplesmente chamamos de “eu”. Esse eu ou alma
só é perceptível no nível da mente e do intelecto.

ÁTOMO E ATMA
Ao longo da História, os cientistas edificaram muito
do conhecimento das leis do Universo físico sobre as
bases da teoria atômica. O átomo é tido como o
ponto-fonte de energia. Níveis diferentes de energia
e vibrações entre os átomos vizinhos dão a aparência
de forma, cor e calor. A teoria atômica apareceu
originalmente na Grécia e na Índia.
A palavra em português “átomo” veio do
grego atomos, que significa piscar de olho, e do
latim atomus, que significa indivisível. A palavra
grega provavelmente é derivada da palavra
hindiatma, que significa “eu” ou “alma” e refere-se
à energia consciente do ser humano como um ponto
indivisível e indestrutível de luz não física.
Ficou estabelecido que o mundo material inteiro,
que vejo a minha volta como uma variedade de
formas e cores, luz e calor, é formado por esses
pontos-fonte de energia física. A mais bonita cena da
natureza é apenas um arranjo de ondas de energia e
de vibrações.
Os órgãos dos sentidos selecionam essas vibrações e
transmitem uma mensagem para a mente, onde todas
as imagens são formadas. Os olhos veem alguns
desses arranjos como formas de luz e cores, o nariz
recebe odores e sabores, e sensações são detectadas
e transmitidas para a mente.
O corpo humano também é um arranjo complexo de
energias físicas. Os átomos se reúnem para criar as
estruturas orgânicas e os minerais inorgânicos que
realizam as interações químicas do corpo, formando
assim a base do controle hormonal e nervoso desse
corpo.
O que vejo como velho ou jovem, feio ou bonito,
masculino ou feminino também é o efeito desses
níveis diferenciados de energias físicas.
Independentemente de quão maravilhosa possa ser a
máquina do corpo, é a presença da alma que faz com
que ela funcione.
Uma das diferenças básicas entre almas e átomos é o
fato de que as almas podem escolher seus
movimentos, aonde ir e quando ir a algum lugar, ao
passo que os átomos não podem, obviamente, fazer
isso. De certo modo, poderíamos dizer que uma
alma, ao contrário dos átomos, é um ponto-fonte de
energia espiritual que tem a percepção de sua
própria existência.

DEFINIÇÕES
A palavra atma tem três significados específicos: eu,
o ser vivo e o habitante. Dentro dessa única palavra
obtemos um insight dos diferentes aspectos do eu:
eu, o ser vivo, sou um habitante desse corpo físico.
A resposta à pergunta “quem sou eu” torna-se clara.
Sou uma alma, o ser interno vivo e inteligente.
Habito e dou vida ao corpo. O corpo é o meio pelo
qual eu, a alma, me expresso e experimento o mundo
a minha volta. Em vez de responder à pergunta com
relação a minha identidade dando nome do corpo,
designação do trabalho, nacionalidade ou sexo, o eu
interno real simplesmente diz: “Eu sou uma alma, eu
tenho um corpo”. As diferenças básicas são
mostradas no quadro abaixo.

A ALMA NÃO É MASCULINA NEM FEMININA


Como uma energia, a alma tem dentro de si
qualidades que são tanto masculinas quanto
femininas. Apesar de a alma ser, sem dúvida, afetada
pelo sexo de seu corpo na forma de
condicionamentos e influências sociais, esses
aspectos são relativamente superficiais. O eu
verdadeiro não tem gênero.
Os egípcios da Antiguidade tinham arraigada
consciência dessa verdade profunda mostrada no
seguinte trecho de uma conversa encontrada no
Livro Egípcio dos Mortos entre Ísis e seu filho
Hórus:
Hórus: Como as almas nascem, masculinas ou
femininas?
Ísis: As almas, meu filho Hórus, são iguais por
natureza... Não existe ninguém entre elas, seja
homem, seja mulher. Essa distinção só existe entre
os corpos e não entre os seres incorpóreos.

SINÔNIMOS DE ALMA
As seguintes palavras e expressões são
essencialmente sinônimos da palavra “alma”:
Espírito – Ser – Consciência - Anima/animus -
Energia vital – Essência – Eu

DIFERENÇAS ENTRE “EU” E “MEU”


As duas palavras mais comuns na maioria das
línguas são, provavelmente, eu e meu. Nossos
mundos pessoais giram quase exclusivamente ao
redor delas. É preciso entender suas implicações
mais profundas se quisermos delinear novamente
nossos limites.
Normalmente, uso a palavra meu para referir-me a
todas as coisas que não são eu — minha mão, meu
rosto, minha perna ou até meu cérebro, minha
mente, minha personalidade, e assim por diante. Da
próxima vez que eu disser minha alma, talvez me
lembre de que realmente não posso dizer minha
alma, pois eu sou uma alma.
A diferença entre eu e meu é a mesma que entre
alma e corpo. O exemplo de uma faca ilustra isso.
Posso usá-la para cortar um tomate ou para
apunhalar alguém. A faca nem decide nem
experimenta, mas pode ser lavada facilmente
debaixo de uma torneira. É fácil perceber que a faca
é um instrumento, mas é mais difícil perceber que os
dedos são um instrumento também, e não apenas os
dedos como também os braços. As pernas são
instrumentos para andar, os olhos para ver, os
ouvidos para ouvir, a boca para falar, respirar e
saborear, o coração, para bombear alimento e
oxigênio para o corpo, e assim por diante. Mesmo o
cérebro é como um computador usado para
expressar todos os programas de pensamentos,
palavras e ações pelo corpo e para experimentar os
resultados. Se cada parte física do corpo é um
instrumento, quem ou o que o está usando?
Muito simples: sou eu para si e a palavra meu para
se referir ao corpo: minha mão, minha boca, meu
cérebro. Eu sou diferente de meu corpo.
Por meio da consciência de meu, expandi-me muito
longe — não apenas com relação ao corpo e às
faculdades internas, mas com relação às posses e
relacionamentos: minha casa, meu carro, meu filho
etc.
Com o tempo, todos, todos esses meus que tento
agarrar escapam de meus dedos. Percebo sua
natureza efêmera e, por falta de alternativas
disponíveis, tento me agarrar a elas ainda mais e,
assim, desenvolvo apegos e dependências. Enquanto
essa identificação persiste, minhas qualidades inatas
(isto é, o que é realmente meu) estão fora de alcance.
Quando assumo minha verdadeira identidade como
um ser espiritual, imediatamente recebo também
acesso ao amor, à paz, à felicidade e ao poder que
são partes de mim.
Uma lista de todos os fatores que me criam limites
provavelmente incluiria itens como idade, sexo,
saúde, família, profissão, defeitos e fraquezas. Ao
reivindicar direito de posse de tudo isso por meio da
palavra meu, estabeleço os limites dentro dos quais
tento operar minha vida. Tendo estabelecido minhas
próprias cercas, sempre que a tristeza aparece, um
desses fatores torna-se automaticamente o bode
expiatório.
Em vez de apontar o dedo numa forma de acusação
ou queixa, posso adotar uma abordagem mais
positiva. Posso ser mais realista e aceitá-los não
como fatores limitantes, mas como instrumentos que
podem ajudar-me a melhorar minha experiência de
vida. Essa mesma lista pode ser o trampolim de
minha transformação e liberdade.
Posso fazer uso total do estado ou da energia da
juventude de acordo com o caso. Posso tirar
vantagem das características positivas de meu sexo,
mesmo apreciando as características do sexo oposto.
Minha família e vida profissional podem ser
experimentadas num outro nível mais elevado. Posso
descobrir por meio de fraquezas e defeitos o quanto
tenho de aprender sobre mim mesmo. O problema
não está na lista de fatores, mas na consciência que
tenho deles. É uma questão de duas palavras: eu e
meu.

ALMA — POSIÇÃO, FORMA E ATRIBUTOS


As dualidades matéria/antimatéria, sensível/não
sensível, físico/espiritual podem ser facilmente
entendidas pelo conhecimento do mecanismo com o
qual a consciência humana opera através do corpo.
A alma tem três funções básicas para desempenhar:
dar e manter a vida, expressar e experimentar sua
própria vida singular e receber as recompensas ou os
frutos das ações passadas desempenhadas em
existências anteriores.

POSIÇÃO
Quando olho num espelho, não vejo meu reflexo,
mas o de meu corpo. De fato, a alma está olhando
através das janelas dos olhos de algum ponto dentro
da cabeça. As funções sensitivas são controladas e
monitoradas por meio dos sistemas nervoso e
hormonal de um ponto específico na área do cérebro
que aloja as glândulas do tálamo, hipotálamo,
pituitária e pineal. Essa região é conhecida como o
assento da alma ou o terceiro olho. A conexão entre
o físico e o não físico ocorre por intermédio da
energia do pensamento.
Quando vista de frente, essa região parece estar um
pouquinho acima da linha das sobrancelhas, entre
elas. Muitas religiões, filosofias e estudos esotéricos
dão grande importância ao terceiro olho ou olho da
mente. Os hindus usam um tilak, um ponto vermelho
ou pasta de sândalo no centro da testa. Os cristãos
também fazem o sinal da cruz pondo o polegar nessa
região. Os muçulmanos também tocam esse ponto
em saudação tradicional. Quando alguém de
qualquer cultura faz um erro tolo, intuitivamente
leva a mão para o meio da testa. Afinal de contas,
não é o corpo que comete o erro, mas o ser pensante
que está operando o corpo de um ponto específico.
Já que o cérebro é o centro de controle de todos os
processos do corpo — metabolismo, os sistemas
nervoso, endócrino, imunológico e linfático —, faz
sentido que a pessoa interior esteja alojada em
algum lugar do cérebro.
Assim como o motorista acomoda-se atrás do
volante, segurando-o com as mãos, a alma “assenta-
se” num ponto específico do centro do cérebro,
próximo ao corpo pineal. Isso é importante para os
propósitos da meditação, pois esse é o local para
onde a atenção é primeiramente direcionada no
esforço de concentrar os pensamentos: eu sou a
alma, um foco minúsculo de energia-luz consciente
centrado no ponto entre as sobrancelhas.
Quando dizemos “sinto algo bem aqui”, pondo a
mão sobre o coração, nem sempre nos referimos a
alguma coisa dentro do peito. O coração físico é
simplesmente uma bomba do sangue incrivelmente
sofisticada. Ele pode até ser transplantado! Porém,
dentro do eu real, o ser vivo e pensante, existe um
centro de emoções, humores e sentimentos.
As sensações que muito obviamente sinto no corpo
devem-se à total interligação que existe entre a alma
e a matéria que ela está habitando. Por exemplo,
quando estou com medo de um cão, o sistema inteiro
é ativado. Do centro de controle, no meio do
cérebro, a alma envia mensagens para todo o corpo.
A adrenalina é liberada para dar força extra aos
músculos. O coração começa a bater mais depressa,
a respiração torna-se mais rápida e as palmas das
mãos ficam úmidas. Pode parecer que todos os
órgãos têm sensibilidade e sistemas emocionais
autônomos, mas a operação inteira dura tão pouco
— uma fração de segundo — que nem percebo a
coordenação das sensações e as respostas da alma a
partir de sua própria cabine especial de pilotagem,
no centro do cérebro. Dessa forma, se sinto algo em
meu coração por causa de alguma coisa ou de
alguém, aquilo está realmente sendo processado por
mim, o ser pensante, para depois refletir em meu
coração.

FORMA
Todas as características presentes na alma são sutis
ou não dimensionais por natureza — pensamentos,
sentimentos, emoções, poder de tomar decisões,
traços de personalidade, e assim por diante. Se essas
características são todas sem tamanho, então é
razoável concluir que a energia consciente da qual
elas surgem também não tenha tamanho. Por essa
simples razão, ela é eterna. Uma coisa que não tem
tamanho físico não pode ser destruída.
Como uma alma, não estou difuso pelo corpo todo
nem sou uma duplicata invisível e etérea do corpo
físico. Mesmo que essa forma sutil exista, ela é o
efeito da alma que habita a forma física, e não a
alma em si. Assim como o Sol está em um ponto e
ainda assim irradia luz por todo o sistema solar, a
alma está num local e sua energia permeia o corpo
inteiro.
Para expressar algo que existe, mas não tem
dimensões físicas, nós podemos usar a palavra
ponto. A alma, portanto, é um ponto infinitesimal de
luz consciente. Com a finalidade de termos uma
imagem em que possamos fixar nossas mentes,
podemos dizer que ela é semelhante a uma estrela
em sua aparição. Em meditação profunda, posso
perceber a alma como um ponto infinitesimal de luz
não física circundada por uma aura de forma oval.

QUALIDADES INATAS DA ALMA


Tudo o que vejo tem o que pode ser chamado de
valor adquirido e valor inato ou inerente. O valor
adquirido é aquele que foi assimilado diretamente
por associação durante a existência. O valor inato é
o que sempre é, independentemente da aparência.
Por exemplo, o valor adquirido do ouro muda com
as oscilações do mercado. Seu valor real ou inato
prende-se ao fato de ser um dos minerais mais
bonitos. Ele é extremamente dúctil e maleável, por
exemplo. Se me perguntassem quais são as
qualidades principais presentes num relacionamento
harmonioso com alguém, eu poderia imediatamente
responder: amor, paciência, tolerância,
entendimento, empatia, e assim por diante. Como sei
disso? Será puramente pela experiência? Posso me
lembrar de realmente ter experimentado completa e
constantemente alguma dessas qualidades em algum
relacionamento? Provavelmente não.
Nesse caso, de onde vem essa ânsia pelo certo senão
de um sentido inato do que é correto ou bom? Como
posso julgar ou perceber o nível de paz, amor ou
felicidade de uma situação senão por uma projeção
dessas mesmas qualidades que estão dentro de mim?
É como se elas se juntassem como uma régua sutil
para medir o que acontece a minha volta de forma
que os ajustes internos necessários possam ser feitos
de acordo com a situação. Se é bom ou ruim,
pacífico ou confuso, minhas próprias qualidades
inatas pelo menos me aconselham sobre o que está
acontecendo.
O problema é que elas estão em estado latente e não
se traduzem muito facilmente em ação. Apesar de
essas qualidades serem a base de meus ideais,
quando estou enfraquecido sou incapaz de aplicá-las
deliberadamente de acordo com as exigências do
momento. Elas precisam ser fortalecidas.
Assim, um dos benefícios mais imediatos na prática
da meditação é melhorar o funcionamento desse
medidor interno. Minhas qualidades inatas estão
simplesmente esperando uma chance de se
manifestar. Como uma lâmpada sem corrente, a
possibilidade de acender minhas qualidades existe,
mas elas precisam ser conectadas com uma fonte de
força. Isso é exatamente o que a meditação faz.
Os atributos inatos são propriedades imutáveis. É
impossível retirar o azul do céu ou a doçura do mel.
O azul e o doce fazem parte da constituição imutável
do céu e do mel.
Do mesmo modo, independentemente do que eu me
tenha tornado como ser, meus atributos inatos
profundos ainda são os mesmos que sempre
existiram em mim. É o meu âmago interior de
qualidade que, de fato, me inspira a buscar o ideal
em tudo o que faço. Se me perguntassem sobre uma
lista de qualidades que são importantes em um
relacionamento entre duas pessoas, coisas como
respeito, honestidade, sinceridade, abertura e outras
automaticamente brotariam na mente. Mesmo se eu
nunca as experimentei em memória viva, ainda
assim, eu as busco. O impulso de buscar e de sonhar
vem de minha própria reserva de atributos inatos,
que só está esperando para ser descoberta e trazida
para a atividade prática.
As qualidades inatas da alma são as fundamentais.
Elas são tão básicas que constituem o alicerce de
todas as virtudes e poderes.
*Paz *Verdade *Felicidade
*Amor *Pureza *Poder *Equilíbrio
Elas são como as cores primárias, e as virtudes são
as secundárias. Assim como o verde é feito do azul
mais o amarelo, as virtudes, como paciência,
tolerância, coragem, doçura, e assim por diante, são
a combinação dessas qualidades básicas. Alguns
exemplos:
Paciência — paz, amor e poder
Coragem — poder e verdade

Discernimento — verdade, paz e equilíbrio


O objetivo da meditação Raja Yoga é fortalecer
meus próprios atributos inatos de forma que meu
comportamento possa ser naturalmente virtuoso.
Extraído do livro Caminhos para uma Consciência
mais Elevada, de Ken O’Donnell, publicado pela
Editora Brahma Kumaris.
Jacqueline Berg descreve como podemos nos
libertar das prisões autoimpostas a que nos
submetemos.
Recentemente, li um anúncio que dizia, “Seja
diferente. Seja você mesmo. ” Isso me lembrou de
uma história que ouvi certa vez sobre um leão que
foi separado de seus pais no nascimento. Ele cresceu
num rebanho de ovelhas. Pelo fato de o filhote
acreditar mesmo ser uma ovelha, comportava-se
como uma. Ele era um leão em transe de ovelha.
A história do leão é um pouco parecida com muitas
de nossas próprias histórias. Nós também estamos
num transe. Também parecemos esquecer quem
realmente somos. E, por causa desse engano, temos
nos identificado com diferentes imagens e ideias.
Colocamos máscaras e realmente começamos a
acreditar que somos essas máscaras. É claro que é
impossível ser feliz se você é um leão e vive como
uma ovelha. O segredo de conhecer-se é que existe
algo dentro de você totalmente diferente daquilo que
você finge ser.
A única maneira de conhecer esse “eu” verdadeiro é
através de uma pesquisa consciente. A maioria das
pessoas não tem tempo para isso. Ou eu deveria
dizer que elas não criam tempo para isso? Essa é a
beleza do tempo: você pode criá-lo. Durante minha
pesquisa, descobri quatro coisas que são de
importância vital. A primeira é o silêncio. A segunda
é o relacionamento comigo mesma. A terceira é o
relacionamento com o Supremo e finalmente vem
meu relacionamento com aqueles que estão à minha
volta. É realmente importante pensar nelas nessa
ordem. Nós normalmente as abordamos numa ordem
diferente. Estamos muito conscientes sobre os
relacionamentos que temos com os outros, alguns de
nós pensam sobre Deus, poucos pensam no seu eu
interior e dificilmente alguém tem um
relacionamento com o silêncio.
Antes de começar a meditar – há uns 25 anos – eu
não considerava muito o silêncio em minha lista de
prioridades. Não tinha uma ideia clara do que ele
realmente era. Eu era viciada em trabalho, e pessoas
assim não desperdiçam tempo em hobbies fúteis
como o silêncio. Minha vida era ativa, dinâmica. E
era assim na família também. Depois de divorciar-
se, minha mãe contou-me, porque ela sempre esteve
tão incrivelmente ocupada. Ela literalmente esteve
fugindo da dor que sentia por causa do seu
casamento não preenchedor. Isso me despertou para
o fato de que o trabalho pode ser apenas outro vício,
um modo de encobrir a dor, um modo de evitar as
coisas com as quais não sabemos lidar. Então, essa é
a maneira como fui criada: nunca parando, nunca
sendo, sempre fazendo.
Minha jornada interior começou com o desejo de
quebrar esse ciclo vicioso de ficar dando voltas;
tentando “simplesmente ser” para mudar um pouco.
Os primeiros anos na meditação não foram fáceis.
Achei difícil relaxar e não conseguia sentar-me em
silêncio. Minha mente criativa continuava correndo.
Foi realmente meu corpo que veio para me salvar e
forçou-me a sentar – ou em outras palavras –
silenciar-me. Lentamente, mas definitivamente,
minha mente aceitou-se derrotada e enquanto a
bandeira branca estava sendo hasteada, o silêncio
entrou.
Leva tempo acostumar-se a estar em silêncio e não
fazer “nada”. Lembro-me de uma manhã quando
estava sentada no sofá – meditando – quando um dos
vizinhos passou pela janela. Antes disso, havia
pegado uma revista e fingia lê-la. Por tanto tempo
vivi com a ideia, “Eu faço, portanto eu sou.” Tinha
receio de que os vizinhos pensassem que eu não
estava fazendo nada. Mas estava mais receosa ainda
daquela voz interior, o Crítico Interior, que me
puxou para além dos meus limites durante muitos
anos. Agora que minha mente estava se tornando
mais silenciosa, tornei-me mais consciente dessa voz
interna. Custou-me certo tempo para entender o que
esse criticismo interno faz, o quão destrutivo ele é.
Muitas pessoas confundem criticismo com
intelectualismo; eles pensam que é bom ter opinião
sobre tudo e julgar os outros. Mas descobri que ele
realmente é um hábito muito negativo. Machuca os
outros, e, acima de tudo, você se machuca com esse
tipo de julgamento negativo. Acho que ele deriva da
noção errada de perfeccionismo. Perfeccionismo não
é o mesmo que perfeição no sentido de inteireza.
“Ser completo” significa ser completo com todos os
poderes e virtudes dentro do eu. Perfeccionismo é
algo diferente. Perfeccionistas tentam controlar
pessoas e situações de modo que nada dê errado.
Eles querem que tudo aconteça tranquilamente e não
conseguem lidar com imprevistos. Ao invés de
focarem-se na beleza da vida, são obcecados pelos
defeitos e imperfeições deles próprios e dos outros.
Corrigem a eles mesmos e aos outros continuamente
– às vezes em palavras, sempre em pensamentos.
Não estou dizendo que não devemos tentar tornar as
coisas melhores e nos esforçarmos para a perfeição.
Afinal de contas, todos viemos de um estado de
harmonia interna e completude. Então, é muito
natural que queiramos retornar àquele estado uma
vez mais. Mas a raiva projetada por ter perdido sua
própria perfeição não vai trazer a completude de
volta. De fato, isso cria muitos problemas nos
relacionamentos. Não é fácil enfrentar, ou mesmo
ver, os seus próprios defeitos. É mais fácil ver isso
nos outros, e então, o Crítico Interno os ataca. E
sempre há alguma coisa: a maneira como alguém se
veste, fala, comporta-se... não há fim para isso. Mas
o que estamos realmente fazendo é criticar nosso
próprio comportamento.
A maneira de conhecer o Crítico Interno é prestar
atenção aos seus sentimentos: como eu me sinto
sobre mim? Como me sinto sobre as outras pessoas?
Recentemente, meu dentista disse-me que se ele
tirasse minhas obturações de mercúrio, meus
sentimentos por mim mudariam. Não é
surpreendente que algo assim pode realmente mudar
o modo como nos sentimos sobre nós mesmos? Os
sentimentos podem mudar tão rapidamente e existe
muita influência, assim, a melhor maneira de ver os
sentimentos é: Eles são apenas sentimentos. E um
sentimento leva a outro. Quando você olha por trás
desses sentimentos e emoções, ainda há você. É o
que acontece em relação à raiva: você pode sentir
raiva, mas isso não faz de você uma pessoa raivosa.
É bom separar seus sentimentos de você mesmo.
Veja o medo, por exemplo. Há alguns anos viajei
para a Austrália. Eu estava num voo doméstico que
levaria apenas 45 minutos. Mas, no caminho,
pegamos uma tempestade tropical com muita chuva.
Tentamos aterrissar, decolar novamente, e aterrissar
mais uma vez. Isso aconteceu sete vezes. A
experiência foi terrível, as pessoas gritavam sem
parar. De qualquer forma, o fato é que eu tenho
medo de voar, então, você pode imaginar como me
senti. Meu medo cresceu e cresceu até que cheguei
aos limites do medo. Eu não poderia estar mais
amedrontada. Então, de repente, ele desapareceu.
Foi embora. Comecei a sorrir. Vi quão engraçada era
a situação e consegui acalmar os outros à minha
volta. Quando chegamos ao nosso destino, 11 horas
depois, percebi profundamente: um sentimento é
somente um sentimento. Ele pode incomodá-lo
durante anos e de repente, ir embora. Sentimentos
mudam, nós não!
Quando permito que o silêncio entre em minha
mente, descubro quem sou lá no fundo. Começo a
entender minhas motivações. Posso ser honesto
comigo. Não preciso enganar-me. Quando começo a
me ouvir, é possível descobrir coisas diferentes
daquilo que eu esperava encontrar. Talvez eu seja
uma pessoa muito diferente de quem pensava ser.
Talvez eu seja um leão vivendo num transe de
ovelha. Se sou, então o processo de reconhecimento
e mudança começa. Pode ser um pouco dolorido
destruir as imagens criadas de nós mesmos, mas
acima de tudo, é uma liberação. É claro que as
pessoas à nossa volta dirão, “Espere aí, esse não é
você, isso não é como eu conheço você.” Eles
tentarão puxá-lo de volta. É necessária coragem para
mudar. Pode ser doloroso descobrir quão pouco seus
amigos e família o conhecem de verdade. Mas você
não pode culpá-los. Afinal de contas, foi você quem
induziu-os ao erro ao não lhes mostrar o seu
verdadeiro eu. Você mostrou-lhes somente a
máscara.
Temos nos identificado com muitas coisas externas.
As pessoas têm muitas faces. Nossa identidade está
nas roupas que usamos, nos empregos que temos,
onde vivemos e assim por diante. Algumas pessoas
são completamente diferentes no trabalho do que são
em casa. Eles mostram somente uma parte deles no
trabalho. Num certo sentido, enganam seus colegas.
Na Prisão Estatal Holandesa, ensinei meditação para
homens jovens, os quais estavam lá por causa de
crimes relacionados com drogas. Então, além de
suas penas, eles eram viciados. Não era um grupo
fácil! Foram-lhes oferecidas sessões de psicoterapia
para torná-los conscientes da dor de seu passado.
Isso é importante, pois tinham tentado fugir do
passado por meio das drogas. Depois que eles
ficaram sóbrios, tive a oportunidade de fazer sessões
de meditação e pensamento positivo com eles. Esses
garotos ensinaram-me muito sobre mim. Eles não
deixaram nada a que se agarrar, nada com o que se
identificar. Seus amigos e namoradas não queriam
mais vê-los; muitos deles haviam perdido seus
dentes e cabelos. Falei com eles sobre prisão em
liberdade. Eles sempre falavam para mim: “O que
você sabe sobre prisão? Quando você sair desse
lugar, estará livre.”
Mas o que é liberdade? Talvez eu esteja viciada no
meu trabalho, no meu relacionamento ou em
negatividade. Essas jaulas da alma também são
prisões. Alguns de nós estamos presos de forma tão
firme, que é como se tivéssemos dado a nós mesmos
uma sentença para a vida toda. Eu digo aos reclusos
que honestamente não sei quem está mais livre, eles
ou nós do lado de fora. Afinal de contas, eles têm
todo o tempo do mundo para repensar suas vidas.
Longe da luta da vida diária, é muito mais fácil
mudar padrões. Algumas pessoas gastam muito
dinheiro para passar o tempo num retiro ou numa
ilha privada apenas para afastar-se de tudo a fim de
colocar as coisas em ordem. Quando digo àqueles
jovens na prisão que algumas pessoas podem até ter
um pouco de inveja deles, eles riem, mas entendem.
Eles também estão abertos à meditação. E amam
isso. Deitam-se no chão, acomodam-se em suas
cadeiras, às vezes choram. Por alguns minutos
experimentam-se como realmente são. Sentar-se
junto em meditação faz você esquecer que está na
mesma sala com assassinos e assaltantes. Eles
também se esquecem dessas coisas. Nós
simplesmente sentamos juntos e esquecemos as
máscaras. Encontramo-nos como almas. Em terapia,
as pessoas frequentemente focam somente naquilo
que deu errado. Quando encontro esses garotos, eu
lhes digo, “Esqueçam-se um pouco de seu passado.
Vejamos quais qualidades e especialidades vocês
ainda deixaram”. Quando eles expressam algumas
dessas qualidades, eu os relembro disso. Não me
lembro de seus nomes, mas me lembro de suas
qualidades.
O perdão é muito importante para eles. Somente
quando aprenderem a perdoar-se é que podem
abandonar suas identidades falsas. Eles precisam
entender por que estavam fazendo aquelas coisas:
não é porque são pessoas más, mas por causa da
falta de entendimento. Somente assim eles podem
perdoar e reconquistar sua autoestima novamente.
Perdoar-se significa curar seu coração. Se você
continuar se punindo, ainda estará atrás das grades.
Ainda estará na prisão. E por estar na prisão, você
aprisiona os outros também. Ninguém quer estar
preso sozinho. Nós queremos companhia. Se sua
identidade é baseada em vergonha, você vai procurar
por outros que tenham o mesmo problema. E sempre
irão machucar-se uns aos outros. Pessoas
machucadas machucam pessoas. Essas projeções uns
nos outros irão continuar até que você se cure. E só
quando você se curar é que será capaz de curar os
outros.
Devemos entender que somos livres. As almas são
livres. Ninguém pode nos aprisionar; nós é que
escolhemos nos aprisionar. Transformamo-nos em
vítimas. E se gostamos de desempenhar o papel de
vítimas, sempre há alguém querendo desempenhar o
papel de vitimador – o pássaro e a gaiola. Se
queremos ser livres, meu conselho é: Não fuja de
sua “gaiola”; não fuja de seus relacionamentos. Ao
invés disso, entenda o que está acontecendo e mude.
Isso é honestidade. Esse é o único modo de libertar-
se. Não gaste toda a sua energia tentando mudar os
outros. É inútil. Toda a sua energia será usada em
discussões, lutas e nas mesmas brigas repetidas
vezes. Os outros só vão mudar quando eles
quiserem, quando eles entenderem que têm de
mudar. A mudança vem de uma motivação interna.
Mas se usamos nossa preciosa energia para mudar a
nós mesmos, as chances são de que o outro também
mude. É hora de regenerar a sua alma.
Relacionamentos verdadeiros começam com
silêncio. Portanto, você pode começar a criar um
relacionamento melhor consigo, então com o
Supremo e então com os outros. A razão pela qual os
relacionamentos com os outros vêm por último é
porque os outros nunca veem em nós o que Deus vê.
Frequentemente nos vemos através dos olhos dos
outros. Então, se alguém vê somente 20% do que
somos, também só vemos esse tanto. Deus nos vê
como somos. Ele vê nosso potencial completo. Se
você aprender a olhar-se da forma como Deus o vê,
você começará a ver seu eu verdadeiro. Se aprender
a conectar-se ao Ser Supremo, seus sentimentos
puros serão estimulados e reforçados. É maravilhoso
estar em contato com um ser que é tão próximo à sua
natureza original. Você se sente muito confortável
na presença de alguém que é consciente da alma.
Você começa a relaxar, pois está sendo reconhecido.
Não precisa provar mais nada a si mesmo.
Eu acredito que atualmente vivemos num período no
qual as pessoas estão começando a entender essas
coisas. Mas temos que parar de desperdiçar energia e
concentrarmo-nos naquilo que realmente é
necessário. A prática de meditação é sobre aprender
a não ser influenciado, ser você salvo e protegido
naquela energia pura. Meditação é sobre sentir sua
própria energia da alma. Realmente sentir: isso sou
eu; aquele sentimento de que sou único, sou
especial. Então, o processo completo é expressar
aquela energia na sua vida diária, em seus
relacionamentos. Mas, em primeiro lugar, você tem
que praticar para senti-la até que se torne estável na
sua identidade verdadeira. Quando você começa a
sentir quem realmente é, não há necessidade de lutar
contra vícios ou pessoas à sua volta. De fato, não há
necessidade sequer de lutar. É um processo muito
natural. Quando mudarmos nossas atitudes, seremos
capazes de mudar o mundo. Como vocês veem,
Deus precisa de ajuda. Ele precisa de mentes livres.
Jacqueline Berg, escritora e autora, é diretora da
Brahma Kumaris na Holanda.
Charles Hogg explora o truque de manter
equilíbrio na vida

Alguns incidentes durante a nossa infância deixam


impressões muito profundas. Recordo-me de um
programa de televisão exibindo um equilibrista
numa corda bamba cruzando as Cataratas do
Niágara. Fiquei fascinado com a forma como ele
colocava cuidadosamente um pé depois do outro
num estado de concentração total. Às vezes ele
parava para se re-equilibrar e reavaliar sua posição.
Um pequeno deslize ou leve desequilíbrio e ele
poderia ter caído centenas de metros nas turbulentas
e brancas águas abaixo de si. Era de tirar o fôlego.
Alguns de nós sentimos que a vida é semelhante.
Achar nosso equilíbrio interno enquanto vivemos
entre diversos extremos, como o equilibrista na
corda bamba, pode ser precário. Pode criar uma
enorme tensão. Vivemos num mundo de dualidades
e a todo o momento temos de tomar decisões sobre
onde ficarmos entre tantos extremos. Eu deveria
tolerar a situação em silêncio ou deveria enfrentá-la
expressando como realmente me sinto? Será que
estou partindo de um ponto de autorrespeito ou
simplesmente estou sendo arrogante? Estou sendo
egoísta ou sensato ao importar-me com minhas
próprias necessidades? Quando devo deixar que as
coisas aconteçam e quando devo forçar o que eu
desejo?
A filosofia taoísta expressa esses dilemas no seu
milenar símbolo “Ying Yang”. Praticamente a todo
segundo enfrentamos a dualidade dos opostos.
Infelizmente não há nenhuma fórmula para
encontrar o equilíbrio certo. Cada situação requer
uma mistura diferente de forças aparentemente
opostas diametralmente. Algumas situações exigem
que sejamos totalmente assertivos e que nos
expressemos exatamente como nos sentimos. Outras
exigem que deixemos a situação fluir por si,
satisfazendo necessidades e desejos dos outros, e
ainda, em algumas situações, necessitamos de uma
mistura entre essas duas possibilidades. Cada
situação depende da nossa habilidade de visualizá-la
objetivamente e ter o discernimento sobre o caminho
do meio. Em minha experiência, o meio termo, o
caminho do meio, supõe achar um ponto de silêncio
do qual observo todas as marés de influências e
opiniões. Desse ponto vejo com clareza o caminho
que preciso seguir.
A maioria de nós acha a vida um malabarismo
constante no qual tentamos cumprir muitas
responsabilidades diferentes. Primeiramente, para
nossa família e amigos – a maioria de nós sente os
relacionamentos como a prioridade mais alta. Em
segundo lugar, nossas responsabilidades com a
carreira escolhida. Em terceiro lugar vêm nossos
outros interesses, como serviço comunitário,
esportes ou nosso próprio divertimento.
Negligenciar um deles pode gerar estresse.
O maior estresse não vem do excesso de trabalho,
mas da preocupação de estarmos negligenciando
uma área de nossa vida. É de conhecimento geral
que “workaholics” brilhantes no seu campo de
trabalho utilizam esse mesmo trabalho para escapar
de áreas de suas vidas que acham difíceis. Talvez
conflitos em casa, ou até mesmo uma falta de
autoestima. Ir para um extremo normalmente é sinal
de tentar acobertar uma carência em outra área.
Parece que buscamos aquilo em que somos bons,
mas muito habilmente criamos nossa vida de modo a
evitar o que nos desafia ou que achamos difícil. Um
renomado orador público certa vez me disse que
tinha muita confiança para enfrentar uma multidão,
mas numa conversa face a face se sentia totalmente
inadequado e assim evitava esse tipo de contato. O
resultado, desequilíbrio!
Comecei a praticar meditação quando eu tinha pouco
mais de vinte e um anos. Um dos benefícios
maravilhosos da meditação que descobri era a arte
de me ver objetivamente como fazendo parte da
audiência que assistia meu próprio desempenho no
palco. Assistindo-me, pude ver como estava
tentando agradar os outros arduamente,
comprometendo constantemente o que realmente eu
queria ou necessitava. Era mais importante buscar
respeito dos outros que de mim mesmo. Resultado...
mais desequilíbrio.
Então, tenho responsabilidades sobre mim mesmo, e
o que é isso? Quantos de nós alcançam um ponto
onde a ansiedade em fazer malabarismos com nossas
diversas responsabilidades alcança extremos? É
nesse momento que reavalio as minhas prioridades.
Hugh Mackay, um pesquisador social australiano,
descreveu os anos 80 como os "ansiosos anos 80”.
Ele observou que muitas pessoas estavam optando
por uma "viagem interna"; uma mudança total de
atitude onde uma pessoa começa a olhar
internamente para solucionar a ansiedade e o
extremismo. Culpar os outros ou as situações é o
caminho da ilusão. Assumir a responsabilidade de
como me sinto é o caminho verdadeiro. Eu não
resisto aos desafios que a vida me traz e nem sou
subjugado por eles.
Mas como encontrarmos nosso ponto de equilíbrio
em cada situação?
Precisamos estar totalmente fora da influência,
opiniões e até mesmo percepções passadas e adotar a
"visão de helicóptero". Desse ponto, “visto do alto”,
podemos ver o quadro inteiro com clareza.
Desapego sempre foi a marca dos grandes
pensadores, porque apenas quando vemos a situação
como um observador desapegado percebemos a
verdade real. Caso contrário, nossas emoções,
desejos ou apegos cobrem essa clareza de nuvens. O
desapego é muito necessário para encontrar o
verdadeiro equilíbrio, mas muitos de nós podem
tender a sentir isso como algo frio e distante. É por
isso que o primeiro e principal equilíbrio é amor e
desapego.
Amor é a maior necessidade. Aqueles que sempre
expressam o seu amor com uma motivação pura,
sempre se sentem cheios de amor. Mas, para
verdadeiramente estar amando, precisamos de
desapego. Quando estamos desapegados, não
ficamos irritados ou afetados pelas ações dos outros
e assim podemos manter nosso amor. Nosso amor
não é condicional às respostas deles. Não estamos
comercializando no “negócio de amor” que diz, “Se
você fizer isso, só então você receberá meu amor...
Algumas vezes temos de mostrar apoio e amor total,
mas em outras ocasiões temos de dar um apoio
oculto, permitindo que o outro se levante com seus
próprios pés. Aí nosso desapego toma a forma de
respeito em que o outro pode realizar sem nossa
ajuda. Ser amoroso e desapegado é como uma
proteção de diferentes influências e ambientes em
que os humores, imperfeições e percepções dos
outros não conseguem perturbar nossa clareza.
A prática da meditação nos leva naturalmente para a
‘visão de helicóptero’. De lá você pode ver o quadro
completo e se tornar uma pessoa mais equilibrada.
Algumas das áreas nas quais você encontrará
equilíbrio são:
Análise e Aceitação
Algumas situações requerem análise clara, mas
apenas a análise não finaliza o assunto. A mente fica
repetindo os eventos uma vez, outra e novamente e
ficamos tentando manter nossa objetividade. Mas a
aceitação pode clarear os sentimentos subjetivos e
nos permitir seguir com nossa vida. Aceitação não
significa negar ou reprimir, mas é uma profunda
sabedoria em perceber que nada mais pode ser feito.
Tudo o que podemos fazer é para o que quer que
tenha acontecido, tomar a lição e progredir para o
futuro.
Humildade e Autoridade
Quando temos autorrespeito, nossas palavras e ações
expressam humildade. Algumas pessoas dizem que
admiram a humildade, ainda que sintam que pessoas
humildes podem se tornar capachos. Mas a
verdadeira humildade indica autoridade e uma força
suave. Isso é autoridade sobre si mesmo. Não é uma
autoridade que impõe controle sobre os outros. A
pessoa humilde fala com verdade, mas a sua
autoridade não vai ferir o coração de outras pessoas.
As pessoas vão admirar a dignidade e a
autoconfiança de uma pessoa assim. O equilíbrio
entre humildade e autoridade sobre si mesmo é a
base de um grande líder.
Satisfação e Ambição
Algumas pessoas nunca estão satisfeitas. Não
importa o quanto tenham, sempre querem mais. É
um tipo canceroso de falta de paz interior que nunca
os permite ficarem quietos desfrutando o presente.
Outros parecem não ter nenhuma motivação para
melhorar em qualquer nível. Um dos presentes da
prática de meditação está em descobrir uma
consciência profunda de nosso eu espiritual e nosso
relacionamento com Deus.
Isso diminui a ambição por reconhecimento e cria
um sentimento de abundância e satisfação. Porém,
até mesmo com essa satisfação interna, pode haver
ainda a ambição para melhorar nossas próprias vidas
e ajudar os outros. Contudo, essa não é uma ambição
que busca a aprovação dos outros, mas vem de um
interesse genuíno de benevolência.
Charles Hogg é Diretor dos Centros de Raja Yoga
da Brahma Kumaris na Austrália
rijmohan dá uma olhada mais próxima na diferença
entre corpo e alma
Uma mente carregada pode arrebatar alguns
momentos de prazer breves e passageiros, mas não
pode experimentar verdadeira felicidade.
Permanecer sempre leve é a chave da felicidade. Nas
condições de hoje, a habilidade para levar a si
mesmo e tudo ao seu redor de maneira
despreocupada talvez seja a capacidade principal a
ser cultivada. Há uma necessidade vital para
desenvolver os poderes internos a fim de "tornar as
coisas fáceis" venha o que vier.
Compreende-se perfeitamente que o estado da mente
de uma pessoa depende da sua atitude em relação às
pessoas e objetos presentes e aos eventos que
acontecem ao seu redor. Também há uma declaração
famosa que diz: “Você não pode mudar os fatos,
mas pode mudar sua atitude em relação a eles.”
Contudo, quando situações reais surgem, a mudança
de atitude é difícil por causa da opinião já formada.
A atitude é determinada por orgulhos e preconceitos,
desejos e ambições, prioridades e preferências,
necessidades e compulsões. Estas, em troca, são
influenciadas por hábitos e vícios, aprendizagens e
dependências, crenças e perspectivas, caprichos e
fantasias e vários outros fatores. Pré-disposições
assim formadas produzem certos puxões e
empurrões mentais que determinam respostas e
reações a situações externas. Essa é a razão pela qual
atitudes para o mesmo acontecimento variam de
pessoa para pessoa. Novos paradigmas surgem a fim
de quebrar velhas opiniões e criar capacidades
internas que podem automaticamente cuidar de
qualquer coisa que venha ao seu caminho.
A primeira mudança de atitude fundamental para
permanecer “leve” é sempre tomar uma firme
resolução de permanecer assim. Aquilo que você
pensa, você se torna. A palavra “leve”, no sentido
espiritual, também significa a iluminação que
dispersa a escuridão interna de ignorância, ilusão,
dúvida e confusão. Isso lhe permite visualizar coisas
em sua verdadeira forma. Como resultado, o engano
é eliminado. Confiança e clareza mudam as
condições de medo e ansiedade para aquelas de
alegria e felicidade. Disso segue a segunda mudança
de atitudes: considere a vida como uma celebração e
não como uma luta ou zona de guerra. Saudações e
bons desejos trocados em celebrações sempre são
fonte de grande alegria e felicidade. Igualmente, esse
é o modo mais fácil para se transformar em alguém
que tem bons sentimentos por todos e tornar a sua
vida uma celebração.
Na raiz de sua atitude encontram-se suas crenças. A
maior falha básica e comum nas crenças de hoje em
dia é a consciência de corpo, isto é, identificar-se
com o corpo mortal ao invés da entidade imortal
chamada “alma” que você verdadeiramente é. Essa
crise de identidade é a mãe de todas as outras crises.
O seu eu eterno - a alma - é uma entidade sensível,
um ponto imperecível de luz. Suas qualidades inatas
originais são amor, paz, felicidade e contentamento.
Contanto que você permaneça estabelecido no
estado de consciência da alma e use seu corpo como
um instrumento, você permanecerá leve, porque,
primeiramente, sua existência é essa de ser luz
sensível e, segundo, seus pensamentos, palavras e
ações estarão em conformidade com suas qualidades
inatas.
Como é feito de matéria, o corpo e seus órgãos do
sentido podem dar só prazeres sensuais temporários
e dependentes de fatores externos. A consciência de
corpo conduz à adoção de valores materiais que
afetam a mente, destruindo a pureza primitiva de
suas qualidades inatas e, na realidade, do processo
de pensamento inteiro. Como resultado, ciúme, ódio,
raiva e outros tipos de negatividade conduzem a
pensamentos despidos de virtudes e ações erradas. A
negatividade produz desperdício de pensamentos e
aumenta o número e a velocidade de seus
pensamentos. Isso dilui a qualidade de pensamentos,
e, por conseguinte, a qualidade de vida. O
desperdício de pensamentos produz atitudes doentes
como dúvidas, apreensões, medo, etc. e remove toda
a vivacidade e ânimo na vida. Isso resulta em
letargia e preguiça. Desse modo, a negatividade
enfraquece a mente, que fica propensa a influências
externas.
A autorrealização ou consciência da alma, por outro
lado, traz para si a verdade de que as qualidades
originais da alma de amor, paz, felicidade e
contentamento são todas não materiais, como a
própria alma. Até mesmo as características negativas
ou perversões como ego, raiva, ódio, ciúme ou as
tensões e preocupações produzidas por esses vícios
são não materiais em natureza. Consequentemente, a
ação corretiva exigida a esse respeito deve ser
essencialmente levada ao nível de suas convicções
básicas. Uma viagem interna é então um pré-
requisito essencial para desfrutar uma viagem
externa feliz através desta vida e além.
A autorrealização permite que você solte o passado
facilmente. Em vez de lamentar, permite-lhe ganhar
valiosa experiência por erros passados e aumentar
seus poderes de tolerância e paciência. Quando a
pessoa começa a aprender a partir dos erros, o
significado de dizer “tudo acontece para o melhor"
fica claro. Erros não são repetidos. A atenção ajuda a
evitar a tensão. A redução do desperdício de
pensamentos melhora a qualidade dos
pensamentos.
A força de vontade é o agregado de todos os seus
poderes internos como tolerância, discernimento,
julgamento, concentração e cooperação. A vontade
de uma pessoa com um bom reservatório de poderes
internos sempre prevalecerá. Consequentemente, há
a frase “Onde há vontade, há um caminho” (Where
there is a will, there is a way). Uma firme força de
vontade permite transformar uma situação de
possível fracasso naquela de sucesso - exatamente
como em um jogo de cricket em que um bom
batedor converte uma bola perigosa em um quatro
ou seis por um mero estalido do seu bastão. Uma
enérgica força de vontade não somente o protege das
influências adversas de fora, mas também o fortalece
a mostrar influência no ambiente externo, da mesma
maneira que sementes de rosas produzem rosas
perfumadas mesmo num montão de lixo
malcheiroso. Ânimo e entusiasmo são um resultado
natural de sucesso e se torna, em troca, a força
motriz para o sucesso adicional. Mover-se de
sucesso em sucesso sempre o manterá em bons
espíritos. Essa é a fórmula para permanecer leve e
feliz sob todas as condições e circunstâncias.
Como aumentar a força de vontade? Não é um poder
físico a ser adquirido por qualquer meio material. O
pensamento inútil e negativo tem de ser eliminado
para se aumentar a força de vontade. Porém, o
dilema é que eles surgem quando a força de vontade
está debilitada, considerando que dispensamos
grande força de vontade para destruí-los. Assim, o
que fazer nesse caso? Da mesma maneira que a
negatividade reduz a força de vontade, é o
pensamento positivo que o gera. Internalizar virtudes
como humildade, satisfação, desapego e compaixão,
um estilo de vida simples, boa companhia, pureza de
comida e tornar-se alguém com bons sentimentos
por todos lhe ajudará a realizar isso.
Brijmohan é editor do jornal Purity e Secretário
da Rajayoga Educational Research Foundation.
Retornar à Lista de Artigos
Anthony Strano explica o que acontece quando
temos um relacionamento direto e pessoal com
Deus e por que isso é importante.
Lembro-me quando tinha 13 anos e pensava: “O que
eu vou fazer da minha vida? Tenho a energia e as
aspirações da juventude – o que vou fazer?” Eu
estava crescendo na Austrália, um país muito livre;
você pode fazer praticamente qualquer coisa que
goste naquela idade. Peguei então a Bíblia e abri-a
aleatoriamente. E ali estava a passagem na qual
Deus perguntara a Salomão: “O que é que você
gostaria, acima de tudo?”. Fiquei surpreso, porque
Salomão não pediu por mais dinheiro ou um palácio
maior ou qualquer coisa assim; ele apenas disse: “Eu
gostaria de ter sabedoria”.
Pensei: “Isso é algo bom para se pedir, ser sábio e
entendido”. Mais tarde, li outro texto que dizia:
“Cuidado com a juventude! A juventude é como a
grama verde. Hoje está fresca e resplandecente e
amanhã estará seca e o vento virá e simplesmente a
levará embora”. Então comecei a pensar: “Quando
eu tiver 30 ou 40 anos e olhar para trás e refletir
sobre o que eu tiver feito, o que direi? Estarei feliz
com as decisões que tomei?” Lembro-me daquele
dia inteiro simplesmente ficando em silêncio.
Sempre gostei do silêncio. Ele era um espelho
através do qual podia entender muitas coisas, não
analiticamente, mas podia senti-las. Eu tinha a
característica de nunca acreditar completamente na
minha própria percepção sobre as coisas. Achava
que era fácil iludir-se, portanto cada um deve sempre
ter um ponto dentro de si a partir do qual observar-
se.
Num dia de Natal, acordei bem cedo e decidi ir à
floresta. Tinha acabado de amanhecer e havia um
pinheiro oval com bastante orvalho sobre ele. Eu
fiquei observando-o. O sol levantou-se cada vez
mais alto, os raios de luz alcançaram as gotas de
orvalho e o vento começou a soprar. Foi uma
experiência muito linda. Todas aquelas gotas de
orvalho começaram a refletir muitas cores diferentes
– verde e azul, vermelho e amarelo – e à medida que
o vento soprava levemente, as cores mudavam. Foi
como um presente de Natal para mim, a árvore de
Natal da natureza. Então, é claro, o sol levantou-se
completamente, e tudo aquilo terminou. Pensei que
seria bom ser como uma daquelas gotas, de alguma
forma capaz de refletir algo escondido, algo
silencioso, mas também muito bonito.
Comecei a perceber que para se ter uma conexão
verdadeira consigo, com Deus e com outras pessoas,
é importante manter uma fé muito profunda e uma
humildade muito consistente, porque a fé em você,
em Deus e em outras pessoas ajuda-o a ir além de
muitas dificuldades, dúvidas e testes, e o torna
confiante de que – muito embora você possa não
entender – sempre há uma solução. Você também
precisa de humildade para jamais cair na armadilha
do “EU SEI”. Mantenha sempre o “eu” aberto, pois
somente quando estou aberto é que a verdade é dada
ao “eu” como um presente. Todas as coisas divinas
são presentes; o único esforço que alguém precisa
fazer é posicionar o “eu” de tal maneira que seja
capaz de receber aqueles presentes. Ao receber
aqueles presentes, eles aumentam na medida em que
forem compartilhados. Mas você simplesmente os
compartilha como um instrumento – não como
aquele que fez os presentes. Quer seja de sabedoria,
de paz, de felicidade – eles foram dados, absorvidos
e compartilhados.
Quando você lê sobre encontros de outras pessoas
com Deus, descobre em alguns deles que aquilo
transforma suas vidas, torna-se a fundação de toda a
vida deles. Outros têm isso, mas então esquecem-no
e perdem-se na rotina novamente, perdem a
consciência, a maravilha daquele encontro. Quando
há um encontro genuíno com o divino, o ser humano
sente três coisas – transformação profunda,
percepção profunda e grande inspiração.
TRANSFORMAÇÃO
A transformação é conduzida pelo desejo de
realmente mudar o “eu”, de retornar a algo puro e
original que foi esquecido ou que foi poluído,
sabendo muito profundamente que se houver essa
transformação dentro do “eu”, certamente essa
pessoa estará pronta para ajudar e cooperar com
outros seres humanos. Uma transformação profunda
somente vem quando há aquele encontro com Deus,
porque aquilo que transforma as profundidades do
“eu” é o amor. Se Deus permanece abstrato, como
para muitas pessoas, então há uma transformação
muito pequena. Quando Deus torna-se pessoal e real,
essa pessoa é capaz de experimentar o
relacionamento, e é através do relacionamento que
ela começa a experimentar o amor que lhe dá fé nela
mesma e a coragem para mudar.
INSIGHT
O encontro, silencioso e muito pessoal,
frequentemente não pode ser descrito. De algum
modo ele não deveria ser descrito demais. No
silêncio surge o insight. O insight é a abertura do
terceiro olho, e a cegueira espiritual é levada embora
– em particular, a cegueira de ser muito crítico sobre
coisas e pessoas, de perder-se na fraqueza de outros
e de ficar atrás de coisas triviais. O insight é onde
sou capaz de ver a realidade positiva de outros, não
importando qual possa ser sua aparência, não
importando quão negativos eles possam parecer ser.
O insightde alguém que encontrou Deus é ver
através dos olhos Dele, ser capaz de ver os outros
como seu irmão ou sua irmã. É esse insight que
começa a criar um senso de unidade e amizade e um
senso de pertencer a todos.
INSPIRAÇÃO
Um encontro pessoal com Deus também me dá
grande inspiração. O impossível pode tornar-se
possível. Não há nada que eu não possa fazer.
Sempre há aquele suporte, aceitação, fidelidade de
Deus no relacionamento Dele com você. Ele não o
abandona ou o diminui, mas o segura. Você é
sagrado para Ele. É uma grande inspiração quando
você sente isso, não apenas saber disso
intelectualmente, mas também senti-lo.
Ir do abstrato ao real é algo para o qual todos nós
temos de nos esforçar. Isso vem ao entrarmos em
quietude, silêncio e prontos para ouvir. Quando há
esse encontro, sua fé e coragem são fortalecidas.
Sempre há testes, problemas, dificuldades, mas você
tem sempre aquela força para superá-los, pois agora
é capaz de olhar e ver com outro “olho”. Você vê
com um olho invisível, ouve com outro ouvido, um
ouvido invisível. Você não precisa ver tudo pronto e
tangível na sua frente. Eu não preciso ver a solução,
porque sei que ela está lá e que virá na hora certa. A
pessoa que tem um encontro genuíno e uma
experiência contínua desenvolve muita doçura,
generosidade, tolerância – mas especialmente não
violência. Eles nunca pensam que são melhores ou
superiores, nem inferiores. Há um sentimento de
igualdade com relação aos outros – que os outros são
tão bons quanto eu, que o que quer que eu tenha de
bom em meu próprio eu, outros também têm.
Quando você tem esse encontro genuíno com Deus,
a visão de universalidade é restabelecida e há uma
atenção em mudança pessoal e doação. Nunca há um
senso inflado de superioridade. Entretanto, muitos
esquecem de proteger seu encontro genuíno com
Deus com humildade e autorrespeito. Ao invés
disso, eles começam a dizer: “Eu tive essa visão, eu
vi essa luz e recebi essa mensagem”. Então, o que
fiz com a mensagem, com a luz? Será que cresci? O
crescimento é medido pelo respeito que tenho pelos
outros e pelas atitudes não violentas com relação a
tudo. Aceito quaisquer diferenças como algo divino
e contribuição para o mundo; percebo que tais
diferenças não limitam, mas enriquecem.
Uma coisa é muito importante ao cultivarmos nossos
encontros com Deus. Enquanto temos de nos
esforçar em nosso movimento na direção de Deus,
igualmente precisamos estar conscientes do ponto no
qual parar, ficarmos quietos e sermos guiados.
Crescemos no Ocidente sentindo que temos de criar
tudo, temos de fazer acontecer, que depende de nós.
É em certo sentido, mas nem tudo depende de mim.
Algumas vezes tenho de apenas me situar. Quando
fui pela primeira vez aprender meditação como um
método de aproximar-se de Deus, tive experiências
muito boas de Deus as quais não esperava conseguir
tão rapidamente. Lembro-me, na primeira vez, de
sentir Deus não apenas como o Pai, mas como a
Mãe. Nunca havia pensado antes sobre a
Maternidade de Deus, mas como a mais tradicional
Paternidade. Tive o sentimento de Deus, minha Mãe
eterna, olhando-me docemente e sussurrando: “Eu o
amo como é, não precisa provar-se. Você é o que é e
Eu amo e aceito isso. Mas, sim, esforce-se para
mudar, para acordar a parte mais pura do ‘eu’ e isso
trará a você grande alegria”. Logo em seguida senti
a Paternidade de Deus como uma onda de grande
suavidade acalmando o “eu”. Ele definitivamente
não era “a autoridade severa no comando”, sobre a
qual aprendi na escola.
De qualquer modo, nunca senti que Deus era
realmente severo e autoritário. Como Mãe e Pai, Ele
era um professor sábio e cuidadoso tentando manter-
me no caminho certo.
Quando eu era muito jovem e alguns adultos
ficavam aborrecidos comigo, eles diziam: “Deus está
observando você, e somente o perdoa três vezes se
você for travesso”. Eu realmente ficava com medo,
porque sabia que tinha sido travesso muito mais do
que três vezes. Diariamente, minha travessura ou
“enganos” eram próximos a pelo menos 33!, pois um
dia fiz uma contagem consciente de meus
“pecados”. Quando você é muito jovem, as coisas
que lhe são ditas ficam impressas em você. Mas lá
no fundo eu pensava: “Tenho certeza de que Deus
não é assim, Deus não mede”. Deus é um amigo. E a
bênção de tal amizade benevolente é um verdadeiro
presente Dele.
Minha experiência pessoal com meditação é que
quando entro em silêncio e sintonizo minha mente e
conecto com esse Ponto Benevolente, esse Ponto de
Benevolência para todo o universo, quando posso
me conectar a essa corrente, sinto-me não apenas
com luz, mas com profunda compaixão e
entendimento. Nessa compaixão e entendimento há
mudança no “eu”, atitudes, visão com relação a
outros. É por isso que quando as pessoas falam
Deus, Allah ou Pai e então há muita violência em
seu comportamento com relação aos outros, está
claro que estão muito longe de Deus. Aquele que é
puro não pode ser violento, não pode dar tristeza. No
silêncio é que temos aquele encontro com O
Benevolente. Então somos capazes de nos sentir
elevados, nossa consciência é elevada e torna-se
positiva, abrigando e se reconciliando com outras
almas. Sentimos a alegria de estarmos vivos, de
sermos seres humanos. Não rejeitamos nada e não
nos apegamos a nada, porque os dois extremos não
mantêm o equilíbrio e a harmonia necessários para
manter a alegria.
Quando temos um encontro com Deus,
experimentamos a Paternidade de Deus, a
Maternidade de Deus e acima de tudo a amizade de
Deus, doce amizade. Sim, os egípcios antigos
estavam muito certos, Deus o Pai, a Mãe, é o Senhor
da Doçura, e é essa doçura que tira a amargura do
passado e nos permite experimentar o poder do
perdão, largar as coisas, não guardar ressentimentos.
Quando há esse perdão para meu próprio “eu”, posso
começar a perceber quem realmente posso ser.
Essa transformação preenchida de amor torna o ser
humano espiritual. Um relacionamento verdadeiro
transforma-o e liberta-o, ele não prende nem limita.
Quando encontramos Deus como Ele
verdadeiramente é, nossa consciência eleva-se para
um nível de universalidade e compaixão em que não
há barreiras de ressentimento, acusação ou medo.
Ser capaz de manter sua coragem, fé e princípios,
mesmo em momentos de oposição, e manter um
olhar bondoso sobre aqueles que se opõem a você –
isso é espiritual! Essa é a habilidade de se ter
misericórdia e compaixão para com aqueles que
criticam e se opõem. Não é somente uma questão de
ser estável e forte, mas ter um olhar bondoso para
todos. Para tanto, precisamos do sustento de um
relacionamento pessoal com Deus, de outra forma
não seremos capazes de fazê-lo. Se não sinto aquele
relacionamento, posso ser amável uma ou duas
vezes com pessoas que são negativas comigo, mas
continuar a fazer isso requer um fluxo de força
muito positivo e contínuo dentro do “eu”. É por isso
que a meditação é importante, não apenas para o
“eu”, mas também para os outros. É na meditação
que fico próximo a Deus e experimento o poder que
Ele constantemente está oferecendo a mim. Essa
proximidade de Deus é chamada de bem-
aventurança. Bem-aventurança é uma experiência
interna, além do toque, visão ou qualquer coisa
física e ninguém jamais pode tirá-la de mim. Eu a
levo dentro de mim.
Anthony Strano era Diretor dos Centros da Brahma
Kumaris na Grécia, Hungria e Turquia e faleceu em
2014.
Charles Hogg apresenta os métodos para ver as
especialidades no eu e nos outros
Em toda rua há uma Sra. Julgamento e uma Sra.
Honestidade. Um dia a Sra. Honestidade decidiu
visitar a Sra. Julgamento. Tão logo a Sra.
Honestidade chegou, a Sra. Julgamento começou a
reclamar de seus novos vizinhos, uma família de
estrangeiros.
“Ela é uma dona de casa terrível”, disse a Sra.
Julgamento, “Você deveria ver o quão sujas são as
suas crianças... assim como a sua casa! É quase uma
desgraça estar vivendo na mesma vizinhança.
Apenas dê uma olhada nas roupas que ela pendurou
no varal, veja as manchas pretas nos lençóis e
toalhas.”
A Sra. Honestidade andou até a janela para ver. “Na
realidade as roupas estão bem limpas, minha
querida. As manchas estão na sua janela!”, disse.
Assim como a Sra. Julgamento, quão
frequentemente sou enganado por minhas próprias
janelas sujas ao projetar meus próprios “maus
julgamentos” externamente completamente
convencido de que eu estou vendo a verdade? A
semente original do mau julgamento colore tudo o
que vejo, então, cada interação com meus vizinhos
reforça minha atitude. Até que uma Sra.
Honestidade chegue. Somente então vejo mais de
perto as minhas janelas dos olhos. Assim que
começo o processo de limpar a sujeira do lado de
fora das minhas janelas, percebo algo interessante.
Há também sujeira por dentro. A sujeira exterior é o
produto de influências, atmosferas, opiniões e
atitudes externas. A sujeira interna é de
experiências, percepções e suposições passadas
inconscientemente colorindo a minha visão.
Apenas pare por um minuto e reflita sobre os
sentimentos de julgamento e autorretidão que
surgem em você, assim como em todos nós. Estamos
conscientes de que esses sentimentos nos deixam
mais separados, mais isolados, mais apavorados.
Ainda assim, dentro de todos nós, temos a grande
voz do crítico ou do juiz. Todos são testados. Quer
verbalizemos nossos pensamentos de julgamento,
quer os mantenhamos para nosso próprio consumo
pessoal, os outros, de fato, sentem seu efeito.
Novamente, reflita sobre o oposto. Lembre-se dos
sentimentos de perdão ou compreensão. Lembre-se
de como você deseja ser tratado quando cometeu um
erro. Lembre-se de como você se sentiu quando se
desprendeu do passado de alguém e ofereceu-lhe um
novo começo. Simplesmente imagine a cura nos
relacionamentos se eu tiver a humildade de
desprender-me do julgamento.
Minha avó morreu há algum tempo, com 94 anos.
Durante toda a sua vida ela só esteve no hospital por
um dia – com 92 anos, para retirar uma catarata. Ela
teve uma vida saudável feliz e era amada por todos.
Durante uma de minhas últimas visitas, percebi que
muito do contentamento visível dela vinha de sua
habilidade de sempre sintonizar-se com o bem nos
outros. Eles respondiam a ela com os mesmos
sentimentos. De um modo natural, isso criou uma
vida de dar e receber amor. Parece que pagamos um
terrível preço pelos olhos do julgamento e
criticismo. Perdemos amor precioso de outros
corações.
Como eu me sinto quando vejo as especialidades dos
outros? Sinto-me bem sobre mim mesmo. Como eu
me sinto quando vejo minhas próprias
especialidades? Até melhor. Mas isso é fácil?
Participei muitas vezes de workshops onde foi
pedido a todos os participantes que fizessem uma
lista de suas qualidades positivas e também uma lista
de fraquezas que gostariam de mudar. A lista de
fraquezas é fácil, mas quando se refere aos pontos
fortes, quase todos nós achamos difícil escrever pelo
menos alguns. Será que posso dizer que realmente
me conheço? Frequentemente o que escrevemos são
talentos e habilidades, o que faço ou o que aprendi,
ao invés daqueles traços característicos que são
únicos a mim.
Como descubro minhas especialidades?
Faça uma experiência. Feche seus olhos e
gentilmente vá além de seu corpo. Agora, através do
olho de sua mente, olhe para trás de você mesmo.
Como um observador da pessoa sentada abaixo, o
que você vê? Quais são suas especialidades? Pense
profundamente sobre suas motivações internas,
como você trata os outros, as coisas que mais
valoriza. Uma lista de especialidades começará a
crescer. Não deixe que seja apenas uma palavra.
Expanda sobre elas de tal forma que a profundidade
de suas especialidades seja revelada.
Algo interessante pode acontecer à medida que você
vai evoluindo nesse processo. Talvez uma pequena
culpa ou embaraço entre: “Será que estou me
iludindo? Meu ego tomou conta?”. De algum modo,
criamos barreiras internas que não nos permitem
desfrutar da autoapreciação. O bom senso me diz
que se não consigo ver as especialidades em mim, é
quase impossível vê-las nos outros. Minha barreira
interna emana de uma profunda falta de autoestima
que me diz que não tenho valor. Atravessar essa
barreira está no coração do processo espiritual.
Assim que me liberto dessa paralisia interna, minha
própria bondade intrínseca torna-se naturalmente
aparente. Não apenas minhas forças tornam-se
aparentes, mas minha visão sobre minhas fraquezas
torna-se de compaixão. Torno-me livre da prisão da
desesperança. Eu posso mudar!
Quando tenho falta de amor e respeito por mim, isso
manifesta-se externamente como uma reprovação
arrogante das fraquezas e erros dos outros. Minha
própria base de autorrespeito está ancorada nas
fraquezas dos outros. Um amigo meu trabalhava
como repórter de notícias de uma das principais
redes de TV em Sidney, Austrália. Ele admirava-se
do porquê de nós corrermos para casa toda noite a
fim de assistir às notícias, que são uma ladainha de
negatividade, dor e tragédia. Pesquisadores
mostraram que quando vemos o sofrimento alheio a
partir do conforto de nossas salas de estar, não nos
sentimos tão mal sobre nós mesmos. É inconsciente,
mas é uma maneira muito estranha de nos sentirmos
melhores sobre nós.
Quantas filosofias e tecnologias novas aparecem no
mercado a cada ano tentando encorajar líderes e
gerentes a melhorar seus jogos? Sinto que a
ferramenta mais poderosa de qualquer líder é uma
visão positiva para com aqueles com quem ele ou
ela trabalha. Aqui, visão positiva significa uma
atitude interna de confiança, respeito e
reconhecimento das especialidades dos colegas. Se
as pessoas recebem uma mensagem dupla, isto é, o
que elas ouvem é diferente do que sentem, elas
sempre confiarão em seus sentimentos. Em outras
palavras, não posso esconder minha atitude interna.
Se carrego criticismo mental daqueles com quem
convivo ou trabalho, não importa o quanto eu os
encorajo verbalmente, eles nunca confiarão em mim
completamente. Se vejo as especialidades daqueles
que estão à minha volta, essa é uma forma natural de
potencialização.
No aprendizado da arte de ver as especialidades nos
outros, precisamos aplicar a primeira Lei da
Espiritualidade, a qual diz que somos responsáveis
por nossas próprias experiências; se vejo o negativo
nos outros, sinto-me infeliz, se vejo o positivo,
sinto-me feliz. Depende de mim decidir. Para
justificar como nos sentimos, nos tornamos
altamente habilidosos na Arte de Reclamar. É uma
habilidade que refinamos por um longo tempo para
escapar da nossa consciência. A mídia parece
encorajar essa habilidade ao glorificar inteligência
como a habilidade de analisar as fraquezas nos
outros. Com intenção calculada, o caráter do outro é
deixado de lado. Aprendemos essa habilidade e
passamos isso aos outros. A grande ironia de todo o
processo é que me torno o alvo. Sou profundamente
machucado. Esquecemos outra Lei da
Espiritualidade, aquela da causa e efeito. Colherei o
fruto de minhas atitudes. Isso torna até mais
importante conscientemente me educar para ver as
especialidades no eu e nos outros.
É mais difícil ver as especialidades naqueles com
quem estou familiarizado: minha família, amigos e
colegas de trabalho. Abaixo estão alguns exercícios
que têm ajudado a me aperfeiçoar na Arte de Limpar
a Janela.
Exercício 1: Inventário de Virtudes
Em meu diário mantenho uma seção onde escrevo os
nomes daqueles mais próximos a mim. Durante um
dia de trabalho ou em casa, quando noto uma
especialidade ou aprendo algo de alguém, faço uma
nota disso no meu diário. É como um inventário de
suas boas qualidades e pode me ajudar numa data
futura. Quando me torno influenciado por uma de
suas qualidades negativas, posso então me dirigir ao
meu diário e restabelecer o equilíbrio. Sou
relembrado do bem no outro e não consumido por
seu erro ou fraqueza temporária.
Exercício 2: Agir ao Invés de Reagir
Se há uma pessoa que tem certos traços de
personalidade que me aborrecem ou perturbam,
torno aquela pessoa, meu professor. Por quê? Porque
sua companhia me fará mudar. Ela me fará
consciente de minhas próprias reações negativas. Ela
me ensinará a agir e não reagir.
Exercício 3: Editando minha Fita de Memória
Antes de ir para a cama, repasso as atividades do dia
no vídeo de minha mente. Se estou carregando
sentimentos negativos sobre alguém, deixe-me
resolvê-los ao perdoar aquela pessoa no meu
coração. Eu não apenas apago os sentimentos
negativos, mas edito em algo positivo, então
conscientemente lembro de uma especialidade
daquela pessoa, que ficará gravada em meu
subconsciente. Assim, vou dormir e acordo muito
mais leve.
Exercício 4: Vendo as Intenções
Outro método de aprender e manter as
especialidades dos outros em minha mente é ver a
intenção e não a ação. Às vezes as pessoas realmente
cometem erros, ou talvez eu desaprove a maneira
como elas fazem as coisas. Se foco na atividade,
então ficarei aborrecido. Entretanto, se vejo um
motivo sincero, posso manter uma atitude de amor
ou aceitação que me permitirá resolver desacordos
respeitosamente.
Será que esse tipo de pensar é um pouco ingênuo?
Será que apenas vejo o bem e permaneço cego ao
negativo? Não, a arte de ver as especialidades
significa ver ambos, o positivo e o negativo, mas
então soltar-se do negativo. Por que eu deveria
adicionar à negatividade? Que minha resposta às
fraquezas dos outros seja com compaixão ao invés
de raiva ou ódio.
No caminho do desenvolvimento pessoal e
crescimento espiritual, a Arte de Limpar a Janela é
essencial.
Charles Hogg é Diretor dos Centros de Raja Yoga
Brahma Kumaris na Austrália.
por BK Sister Jayanti
- A necessidade de recuperar o equilíbrio, encontrar
paz interior e recarregar o poder espiritual pode ser
satisfeita por algumas formas de meditação diária.
Sister Jayanti, uma pessoa extremamente ocupada,
apresenta o passo a passo da meditação e as formas
através das quais ela pode ajudar a remover o
estresse dos negócios.
Fico pensando quão bem me conheço. Às vezes
quero saber por que me surpreendo com minhas
próprias reações e respostas a certas situações.
Gostaria de ter-me comportado um pouquinho
diferente. É uma das indicações que me dizem que
preciso me conhecer um pouco melhor.
Em um mundo materialista, tudo carrega valores em
termos de matéria. O valor que dei a mim também
foi associado a fatores externos, às posses que tenho,
à propriedade que possuo, à posição e perfil que
ocupo ou à posição que os outros me dão. Vejo-me
nesses compartimentos da forma como os outros me
veem.
O que vocês veem quando me olham?
Instantaneamente, o computador interno começa
seus cálculos e nos conectamos um com o outro de
acordo com nossa face, nossa cor, nossas peles,
nossas feições, nossa idade, a profissão na qual
trabalhamos. Quando penso nisso, questiono-me se
os fatores externos me dizem qualquer coisa sobre
mim ou você. A resposta que encontro é que as
coisas que valorizo e aprecio em mim não são
materiais, nada a ver com minha forma externa ou
situações externas.
Olho para dentro e me torno consciente dos meus
sentimentos, emoções, pensamentos e começo a me
perguntar qual parte é realmente o eu. É importante
que eu aprenda a separar duas identidades, a
identidade material, que é a forma física, e a
realidade interna de meus pensamentos e
sentimentos. É importante conhecer as coisas em
termos externos, mas muito mais é conhecer o que
está sob a superfície, que está sob a pele. Quando
concentro minha atenção no ser interior, é aí que a
jornada começa.
Vir para esse espaço interior e descobrir o que está
acontecendo em meu mundo interior é uma aventura
tão maravilhosa quanto as do mundo externo. De
onde meus pensamentos e sentimentos emanam? À
medida que permito que minha mente esteja
tranquila, descubro que a fonte de vida, a fonte de
energia que sou é apenas uma centelha, um ser, um
ponto. Não tenho um metro e meio, mas sou apenas
um ponto de luz. Em nossa linguagem, usamos, às
vezes, essa expressão 'minha alma', ou 'eu tenho uma
alma,' mas isso não é verdade – a realidade é que sou
uma alma, sou esse ponto de luz. Funcionar nessa
consciência cria total transformação da minha
percepção. Nessa consciência, sabendo quem eu sou,
sou capaz de ir além de todos aqueles limites que o
corpo físico impôs a mim. Tenho dito "Eu não posso
fazer isso, aquilo e aquela outra coisa", e, ainda
assim, nada disso é realidade. Eu sou esse ser eterno
de luz. Sou um ser de luz, sou, na verdade, um ser de
amor; essas são minhas qualidades naturais, e
retornar a essa consciência significa que sou capaz
de ir além de todas as barreiras, todas as prisões. Sou
capaz de encontrar aquela liberdade interior do eu.
Nessa consciência de saber quem verdadeiramente
sou, sou capaz de me gerenciar.
O estado original do ser é aquele de bondade. A paz
é natural para mim, portanto sei que esse é um
estado que me pertence. Não preciso alcançá-lo. Ele
está lá, dentro de mim. Numa vida em que se é
muito ocupado, se eu souber como voltar minha
atenção apenas por um momento para esse ponto de
luz que sou, a paz está acessível. Quando encontro
essa paz interior, é como recarregar a bateria e sou
capaz de realizar tudo o que preciso realizar no nível
externo. Se eu puder fazer isso, até mesmo por um
minuto dentro de cada hora, descobrirei que os
outros 59 minutos serão capazes de fluir muito,
muito suavemente.
O fato de meu próprio ser interno ser de paz também
significa que tenho poder interior. Sou capaz de
encontrar minha própria força interior. Usamos
bastante essa expressão 'empoderamento', e o poder
não pode vir, para mim, de ninguém mais de fora,
mas o empoderamento que vem de dentro, significa
que é uma força que permanece comigo para
sempre. Para onde quer que eu vá, o que quer que eu
faça, esse poder é o que eu carrego dentro de meu
próprio ser.
Vamos experimentar esse conceito alguns minutos
para que você possa ver por si como ele trabalha.
Sente-se tranquilamente deixando o corpo relaxado,
de preferência com ambos os pés no chão e suas
mãos cruzadas tranquilamente. Deixe que sua
respiração se torne natural e lenta. Você pode manter
seus olhos abertos. (Na verdade, é preferível fazer
isso, para que essa consciência se torne um estado de
consciência natural para você.)
Eu me concentro no interior e observo o que está
acontecendo em meu mundo interior. Vejo muitos
pensamentos tremeluzindo na tela da minha mente e,
conscientemente, posso escolher quais pensamentos
terei.

Escolho o pensamento da paz.


Visualizo um ponto de luz e nessa consciência de
paz, sei que isso é o que eu sou.
Sou um ser de luz.
Sou um ser de paz.
Meus pensamentos desaceleram e saboreio a beleza
da paz interior conforme meu mundo interior é
preenchido de paz.
Também sou preenchido com luz.
Posso sentir as nuvens da confusão recuando e,
conforme essa luz torna-se brilhante, posso sentir
meu próprio poder interior crescendo.
Meu próprio ser é luz, é poder, é paz.
Tendo me esquecido de mim, esqueci-me dessas
minhas qualidades originais e naturais. Agora que
sei quem sou, todas essas qualidades naturalmente
me pertencem e nessa consciência, irradio luz, paz e
poder. Agora deixo que meus pensamentos retornem
para a percepção do corpo físico que ocupo e as
situações na vida em que me encontro hoje, mas
retorno com uma visão transformada, com uma
atitude que é muito diferente.
Voltando para casa com essa consciência de eu, a
alma, o mestre desse instrumento físico, esse meu
precioso corpo, sei agora o que tenho de transmitir
através de meus olhos, lábios, ações. Sei a direção
para a qual tenho de me mover. Minha visão dos
outros também foi transformada. Não os coloco mais
em caixas. Sou capaz de vê-los como seres
exteriores, como almas. Ainda continuo com essas
coisas que preciso fazer, mas tendo criado aquele
mundo eterno e original, também há clareza na
maneira como penso; há entendimento e empatia na
forma como me comporto com outros; há poder em
minhas ações de forma que minhas ações levam a
conclusões corretas; e resultados positivos surgem
em minha vida e, também, na vida dos outros ao
meu redor.
Comparo isso com o estado em que estava antes, um
estado de caos e confusão interior e tão pouca
reflexão sobre a existência de caos e confusão no
mundo ao meu redor. Gerenciar-me significa saber
que sou o criador do meu mundo interior. Sou capaz
de ser o criador do mundo ao meu redor. Gerenciar-
me significa encontrar minha dignidade, meu estado
de autorrespeito de modo que sou capaz de
permanecer sobre meus próprios pés.
Nós nos cercamos com tantos suportes diferentes e
somos incapazes de nos orientar sem esses suportes.
Agora que sei quem sou, carrego meu estado de
autoestima e, é claro, quando me valorizo, valorizo
os outros ao meu redor. Em um estado de
autorrespeito, aquele respeito se estende para outros.
Gerenciar-me significa que sou capaz de me mover
com estabilidade e trago paz para o mundo de caos
ao meu redor. A paz que tenho significa que posso
começar a criar um pequeno oásis de paz ao meu
redor. A luz que eu tenho significa que a ilusão e a
escuridão não mais me tocam. O poder que tenho
significa que posso estar livre.
Om Shanti.
Om significa “eu sou”, shanti significa “paz”. Posso
retornar a essa consciência a qualquer momento e,
novamente, ser um mestre de mim mesmo.
Sister Jayanti é a coordenadora da Brahma
Kumaris na Europa. Esse artigo originalmente foi
publicado pela BK Publications
(www.bkpublications.com) na Retreat Magazine
#10. É um extrato de sua apresentação de abertura
numa série de apresentações em áudio intitulada
Meditação para Pessoas Extremamente Ocupadas.
Charles Hogg revela os segredos para um coração
saudável.
Era a minha primeira visita a Calcutá. A estrada
esburacada do aeroporto estava cheia de lombadas, e
bandos de abutres olhavam ameaçadoramente de
esguelha para todos os que passavam. O táxi chegou
à Hospedagem Red Shield, um pequeno abrigo para
viajantes no coração de Calcutá, próximo ao
Memorial da Rainha Vitória. Foi uma semana
memorável observando a vida na “Cidade da
Alegria”. Todos os dias, ao deixar a hospedagem, eu
era abordado por duas jovens meninas mendigas
vestidas com andrajos sujos e com os cabelos
emaranhados em grossos nós. Elas cantavam
repetidamente o mantra “Uma rúpia, uma rúpia”,
seguido de um sorriso radiante que brilhava através
de suas faces e acompanhado de um rápido piscar
dos olhos. Elas sempre venciam. Eu buscava no
fundo do bolso e desenterrava uma ou duas rúpias.
Eu havia me tornado uma fonte bem estável de
rendimento e assim, a cada dia, podia vê-las
esperando por mim com o mantra mudado para
“Duas rúpias, duas rúpias”.
Próximo do final de semana, ao sair da hospedagem,
dei de encontro com uma senhora idosa
acompanhando as meninas. Em um inglês mal
falado ela me convidou para visitar sua casa.
Caminhamos através das ruas até uma grande
edificação desocupada, quase toda coberta de
montes feitos com tudo o que se possa imaginar:
sacolas plásticas, caixas de papelão, pneus velhos,
bolsas de juta, pedaços de madeira. Muitas pessoas
se reuniram para me cumprimentar e me ofereceram
comida e bebida com muito amor e generosidade
(embora talvez parcialmente por mim financiadas).
Circundando essas duas pequenas meninas, havia
uma amorosa estrutura de suporte de pais, avós, tios,
tias, irmãos, irmãs, primos e mais outros. Nesse
cenário desesperador da mais profunda miséria, não
havia nada... nada, a não ser amor, e aquele amor era
tão rico que parecia ser tudo o que era necessário.
Comecei a pensar então que essas duas meninas que
haviam se tornado minhas amigas eram, de fato,
afortunadas. Percebi que não importavam quais as
circunstâncias, quando o coração é mantido, a vida
pode ser boa.
No entanto, se o coração está vazio ou quebrado ou
fechado, nada parece satisfazer, não importa quais
sejam as circunstâncias. Para compensar um coração
vazio, desejamos riqueza ou poder ou qualquer outra
coisa para preencher o vazio. Em agosto de 1997, o
mundo ficou chocado com a notícia da morte da
princesa Diana. Por um lado, parecia que ela possuía
tudo exceto, talvez, um único ingrediente... o amor.
Ela almejava o amor verdadeiro. Sua vida foi um
exemplo de procura por um amor verdadeiro. Parece
que a tristeza e o pesar que o mundo todo sentiu foi
resultado da identificação de todos com a sua
procura por amor, para verdadeiramente manter o
seu coração. Nós todos estamos procurando por isso,
mas com que frequência encontramos?
Penso que há poucos momentos na vida em que
emergem em nós sentimentos de verdadeiro amor.
Um amigo me contou que ele estava no metrô em
Toronto em pleno inverno. O trem da hora do “rush”
estava cheio de faces tristes, todas aparentemente
isoladas e desconectadas umas das outras. Havia um
frio e petrificado silêncio. O trem parou em uma
estação, as portas se abriram e entrou uma jovem
mulher com um recém-nascido em seus braços. A
inocência e a vulnerabilidade do bebê tocaram a
todos. Um novo sentimento preencheu o trem. Todas
as faces começaram a brilhar com sorrisos cordiais.
Aquilo que é autêntico e puro atrai o nosso amor. O
bebê não tinha máscaras, barreiras nem fachadas, e
sua inocência despertou sentimentos de amor
adormecidos nas pessoas que o estavam observando.
Simplesmente ao ser ele mesmo, as qualidades do
bebê tiveram o poder de fazer emergir o amor em
estranhos.
Passei algum tempo com uma pessoa que estava
morrendo de câncer. Quando encontrei essa mulher
pela primeira vez, ela havia acabado de receber o
diagnóstico e estava deprimida e cheia de medo. A
experiência de vida havia deixado marcas de
profunda tristeza em sua face. Mas, durante os
últimos meses de sua vida, houve uma mudança
dramática. Sua face agora irradiava alegria e amor.
Ela havia abandonado tantas cargas que havia
carregado por tanto tempo em sua vida. Ela havia
deixado de tentar impressionar, havia abandonado as
mágoas dos outros, havia abandonado a pressão de
ser algo que não era; abandonado o complexo de
inferioridade. Mas, acima de tudo, havia abandonado
o medo de morrer, o que a liberou também do medo
de viver. Ela descobriu seu eu autêntico e, como o
bebê, tornou-se amável a todos ao seu redor.
Um amigo uma vez me disse: “Se lhe fosse dito que
você teria apenas alguns meses para viver, em que
acha que isso o mudaria? Eu pensei muito sobre
isso. Pensei que gostaria de acertar os remorsos que
eu tivesse, de dizer aos outros o quanto eu os aprecio
e o quanto eles significam para mim, de abandonar
todas as tensões triviais com os outros e me focalizar
no que realmente é importante. Comecei a pensar:
não é assim que eu já deveria estar vivendo?
Entre o nascimento e a morte, o que acontece?
Estamos desesperados atrás da experiência de
verdadeiro amor sustentador, assim investimos
nosso coração em relacionamentos com grande
confiança e sinceridade. Mas a lei da vida é a
mudança. Inevitavelmente aquilo que amo irá me
deixar, quer devido a mudanças, conflitos ou morte.
Então, invisto meu coração novamente e a mesma
coisa acontece. Esse processo de perda deixa
cicatrizes profundas de medo e insegurança de forma
que, à medida que a vida prossegue, coloco grandes
barreiras em volta do meu coração. A placa no meu
coração diz, “Pare! Proibido avançar além desse
ponto!”.
Não quero nada além da experiência de amor, mas
criei tantas barreiras. Mesmo se o amor é recebido, é
uma forma poluída de amor que dá um alento
temporário, mas não sustenta verdadeiramente o
coração. Algumas vezes o amor é condicional, um
tipo de amor como um contrato de negócio com
cláusulas e subcláusulas. Tal amor diz: “Eu amarei
você, mas você tem de se comportar da maneira que
eu quero senão o meu amor cessará”.
Ou talvez o amor seja egoísta. Esse amor apenas
toma e nunca dá. O coração se sente vazio. Esse
amor diz: “Você existe para preencher o meu
coração”, e se as expectativas não são preenchidas,
há ressentimento, raiva e sentimento de abandono.
Outras vezes, algumas revistas e programas de TV
nos oferecem uma imagem romântica do amor –
pessoas bonitas olhando encantadas umas nos olhos
das outras. Essa imagem superficial de amor faz com
que a maioria das pessoas se sinta inadequada. As
pesquisas mostram que os sentimentos românticos
permanecem apenas por 6 a 8 meses, e então o amor
toma novas dimensões. Mesmo assim, para alguns,
quando os sentimentos românticos mudam, há o
sentimento de que o amor terminou. Então, o jogo
moderno de reciclar relacionamentos continua.
Nós também nos tornamos vítimas do amor
dependente. Tal amor cria relacionamentos de
amor/ódio: amor por causa do suporte, mas ódio e
ressentimento, porque eu perdi minha liberdade. Eu
me sinto sufocado e controlado, mas esqueço que é
minha própria dependência que cria esse sentimento.
Essas formas poluídas de amor fizeram das doenças
do coração um dos principais problemas de saúde do
mundo de hoje. Há amor, mas não com a qualidade
necessária para curar a desmedida e tão evidente
doença do coração.
Para se criar um coração saudável são necessários
três estágios principais:
1. Um check-up completo do coração.
2. Cirurgia cardíaca (se necessário).
3. Um programa de manutenção para o coração.
O Check-up do Coração
Tenho um amigo que se orgulha de sua forma física.
Ele joga squash regularmente e corre, embora leve
uma vida extremamente ocupada como advogado e
tenha uma jovem família. Um dia, depois de correr,
teve uma severa dor no peito. Imediatamente,
consultou seu médico, e exames mostraram que 90%
do fluxo sanguíneo não chegava a algumas partes de
seu coração. Ele ficou chocado ao saber disso. A
experiência de meu amigo me levou a pensar:
Quanto amor chega ao meu coração? Nós não
percebemos quão pouco fluxo de amor alcança
nosso coração e naturalmente quanto menos entra,
menos sai.
Como posso verificar o fluxo de amor para o meu
coração? Os sinais verdadeiros são contentamento
comigo e com os outros. O amor puro dissolve o
desejo por reconhecimento e respeito dos outros. O
amor puro vai também substituir arrogância por
humildade. O amor puro será tão preenchedor que a
minha resposta natural será compartilhar amor com
os outros. Eu não me sentirei vazio. Então, quão
saudável está o meu coração?

Cirurgia Cardíaca
Dependendo do meu check-up, posso necessitar de
cirurgia cardíaca. O coração precisa de três tipos de
amor para se tornar completamente saudável; assim,
algumas vezes, a cirurgia é necessária para
restabelecer o fluxo de amor.
Primeiro Procedimento Cirúrgico – A Abertura
do Meu Próprio Coração
Todos sabemos quais os ingredientes de um bom
relacionamento: respeito, confiança, honestidade,
franqueza, atenção, compaixão – e a lista continua.
Será que essas palavras descreveriam o meu
relacionamento comigo? Como eu me trato? Cuido
amorosamente do meu coração ou me ponho para
baixo, me agrido, me subestimo? Esse
comportamento autoagressivo parece estar no âmago
da minha dor de coração.
Nós todos queremos nos amar. Por que, às vezes,
isso é tão difícil? Somos educados para amar uma
imagem. Será que sou atraente, inteligente, bem-
sucedido? Estou tentando amar as próprias barreiras
e fachadas que construí ao redor de meu coração.
Elas não apenas impedem outros de se aproximarem
de mim, mas me impedem de me aproximar de mim
mesmo!
O primeiro procedimento cirúrgico remove a velha
autoimagem de meu corpo, meu status, minha
beleza, minha riqueza, e substitui isso pela
consciência de meu eu espiritual. Primeiramente,
começo a me aceitar como sou. Então, quando
descubro que meu estado original intrínseco é puro,
começo a me curar profundamente, e sentimentos
amorosos pelo meu eu autêntico e verdadeiro
emergem. Essa é a história da “Bela Adormecida”.
A parte bela e adorável de meu coração estava
trancada em um grande castelo escuro, coberto pelos
sofrimentos, dores e tristeza. O príncipe dá o beijo
da autoconsciência que me capacita a acordar e amar
o meu eu verdadeiro.

Segundo Procedimento Cirúrgico – Abrindo Meu


Coração para o Amor de Deus
O coração se tornara tão frágil e sensível, porque eu
sentia que não era digno de amor. Não podia aceitar
amor de ninguém, especialmente de Deus, porque
não me sentia digno.
Agora que descobri o meu eu autêntico e puro, essa
parte de mim pode aceitar o amor de Deus. Às vezes
gosto de me sentar em silêncio e me permitir ser
amado por Deus. Coloco todos os outros
pensamentos de lado. Esse amor é um tônico tão
revigorante que transforma um coração fraco em
forte, um coração quebrado em inteiro, um coração
vazio em preenchido, um coração fechado em
aberto. Esse é o verdadeiro amor que eu sempre
havia procurado, porque, por definição, amor
verdadeiro é amor que existe sempre. Esse amor não
pode me deixar.

Terceiro Procedimento Cirúrgico – Dar e Aceitar


Amor de Outros
Quando meu relacionamento com meu próprio
coração é forte e o coração de Deus está perto, tenho
a base para cuidar de meu coração em qualquer
situação. Não apenas para manter meu próprio
coração, mas minha interação com os outros ajuda a
curar o coração deles também.
No meu kit de manutenção do coração, carrego
algumas ferramentas especiais que irão ajudar a
manter meu próprio coração e o coração dos outros.
Antes de começar qualquer procedimento de
manutenção, preciso decidir que ferramentas serão
mais efetivas em cada situação. É sugerido, se
possível, ter alguns minutos de silêncio para
discernir claramente qual o procedimento e quais as
ferramentas necessárias.
A ferramenta desapego: essa ferramenta é
essencial para qualquer kit de manutenção do
coração. Para eu me tornar verdadeiramente
amoroso, devo ser desapegado. Isso parece
contraditório? Quando sou dependente, sou afetado e
influenciado por aqueles de quem sou dependente.
Qualquer palavra ou expressão facial pode afetar
meu humor. Entretanto, se eu usar a ferramenta do
desapego de envolvimento, o meu amor e suporte
poderá ser constante, independentemente do humor
dos outros.
A ferramenta bons votos: essa ferramenta é
incrivelmente versátil e pode consertar a maioria dos
corações. Ela surge da realização de que a fundação
dos relacionamentos positivos é ter bons
sentimentos. Essa ferramenta pode consertar o
cinismo e a desconfiança e pode ajudar a abrir
corações que estão fechados. Para que a ferramenta
seja efetiva, preciso reconhecer as qualidades
positivas da outra pessoa e ter o compromisso de
manter a minha visão naquelas qualidades
independentemente das flutuações deles.
A ferramenta perdão: essa ferramenta é
extremamente efetiva para limpar o lixo do passado.
Ela pode dissolver velhos sentimentos enferrujados e
limpar o ar. Assim que a ferramenta perdão é usada,
ela instantaneamente alivia a dor do coração e o
paciente comenta, “Ah, se eu tivesse usado essa
ferramenta antes!” Essa ferramenta funciona melhor
com corações partidos que simplesmente não
conseguem abandonar os sentimentos de raiva e
ressentimento.
A ferramenta respeito: essa ferramenta funciona
melhor com corações pesados; corações que
carregam o peso de muitos erros e falhas e quando
nós simplesmente não conseguimos ver nenhuma
beleza em nosso próprio coração. A crença
dominante é que eu não sou digno de amor e como
resultado disso, não há autorrespeito. Tais corações
esperam que os outros não os amem ou não gostem
deles. A ferramenta respeito reacende o
autorrespeito e começa a remover o peso.
A ferramenta meditação: essa é uma ferramenta
essencial em qualquer kit de manutenção do
coração. Quando o usuário sabe como utilizá-la,
torna-se especialista em cuidar de seu próprio
coração. Essa ferramenta nos mostra como checar
regularmente nosso próprio coração e verificar se o
fluxo de entrada e saída de amor verdadeiro está
regular. Um usuário experiente com essa ferramenta
pode diagnosticar instantaneamente se ocorreu um
bloqueio em algum lugar e começar a removê-lo.
Meu programa de manutenção do coração
O meu programa contínuo de manutenção do
coração necessita de uma dieta saudável e exercícios
regulares. Uma dieta saudável consiste de um
consumo balanceado de pensamentos e sentimentos
positivos e amorosos. Preciso ter cuidado para não
consumir pensamentos “gordurosos” de
autoapreciação negativa que obstruem o meu fluxo
de amor. Exercícios para o meu coração consistem
em dar amor aos outros. Se eu fizer esse exercício
diariamente, isso ajudará a manter o meu coração
saudável.
Quando eu tiver aprendido a arte de manutenção do
coração terei descoberto o segredo da essência de
uma vida feliz e plena.
Charles Hogg é diretor dos Centros de Raja Yoga
Brahma Kumaris na Austrália.

Anthony Strano aponta o caminho para uma


conversa com Deus
Quando o silêncio é profundo e preenchido de
essência, quando não há mais a ânsia pelo som,
quando há a completa concentração em Um, então o
pensamento, como uma flecha, encontra e funde-se
ao seu alvo
Lá, a alma humana não apenas tem um relance de
Deus, mas fica imersa total, absoluta e
completamente na pureza daquele Ser. Preenchida
com a pura luz que agora se tornou o seu ser, a alma
irradia essa energia sob a forma de paz e amor aos
outros como um farol vivo.
Silêncio é a ponte de comunicação entre o Divino
e o divino no ser humano
É no silêncio que descobrimos o que é mais
precioso. Silêncio espiritual é a colocação do
coração e da mente em prontidão para a
comunicação com Ele.
Não é comunicação baseada em palavras repetitivas,
teorias intelectuais, nem pedidos para que desejos
limitados sejam preenchidos. Comunicação sagrada
é a harmonização do eu original com o Eterno.
Silêncio espiritual nos traz energia pura da Fonte
Criadora. Energizados, rompemos o casulo da rotina,
e os horizontes ilimitados de uma nova visão abrem-
se para nós. Para libertar o eu da negatividade e da
rotina, precisamos de silêncio. Absortos em suas
profundezas, somos renovados. Nessa renovação, a
mente torna-se clara e capta uma diferente percepção
da realidade. A percepção mais profunda de todas é
a de nossa própria eternidade.
O silêncio é tão necessário para o nosso bem-estar
espiritual como o respirar é para a nossa vida física.
O silêncio conduz a nossa energia mental e
emocional a um ponto de concentração, um ponto de
estabilidade. Sem essa estabilidade interior,
tornamo-nos como marionetes puxadas para cá e
para lá pelos muitos diferentes fios das influências
externas. Esse ponto interno de estabilidade é a
semente da autonomia que corta os fios. Cessa a
perda de energia.

O silêncio cura
Silêncio é como um espelho. Tudo se torna claro. O
espelho não censura ou critica, mas ajuda a ver as
coisas como elas são, libertando-nos de todo tipo de
pensar errado.
Como o silêncio faz isso? O silêncio reaviva a paz
original do eu – uma paz que é inata, divina e
quando invocada, transborda, harmonizando e
curando qualquer desequilíbrio. O silêncio é
plenitude, e ele preenche suave e poderosamente de
forma consistente e ativa.
Para criarmos silêncio, voltamo-nos internamente.
Conectamo-nos com o nosso eu eterno, a alma.
Neste local de imperturbável tranquilidade como
num ventre eterno, o processo de renovação começa.
Lá, um novo padrão de energia pura é tecido. Neste
espaço introspectivo, refletimos e relembramos o
que havia sido esquecido por um longo tempo.
Concentramo-nos lenta e suavemente e, à medida
que o fazemos, aqueles padrões originais de amor,
verdade e paz emergem e são experimentados como
realidades pessoais e eternas. Através disso,
qualidades começam a entrar na vida. As qualidades
de algo mais puro e verdadeiro em nós.
Em silêncio, o ouvir nos guia à posição correta,
abrindo o canal da receptividade. A receptividade
alinha-nos. Um alinhamento muito necessário se
verdadeiramente desejamos conhecer e experimentar
Deus. Para termos receptividade, devemos nos
esvaziar de nós mesmos e permanecer limpos,
transparentes, simples, desprovidos de
artificialidade. Então, a genuína comunicação
começa.
À medida que ouvimos, entendemos; à medida que
entendemos, refletimos e gradualmente nos
movemos em direção à concentração. Concentração
ocorre quando estamos completamente absortos em
um único pensamento.
Onde há amor, a concentração é natural e estável
como a chama firme de uma vela irradiando sua aura
de luz. O pensamento no qual estamos absortos
torna-se o nosso mundo. Quando a mente humana
está absorta no pensamento sobre Deus, a pessoa
sente-se totalmente em união com Ele. Nessa ligação
silenciosa de amor, despertamos – não como parte
de um processo intelectual, mas como um estado de
ser. Esse despertar é quando estamos totalmente
conscientes da Verdade. Simultaneamente tornamo-
nos conscientes das ilusões em nós e do esforço
necessário para removê-las.
Esse despertar capacita-nos a perceber e responder
ao que normalmente não notaríamos quer em níveis
naturais ou sobrenaturais. Com relação ao eu,
tornamo-nos um ser verdadeiro.
Dentro do silêncio, nossos raios sutis e invisíveis de
pensamentos concentrados encontram-se com Deus.
Este é o poder do silêncio, que é frequentemente
chamado de “meditação”.
O som não pode alcançar este encontro com Deus. O
som, através de canções ou cânticos, pode apenas
louvar e glorificar a proximidade da união com o
Divino, mas não pode criá-la. Apenas o silêncio cria
a experiência prática de união.
Silêncio concentrado é a focalização sem palavras
e de pura atenção no Único
Amor por Ele torna a concentração fácil, estável e
preenchedora. Essa proximidade do eu com o
Supremo inevitavelmente inspira o desejo por
autotransformação; inspiração para melhorá-lo, para
torná-lo digno de realizar seu potencial original e,
onde for possível, compartilhar os frutos desse
potencial realizado com outros.
No silêncio, a mais profunda orientação da
consciência é o desejo de alcançar perfeição pessoal.
Esse desejo é o resultado do fluxo de energia
entrando na consciência humana e inspirando a
crença em seu próprio valor. Perfeição pessoal é
aceita como sendo possível. É a fé dada por Deus
como um presente para a alma. A possibilidade de
perfeição é aceita, porque a alma sabe que ela não
está sozinha em seus esforços; ela tem o constante
suporte do Amor Divino para alcançar seu objetivo.
Em sua conexão com Deus, a alma torna-se
preenchida. Ela se sente completa, ela encontrou o
que procurava.
O Amor Divino funciona especialmente através do
silêncio; a alma é despertada de seu sono de
ignorância e recebe vida nova como na história da
Bela Adormecida. A alma é a Bela Adormecida,
Deus é o príncipe e a ignorância é a bruxa que lança
seu feitiço mágico de sono sobre a princesa.
O amor de Deus pela alma é tal que não é bloqueado
por nenhuma escuridão ou barreira, mas alcança a
alma para acordá-la, trazendo-a de volta à vida, de
volta à realidade. O amor quebra as correntes do
encantamento.
É através do Amor que eu, a alma, sou acordada e
sou capaz de reconhecer a minha eternidade. A
minha realidade é muito mais do que a minha
aparência material. A minha eternidade é a minha
realidade. Esta é a verdade da minha existência. Em
grego, a palavra para verdade é alithea, que significa
“não esquecer”. O ser humano está sob um
esquecimento muito profundo, uma amnésia do
espírito. Não podemos alcançar o estado de
despertar o nosso verdadeiro estado com nossas
próprias habilidades intelectuais. A aquisição da
Verdade não é uma questão de esperteza.
Apenas podemos despertar quando Deus nos
ajuda a nos lembrarmos
Lembrar é realmente conhecer, é a Verdade.
Para alcançarmos mudança interior, o silêncio tem
que estar preenchido com amor, não apenas
preenchido com paz. Muitos pensam que é suficiente
apenas experimentar paz no silêncio da meditação
para se alcançar transformação da consciência. A
paz estabiliza; a paz harmoniza e aquieta
suavemente. A paz coloca a fundação. No entanto, o
amor inspira ativamente; amor é o catalizador para a
mudança; o amor move o universo. O amor move
todas as coisas em direção à sua liberdade e
felicidade originais
Ambos, paz e amor são necessários.
Em sua forma arquetípica, ambos vêm de Deus, a
Fonte imutável e universal. É este Deus preenchido
de silêncio que devolve o estado original aos seres
humanos e a essa terra.
Em silêncio, realizamos que este silêncio não é
simplesmente um retorno às raízes, mas, mais que
isso, é um retorno à semente, ao início; é um retorno
a Deus, um retorno ao eu, um retorno ao
relacionamento correto.
Anthony Strano foi Diretor dos Centros da Brahma
Kumaris na Grécia, Hungria e Turquia. Ele faleceu
em 2014. Este artigo foi extraído de seu livro O
Ponto Alfa publicado pela Editora Brahma Kumaris
em 2005.

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