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quê?
10/12/2017, 0 Comments
Segundo a Folha de São Paulo, os cotistas vão bem em geral, em notas, mas se dão mal
em “Exatas” (Folha, 10/12/2017). Por que cotistas vão mal em “Exatas”? Se saem pior em
matemática por uma razão simples: o brasileiro de um modo geral tem uma péssima
educação matemática. As causas são as mais fáceis de apontar, mas sanar os problemas
não é coisa que se vá conseguir de modo espontâneo, apenas pelo “desenvolvimento
geral do país”.
Além disso disso, há o problema específico, também de ordem cultural: que o Brasil,
colônia portuguesa com forte influência francesa, nunca foi um país que superou o que os
educadores do passado chamavam de “beletrismo”. Somos um povo que adora o curso de
Direito – e se este ficar pior do que já está, mais adorado irá ficar! Nossa intelectualidade
sempre foi do campo da oratória. Até nosso curso de filosofia mostra isso, onde a
disciplina de Lógica é o terror do estudante. Gostamos de pensar sem pensar, ou seja,
pensar ilogicamente.
Isso tudo se associa a um ensino não conceitual de matemática. O povo brasileiro faz uma
ideia de que matemática é “fazer conta”. Matemática é “cálculo”, no sentido ruim da
palavra. Mas, na verdade, matemática é conceito, não cálculo. Para fazer cálculo há a
máquina de calcular. Uma função é um vetor que por sua vez é uma matriz. As linguagens
matemáticas falam, em geral, da mesma coisa. Tendo o conceito, troca-se de “frente” de
ensino em matemática de modo bastante fácil. Mas não é assim que as coisas funcionam
no ensino brasileiro. A cada nova “frente” (álgebra, geometria analítica, matrizes e
determinantes, números complexos e probabilidade etc.) começa-se a ensinar “tudo
novamente”. Os alunos são tratados como burros e, então, viram burros. O erro todo já
começa lá nos primeiros anos de ensino, no âmbito da aprendizagem das operações
básicas. Tudo é tratado a partir de “macetes”, e não por meio de conceitos. O resultado é
que um aluno “bom” de matemática, depois, em outras disciplinas, se revela medíocre,
pois não aprendeu a pensar conceitualmente.
Nesse último caso, é necessário uma intervenção dos próprios matemáticos brasileiros –
os inteligentes, que não foram vítima desse tipo de educação. A conversa sobre conceitos
precisa ser incentivada. Os concursos precisam cobrar os conceitos matemáticos. Os
cursos superiores que envolvem “Exatas” não podem ceder nisso. Não se pode ter
engenheiro de cabeça dura no Brasil como temos hoje. Não se pode ter economista com
tanto blá-blá-blá e que não tem aptidão conceitual em matemática. Isso tudo é uma
afronta!
A prova de que isso é possível é que, quando vamos para um grupo tratado como elite da
matemática, conseguimos bons resultados. Não é raro os brasileiros, por meio de grupos
pequenos, incentivados por algum professor abnegado, se sobressair em concursos
internacionais de matemática.
Paulo Ghiraldelli, 60, filósofo, professor (por mais de dez anos) de matemática em
Cursinhos Pré-Vestibulares