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Uma breve comparação entre

Budismo e Espiritismo

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As Quatro Nobres Verdades

- Budismo

1.a Verdade: Da existência do sofrimento (Impermanência,


Insatisfatoriedade, Impessoalidade)

As quatro nobres verdades constituem a base do Budismo, tendo a


constatação da existência do sofrimento e de que todos os seres
viventes estão sujeitos a ele como o ponto inicial de sua estrutura
lógica.
Desde o instante em que nascemos neste mundo, estamos sujeitos
ao sofrimento. Se crianças necessitamos do amparo dos adultos para
nossas minimas necessidades, se adultos temos que lutar por nossa
sobrevivência e daqueles que nos são caros, se atingimos avançada
idade, sentimos o declinio das forças fisicas e a aproximação da
morte. Durante a vida, passamos pelas mais diversas situações, pela
perda dos entes queridos, pelas doenças e estamos sujeitos a
sermos vitimas de acidentes e violências diversas.

2.a Verdade: Da origem do sofrimento

Para Buda, a origem do sofrimento está relacionada a ignorância,


sofremos porque tomamos o mundo material a nosso redor como
realidade última e objeto de nossas ambições. Sofremos porque, em
nosso egoísmo, nos apegamos aos objetos exteriores e queremos
eternizar o que é transitório. Tanto quanto o sofrimento, o mal é
resultado da ignorância do ser. Mal é tudo que causa sofrimento ao
próximo e próximo no sentido mais amplo possível, abrangendo
todos os seres viventes.

3.a Verdade: Da cessação do sofrimento

O sofrimento pode ser extinto, extinguindo-se o motivo que o gera,


a ignorância e a ilusão de um "eu". Com o fim do "eu" termina o
egoísmo e o apego aos objetos passageiros. Em lugar do egoismo,
surgem a Sabedoria e a Compaixão. Não haverá mais sofrimento
para o ser iluminado, e um mundo composto de uma maioria de
seres iluminados, será um mundo feliz.
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4.a Verdade: O caminho que conduz a extinção do sofrimento

De nada vale conhecer uma verdade se não for vivenciada. E as


regras práticas do Budismo, expressas no Caminho Óctuplo, levam
diretamente a vivenciar o desapego ao eu e ao egoismo. Não são
dogmas, mas regras de vida que se bem aplicadas tornarão o ser,
um ser compassivo e sábio:

1. Palavra Correta (ser verdadeiro e justo no falar)


2. Ação Correta (agir sempre de acordo com o bem de
todos, ser compassivo)
3. Meio de Vida Correto (viver corretamente, sem
prejudicar a ninguém e fazendo o bem sempre que
possivel)
4. Esforço Correto (procurar sempre melhorar-se a si
mesmo e buscar a verdade)
5. Plena atenção Correta (prestar atenção em tudo o que
se faz, para ter a visão correta do que se faz e se passa)
6. Concentração Correta (aprender a concentrar-se, para
chegar ao conhecimento de si mesmo e da essência das
coisas)
7. Pensamento Correto (saber pensar e pensar de
maneira correta de maneira a controlar a si mesmo)
8. Correta Compreensão (procurar compreender
verdadeiramente, procurar ser sábio)

Em resumo, a vivência pessoal que pode ser resumida em:


- Conduta Ética (palavra correta, ação correta e meio de vida
correto);
- Disciplina mental (Esforço Correto, Plena Atenção e Concentração);
- Sabedoria (Pensamento correto e correta compreensão);

- Espiritismo Apesar da questão do sofrimento não ser o ponto


inicial da Doutrina dos Espíritos - cujas bases são a constatação da
sobrevivência do espírito após a morte e da sua possibilidade de
comunicação conosco - ela também reconhece sua existência e
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classifica nosso mundo como de "provas e expiação".
Para o Espiritismo, o sofrimento é causado pela ignorância.
Ignorância de que o mundo material é transitório, de que acima de
tudo o ser humano e todos os seres viventes, são espíritos em
evolução. O sofrimento cessa com o progresso espiritual, com o fim
do egoismo e com a clara compreensão de que os acontecimentos
da vida material são, em última análise, secundários frente a
realidade maior do espírito. Provas e expiações, do ponto de vista do
espírito liberto da matéria, são rápidas lições na sua longa jornada
evolutiva. Para o espírito adiantado, nada mais pode lhe afetar a
serenidade espiritual, sendo que nele, a "caridade" - o amor ao
próximo - e a "sabedoria", lhe conduzem os atos.
As regras morais espíritas podem ser deduzidas das leis naturais -
ou Divinas - que são apresentadas no "Livro dos Espíritos", no livro
terceiro. Estas regras são aprofundadas no "Evangelho Segundo o
Espiritismo", onde se mostra que a moral espírita é a mesma moral
contida nos ensinamentos de Jesus. No livro "Céu e Inferno", se
aprofunda a questão da lei de Causa e Efeito, se veem os resultados
da vivências destas regras.

As leis morais, apresentadas no Livro dos Espíritos são:

 Lei de Adoração: "É a elevação do pensamento em direção a


Deis. Pela adoração, o ser humano aproxima de Deus a sua alma".
(questão 649). " A verdadeira adoração á do coração. Em todas as
suas ações, lembrem sempre que o Senhor os observa" (questão
653) "Deus prefere aqueles que o adoram do fundo do coração,
sinceramente, praticando o bem e evitando o mal, àqueles que
acreditam honrá-lo por meio de cerimônias que não os tornam
melhores para os seus semelhantes. (...)"(questão 654).

 Lei do Trabalho: "O trabalho é uma lei da Natureza e por isso


mesmo é uma necessidade (...)" (questão 674) "O Espírito também
trabalha, como o corpo. Toda ocupação útil é um trabalho" (questão
675) "O forte deve trabalhar para o fraco; na ausência de uma
família, a sociedade deve ampará-lo: é a lei de caridade". (questão
685a).

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 Lei de Reprodução: "(...) Sem a reprodução, o mundo corporal
desapareceria" (questão 686) O casamento, ou seja, a união
permanente de dois seres "é um progresso na marcha da
humanidade" (questão 695). O efeito da abolição do casamento
sobre a sociedade humana seria "o retorno à vida animal" (questão
696).

 Lei de Conservação: O instinto de conservação é uma lei da


Natureza "(...) todos os seres vivos o possuem, seja qual for o grau
de sua inteligência (...)" (questão 702) "Porque todos devem
colaborar nos desígnios da Providência.. Foi por isso que Deus lhes
deu a necessidade de viver. A vida é necessária ao aperfeiçoamento
dos seres (...)" (questão 703) "O instinto de conservação foi dado a
todos os seres contra os perigos e os sofrimentos. Fustiguem seu
Espírito e não o seu corpo, mortifiquem o seu orgulho, sufoquem o
seu egoísmo, que se assemelha a uma serpente que lhes devora o
coração e farão mais por seu adiantamento do que pelos rigores que
não pertencem mais a este século" (tratando dos sofrimentos
"voluntários" - questão 727).

 Lei da Destruição: Todos os seres vivos, no mundo material,


nascem e morrem. A morte, na natureza, é uma necessidade, pois é
um instrumento de transformação. A vida material em sí mesma é um
instrumento para o progresso do espírito, e a morte é o término de
um ciclo, que não destrói o principio inteligente - o espírito - que
continua a existir em outros planos da vida e que volta a renascer.
Em nosso mundo, na natureza, a lei de destruição é um instrumento
para manter o equilíbrio das espécies e garantir seu contínuo
aperfeiçoamento. O homem, ser com inteligência desenvolvida, no
trato com os animais, deve comportar-se sem crueldade e não
destruir vidas sem necessidade - como por exemplo no caso dos
animais daninhos, cujas populações devem ser controladas - toda
destruição, pelo prazer de destruir indica "predominância da
bestialidade sobre a natureza espiritual. Toda destruição que
ultrapassa os limites da necessidade é uma violação da lei de Deus.
Os animais destroem apenas para sua necessidade; o homem,
que tem o livre-arbítrio, destrói sem finalidade. Prestará contas do
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abuso da liberdade que lhe foi conferida, pois nestes casos, ele cede
aos maus instintos" (questão 735). A matança de outros seres
humanos, é um crime aos olhos de Deus, pois "aquele que tira a vida
de seu semelhante, interrompe uma vida de expiação ou de missão e
nisso está o mal " (o espírito é imortal, assim o criminoso atinge o
corpo físico, sem destruir o ser em sí mesmo). Mesmo na guerra a
destruição de outros seres é condenável pois a guerra significa
"predominância da natureza animal sobre a espiritual e satisfação
das paixões. Nesse estado de barbárie, os povos conhecem apenas
o direito do mais forte (...)" (questão 742) e ela desaparecerá da face
da Terra "quando os homens compreenderem a justiça e praticarem
a lei de Deus. Então todos os povos serão irmãos". (questão 743).

 Lei de Sociedade: "Deus fez o homem para viver em


sociedade. Deus não deu em vão ao homem a palavra, bem como
todas as outras faculdades necessárias à vida de relação" (questão
766). "Nenhum homem possui todos os conhecimentos; e é pela
união social que eles se complementam uns aos outros, a fim de
assegurarem o bem-estar mútuo e progredirem. Eis porque, tendo
necessidade uns dos outros, são feitos para viver em sociedade e
não isolados" (comentário de Kardec a questao 768).

 Lei do Progresso: "A humanidade progride por meio da


melhora gradativa dos indivíduos que se esclarecem (...) Pela
pluralidade das existências, o direito à felicidade é o mesmo para
todos, pois ninguém é deserdado pelo progresso (...)" (comentários
de Kardec a questão 789). Uma civilização completa se reconhecerá
"pelo desenvolvimento moral (...) somente terão o direito de dizerem-
se verdadeiramente civilizados, quando tiverem banido de sua
sociedade os vícios que a desonram e que vivam como irmãos,
praticando a caridade cristã (...)" (questão 793)

 Lei de Igualdade: "Todos os homens são submetidos às


mesmas leis naturais; todos nascem com a mesma fragilidade, estão
sujeitos às mesmas dores; o corpo do rico passa pelo mesmo
processo de destruição que o do pobre. Deus não concedeu,
portanto, superioridade natural a nenhum homem, nem pelo
nascimento, nem pela morte: são todos iguais diante
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dele" (comentário de Kardec à questão 803) "Deus criou todos os
espíritos iguais, mas cada um individualmente viveu mais ou menos
tempo e por conseguinte granjeou maior ou menor número de
aquisições. A diferença está no grau de experiência e na vontade,
que é o livre-arbítrio (...) (questão 804) "Assim, a diversidade de
aptidões do homem não se relaciona com a natureza íntima de sua
criação, mas com o grau de aperfeiçoamento que tenha chegado
como espírito (...)" ( comentário de Kardec à questão 805).

 Lei de Liberdade: O homem é dotado de um livre-arbitrio


relativo a seu grau de evolução e ao resultado de suas ações. A
fatalidade com se entende vulgarmente, não existe. Somos hoje o
que fizemos de nós mesmos ontem e seremos amanhã o que
construirmos hoje. Desta maneira se pode dizer que fatalidade existe,
quando entendida no sentido da "posição que o homem ocupa na
Terra e as funções à ela inerentes, como conseqüência do genêro de
existência que o Espírito escolheu, como prova, expiação ou missão.
Sofre ele, fatalmente, todas as vicissitudes dessa existência, e todas
as tendências, boas ou más, que lhe são próprias; mas a isto se
reduz a fatalidade, porque depende de sua vontade ceder ou não a
estas tendências. Os detalhes dos acontecimentos estão sujeitos às
circunstâncias que ele mesmo provoque, por seus atos, e sobre os
quais podem influir os Espíritos, pelos pensamentos que lhe
sugerem" (comentários de Kardec - 872)

 Lei de Justiça, Amor e Caridade: "A justiça consiste no


respeito aos direitos de cada um" (questão 875). O verdadeiro
sentido da caridade, como a entende Jesus é "Benevolência para
com todos, indulgência para com as imperfeições alheias, perdão as
ofensas" (questão 886). "A lei de amor e de justiça proíbe fazer ao
outro o que não queremos que nos seja feito; condena, por esse
mesmo princípio, todo meio de ganho que seja contrário a essa
lei". (comentário de Kardec à questão 884).
A máxima por excelência que define a moral espírita, e resume
todas as leis morais, é "Fora da Caridade não há salvação",
entendendo-se por caridade o amor ativo aos semelhantes e não
simplesmente a "esmola" material. É equivalente ao "Amar a Deus
sobre todas as coisas e ao próximo com a si mesmo".
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- Análise

"O verdadeiro Espírita não é o que crê nas comunicações, mas o que
procura aproveitar os ensinamentos dos Espíritos. De nada adianta
crer, se sua crença não o faz dar sequer um passo na senda do
progresso, e não o torna melhor para o próximo" - Máximas
extraídas do ensinamento dos espíritos, Allan Kardec, O Espiritismo
em sua mais simples expressão.

Tanto o Espiritismo como o Budismo enfatizam a necessidade da


vivência de seus ensinamentos. Conhecimento sem prática é inútil.
As quatro nobres verdades, constatando que o sofrimento é resultado
de nossa ignorância e nos mostrando os meios para supera-lo, são
perfeitamente concordantes com os ensinamentos espíritas. A
vivência delas se enquadra dentro das leis morais reconhecidas
pelos Espíritas e são maneiras diferentes de expressar as mesmas
regras morais ensinadas por Jesus. A diferença na enfâse dada ao
sofrimento, que no Budismo é o ponto de partida e para o Espiritismo
uma conseqüência da inferioridade de nosso mundo, não chega a ser
motivo de divergência. É interessante porém o leitor ter em mente
essa pequena sutileza.

Para o Espiritismo o objetivo do progresso espiritual é a felicidade


do ser, consequentemente também a libertação do sofrimento, porém
o próprio sofrimento pode ser um instrumento benéfico para o espírito
atingir a felicidade - mostrando-lhe as conseqüências de seus erros,
incentivando-o ao esforço para progredir, forçando-o a avançar
quando estagnado. Como o Espiritismo considera a lei do progresso
uma lei natural, a qual todos os seres estão sujeitos, além das
situações decorrentes da lei da Causa e Efeito há outras escolhidas
pelo próprio espírito. Vidas entre grandes dificuldades, situações bem
suportadas pelo espírito, servem-lhe de oportunidades de testar seu
valor e de adquirir conhecimentos e virtudes que o auxiliarão no seu
progresso espiritual.

III - Questões Filosóficas


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Objetivos

- Budismo

"Segundo o Budismo, é o homem que traça a rota do seu próprio


destino. Assim, Gautama Buda, exortava seus discípulos a que eles
mesmos fossem seus próprios refúgios, ou ajudas. Estimulava em
cada um o autodesenvolver-se, porque, mediante seu próprio esforço
e dedicação, o homem tem em suas mãos o poder de libertar-se da
escravidão, da ignorância e de todo o sofrimento" (cap. "Budismo
como Ciência, Moral e Filosofia", Budismo, Psicologia do
Autoconhecimento).

O Budismo busca a transformação do ser através da destruição da


ilusão do "eu", superação da ignorância. Compaixão e sabedoria
como resultado da destruição total do egoismo. Libertação do
sofrimento encerrando-se o ciclo de causa e efeito através do
desapego ao resultado das ações, fim do "eu" e do "meu"(sem que
isso signifique exatamente extinção total do ser); Na escola
Mahayana, uma grande ênfase é dada ao ideal do Bodhisattva. O
Bodhisattava é o ser que já atingiu todas as condições para a
libertação final, para o Nirvana, porém prefere manter-se em contato
com este mundo a fim de auxiliar na libertação dos demais seres. O
voto do aspirante ao Bodhisattva, é justamente de buscar o despertar
em beneficio de todos.

- Espiritismo

"O objetivo essencial do Espiritismo é melhorar os homens, no que


concerne ao seu progresso moral e intelectual" Máximas extraídas
do ensinamento dos espíritos, Allan Kardec, O Espiritismo em sua
mais simples expressão."É assim que, pela prática do Espiritismo e
com as instruções dos Espíritos elevados, pode o homem adquirir
essa preciosa ciência da vida: a disciplina das emoções e das
sensações, o domínio de si mesmo, essa arte profunda de se
observar e, depois, de se assenhorear dos secretos impulsos de seu
próprio ser". Léon Denis, Aplicacação Moral e Frutos do Espiritismo,
No Invisível – FEB
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O Espiritismo busca a transformação do ser através de sua
reforma moral, com a superação do egoismo e o desenvolvimento de
virtudes como a caridade e a sabedoria. Pela palavra "caridade"
entende-se, na Doutrina Espírita, o amor ao próximo em sua
expressão mais sublime, já a palavra "sabedoria" significa o uso ético
dos conhecimentos adquiridos, inclusive das leis universais, como a
de causa e efeito. Como conseqüência do progresso espiritual
resultante, há a libertação do sofrimento e o fim da necessidade do
espírito reencarnar-se, por não necessitar mais do aprendizado
proporcionado pelo ciclo de reencarnações. Assim descreve
Kardec as caracteristícas dos espíritos que atingiram esse estágio de
progresso:

Espíritos Puros: "Percorreram todos os graus da escala e se


despojaram de todas as impurezas da matéria. Havendo atingido a
soma de perfeições a que a criatura é suscetível, não têm mais a
sofrer nem provas, nem expiações. Não estando mais sujeitos à
reencarnação nos corpos perecíveis, vivem a vida eterna que
desfrutam no seio de Deus" (cap. Dos Espíritos, O Livro dos
Espíritos, Allan Kardec).

- Análise

O resultado da correta prática do Budismo leva aos mesmos


resultados da prática da Doutrina Espírita. Os dois caminhos
espirituais resultam na libertação do sofrimento, pelo fim do apego ao
mundo material e ao "eu" egoísta. O "Iluminado" Budista corresponde
ao conceito de "Espírito Puro" dos Espíritas.
É muito importante notar que as palavras "compaixão" para os
Budistas e "caridade" para os espíritas, tem sentido mais amplo que
o empregado na conversação cotidiana. A compaixão budista, longe
de ser um sentimento de piedade, é o interesse profundo e amoroso
pelo destino de todos os seres e se reflete na ação de ajuda-los a
encontrar seu caminho de iluminação. A caridade espírita, também
está longe de ser a esmola ou simplesmente a ajuda material, é o
amor fraterno em ação, representando tanto o interesse pelo bem-

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estar do próximo, como o desejo mais profundo de auxilia-lo na
busca da verdadeira felicidade.

Ambos, compaixão e caridade, nascem no ser a partir da


compreensão de que somos mais do que um corpo material, de que
estamos ligados a todos os seres e compartilhamos o mesmo
destino. A felicidade, a libertação do sofrimento, é o objetivo de todas
as criaturas e trabalhar em prol deste objetivo, auxiliando a todos, a
meta mais nobre a que o ser pode almejar.

A questão da Causa Primeira

- Budismo

"Certa vez, na floresta Simsapa do Kosambi (perto de Allahabad),


pegando algumas folhas na mão, perguntou aos discípulos: - Que
pensais, bhikkhus ? Quais as mais numerosas ? Essas poucas folhas
na minha mão, ou as que estão na floresta ?
- Senhor, certamente as folhas da floresta são muito mais
numerosas!
- Da mesma forma, bhikkus, do que sei não disse tudo e o que não
divulguei é muito mais. E por que eu não lhes disse ? E por que eu
não lhes disse ? Porque isto não é util e não conduz ao Nirvana"
(Samyutta-Nikaya).(...) Buda explicou a Malunkyaputra que a vida
espiritual não depende de opiniões metafísicas. Qualquer que seja a
opinião sobre estes problemas, existe sempre o nascimento, a
velhice, a decrepitude, a morte, a desgraça, as lamentações, a dor, a
angústia - "logo, declaro: a cessação de tudo isto é o Nirvana ainda
nesta vida".
- Por conseguinte, Malunkyaputra, considere explicado o que
expliquei, e o que não expliquei, como não-explicado. Não esclareci
se o universo é eterno, ou não é, etc., etc., porque não é útil e não
está fundamentalmente relacionado com a vida espiritual, não
conduzindo ao desapego, à cessação, à tranqüilidade, à penetração
profunda, à realização, ao Nirvana. Estes são os motivos pelos quais
não falei. Que foi que expliquei ? Expliquei a existência do
sofrimento, o aparecimento ou a origem do sofrimento, a cessação
do sofrimento e o caminho que conduz à cessação do sofrimento.E
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por que expliquei isto ? Porque é útil e está fundamentalmente
relacionado à vida espiritual que conduz ao desapego, à cessação, à
tranquilidade, à penetração profunda, à libertação, ao
Nirvana". Trechos do cap. "Contra Especulações Metafísicas",
Budismo, Psicologia do Autoconhecimento
O Budismo não vê objetivos práticos nas questões envolvendo a
origem do Universo e sua Causa Primeira. Considera que a essência
do ser é eterna e que a questão se há uma "Causa Primeira" ou um
criador não são importantes para seu destino. Assim, não acredita
em um "Deus Pessoal" e afirma que o destino do ser depende unica
e exclusivamente de seus atos e da lei de causa e efeito. O
problema de como o ser entrou no circulo de causa e efeito não lhe
interessa, mas sim como libertar-se dele. Todos os seres (animais,
vegetais, homens, "deuses", etc...), tem a mesma "essência", todos
com a mesma capacidade de iluminar-se e o mesmo desejo de
libertar-se do sofrimento.

- Espiritismo

" Que é Deus ? Deus é a inteligência suprema, causa primária de


todas as coisas" Questão nº 1, O Livro dos Espíritos "A ordem
universal reinante na Natureza, a inteligência revelada na construção
dos seres, a sabedoria espalhada em todo o conjunto, qual uma
aurora luminosa e, sobretudo, a universidade do plano geral regida
pela harmoniosa lei da perfectabilidade constante, apresenta-nos, já
agora, a onipotência divina como sustentáculo invisível da Natureza,
lei organizadora, força essencial, da qual derivam todas as forças
físicas, como outras tantas manifestações particulares suas.
Podemos, assim, encarar Deus, como um pensamento imanente,
residente inatacável na essência mesma das coisas, sustentando e
organizando, ele mesmo, as mais humildes criaturas, tanto quanto os
mais vastos sistemas solares, de vez que as leis da Natureza não
mais seriam concebíveis fora desse pensamento, antes são dele
eterna expressão". cap. Deus, Deus na Natureza, Camille
Flammarion.

A concepção espírita sobre o Universo, sua metafísica, tem raizes


cristãs, sua base é Deus, "Causa Primeira" de todas as coisas e de
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todas as leis morais e físicas que regem a criação. A lei de Causa e
Efeito faz parte do ordenamento moral do Universo, cujo objetivo é o
progresso do ser. O espírito, individualização do princípio inteligente,
começa da forma mais simples e, conduzido por ela, evolui até a
perfeição relativa[1 ] .

- Análise

Curiosamente a posição de Buda em não incentivar a especulação


sobre as origens do universo e a natureza de uma causa primária,
não é muito diferente da apresentada pelos Espíritos que orientaram
a Codificação Espírita. Quanto Kardec procurou aprofundar as
questões sobre a natureza de Deus, estes lhe responderam que há
coisas que escapam a nossa compreensão atual e que não nos faria
melhores o fato de especularmos a respeito, pelo contrário, poderia
nos induzir ao orgulho, levando-nos a tomar nossas hipóteses por
conhecimentos que efetivamente não temos:

"(...) Deus existe, não se pode duvidar, isto é essencial. Creiam-


me, pois ir mais além seria lançar-se num labirinto de onde não se
poderia sair. Este conhecimento não os tornaria melhores, mais
porventura mais orgulhosos, porque acreditariam saber o que na
realidade não sabem. Deixem, portanto, de lado todos esses
sistemas e teorias; há muitas coisas que cabe aos homens
desembaraçar-se. Isto lhes será mais útil do que pretender penetrar
no que é impenetrável". Resposta a questão 14 do Livro dos
Espíritos (da tradução de Sandra R. Keppler para a editora Mundo
Maior).

A principal diferença entre o Budismo e o Espiritismo está na


importância que dão a questão sobre a existência de Deus, ou, em
outras palavras, ao reconhecimento de uma "Causa Primeira" de
todas as coisas.

Para o Espiritismo o "problema do ser, do destino e da dor" - o


"pôrque da vida" - está intrinsicamente ligado a resposta para esta
questão. Na filosofia espírita o ciclo de encarnações - o samsara dos
Budistas - nada mais é que um recurso didático na longa jornada
evolutiva do espírito.
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É a existência da inteligência suprema, da Causa Primeira, que
explica porque há uma direcionalidade nas leis morais universais,
sempre no sentido de progresso - da brutalidade para a angelitude,
da ignorância para a sabedoria, do mal para o bem. As próprias leis
materiais são parte disto também, criando o cenário onde o espírito
exercita suas faculdades e progride rumo a libertação da ignorância e
do sofrimento.

Deus, sábio e justo, atua no Universo através de leis universais.


Sua essência nos é desconhecida, mas sabemos que é em última
análise a realidade suprema, que tudo mantém. A concepção
espírita, que pode ser classificada como de um "Deus Pessoal" [ 2 ],
defende que somos nós mesmos que construimos nosso destino,
através dos nossos atos, mas também postula que Deus, por ser
"amor", sempre nos abre caminhos para o progresso. Somos livres
para trilha-los, assim não nos isenta da responsabilidade de nossas
escolhas.

1 - Me parece que é correto dizer que Deus é o "limite" desta


evolução, no sentido matemático, por ser infinito em perfeição. O ser
sempre tenderá a ele, mas jamais o igualará.
2 - "Quanto à visão do Deus Pessoal e Impessoal, é preciso não
esquecer que são posições humanas relativas à capacidade que
temos hoje de entender a Divindade, mas que, em realidade, nada
dizem sobre ela realmente. Acho que a Impessoalidade e a
Pessoalidade são aspectos derivados da posição que adotamos. Em
realidade, à Impessoalidade somos conduzido pela transcendência
divina, e à Pessoalidade somos induzido pela imanência. Se oramos,
nos relacionamos pessoalmente com o Divino, mas quando dizemos
quando erguemos os olhos para o infinito, a Impessoalidade nos
acorre. Como voce pode verificar mesmo considerando a
Impessoalidade há um poder de criação. Se há criação, há
momentos criativos." Elzio Ferreira de Souza, comentando um
esboço deste artigo e me explicando o que realmente significa o
conceito de "Deus Pessoal". Foi justamente nesta questão conceitual,
do que significa a crença em "Deus Pessoal", em contraposição a
concepção Budista, de não aceitar um "Deus Pessoal", que encontrei
os maiores obstáculos.
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O homem em sua essência

- Budismo

A percepção que o homem tem de sí mesmo, como de um


individuo distinto dos demais e com uma individualidade permanente,
é uma ilusão. O que entendemos como nosso "eu" é na realidade um
conjunto de circunstâncias e de agregados temporários que, na
ignorância, tomamos por um todo único. Estes componentes,
conhecidos tecnicamente no Budismo como "skandas", são cinco:

- O corpo;

- Os sentimentos;

- As percepções;

- Os impulsos e emoções;

- Os atos de consciência;

A combinação destes fatores se dá através das leis de causa e


efeito e eles ocorrem não só no mundo material, como também nos
mundos espirituais. O corpo sutil, espiritual, também é temporário e,
do mesmo modo que o fisico, um elemento sujeito as vissitudes da lei
de causa e efeito. O individuo, portanto, em sua essência, não
corresponde a uma entidade isolada, eterna, mas pode-se falar de
uma consciência individual - sem uma base física, como a
entendemos - que é o sujeito da lei de causa e efeito e, este sim,
eterno. Matthieu Ricard - no livro "O Monge e o Filósofo" - se refere a
esta consciência individual como um "fluxo de consciência". A este
fluxo de consciência, como resultado de suas ações se agregam os
cinco "skandas", resultando no ser material ou espiritual. A libertação
espiritual é descrita por Matthieu como a purificação deste fluxo até o
ponto de sua pureza máxima.

O ser que atinge a iluminação no Budismo, pelo menos no


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Tibetano, não deixa de existir, mas sua existência não está mais
sujeita ao ciclo de reencarnações ou presa as leis de causa e
efeito [1 ]. Completamente livre de todos os fatores que o prendem a
um corpo perecivel, seja nos mundos materiais, seja nos mundos
sutis - pois o Budismo também reconhece diferentes niveis de
existência - ele goza de uma paz absoluta e da compreensão total do
Universo. Sua "consciência" continua a existir - consciente de si
mesma - mas sem a ilusão de que é algo independente de todas as
outras consciências ou do Universo.

"O espírito junta-se então ao próprio espírito do Buda, essa


substância chamada espírito sutil, sem começo nem fim,
independente do corpo e do cérebro, e sem duvida a verdadeira
causa da consciência. Esse espírito sutil que se manifesta,
finalmente livre de todo apego, eliminou totalmente os obstáculos que
se opunham à visão 'da última natureza de toda a existência' (...) "

"- Aliás - diz o Dalai Lama - Buda jamais falou do nirvana. Sim, ele
indicou uma libertação dos renascimentos (o que só torna a noção
compreensível para um ocidental se ele admitir como fato o
encadeamento das transmigrações, o samsara), mas suas
indicações param por aí. Daí uma multiplicidade de interpretações.
Você me pergunta o que é o nirvana. Eu lhe respondo; uma certa
qualidade do espírito ". (trechos do cap. "Para uma ciência do
Espírito", A Força do Budismo).

- Espiritismo

O homem é composto do corpo material, de um corpo sutil ou


fluídico denominado pelo Espiritismo de "perispírito" e do principio
inteligente, denominado espírito. A essência do espírito é
desconhecida para nós, por nos faltarem conceitos e percepções
suficientes para entende-lo.
[2 ]
O Espírito é criado por Deus simples e ignorante , ao longo de
sua evolução se utiliza do "perispírito", para poder atuar nos mundos
materiais, que lhe servem de estágio para o aprendizado e exercicío
de suas capacidades. O perispírito se modifica conforme o nivel de
evolução do ser e do mundo em que se encontra. O perispirito
desempenha papel importante como intermediário entre o espírito e a
16
matéria, sendo determinante na formação do corpo fisico quando do
processo de reencarnação (interferindo, selecionando, dirigindo,
complementando o código genético).

- Análise

"O fluxo de consciência é uma sorte de metáfora não distante


daquela outra: o Espírito é uma centelha" Elzio Ferreira de Souza,
trecho de e-mail sobre a questão da essência do ser.

A questão do ser humano em sua essência é bastante dificil de ser


analizada, o Budismo procura desvincular a essência do ser de um
ente individual e chega a imagens bastante abstratas. A melhor
comparação que vi, foi a de considerar o ser como uma "onda de
consciência" no infinito. Tal qual as ondas de luz, que sem um
suporte material individual, assim mesmo se propagam por seus
caminhos próprios no imenso oceano eletromagnético que é o
espaço. Esta "onda de consciência" - elo não material que liga
todas as existências do ser, dando consistência a uma lei de causa
de efeito - é que serve de "guia" a combinação dos componentes que
formam o ser, resultando em um corpo sutil e, quando necessário,
um corpo material. Ela é a base dos sentimentos, das emoções e até
do pensamento. Dificil dizer exatamente quais são seus atributos,
principalmente depois de atingido o Nirvana, mas me parece que se
poderia dizer que é a inteligência pura, o espírto em seu estado mais
abstrato.

Vale lembrar que para os espíritas, a palavra "espírito" significa o


"elemento inteligente" do ser, ou seja, a essência mesma , a qual se
agregam, para sua jornada evolutiva, o corpo espiritual - o perispiríto
- e o corpo físico. No Livro dos Epíritos, o espírito é descrito como a
individualização do principío inteligente e portanto é o que retém, em
última instância, a individualidade do ser. Um espírito puro é esta
individualidade em seu grau de perfeição e pureza máximos.
Do mesmo modo que não é possivel descrever-se exatamente o
que é o ser após ter atingido sua Iluminação, também não há como
descrever o que é o espírito:

17
" O Espírito não é fácil de analisar em sua linguagem. Para os
homens não é nada, porque o Espírito não é algo palpável; mas para
nós, é alguma coisa. Saibam-no bem, nenhuma coisa é o nada, e o
nada não existe ". (resposta a questão 23a, O Livro dos Espíritos)

1 - "(...) Os seguidores do Vaibhashika, entendem, portanto o


nirvana final em termos da total cessação do indivíduo. Deduz-se
que, quando o Nirvana final é atingido, o ser individual deixa de
existir.
Essa opinião não é aceita por muitas outras escolas budistas.
Há, por exemplo, uma objeção muito conhecida, de autoria de
Nagarjuna, que sustenta ser a conseqüência lógica da doutrina
Vaibhashika a de que ninguém atinge o Nirvana, porque o indivíduo
deixa de existir quando alcança o Nirvana. Portanto, esse
posicionamento é absurdo. (...)" (cap. "A Transformação através do
altruísmo", Transformando a Mente, XIV Dalai Lama)

2 - "Simples e ignorante, o que seria isto? A mim, parece-me que é o


ponto inicial da carreira do Espirito no reino hominal, ou seja o
estágio do ser no momento em que atinge o processo de
hominização. Poderíamos também dizer que é o momento em que
ele alcança o livre-arbítrio e descobre-se responsável: na linguagem
bíblica, descobre a própria nudez. (...) Outras questões, entre as
quais a 540, dá outra noção do Espírito do ponto de vista da
substância. O simples e ignorância é referência ética." Elzio Ferreira
de Souza, comentando em e-mail o uso desta expressão no artigo.

Na atualidade, os espíritas admitem que o princípio inteligente


evolui a partir das formas mais simples de existência. Nestas formas
rudimentares ele começa a aprender a se relacionar com a matéria e
aos poucos vai assenhorando-se da capacidade de organizar corpos
mas complexos, começa talvez pelas bactérias e seres unicelulares;
de seres unicelulares progride aos vegetais; dos vegetais aos
primeiros animais; destes animais simples aos animais superiores,
dotados de instintos desenvolvidos e rudimentos de inteligência; dos
animais mais inteligentes aos primatas ancestrais do homem; dos
primatas ao homem moderno. Milênios infindáveis de evolução, nos
18
dois planos de existência - material e espiritual - e em quantos
mundos forem necessários.

Durante esta evolução o desenvolvimento do perispírito


acompanha a complexidade dos organismos, influenciando o
processo de reencarnação e sendo por ele influenciado. É um dos
mecanismos por detrás do processo de seleção natural e de
evolução das espécies, estudado pelo seu lado puramente material
por Charles Darwin.

O livro "The Origin of the Species", de Darwin, que consagrou


cientificamente a teoria da evolução biológica das espécies, foi
publicado em novembro de 1859, depois do "O Livro dos Espíritos" e
provocou um grande abalo na opinião publica. A resistência
enfretada pelas novas teorias, principalmente no tocante a
descendência biológica do homem a partir dos primatas, permite
entender a cautela com que os Espíritos trataram a questão da
evolução espiritual na época de Kardec. Assim restringiram-se a
detalhar o progresso do Espírito a partir do momento em que,
atingido o estágio humano, ele sem maiores conhecimentos do bem
e do mal - simples e ignorante - começa a exercer escolhas que
determinaram seu passo rumo ao futuro.

Desta maneira, a expressão "simples e ignorante" pode assim ser


entendida, como comentou o Elzio, como uma descrição qualitativa
do estado do espírito no início do seu processo de desenvolvimento
humano, quando cruzou a fronteira entre o animal e o homem.
Também pode ser entendido, e neste sentido utilizei no texto, como o
"simples" das formas primitivas de vida e o "ignorante" da ausência
completa de qualquer sofisticação da inteligência - seja na forma de
controle da organização biológica, seja instintos seja a "inteligência"
humana propriamente dita.

É um grande mistério o início desta escala de evolução, pois como


os espíritos disseram ao final da resposta para a questão 450, citada
pelo Elzio, "é assim que tudo serve, tudo se encadeia na Natureza,
desde o átomo primitivo até o arcanjo, pois ele mesmo começou pelo
átomo. Admirável lei de harmonia, de que seus Espíritos limitados
não podem abranger o conjunto". Tal resposta deixa entrever a
19
possibilidade de que por detrás da organização da matéria, da
energia tão bem estruturada em particulas elementares sob as leis da
natureza, possa já estar atuando o principío inteligente em seus
primórdios. Na mesma linha de raciocinio, Ernesto Bozanno, cita em
seu livro "Os Animais tem Alma", um pequeno trecho de uma obra
mediunica:

O gás se mineraliza,
O mineral se vegetaliza,
O vegetal se humaniza,
O homem se diviniza.
(Old Truth in New Light, Lady Cathness)

Por toda a linha de evolução, o processo é progressivo. Um


espírito que atingiu o nivel evolutivo suficiente para nascer no reino
animal, não tem mais necessidade ou possibilidade de nascer em um
vegetal. Da mesma maneira, o espírito que atingiu o nivel dos
primeiros primatas não volta ao animal. Finalmente, o homem
moderno não teria como reencarnar no Australopitéco. A própria
sofisticação do perispírito - definido por Hernani Guimarães Andrade
como um modelo organizador biológico (vide seu livro Espírito,
Perispírito e Alma), por conduzir os processos reencarnatórios,
selecionando a bagagem genética e integrando-a as necessidades
karmicas do espírito - tornaria impossivel tal reencarnação. O "homo
sapiens" de nossos dias, só pode reencarnar como "homo sapiens",
ou, caso tenha a necessidade de reencarnar em outros mundos, em
um ser com uma organização nervosa equivalente em sofisticação.
Mesmo em um desterro a mundo mais atrasado, o ser até nasceria
em um hominídio primitivo culturalmente, mais ainda assim, que
reunisse as condições nervosas necessárias. Esta posição
filosófica - distinta da adotada pela metempsicose grega e pelo
Budismo - de que o ser humano sempre reencarna como ser
humano, justifica as respostas dos Espíritos as questões 592 a 610
(Os animais e o homem), em que apresentam os animais como seres
distintos dos homens. Estas questões, que levaram muitos espíritas a
negar a continuidade espiritual entre os reinos da natureza, podem

20
ser entendidas perfeitamente se considerada também a resposta a
questão 611:

"Duas coisas podem ter uma mesma origem e absolutamente não


se assemelharem mais tarde. Quem reconheceria a árvore, suas
folhas, suas flores e seus frutos no germe informe contido na
semente de onde saíram ? No momento em que o princípio
inteligente atinge o grau necessário para ser Espírito e entrar no
período de humanidade, não há mais relação com seu estado
primitivo e não é mais a alma dos animais, como a árvore não é a
semente. No homem, há somente de animal o corpo, as paixões que
nascem da influência do corpo e o instinto de conservação inerente à
matéria. Não se pode dizer, portanto, que tal homem é a encarnação
do Espírito de tal animal; logo a metempsicose, tal como a entendem,
não é exata."

Apesar da clareza desta resposta, foram necessários muitos anos


para que se formasse o consenso em torno da questão. Pouco
depois da época de Kardec, eminentes pesquisadores como Ernesto
Bozzano (vide seu livro "Os Animais tem alma ?") e Gabriel Delanne,
(vide seu livro "A reencarnação") apresentaram provas
inquestionaveis de que os animais tinham alma (espírito encarnado),
que sobrevive a desencarnação tal qual a alma humana. Mais ainda,
da mesma maneira, reencarnam e evoluem segundo as mesmas leis
do progresso e de ação e reação.

Nas últimas décadas, principalmente com a obra mediunica de


Francisco Cândido Xavier - veja-se, por exemplo, o livro "Evolução
em Dois Mundos" do espírito André Luiz - a resistência a idéia
praticamente desapareceu e hoje já é amplamente aceito que não há
seres privilegiados na criação.

"Evolução no Tempo: É assim que dos organismos


monocelulares aos organismos complexos, em que a inteligência
disciplina as células, colocando-as a seu serviço, o ser viaja no rumo
da elevada destinação que lhe foi traçada do Plano Superior, tecendo
com os fios da experiência a túnica da própria exteriorização,
segundo o molde mental que traz consigo, dentro das leis de ação,
reação e renovação em que mecaniza as próprias aquisições, desde
21
o estímulo nervoso à defensiva imunológica, construindo o centro
coronário, no próprio cérebro, através da reflexão automática de
sensações e impressões, em milhões e milhões de anos, pelo qual,
com o Auxílio das Potências Sublimes que lhe orientam a marcha,
configura os demais centros energéticos do mundo íntimo, fizando-os
na tessitura da própria alma.

Contudo, para alcançar a idade da razão, com o título de homem,


dotado de raciocínio e discernimento, o ser, automatizado em seus
impulsos, a romagem para o reino angélico, despendeu para chegar
aos primórdios da época quaternária, em que a civilização elementar
do silex denuncia algum primor de técnica, nada menos de um bilhão
e meio de anos. Isso é perfeitamente verificável na desintegração
natural de certos elementos radioativos na massa geológica do
Globo. E entendendo-se que a Civilização aludida floresceu há mais
ou menos duzentos mil anos, preparando o homem, com a benção
do Cristo, para a responsabilidade, somos induzidos a reconhecer o
caráter recente dos conhecimentos psicológicos, destinados a
automatizar na constituição fisiopsicossomática do espírito humano
as aquisições morais que lhe habilitarão a consciência terrestre a
mais amplo degrau de ascensão à Consciência Cósmica" André Luiz,
no livro Evolução em Dois Mundos.

Concepção deste mundo

- Budismo

"(...) convém esclarecer que a verdade do sofrimento, enunciada pelo


Buda em seu primeiro sermão, pertence à verdade relativa e não
descreve a natureza última das coisas, pois aquele que atinge a
realização espiritual goza de uma felicidade inalterável e percebe a
pureza infinita dos fenômenos: nele, todas as causas de sofrimento
desapareceram. Então, por que destacar tanto o sofrimento ? Para
tomar consciência, em um primeiro momento, das imperfeições do
mundo condicionado. Neste mundo da ignorância, os sofrimentos se
acrescentam uns aos outros: um de nossos pais morre, o outro o
segue algumas semanas depois. As alegrias efêmeras se
transformam em tormentos: parte-se para um alegre piquinique em
22
família e nosso filho é picado por uma cobra. A reflexão sobre a dor,
portanto, deve nos incitar a tomar o caminho do conhecimento. (...) "
Matthieu Ricard, Ação sobre o mundo e ação sobre sí mesmo, O
Monge e o Filósofo, Ed. Mandarim

A ilusão de um "eu" individual leva ao egoismo e a considerar as


coisas deste mundo como permanentes. Este apego leva ao
sofrimento. O homem deve libertar-se dessa ignorância,
compreender que tudo é impermanente (transitório) e aí terá atingido
a felicidade. O ser que age para se libertar da ignorância, seguindo
as regras do caminho óctuplo, vive longe dos extremos - nem o
ascetismo exagerado, muito menos o apego desmesurado aos bens
materiais - daí a expressão "caminho do meio". Pelo ideal do
Bodhisattva, há a valorização do esforço para melhorar o mundo e
trazer a felicidade para todos. O Budista deve sempre agir para
diminuir o sofrimento, onde e da maneira que lhe for possível.

- Espiritismo

"172 - Todas as nossas diferentes existências realizam-se na Terra ?


Não, vivemo-las nos diferentes mundos: as da Terra não são as
primeiras nem as últimas, porém das mais materializadas e distantes
da perfeição.173 - A cada nova existência corporal a alma passa de
um mundo a outro ou lhe é possivel viver muitas vidas no mesmo
planeta ? Pode reviver várias vezes no mesmo planeta, se não
estiver suficientemente avançada para passar a um mundo
superior." O Livro dos Espíritos

O mundo material é transitório, temos uma percepção limitada da


realidade devido as nossas limitações de entendimento e de
percepção. Como o mundo fisico é uma escola na jornada evolutiva
do ser, e as vissitudes da vida material desafios para o espírto, o
verdadeiro espírita deve sempre procurar melhorar a sí mesmo e,
consequentemente, melhorar também seu modo de agir no mundo.
Assim, pela lei de caridade e pela prática da sabedoria, o espírita
deve sempre procurar melhorar a situação de seu próximo e da
sociedade em que vive. O Espiritismo não aprova os extremos, nem
o ascetismo exagerado nem o apego aos bens materias. Somos
23
depositários temporários dos bens deste mundo e devemos
emprega-los do melhor modo possível para o bem de todos.- Análise
A primeira vista, em um estudo superficial, o Budismo parece ter
uma visão pessimista deste mundo, por sua aguda percepção do
sofrimento e de suas causas. Isso porém não corresponde a
realidade, pois faz parte das bases doutrinarias do Budismo a
conscientização de que é possivel superar-se o sofrimento e agir de
tal modo que se possa ter um razoavel grau de felicidade já nesta
vida. Desta maneira, a concepção do mundo - e consequentemente
da ação do homem no mundo - valoriza o esforço no sentido do bem
e do progresso.

O Espiritismo por outro lado, valoriza imensamente as


oportunidades de aprendizado oferecidas por este mundo material,
enfatizando que o correto agir, conforme as leis morais, resulta não
só no progresso individual como no coletivo. Para o Espiritismo ainda
estamos a caminho da verdadeira civilização, onde as leis de amor e
de justiça serão aplicadas em sua verdadeira extensão. Para que
esta civilização seja atingida, precisamos nós todos nos
empenharmos no esforço de reforma interior e consquente mudança
de comportamento.

Uma vez que se compreenda que somos espíritos,


temporariamente reencarnados em um corpo material com
finalidades educativas e que tudo neste mundo é transitório, se tem
uma nova visão do mundo e pode se atingir a felicidade relativa que
nosso nivel de progresso permite. A verdadeira felicidade só é
atingida com o progresso do espírito e sua depuração de todas suas
imperfeições.

O fim do egoismo, almejado tanto pelo Budismo, como pelo


Espiritismo, transformam o individuo e o mundo ao seu redor. Não há
o apelo para o abandono da ação no mundo, mas o redirecionamento
desta ação. O melhor exemplo dentro do Budismo é o próprio Dalai
Lama, em seu trabalho incansável - e pacifico, conforme as
diretrizes de Buda - em prol de seu povo.

Responsabilidade frente ao destino


24
- Budismo

Os fenômenos mentais têm como precursora a mente, fundam-se na


mente, são feitas da mente.
Se um homem fala ou age com mente corrupta,
Em conseqüência sofrimento o segue, como a roda
nos passos do boi (que puxa a carroça). Os fenômenos mentais têm
como precursora a mente,
fundam-se na mente, são feitas da mente;
Se um homem fala ou age com mente pura,
Em conseqüência felicidade o segue, como a sombra,
que não vai embora. Os versos gêmeos, Dhammapada

O homem é totalmente responsável por seu destino. Tudo o que


lhe ocorre é devido a lei de causa e efeito e ele tem o livre arbitrio
relativo (condicionado por seu carma passado, que o coloca em uma
situação mais ou menos dificil no presente) para agir e mudar seu
futuro. Não há graça divina ou intervenção de um criador no destino
individual de cada um. Grupos sociais - por serem formados de
individuos com atuação em comum, portanto com compromissos
similares com a lei de causa e efeito - também tem o seu "karma"
coletivo. Da mesma maneira que com o individuo, um grupo social é
totalmente responsável por seu destino, pois o que lhe ocorre é
conseqüência dos atos de seus menbros.
Importante notar que o ser - no ciclo de reencarnações - pode
nascer como qualquer criatura sensciente. Não há nada que impeça
que um homem renasça em um animal e vice-versa, se os seus atos
o levarem a tal condição.

- Espiritismo

"O nosso estado psíquico é obra nossa. O grau de percepção, de


compreensão, que possuimos, é o fruto de nossos esforços
prolongados. Fomos nós que o fizemos ao percorrer o ciclo imenso
de sucessivas existências. O nosso invólucro fluídico, sutil ou
25
grosseiro, radiante ou obscuro, representa o nosso valor exato e a
soma de nossas aquisições. Os nossos atos e pensamentos
pertinazes, a tensão de nossa vontade em determinado sentido,
todas as volições do nosso ser mental, repercutem no perispírito e,
conforme sua natureza, inferior ou elevada, generosa ou vil, assim
dilatam, purificam ou tornam grosseira a sua substância. Daí resulta
que, pela constante orientação de nossas idéias e aspirações, de
nossos apetites e procedimentos em um sentido ou noutro, pouco a
pouco fabricamos um envoltório sutil, recamado de belas e nobres
imagens, acessível às mais delicadas sensações, ou um sombrio
domicílio, uma lôbrega prisão, em que, depois da morte, a alma
restringida em suas percepções, se encontra sepultada como num
túmulo. Assim cria o homem para si mesmo o bem ou o mal, a
alegria ou o sofrimento. Dia a dia, lentamente, edifica ele seu destino.
Em si mesmo está gravada sua obra, visível para todos no Além. É
por esse admirável mecanismo das coisas, simples e grandioso ao
mesmo tempo, que se executa, nos seres e no mundo, a lei da
casualidade ou de conseqüência dos atos, que outra não é senão o
cumprimento da justiça" Léon Denis, O Espírito e sua forma, No
Invisível – FEB

O homem é totalmente responsável por seu destino. Além da lei de


causa e efeito, há outras leis morais, entre elas a do progresso.
Assim nosso livre arbitrio é relativo, limitado por nosso carma
passado, pelo nosso "estágio" de desenvolvimento e pelas nossas
necessidades educativas. Durante o período em que o ser
necessita do ciclo de reencarnações, para sua evolução, há uma
linha crescente de sofisticação dos corpos físicos utilizados para sua
manifestação no mundo material, através dos renascimentos. O
Espírito sempre evoluiu dos seres mais simples para os mais
complexos e, embora possa estacionar temporariamente em um dos
estágios, jamais regride. Assim, ao longo dos milênios, o vegetal se
tornará animal, o animal evoluirá até atingir o estágio de ser humano,
e o ser humano evoluirá até conseguir se tornar espírito puro, livre da
necessidade da reencarnação. A evolução do espírito, significa
também a evolução do seu perispírito, cada vez mais sutíl e apto a
servir de intermediário na ligação com corpos fisicos mais
sofisticados. A reencarnação de um espírito que já atingiu o estágio
26
da humanidade em um animal seria impossivel devido a própria
incompatibilidade do períspirito.

O ser humano compartilha a mesma natureza espiritual dos


demais seres sencientes, é diferente destes apenas por ser "mais
velho" na jornada evolutiva. Seu espírito aprendeu as primeiras lições
de vida - desenvolvendo os automatismos - nos vegetais, depois
aprendeu as sensações e os instintos no mundo animal e, agora, na
condição humana, tem como desafio aprender a usar a inteligência, a
emoção e a intuição.

A caminhada evolutiva, apesar de conquista individual de cada ser,


pode ser feita em grupos afins (tal qual nas escolas há grupos de
alunos que seguem juntos por diversas classes), com o amparo
mutuo. Familias, nações e mundos são grupos de individuos afins.
Estes grupos sociais estão sujeitos a compromissos comuns com a
lei de causa e efeito. Compromissos que são conseqüência da
atuação coletiva de seus membros ou das necessidades de
aprendizado compartilhadas por eles.

- Análise

Tanto o Budismo como o Espiritismo postulam a responsabilidade


do homem, individualmente ou como membro de um grupo social,
perante seu destino.

Deve-se notar que há uma interessante diferença na amplitude


aceita para os efeitos dos atos realizados pelo ser em sua existência.
Para o Budismo, em conseqüência de seus atos, o ser pode renascer
entre os reinos inferiores da natureza, mesmo depois de ter atingido
a condição de ser humano. Para o Espiritismo, por seus atos o
espírito pode estacionar, mas nunca regredir na escala evolutiva.
Para a filosofia espírita, a evolução tem componentes morais e
intelectuais. Nem sempre os dois são desenvolvidos pelo espírito no
mesmo ritmo e isso pode resultar em ações que parecem
incompatíveis com a situação aparente em que ele se encontra, mas
que na realidade são manifestações de imperfeições ainda não
superadas.

27
Atitude perante a Fé

- Budismo

"Exatamente como as pessoas verificam a pureza do ouro


queimando-o no fogo, cortando-o e o examinando numa pedra de
toque, da mesma forma, ó monges, deveis aceitar minhas palavras
depois de submetê-las a um exame crítico e não por reverência a
mim" Buda, citado pelo Dalai Lama no livro "Transformando a
Mente"."Sua fé deve ser racional, baseada na inteligência, para que
quando as pessoas questionarem e tentarem refutar sua crença e
prática você esteja apto a sustentar seus argumentos; não pode
cultivar uma fé cega. Por isso, deve basear sua crença em um
alicerce firme. Com inteligência, você estará invulnerável a
questionamentos. Do contrário, como dizem os mestres Kadampa, "a
fé isoladamente é como um cego, que pode ser levado por outra
pessoa a qualquer lugar se lhe faltar sabedoria". Assim, a fé
sustentada pelo conhecimento é indispensável à prática budista,
enquanto que crença e compaixão exercidas isoladamente são
características comuns a todas as principais religiões. Por isso,
cultivando fé com base no alicerce correto, você será racional e
firme". Dalai Lama, cap. Principais meditações Lamrim, O Caminho
da Felicidade.

A doutrina Budista fundamenta-se em constatações feitas por


Buda, que podem ser verificadas por qualquer pessoa. Naturalmente
o esforço de verificação exige longo trabalho de preparação interior -
pois o campo de pesquisas é a própria mente humana e tem por
ferramenta a meditação. Com uso da meditação, o homem pode
estudar a si mesmo e os seus processos mentais, desfazendo os
enganos que o prendem a ignorância e ao mesmo tempo
transformando-se para atingir a iluminação. Do ponto de vista
Budista, a meditação é uma disciplina espiritual que permite controle
sobre nossos pensamentos e emoções. Sob controle eles podem ser
analisados e selecionados. Podem ser focados em objetivos
determinados, levando a uma observação mais cuidadosa e
profunda. Basicamente há a meditação "shamatha" - permanência
28
serena - que mantém a concentração da atenção em um só objeto e
a meditação "vipasyana" - discernimento penetrante - em que além
da simples concentração da atenção, há o esforço do racioncínio em
compreender o objeto da meditação.

A importância da meditação e da transformação mental é tão


grande no Budismo que este desenvolveu uma psicologia bastante
interessante, com profundos conhecimentos sobre os processos
mentais, sua relação com as leis de causa e efeito e com a situação
do ser no mundo espiritual.

Além da verificação direta e da dedução, o Budismo também


reconhece como critério de verdade o testemunho - ou os
ensinamentos - de pessoas fidedignas. Neste caso, o que torna estas
pessoas fidedignas não é o seu conhecimento ou suas palavras, mas
sim sua vivência da doutrina. Mestres espirituais que através de anos
de estudo e de prática dos ensinamentos de Buda atingiram as
experiências de que dão testemunho.

O Budismo não desconhece os fenômenos mediunicos, que até


acabam ocorrendo como conseqüência das práticas de meditação,
mas devido a seu enfoque na iluminação pelo fim da ilusão do "eu",
na auto-análise, nos fenômenos interiores, não os faz objeto de seu
estudo.

- Espiritismo

"Fé inabalável é somente aquela que pode encarar a razão, face a


face, em todas as pocas da humanidade", Allan Kardec, Evangelho
Segundo o Espiritismo"Na dúvida, abstém-te, diz um de vossos
antigos provérbios. Não admitais, pois, o que não for para vós de
evidência inegável. Ao aparecer uma nova opinião, por menos que
vos pareça duvidosa, passai-a pelo crivo da razão e da lógica. O que
a razão e o bom senso reprovam, rejetai corajosamente. Mais vale
rejeitar dez verdades do que admitir uma única mentira, uma
única teoria falsa. Com efeito, sobre essa teoria poderíeis edificar
todo um sistema que desmoronaria ao primeiro sopro da verdade,
como um monumento construído sobre a areia movediça. Entretanto,
29
se rejeitai hoje certas verdades, porque não estão para vós clara e
logicamente demonstradas, logo um fato chocante ou uma
demonstração irrefutável virá vos afirmar a sua autenticidade".
Erasto, Influência moral do médium, O Livro dos Médiuns.

A ciência espírita se baseia necessariamente na existência dos


espíritos e sua intervenção no mundo material. A verificação destas
bases é feita pelo estudo das manifestações dos espíritos através
dos fenômenos mediunicos. Estas manifestações podem ser
espontâneas ou provocadas. O que caracteriza a manifestação dos
espíritos, frente a grande quantidade de fenômenos fisicos
existentes, é a vontade independente e a inteligência que
demonstram. O estudo das manifestações dos espíritos, longe de
ser um campo fácil de investigação, exige grande observação e
estudo, pois se lida com seres independentes e não forças cegas da
natureza. Como os fenômenos normalmente não são reprodutiveis a
vontade em um laboratório, há que se dedicar a anlisâ-los quando
ocorrem e considerar sempre seu conjunto.

Como, em essência, o homem é um espírito encarnado, existem


também fenômenos provocados pelo próprio "médium", classificados
sob a denominação de animismo, e que devem receber uma grande
atenção para não serem confundidos com as comunicações dos
espíritos e levarem a caminhos errados. O inconsciente, e suas
manifestações na personalidade, são também fenômenos animicos e
nesta categoria são estudados pelo Espiritismo desde o seu
surgimento.
O estudo das manifestações dos Espíritos, além do objetivo de
comprovação cientifica das bases da Doutrina, também tem o escopo
de aprofundar os conhecimentos sobre o Espírito, sua situação no
mundo espiritual, as leis que regem seu destino e as que regem a
comunicação entre o mundo material e o espiritual. Este estudo
também acompanha o avanço das ciências, de modo que o
Espiritismo esteja sempre a par dos progressos realizados nos
demais campos do conhecimento humano.

Partindo da base fornecida pelas manifestações dos espíritos, o


Espiritismo também estuda as comunicações obtidas através delas.
30
Assim pode se dizer que a "Ciência Espírita compreende duas
partes: uma experimental, sobre as manifestações em geral; a outra,
filosófica, sobre as manifestações inteligentes. Quem quer que tenha
observado somente pelo ângulo da primeira, está na posição daquele
que conheceria a Física apenas pelas experiências recreativas, sem
haver penetrado no fundamento da Ciência. A verdadeira Doutrina
Espírita está no ensinamento dado pelos Espíritos e os
conhecimentos que esse ensinamento comporta são muito sérios
para poderem ser assimilados de outro modo que não seja por um
estudo profundo e contínuo, feito no silêncio e no recolhimento;
porque só nestas condições se pode observar um número infinito de
fatos e de nuanças que escapam ao observador superficial e
permitem firmar uma opinião" (Allan Kardec, Introdução ao "Livro dos
Espíritos).

Um aspecto a ser comentado, é que o avanço de algumas


disciplinas cientificas acadêmicas rumo as realidades espirituais as
tem colocado em relação próxima com o Espiritismo. Assim é
comum encontrarem-se Espíritas contribibuindo diretamente nas
áreas de psicologia, com a Psicologia Transpessoal e a Terapia de
Vidas Passadas, e de medicina, com a psicossomática e a
homeopatia.

- Análise

Me parece que o Budismo e o Espiritismo avançam para


resultados muito semelhantes tendo dois pontos diferentes de
partida. Enquanto o Budismo - dentro de um contexto cultural oriental
- parte dos fenômenos internos ao individuo em direção a realidade
que lhe transcende, o Espiritismo parte das manifestações dos
espíritos, do mesmo individuo liberto da matéria, em direção a
mesma realidade. As duas Doutrinas rejeitam a fé cega e enfatizam a
necessidade do estudo prolongado e sério. Não basta só procurar, há
que se saber como ...

IV - Prática
Impacto na sociedade

31
- Budismo

"Que eu seja motivo de prazer


De acordo com a vontade de todos os seres sencientes
E sem interferência, como são a terra
a água, o fogo, o vento, as ervas medicinais e florestas.Que eu seja
caro aos seres sencientes
Como sua própria vida, e que eles me sejam caros.
Que seus pecados frutifiquem para mim
E todas as minhas virtudes para eles.
(...)
Enquanto perdurar o espaço,
Enquanto persistirem os seres sencientes,
Que eu também possa permanecer
Para dissipar as desgraças do mundo."
Estrofes de textos budistas citadas pelo Dalai Lama para explicar os
ideais de um Bodhisattva Do livro Transformando a Mente.

O Budismo considera que a fonte dos problemas economicos e


sociais é o apego ao "eu", o "egoismo". Sua influência visa diminuir o
egoismo nos individuos e através da melhora do individuo, melhorar
a sociedade. Considera que todos os seres senscientes (que buscam
a libertação do sofrimento) tem direitos e que devem ser tratados
com compaixão.

- Espiritismo

"O homem que se ilumina conquista a ordem e a harmonia para si


mesmo. E para que a coletividade realize semelhante aquisição, para
o organismo social, faz-se imprescindível que todos os seus
elementos compreendam os sagrados deveres de auto-iluminação"
Emmanuel, médium Francisco Cândido Xavier, da resposta a
questão 234, O Consolador - FEB."Na hora atual da humanidade
terrestre, em que todas as conquistas da civilização se subvertem
nos extremismos. o Espiritismo é o grande iniciador da Sociologia,
32
por significar o Evangelho redivivo que as religiões literalistas
tentaram inumar nos interesses econômicos e na convenção exterior
de seus prosélitos.

Restaurando os ensinos de Jesus para o homem e esclarecendo que


os valores legitimos da criatura são os que procedem da consciência
e do coração, a doutrina consoladora dos Espíritos reafirma a
verdade de que a cada homem será dado de acordo com seus
méritos, no esforço individual, dentro da aplicação da lei do trabalho
e do bem; razão pela qual representa o melhor antidoto dos venenos
sociais atualmente espalhados no mundo pelas filosofias politicas do
absurdo e da ambição desmedida, restabelecendo a verdade e a
concordia para os corações" Emmanuel, médium Francisco Cândido
Xavier, da resposta a questão 59, O Consolador - FEB.

O Espiritismo considera que a fonte dos problemas economicos e


sociais é o egoismo, fruto da ignorancia e do pouco progresso moral
dos individuos que formam as sociedades. Sua influência visa
diminuir o egoismo e através da melhora do individuo, melhorar a
sociedade. Considera que todos os seres vivos são solidários (o
progresso do espírito se dá através de uma longa cadeia evolutiva
dos seres mais simples aos mais complexos) e portanto tem direitos,
todos devem ser tratados com caridade.- Análise
A reforma de uma sociedade não pode ser feita apenas através de
leis externas, sem alterações fundamentais nos individuos que a
compõe. Liberdade, igualdade e fraternidade são, em essência,
conquistas que só poderão ser verdadeiramente estabelecidas
quando o egoismo tiver sido combatido eficazmente. O combate ao
egoismo exige uma transformação mental ou moral, decorrente de
uma salutar disciplina espiritual. Não de trata de almejar uma
sociedade regida por normas religiosas, ou dogmas, pois tanto o
Budismo como o Espiritismo, não os tem, mas de uma sociedade em
que a prática da compaixão, da caridade e do amor ao próximo são
normas livremente escolhidas por seus cidadões. A escolha, por sua
vez, não decorre da adesão cega a uma fé, mas a certeza adquirida
no estudo próprio, de que a realidade última transcende a matéria -
que somente o desapego ao eu e a adesão a normas morais
universais trazem a verdadeira felicidade.
33
Organização Interna

- Budismo

"Ele cujo prazer é o Darma, que se deleita no Darma,


que medita no Darma.
Que evoca o Darma -, este bikshu não renega o
verdadeiro Darma".
Verso 364 - Dhammapada, trad. Nissim Cohen, ed. Palas Athena

"O homem que desejar ser meu discípulo deverá abandonar todas as
relações diretas com a família, a vida social mundana e toda a
dependência a riqueza. O homem que tiver abandonado tais relações
em prol do Dharma e não tiver abrigo para o corpo e a mente tornar-
se-á meu discípulo e será chamado de irmão sem lar."
Os Irmãos sem Lar, A Doutrina de Buda, Siddharta Gautama, ed.
Martin Claret.

Para se tornar um irmão leigo, deve-se ter uma inabalável fé em


Buda, deve-se acreditar em Seus ensinamentos, estudar e pôr em
prática os preceitos, e deve-se apreciar a Fraternidade."
Os Irmãos Leigos, A Doutrina de Buda, Siddharta Gautama, ed.
Martin Claret.

Desde o início das pregações de Buda, a prática de seus


ensinamentos em todos os seus desdobramentos - com seus altos
níveis de realização espiritual em busca da iluminação - levou
algumas pessoas a se desligarem completamente das atividades
mundanas e a se dedicarem a uma vida de renuncias e de
meditações. Estas pessoas, chamadas de bikshus (inicialmente com
o sentido de monges mendicantes), formam a "Sangha", a
comunidade de monges budistas. A continuidade desta comunidade,
com variações de forma e organização pelos vários países pelos
quais o Budismo se propagou, tem sido o principal fator de
preservação e divulgação do Dharma. Os ensinamentos de Buda
também podem ser seguidos e praticados sem que o discípulo se
34
desligue completamente de seus laços com a familia e a sociedade.
Naturalmente ele não poderá se dedicar tão intensamente as práticas
de meditação. O resultado deste fato é que, ao lado da Sangha,
existem os budistas leigos.
Assim a diferença entre os monges e os outros budistas está na
intensidade com que podem se dedicar ao Dharma. Os monges
dedicam-lhe todo o seu tempo.

- Espiritismo

"O médium é um companheiro.


É um trabalhador.
É um amigo.
E é sobretudo nosso irmão, com dificuldades e problemas análogos
àqueles que assediam a mente de qualquer espírito encarnado".
VI-Médiuns, Mediunidade e Sintonia, Emmanuel, médium Francisco
Cândido Xavier, ed. CEU

"Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e


pelos esforços que faz para dominar suas más inclinações".
"Os Bons Espíritas", no cap. XVII (Sêde Perfeitos) do "O Evangelho
Segundo o Espiritismo", Allan Kardec, EDICEL
"Embora este regulamento tenha resultado da experiência, não o
damos como um modelo obrigatório, mas unicamente para facilitar às
sociedades em formação, que poderão tomar por normas as
disposições que considerem úteis e aplicáveis às circunstâncias que
lhes sejam próprias. Não obstante já se apresente simplificada, a sua
estrutura poderá ser ainda mais reduzida quando se trate, não de
sociedade regularmente constituída, mas de pequenos grupos
particulares que só necessitem de estabelecer medidas de ordem
interna, de preservação e de regularidade de seus trabalhos"
Cap. XXX - Regulamento da Sociedade Parisiense de Estudos
Espíritas, o "Evangelho Segundo o Espiritismo", Allan Kardec,
EDICEL

Não há um "acestismo" espírita, no sentido de uma classe de


monges dedicados ao eu estudo e divulgação. Muito menos uma
hierarquia, pois a Doutrina Espírita não impõe uma forma de
organização. A forma de organização proposta por Allan Kardec foi a
35
adotada pela "Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas" [1] que
serviu de modelo para os grupos espíritas posteriores, do mesmo
modo que a "Revue Spirite" foi o modelo para o jornalismo espírita.
Assim. ao longo da história do Espiritismo, se formou um "movimento
espírita" organizado em torno de grupos espíritas. Surgiram grupos
com diversas finalidades - estudo, atividades filantrópricas, reuniões
religiosas, etc... Também surgiram entidades maiores como
federações e associações nacionais.

Importante notar que se pode perfeitamente ser espírita sem


pertencer a nenhum grupo espírita. Do mesmo modo, não há
nenhuma obrigação de que um grupo se filie a uma associação ou
outra. A organização do movimento espírita é totalmente voluntária e
visa apenas juntar esforços no estudo, na prática e na divulgação da
Doutrina. Não há privilégios ou prerrogativas doutrinárias associadas
a qualquer posição dentro do movimento espírita[2].

Uma forma muito comum de grupo espírita é o familiar. Amigos e


parentes que se reunem periodicamente para o estudo das obras
básicas, principalmente do estudo do evangelho. Muitos dos grupos
maiores nasceram em reuniões familiares, pelo aumento do número
dos participantes e principalmente em torno de personalidades
marcantes do movimento espírita. Pelas próprias características da
Doutrina, os médiuns acabam desempenhando o papel de núcleo
dos diversos grupos e ponto de referência para os demais individuos.
A mediunidade, como faculdade natural no ser humano,
efetivamente não dá a ninguém privilégios especiais dentro do
Espiritismo. Apenas capacita o médium a ser um trabalhador em
benefício de todos.

- Análise

A forma de organização difere entre o Budismo e o Espiritismo. A


diferença está na existência entre os budistas, da "Sangha", a
comunidade de monges dedicados ao estudo e divulgação do
Dharma. No Espiritismo, tanto o estudo como a divulgação, podem
ser feitos individualmente ou por grupos formados voluntariamente
por seus adeptos, sem votos especiais.

36
[1] - Vide "O Livro dos Médiuns" (cap. XXIX - Reuniões e Sociedades
e XXX - Regulamento da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas)
ou "Obras Póstumas" ("Constituição do Espiritismo").
[2] - As estruturas existentes dentro dos grupos espíritas são
puramente administrativas e operacionais.

Ritos

- Budismo
"O ritual - que consiste em molhar o ombro esquerdo, o direito e
depois as costas da imagem - simboliza a purificação da
mente" (Uma breve explicação do ritual de despejar agua em uma
imagem de Buda menino. Este ritual fez parte de uma celebração
budista que teve lugar no parque Ibirapuera, comemorando o
nascimento, a iluminação e a morte de Buda. "Celebração faz o
Ibirapuera virar templo budista", Mauro Mug, Jornal O Estado de São
Paulo, 27 de maio de 2002)

"Pense em todos os milhões de homens e mulheres que inclinaram


suas cabeças em oração enquanto acendiam velas. Será que
alguém acredita que Buda, ou qualquer outra imagem do absoluto,
precisa de uma vela para enxergar ou se aquecer ? Acender uma
vela é um ato simbólico, uma forma ritualizada de oferecer luz a
escuridão. A vela simboliza a luz interna e a sabedoria luminosa que
nos guia através da escuridão da ignorância e da confusão. A chama
brilhante da vela é um lembrete externo da luminosidade interna e da
clareza - a chama viva espiritual que brilha no templo do coração e
da alma". O Despertar do Buda Interior, cap. "Hoje, agora mesmo",
Lama Surya Das, trad. Anna Lobo, ed. Rocco.

No Budismo, os rituais tem um papel importante de auxiliares nas


práticas de meditação e de formas simbólicas de expressão dos seus
ensinamentos.
O papel do simbolismo pode ser avaliado em sua correta
dimensão quando se considera que a Doutrina foi ensinada
37
oralmente por Buda e só posteriormente transcrita. Mesmo após seu
registro na forma escrita, a forma mais valorizada da passagem do
Dharma foi, e continua sendo, a transmissão viva de um mestre para
seus discipulos. Assim, simbolos e rituais correspondem a uma forma
muito eficaz de fixar idéias e memorizar ensinamentos complexos.

Também o contato do Budismo com outros povos, e sua grande


tolerância religiosa, o levou a absorver práticas de diversas origens e
transformá-las conforme sua mensagem. Assim, por exemplo,
encontramos no Budismo Tibetano rituais que remontam as práticas
ancestrais do Tibet.

Em essência seria possível conceber o Budismo sem rituais. É


perfeitamente possivel seguir o caminho óctuplo sem eles e nada nas
"Quatro Nobres Verdades" está amarrado a suas práticas. Mas seria
uma visão muito parcial e despojaria o Dharma de toda sua riqueza
simbólica acumulada em mais de 2.500 anos de história.

- Espiritismo
"653 - A adoração tem necessidade de manifestar-se exteriormente ?
- A verdadeira adoração é a do coração. Em todas suas ações,
lembrem sempre que o senhor os observa". O Livro dos Espíritos

"653a - A adoração exterior é útil ? Sim, se ela não representar um


vão simulacro. É sempre útil dar um bom exemplo, mas os que o
fazem apenas por afetação e por amor-próprio, e cuja conduta
desmente a sua aparente piedade, dão um exemplo antes mau do
que bom, fazem mais mal do que supõem". O Livro dos Espíritos.
O Espiritismo não tem rituais, principalmente por considerá-los
desnecessários frente a prática sincera do amor ao próximo.
Importante observar que ele respeita todas crenças sinceras e suas
formas de manifestação.

Normalmente as reuniões espíritas são organizadas conforme a


finalidade do grupo, há reuniões de estudo de obras espíritas,
reuniões com palestras doutrinárias, reuniões de auxilío espiritual,
onde se aplicam passes e reuniões mediunicas dos mais diversos
tipos. As manifestações mediunicas variam grandemente, desde

38
reuniões dedicadas a psicografia ou a pintura mediúnica, até o
atendimento a espíritos sofredores desencarnados.

As aplicações de passe também tomam formas diferentes


conforme as caracteriticas dos grupos e o tipo especifíco de ação
curativa que se almeja alcançar. Embora em alguns grupos as
aplicações de passe possam parecer gestos ritualistícos, são na
realidade técnicas desenvolvidas ao longo do tempo para dar maior
eficiência a transmissão dos fluidos magnéticos aos pacientes.

Sem fugir ao escopo deste artigo, gostaria de observar que os


passes são aplicados com o intuito de assistência ao próximo e
essencialmente não são exclusividade da doutrina espírita. Embora
sua origem remonte a antiguidade - o próprio Jesus o aplicava aos
doentes - seu estudo moderno foi retomado a partir de Mesmer no
século XVIII e reconhecido pela doutrina espírita como uma das
consequências da existência do espírito humano e do perispírito. Os
termos "fluido" e "magnetismo" devem portanto ser entendidos dentro
de um contexto próprio, evitando-se confusão com a nomenclatura
atual da física.

O conjunto de conhecimentos que forma a Doutrina Espírita tem


como uma de suas formas principais de transmissão a palavra
escrita. Desde as obras básicas de Allan Kardec até as obras
espíritas da atualidade, os espíritos e os espíritas tem preferido a
forma direta de exposição. Também, por seu carácter de ciência
experimental, os conhecimentos são resultados de pesquisas e
análises, reprodutiveis dentro de regras próprias da comunicação
com o plano espiritual (1). Assim o papel do simbolismo religioso
dentro da doutrina espírita é bastante limitado ou praticamente
inexistente.

- Análise

A distância que separa o Budismo do Espiritismo na questão dos


ritos é exatamente a distância histórica entre o surgimento de cada
um dos dois. O Budismo tento nascido em uma época e cultura onde
a tradição oral era o veículo por excelência da transmissão de uma
filosofia, desenvolveu técnicas apuradas de simbolismo. Seus ritos e
39
simbolos são a representação viva de seu conteúdo doutrinário. O
Espiritismo por outro lado, tendo nascido imediatamente após o
Iluminismo, no período que para a cultura ocidental ficou conhecido
como o Século das Luzes, se empenhou em transmitir diretamente
seus conhecimentos, principalmente através da palavra escrita.
Dentro deste contexto, para o Espiritismo, os rituais e os simbolos
não trariam contribuição efetiva e são considerados dispensáveis.

1 - No estudo do mundo material, ao qual se dedica a Física, é


importante para uma ciência que todos os seus fenômenos sejam
reprodutiveis por quaisquer experimentadores, dadas as mesmas
condições de experimentação. Assim a lei da gravidade de Newton,
ou as equações de onda de Maxwell, podem ser verificadas por
qualquer cientista que se disponha ao empreendimento.

No caso da Ciência Espírita, onde se estudam fenômenos ligados


ao espírito humano, que tem um grau de liberdade muito maior que
as grandezas fisicas, a reprodução dos experimentos exige muito
maior preparação do experimentador e principalmente muito maior
compreensão das condições de contorno que podem afetar o
experimento. Assim, para reproduzir os trabalhos de Sir William
Crookes com as materializações de Kate King o experimentador teria
não somente de obter uma médium com possibilidades mediunicas
equivalentes as de Miss Florence Cook, como também teria de ter a
mesma seriedade nos propósitos. Na ciência do espírito, o estado de
espírito do experimentador influência decisivamente os resultados -
alguém dedicado a experiências frivolas ou sem maiores propósitos
de edificação espiritual encontraria somente espíritos do mesmo
gabarito a auxiliá-lo. Provavelmente não passaria de resultados
mediocres e de fraudes vergonhosas.

V - Conclusão

40
(...) nós reconhecemos a existência de seres superiores, pelo menos
de um certo estado superior do ser, nós acreditamos nos oráculos,
nos presságios, nas interpretações dos sonhos, na reencarnação.
Mas essas crenças, que para nós são uma certeza, não tentamos, de
maneira alguma, impô-las às pessoas. Repito: não queremos
converter. O Budismo se atém acima de tudo aos fatos. Ele é uma
experiência, e até mesmo uma experiência pessoal. Lembre-se das
tão famosas palavras de Shakyamuni: "Espere tudo de você
mesmo". XIV Dalai Lama (A Força do Budismo)

Deixando-se de lado as questões metafisicas, que para o Budismo


não são essenciais, as duas doutrinas - os dois caminhos espirituais -
são extraordinariamente afins. Um Budista e um Espírita trocando
idéias perceberiam rapidamente que concordam no essencial, nos
meios para tornar o homem livre de sofrimentos, e que as
discordâncias de detalhes tem mais a ver com visões culturais
diferentes do que propriamente com a "essência" dos ensinamentos.
Para o Espírita a psicologia budista traz ensinamentos valiosos e
para o Budista os conhecimentos cientificos espíritas lhe permitiriam
estender sua compreensão de como o fluxo de consciência "não-
material" atua sobre o mundo material. Por exemplo, no estudo da lei
de Causa e Efeito, juntar os enfoques diferentes - a ciência Espírita
com a atuação do perispírito e o Budismo com o funcionamento da
mente - abriria novas perspectivas.

Um exemplo de um trabalho bastante interessante, unindo os


enfoques Budista e Espírita, é o livro "Plenitude", do espírito Joanna
de Ângelis, psicografado pelo médium Divaldo Pereira Franco. Neste
livro, a autora aborda o problema do sofrimento, sua existência, suas
causas e forma de eliminação. É um estudo bastante criterioso e
consistente, onde conceitos milenares do Budismo integrados aos
conhecimentos Espíritas fornecem o ferramental adequado para
aprofundar o tema e dar-lhe solução.

Tanto o Espiritismo como o Budismo dão pouco valor ao


proselitismo (a busca de conversões) e enfatizam o respeito a todas
as tradições religiosas, assim não há fontes de conflito ou empecilhos
maiores a troca de idéias e ao dialogo.
41
VI - Anexos
Para conhecer melhor as doutrinas discutidas neste artigo

"Não acredite em nada apenas por ter ouvido.


Não acredite nas tradições apenas por terem sido transmitidas
através de inúmeras gerações.
Não acredite em nada apenas porque é dito e pregado por muitos.
Não acredite em nada apenas porque está escrito em livros
religiosos.
Não acredite em nada apenas baseado na autoridade de um mestre
ou sábio.
Mas depois de muita observação e análise, quando chegar à
conclusão de que algo é razoável, e que conduz à felicidade e ao
benefício seu e de todos, então aceite, e viva à altura do
ensinamento." - Buda, citação no livro "O Despertar do Buda Interior"
do Lama Surya Das (ed. Rocco).

- Budismo

Recomendo, além dos livros de Tenzin Gyatso, o XIV Dalai Lama,


os livros "O Monge e o Filósofo" e "O Despertar do Buda Interior". O
"Dhammapada" por outro lado é uma leitura obrigatória para se ter
uma idéia da essência dos ensinamentos morais de Buda;
Apenas como curiosidade, os livros "O Monge e o Filósofo" e "A
Força do Budismo" (vide bibliografia) tiveram participação de autores
franceses e uma observação que salta a vista do leitor espírita é o
desconhecimento deles com relação ao Espiritismo (que teve seu
nascimento na França, com as obras de Allan Kardec ). Também
espanta, para o leitor brasileito, perceber o quanto o materialismo
está impregnado no pensamento desses autores. A posição parece
refletir uma realidade bastante diferente do ambiente intelectual
brasileiro, onde a religiosidade natural do povo brasileiro e a
crescente influência do Espiritismo e de outras correntes
espiritualistas, tornam o materialismo militante uma exceção.
Devido ao materialismo destes autores, a visão que apresentam
da espiritualidade ocidental, nos diálogos com o Dalai Lama e com o
42
Monge Budista, é bastante superficial - praticamente restrita ao
Catolicismo - e assim deixam de abordar questões e aprofundar
comparações que seriam de extrema valia para o pensador Espírita.
Por exemplo, na questão da reencarnação apresentam um
desconhecimento tão grande - mesmo das recentes pesquisas com a
terapia de vidas passadas, efetuadas pelos psicólogos norte-
americanos - que é dificil para seus interlocutores explicar com
maiores detalhes a visão Budista.

- Espiritismo

Sem duvida os livros de Allan Kardec, principalmente "O Livro dos


Espíritos", o "Livro dos Médiuns" e o "Evangelho Segundo o
Espiritismo", também recomendo os livros de Léon Denis,
principalmente "No Invisível". A partir desta base há excelentes
obras complementares, entre elas as psicografadas pelo médium
Francisco Cândido Xavier - impossivel deixar de citar "O Consolador"
do espírito Emmanuel e "Nosso Lar" de André Luiz.

Uma Homenagem à Francisco Cândido Xavier

"Sempre que eu interagir com alguém,


Que eu me veja como o menos importante de todos,
E, das profundezas do meu coração,
Respeitosamente considere os outros superiores."
A segunda das oito estrofes de Geshe Langri Thangpa sobre a
transformação da mente.
("Transformando a Mente", Dalai Lama, Ed. Martins Fonte)

Pode parecer estranho encerrar uma série de artigos, que


comparam as Doutrinas Budista e Espírita, com uma homenagem a
um médium, mesmo que seja um médium tão extraordinário como
Francisco Cândido Xavier. O motivo desta opção foi a de que Chico
Xavier ilustra de forma extremamente clara as afinidades entre o
Espiritismo e o Budismo.
43
Chico, independentemente de suas faculdades mediunicas, foi um
ser humano impressionante. Nele as virtudes cristãs, que são a base
moral da Doutrina Espírita, encontraram sua vivência completa. Ele
foi um mensageiro do qual se pode dizer que, não só transmitiu
fielmente a mensagem espírita, como se transformou na própria
mensagem.

Similarmente, se olharmos Francisco Cândido Xavier com os olhos


de um Budista, veremos nele a encarnação perfeita das virtudes
ensinadas por Sidarta Gautama, na sua compaixão ilimitada para
com todos os seres sencientes. Chico Xavier é um Bodhisattva na
mais completa acepção deste termo, um espírito de luz, que para
libertar-nos do sofrimento, veio nos trazer a verdade libertadora da
prática incondicional do bem.

Fica portanto, como fechamento destes artigos, nossa profunda


homenagem e gratidão ao "Mineiro do Século":

Francisco Cândido Xavier


02/04/1910 - 30/06/2002

Breve vocabulário

O Budismo tem uma história de 2.500 anos, sendo que parte de


seu vocabulário vem das filosofias muito mais antigas da India, cujas
origens se perdem na noite dos tempos. Desta maneira é preciso ter
em mente que qualquer tradução para o nosso idioma é sempre
aproximada, que não temos termos exatos para traduzir palavras que
acumulam signficados de milênios de estudos ininterruptos.
Na relação abaixo indicamos se os termos são usados por apenas
uma das duas doutrinas, ou se são comuns as duas. No texto
procuramos indicar as variações de sentido quando existirem.

Animismo:
Espiritismo - Como o homem nada mais é do que um espírito
encarnado, ele tem as mesmas capacidades que um espírto liberto,
44
apenas reduzidas pelo efeito do corpo físico. Desta maneira existem
fenômenos, bastante similares aos mediúnicos, que tem sua origem
no próprio "sensitivo" - ele não atua propriamente como médium, pois
não está atuando como intermediário, mas nem por isso estes
fenômenos são menos válidos para o estudo do espírito e do mundo
espiritual.Também pertencem a esta categoria, os fenômenos
produzidos pelo espírito encarnado sob o controle do seu
inconsciente.

Bhiksu:
Budismo - Monge, pessoa que se retirou da vida cotidiana para se
dedicar a meditação e ao estudo. Não é um sacerdote, apenas uma
pessoa que dedica sua vida ao ideal Budista de libertação do
sofrimento pela estrita observância dos ensinamentos de Buda. As
práticas religiosas, ou rituais a que se dedica, longe de serem fins em
si mesmos, são métodos para exercicío da concentração. A palavra,
pelas suas origens, também tem o sentido de monge mendicante.

Bodhichitta:
Budismo - Em seus livros, como por exemplo no "A Arte de Lidar com
a Raiva" (editora Campus) o Dalai Lama define Bodhichita como a
aspiração altruísta de alcançar a iluminação total, em benefício de
todos os seres.

Bodhisattva:
Budismo - No Budismo Mahayana é o ser ideal, aquele que atingiu
todas as condições para pretender o Nirvana, mas que adia sua
libertação no objetivo de permanecer em contato com este mundo
sofredor. Ele se coloca a serviço dos seres por um período de tempo
que nada pode determinar, ou mesmo pode não ter fim, ajudando-os
a encontrarem o próprio caminho de libertação do sofrimento. O
aspirante a Bodhisattva busca atingir o despertar em benefício dos
outros, e este conceito é o ponto principal que caracteriza a escola
Mahayana em contraposição a escola Theravada.

Buda:
Budismo - Iluminado, que atingiu a libertação da ignorância. Titulo
respeitoso dado a Sidarta Gautama, embora não seja exclusivo dele -
todos os seres tem a capacidade de um dia tornarem-se iluminados
45
(Budas). A palavra que designa tal capacidade do ser é algumas
vezes (mal-) traduzida por "Budeidade".

Caminho do Meio:
Budismo - É uma expressão também usada para designar o
Budismo, pois esta doutrina procura se afastar tanto dos extremos do
ascetismo como do apego excessivo as coisas materiais.

Causa e Efeito:
Budismo e Espiritismo - Os nossos atos e pensamentos são ações
que, dentro das leis naturais do Universo, trarão uma reação. Dentro
do ordenamento moral do Universo, os atos que trazem sofrimento
aos outros seres, tem como reação natural o sofrimento de quem os
praticou e do mesmo modo, os atos que resultam no bem trazem o
bem como retorno;Os Budistas consideram a lei de causa de efeito
como a lei básica do Universo, enquanto que os Espíritas a
consideram como uma das leis através da qual Deus age sobre o
Universo. Para os Espíritas outra lei universal, de igual importância,
é a lei que rege o progresso do espírito.

Codificação Espírita
Espiritismo - O conjunto da obra de AllanKardec. Se convencionou
chamar este conjunto de "codificação" devido ao fato destas obras,
que reunem os trabalhos de pesquisa e análise desenvolvidos por
Allan Kardec no estudo das comunicações espíritas, formarem a
base da Doutrina Espírita.

Dalai Lama:
Budismo - "... Já disse, na introdução " - do livro que estamos citando
- " as palavras dalai-lama significam diferentes coisas para diferentes
pessoas, e que para mim eles se referem apenas ao cargo que
ocupo. A rigor, dalai é um vocábulo mongol que significa 'oceano', e
lama é um termo tibetano que corresponde à palavra hindu guru,
significando 'superior'. Juntas, as palavras dalai e lama são as vezes
traduzidas como 'oceano de sabedoria'. Mas isso, acho eu, é fruto de
um mal-entendido. Originalmente, Dalai era uma tradução parcial de
Sonam Gyatso, nome do terceiro Dalai Lama: Gyatso significa
'oceano' em tibetano. Outro e infortunado mal-entendido se deve ao
fato de os chineses darem à palavra lama o sentido de 'hou-fou', que
46
tem a conotação de 'Buda-vivo'. Isso é um erro. O budismo tibetano
não reconhece tal coisa. Apenas admite que determindados seres,
dos quais o Dalai-Lama é um, podem escolher a forma de sua
reencarnação. Essas pessoas são chamadas tulkus (encarnações)."
Dalai Lama, "Liberdade no Exílio - Uma autobiografia do Dalai Lama
do Tibet", Ed. Siciliano.

Dharma:
Budismo - Geralmente, nos livros Budistas se refere a doutrina de
Buda. " Mas também pode ser usada com significado muito mais
amplo - ordem universal cósmica; lei eterna; moral; dever; virtude,
retidão; justiça. (Vocabulaire de l'Hindouisme de Herbert et Varenne).
Os autores registram Dharma com outros significados tais como
Personificação da Lei; Deus presidindo ao dharma, etc. No
Ramakrishna-Vedanta Wordbook; a brief Dicitionary of Hinduism,
editado por Usha, Brahmacharini, consta que literalmente significa
"aquele que mantém sua verdadeira natureza" e que a palavra
denota mérito, moralidade, justiça, verdade, dever religioso, ou o
caminho da vida que uma natureza do homem lhe impõe (which a
man's nature imposes upon him), etc.
Muitas vezes, a palavra é empregada no sentido do caminho da
vida próprio de um ser, como quando se diz que cada indivíduo deve
cumprir seu próprio dharma." (Élzio).

Espírita:
Espiritismo - Que tem relação com o Espiritismo, partidário do
Espiritismo, aquele que crê nas manifestações dos Espíritos. Allan
Kardec, cap. Vocabulário Espírita, O Livro dos Médiuns.

Espiritismo:
Doutrina fundada sobre a crença na existência dos Espíritos e das
suas manifestações. Allan Kardec, cap. Vocabulário Espírita, O Livro
dos Médiuns.

Espírito:
Espiritismo - No sentido especial da Doutrina Espírita: os Espíritos
são os seres inteligentes da criação que povoam o Universo
além do mundo material e consttuem o mundo invisível. Não são
seres de uma criação especial, mas as próprias almas dos que
47
viveram na Terra ou em outras esferas tendo deixado seu envoltório
corporal. Allan Kardec, cap. Vocabulário Espírita, O Livro dos
Médiuns.O mundo invisível está além do material não só em sentido
espacial, mas também qualitativo, interpenetrando-o. Comentário de
Herculano Pires ao verbete "Espírito" na sua tradução do "O Livro
dos Espíritos".

Karma:
Budismo - A palavra significa ação, mas, por extensão, compreende
também ao resultado da ação. Não há diferença assim de causa e
efeito. (Elzio) As vezes é empregada significando "lei de Causa e
Efeito" (vide tópico correspondente) e outras como o resultado atual
das ações passadas.

Médium
Espiritismo - (Do latim: medium = meio; intermediario; medianeiro)
Pessoa que pode servir de intemediária entre os espíritos e os
homens; aquele que em um grau qualquer sente a influência dos
Espíritos de modo ostensivo. Todas as variedades de médiuns
apresentam uma infinidade de graus em sua intensidade. Dicionário
de Filosofia Espírita, L. Palhano Jr.

Mediunidade
Espiritismo - É uma faculdade inerente ao homem que permite a ele
a percepção, em um grau qualquer, da influência dos Espíritos. Não
constitui um privilégio exclusivo de uma ou outra pessoa, pois, sendo
uma possibilidade orgânica, é hereditária e depende de um
organismo mais ou menos sensitivo. Só se classificam pessoas como
médiuns, se a mediunidade se mostra bem caracterizada e se traduz
por efeitos patentes, de certa intensidade. Essa faculdade não se
revela, da mesma maneira, em todos. Geralmente os médiuns têm
uma aptidão especial para os fenômenos desta, ou daquela ordem,
donde resulta que formam tantans variedades quantas são as
espécies de manifestações. Dicionário de Filosofia Espírita, L.
Palhano Jr.

Nirvana:
Budismo -Literalmente a palavra tanto pode significar "ser extinguido"
(extinção), "cessar por sopro", quanto "resfriar por sopro". O nirvana
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constitui a mais elevada e última meta de todas as aspirações
budistas, a extinção do "fogo" de, ou o resfriamento da "febre" da
avidez, ódio e delusão (os três principais males no pensamento
budista); e com estes também a libertação última e absoluta de todo
renascimento futuro, velhice e morte, de todo sofrimento e miséria.
Dhammapada, trad. Nissim Cohen, Ed. Palas Athena.

Perispírito:
Espiritismo - (do grego, perí, ao redor) - Envoltório semimaterial do
Espírito. Entre os encarnados, serve de liame ou intemediário entre o
Espírito e a matéria. Entre os espíritos errantes, constitui o corpo
fluídico do Espírito. Allan Kardec, cap. Vocabulário Espírita, O Livro
dos Médiuns.

Reencarnação:
Budismo e Espiritismo - A continuação da existência do ser em um
novo corpo material como consequencia da lei de ação e de reação.
Há uma sutil diferença conceitual entre o Espiritismo e o Budismo
neste ponto. Para os Budistas, o ser em sua essência é apenas um
fluxo de consciência, ao qual se agregam diversos elementos
conforme o resultado da lei de causa e efeito. Não há propriamente
um ser individual se reencarnando, mas seu fluxo de consciência
(que resulta de uma existência para outra - e mesmo no mundo
espiritual entre as encarnações - na propagação de uma consciência
individual, responsável por seus atos). Para o Espiritismo, há um
espírito imortal que se reencarna conforme suas necessidades de
progresso espiritual. Ao espírito puro - cuja essência nos escapa - se
agregam o perispiríto que é o instrumento através do qual ele atua no
mundo material.

Samsara:
Budismo - Ciclo ou Roda de Renascimento. A fase da existência do
ser em que ele está preso ao ciclo de renascimentos, de uma vida
após a outra. O Espiritismo não tem uma palavra especifíca para este
conceito.

Sangha:
Budismo - O conjunto dos monges budistas. Não é uma classe
sacerdotal, tal qual a hierarquia da Igreja Católica ou os Brahmanes
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Hindus. É simplesmente o conjunto das pessoas que se retirou da
vida comum para se dedicar a meditação e aos estudos da doutrina
Budista. Pode-se dizer que corresponde ao ideal Budista de vida,
mas fora isso, não há distinções fundamentais entre leigos e sangha.

Shakyamuni:
Budismo - O sábio do clã dos Shakya, outro dos nomes dados a
Buda;

Sidarta Gautama:
Budismo - O nome próprio de "Buda". Também se encontram as
gráfias "Sidharta" e "Siddharta";

Sutra :
Budismo - A palavra "Sutra" era usada na India, na época do
surgimento do Budismo, para indicar um conjunto de palavras ou
frases importantes reunidas em um conjunto único. Como muitos
ensinamentos de Buda foram reunidos na forma de Sutras, o
significado da palavra acabou se extendendo ao longo do tempo,
vindo a ser usada para designar genericamente todos os textos que
trazem sermões de Buda. Algumas vezes também é usada para
outros textos Budista, inclusive modernos, que são recitados.

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