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Esta nova coletânea traz como novidade a apresentação

2004 O Projeto Desenvolvendo Casos de Sucesso no Sebrae


dos casos por área temática, visando facilitar a consulta teve sua origem em 2002 com o objetivo de disseminar
e melhor entendimento do conteúdo. 2004 as melhores práticas vivenciadas por empreendedores
e empresários de diversos segmentos e setores,
O primeiro volume da nova edição descreve casos participantes dos programas e projetos do Sebrae
vinculados aos temas de artesanato, turismo e cultura, em vários Estados do Brasil.
empreendedorismo social e cidadania. O segundo relata
histórias sobre agronegócios e extrativismo, indústria, A primeira fase do projeto, estruturada para escrever estudos
comércio e serviços. E o terceiro aborda exclusivamente de caso sobre empreendedorismo coletivo, publicou em
casos com foco em inovação tecnológica. 2003 a coletânea Histórias de Sucesso – Experiências

Os resultados obtidos com o projeto Desenvolvendo


Histórias de Sucesso Empreendedoras, em três livros integrados de 1.200
páginas, que contou 80 casos desenvolvidos em
Casos de Sucesso, desde sua concepção e implantação, Experiências Empreendedoras diferentes localidades e vários setores, abrangendo as
têm estimulado a elaboração de novos estudos sobre cinco regiões: Sul, Sudeste, Centro-Oeste, Norte e
histórias de empreendedorismo coletivo e individual, e, Nordeste. Participaram 90 escritores, provenientes do
conseqüentemente, têm fortalecido o processo de Gestão quadro técnico interno ou externo do Sebrae.

Histórias de Sucesso
do Conhecimento Institucional. Contribui-se assim, de forma
significativa, para levar ao meio acadêmico e empresarial Esta segunda edição da coletânea Histórias de Sucesso –
o conhecimento acerca de pequenos negócios bem- Experiências Empreendedoras – 2004, composta de três
sucedidos, visando potencializar novas experiências volumes que totalizam cerca de 1.100 páginas, contou com
que possam ser adotadas e implementadas no Brasil. a participação de 89 escritores e vários profissionais de
todos os Estados brasileiros, que escreveram os 76 casos.
Para ampliar o acesso dos leitores interessados em utilizar
os estudos de caso, o Sebrae desenvolveu em seu portal A continuidade do projeto reitera a importância da
(www.sebrae.com.br) o site Casos de Sucesso, onde o disseminação das melhores práticas observadas no âmbito
usuário pode acessar na íntegra todos os 156 estudos de atuação do Sistema Sebrae e de sua multiplicação para
das duas coletâneas por tema, região ou projeto, bem o público interno, rede de parceiros, consultores, professores
como fotos, vídeos e reportagens. e meio empresarial.

Todos os casos do projeto foram desenvolvidos sob a orientação


de professores tutores, atuantes no meio acadêmico e em
diversas instituições brasileiras, que auxiliaram os autores
a pesquisar dados, entrevistar pessoas e escrever os casos,
de acordo com a metodologia elaborada pelo Sebrae.

Foto do site do Sebrae. Casos de Sucesso.

Esperamos que essas histórias de sucesso possam


produzir novos conhecimentos e contribuir para fortalecer
os pequenos negócios e demonstrar sua importância
econômica no País.
Série Histórias
Boa leitura e aprendizado! de Sucesso.
Primeira edição 2003.
COPYRIGHT © 2004, SEBRAE – SERVIÇO DE APOIO ÀS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS

TODOS OS DIREITOS RESERVADOS – É permitida a reprodução total ou parcial, de qualquer


forma ou por qualquer meio, desde que divulgadas as fontes.

SEBRAE – Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas


Presidente do Conselho Deliberativo Nacional
Armando Monteiro Neto
Diretor-Presidente
Silvano Gianni
Diretor de Administração e Finanças
Paulo Tarciso Okamotto
Diretor Técnico
Luiz Carlos Barboza
Gerente da Unidade de Estratégias e Diretrizes
Gustavo Henrique de Faria Morelli
Gerente da Unidade de Inovação e Acesso à Tecnologia
Paulo César Rezende de Carvalho Alvim
Coordenação do Projeto Desenvolvendo Casos de Sucesso
Renata Barbosa de Araújo Duarte
Comitê Gestor do Projeto Desenvolvendo Casos de Sucesso
Cezar Kirszenblatt, SEBRAE/RJ; Daniela Almeida Teixeira, SEBRAE/MG; Mara Regina Veit, SEBRAE/MG;
Renata Maurício Macedo Cabral, SEBRAE/RJ; Rosana Carla de Figueiredo Lima, SEBRAE Nacional
Orientação Metodológica
Daniela Abrantes Serpa – M.Sc., Sandra Regina H. Mariano – D.Sc., Verônica Feder Mayer – M.Sc.
Diagramação
Adesign
Produção Editorial
Buscato Informação Corporativa

D812h Histórias de sucesso: experiências empreendedoras / Organizado


por Renata Barbosa de Araújo Duarte – Brasília: Sebrae, 2004.

292 p. : il. – (Casos de Sucesso, v.3)

Publicação originada do projeto Desenvolvendo Casos de


Sucesso do Sistema Sebrae.
ISBN 85-7333-387-1
1. Empreendedorismo 2. Estudo de caso 3. Tecnologia
4. Inovação I. Duarte, Renata Barbosa de Araújo II. Série

CDU 65.016:001.87

BRASÍLIA
SEPN – Quadra 515, Bloco C, Loja 32 – Asa Norte
70.770-900 – Brasília
Tel.: (61) 348-7100 – Fax: (61) 347-4120
www.sebrae.com.br
PROJETO DESENVOLVENDO CASOS DE SUCESSO

OBJETIVO
O Projeto Desenvolvendo Casos de Sucesso foi concebido em 2002 a partir das prioridades
estratégicas do Sistema SEBRAE com a finalidade de disseminar na própria organização, nas
instituições de ensino e na sociedade as melhores práticas de empreendedorismo individual e
coletivo observadas no âmbito de atuação do SEBRAE e de seus parceiros, estimulando sua
multiplicação e fortalecendo a Gestão do Conhecimento do SEBRAE.

METODOLOGIA “DESENVOLVENDO CASOS DE SUCESSO”


A metodologia adotada pelo projeto é uma adaptação do consagrado método de estudos
de caso aplicado em Babson College e Harvard Business School, que se baseia na história
real de um protagonista, que, em dado contexto, se encontra diante de um problema ou de
um dilema que precisa ser solucionado. Esse método estimula o empreendedor, o aluno ou a
instituição parceira a vivenciar uma situação real, convidando-o a assumir a perspectiva do
protagonista.

O LIVRO HISTÓRIAS DE SUCESSO – Edição 2004


Esse trabalho é o resultado de uma das ações do projeto Desenvolvendo Casos de Su-
cesso, elaborado por colaboradores do Sistema SEBRAE, consultores e professores de ins-
tituições de ensino parceiras. Esta edição é composta por três volumes, em que se
descrevem 76 estudos de casos de empreendedorismo, divididos por área temática:
• Volume 1 – Artesanato, Turismo e Cultura, Empreendedorismo Social e Cidadania.
• Volume 2 – Agronegócios e Extrativismo, Indústria, Comércio e Serviço.
• Volume 3 – Difusão Tecnológica, Soluções Tecnológicas, Inovação, Empreendedorismo e
Inovação.

DISSEMINAÇÃO DOS CASOS DE SUCESSO DO SEBRAE


O site Casos de Sucesso do SEBRAE (www.casosdesucesso.sebrae.com.br) visa divulgar as
experiências geradas a partir das diversas situações apresentadas nos casos, bem como suas
soluções, tornando-as ao alcance dos meios empresariais e acadêmicos.
O site apresenta todos os estudos de caso das edições 2003 e 2004, organizados por área de
conhecimento, região, municípios, palavras-chave e contém, ainda, vídeos, fotos, artigos de
jornal, que ajudam a compreender o cenário onde os casos se passam. Oferece também um
manual com orientações para instrutores, professores e alunos de como utilizar o estudo de caso
na sala de aula.
As experiências relatadas ilustram iniciativas criativas e empreendedoras no enfrentamento
de problemas tipicamente brasileiros, podendo inspirar a disseminação e aplicação dessas
soluções em contextos similares. Esses estudos estão em sintonia com a crescente importância
que os pequenos negócios vêm adquirindo como promotores do desenvolvimento e da geração
de emprego e renda no Brasil.
Boa leitura e aprendizado!

Gustavo Morelli
Gerente da Unidade de Estratégias e Diretrizes
Renata Barbosa de Araújo Duarte
Coordenadora do Projeto Desenvolvendo Casos de Sucesso

HISTÓRIAS DE SUCESSO – EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS EDIÇÃO 2004


MORARTES – INCORPORAÇÃO DE NOVAS
TECNOLOGIAS NO PROCESSO PRODUTIVO
SANTA CATARINA
MUNICÍPIO: IMBITUBA

INTRODUÇÃO

A colonização açoriana e a proximidade com o mar contribuíram para


que o município de Imbituba, localizado ao sul do Estado de San-
ta Catarina, explorasse de forma intensiva as atividades de pesca e o tu-
rismo. Desse modo, era natural que a atividade industrial apresentasse
um menor peso para a economia imbitubense.
No entanto, a empresa Morartes, em 1999, com quase 40 anos de ati-
vidade, encontrava-se mais ativa do que nunca, fabricando colchas e
edredons que eram vendidos em todo o território nacional. Comanda-
da pelo sr. Darci Cardoso Duarte e sua esposa, dona Olímpia Moreira
Duarte, a empresa vinha se desenvolvendo e crescendo de forma con-
tinuada. Seus produtos tinham boa aceitação, sendo reconhecidos pela
beleza e qualidade, atributos cada vez mais valorizados pelo deman-
dante mercado nacional.
A família Duarte estava ansiosa para atender à demanda crescente,
mas suas instalações, construções e maquinários, enfim, a capacidade
produtiva da Morartes, estava sendo utilizada em seu limite máximo. O
sr. Darci deveria decidir como superar o “doce” gargalo produtivo:
“queremos produzir mais, o mercado pede, mas não temos recursos
nem idéias de como fazer mais com o que temos”. Como vencer esse
desafio de expansão, sem perder a característica e o lema da empresa:
“Carinho feito à mão”?

Sérgio Henrique Pereira, consultor da Gerência de Inovação e Acesso à Tecnologia do SEBRAE/SC,


elaborou o estudo de caso sob a orientação do professor Marcos Cerqueira Lima, da Sociedade
Baiana de Educação Empresarial (FTE), integrando as atividades do Projeto Desenvolvendo Casos
de Sucesso do SEBRAE.

HISTÓRIAS DE SUCESSO – EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS EDIÇÃO 2004 1


Magali Senna

PROCESSO PRODUTIVO
Magali Senna

PROCESSO PRODUTIVO
MORARTES – INCORPORAÇÃO DE NOVAS TECNOLOGIAS NO PROCESSO PRODUTIVO – SEBRAE/SC

UM PEIXE FORA DA ÁGUA

C omo um peixe pode crescer fora da água? Como imaginar um em-


preendimento de pequeno porte se estabelecer, crescer e ser compe-
titivo num ambiente distante de apoio técnico, sem cultura empresarial,
sem associações de classe, sem entidades de apoio nem fomento e com
escassa cadeia produtiva?
Tudo começou em Porto Alegre, nos idos de 1962, quando dona Olím-
pia Moreira Duarte começou a criar e produzir as primeiras peças para de-
coração de quartos de bebê. Mais tarde, a produção se expandiu para
cortinas, artigos de cozinha e pintura em tecido. Dona Olímpia não pos-
suía experiência nem conhecimentos administrativos. Ainda assim, com o
apoio da filha, buscou por meio desse empreendimento informal gerar
renda para a família e ajudar no orçamento doméstico, ao mesmo tempo
que realizava uma atividade que a mantinha ocupada em casa. A ativida-
de se desenvolveu, atendendo exclusivamente às encomendas locais.
Alguns anos se passaram, e a família se mudou para a cidade de Imbi-
tuba, distante 90 quilômetro da capital catarinense, Florianópolis. Imbitu-
ba localiza-se numa região carbonífera, sem nenhuma tradição industrial,
apesar de possuir o segundo maior porto de Santa Catarina. A economia
girava em torno da pesca e do turismo, desenvolvido em virtude das be-
las praias da região, todas bem preservadas e exuberantes, e de alguns
prédios coloniais interessantes – principalmente o conjunto que cerca a
Igreja de Nossa Senhora da Conceição. Sua população era de aproxima-
damente 27 mil habitantes, em meados da década de 1980.
Em 1983 a empresa foi formalizada, tendo como sócias as filhas do ca-
sal. A Morartes é uma empresa tipicamente familiar, em que os membros
da família assumiram as responsabilidades de gestão administrativa, finan-
ceira, técnica e comercial e, muitas vezes, “botavam a mão na massa”, ou
melhor, nos tecidos e linhas. A mão-de-obra empregada era local e mui-
to reduzida, sendo treinada diretamente por dona Olímpia. A produção
baseava-se no corte manual dos tecidos utilizando moldes feitos em pa-
pel cartão. Em seguida, cada peça era emendada e recebia na seqüência
um enchimento de fibra sintética, e passava pela costura em máquina reta.
Dona Olímpia fazia a limpeza e o controle de qualidade antes da entrega
do produto ao comprador. A empresa funcionava numa casa adaptada
para a atividade industrial. As instalações civis e elétricas não eram as mais
adequadas em relação ao uso dos espaços físicos, layout e capacidade de

HISTÓRIAS DE SUCESSO – EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS EDIÇÃO 2004 3


SOLUÇÕES TECNOLÓGICAS

carga de energia elétrica para funcionamento das máquinas. O clima orga-


nizacional era muito bom. Percebia-se que as pessoas trabalhavam alegres
e motivadas, satisfeitas por produzirem peças de muita beleza e qualidade
e de pertencerem todos – donos e funcionários – à comunidade local. A
produção na época era muito pequena, atendendo a poucos pedidos lo-
cais, com receitas que cobriam apenas os custos operacionais. Dessa for-
ma, o número de funcionários era também reduzido, oscilando de 2 a 4.
A empresa Morartes passou a fornecer seus produtos inicialmente para o
mercado local e, num ritmo acelerado, passou a conquistar o mercado esta-
dual e nacional, estabelecendo parcerias com representantes comerciais em
diversos Estados brasileiros. O próprio sr. Darci exercia a função de represen-
tante comercial nos Estados de Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Paraná e
São Paulo, visualizando a expansão e o crescimento de sua empresa. As ven-
das ainda eram pequenas, cobrindo os custos da empresa, e o pouco de lu-
cro que obtinham era reinvestido. Os produtos lentamente foram atraindo a
atenção de lojistas e representantes comerciais, que ampliaram os canais de
distribuição dos produtos, cobrindo praticamente todo Brasil.
Dezesseis anos se passaram, e em 1999 a empresa permanecia compe-
titiva, continuando a vender suas colchas e edredons para o mercado na-
cional, que, por sua vez, respondia com mais pedidos de produtos.
Segundo depoimentos dos empresários e de alguns clientes, os produtos
“eram caracterizados pela beleza e qualidade do material e acabamento”,
distinguindo-se sobremaneira dos concorrentes.
Enquanto isso, Imbituba crescia. No ano 2000, já contava com uma popu-
lação de aproximadamente 35,7 mil habitantes e vivia a expectativa da insta-
lação de sua Zona de Processamento de Exportação (ZPE). Tinha um produto
interno bruto (PIB) per capita de R$ 1.930,00 e um índice de desenvolvimen-
to humano (IDH) de 0,805, exatamente a média do IDH dos municípios in-
tegrantes da região.
Mesmo com esse crescimento, a cidade não havia atraído organismos,
entidades e associações de apoio ao setor de confecções de cama, mesa
e banho. Ou seja, a empresa não podia contar com apoio e tecnologia lo-
cais. A economia da cidade continuava calcada nas atividades turísticas,
pesqueiras e de logística, explorando o primeiro porto privado do País, e
na Zona de Processamento de Exportação.
Nessa época, a empresa produzia 350 peças por mês, de 30 tipos de pro-
dutos diferentes, o que representava um faturamento mensal de R$ 20 mil.
A linha de produção ocupava 300 m2, onde atuavam 15 funcionários.

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MORARTES – INCORPORAÇÃO DE NOVAS TECNOLOGIAS NO PROCESSO PRODUTIVO – SEBRAE/SC

Sem agentes externos para aconselhá-lo, o sr. Darci começou a preo-


cupar-se em relação ao futuro; segundo sua avaliação, a capacidade pro-
dutiva da Morartes já estava em seu limite. Havia a possibilidade de
manter a empresa no nível de faturamento e mercado em que se encon-
trava, mas corria-se o risco da entrada de outros concorrentes e, como
resultado, a perda do mercado já estabelecido. Existia ainda a possibilida-
de de expansão, no entanto, isso envolvia investimentos incompatíveis
com a capacidade de endividamento da empresa. Os sócios raciocinavam
que não poderiam adquirir financiamentos pela própria dificuldade de
acesso a estes e aos elevados juros e por não terem condições de repas-
sar aos produtos os custos de empréstimos, com o risco de deixá-los os
produtos pouco competitivos.
A empresa tinha, desde sua fundação, o lema: “Fazer tudo carinhosamen-
te, primando pela qualidade”, que traduzia suas origens nas mãos cuidado-
sas de dona Olímpia. O sr. Darci tomou então a decisão de buscar apoio
externo como forma de encontrar uma alternativa para seu principal proble-
ma: como expandir a produção sem perder a identidade original?

DOCE PROBLEMA...

O problema estava claro, a saída obscura. O sr. Darci partiu em busca


de profissionais que pudessem ajudá-lo. Seu primeiro contato foi
com o SEBRAE/SC. Em Florianópolis, conversou com consultores da área
de tecnologia, que ouviram sua história e entenderam seu problema.
Nessa conversa, procurou-se extrair o máximo de informações relevan-
tes para um encaminhamento de soluções. Um conselho, ou uma dica, ou
uma receita pronta não serviriam, era necessário aprofundar-se na busca
de alternativas. O SEBRAE sugeriu que a ação mais apropriada seria a rea-
lização de uma consultoria para que se fizesse um diagnóstico da situa-
ção da Morartes.
Com a concordância do sr. Darci, foi encaminhado seu problema para
os consultores do Grupo de Análise do Valor (GAV), instalado no Depar-
tamento de Engenharia de Produção da Universidade Federal de Santa
Catarina (UFSC). O coordenador do GAV, juntamente com outros consulto-
res, visitaram a empresa e fizeram uma radiografia de seu funcionamento.
O diagnóstico apontou que o processo produtivo artesanal, que utiliza
a técnica de costura reta em retalhos, exigia mão-de-obra especializada e

HISTÓRIAS DE SUCESSO – EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS EDIÇÃO 2004 5


SOLUÇÕES TECNOLÓGICAS

rigoroso controle de qualidade para que se produzissem colchas e edre-


dons de padrão elevado. A limitação do espaço físico e o layout inade-
quado contribuíam fortemente para a redução da produtividade. Não
havia limite mínimo de peças a cada pedido. O cliente tinha a liberdade
de solicitar uma peça de cada tipo, ocasionando grandes dificuldades no
planejamento, produção e entrega no tempo previsto.
Com o diagnóstico detalhado em mãos, o consultor elaborou uma pro-
posta de trabalho que obteve o apoio do SEBRAE/SC, por meio do Pro-
grama de Apoio Tecnológico às Micro e Pequenas Empresas (Patme). A
empresa foi beneficiada com um subsídio que cobriu 32% dos custos da
proposta de trabalho apresentada pelo GAV.
A proposta previa o mapeamento do processo produtivo, para a iden-
tificação dos fluxos de matéria-prima de cada produto e a projeção de um
layout mais adequado para otimizar e melhorar a produção. Estava pre-
vista, também, a aplicação de técnicas que permitissem aos donos da em-
presa obter melhor controle sobre processo produtivo.
Algumas ações deveriam ser implementadas, como controle de estoque
e melhoria no fluxo de informações, entre o setor comercial e o setor de
produção. Esperava-se, com isso, aumentar a produção, garantindo a qua-
lidade dos produtos. A melhoria das condições de trabalho refletiria no
aumento da produtividade. Pretendia-se também promover a utilização de
ferramentas/tecnologia de controle adequadas às características da empre-
sa, bem como um layout apropriado, resultando na redução dos desper-
dícios de materiais e tempos de produção e de entrega. E, finalmente,
buscava-se conscientizar os empresários e colaboradores envolvidos so-
bre a importância da organização e controle do processo produtivo.
A empresa apresentava condições favoráveis para investir num projeto
dessa natureza, pois a venda dos produtos já estava assegurada, uma vez
que havia demanda reprimida. Como dizia o consultor do GAV, “Era fun-
damental a postura do empresário, de estar aberto a mudanças e buscar
em pessoas especializadas a solução de seus problemas, minimizando o
risco de investir capital e esforços em idéias pouco elaboradas”.
A execução do projeto levou em consideração a realidade da empresa,
respeitando suas restrições financeiras e a pouca disponibilidade de
tempo do empresário e sua equipe. O mapeamento dos processos produ-
tivos exigiu grandes esforços, em virtude da composição do mix de pro-
dutos. O levantamento do processo foi realizado pela identificação das
atividades, fluxos de materiais e mão-de-obra, mensuração dos tempos

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MORARTES – INCORPORAÇÃO DE NOVAS TECNOLOGIAS NO PROCESSO PRODUTIVO – SEBRAE/SC

e limitações do espaço físico. O levantamento das informações era feito


por meio de entrevistas com o empresário e funcionários para a identificação
das características gerenciais e operacionais específicas de cada produto.
As consultorias foram realizadas em etapas predefinidas. As primeiras in-
tervenções ocorreram em 2001, em que se buscou atender às necessidades
mais urgentes e permitir à empresa capitalizar-se para que, posteriormente,
pudessem ser feitos mais investimentos. Foram realizadas cinco reuniões
para levantamento da situação da empresa, envolvendo todos os funcioná-
rios, num total de 15 pessoas, do setor produtivo e administrativo. O tempo
de execução foi de três meses, com um investimento total do projeto de
R$ 5.600,00. As várias interações entre os consultores e a empresa possibili-
taram a geração das soluções para a melhoria do fluxo produtivo. Essa for-
ma participativa e construtiva de consultoria gerou comprometimento, o que
incentivou e legitimou todo o trabalho. Todos estavam se sentindo respon-
sáveis pelas mudanças e avanços alcançados.
Uma nova área para a produção foi disponibilizada, aproveitando um
espaço ocioso. Isso permitiu que o layout fosse completamente reformu-
lado. As alterações implantadas no processo produtivo podem ser conside-
radas radicais: mudou-se o conceito de produção, passando-se de um
arranjo linear, que apresentava uma produtividade de 350 peças/mês, para
um novo arranjo, baseado no conceito de células de produção, o que per-
mitiu grande flexibilização do processo produtivo, triplicando a produtivi-
dade para 900 peças/mês. Tal conceito celular tem o objetivo de aumentar
o uso dos equipamentos, permitindo maior flexibilidade da produção.
Devido à reestruturação física e gerencial que tornou o fluxo produtivo
organizado em células de produção, puderam ser adotados: a) os métodos
just in time1; b) a otimização do fluxo de matéria-prima e produtos em pro-
cesso através da aproximação dos estoques aos postos de trabalho; c) o sis-
tema integrado de vendas/produção; d) o Sistema BSC (Balanced
Scorecard), que permitiu a geração de indicadores de desempenho orien-
tados à condição competitiva do negócio. Essas técnicas permitiram à em-
presa melhor organização das seqüências de produção conforme fossem
gerados os pedidos dos clientes. Uma vez concluídos os pedidos, estes
passaram a ser expedidos, e as informações geradas passaram a compor
1
É uma filosofia de produção desenvolvida após a II Guerra Mundial pela Toyota Motor Company,
orientada para a eliminação de desperdícios no processo de produção. Ele exige que a adminis-
tração faça todo o possível para ter as peças certas no lugar certo, no tempo certo e exatamente na
quantidade certa, ou seja, nem mais nem menos.

HISTÓRIAS DE SUCESSO – EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS EDIÇÃO 2004 7


SOLUÇÕES TECNOLÓGICAS

a base de dados gerenciais, onde eram analisados os mais diversos indi-


cadores de desempenho.
Várias outras ações foram desencadeadas ao longo das consultorias,
nas quais foram aplicados mais de 350 horas e recursos investidos de
apenas R$ 18.200,00, sendo que aproximadamente 20% foram aporta-
dos pelo Programa SEBRAE de Consultoria Tecnológica (Sebraetec). Se-
gundo o sr. Darci, “A consultoria, agora, virou um hábito na nossa
empresa”. Entre as várias ações aplicadas podem-se destacar:
a) Desenvolvimento de fichas técnicas de produção que exigiram grande
esforço de todos os colaboradores da empresa no sentido da definição
de padrões a serem seguidos;
b) Estruturação de base de dados gerencial, que permitiu a interpretação e o
acompanhamento do desempenho da empresa, possibilitando com isso
identificar não apenas os produtos mais interessantes para a empresa,
como também as oportunidades de melhoria dos produtos deficitários
a serem ajustados ou descartados;
c) definição de uma política direcionada para a captação de novos clien-
tes, com foco ajustado segundo os produtos de melhor desempenho
financeiro (maior valor agregado);
d) desenvolvimento de um sistema de controle de custos e avaliações geren-
ciais em planilha eletrônica. Apesar de simples, esse sistema facilitou a
identificação de prioridades e oportunidades de melhoria na empresa;
e) estabelecimento da prática do planejamento, que passaria a contar com
a participação ativa de todos os colaboradores da empresa;
f) desenvolvimento de dispositivos para o controle das atividades ter-
ceirizadas;
g) definição de áreas para refeição, vestiários e descanso para os fun-
cionários;
h) controle visual de todo o processo produtivo;
i) contratação de novos funcionários.
Os retalhos de tecidos passaram a ser integralmente aproveitados. Uma
parte passou a ser utilizada na fabricação de almofadas estilizadas, e o que
não tinha mais serventia era doado para a fabricação de estopas e panos de
limpeza. Além disso, a empresa adotou como política de qualidade a limpe-
za e organização constante do ambiente, atentando aos aspectos de saúde e
segurança no trabalho.
Todo esse empenho foi inédito, pois, até então, a empresa jamais ti-
nha passado por um processo de consultoria. As conquistas alcançadas

8 EDIÇÃO 2004 HISTÓRIAS DE SUCESSO – EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS


MORARTES – INCORPORAÇÃO DE NOVAS TECNOLOGIAS NO PROCESSO PRODUTIVO – SEBRAE/SC

decorrentes dos trabalhos realizados foram significativas. O faturamen-


to aumentou em quase 300%, o que representou um crescimento do lu-
cro da ordem de 50%. A reestruturação financeira permitiu o
gerenciamento de capital de giro próprio, suficiente para aumento de
demanda superior a 50%, ampliação do crédito concedido por fornece-
dores superior a 30 dias. Novos postos de trabalho foram criados, entre
contratados e faccionistas, num total de mais 65 posições. Ampliaram-
se o número de fornecedores com o ingresso de 50 novos fornecedores
de serviços de facção, gerando empregos. Houve expansão de 150% da
área construída. E, claro, a base de clientes cresceu significativamente,
na ordem de 250% da carteira existente anteriormente.
Muita dedicação foi exigida do sr. Darci, sua família e funcionários.
Foram muitas horas em busca de dados, registro de informações e reu-
niões exaustivas, que resultaram no amadurecimento profissional dos
funcionários e gestores da Morartes.
Os processos produtivos foram totalmente reorientados a partir da amplia-
ção da estrutura física. Um novo trabalho de consultoria foi realizado no iní-
cio de 2004, com um investimento de R$ 12.600,00, em que o SEBRAE/SC
investiu R$ 3 mil, resultando na construção de um novo galpão com área útil
superior a 500 m2. Os ajustes adotados no processo produtivo e a implanta-
ção de um sistema de avaliações gerenciais apoiado por uma estrutura de
custos adequada permitiram à empresa se capitalizar e realizar todos os in-
vestimentos com recursos próprios, num montante superior a R$ 230 mil.

CONCLUSÃO

O que parecia ser um doce problema transformou-se em um projeto de


geração de riqueza para a empresa e para a comunidade.
Mesmo com todos os avanços e inovações a que foi submetida a
Morartes, experimentando uma taxa de crescimento de 300% no fatu-
ramento, trabalhando com um número de 40 funcionários mais 40 fac-
cionistas, tendo uma carteira de 632 clientes no mercado interno e,
desde maio de 2004, vendendo para o mercado externo, seu principal
diferencial continuou sendo fabricar os produtos de forma artesanal,
fortalecendo com isso seu lema: “Carinho feito à mão”.
Em 2004, começou a ser preparado um novo direcionamento estraté-
gico, que apontou para a produção de peças de maior valor agregado,

HISTÓRIAS DE SUCESSO – EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS EDIÇÃO 2004 9


SOLUÇÕES TECNOLÓGICAS

permitindo aumento do faturamento e da lucratividade média do negócio.


O planejamento futuro da empresa envolverá um aumento de sua
capacidade produtiva da ordem de 500%, viabilizado por meio da cons-
trução do novo galpão, localizado na área industrial do município. Esse
investimento irá gerar 60 novos empregos diretos e duplicar o atual volu-
me de contratação de serviços de terceiros da região.
Fruto da receptividade e da capacidade criativa dos empresários, a
Morartes atingiu um nível elevado de excelência em seus processos, reco-
nhecido pela aceitação de seus produtos no mercado.
O desafio de lidar com o crescimento continua e deverá exigir do sr.
Darci novas e criativas decisões.

QUESTÕES PARA DISCUSSÃO

• Analise a decisão da empresa em solicitar uma consultoria externa,


quando poderia contratar funcionários qualificados. Qual, em sua opinião,
seria a atitude mais adequada?

• Que fatores foram preponderantes para o sucesso na expansão


promovida pelo sr. Darci?

• No caso da Morartes, qual a intervenção mais importante? As


relacionadas ao processo produtivo ou as de gestão?

AGRADECIMENTOS

Diretoria Executiva do SEBRAE/SC: Anacleto Ângelo Origara, Carlos Guilherme Zigelli e José
Alaor Benardes.

Coordenação Técnica: Sérgio Henrique Pereira.

Colaboração: Adriano Oliveira Alves, SEBRAE/SC, Iriberto A. Moschetta, SEBRAE/SC; Dante Luiz
Juliatto, UFSC/EPS/GAV, Charles Edsom Savaris, UFS/EPS/GAV; Darci Carsoso Duarte, proprietária
da Morartes e Magali D. Senna, sócia da Morartes.

10 EDIÇÃO 2004 HISTÓRIAS DE SUCESSO – EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS


MORARTES – INCORPORAÇÃO DE NOVAS TECNOLOGIAS NO PROCESSO PRODUTIVO – SEBRAE/SC

BIBLIOGRAFIA

IBGE. Censo 2000. População. PNUD, ONU, 2003. Índice de Desenvolvi-


mento Humano Municipal (IDH-M).

PREFEITURA MUNICIPAL DE IMBITUBA. Disponível em: <http://www.imbi-


tuba.sc.gov.br>.

Projeto PATME nº 9728, 1º ago. 2001.

Projeto Sebraetec nº 6227, 30 mar. 2004.

HISTÓRIAS DE SUCESSO – EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS EDIÇÃO 2004 11

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