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São Paulo:
Brasiliense, 1994
Rogério Vial
Também fala diretamente sobre o modo de produção feudal da Idade Média. Faz
importante analises sobre as diferenças técnicas, econômicas e estruturais nas
regiões. O Ocidente caminhando para o Feudalismo a passos largos e o Oriente nos
dando uma impressão que não participou desta época chamada Idade Média. Isso se
apresenta no momento em que o Ocidente se quebra em feudos e sofre diversas
invasões, enquanto o Oriente se fortalece em Constantinopla assegurando uma
“unidade” em torno da cidade. Essa “unidade” se caracteriza pelo modo econômico e
de produção que se difere do que acontece nesta época no Ocidente. Mas destaca
que o sistema escravo foi utilizado em larga escala na agricultura, principal meio
produtivo neste período. A importância da agricultura que foi a base da economia
antiga, na verdade era cultivada pelos escravos.
Esse trabalho nos dá uma visão marxista de pontos cruciais sobre a vida econômica
da Europa e do Oriente próximo. Não chega a aprofundar um único ponto, mas lança
a tese de que o modo de produção escravo foi determinante no desenvolvimento
social e econômico das sociedades antigas, e o colapso no Ocidente teve relacionado
à falência deste tipo de método produtivo.
Portanto podemos concluir que Perry Anderson conseguiu mostrar-nos uma visão
sobre uma época em que a economia e a política se entrelaçavam e ditavam as regras
gerais da vida social para a época e quanto o trabalho escravo era importante e usado
principalmente na agricultura, nos mostra também a precária situação dos mesmos
perante a sociedade antiga.
Trecho do livro
A vida e obra de Marc Bloch, está contida e atrelada a um período obscuro da história
da humanidade, assim como, também, seu pensamento combativo está transportado
para o campo da pesquisa e de seus escritos, alguns elaborados de forma adversa e,
concomitantemente, necessária, sobretudo para as gerações posteriores.
Marc Bloch é oriundo da França, país que estivera envolvido nas grandes guerras, e,
por conseguinte sofrera suas investidas, assim como muitos da Europa e do mundo.
Mas o fato é que dado o grau de pensamento de esquerda ao qual Bloch estava
associado, sua posição fora de combater e repelir a ascensão do nazismo, por isso
fora perseguido, preso e torturado pela gestapo, e a consequência disso foi seu
fuzilamento em 1944. Porém, antes, este participara diretamente dos confrontos em
campo de guerra. E devido a seu afastamento do campo de batalha, num primeiro
momento fora se dedicar ao liceu, prática que gostava, e, num segundo momento, já
na segunda grande guerra, esteve em posse de um desejo de escrever, mesmo que
sem o suporte de livros, apenas com o auxílio do que estava em sua memória. Prova
da grande experiência no campo prático ao qual esteve submerso ao longo de sua
vida. Além disso, outro fato importante, talvez um dos mais essenciais, é a coautoria
da Revista dos Annales, de 1929, um marco fundador da historiografia. Dada a
importância que dera ao sentido de se estudar e pesquisar, de uma forma a
problematizar a história, e não apenas encara-la como algo já resolvido. Uma vez que
mostrou outra forma dessa ciência, que não mais poderia se limitar aos campos
econômicos e políticos, ou seja, teria que ser interdisciplinar, sem perder a história.
Na sociologia teve Emile Durkheim como sua grande referência.
Dentre as várias obras escrita pelo autor, encontra-se Apologia da História ou o Ofício
de Historiador, pensada e desenvolvida pouco antes de sua morte em 1944, e
caracterizado como sendo uma obra inacabada, e só publicado postumamente em
1949 pelo seu companheiro de luta e estudos, Lucien Febvre.
Dessa forma, na capa do referido livro, é nos evidenciado a aproximação que o autor
teve com os estudos e pesquisas medievais, mesmo sabendo que não foi o mesmo
que o confeccionou. E nos prefácios de Jacques Le Goff e apresentação de Lilia Moritz
Schwarcz, o leito adentra num universo onde a perseverança do autor está na ordem
do dia, sobretudo quando sua vida é contextualizada a um período sombrio, mas sem
nunca deixar sua marca esplendida no campo da ciência que serve até hoje como
inspiração para os que se aventura na pesquisa científica, um tratado de metodologia.
Por isso tamanha reverberação de seu pensamento num campo político que se faz
necessário para as gerações que não apenas se contentam em confinar suas
pesquisas em apenas uma linha referencial, e guardar seus estudos e conhecimentos
em gavetas, gabinetes e bibliotecas empoeiradas. Este, sim, expõe na sua vida
teórica, as experiências práticas, de luta.
O livro faz jus àquela famosa frase do autor que diz: “saber falar, no mesmo tom, aos
doutos e aos estudantes”. Entendendo com isto que, fazer uma pesquisa é,
principalmente produzir conhecimento, e este deverá estar ao alcance e compreensão
de todos, não apenas a um grupo restrito de intelectuais. Além da característica
mencionada, que o leitor irá comprovar ao fazer a leitura, a obra é composta por um
prefácio e introdução que já desperta o desejo em prosseguir nas páginas posteriores.
Então, a obra é composta por 159 páginas, subdivididos em cinco capítulos, sendo
que o último apresenta-se de forma inacabada, mas que em nenhum momento perde
o grau de importância na sua plena forma lúcida, pois a proposta dos capítulos
anteriores também converge para este último, os homens na história. Um livro que
trata de questões metodológicas, algumas orientações mais que necessárias para os
que se arriscam nesse campo de extremos desafios.
Na introdução, Bloch discorre sobre o que lhe motivou a escrever o livro, que foi a
pergunta feita pelo seu filho: ‘Papai, então me explica para que serve a história’.
Partindo desse questionamento, o despertar para uma explicação tão lúcida e
impactante, no sentido da magnitude da qual a obra se tornou. E mais adiante, expõe
o fato de que a ciência será incompleta se não tiver algo a fornecer como melhora, a
alterar de tal forma uma dada realidade que as ajude a encontrar um caminho para
uma vida melhor. E a resposta se deu em formato de problematização, ou seja, o autor
aconselha que os que pretendem atuar nesse âmbito, exercendo o ofício de
historiador, tem que ser um escavador, um ogro, um ser incomodado com os termos
e versões que atravessam o tempo. Entendamos nas linha que seguem.
Assim como, relaciona a história ao homem, o tempo, como visualizam seus ídolos, e
o que entende por passado e presente. Ao escrutar essas formas relacionadas á sua
pesquisa, afirma que “…o bom historiador se parece com o ogro da lenda. Onde fareja
carne humana, sabe que ali está a sua caça.” Ou seja, a história, para Bloch, é por
sua vez, a história dos homens no tempo, e não apenas de fatos estanques e
impermeáveis. Haja vista sua grande preocupação com a interdisciplinaridade ao qual
os pesquisadores deveriam estar entrelaçados. Ou seja, a compreensão da sociedade
passava por temas e conteúdos de várias outras ciências, o que deixa a entender que
seu pensamento ainda converge para a proposta da fase da Escola do Annales, onde
a crítica estava exatamente, entre outras, para a história da economia e política, que
elencavam assuntos dos grandes homens e militares. E, sim, como o próprio Bloch
irá citar ao longo da obra, uma história dos homens no tempo.
Com isto, para o autor não basta ter os documentos para a realização da pesquisa, é
fundamental que o pesquisador saiba fazê-los falar, interrogando-os de forma a extrair
pontos que não se encontram tão evidentes num determinado fato. Dessa forma o
leitor irá perceber que a problematização proposta pela Escola dos Annales, é a todo
momento transportada para os escritos de Marc Bloch, de forma a fundamentar o
presente trabalho.
O capítulo seguinte denominado de A crítica, abordam pontos que o autor acredita
serem necessários para que o estudioso não acredite em tudo que lhe for oferecido
como fonte, pois a mesma pode não ser verdadeira, levando-o a cair em descredito,
caso o mesmo a use em seus trabalhos. Por este motivo é que Marc Bloch envolve o
leitor num viés onde acaba por despertar, ou pelo menos chama atenção para a
criticidade. Crítica que exemplifica com algumas passagens no decorrer do referido
capítulo, principalmente quando põe em xeque, sobretudo os documentos do período
medieval (Cabe ressaltar que fora um especialista no período medieval), assim como
levanta a possibilidade da pesquisa, ou o tempo envolvido para tal, se transforme em
uma peça sem qualquer utilidade, como o mesmo descreve, “…Não existe pior
desperdício do que o da erudição quando gira no vazio…”. (p.93, par. 2°).
Faz críticas severas aos copiadores, pois estes se encontram em vias do fracasso,
uma similitude bem próxima ao vazio intelectual daqueles que não falam a verdade.
Dessa forma, todos aqueles que mentem estarão caminhando para o insucesso na
profissão a qual escolheu.
Seguindo nesse capítulo, o autor discorre sobre outra temática que é Da diversidade
dos fatos humanos à unidade da consciência. Onde procura evidenciar com fatos
históricos e pesquisas, a multiplicidades que o historiador irá encontrar pela frente.
Além de fazer criticas as formas fragmentadas de conhecimento. Usa em suas
explanações, autores como Fustel de Coulanges, François Simiand, dentre outros. E
quando trata das Nomenclaturas, tem o cuidado de elencar as varias possibilidades
que possam alterar os nomes, como, por exemplo, cita o capitalismo, capital, em
momentos diversos da historiografia, e, por conseguinte, para os grupos diferentes.
Seguindo no raciocínio, profere que “O homem fala unicamente com palavras” (p.138),
diferentemente de outras áreas do conhecimento que podem fazer uso de símbolos,
e tantas outras maneiras de comunicabilidade.
Seu último capítulo, curto, porém, tão essencial quanto os anteriores, seguirá com a
mesma magnitude, quando levará o leitor a seguir compreendendo o tratado
metodológico, que percorreu todo o livro. Então inicia fazendo uma crítica ao
positivismo:
Com isso, subentende-se que a ciência não pode tirar dos fatos ocorridos, seja ele
qual for, sua causas, assim como também não podem excluir, como já fora
mencionado pelo autor no começo do livro, os homens na história. Bloch, reforça no
final deste capítulo que as causas são buscadas, uma mensagem para que o
historiador não se acomode diante dos fatos que lhe são visíveis, este deverá ir além,
e a pesquisa é o caminho.
Algumas Considerações
As observações que se pretende aqui para finalizar a presente análise, pode muito
bem partir de uma citação feita pela historiadora Lilia Moritz Schwarcz, na
apresentação da referida obra, que diz o seguinte: “Dizem que os bons pensadores
sobrevivem às suas obras; nesse caso o provérbio é literalmente verdadeiro”. (p.12).
Tal afirmação se encaixa perfeitamente para a vida e obra de Marc Bloch, assim como,
também, a mesma reforça o grau de importância dos escritos desse combatente autor,
e o que deixara como legado para as gerações que se arriscam na aventura no campo
da pesquisa. Além disso, seu o pensamento é transportado para suas obras, e está
intrinsecamente associado á sua trajetória. Portanto, um homem que problematizava
seu tempo.
Dessa forma, faz se urgente nos dias atuais, a leitura e compreensão desse livro, que
embora esteja quase sempre associado às questões metodológicas, também podem
ser visto como uma denúncia aos desmandos do nazismo, e que se tornou fruto e
resultado de um período turbulento, mas que se dirigiu para os que pretende seguir
no campo da pesquisa historiográfica (ofício de historiador), e desafiar, agora, as
lacunas insistentemente alimentada pela vulnerabilidade de uma sistema que busca
fragmentar o saber na sua completude. Ler Apologia da História, é, também,
problematizar o passado levando em consideração o que acontece no presente.
Nota: