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ANDERSON, Perry Passagens da Antiguidade ao Feudalismo.

São Paulo:
Brasiliense, 1994
Rogério Vial

Resenha: O livro Passagens da Antiguidade ao Feudalismo de Perry Anderson, é


uma síntese moldada pela historiografia marxista. O livro em si aborda a política, o
modo de produção, a economia e as crises acarretadas por este conjunto aglutinado.
Sua intervenção contém uma linha profundamente marxista, e isso dá uma grande
notoriedade à obra justamente por tratar de temas econômicos e sociais dessa época.
As duas partes do livro são entrelaçadas de forma coerente e sincrônica. A primeira
dedicada a Antiguidade Clássica e a Transição é subdividida nas seguintes partes; O
modo de produção escravo: A Grécia: O mundo helênico: Roma: O cenário
Germânico: As invasões: e Em busca de uma síntese. A segunda parte analisa a
Europa Ocidental e Oriental e como elas se desenvolveram diferentemente com seus
modos políticos e econômicos e as peculiaridades de cada uma. É subdividida em; O
modo de produção feudal: Tipologia das formações sociais: O extremo norte: A
dinâmica feudal: A crise geral: A leste do Elba: O atraso nômade: O padrão de
desenvolvimento: A crise do Leste: e Ao sul do Danúbio:
No plano produtivo, ele destaca a política mediterrânea com os Gregos e sua época
clássica. Analisa a “prosperidade” trazida pelo “modo de produção escravo”. A
maquina romana movida pelo trabalho escravo e a população “urbanizada” nas
margens do sistema político-econômico dominado pelos aristocratas e latifundiários
romanos.

Também fala diretamente sobre o modo de produção feudal da Idade Média. Faz
importante analises sobre as diferenças técnicas, econômicas e estruturais nas
regiões. O Ocidente caminhando para o Feudalismo a passos largos e o Oriente nos
dando uma impressão que não participou desta época chamada Idade Média. Isso se
apresenta no momento em que o Ocidente se quebra em feudos e sofre diversas
invasões, enquanto o Oriente se fortalece em Constantinopla assegurando uma
“unidade” em torno da cidade. Essa “unidade” se caracteriza pelo modo econômico e
de produção que se difere do que acontece nesta época no Ocidente. Mas destaca
que o sistema escravo foi utilizado em larga escala na agricultura, principal meio
produtivo neste período. A importância da agricultura que foi a base da economia
antiga, na verdade era cultivada pelos escravos.

Esse trabalho nos dá uma visão marxista de pontos cruciais sobre a vida econômica
da Europa e do Oriente próximo. Não chega a aprofundar um único ponto, mas lança
a tese de que o modo de produção escravo foi determinante no desenvolvimento
social e econômico das sociedades antigas, e o colapso no Ocidente teve relacionado
à falência deste tipo de método produtivo.

Portanto podemos concluir que Perry Anderson conseguiu mostrar-nos uma visão
sobre uma época em que a economia e a política se entrelaçavam e ditavam as regras
gerais da vida social para a época e quanto o trabalho escravo era importante e usado
principalmente na agricultura, nos mostra também a precária situação dos mesmos
perante a sociedade antiga.

Trecho do livro

A agricultura representou através de sua história o setor inteiramente dominante da


produção, fornecendo invariavelmente as principais fortunas das próprias cidades. As
cidades grego-romanas nunca foram predominantemente comunidades de artífices,
mercadores ou negociantes: elas eram em sua origem e princípio, conglomerados
urbanos de proprietários de terras. Cada agrupamento municipal, fosse da
democrática Atenas, de Esparta oligárquica ou da Roma senatorial, era
essencialmente dominado por proprietários agrários. Sua renda provinha do milho, do
azeite e do vinho – os três grandes produtos básicos do Mundo Antigo, vindos de
terras e fazendas fora do perímetro físico da própria cidade. Dentro dela, as
manufaturas permaneciam poucas e rudimentares: o gênero das mercadorias urbanas
normais nunca ia muito além dos têxteis, cerâmica, mobília e os utensílios de vidro. A
técnica era simples, a demanda, limitada e o transporte era exorbitantemente custoso.
O resultado era que as manufaturas da Antiguidade se desenvolviam tipicamente não
por um aumento da concentração como em épocas posteriores, mas pela
descentralização e dispersão, já que a distancia ditava mais os custos relativos da
produção do que a divisão do trabalho. Uma idéia do peso comparativo das economias
urbana e rural do mundo clássico é fornecida pelos rendimentos fiscais respectivos
pagos por todos no Império Romano no século IV a.C., quando o comércio da cidade
ficou sujeito finalmente a uma arrecadação imperial pela primeira vez, através da
collatio lustralis de Constantino: a renda deste imposto nas cidades nunca subiu a
mais de 5 por cento da taxa imposta às terras. (pg. 19-20)

O trabalho escravo da Antiguidade clássica, portanto incorporava dois atributos


contraditórios em cuja unidade está o segredo da paradoxal precocidade urbana do
mundo grego-romano. Por um lado, a escravidão representava a mais radical
degradação rural imaginável do trabalho – a conversão de seres humanos em meios
inertes de produção, por sua privação de todo direito social e sua legal assimilação às
bestas de carga: na teoria romana, o escravo da agricultura era designado como
sendo um instrumentum vocale, um grau acima do gado, que consistia um
instrumentum semi vocale, e dois acima do implemento, que era um instrumentum
mutum. Por outro lado, a escravidão era simultaneamente a mais drástica
comercialização urbana concebível do trabalho: a total redução da individualidade do
trabalhador a um objeto de compra e venda, nos mercados metropolitanos de
comércio de mercadorias. (pg. 24)

A queda do Império Romano no Ocidente foi determinada basicamente pela dinâmica


do modo de produção escravo e suas contradições, uma vez detida a expansão
imperial. A razão essencial por que foi o Império Ocidental que desmoronou no século
V , e não o Oriental, é que foi ali que a agricultura escrava extensiva encontrou seu
hábitat nativo, com as conquistas romanas da Itália, da Espanha e da Gália. Nestes
territórios não havia civilização anterior madura para resistir à nova instituição latina
do latifúndio escravo, ou modifica-la. Assim foi sempre nas províncias ocidentais que
a lógica desumana do modo de produção atingiu sua mais completa e mais sinistra
expressão, definitivamente enfraquecendo e fazendo ruir todo o edifício imperial. No
Mediterrâneo oriental, por outro lado, a ocupação romana nunca foi superposta a uma
semelhante tabula rasa. Ao contrário, encontrou ali um meio ambiente costeiro e
marítimo que já havia sido densamente povoado com cidade comerciais pela grande
onda de expansão grega no período helênico. Fora esta colonização grega anterior
que havia estabelecido a ecologia social básica do Oriente, do mesmo modo a
posterior colonização romana estabeleceria a do Ocidente. As duas faces críticas
deste modelo helênico, como vimos, eram a relativa densidade das cidades e das
dimensões relativamente modestas da propriedade rural. A civilização grega havia
desenvolvido a escravidão agrícola, mas não a sua organização extensiva num
sistema de latifúndios; seu crescimento urbano e comercial fora mais espontâneo e
policêntrico que o de Roma. (pg. 256-257)
Resenha do livro: Apologia da história ou o ofício de historiador
BLOCH, Marc. Apologia da história ou o ofício de historiador Rio de Janeiro. Ed.
Zahar/2001.

Por Edinei Pereira*

A vida e obra de Marc Bloch, está contida e atrelada a um período obscuro da história
da humanidade, assim como, também, seu pensamento combativo está transportado
para o campo da pesquisa e de seus escritos, alguns elaborados de forma adversa e,
concomitantemente, necessária, sobretudo para as gerações posteriores.

Marc Bloch é oriundo da França, país que estivera envolvido nas grandes guerras, e,
por conseguinte sofrera suas investidas, assim como muitos da Europa e do mundo.
Mas o fato é que dado o grau de pensamento de esquerda ao qual Bloch estava
associado, sua posição fora de combater e repelir a ascensão do nazismo, por isso
fora perseguido, preso e torturado pela gestapo, e a consequência disso foi seu
fuzilamento em 1944. Porém, antes, este participara diretamente dos confrontos em
campo de guerra. E devido a seu afastamento do campo de batalha, num primeiro
momento fora se dedicar ao liceu, prática que gostava, e, num segundo momento, já
na segunda grande guerra, esteve em posse de um desejo de escrever, mesmo que
sem o suporte de livros, apenas com o auxílio do que estava em sua memória. Prova
da grande experiência no campo prático ao qual esteve submerso ao longo de sua
vida. Além disso, outro fato importante, talvez um dos mais essenciais, é a coautoria
da Revista dos Annales, de 1929, um marco fundador da historiografia. Dada a
importância que dera ao sentido de se estudar e pesquisar, de uma forma a
problematizar a história, e não apenas encara-la como algo já resolvido. Uma vez que
mostrou outra forma dessa ciência, que não mais poderia se limitar aos campos
econômicos e políticos, ou seja, teria que ser interdisciplinar, sem perder a história.
Na sociologia teve Emile Durkheim como sua grande referência.

Dentre as várias obras escrita pelo autor, encontra-se Apologia da História ou o Ofício
de Historiador, pensada e desenvolvida pouco antes de sua morte em 1944, e
caracterizado como sendo uma obra inacabada, e só publicado postumamente em
1949 pelo seu companheiro de luta e estudos, Lucien Febvre.

Dessa forma, na capa do referido livro, é nos evidenciado a aproximação que o autor
teve com os estudos e pesquisas medievais, mesmo sabendo que não foi o mesmo
que o confeccionou. E nos prefácios de Jacques Le Goff e apresentação de Lilia Moritz
Schwarcz, o leito adentra num universo onde a perseverança do autor está na ordem
do dia, sobretudo quando sua vida é contextualizada a um período sombrio, mas sem
nunca deixar sua marca esplendida no campo da ciência que serve até hoje como
inspiração para os que se aventura na pesquisa científica, um tratado de metodologia.
Por isso tamanha reverberação de seu pensamento num campo político que se faz
necessário para as gerações que não apenas se contentam em confinar suas
pesquisas em apenas uma linha referencial, e guardar seus estudos e conhecimentos
em gavetas, gabinetes e bibliotecas empoeiradas. Este, sim, expõe na sua vida
teórica, as experiências práticas, de luta.

O livro faz jus àquela famosa frase do autor que diz: “saber falar, no mesmo tom, aos
doutos e aos estudantes”. Entendendo com isto que, fazer uma pesquisa é,
principalmente produzir conhecimento, e este deverá estar ao alcance e compreensão
de todos, não apenas a um grupo restrito de intelectuais. Além da característica
mencionada, que o leitor irá comprovar ao fazer a leitura, a obra é composta por um
prefácio e introdução que já desperta o desejo em prosseguir nas páginas posteriores.
Então, a obra é composta por 159 páginas, subdivididos em cinco capítulos, sendo
que o último apresenta-se de forma inacabada, mas que em nenhum momento perde
o grau de importância na sua plena forma lúcida, pois a proposta dos capítulos
anteriores também converge para este último, os homens na história. Um livro que
trata de questões metodológicas, algumas orientações mais que necessárias para os
que se arriscam nesse campo de extremos desafios.

Na introdução, Bloch discorre sobre o que lhe motivou a escrever o livro, que foi a
pergunta feita pelo seu filho: ‘Papai, então me explica para que serve a história’.
Partindo desse questionamento, o despertar para uma explicação tão lúcida e
impactante, no sentido da magnitude da qual a obra se tornou. E mais adiante, expõe
o fato de que a ciência será incompleta se não tiver algo a fornecer como melhora, a
alterar de tal forma uma dada realidade que as ajude a encontrar um caminho para
uma vida melhor. E a resposta se deu em formato de problematização, ou seja, o autor
aconselha que os que pretendem atuar nesse âmbito, exercendo o ofício de
historiador, tem que ser um escavador, um ogro, um ser incomodado com os termos
e versões que atravessam o tempo. Entendamos nas linha que seguem.

O primeiro capítulo, intitulado A história, os homens e o tempo, Bloch discorre sobre


a relação que essas palavras tem, e expõe o quão antiga é, sem deixar colocar sua
concepção sobre um período em que os sociólogos da escola de Durkheim relegaram
essa palavra, colocaram em um calabouço. Lembrando que no campo da sociologia,
fora um leitor e estudioso da Sociologia de Emile Durkheim. Mais adiante o autor frisa
que, embora a verdadeira necessidade e objetivo do livro seja abordar questões
metodológicas, faz-se vital uma abordagem, mesmo que de forma breve, sobre a
origem da palavra, alguns autores, e até mesmo conceitos presentes no decorrer da
obra.

Assim como, relaciona a história ao homem, o tempo, como visualizam seus ídolos, e
o que entende por passado e presente. Ao escrutar essas formas relacionadas á sua
pesquisa, afirma que “…o bom historiador se parece com o ogro da lenda. Onde fareja
carne humana, sabe que ali está a sua caça.” Ou seja, a história, para Bloch, é por
sua vez, a história dos homens no tempo, e não apenas de fatos estanques e
impermeáveis. Haja vista sua grande preocupação com a interdisciplinaridade ao qual
os pesquisadores deveriam estar entrelaçados. Ou seja, a compreensão da sociedade
passava por temas e conteúdos de várias outras ciências, o que deixa a entender que
seu pensamento ainda converge para a proposta da fase da Escola do Annales, onde
a crítica estava exatamente, entre outras, para a história da economia e política, que
elencavam assuntos dos grandes homens e militares. E, sim, como o próprio Bloch
irá citar ao longo da obra, uma história dos homens no tempo.

E como lhe é característicos também, a certa altura da obra no referido capítulo,


questiona: O que é, com efeito, o presente? Aqui podemos relacionar a
problematização proposta pelo autor, uma vez que o mesmo pode estar querendo
trazer para o campo dos estudos alguns pontos pertinentes ao momento da pesquisa,
e a quebra do paradigma daquilo que o passado não pode embasa-la, sem
Primeiramente, fora Temer interpretarmos o presente, e colocando este último como
sendo importante também, pois não podemos, segundo o que é reforçado, nos
atermos apenas ao passado sem nos envolver e compreender o presente, se assim
fizermos, ainda frisa, estaremos num campo vazia e perigoso.

O segundo capítulo aborda A observação histórica, e que está subdividido em três


questões que explicam tal ideia levantada pelo autor no que concerne aos métodos
de pesquisa. Como as características gerais da observação histórica, que aqui
discorre acerca de registros, apresentados em vieses distintos, tal qual uma ossada,
um papel ou outro de aspecto diferente. Mas que devem ser estudados e
transportados para o campo do estudo de forma a elucidar seus caracteres sem perder
seus traços fundantes. Pois é através dos fatos sociais encontrados nesses vestígios
que se pode questionar, e, por conseguinte absorver mais profundamente os
costumes, traços culturais, e até mesmo as ferramentas usadas por povos de
diferentes lugares.

E sobre Os testemunhos, Bloch parte de um trecho sobre os tempos ainda de


Heródoto, mas, também, de forma didática perpassa por períodos e espaços
temporais distintos a fim de comprovar a verdadeira necessidade de questionar os
fatos. E cita que:

Pois os textos ou os documentos arqueológicos, mesmo os aparentemente mais


claros e mais complacentes, não falam senão quando sabemos interroga-los (…) Em
outros termos, toda investigação histórica supõe, desde seus primeiros passos , que
a busca tenha uma direção (…) (BLOCH, Marc. p. 79).

Com isto, para o autor não basta ter os documentos para a realização da pesquisa, é
fundamental que o pesquisador saiba fazê-los falar, interrogando-os de forma a extrair
pontos que não se encontram tão evidentes num determinado fato. Dessa forma o
leitor irá perceber que a problematização proposta pela Escola dos Annales, é a todo
momento transportada para os escritos de Marc Bloch, de forma a fundamentar o
presente trabalho.
O capítulo seguinte denominado de A crítica, abordam pontos que o autor acredita
serem necessários para que o estudioso não acredite em tudo que lhe for oferecido
como fonte, pois a mesma pode não ser verdadeira, levando-o a cair em descredito,
caso o mesmo a use em seus trabalhos. Por este motivo é que Marc Bloch envolve o
leitor num viés onde acaba por despertar, ou pelo menos chama atenção para a
criticidade. Crítica que exemplifica com algumas passagens no decorrer do referido
capítulo, principalmente quando põe em xeque, sobretudo os documentos do período
medieval (Cabe ressaltar que fora um especialista no período medieval), assim como
levanta a possibilidade da pesquisa, ou o tempo envolvido para tal, se transforme em
uma peça sem qualquer utilidade, como o mesmo descreve, “…Não existe pior
desperdício do que o da erudição quando gira no vazio…”. (p.93, par. 2°).

Faz críticas severas aos copiadores, pois estes se encontram em vias do fracasso,
uma similitude bem próxima ao vazio intelectual daqueles que não falam a verdade.
Dessa forma, todos aqueles que mentem estarão caminhando para o insucesso na
profissão a qual escolheu.

Seu penúltimo capítulo intitulado Análise histórica, começa problematizando os


seguintes termos: Julgar ou compreender? Dessa forma elabora, já no início, de forma
explicativa, dois exemplos que se inter-relacionam até certo ponto, e se divergem a
partir de outro panorama. Isso no sentido de entender e julgar os fatos. E ao se referir
ao julgamento do juiz, questiona: “…pronuncia essa sentença segundo a lei?”.

E continua, quando afirma que os historiadores, por uma experiência semelhante, ou


seja, foi o “encarregado de distribuir o elogio ou o vitupério aos heróis mortos.” (p.125).
E quer trazer à tona com essa passagem, como funciona a parcialidade e a
imparcialidade, que não se limita apenas ao exemplo exposto, mas também se
estende para toda e qualquer forma de análise científica.

Seguindo nesse capítulo, o autor discorre sobre outra temática que é Da diversidade
dos fatos humanos à unidade da consciência. Onde procura evidenciar com fatos
históricos e pesquisas, a multiplicidades que o historiador irá encontrar pela frente.
Além de fazer criticas as formas fragmentadas de conhecimento. Usa em suas
explanações, autores como Fustel de Coulanges, François Simiand, dentre outros. E
quando trata das Nomenclaturas, tem o cuidado de elencar as varias possibilidades
que possam alterar os nomes, como, por exemplo, cita o capitalismo, capital, em
momentos diversos da historiografia, e, por conseguinte, para os grupos diferentes.
Seguindo no raciocínio, profere que “O homem fala unicamente com palavras” (p.138),
diferentemente de outras áreas do conhecimento que podem fazer uso de símbolos,
e tantas outras maneiras de comunicabilidade.

Seu último capítulo, curto, porém, tão essencial quanto os anteriores, seguirá com a
mesma magnitude, quando levará o leitor a seguir compreendendo o tratado
metodológico, que percorreu todo o livro. Então inicia fazendo uma crítica ao
positivismo:

“ Em vão o positivismo pretendeu eliminar da ciência a ideia de causa. Querendo ou


não, todo físico, todo biólogo pensa através de ‘por quê?’ e de ‘ porque’. Os
historiadores não podem escapar a essa lei comum do espírito” (p.155.par.1°).

Com isso, subentende-se que a ciência não pode tirar dos fatos ocorridos, seja ele
qual for, sua causas, assim como também não podem excluir, como já fora
mencionado pelo autor no começo do livro, os homens na história. Bloch, reforça no
final deste capítulo que as causas são buscadas, uma mensagem para que o
historiador não se acomode diante dos fatos que lhe são visíveis, este deverá ir além,
e a pesquisa é o caminho.

Algumas Considerações

As observações que se pretende aqui para finalizar a presente análise, pode muito
bem partir de uma citação feita pela historiadora Lilia Moritz Schwarcz, na
apresentação da referida obra, que diz o seguinte: “Dizem que os bons pensadores
sobrevivem às suas obras; nesse caso o provérbio é literalmente verdadeiro”. (p.12).
Tal afirmação se encaixa perfeitamente para a vida e obra de Marc Bloch, assim como,
também, a mesma reforça o grau de importância dos escritos desse combatente autor,
e o que deixara como legado para as gerações que se arriscam na aventura no campo
da pesquisa. Além disso, seu o pensamento é transportado para suas obras, e está
intrinsecamente associado á sua trajetória. Portanto, um homem que problematizava
seu tempo.

Apologia da história foi escrita em um momento de extremo desafio e adversidade por


Bloch, e, por conseguinte, se coloca para a vida dos pesquisadores como algo vital.
Uma leitura mais que obrigatória, sobretudo devido a seu caráter contestatório, crítico
e despertador.

Dessa forma, faz se urgente nos dias atuais, a leitura e compreensão desse livro, que
embora esteja quase sempre associado às questões metodológicas, também podem
ser visto como uma denúncia aos desmandos do nazismo, e que se tornou fruto e
resultado de um período turbulento, mas que se dirigiu para os que pretende seguir
no campo da pesquisa historiográfica (ofício de historiador), e desafiar, agora, as
lacunas insistentemente alimentada pela vulnerabilidade de uma sistema que busca
fragmentar o saber na sua completude. Ler Apologia da História, é, também,
problematizar o passado levando em consideração o que acontece no presente.

Nota:

*Graduado em Ciências Sociais pelo Centro Universitário Fundação Santo André-SP,


e Especialista em História, Sociedade e Cultura pela PUC-SP. E professor de
Sociologia da rede estadual de São Paulo.

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