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Capítuloill
... Ao transconstitucionalismo entre ordens
jurídicas

1. O transconstitucionalismo entre ordens jurídicas


como modelo referente ao tratamento de problemas
constitucionais

O conceito de Constituições transversais refere-se ao


entrelaçamento entre o direito e a política ou, no caso das
"Constituições civis" da sociedade mundial, um outro siste-
ma social. A questão reside na relação entre sistemas fun-
cionais, concentrando-se nos limites e possibilidades de
construção de uma racionalidade transversal mediante o
aprendizado recíproco e intercâmbio criativo. Isso implica
extemalização e intemalização de informações entre esfe-
ras sociais que desempenham funções diversas e se repro-
duzem primariamente com base em códigos binários de
comunicação diferentes.
A questão é outra quando se trata de transconstitucio-
nalismo. Nesse caso, o problema consiste em delinear as for-
' mas de relação entre ordens juridicas diversas. O u seja, den-
tro de um mesmo sistema funcional da sociedade mundial
moderna, o direito, proliferam ordens jurídicas diferencia-
das, subordinadas ao mesmo código binário, isto é, "líci-
to/ilícito", mas com diversos programas e critérios'. Verifi-

1. Sobre a diferença entre código (forma-diferença binária) e critérios


(de solução de problemas) ou programas (de decisão), cf. Luhmann, 1986c,
116 TRANSCONSTITUCIONALJSMO ... AO TRANSCONSTrrtICTONALJSMO ENTRE
ORDENS JURfDICAS 117
ca-s e , des s a maneira, uma pluralidade de ord e ns jurídicas,
mentas formais e informais e ntre
cada u ma das quais com se u s próprio s e lementos ou ope- atore
não governamentais multiplicam-s e s governamentais e
rações (atos jurídicos), e s truturas (normas jurídicas), pro- no
Essa situação ganha relevância quando âmbito do direito
c e sso s (pro cedimentos j u rídicos ) e reflexão da s
identidade grande parte, as "pon es de transição" e conside ra qu e, e
(do gmática jurídica) 2 • Disso re s ulta uma dife renciação no cas desenvo lv: m-_se diretamente a entre ordens jurídi-
interi o r do sistema jurídico. Ess a difere nciação entre ord e ns partir do s seus respecti-
vos ce ntro s, o u seia, o s seu s juízes
não se limita, po rém, à diferenciação se gmentá r i a e ntre or- e trib
Isso significa dizer qu e não só a so u nais' .
den s jurídicas estatais co m âmbitos territoriais de validade c iedade mundial mas
também o seu sistema jurídico é m ltic
de limitad o s. Além dis& o , há não só uma diferenciação de neua qu e, na perspectiva do centro
u êntrico , d e taÍ ma-
"níve is" entre ordem jurídica es tatal, su pranacio nal e inter- Quízes e trib u n ais) de
urna o rdem Jurídi a, centro de uma
nacional, mas também a diferenciação funci o nal de ordens .º outra o rde m
jurídicas transnaci o nais, desvincu ladas, por sua tran s terri- rn s t iru.i uma_ P:rife na. Nes s e s entido, po r e xem jurídica
Ju di':'á r io brasileiro, tan o s plo, para 0
torialidad e , do direito estatal. o s _tribu nais de
J _juízes de ou tros Estado s quant o
u ndicas interna c io
Es s a mu ltiplicidade de o rdens diferenciadas no interior _ordens
nais e transnacronais, nais, supranacio-
do sistema jurídico não impli c a is o lamento recíproco. As quando su as decisões s ão por ele
vadas em conta, apre sentam -se le-
como
re lações de input/output e de interpenetração entre elas não E, a e _ss: espeito, p o dem s partir periferia e vice-versa.
s ão algo novo. No que conc e rne à c o nexã de qualquer tip o de or-
o entre direito int e r- de m Jundica prete nsao de auton o mia. Es s a
na c ional c láss ico e direito estatal, no s ter m o s do Tratado de 1mpo rt re laço_com es de observação mútua, no co ntex situação
Westfália (1648), a inco rporação de no rmas internacionai s se des e nvolvem formas de aprendizad to da qual
no direito interno realiza-se mediante o in s tituto da ratifi- o e intercâmbi o ,
qu e se p o s sa de finir o primad o sem
caçã o , assim com o a repro dução da ordem jurídic a interna- definitivo de uma das or-
dens, u ma ultima ratio jurídica.
cional depende da presença de representantes es tatais legi- Nesse s entido, fala-s e de "conversação"ou
timad o s po r essa própria o rdem. Também na relaçã o entre tre co rtes, que podem se desenv "diálo go" en-
o lver
ordens jurfdicas estatais, co mplexos mecanism o s de re-en- exempl o , e ntre o 'llibunal de Justiça em vários níve is: p o r
lry foram desenvo lvidos nos term o s clás s icos do direito in- p e ias (su pranaci onal) e os tribunaisdas Comunidades Euro-
ternacional privad o . O novo, no s entrelaçamento s e ntre uma entre o Tribunal Europeu de dos Estad o s-m embros
pl ur1J>i dade de o rde ns jurídicas na so ciedade mundial Direit o s Human o s (internado
do nal) e as co rtes naci o nais o u o
prese nte, é a sua relativa ind e pendência das for m a s de inte r- e:c .• Essa "conversaçã o " (que 1JCE, entre cortes nacionais
me diação política mediante tratad o s jurídico-inte rnacionais constitui, a rigor, comuni c a-
ço e s tra:1s versais perpassan?o
o nte ira s entre
e le gislação e statal. As forma s em qu e oc o rrem relac i
o na-
dicas ) na o deve l : a uma 1e1afr ordens jurí-
te entre o rdens Jund1cas, po de co op e ração permanen-
is são frequentes os conflito s
pp. 82 s. e 89 ss., considerando que
entre pe rspectivas judiciais divers
a reprodução autônoma de um sistema a s ' . No limiar toda
pressup õ e a combinação de "codificação # e versação" entre co rtes carre ga "con-
st tomariam formas vazias se não
.,programação•, pois os códigos em si o potenciaÍ de disputa,
estivessem combinados com os programas
e critérios. Em relação especificamente
ao sistema jurídico, 1986a, pp. 194 ss.;
1993a, ppcl65 ss. 3. CE. Luhmann, 1993a, pp.
321 ss.; 1990(, pp. 466 ss.
2. Cf. Teubner, 1989, pp. 49 4._ Baudenbacher, 2003,
ss. ftrad. port. 1993, pp. 77 ss.]; 1987a, . pp.
pp. 106 ss.; 1987b, pp. 432 ss. mais dialogo e menos deferência" 507 ss. " O resultado é, paradoxalmente,
(Slaughter, 2003, p. 194)'.
5. O . Slaughter, 2003, pp. 204
ss.; 2004, pp. 85 ss.
118 TRANSCONSTrrué10NALISMO
AO TRANSCONSTr rua
o NALISMO ENTRE ORDENS
O probl e ma é como s olucionar e ssas disputa s s em a impo- JUR1DJCAS 119
sição top down n a relação en tre ordens. C: tr n sco
stitucionalis mo faz emergir,
uma fe rtilizaçao con stituc por um la do,
Entretanto, n e m todo entrelaçam e nto de ordens jurídi- ional cruzada"'. A s cortes
cas ocorre entre tribu n ais. Muitas vezes, há a incorporação titucionai s "cit -se re c ons-
ciprocam e nte não como
de normas de outra ord e m, se m interm e diação de diálogos ma s como autonda de pre c ede n te,
p e rsua s iva " JO_ Em termos
entre tribunais . Uma rei n terpretação da própria ordem a lidad e transversal, as cort de raciona-
e s dispõ e m -se a
construtivo com outras um apre n diza do
qu e está vi n c ulado um tribunal pode ocorrer e m face da in- cort e s e vinculam-se às
corporação de sentido s n ormativos e xtr:31dos de outras or- d : s s a " - Por outro lado, decis ões
há "uma combinação de
dens jurídicas. Além diss o, em outro s ruve1s do s istema JU- çao ativa e conflito vigoroso coopera -
entre cortes nacionais e
das em litígios transn a cion n volvi-
rídico, há aprendizado s e intercâmbios permane n tes, como ais entre partes privadas
ocorre na relação informal entre legislativo, gove rnos e admi- das fron teiras" " . O s "litígios além
globa is" l e vam, então ao
n istrações de divers os país es•. S e m gimento da "comitas judicial", sur-
dúvida, porém, a fo r m a qu e "for n ece a estruh!r
regras básicas para um a e as
mai s rel e vante de transversalidad e en tre ordens jurídica s é diálogo global e ntre juízes
a que perpassa os juíz e s e tribunais, se ja interjudicialment texto de casos específicos" no con-
13, ao "julgamento"
ou não.
e
juízes e à "negoci a ção de juízes por
judici a ]"" . A res pei to dess
fenômenos, a dimens ão e s novos
Mas o pe culiar ao transcon s tituc ionalis mo não é a exis - constitu c ion al manifesta-se
tên cia de s se s e n trelaçamentos entre ordens jurídicas, c laram e n te quando mai s
o es tão envolvidos tribunais
n ais no s en tid o con s titucio-
chamado "tran s nacion alismo jurídico". N o caso do tra ns- amplo da expressão, ou
ca1;e gad os ex lusiva ou seja, tribunais en-
constitucionalismo, as ord e ns se int e r-relacionam n o plano _ principalmente de jul a r
reflexivo de suas estruturas n ormativas que s ão autovin- Jundico- c ons titucion ais. g questões
c ulan te s e dis põe m de primazia. Mas como definir a s
'frata-se de uma "conver- . questõ
sação con s titucional", qu e é in compatív e l com um "consti- se iam o transconstitucionalisrno?e s constituciona is que e n -
a noção de direito con A q w cumpre desvincular
tutional diktat" de uma ordem em rel a ção a outra'. O u seja, s titu cion a l do constitucionalismo
não cab e falar de uma estrutura hie rárquica entre ordens: dás-
a
incorporação recíproca de conteúdos implica uma 9. Slaughter,
releitura 10. Slaughter,2000, pp.1116ss.; 2003, pp. 194 ss.; 2004, pp. 69 ss.
de se ntido à luz da ordem rece ptora•. Há reco n s trução 2003, p. 193.
de 11. Slaughter, 2003, pp.
se ntido, que e n volve uma certa d e scons trução do 199 ss.; 2004, pp. 75 ss.
outro e 12. Slaughter, 2003, p.193.
urna autode scon stru ção: tan to c onte údos de se ntido do "ou- _ 13. Slaughter, 2004, p.
tro" s ão desarticulados (falsifi c ados!) e rearticulados n ÇO e s • com? #um 87; 2003, p. 206. Slaughter
on it político e jurídico refere-se à • romitas de
in ter- nffica O respeito devido veneráv e
n ame nte, quanto conte údos de
sentido originários da pró- as Je15 e atos de outras nações J"', af1rmando que Hsig-
' ? m wn lrommon membership] em virtude da pertinência
pria ordem são d e sarticulados (falsificados !) e re articulados rne to , que é algo ao sistema internacional,
presumindo "reconhe-
em face da introdução do "outro". p. 86, 2003, p. m do que cortes ia, mas
205); ela invoca nesse trecho menos do qu e obrigação• (2004,
'. v._ Guyot,_ 1_59 U.S.
" " uma definição contida no caso Hi/
113 (1895), pp. 163 s. Cabe,
'r 1!4 5 Judicia)• para porém , ampliar o conceito
incluir os diversos juíze s e d;
6. a . Slaughter, 2004, pp. 104 ss.; Mõllers, : n a is, '." ª s t b é m intemacio · tribu n ais, não apenas os
2005b. supranacionais, transnacionais na-
7. Weiler, 1999, p. 322. . s, d r u l ando -o da e locais ex-
8. Nesse sentido, Berman, P. (2005, pp. 551 ss.) bibestat 1de1a de mtmbership. N o s enti
ção multidirecional entre normas locais, refere se a uma ·intera { ,i Una.is arbitrrus da /ex mm:atoria ver Mendes , do de abarcar os
nacionais e internacionais. ; ·1112 4 . Siaughter, 2003, R., 2008, p. 94.
pp. 204 ss.; 2004, pp. 85 ss.;
cf. também 2000, pp.
120 TRANSCONSTm JCIÔNAUSMO
... AO TRANSCONSTITUCIONAUSMO ENTRE ORDENS JUR!D!CAS 121
sico, ou seja, de um conceito de Constituição associad ex-
A questão do transconstitucionalismo não se refere, por-
clusivamente a um determinado Estado, sem que dai seia tanto, à referência inflacionária à existência de uma Consti-
necessário recorrer a outras "Constituições". O constitucio- tuição em praticamente toda nova ordem jurídica que emerge
nalismo, vinculado originariamente ao Estado como o r ? - com pretensão de autonomia. Não interessa primariamen-
nização territorial, surgiu para responder_ a uas questoes: te ao conceito de transconstitucionalidade saber em que
1) como determinar coercitivamente os direitos e garantJas ordem se encontra uma Constituição, nem mesmo defini-la
fundamentais dos indivíduos? 2) como limitar e controlar o como um privilégio do Estado. O fundamental é precisar que
poder estatal expansivo e, ao mesmo tempo, garantir a s a os problemas constitucionais surgem em diversas ordens
eficiência organizacional?" A resposta veio com as jurídicas, exigindo soluções fundadas no entrelaçamento
_cons -
tuições estatais, pois esses problemas norrnatJvos ainda ti-
entre elas.
nham uma dimensão territorialmente delimitada. Com o Assim, um mesmo problema de direitos fundamentais
tempo, o incremento das relações_transter toriais om im- pode apresentar-se perante uma ordem estatal, local, inter-
plicações nonnativas fundamentais levou a necessidade de nacional, supranacional e transnacional (no sentido estrito)
abertura do constitucionalismo para além do Estado. O s ou, com frequência, perante mais de uma dessas ordens, o
problemas dos direitos fundamentais ou dos direitos h a-
que implica cooperações e conflitos, exigindo aprendizado
nos ultrapassaram fronteiras, de tal m erra qu: º. direito recíproco. N o que diz respeito às ordens jurídicas transna-
constitucional estatal passou a ser uma mstítwçao limitada cionais em sentido estrito, que envolvem sobretudo atores
para enfrentar esses problemas. O mesmo ocorreu com a or- privados e quase públicos, é indiscutível que questões de
ganização do poder, com a questão de como combinar a li- direitos fundamentais ou de direitos humanos surgem pe-
mitação e o controle do poder com sua eficiência organiza- ' rante elas. Menos clara é a afirmação de que elas estão rela-
cional. O tratamento desses problemas deixou de ser w n cionadas com os problemas de limitação e controle do po-
privilégio do direito constitucional do Estado, p do a ser der. Caso se trate de poder político no sentido sistémico,
enfrentado legitimamente por outras ordens Jurídicas, pois
que se orienta primariamente à tomada de decisões coleti-
eles passaram a apresentar-se como relevantes para essas1• .
. vamente vinculantes, é inegável que essas ordens estariam
distantes desse problema. N o entanto, a influência que ato-
15. Evidentemente, a Ideia de limilaç.lo e controle juridlco-constttuclo· res privados desempenham no âmbito dessas ordens, sem
na! do poder importa a noção de ·participação· dos destinatá nos pro«· o controle direto de uma autoridade política - estatal, inter-
dimentos d< produção normativa ("função legitimadora'}. Mas nao me pare·
ce oportuno, especialmente no contexto atual ampliar os problemas e as ttS· nacional ou supranacional - , transforma-os em detentores
pectivas fun constitucionais para incluir, além das funções de •organiza· de poder com repercussões políticas relevantes 17. Dessa ma-
ção e legitimatio" e de .. llmJtatão (proteção dos direitos fundamentais)", a neira, também nas ordens transnacionais reaparecem os pro-
•funçio de integr1çio•, como propõe Walter (2000, PP· 5 e 7-11), com base blemas jurídico-constitucionais com uma nova roupagem.
em Smend (1968 119281). Isso porque a conctpção hollsllca da Consblutçio
(em sentido moderno) como •ordem fundamental da coletividade• (d., p. ex., Afirmada essa emergência dos problemas constitu-
Hesse, 1980, p. 11; Hollerbach, 1969, p. 46; Bõckenlõrde, 1983, pp. 16 ss.) é cionais perante ordens jurídicas as mais diversas, reapa-
afastada na per,pectiva te6rlca em que se desenvolve o presente trabalho (d.
Luhmann, 1973a. p. 2; Neves. 20070, pp. 67 s.; 1992. p. 50).
16. Nesse sentido, Cassese, S. (2007), refere-se à "'função constitucional
17. Sobre a distinção entre influência em geral e poder diferenciado
dos juízes não estatais•. Por sua vez, Delmas-Marty (2007, pp. 42 ss.) aronta como meio de comunicação, ver Luhmann, 1988b (19751 pp. 74 ss., especial·
para a "lntemadonalizaçâo dos juízes nacionais". mente p. 78 (lrad. b r u 1985, pp. 61 ss. especialmente p. 64!; 2000., PP· 39 ss,
TRANSCONSTITUOONAUSMO
... AO TRANSCONSTITUOONALJSMO ENTRE ORDENS JURID!CAS 123
122
monista das relações entre camadas normativas por u ma or
de hidra, não há mais .
recendo a cada momento em forma dem Jun· 'dica21, assrm como afirma a inevitabilidade e aber-
solucioná-los. A frag-
wna Constituição-Hércules que possa permaneceria tura,.do ponto de vista da teoria do direito, da "escolha" do
mentação dos problemas constitucionais moms ; ou se1a, da ordem ou ;1orma fundamental de que
pretendesse enfren-
desestruturada se cada ordem jurídica s parte. O fato d 9ue é_mevitavel uma interpretação mo-
pois, um ,, diá-
tá-los isoladamente a cada caso. Impõe-se, nista da ordem JUndica nao diz nada a respeito de como há
ou urna ,, conversação" transconstitucional. É evidente
logo" levar a uma de esmlher-:e ntre as possíveis interpretações monistas."22
que o transconstitucionalismo não é capaz de E, segumdo a nsca o modelo kelseniano, complementa essa
do sistema jurídico mundial. Mas
unidade constitucional assertiva_ com a .afirmação da neutralidade da escolha da
dar e estru-
ele parece que tem sido a única forma eficaz de construçao morusta em relação ao conteúdo do direitc23
constitucionais
turar respostas adequadas aos problemas assun como do caráter político dessa decisão". Coerent
da socieda-
que emergem fragmentariamente no contexto com ess.es pressupostos, Jestaedt asserta que O "correlato
de mundial hodierna. do , do mo a ordem j rídica é o pluralismo de interpre-
O problema da autofundamentação constitucional ' taçao Jundica 25, para salientar que "a hipótese da escolha
desloca-se nesse contexto. Como unitas mul-
sistema jurídico j?1':mst , pode ser caracterizada como teoria da relatividade
tiplex, o sistema jurídico encontra vários
centros de auto-
que tome ;nmdica , considerando que a construção jurídica variará a
fundamentação, dependendo da ordem jurídica • ,Fl,
da ord.em que se parta". Mas, além dessas teses plau-
reconstrução
como ponto de partida. N o contexto de uma Slve1s a partir de urna reconstrução de Kelsen, Jestaedt de-
do acopla-
da teoria pura do direito à luz de urna "teoria ,:,fende as teses de que só há relações normativas dentro de
a tese da
mento normativo entre sistemas", Jestaedt defende ,ª mesma esfera de validade (isto é, de urna mesma ordem
de interpretações do direito em vez da coe- . ca), só podem surgir "(soluções de) colisões imanen-
"concorrência
validade de
xistência de ordens jurídicas"'" e sustenta que a a ordem jurídica" e, portanto,,, comunicação" ocorre ,, ex-
uma única
urna norma só pode ser considerada a partir de e.ntE;" de forma "monológica"no plano "intraQurí-
funda-
ordem jurídica, tendo em vista a respectiva norma a
)s1stermco"27.
mentaJ19. Desse argumento deriva a concepção segundo . Essa reconstrução do monismo kelseniano levado a
nor-
qual "uma ordem jurídica só pode entrar em relação ,11construtivismo extremo parece-me suscetível de restri-
inicial- '
mativa com enunciados de dever-ser, pertencente
mente a outra ordem jurídica, desde que - mediante recep- F' A ngor, no monismo metodológico, a escolha de urna
o as fundamentais é urna questão "político-ideoló-
ção, delegação, transformação ou outra maneira qualquer,. Seia na postura "imperialista" do monismo que parte
:
eleve-os a enunciados normativos da própria ordem jurídi-;

ca"20. Nesse sentido, sustenta ser inevitável a interpretaçãç,, 1. Jestaedt, 2008, pp. 234 e 239 ,.
· !estaedt, 2008, pp. 235 e 240 s.
'
td'escolha' de_ u m das construções monistas -independentemente
18. Jestaedt, 2008, especialmente p. 234. :> · 'n::irC: dcon5l ç°:s monistas ela incide - não tem qualquer influência
afirmada relativa ou imane
19. • A validade de uma norma só pode ser ;1 ) -:,_Q4 n te u O do direito considerado" Qestaedt' 2008' pp · 235 e 241-3) ·
234-6).
temente a uma ordem jurídica• Oestaedt, 2008, pp. â -'.-
· , 1estaedt, 2008, p. 246.
parece que dessa asserç
20. Jestaedt, 2008, pp. 234 e 236 s. N ã o m e f 5 , Jestaedt, 2008, pp. 235 e 244 s
e normas ap e n
resulte n ecessariam ent e a tese de que há "'relações entr ,2 . Jestaedt, 2008, pp. 235 e 245 s .
mesma esfe r a de validade
"'
, isto é, de uma mesma ordem jurídica Oestaedt, 27. Jestaedt, 2008, pp. 234 e 237-9.
p. 236). Voltaremos a seguir a esse tema.
TRANSCONS1Tl11CJONJ\l1SMO , .. J\O TRJ\NSC0NSTl11JCJONJ\USM0 ENTRE ORDENS JUR(D/CJ\S 125
124
de uma norma fundamental de uma determinada ordem autista, incapaz de oferecer elementos frutíferos para uma
nacional, seja na postura pacifista de um monismo que par- teoria do sistema jurídico muJticêntrico da sociedade mun-
te da norma fundamental do direito internacional público, , dial, no âmbito do qual diversas ordens jurídicas relacio-
assim como em um tipo de monismo supranacionalista ou nam-se ortogonal e horizontalmente, em uma pluralidade
transnacionalista, a escolha upolítico-ideol6gica H de uma de núcleos de autofundamentação, enfrentando os mes-
determinada ordem jurídica apresenta-se irrelevante para a Ípos problemas constitucionais.
"ciência do direito u ou teoria do direito2B. Assumida a esco- A relação transconstitucional entre ordens jurídicas não
lha por uma das ordens, os conteúdos normativos diversos resulta apenas das prestações reciprocas (relações de input
das "outras ordens" (noção incompatível com a concepção ·e output), interpenetrações e interferências entre sistemas
monista) são considerados apenas camadas normativas in- , m geral 29, mas sobretudo de que as diversas ordens jurídi-
feriores da ordem cuja unorma fundamental" é o ponto de cas pertencem ao mesmo sistema funcional da sociedade
partida. Nesse sentido, também não caberia,fahu, doyonto ínundial, sistema que pretende reproduzir-se primaria-
de vista da teoria do direito, de uma concorrenoa de mter- mente como base em um mesmo código binário, a diferen-
pretações do direito". Isso s6 teria sentido, a p d mo- . ça entre lícito e ilícitolO. Mas essa unidade de uma diferença,
delo monista kelseniano, em uma perspectiva pohtlco- de uma unidade hierárquica
-ideol6gica" do direito. Definida a escolha política por uma . , por distinguir-se radicalmente
fundada em uma única norma fundamental, possibilita que
norma fundamental, a respectiva ordem ficaria ucega" à os códigos e critérios jurídicos plurais proliferem em uma
concorrência de outras ordens, pois essas seriam apenas ·mulitiplicidade de ordens jurídicas, cada uma delas com a
camadas inferiores de uma única ordem. Nesse modelo hie-
rárquico monista, não há lugar para uma "teoria do acopla-
mento entre sistemas normativos", como pretende Jestaedt. 29. Luhmann distingue as simples "'prestações" ("relações de in-
put/output" -1987c, pp. 275 ss.l da interpenetração (1987c, pp. 289 ss.). Esta
Ao partir de uma norma fundamental como ultima ratio do ,unpUca que cada um dos sistemas, reciprocamente, põe sua própria complexi-
sistema jurídico, s6 se pode raciocinar com base. em uma dade i disposição do processo de autoconstrução do outro sistema (Luh-
ordem jurídica, conforme um modelo de norma mfenor e mann, 1987c, p. 290). Dela se distingue a "'interferencia" no sentido de Teub-
·ner (1989, especialmente p. 110 (trad. port. 1993, pp. 178 s.11988, pp. 55 ss.),
norma superior, mas nunca de pluralidade de interpreta- J>Ots, enquanto nesse caso (interferência) cada um dos sistemas põe à ciisposj-
ções sistêmicas do direito: a ordem única de que se parte çio do outro uma complexidade: preordenada, na interpenelração o sistema
construtivamente não pode sequer observar um enunciado 1 fe«ptor tem à sua disposição uma '"complexidade Inapreensível, portanto
de dever-ser como pertencente a outra ordem, mas sim como desordem• (Luhmann, 1987c, p. 291). a. supra pp. 37 s.
30. Cünther e Randeria (2001, pp. 94 ss.) referem-se ao •surgimento de
dimensão interna da própria: quem parte da ordem jurídica um igo univeBal da legalidade·, mas, apesar de uma persptttiva teórica
brasileira há de reconhecer o direito internacional público lé:Uca,, sobrecarregam esse código com conteúdos programáticos de uma
como uma camada inferior à Constituição. A reconstrução · tenninada tradição liberaJ: "Além da contínua referência à diíerença-dire-
de Jestaedt não é consistente nem com o modelo kelsenia- hiz.- na linguagem da twria dos sistema.,: o 'cówgo binário' entre 'lícito e ilf-
to' -, apresentam-se no código universal da legalidade outros conceitos, prin·
no nem com o modelo do acoplamento entre sistemas nor- , ctpios, regras e institutos jurídicos: o conceito de direitos atribuídos individual-
mativos: todo monismo leva a um construtivismo extremo, '. t me te e exerdveis individualmente {,.,L o(s] conceito[s] de responsabilidade
CSlrita < dependente da atribuição de culpa (...], a presunção de inocfoda, a
,
tudonalização do papel dt um terce.iro imparcial, inclusive do direito de
28. Cí. Kelsen, 1960, pp. 333-45 (trad. bras. 2006, pp. 370-86]; 1946, de recurso, o principio adiatur tt altera pars etc.• (p. 94). Cf. tam-
béinterpositão
m Cünther, 2001.
pp. 376-88 (trad. bros. 2005, pp. 535-511; 1925, pp. 128-32.
126 TRANSCONSTmICIONAUSMO ... AO TRANSCONSTITUCTONAUSMO ENTRE ORDENS JUR!DiCAS 127
pretensão de afirmar sua identidade no manejo interno o sos comuns33, podem ser construídas normas diversas ten-
código binário de preferência do direito. Esse problema nao do em vista os possíveis processos de concretização que se
leva apenas à possibilidade, já enfatizad i:or Lulunann, de desenvolverão na ordem colidente ou parceira. Assim, o fe-
que o fecha m ento normativo do sistema Jundico combma-se chamento da cadeia interna de validação precisa ser com-
com sua abertura cognitiva 31• Como se trata de ordens nor- patibilizado com a capacidade de aprendizado recíproco na
mativas dentro do mesmo sistema funcional da sociedade rede de concretização jurídica para a construção da norma
mundial, o direito, também pode falar-se de um ap:endi- de cada ordem jurídica em face dos diversos casos que emer-
zado normativo entre elas, tendo em vista que estao su- . gem com relevância simultânea para as diversas ordens en-
bordinadas ao mesmo código binário. O vazio de co:1teú- ' ' trelaçadas. Portanto, a abertura normativa não queb r a a con-
do desse código possibilita que o fecha : to onnativo n . ·sistência interna da cadeia de validação, antes serve a uma
determinação das normas conforme cntenos n anente a •'.'concretização jurídica normativamente adequada à plu r ali-
própria ordem (nacional, local, supranacional, mternacm- ., · dade de ordens envolvidas. O fecha m ento normativo refe-
nal ou transnacional) combine-se com a abertura nonnati- f'_xe-se originariamente à atribuição da norma a texto(s) ou
va no aprendizado recíproco que pode ocorrer e face da enunciado(s) normativo(s) da própria ordem. A questão da
solução de casos jurídicos nos quais duas (ou mais) ordens abertura normativa refere-se originariamente à comunida-
estejam envolvidas. A relevância do ca_s --problema para de do caso-problema a resolver em uma sociedade mundial
ambas as ordens não implica que os cntenos mternos de p.olicêntrica. Não se podem excluir conflitos ou colisões in-
validade normativa de uma ou ambas as ordens sejam ne- sanáveis entre ordens jurídicas, nem se pode eliminar defi-
gados, mas sim que, à luz do problema, os mnteúdos no - nitivamente a pretensão "imperial" de uma das ordens en-
mativos se transformam no processo concretizador, poss1- lvidas em face das outras: nacionalismo, internacionalis-
bilitando o convívio construtivo entre ordens. Na constru- ' supranacionalismo, transnacionalismo e localismo são
ção da norma jurídica e da norma de decisão: cada_ uma ssos ao aprendizado normativo recíproco, especialmen-
das ordens envolvidas pode considerar como d1mensao do 't'e"nos termos reflexivos abrangentes do transconstitucio-
seu âmbito normativo elementos do âmbito material rele- lllismo. Isso importa, no contexto de um sistema jurídico
vante originariamente para outra ordem, como ta m bém 'iruitruído heterarquica m ente mediante a relação entre uma
incorporar como dimensão do seu programa normativo .,· 'lura!idade de ordens normativas, uma irracionalidade he-
partes do progra m a normativo de outras ordens32• Ou seja, r bloqueado r a, mas que tem igualmente implicaçõ e s auto-
partindo simultaneamente dos textos normativos e dos ca- Qqueadoras para a solução de casos.
; A existência de problemas comuns a mais de uma or-
31. Luhmann, 1983b, especialmente p. 139; 1984b, pp. 110 ss.; 1993a, •jurídica, exigindo modelos normativos diversos, não é
pp. 393 ss. . . . • . - novo, como demonstra sobretudo a experiência com
32. Aqui recorro à distinção entre norma Jurídica (cnteno de soluçao. dO ,,
caso concreto) e norma de decisão (solucionadora do caso concreto) e à dife- ,
lries no âmbito do direito internacional privado clássi-
rença entre âmbito da norma (dados primariamente "'reais·) e programa da
, "á acima assinalada. Aquela questão que era pontual, re-
nonna (dados primariamente linguísticos), assim "º!1'º às n � de âmbito 1 .
material e âmbito do caso, confonne o modelo conceituai de Müller (1 m PP·,
232-4, 253-6 e 264 ss.; para uma explanação em língua portuguesa, ver Cano·� i '$3. Segundo Mül!er (1990, p. 20), o tato normatiuo constilu •ao lado do
reconheça certos limites nesse mo-,
tilho, 1991, pp. 208 ss. e 221 ss.), embora
t� · i� t d e cidir juridicamente ., o mais importante dado d e entrada do proces.so
delo (cl. Neves, 2006a, pp. 200-3). /,:1:duaJ de concretização " ' .
f f
TRANSCONSTITUOONAUSMO ... AO TRANSCONSTfI'UOONALISMO ENTRE ORDENS Jl]RfDICAS
128 129
no rma s de direit o o rdinário interno tra- cess a me to dos casos vai exigir uma postura indutiva
solvida co nforme o d construçoes e reconstruções de estruturas de a cop l ento
de
o m ª.
ta dos ratific a dos por Estad o s, in clusive c _ revisa no pl ano das novas opera ções do sist e ma. A dinâmica re
a m
m1C1a!mente a
homol o gação de atos jurídic o s praticad o s co m a cional_ e tt:e estrutura (critérios normativos) e opera ções
l a-
luz de outra ordem, transformou-se profu_ndamente casos JU- (atos Jundicos) para aprendizad o s recíprocos é intensa-
proliferação de o rden s jurídicas e a emergenc1a de
e rsas o r- mente circular no co ntexto do transconstituci o nalismo
'dico s transterrito rializados rel e vantes para div da
sociedade mundial do presente . A cada novo caso inespe-
ens jurídicas: a atençã o q e essas dão, simultaneamente,
o u fun rad o , as e_struturas reflexivas das resp e ctivas ordens preci-
danos ambien tais, a v10la çoes dos direit o s humano s
sam 1:_earticular-s e co nsistentemente para possibilitar
<la menta is, a efeitos do comércio e finanças mte1:1aaonais, uma
o es, faz da soluç a o compl e xamente adequada à sociedade, sem a tuar
à crimi n alidade transn a ciona l, entre o utras ques
qu e mm ndo, bl o qu ea ndo ou destrui n do a ordem concorrente
emergência de cas o s comuns um pr o ble1:1a co tidiano a

próprio nível reflexivo e a identidade das ordens ou cooperado ra, mas antes contribuind o para estimulá-l
atinge O a a
a , no estar disposta a o intercâmbio em futuros " e ncon tro s"
nvolvidas. O problema reside no fat o de que a respost para
co n-
entro das respectivas o rdens jurídicas, deve ser dada enfren tarnento de cas o s co muns,
a cordo
forme Omesmo código binári o (licito/ilícito), _mas de O qu e caracteriza o transconstitucionalism o entre
or-
A per- de ns jurídicas é, porta nto, ser u m constituci o nalism
com critéri o s norm a tivos originari a mente divers o s. o relati-
de ao vo a (soluções de) problem a s jurídico-constituci o n ais
gunta co n cernente à conformidade º ' : desco n fonruda que
c_aso, se apres:nta m simultane a mente a diversas ordens.
direit o (licitude ou ilicitude), em relaça o a um mesm Quan-
perante uma pluralidade de o rdens Jundi<;_as. do qu e stoes de direitos fundament a is ou de direit o s
apresenta-s e hu m a-
Essa pergunta vazia po de se_r omplementad a co m referen: , .nos su bmetem_-s ': trat a m e n to jurídic o concreto,
o
eia a conteúdo : quais os cnteno s ou programas condic10 s n do ?rdens Jun 1cas diversas, a "c o nvers ação" perpas-
nais" qu e podem servir para definir se algo se enquadra
na
na-
' :o n a l e m sp e nsavel.,ºª co nstitu-
mesma maneira, su rgindo ques-
hipótese da licitude ou da ili:itude? As diversas ord e ns, to es o rgaruzacro na1S basic a s da lirnJtação
e contro le de um
turalmente , vão invocar, pnmanamente, os seus mo?elos .'P?der que se entrecruza en tre o rdens ju rídicas,
afetand o o s
de construção de critéri o s e programas para ª, res o luçao
de · e1tos dos respectivos destin a tário s, impõe-s
e a co n stru-
casos. Sem dúvida, em princípio, a tendênca e o surgunen- çao de "pontes de transição" e ntre as estruturas
reflexivas
to de colisões. O problem a reside exa ta mente na 1:1compa- re pectivas ord e ns. Portant o , para qu e o transconstitu-
tibilidade das possíveis soluções apresentad a s. Dai por que nalism o e desenvolva plen ente é fund a n t
_s a m m e a l qu e,
a busc a de "pontes de transição" é fundame n tal. Evidente- , respectivas o rdens envolvid a s, estejam presentes prin-

mente, ess a s "pontes", como mo delos de en trela çamento s ,. Jft.o s _regras de o rganiza ção que levem a sério os proble-
ns
que servem a uma racionalidade transversal entre ord e , !lla_s bas1cos do co nstitucionalismo" . Sem dúvid a , há o rdens
ju rídicas, não são construídas de maneira permane n te e es- ca s, especialmente estat a is, qu e não estão dispostas a
tática n o âmbito dinâmic o do transconstituaonalismo. O pro- '!l.\ ', o rar co m o transconstituci o nalismo , pois desc
o nhecem
tk_
7'
34. Sobre a programação condicional (se-então) como particularidade 'qii, 35. Em outra per.;pectiva, Fischer-Lescano (2003,
pp. 720 ss.), a partir de
e T ubner, refere-se
do sistema jurídico, ver Luhmann, 1987a, pp. 227-34: 1981a, PP· 140-3 e
a· .id ia Ocarater "'primitivo"' a um "'direito transnacional reAexivo·, afastando
275 ss.; 1973b, pp. 88 ss. (especialmente p. 99). ou "tribal "' do "direito mundial"' . a . supm p. 98.
1-
TRANSCONSTITUCJONALISMQ. 111,NSCONSTITUCIONALISMO ENTRE ORDENS JURÍDICAS 131
130
rejeitam a limitação e o controle
os direitos fundamentais e tativas cognitivas (ver supra pp. 28 s.), o transconsti-
· rídiCO -positivo dos detentores de poder. Internamente, elas alismo parece ser a alternativa mais promissora para
JU , -
em senti'd o moderno, seMçq . ..
não admitem Constitwçao ficação de sua dimensão normativa. As ordens esta-
de uma racionalidade transversal _enl:e dir 1to e polí ca. fuJi fei-nacionais, supranacionais, transnacionais e locais,
face dessas ordens, 0 tran5:onsbtu':on_alismo cona qq eradas como tipos específicos, são incapazes de ofe-
forma muito limitada: irritaçoes, influencas e pressoes transa isoladamente, respostas complexamente adequadas
constitucionais podem levar_ a transformaçõ_es da ordem, •!; problemas normativos da sociedade mundial. Os
anticonstitucional. A alternativa ao trans_constituc1onalísll\Q os de constitucionalismo internacional, supranacio-
é, nesse caso, assumir uma postura bélica con a a ordem . tran-snacional, como alternativas à fragilidade do
inimiga do transconstituc1onalis_mo, CUJOS ef:1tos colate- tqcionalísmo estatal para enfrentar os graves proble-
rais a tomam normativamente nao recomendavel. utra,s a sociedade mundial, levam a perspectivas parciais e
a situação, quando se trata de orden rcrucas, que _nao_dis. rais, não oferecendo, quando considerados isolada-
põem de princípios e regras s':.cundanas ': orgaruzaçao e, c, soluções adequadas para os problemas constitucio-
po rtanto' não estão em condiçoes de admitir
.
problemas JUq o presente, O transconstitucionalismo, como modelo
· r ens desse_ tipo eXJgem,.
rfdicos constitucionais. O. d c da_vez trelaçamento que serve à racionalidade transversal en-
mais, um transconstituClonalismo unilateral de tol_erancia «: élens jurídicas diversas, abre-se a uma pluralidade de
certa medida de aprendizado: embora elas seiam aves cctivas para a solução de problemas constitucionais,
: : ao modelo d direitos humano; de lirni ção jurídiç r·adequando-se às relações entre ordens jurídicas do
do poder nos termos do sistema Jundico da s_oc1edade mun- ·a jurídico heterárquico da sociedade mundial.
dial, não se compatibiliza com o tr constitu:1on lísmo, ( fim, cabe observar que o transconstitucionalismo
· les imposição uniJateral e heteronoma
Slmp .d de direitos
. hu' s'e' desenvolvido intensa e rapidamente no plano estru-
manos# a membros da resp ti.va comuru ade, pois tal me. (do sistema jurídico, mas ele ainda se encontra muito
dida pode ter efeitos destrutiv em su mentes_ e em seus ado no âmbito da semântica constitucional da socie-
corpos sendo contrária ao própno conceito de direitos humf. ê"mundial. Isso, em parte, deve-se à persistência do pro-
nos"'. Por conseguinte, em ra haja ordens jurí cas que es 'llnismo constitucional, especialmente no âmbito do di-
tão à margem do transconstitucion-alismo, esse nao pode ex o estatal. É claro que o transconstitucionalismo não
cluir Odesenvolvimento de institutos que possam levar a ump e eliminar a dogmáti.ca constitucional clássica no inte-
relação construtiva de apre diza o interc bio com es5<!s dé uma ordem jurídica estatal: essa ainda constitui uma
ordens. Evidentemente, tal s1tuaçao importa limites do trans, -,;ersã? importante do sistema jurídico da sociedade mun-
constitucionalismo na sociedade mundial assimétrica (cf. in- re ha problemas constitucionais intraestatais de suma
fra Cap. V.1), mas não clui o seu significado_ para o desen-.- ·ortância. Mas a abertura do direito constitucional para
volvimento da dimensao normativa dessa socedade. ,. em do Estado, tendo em vista a transterritorialização dos
A esse respeito, cabe eníatiz:u: que, embora_a sociedaqe 0blemas jurídico-constitucionais e as diversas ordens para
mundial, até Omomento, seJa onentada pnmanamente po 'quais eles são relevantes, torna necessário o incremento
e uma teoria e uma dogmática do direito transconstitucio-
"
i!l. Para isso, evidentemente, serão precisos novos aportes
36. Compreeodklos como "garantias da integridade da psique e do cor1 .etodológicos, a serem desenvolvidos em face de uma ca-
po• (reubner, 2006, p. 175). d . ,nfra P· 254·
132 TRANSCONSTITUCIONAUSMO
... AO TRANSCONSTITUCIONAUSMO ENTRE ORDENS JUR!DICAS
suís tica complexa. Esse é o grande de s afio do transcon 133
s ti-
tucion a lismo para o s juri s tas , especialmente os vimento do s tribunais cons titucionais nessas questõe
constitucio- s , na s
n lista s . As anális es dogmáticas e as investidas
a quais o modelo clássico de ratificação vem paulatin
teóricas a m ente
permanecem ainda muito fra gmentada s e eventuais. perdendo s ignificado, fortifica-lhes o caráter de
problema s
no metodológico, a situação continua embrionária37 N o pla- constitucionais referentes a direitos humanos ou fund
• Faltam a m en-
ainda os elementos de uma teoria abra ngen tais ou concernentes à questão de limitação e controle
te do
constitucionalis mo e uma dogmática compreensiva trans- poder, envolvendo preten s ões que ultrapassam do
va à estabilização do direito trans constituci que sir- o âmbito
onal, a m ba s pres- de validade específico da ordem interna. Do ponto
de vista
supondo reciprocamente aportes metodológico da ordem internacional, is s o significa a incorporação
s . A seguir, das
pretendo apresentar elementos que possam . questões constitucionais no âmbito de competência
cons tituir um de seus
esboço p a ra de s envolvimentos ne s s a direção. ' tribunai s , que passam a levantar a pretensão
de decidir com ·
caráter vinculatório imediato para agentes e cidadãos
Estados. dos
2. Transconstitucionalismo entre Essa s ituação exige o desenvolvimento de
direito internacional fonnas de
público e direito estatal " ' re-entry n a s perspectivas de observação
recíproca. N a me-
' . "çlida em que a s cortes internacionais
partem primariamente
Na rela ção entre ordens jurídicas internacionais , •::='"da ordem interestatal, confronta m -se
e or- com a s compreen-
dens jurídicas estatai s , s urgem ca da vez mais l s ões particulares das instituições e dos
te casos -pro blemas jurídico-constitucionai frequentemen- correspondente ordem estatal. Por um lado,
problemas por parte
s cuja solução uma impo-
interess a, simultaneamente, às diversas ão internacionalista unilateral apre s enta
ordens envolvida s . -se como pro-
São s ituações em que é invocado mais de mática, não porque s e poss a recorrer aos
um trib u n al para princípios tra-
a solução do caso, sem que, ion a is de autodetennin a ção ou da igualdade
necessariamen te,
m a s de s olução de conflitos de competência existam nor- s s im porque, sem autoinstitucionalização soberana ,
39

ou, em haven- do constitu-


do es sas, s em que h a ja convergência . qionalismo no plano estatal, falta
em tomo delas por uma das racionalidades
parte dos res pectivos tribu n ais. Não cabe, -vuj{dicas es pecíficas nece s sárias à afirmação
re de s vertica is38, o qu e implicaria a dm itir a rigor, fal a r d e . ·onalismo. O modelo de.intervenção do trans consti-
uma relação hie- tem mos trado a
rárquica entre orden s . Ante s , trata -se de ,precariedade ou ins ignificância
entrelaçamento na construção de or-
entre ordens de tipo diferente. Ne s se sentido, 5 con s titucionais internas••. Por outro
p e rsp e ctiva s diversas de obs ervação, a a partir das lado, quando os
ção do problema pode a pontar para
direção para a s olu- .u n a i s nacionais pretendem partir exclusivamente da or-
ca minho s bem diver- jurídico-constitucional, confrontam- s e
s os . Do ponto de vista - sobretudo
da ordem estatal, o crescente envol- do s e trata do caso extremo de jus
cogens - com
dificuldade de deixar de lado as instituições a cres-
· eito internacional público em e normas
37. a., p. ex., Baudenbacher, 2003, p. nome da soberani a ,
metodológicos e práticos "' da 523, referindo-se aos .,problemas essa não pode s er mais legitimada
572, aludindo aos "métodos do
"globalização judicia}"; Uerpmann,
2001, p. conceito de autonomia simplesmente como
direito constitucional internacional". territorial, mas sim cada vez mais
Cap. lV.3. Cf. infra
38. Em sentido diverso, Slaughter
des verticais e horizontais. (2004, pp. 19 ss.) distingue entre re-
39. Carta das Nações
,40. Ci. Koskenniemi, Unidas, art. 1, § 2 . e art. 78, respechvamente.
2002, pp. 514 s.; 2004, pp. 202 ss.
... AO TRANSCONSTfTUCJONAUSMO ENTRE ORDENS ]URIDICAS 135
134 TRANSCONSTTTUCJONAUSMO
titucional das normas internacionais•s. Daí por que não se
como uma noção relativa a "uma responsabilidade política trata de duas formas de lidar com a "soberania", não pro-
regional nas condições estruturais da sociedade mundial '.'· priamente de afirmação de um lado e negação do outro. E
Considerando-se a "soberania interna• como responsabili- não só problemas de limitação e afirmação do poder "sobe-
dade do Estado perante o seu contexto social e a "soberania rano", mas também questões de direitos básicos (funda-
externa" como sua responsabilidade perante o contexto in- mentais ou humanos) são considerados simultaneamente
terestatal, e assumindo-se que a "sociedade de Estados" em perspectivas diversas. Nesse sentido, o transconstitucio-
constitui um "sistema de perspectivas divergentes do mun- nalismo específico entre ordem internacional e ordem estatal
do" e a "igualdade soberana"representa uma "estrutura de apresenta-se na forma de uma ·constituição" em que se
orientação recíproca do comportamento"", parece irracio- "engatam"a responsabilidade do Estado perante o seu con-
nal um modelo que parte de uma única perspectiva, seja texto social interno e a sua "responsabilidade interestatal"16,
essa a estatal ou a internacional abrangente. A "abertura da mas também abrange o entrelaçamento dessas responsabili-
estatalidade", ao contrário, trouxe consigo uma "interpene- dades estatais com a •responsabilidade interestatal" da orga-
tração entre ordem estatal e internacional"º, que exige pro- nização internacional, que, por sua vez, serve à "intermedia-
gressivamente um aprendizado e um intercâmbio entre as ção entre ordens sociais estatais"". Ou seja, tanto em urna
experiências com racionalidades específicas nas duas pers- perspectiva quanto em outra, os problemas constitucionais
pectivas, a estatal e a internacional. passam a ter uma relevância simultânea, exigindo novos
Quando se pretende falar de "direito constitucional in- modelos de análise: não só o provincianismo estatalista deve
ternacional", o único sentido possível é vinculá-lo à zona ser aqui rejeitado; igualmente é prejudicial a um modelo ra-
de tensão entre o direito estatal e o internacional, na con- cionalmente adequado de solução de conflitos o pseudouni-
frontação e resposta a problemas constitucionais básicos da versalismo internacionalista, que, antes, constitui uma outra
sociedade mundial. A esse respeito, manifestou-se um re- forma de visão provinciana dos problemas constitucionais.
presentante destacado do direito internacional público: "A O transconstitucionalismo entre ordem estatal e ordem
Constituição é a manifestação da soberarua estatal e o DIP internacional desenvolve-se a partir do seguinte paradoxo:
(direito internacional público] a sua negação ou, pelo me- "Os Estados constituem o direito internacional público. O
nos, sua crescente limitação. A nosso ver não existe um D. direito internacional público constitui os Estados."•• Esse
Constitucional Internacional por falta de um objeto defini-
do e método próprio. O que existe são normas constitucio-
nais de alcance internacional que devem ser analisadas em 45. Esse outro lado relaciona-se com um aspecto etúotfzado por Ca sse-
se, A (1985, p. 341), de uma forma um tanto peremptória: '"' wn conheci·
cada caso procurando compatibilizar os dois ramos da Oên- mento comum que o direito intemadonaJ só pode ser implementado pelo6
cia Jurídica."" Sendo mais preciso a esse respeito, pode-se órgãos estatais. Para ser mais espcc{fko: a maioria das regras internacionais é
acrescentar que, assim como há um alcance internacional dirigida aos protat,'Onlstas da comunidade intemacionaL isto é, aos F.stados, e
s6 pode ser posta em operação se os sistemas jurídicos domésticos do s ta-
das normas constitucionais do Estado, há um alcance cons-
dos estiverem prontos para implementá-las.• Por sua vez, Slaughter e Bu r ke-
White, tomando como parâmetro a e,q,erii!ncia europeia, prognooticam (2007)
que •o fuh.lro do direito internacional é doméstico".
41. Luhmann, 1995a, p. 118. 46. a . Langer, 1995, pp. 35 ss.
42. Langer, 1995, pp. 18-34. 47. Langer, 1995, pp. 43 ss.
43. Langer, 1995, pp. 18 e 35 ss. 48. Foscher-Lescano, 2003, p. 7'12.
44. Mello, 2000, p. 36.
136 TRANSC0NSTr11.ICJONALJSMO
... AO TRANSCONSTITUCIONAUSMO ENTRE
ORDENS JURíDICAS 137
. . u e emb o ra a s o ber a nia d o Est a d o de -
pa r a d o x o mo d elo e strito d o Oci d ente des e nv
co rra d a 5 cia q d ; de s uj e ito d e d ireito inte rn a o n a l o lvid o 56. Es sa s s itu
a ões
ºt: :t:;:;
a p o ntam para um a a
, . )'9 es te s ó é in s tau ra do me d ia nte mbig uid a d e n o d es envo lvime ç

pú b l i c o n a_ o transc o ns titucio nalism o . M a s is so n nto d o


os E s ta
/ ?s co m d d ireito internaci o n a l . C o a ão s ignific a que nã o ha ja
uma pro liferação de pro blem a s c o
trans te rnto naliza a- o do s ro blema s co nstitucio nais n o a m- nstitu cio nais n a interface
e ntre direito intern a c iona
cre sce nte . , e Pn t ra n amento ' d a s rela çõe s inte r-
ç

b·ti º. de um l e e s ta tal, qu e , emb o r a a ind a


. ç
barre m fre qu e nte m e nte co m unilat es -
na c o na s •s1 e ss a s itua ção implic a reaçõ e s e m a mba s a s di - e ralism o e in c a pa ci
dad e
para "c o nver s a çõe s co nstitucio nais
r e ço! e s . : ,o r m la d o ' o Est a d o c o nstitu c io nal re a g e para q e ", tê m e nco ntrad o , e m
. . e nta is à d e mo cracia
a lguma s e xperiê ncias
institucio na is, re s p o s ta s s a tisfa tóri
a nseio s re fer e ntes ! º s dire1t s fund
o Algun s e xemplo s s e rvirão para ilu s tr as.
e a, 1 ·u s ti s o cial na o se ia m d e s ca r t a : s na V:.1a d a. glo b a li- a r e s s a n o va c o nst
ela -
ç

d o m a io r a tenção à dim e n s ão int e rn a cio nru e m


çã o jurídico - c o ns titucio n al.
za ça o , d : .tui
s ua s co t i -ç õe s 5'; por o u tro , a respo sta à c r e sce.nte mte!-
Em primeiro lu gar, ca be e nfa tizar
a r ela ção e ntre o Tri-
na o o naliz a a d a política e d o dire ito reside na a sce nsa o bu nal Euro pe u d e Direito s Hum a n
o s {TEDl-!)57 e a s
ç
juríd ica s co nso lida da s da s o rd en cultura s
d a C o n s titu1 a o nas e s fe r a s supra esta tais " d e ta l m a n e ira
pe c tivo s Esta d o s europeus a ele vinculnstitu sc tio nais d o s res-
ç s co
qu e o. "direit - ' para fins c o ns -
o inte rn a c ional to rna -s e frutífero a do s • Embora o
. ,53 . . 46.1 d a C o nven ção Eu ro peia d e art.
ti o o n a 1s uit o s c a s o s, me s mo Esta d o s c ons tituo - Dire ito s Human o s es ta be-
m : n d ê nd a , c omo s e manife s to u na po s i a o le ça qu e "as Alt a s Parte s C o ntr
a is a tan tes o brig a m- s
ç
ta r a s s enten a s definitiva s d o e a r es p e i-
: o s Unid o s e d a G r ã-Bre ta nha e m fac e do es t e- ç Trib u na l no s litígi o s e m qu e
le ento .d: C º forem partes ", nã o se verifica u
m a a plica ção igual e ha rmô -
!:mw;':S:d:
ê
na na o ra!6 ; :
= H: nica da C o nvenção , nã o s e apr
nem pla u s ível a pura imp o siçã o
e s enta ndo co m o
evi d e nte
ma n o s p o s t t a d o s U n ido s . Em o utro s ca so s, a s res erva s
fe1ta s po r c erto s Es ta d o s s ão d eclara d a s nula s , c o mo o c o r- contra a s ord ens co nstitucionai d a s d ecis ões d o TEDH
s do
reu por pa rte d ª Itália e da Fra nça co ntra a res erva d o s Es- Convençã o e às d ecisões do 'Jl:ibunal s Esta d o s. As rea çõe s à
tre o s Estad o s. Ta mbém o variam amplamente en-
ta d o s. U n id o s a r es pe ito d a pe na d e mlo rte pa ra. me no re s d e TEDH precisa ser capaz de apre n-
tificação do Pacto n te rn a o o nai do s Oi- diz a do e a d apta ção diante do s d
z es e nvo lvim en to s da s co m-
rdeitmto
o s C iaVn J·sº : i f : c o s (1966)". M a s ta mbém, em no me da pr ee ns ões partic ulares d o s
direit
ida de inte rn a c io na l, r e a g e -se o d es e n vo !VJm e nto sa s o rde n s juríd ic a s na cio na i o s fund amen tais n a s dive r-
s.
:;' e riência s co n stitucio n ais que na o c orre s po nd a m a o
56. A esse respeito, afirma Kosl:enniemi
(2002. 515): •un iversalidade
49. ·1... 1um tad,'.'_ ao• é su"elto do direito intunacion al porque ele é ainda parece ser
bém implica umauma parte essencial do Namt:nt p.progressista
soberano, mas sim e:JOugano po/que é sujeito do direito internacional pú- lógica imperia l de identidade: eu teo aceitarei - mas tam•
le sob a condição de que eu possa porém somen-
biico• (Radbruch, 2003 (19321, P· 185). pensar
57. Esse Tribuna l foi criado pelo de U o que pe n so de mim.H
50. Fischer-Lesca no, 2003, P· 728. Europeia de DireHos Título li (arts. 19 a 51) da Conventão
51. Langer, 1995, PP· 26 ss. reito s do Homem e das Humanos - CEDH (Convenção para a Proteção do s Oi·
52. Biaggini. 2000, P· 454, re,,eri ndo-se à e-riência
r- da nova Constitui- em 4 de no vembro de Liberdades f'Wldamen tais), que foi ado tada em Roma
çâo suíça. 1950 e entrou cm vigo r em 3 de setembr
respeito, ver as informações
53. lbidtnr. co ntida., no sítio o ficial do Co nselhoo ddae Eur
http://conventions.coe.intfl'reaty/CommunJQueV
1953. A
o pa:
54. Cf. Frohwein, 2000, p. 437. CL=,ENC (último a cesso o u lez Vous.asp?NT=005&
55. lbidenr.
58. a , p. ex., Wildhem 15/12/2008).
a ber, 2005.
138 TRANSCONSTITI/CIONALISMO ' d TRANSCONST!TUOONALISMO ENTRE ORDENS JURíDICAS 139
Na Alemanha, mesmo que se admita ter ocorrido um intimidade da autora em detrimento da liberdade de im-
desenvolvimento no sentido de atribuir ao tratado uma hie- tjsa) 63, consolidou, no julgamento do caso Giirgülü, de
rarquia superior à lei ordinária", afirma-se ainda a funda- outubro de 2004 64 , sua posição no sentido de estabe-
mentação constitucional da CEDH60_ Isso implica que os . . ·tes para a aplicação interna de decisões do TEDH,
direitos humanos da CEDH, ainda quando fundamentados , erando a hipótese de que sejam consideradas con-
no art, 24.1 da Lei Fundamental, são colocados à parte dos: ' aos direitos fundamentais e aos princípios do Estado
direitos fundamentais alemães e, portanto, não podem ser' ito estabelecidos na Constituição alemã: o Tribunal
invocados imediatamente em uma reclamação constitucio-. cional Federal alemão deve levar em conta as deci-
nal 61 • Além disso, o Tribunal Constitucional Federal ale : ,1!fb TEDH, mas não está vinculado a elas65• No direito
mão, cuja orientação fixada no julgamento do caso Caroliné · , 'tiiucional alemão, o texto da CEDH e a jurisprudência
de Mônaco II, de 15 de dezembro de 1999 (na qual se dev Q H servem como meios auxiliares de interpretação
maior peso à liberdade de imprensa na consideração da di' · ar o conteúdo e a amplitude dos direitos fun-
vulgação de fotos de Caroline de Mônaco, com restrições ·s e dos princípios do Estado de direito, desde que
proteção da intimidade de pessoas proeminentes) 62, foi co à redução ou limitação da proteção dos direitos
trariada pela decisão do TEDH no caso Caroline von Ha ntais prescritos na Lei Fundamental. No entanto,
ver v. Germany, de 24 de junho 2004 (favorável à pro ação narcisista das normas das decisões do Tribu-
eu de Direitos ,Humanos por parte dos tribunais
59, Em sentido contrário, Kempen (2005, p. 1511) afirma que a ão parece suportável no grau de integração euro-
teria o mesmo nível de uma lei ordinária, apontando para a decisão de por que imprescindível, também para os tribunais
março de 1987, do Tribunal Constitucional Federal da Alemanha (BV envolvidos na solução de questões concernentes
74, 358), na qual se afuma (p. 370): ' N a interpretação da Lei Fundame
conteúdo e o desenvolvimento da Convenção Europeia de Direitos .os humanos, o desenvolvimento de uma raciona-
têm que ser tomados também em consideração, desde que isso não sversal em face da ordem jurídica da C E D H
restrição ou diminuição da proteção dos direitos fundamentais conl unilateralidade pode ter efeitos destrutivos, irra-
Fundamental [... ). Por essa razão, a jwisprudência do Tribunal Euro
reitos Humanos serve também, nessa medida.. como meio , bre a integração europeia no âmbito dos direitos
tação para a detenninação do conteúdo e alcance dos f! fundamentais. Por essa razão, a jurisprudência
dos princípios do Estado de direito da Lei Fundamental. anal alemã procura invocar o art. 53 da Conven-
devem ser interpretadas e aplicadas de acordo com as ob
ia de Direitos Humanos: "Nenhuma das dispo-
tcrnacionais da República Federal da Alemanha, mesmo q ' ,
muiga.das posteriormente a um tratado internacional válido; pois ;)'.>resente Convenção será interpretada no sentido
supor que o le lador, desde que não tenha proclamado claramente :_r,pu prejudicar os direitos do homem e as liberda-
tar-se das obrigações juridico-intemacionais da República Federa] da ,
nha ou J)OSfilbilitar a violação dessas obrigações." Desse mesmo trecho,
(2003, pp. 209 ss,) pr-etende retirar consequências mais favoráveis ao si , Caroline oorr Hannoverv. Germany (Ap p lication n 59320/00). A
da incorporação da CEDH no direito alemão. ,
Rudof, 2006; Hedigan, 2007.
60. a . Walter, 1999, p. 971. ;.
·:.• f E 111, 0_7 (2004) .. A questão relaciona-se com a aplicação por
61. Walter, 1999, p. 974, propondo um avanço no sentido da pril,l o de dectsao do Tribunal Ewopeu de Direitos Humanos, que
da Convenção. emanha com base no art. 8 da CEDH: caso Gorgüfü v. Gtrmany
62. BVerfCE 101,361 (1999). A respeito dessa decisão, ver critica .1 .. 74969101), ju!g. 26102/04. a . Hartwig, 2005, pp. 870-3.
Ladeur, 2007a, sustentando a tese de que "o "direito de proeminêncla Silva, V. A., 2009a; Hoffmeister, 2006; Hartwig, 2005, pp. 874 ss,;
ser considerado fundamentalmente como um direito patrimonial" (p. 111. , pp. 3-0 ss.; Wahl, 2007, pp. 880-3.
140 TRANSCONSTITUC/ONAUSMO ... AO TRANSCONSTITUCIONAUSMO ENTRE ORDENS JURfDICAS 141

des fundamentais que tiverem sido reconhecidos de acordo Essa postura é expressão da maior abertura do tribunal
com as leis de qualquer Alta Parte Contratante ou de qual- austríaco em face do direito internacional público em geral
quer outra Convenção em que aquela seja parte." Mas esse e remonta à Constituição austríaca de 1920, fortemente in-
dispositivo deve ser interpretado em consonância com a fluenciada pelo internacionalismo de Hans Kelsen 69•Dessa
competência do TEDH para interpretar, em última instância, maneira, pode-se observar uma autocompreensão consti-
os dispositivos da própria CEDH. O problema não consiste tucional que aponta para uma disposição mais acentuada de
simplesmente em definir se uma disposição da Convenção um diálogo transconstitucional com o Tribunal Europeu
foi interpretada para limitar os direitos fundamentais de um de Direitos Humanos. Apesar de tradições culturais próxi-
Estado, mas sim em determinar que tribunal tem compe- mas no âmbito da sociedade em geral, a orientação adotada
tência para decidir se houve ou não essa limitação median- pelo Tribunal Constitucional austríaco em face da validade
te interpretação. Nesse particular, o Tribunal alemão não se interna das normas da C E D H afasta-se sensivelmente do
mostra disposto a se submeter, sem nenhuma restrição, às modelo seguido pelo 'llibunal alemão, apontando para uma
orientações do TEDH, em toda e qualquer questão que ve- marcante diversidade de culturas constitucionais. Cabe adver-
nha a apresentar-se66• tir, porém, que o Tribunal Constitucional austríaco apre-
Em orientação bem diversa, o Tribunal Constitucional senta-se reticente no que concerne à obrigatoriedade das
da Áustria posicionou-se pela imediata aplicação das nor- ,:_.a decisões do TEDH. Em relação aos princípios jurídicos
mas da CEDH no âmbito interno67, assumindo que a Con- constitucionais da organização estatal, entende que um jul-
venção é parte integrante do direito constitucional austríaco, gamento do TEDH que interprete uma norma constilucio-
nos termos da reforma constitucional adotada em 196468• ' na! austríaca como contrária à Convenção não pode servir
de base à sua decisão: nesse caso, a violação só pode ser sa-
. nada pelo "legislador constituinte". E, além disso, o 'llibu-
66. Silva, V. A. (2009a), analisando o caso sob a influência de Alexy, pro·
põe um modelo de associação entre "'sopesamento, racionalidade e ônus ar- nal Constitucional austríaco argumentou que a transferên-
gumentativo•. A respeito, ver infra Cap. lV.3. cia para um órgão internacional da função de desenvolvi-
67. Decisão de 14n0/1987, VjSlg. 52, n 11500, 347. Em sentido próximo, é mento aberto da interpretação no âmbito constitucional
a orientação do Tribunal Suíço, fixada em decisão de 15 de novembro de 1991,
1,. i!llplicaria, ao pôr de lado o "legislador constituinte", uma
que qualificou a CEDH como wn Tratado especial rujas nonnas têm conteúdo
de direito oonslitudona.l e são garantidas pelos mesmos procedimentos destina ··i eforma total" da Constituição nos termos do art. 44.3 do
dos à proteção dos direitos fundamentais previstos na Comtituição suíça (BCE , diploma constitucional austríaco e, portanto, exigiria a rati-
a.
117 lb 367, pp. 370 s.). a respeito da posição da Suíça, Wahl, 2007, especial- ·)çação do povo austríaco'º· Dessa maneira, observa-se que
mente pp. 886 ss., enfatizando um desenvolvimento mais favorável ao direito in-
ternacional nesse país do que na Alemanha (pp. 888 s.). O Tribunal Co n s titucio-
nal de Portugal, em uma posição intermediária, embora sustente que as questões
oonstitudonais resolvem-se à luz das normas e princípios constitucionais, esta- 69. Sobre o internacionalismo de Kelsen, ver Brunkhorst, 2008a; Bems-
beleceu, em decisão de 12/10/1999, que a jurisprudência do IBDH 'contribui di- . , 2008b; Fassbender, 2008. Sobre a contribuição de Kelsen no surgimento
rectamente para detemúnar a convicção jurídica• dos direitos fundamentais pre- Constituição austríaca e a influência dele na sua interpretação judicial e na
vistos na Constituição portuguesa (Acórdão n 533199), e tem feito esforços para do direito constitucional austríaca, ver Ôhlinger, 2008, que, porém, re-
adaptar-se a essa jurisprudência (d. Barreto, 2007, pp. 83 ss.). a sua influência perante as recentes transformações no método dou-
e jurisprudencial (pp. 422 ss.), não por considerar a teoria de Kelscn
68. Mediante essa reforma constitucional atribuiu-se à Convenção Eu-
, mas sim por avaliá-la insuficiente para erúrentar os novos desafios do
r?pe a de Direitos Humanos e ao seu 1 Protocolo Adicional hierarquia cons-
htuc1onal. Aos seguintes Protocolos Adicionais foi conferido o caráter de re- constitucional ausmaco (p. 424).
forma ou emenda constitucional (Mayer, 2007, p. 644). 70. Decisão de 14/10/1987, VJSlg. 52, n'.11500, 347, pp. 365 s.
TRANSCONSTITUCJONAUSMO A9 TRANSCONSTJTUCIONAUSMO ENTRE ORDENS JUR/DJCAS 143
142
condições jurídi-
também o Tribunal austríaco determinou das decisões do fs:No julgamento do caso Goodwin v. United Kingdom
internas para a aplicabilidade interna Aoórdão de 11 de julho de 2002, por exemplo, observa-s;
cas
"hierarquias entre-
TEDH, apontando para a existência de ,evol ção do direito interno dos Estados signatários
hierachies") no sentido de Hofstadter71 .
laçadas" (" tangled vençao serve de fundamento para urna reviravolta de
Conselho Constitucional francês em re- ' dência do Tribunal Europeu. Até então, o trib u n al
A posição do
Humanos aponta
lação ao Tribunal Europeu de Direitos construtiva.
a aos Estados a liberdade de disciplinar livremente 0
uma certa abertura para uma "conversação"de novembro dos transexuais, ou seja, de dizer se eles continua-
da Decisão n? 2004-505 D C , de 19
No caso
recorreu, na funda- ' a,ser c assificados como homens ou mulheres e todas
de 2004, o Conselho Constitucional Jinsequenoas desse reconhecimento (possibilidade ou
caso Leyla Sahi11 ,
mentação de seu Acórdão, à decisão do 71, na qual se d casar, possibilidade ou não de pedir
pensão etc.).
v. Turquia pelo TEDH, de 29 junho de 2004 tçaso, o Thbunal entendeu que, por não levar em conta
de Direito( .
interpretou o art. 9? da Convenção Europeia deixa a q ( i;iça de sexo, o Reino Unido estaria violando a Con-
Humanos no sentido de que esse dispositivo Europeia de Direitos Humanos75 • U m outro exem-
("marge na,-;,
Estados-membros uma margem de discriçãoliberdade re';. . e no julgamento do caso E.B. v. France, em Acórdão
para a disciplina da
tionale d'appréciation"13) aneiro de 2008, em que também a evolução do di-
Conselho Cons)iÍ
ligiosa. Com base nessa interpretação, o a dos Estados signatários serve de fundamento
são "livres'<,
titucional definiu sua posição de que os Estados . o Tnbunal Europeu restrinja a discricionariedade
o véu quani .
tanto para proibir as alunas7islâmicas de usar · os na regulamentação do direito à não discrimi-
para autorizá-las a fazê-lo ' . eunp , ma observação cuidadosa das diversas autocom-
Em relação à pluralidade de constitucionalismos ·con:titucionais é fundamental, portanto, para
Humano_s
peus, impõe-se ao Tribunal Europeu de Direitos H nao perca sua capacidade de decidir legitima-
vinculante·
uma posição flexível ao decidir com pretensãoconsiderand re casos de relevância para cortes de países sig-
respeito de casos que afetam diversos países, CEDH.
específicas
também as autocompreensões constitucionais , s pontos interessantes em relação ao Tribunal Eu-
metamorfoses. Nesse sentido, a própria orientaçã9 !!I
suas de açp, rreitos Humanos refere-se à influência de suas
TEDH transforma-se, com o tempo, na admissão idên,ti ra da Europa, entre países, portanto, que não são
aos direitos humanos, em matéria
para a proteção ;da CEDH. Destaca-se o voto do Juiz Anthony
de um rnet. '
à de ações anteriormente rejeitadas, em face 0 caso Lawrence v. Texas, julgado em 26 de mar-
, que sustentou a decisão majoritária com O ar-
71. Hofstadter, 1979, pp. 10 e 684 ss. ltrad. bras.
2001, pp. 11 e 751\s e ue O TEDH, corno também "outras nações",
,
72. Caso Leyla Sahin v. Turkey (Application açao consistente na afirmação dos direitos pro-
n'. 44774/98).
referindo-se ao caso,.,
73. Debnas-Marty (2006, pp. 82 ss.), inclusive
Sahin v. Turkey (pp. 87 e 90), alude à "'necessidade
de u m a marg e m f"
ªº
1
e, ao mes m o tempo, considera as dificuldades
de sua i m pleme ntaçao L:�
,- ·
u ·,
ristine Goodwin v. m ed K.mgdom (AppHcation n� 28957/95).
cultés de mise em ordrt• - pp. 88 ss.J. e de O c � s do TEDH concernentes à Jivre orientação
DC, de J9/Jl/JO
74. Conseil Constitutionnel, Décision n'. 2004-505 reto�
a de es�:;sO Civil em face de operação transexual, cf. Rudol(,
supranacional europeu,
Como essa decisão também envolve direito ,\2008a, pp. 66ss.
a ela no capítulo IV. E.B. v. Frana, (Application n'. 43546/02).
144 TRANSCONSTJTUCTONALISMO .. AO TRANSCONST!TUCIONALJSMO ENTRE ORDENS )UR/D/CAS
·,.l·
145
tegido s do s h o m o ssexuais adulto s de env o lver-se em co n- diálog? em quest_ões co nstitu cio nai s co muns
duta íntima e co nsensual" 77 • Principalmente co m base nes- referentes à
· , proteçao do s d1re1to s human o s, de tal maneira
sa decisão de afirmação do s direit o s das min o rias h o m s- que se am-
.,. , plia a aplicaçã o do direito co nven cio nal
sexuais, desenvo lveu-se o debate entre o s Justices At o nin pelos tribunais
, doméstic o s•0•
Scalia e Stephan Breyer so bre o us o da jurisprudência d · Um caso interessante diz respeito à co lisão
TEDH (e de o utras nações) para a interpretaçã o do direit entre o art. 7?,
n? 7, da C o nvenção Americana de Direito s
co nstitucio nal american o , o primeiro em posição antagô , Human o s, e o
A. art. 5?, _in_ciso LXVIl, da C o nstituição bra s ileira. Enquanto essa
ca e o segund o em po sição favo rável'•. Essa discussã o é ,. ; . disp o s 1çao co nStitua o nal permite a prisão
civil do dep o sitário
indíci o de que, mesm o no âmbito de urna tradiçã o co n ., infiel, o disp o sitivo da C o nvenção a pro íbe.
N o julgamento
tucio nal de auto ssuficiência, o recurso ao diál o g o co nsti ··.d o RE 466.343/SP, d o RE 349.703/RS e
cio nal co m o utras co rtes internaci o nais e estrangeiras
1•• 'o Suprem o Tribunal Federal decidiu em 3 de
d o H C 87.585fl'O
dezemb r o d
âmbito de questões co nstitucio nais internas pass o u a · 1008, p o r mai o ria, que os tratad o s e
co nvenções so bre di-
um do s temas centrais na nova agenda do co nstitucio nalis- reito s human o s, quand o nã o ap r o vad o s n
o s term o s pr o ce-
m o american o . qimentai do art. 5?, § 3?, da C o nstituição
. Federal (pro cedi-
Um o utro cas o relevante de transc o nstituci o nalism o -,mento 1dentico ao de urna Emenda C o nstitu
cio nal), têm uma
Ijierarquia supralegal, mas infrac o nstituci
entre o rdem internaci o nal e o rdem estatal vem-se dese o nal.
volvend o na relaçã o entre o "Sistema Interamerican o , sejou uma ampla discussã o a respeito da inc Esse caso
o rp o ração
tratad o s de direito s human o s na o rdem
Direit o s Human o s", instituído pela C o nvenção America jurídica brasi-
81.
Uma tendência na análise do caso foi a
sobre Direitos Humanos (CADH), e as o rdens co nstituc uçã o n o sentid o da validade interna defesa de urna
nais dos respectivos Estad o s signatário s que a ratificaram ,ci nad o preceito da ratificada C o nvençilimitada do men-
Nesse contexto, não se trata simplesmente da imposiç ''.- eitos Human o s, tendo em vista que ão Americana de
de decisões da C o rte Interamericana de Direit o s Hum essa norma levaria a
,i:na ampliação d o s direito s constituci o nalmente
n o s (CIDH), criada e estruturada pel o Capítulo VIlI (arts. os, de tal so rte que o direito nela co estabele-
a 69) da CADH, ao s tribunais naci o nais co m co mpetências i ·.() po art. 5?, § 2?, da C o nstituição
ntid o estaria funda-
constituci o nais. Esses também reveem a sua jurisprudência Federal • M a s , também
82
'. interpretaçã o restritiva em relaçã
o ao nível da validade
à luz das decisões da C o rte. Tant o do lad o da CIDH quan ! 1:' ª do disp o sitiv o
da CADH, nã o se exclui urna so lução
,
da parte das co rtes estatais tem havid o u_ma disp o sição para a ampliaçã o prática_d o s direit o s fundamen-
1a1.?tiva
m :; 0 argumento em favo r da validade

. ', stituc10nal da Convençã o supralegal e infra-
77. Lnwrenc, tt ai. v. Taas, 539 U.S. 558 (2003), p. 576. A respeito dessà ratificada serve a urna decisão
decisã o ver a breve exposi ção de Eskridge, 2004.
18. a. a discussão entre ScaJia e Breyer, moderada po r Dorsen (mo der.),
2005. So bre o contexto dessa discussã o , ver Ginsbu r g . 2005b. O.
também inf
· t BO. a. Ortiz, 2009, pp. 273 ss.; Burgorgue
Larsen, 2009, pp. 309 ss.
pp. 257 ss. { } ! . RE 466.343/SP, RE 349.703/RS,
H C 87.585fl'O, julg. 03/12/2008, TP,
79. A convenção foi adotada em 22 de novembro de 1%9, em São José
da Costa Rka, tendo entrado em vigor em 18 de julho de 1978,
ronfonne o se
!2
, uo/0612009 e 26/06/2009.
· o s i ção defendida pelo ministro Cels
o Mel o , em vo to conduto r da
art. 74, n? 2. A res peito, ver Burgorgue-Lars en, 2009; Orti.z, _8 neta, com apo io nas o bras de Trindade, 1997, pp. 407s.; Piovesan, 2008,
2009; s o bre adi$ · , J . n ; Mauuol 2001, pp. 147-50; 2007,
cussão no Brasil, ver Oliveira (coord.), 2007, des tacando-se
dade, 2007. Para uma análise da jurisdição da
o prefácio de Trin; pp. 682-702. MeUo (2001, pp. 25 s.)
. e s ustenta o caráter supraco nstitucional dos tratados e convenções s o -
CIDH, d. Ramírez. 2008. ei tos humanos.
TRANSCONSTITUOONAUSMO
,l .,.AO TRANSCONSTITUOONAUSMO ENTRE ORDENS JUR/DICAS 14 7
146
a prisão . ·lho Supremo Eleitora! da Nicará g u a ss. A .CIDH • nao _ so, con-
s tituição apen a s admitiu
no s entido de que a C o n s titucional po- , denou o Estado da Nicará g u a a ind a çoes por da nos
infiel; entã o , o direito infracon
do depo s itár io
re s peito da permi s s ão ou proi- :materiais e imateri a is, como tambémendJZ et emun o u que se
.
deria decidir livremente a prima- J p,rocedes se a, re,, o rma da res pectiva lei e1e1't ora l.' c. o nclwndo ·
hipóte e, o p a cto intern a cio n a l teria '"'' Es ta do deve re,orm ' .
bição e, ne s s a s
o • Só a manutençã
83 o da . I'-'
ar a regul a ção d w s ito s
disp
s
Civil bra ileir
zia s obre o Código
s
na tradiçã o jurídica to s na Lei Elei t o ral n? 311, de 2000 d ; : ! s v10la t6nos-
nte anterio rmente
orient a ção do mina a cio- :\I Convenção Americana de Direitos H u m a :o s, e adotar,
o de que os a tos intern
bra s ileira, ou s eja, a co ncepçã validade de uma lei o rdin á- J m prazo razoável, a s medida s necessária s para que os mem-
nai s ra tifica dos têm o nível de
o in s uperável entre o
STF e a .. !/'OS das comurúd des m ª · d ígenas e étnica s possam Parti Cl- .
ria, poderi a leva r a um conflit iro entro u em vigor a pós nar,nos proce s sos elei t orais de fo r m a efeti va e tomand o em
CIDH, po is o Código Civil brasile a s o, prevaleceria o má- ·êfnta suas tradições ' u s o s e co stum es , nos termos do pará-
s se c
a ratific a ção do tra tado e, ne ' ·'-"' º 249 de pres ente sentenç a ·"86 A qm· s e a pre s enta um
posterio r derogat priori ... Mantida es s a po s ição, o "remp lo Caro
xima le x o go con s titucional c o
m a 1 em_ que a ampliação de direi t os funda m en-
rompe ndo um diál
STF es tari a
en s ã o d o s direito s huma- 1 , co nstitucionais encontrou a poio em n onna da ordem
CIDH em tomo de um a c o mpre dirimir' . o co nflit . ·
s s ão a cional invoca da para
s . N o ent a nto, na discu t\tern o a própri com-
nos e dos direitos fund a m entai col o cad o no primeiro
·,,
· . ensão do direito interno de cid dania a tiva , ma tena -
claro ter ido a
que s e tra v o u, p recea s
ão de um a racio nalidade . secamente constitucional ficou vin ui
pla no o es forço com vista à formaç
ç
tre uport ável para ambas as ordens p s ando ª. de ender da : t : : e : ç S : : :
transvers al, que s e mo s s t! citonai b\
a m em intern a cional
jurídica s envolvida s . a de Direitos Hum a nos
, '. · .,
,.1Ma s há experiênci a s no ;entido invers o a s quai.s a
D o la do da Corte Interarnerican
destaca r o import ante julgam ento do caso Yatama vs. , .rma mtern a cio nal de pro t eção do s h
direito s . _ anos a s er
ca be
o democrátic a de mem- p ta da pode a pres en t ar-se como um a re s trtçao a direitos
Nicarágua, referente à pa rticipa çã a o partido Ya ta ma,
,! •/'game ntais da Consti' t u i çao
- es t atal · Esse é O ca so da co li -
idade indígen , filiados '
bros da comun a
à eleição municipal: .
entre a Constitui ça- brasil erra e o Estatuto de Roma do
que foram proibid os de candida tar-se
for a de decisão do Conse-'., · , a i Penal Int ernac1onal, que foi ad o tado em 17 de 1·u-
de 5 de novembro de 2000, por ç 1
!:!e
. 1998 e entro u em vigor na Ordem In .
t ern a cional em
·ulh o de 2002' ten do sido .
condutor � ra tificado pelo Brasil me-
ministro Gilmar Mendes, em voto
83. Posição defendida pelo
Mendes, Coelho e Branco, 2007,
pp. 665 ss. , o Decreto Legisl a tivo n? 112' de 2002 · Enquant o o
ver
da maioria. Nesse sentido,
no julgamento do RE 80.004/SP.;
pelo STF
· nº·("1e aJín do E s tatut_o de Ro ma, prevê a prisão
84. Jurisprudência consolidada
julg. 01/06/1977, DJ 29112/1977. A
respeito dessa jurisprudência, ver
Mendes'. '
é a posição de Dimoulis e
Mar 'a
· ª
o e :V:d 0 grau d ilicitude do fato e a s condi-
.
Coelho e Branco, 2007, pp. 659 ss. Essa ainda
§ 3� do art. si) oais do condenado a justificarem"), essa pena e, pro1- .
não aprovados nos termos d o '
tins (2007, p. 50) para os tratitdOs nfonne O art · 5o., InCISO
• . XLVII, alínea ,
Miranda (1960, p. 225), embora e b, da C o nstituição
da Constituição Federal. Pontes de Consti ai · Embora O art. 5?, § 4?, da C o ns tituição Federal, in-
à lei ordinária, afirmava: " A
se hierarquicamente o tratado próprio trat�:}.
ser dentro das cláusulas que o
pode atingir tratado anterior sem ab�rogaçiiç.
contém para a denúncia dele, ou a
do, válido em direito das gentes, é indisrutívt),i.:
do direito das gentes, então, · · Caso Yatama N' 6gua, Sentença de 23106/2005.
das suas regras. Assim, o primado de as:�.
[ ... } Os escritores incidiram, a respeito,
em graves confusões , oriundas ' §
Idem, 275.l(ne · ponto, �o� 0 voto dissidente do juiz ad hoc
o tratad0i
tratado anterior à Constituição e �eiArgiieJJo). A respe·t1 0 d essa deo.sao, ver Volio, 2005.
similação inconsiderada entre o f
posterior à Constituição." ,
148 TRANSCONSTITUCJONIILJSMO O rRIINSCONSTITUCJON/iLJSMOENTIU: ORDENS]URIDICIIS 149
troduzido pela Emenda Constitucional n? 45, de 2004, te- rámente compatível com o Estatuto de Roma, pode ser
nha estabelecido que o "Brasil se submete à jurisdição de .trtada pelo Tribunal Penal Internacional em uma posi-
Tubunal Penal Internacional a cuja criação tenha manifes- iaonstrutiva e disposta ao aprendizado. A questão pode-
tado adesão", a questão permanece problemática, tendo ,:nar-se mais problemática se o STF vier a considerar a
em vista que, de acordo com o art. 60, § 4?, inciso N , d(i têse como de • extradição" e afirmar a sua jurisprudên-
diploma constitucional brasileiro, a vedação de penas d e não extradição de brasileiros, nos termos do art. 5?,
"caráter perpétuo", incluída no catálogo dos direitos e ga· §!i>JLl, da Constituição brasileira. Nesse caso, não seria
rantias individuais, não pode ser abolida enquanto cláusu- imples a solução do conflito normativo. Porém não pa-
la pétrea. Por um lado, a compreensão de direitos humanos 1c0rreta, como já foi adiantado, a extensão semântica
pelo direito internacional público parte das preocupações· .ç·preceito, no sentido de que essa proibição valha tam-
com os crimes escandalosos e chocantes contra a humani- · . tpara a entrega de criminoso, réu ou indiciado ao TPI,
dade. Por outro, o ponto de partida da compreensão consti- ,a,tict:radição refere-se à relação entre Estados. Sem dú-
tucional brasileira dos direitos fundamentais reside no e n , mj!Smo admitida essa interpretação do conceito de ex-
tendirnento de que a prisão perpétua viola os direitos hu- g o, ainda surgirão novamente problemas pela invocação
manos. Uma solução unilateral não é adequada nesse caso. rt. (i(), § 4?, inciso N , da Constituição, que não permite
De acordo com os casos precedentes, há a tendência na j u , 0Jição de garantias de direitos fundamentais (" cláusu-
risdição constitucional brasileira de exigir uma condição es ·'treas"). O rumo dos desenvolvimentos nesse contex-
pecifica para a extradição do suposto criminoso a ser pro. ,rm tivo permanece aberto. Não obstante, a disposição
cessado ou do criminoso já condenado pelo Tribunal Penal 9, prendizado em ambos os lados, mediante a formação
Internacional (TPl): ele só será entregue se a prisão perpétua tr\ª rede transversal construtiva, ou seja, o transconsti-
for comutada em uma pena de, no máximo, trinta anos87,., . tialismo, é decisivo para o sucesso nessa área de coli-
Embora, a rigor, não se trate de extradição na hipótese de )l.temacionalismo e nacionalismo, nessa hipótese, po-
um tribunal internacional, pois o conceito de extradição e o.levar a atitudes destrutivas para os direitos humanos
refere à relação entre Estados, essa solução poderá ser adQ.• ndamentais.
tada para os casos de pedido ao Brasil da entrega de crirni Por fim, no plano do direito constitucional econômico,
nosos, réus ou indiciados ao Tribunal Penal Intemaciona) ação da Organização Mundial do Comércio 89, na solu-
Essa é uma solução intermediária, que, embora não seja i,ne 1L_
89)0 Tratado de lnstituição da Organização Mundial do Comércio foi
em 15 de abril de 1994. A respeito, ver Petersmann, 1995. Kosken-
87. Confinnando os precedentes na experiência jurisprudencial mais te·
' pp. 206 s,), em postura eminentemente critica, afirma, com base
centc, cf. os seguintes casos de extradição, todos decididos por unanimidad empíricos e argumentos que me parecem convincentes: - o esta.be-
pelo Pleno do STF: Ext. 1.104/UK-Reino Unido da Cri-Bretanha e da iria da OMCem 1995 foi uma vitória significativa para as preferências
da do Norte, julg. 14/11/2008, D/e 25/06/2008); Ext. 1.103 - Estados Unidos âa comércio sobre os objetivos regulatórios com enfoque nacional.
Ammca, julg. J3/03/2008, 0/e 07/11/2008; Ext. 1.060/l'U-Peru, julg. 1s11onOQ7, polarização da oposição entre o Norte e o Sul (especialmente eviden-
DJe 31/10/2007; Ext. 1.069/EU - Estados Unidos da América, julg. 09/081200t . .,
0 < p o d a propriedade intelecrual) pode ter diminuído as possibilida·
D/e l4/09n007. m atão judicial por parte dos grupos especiais (pantls) ou do Órgão
88. CC. Maliska, 2006, pp. 188 s., que ainda admite a hipótese da en ga :pelaçao. De falo, há poucos indícios que possam dissolver a impres-
ao TPI ,em essas condições (p. 189), o que me parece incompatível com os prc t'.l ue: o Órgão de Solução de Controvérsias seria um dube de riC'OS: a
cedentes jurisprudenciais bnsileiros e Implicaria a quebra de •cláusula pétrea Pli aiorla dos casos ainda são trazidos a ele pelos Estados Unidos e:
A respeito, ver Sabadell e Dimoulis, 2009. União Europeia:

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