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Capítuloill
... Ao transconstitucionalismo entre ordens
jurídicas
próprio nível reflexivo e a identidade das ordens ou cooperado ra, mas antes contribuind o para estimulá-l
atinge O a a
a , no estar disposta a o intercâmbio em futuros " e ncon tro s"
nvolvidas. O problema reside no fat o de que a respost para
co n-
entro das respectivas o rdens jurídicas, deve ser dada enfren tarnento de cas o s co muns,
a cordo
forme Omesmo código binári o (licito/ilícito), _mas de O qu e caracteriza o transconstitucionalism o entre
or-
A per- de ns jurídicas é, porta nto, ser u m constituci o nalism
com critéri o s norm a tivos originari a mente divers o s. o relati-
de ao vo a (soluções de) problem a s jurídico-constituci o n ais
gunta co n cernente à conformidade º ' : desco n fonruda que
c_aso, se apres:nta m simultane a mente a diversas ordens.
direit o (licitude ou ilicitude), em relaça o a um mesm Quan-
perante uma pluralidade de o rdens Jundi<;_as. do qu e stoes de direitos fundament a is ou de direit o s
apresenta-s e hu m a-
Essa pergunta vazia po de se_r omplementad a co m referen: , .nos su bmetem_-s ': trat a m e n to jurídic o concreto,
o
eia a conteúdo : quais os cnteno s ou programas condic10 s n do ?rdens Jun 1cas diversas, a "c o nvers ação" perpas-
nais" qu e podem servir para definir se algo se enquadra
na
na-
' :o n a l e m sp e nsavel.,ºª co nstitu-
mesma maneira, su rgindo ques-
hipótese da licitude ou da ili:itude? As diversas ord e ns, to es o rgaruzacro na1S basic a s da lirnJtação
e contro le de um
turalmente , vão invocar, pnmanamente, os seus mo?elos .'P?der que se entrecruza en tre o rdens ju rídicas,
afetand o o s
de construção de critéri o s e programas para ª, res o luçao
de · e1tos dos respectivos destin a tário s, impõe-s
e a co n stru-
casos. Sem dúvida, em princípio, a tendênca e o surgunen- çao de "pontes de transição" e ntre as estruturas
reflexivas
to de colisões. O problem a reside exa ta mente na 1:1compa- re pectivas ord e ns. Portant o , para qu e o transconstitu-
tibilidade das possíveis soluções apresentad a s. Dai por que nalism o e desenvolva plen ente é fund a n t
_s a m m e a l qu e,
a busc a de "pontes de transição" é fundame n tal. Evidente- , respectivas o rdens envolvid a s, estejam presentes prin-
mente, ess a s "pontes", como mo delos de en trela çamento s ,. Jft.o s _regras de o rganiza ção que levem a sério os proble-
ns
que servem a uma racionalidade transversal entre ord e , !lla_s bas1cos do co nstitucionalismo" . Sem dúvid a , há o rdens
ju rídicas, não são construídas de maneira permane n te e es- ca s, especialmente estat a is, qu e não estão dispostas a
tática n o âmbito dinâmic o do transconstituaonalismo. O pro- '!l.\ ', o rar co m o transconstituci o nalismo , pois desc
o nhecem
tk_
7'
34. Sobre a programação condicional (se-então) como particularidade 'qii, 35. Em outra per.;pectiva, Fischer-Lescano (2003,
pp. 720 ss.), a partir de
e T ubner, refere-se
do sistema jurídico, ver Luhmann, 1987a, pp. 227-34: 1981a, PP· 140-3 e
a· .id ia Ocarater "'primitivo"' a um "'direito transnacional reAexivo·, afastando
275 ss.; 1973b, pp. 88 ss. (especialmente p. 99). ou "tribal "' do "direito mundial"' . a . supm p. 98.
1-
TRANSCONSTITUCJONALISMQ. 111,NSCONSTITUCIONALISMO ENTRE ORDENS JURÍDICAS 131
130
rejeitam a limitação e o controle
os direitos fundamentais e tativas cognitivas (ver supra pp. 28 s.), o transconsti-
· rídiCO -positivo dos detentores de poder. Internamente, elas alismo parece ser a alternativa mais promissora para
JU , -
em senti'd o moderno, seMçq . ..
não admitem Constitwçao ficação de sua dimensão normativa. As ordens esta-
de uma racionalidade transversal _enl:e dir 1to e polí ca. fuJi fei-nacionais, supranacionais, transnacionais e locais,
face dessas ordens, 0 tran5:onsbtu':on_alismo cona qq eradas como tipos específicos, são incapazes de ofe-
forma muito limitada: irritaçoes, influencas e pressoes transa isoladamente, respostas complexamente adequadas
constitucionais podem levar_ a transformaçõ_es da ordem, •!; problemas normativos da sociedade mundial. Os
anticonstitucional. A alternativa ao trans_constituc1onalísll\Q os de constitucionalismo internacional, supranacio-
é, nesse caso, assumir uma postura bélica con a a ordem . tran-snacional, como alternativas à fragilidade do
inimiga do transconstituc1onalis_mo, CUJOS ef:1tos colate- tqcionalísmo estatal para enfrentar os graves proble-
rais a tomam normativamente nao recomendavel. utra,s a sociedade mundial, levam a perspectivas parciais e
a situação, quando se trata de orden rcrucas, que _nao_dis. rais, não oferecendo, quando considerados isolada-
põem de princípios e regras s':.cundanas ': orgaruzaçao e, c, soluções adequadas para os problemas constitucio-
po rtanto' não estão em condiçoes de admitir
.
problemas JUq o presente, O transconstitucionalismo, como modelo
· r ens desse_ tipo eXJgem,.
rfdicos constitucionais. O. d c da_vez trelaçamento que serve à racionalidade transversal en-
mais, um transconstituClonalismo unilateral de tol_erancia «: élens jurídicas diversas, abre-se a uma pluralidade de
certa medida de aprendizado: embora elas seiam aves cctivas para a solução de problemas constitucionais,
: : ao modelo d direitos humano; de lirni ção jurídiç r·adequando-se às relações entre ordens jurídicas do
do poder nos termos do sistema Jundico da s_oc1edade mun- ·a jurídico heterárquico da sociedade mundial.
dial, não se compatibiliza com o tr constitu:1on lísmo, ( fim, cabe observar que o transconstitucionalismo
· les imposição uniJateral e heteronoma
Slmp .d de direitos
. hu' s'e' desenvolvido intensa e rapidamente no plano estru-
manos# a membros da resp ti.va comuru ade, pois tal me. (do sistema jurídico, mas ele ainda se encontra muito
dida pode ter efeitos destrutiv em su mentes_ e em seus ado no âmbito da semântica constitucional da socie-
corpos sendo contrária ao própno conceito de direitos humf. ê"mundial. Isso, em parte, deve-se à persistência do pro-
nos"'. Por conseguinte, em ra haja ordens jurí cas que es 'llnismo constitucional, especialmente no âmbito do di-
tão à margem do transconstitucion-alismo, esse nao pode ex o estatal. É claro que o transconstitucionalismo não
cluir Odesenvolvimento de institutos que possam levar a ump e eliminar a dogmáti.ca constitucional clássica no inte-
relação construtiva de apre diza o interc bio com es5<!s dé uma ordem jurídica estatal: essa ainda constitui uma
ordens. Evidentemente, tal s1tuaçao importa limites do trans, -,;ersã? importante do sistema jurídico da sociedade mun-
constitucionalismo na sociedade mundial assimétrica (cf. in- re ha problemas constitucionais intraestatais de suma
fra Cap. V.1), mas não clui o seu significado_ para o desen-.- ·ortância. Mas a abertura do direito constitucional para
volvimento da dimensao normativa dessa socedade. ,. em do Estado, tendo em vista a transterritorialização dos
A esse respeito, cabe eníatiz:u: que, embora_a sociedaqe 0blemas jurídico-constitucionais e as diversas ordens para
mundial, até Omomento, seJa onentada pnmanamente po 'quais eles são relevantes, torna necessário o incremento
e uma teoria e uma dogmática do direito transconstitucio-
"
i!l. Para isso, evidentemente, serão precisos novos aportes
36. Compreeodklos como "garantias da integridade da psique e do cor1 .etodológicos, a serem desenvolvidos em face de uma ca-
po• (reubner, 2006, p. 175). d . ,nfra P· 254·
132 TRANSCONSTITUCIONAUSMO
... AO TRANSCONSTITUCIONAUSMO ENTRE ORDENS JUR!DICAS
suís tica complexa. Esse é o grande de s afio do transcon 133
s ti-
tucion a lismo para o s juri s tas , especialmente os vimento do s tribunais cons titucionais nessas questõe
constitucio- s , na s
n lista s . As anális es dogmáticas e as investidas
a quais o modelo clássico de ratificação vem paulatin
teóricas a m ente
permanecem ainda muito fra gmentada s e eventuais. perdendo s ignificado, fortifica-lhes o caráter de
problema s
no metodológico, a situação continua embrionária37 N o pla- constitucionais referentes a direitos humanos ou fund
• Faltam a m en-
ainda os elementos de uma teoria abra ngen tais ou concernentes à questão de limitação e controle
te do
constitucionalis mo e uma dogmática compreensiva trans- poder, envolvendo preten s ões que ultrapassam do
va à estabilização do direito trans constituci que sir- o âmbito
onal, a m ba s pres- de validade específico da ordem interna. Do ponto
de vista
supondo reciprocamente aportes metodológico da ordem internacional, is s o significa a incorporação
s . A seguir, das
pretendo apresentar elementos que possam . questões constitucionais no âmbito de competência
cons tituir um de seus
esboço p a ra de s envolvimentos ne s s a direção. ' tribunai s , que passam a levantar a pretensão
de decidir com ·
caráter vinculatório imediato para agentes e cidadãos
Estados. dos
2. Transconstitucionalismo entre Essa s ituação exige o desenvolvimento de
direito internacional fonnas de
público e direito estatal " ' re-entry n a s perspectivas de observação
recíproca. N a me-
' . "çlida em que a s cortes internacionais
partem primariamente
Na rela ção entre ordens jurídicas internacionais , •::='"da ordem interestatal, confronta m -se
e or- com a s compreen-
dens jurídicas estatai s , s urgem ca da vez mais l s ões particulares das instituições e dos
te casos -pro blemas jurídico-constitucionai frequentemen- correspondente ordem estatal. Por um lado,
problemas por parte
s cuja solução uma impo-
interess a, simultaneamente, às diversas ão internacionalista unilateral apre s enta
ordens envolvida s . -se como pro-
São s ituações em que é invocado mais de mática, não porque s e poss a recorrer aos
um trib u n al para princípios tra-
a solução do caso, sem que, ion a is de autodetennin a ção ou da igualdade
necessariamen te,
m a s de s olução de conflitos de competência existam nor- s s im porque, sem autoinstitucionalização soberana ,
39
des fundamentais que tiverem sido reconhecidos de acordo Essa postura é expressão da maior abertura do tribunal
com as leis de qualquer Alta Parte Contratante ou de qual- austríaco em face do direito internacional público em geral
quer outra Convenção em que aquela seja parte." Mas esse e remonta à Constituição austríaca de 1920, fortemente in-
dispositivo deve ser interpretado em consonância com a fluenciada pelo internacionalismo de Hans Kelsen 69•Dessa
competência do TEDH para interpretar, em última instância, maneira, pode-se observar uma autocompreensão consti-
os dispositivos da própria CEDH. O problema não consiste tucional que aponta para uma disposição mais acentuada de
simplesmente em definir se uma disposição da Convenção um diálogo transconstitucional com o Tribunal Europeu
foi interpretada para limitar os direitos fundamentais de um de Direitos Humanos. Apesar de tradições culturais próxi-
Estado, mas sim em determinar que tribunal tem compe- mas no âmbito da sociedade em geral, a orientação adotada
tência para decidir se houve ou não essa limitação median- pelo Tribunal Constitucional austríaco em face da validade
te interpretação. Nesse particular, o Tribunal alemão não se interna das normas da C E D H afasta-se sensivelmente do
mostra disposto a se submeter, sem nenhuma restrição, às modelo seguido pelo 'llibunal alemão, apontando para uma
orientações do TEDH, em toda e qualquer questão que ve- marcante diversidade de culturas constitucionais. Cabe adver-
nha a apresentar-se66• tir, porém, que o Tribunal Constitucional austríaco apre-
Em orientação bem diversa, o Tribunal Constitucional senta-se reticente no que concerne à obrigatoriedade das
da Áustria posicionou-se pela imediata aplicação das nor- ,:_.a decisões do TEDH. Em relação aos princípios jurídicos
mas da CEDH no âmbito interno67, assumindo que a Con- constitucionais da organização estatal, entende que um jul-
venção é parte integrante do direito constitucional austríaco, gamento do TEDH que interprete uma norma constilucio-
nos termos da reforma constitucional adotada em 196468• ' na! austríaca como contrária à Convenção não pode servir
de base à sua decisão: nesse caso, a violação só pode ser sa-
. nada pelo "legislador constituinte". E, além disso, o 'llibu-
66. Silva, V. A. (2009a), analisando o caso sob a influência de Alexy, pro·
põe um modelo de associação entre "'sopesamento, racionalidade e ônus ar- nal Constitucional austríaco argumentou que a transferên-
gumentativo•. A respeito, ver infra Cap. lV.3. cia para um órgão internacional da função de desenvolvi-
67. Decisão de 14n0/1987, VjSlg. 52, n 11500, 347. Em sentido próximo, é mento aberto da interpretação no âmbito constitucional
a orientação do Tribunal Suíço, fixada em decisão de 15 de novembro de 1991,
1,. i!llplicaria, ao pôr de lado o "legislador constituinte", uma
que qualificou a CEDH como wn Tratado especial rujas nonnas têm conteúdo
de direito oonslitudona.l e são garantidas pelos mesmos procedimentos destina ··i eforma total" da Constituição nos termos do art. 44.3 do
dos à proteção dos direitos fundamentais previstos na Comtituição suíça (BCE , diploma constitucional austríaco e, portanto, exigiria a rati-
a.
117 lb 367, pp. 370 s.). a respeito da posição da Suíça, Wahl, 2007, especial- ·)çação do povo austríaco'º· Dessa maneira, observa-se que
mente pp. 886 ss., enfatizando um desenvolvimento mais favorável ao direito in-
ternacional nesse país do que na Alemanha (pp. 888 s.). O Tribunal Co n s titucio-
nal de Portugal, em uma posição intermediária, embora sustente que as questões
oonstitudonais resolvem-se à luz das normas e princípios constitucionais, esta- 69. Sobre o internacionalismo de Kelsen, ver Brunkhorst, 2008a; Bems-
beleceu, em decisão de 12/10/1999, que a jurisprudência do IBDH 'contribui di- . , 2008b; Fassbender, 2008. Sobre a contribuição de Kelsen no surgimento
rectamente para detemúnar a convicção jurídica• dos direitos fundamentais pre- Constituição austríaca e a influência dele na sua interpretação judicial e na
vistos na Constituição portuguesa (Acórdão n 533199), e tem feito esforços para do direito constitucional austríaca, ver Ôhlinger, 2008, que, porém, re-
adaptar-se a essa jurisprudência (d. Barreto, 2007, pp. 83 ss.). a sua influência perante as recentes transformações no método dou-
e jurisprudencial (pp. 422 ss.), não por considerar a teoria de Kelscn
68. Mediante essa reforma constitucional atribuiu-se à Convenção Eu-
, mas sim por avaliá-la insuficiente para erúrentar os novos desafios do
r?pe a de Direitos Humanos e ao seu 1 Protocolo Adicional hierarquia cons-
htuc1onal. Aos seguintes Protocolos Adicionais foi conferido o caráter de re- constitucional ausmaco (p. 424).
forma ou emenda constitucional (Mayer, 2007, p. 644). 70. Decisão de 14/10/1987, VJSlg. 52, n'.11500, 347, pp. 365 s.
TRANSCONSTITUCJONAUSMO A9 TRANSCONSTJTUCIONAUSMO ENTRE ORDENS JUR/DJCAS 143
142
condições jurídi-
também o Tribunal austríaco determinou das decisões do fs:No julgamento do caso Goodwin v. United Kingdom
internas para a aplicabilidade interna Aoórdão de 11 de julho de 2002, por exemplo, observa-s;
cas
"hierarquias entre-
TEDH, apontando para a existência de ,evol ção do direito interno dos Estados signatários
hierachies") no sentido de Hofstadter71 .
laçadas" (" tangled vençao serve de fundamento para urna reviravolta de
Conselho Constitucional francês em re- ' dência do Tribunal Europeu. Até então, o trib u n al
A posição do
Humanos aponta
lação ao Tribunal Europeu de Direitos construtiva.
a aos Estados a liberdade de disciplinar livremente 0
uma certa abertura para uma "conversação"de novembro dos transexuais, ou seja, de dizer se eles continua-
da Decisão n? 2004-505 D C , de 19
No caso
recorreu, na funda- ' a,ser c assificados como homens ou mulheres e todas
de 2004, o Conselho Constitucional Jinsequenoas desse reconhecimento (possibilidade ou
caso Leyla Sahi11 ,
mentação de seu Acórdão, à decisão do 71, na qual se d casar, possibilidade ou não de pedir
pensão etc.).
v. Turquia pelo TEDH, de 29 junho de 2004 tçaso, o Thbunal entendeu que, por não levar em conta
de Direito( .
interpretou o art. 9? da Convenção Europeia deixa a q ( i;iça de sexo, o Reino Unido estaria violando a Con-
Humanos no sentido de que esse dispositivo Europeia de Direitos Humanos75 • U m outro exem-
("marge na,-;,
Estados-membros uma margem de discriçãoliberdade re';. . e no julgamento do caso E.B. v. France, em Acórdão
para a disciplina da
tionale d'appréciation"13) aneiro de 2008, em que também a evolução do di-
Conselho Cons)iÍ
ligiosa. Com base nessa interpretação, o a dos Estados signatários serve de fundamento
são "livres'<,
titucional definiu sua posição de que os Estados . o Tnbunal Europeu restrinja a discricionariedade
o véu quani .
tanto para proibir as alunas7islâmicas de usar · os na regulamentação do direito à não discrimi-
para autorizá-las a fazê-lo ' . eunp , ma observação cuidadosa das diversas autocom-
Em relação à pluralidade de constitucionalismos ·con:titucionais é fundamental, portanto, para
Humano_s
peus, impõe-se ao Tribunal Europeu de Direitos H nao perca sua capacidade de decidir legitima-
vinculante·
uma posição flexível ao decidir com pretensãoconsiderand re casos de relevância para cortes de países sig-
respeito de casos que afetam diversos países, CEDH.
específicas
também as autocompreensões constitucionais , s pontos interessantes em relação ao Tribunal Eu-
metamorfoses. Nesse sentido, a própria orientaçã9 !!I
suas de açp, rreitos Humanos refere-se à influência de suas
TEDH transforma-se, com o tempo, na admissão idên,ti ra da Europa, entre países, portanto, que não são
aos direitos humanos, em matéria
para a proteção ;da CEDH. Destaca-se o voto do Juiz Anthony
de um rnet. '
à de ações anteriormente rejeitadas, em face 0 caso Lawrence v. Texas, julgado em 26 de mar-
, que sustentou a decisão majoritária com O ar-
71. Hofstadter, 1979, pp. 10 e 684 ss. ltrad. bras.
2001, pp. 11 e 751\s e ue O TEDH, corno também "outras nações",
,
72. Caso Leyla Sahin v. Turkey (Application açao consistente na afirmação dos direitos pro-
n'. 44774/98).
referindo-se ao caso,.,
73. Debnas-Marty (2006, pp. 82 ss.), inclusive
Sahin v. Turkey (pp. 87 e 90), alude à "'necessidade
de u m a marg e m f"
ªº
1
e, ao mes m o tempo, considera as dificuldades
de sua i m pleme ntaçao L:�
,- ·
u ·,
ristine Goodwin v. m ed K.mgdom (AppHcation n� 28957/95).
cultés de mise em ordrt• - pp. 88 ss.J. e de O c � s do TEDH concernentes à Jivre orientação
DC, de J9/Jl/JO
74. Conseil Constitutionnel, Décision n'. 2004-505 reto�
a de es�:;sO Civil em face de operação transexual, cf. Rudol(,
supranacional europeu,
Como essa decisão também envolve direito ,\2008a, pp. 66ss.
a ela no capítulo IV. E.B. v. Frana, (Application n'. 43546/02).
144 TRANSCONSTJTUCTONALISMO .. AO TRANSCONST!TUCIONALJSMO ENTRE ORDENS )UR/D/CAS
·,.l·
145
tegido s do s h o m o ssexuais adulto s de env o lver-se em co n- diálog? em quest_ões co nstitu cio nai s co muns
duta íntima e co nsensual" 77 • Principalmente co m base nes- referentes à
· , proteçao do s d1re1to s human o s, de tal maneira
sa decisão de afirmação do s direit o s das min o rias h o m s- que se am-
.,. , plia a aplicaçã o do direito co nven cio nal
sexuais, desenvo lveu-se o debate entre o s Justices At o nin pelos tribunais
, doméstic o s•0•
Scalia e Stephan Breyer so bre o us o da jurisprudência d · Um caso interessante diz respeito à co lisão
TEDH (e de o utras nações) para a interpretaçã o do direit entre o art. 7?,
n? 7, da C o nvenção Americana de Direito s
co nstitucio nal american o , o primeiro em posição antagô , Human o s, e o
A. art. 5?, _in_ciso LXVIl, da C o nstituição bra s ileira. Enquanto essa
ca e o segund o em po sição favo rável'•. Essa discussã o é ,. ; . disp o s 1çao co nStitua o nal permite a prisão
civil do dep o sitário
indíci o de que, mesm o no âmbito de urna tradiçã o co n ., infiel, o disp o sitivo da C o nvenção a pro íbe.
N o julgamento
tucio nal de auto ssuficiência, o recurso ao diál o g o co nsti ··.d o RE 466.343/SP, d o RE 349.703/RS e
cio nal co m o utras co rtes internaci o nais e estrangeiras
1•• 'o Suprem o Tribunal Federal decidiu em 3 de
d o H C 87.585fl'O
dezemb r o d
âmbito de questões co nstitucio nais internas pass o u a · 1008, p o r mai o ria, que os tratad o s e
co nvenções so bre di-
um do s temas centrais na nova agenda do co nstitucio nalis- reito s human o s, quand o nã o ap r o vad o s n
o s term o s pr o ce-
m o american o . qimentai do art. 5?, § 3?, da C o nstituição
. Federal (pro cedi-
Um o utro cas o relevante de transc o nstituci o nalism o -,mento 1dentico ao de urna Emenda C o nstitu
cio nal), têm uma
Ijierarquia supralegal, mas infrac o nstituci
entre o rdem internaci o nal e o rdem estatal vem-se dese o nal.
volvend o na relaçã o entre o "Sistema Interamerican o , sejou uma ampla discussã o a respeito da inc Esse caso
o rp o ração
tratad o s de direito s human o s na o rdem
Direit o s Human o s", instituído pela C o nvenção America jurídica brasi-
81.
Uma tendência na análise do caso foi a
sobre Direitos Humanos (CADH), e as o rdens co nstituc uçã o n o sentid o da validade interna defesa de urna
nais dos respectivos Estad o s signatário s que a ratificaram ,ci nad o preceito da ratificada C o nvençilimitada do men-
Nesse contexto, não se trata simplesmente da imposiç ''.- eitos Human o s, tendo em vista que ão Americana de
de decisões da C o rte Interamericana de Direit o s Hum essa norma levaria a
,i:na ampliação d o s direito s constituci o nalmente
n o s (CIDH), criada e estruturada pel o Capítulo VIlI (arts. os, de tal so rte que o direito nela co estabele-
a 69) da CADH, ao s tribunais naci o nais co m co mpetências i ·.() po art. 5?, § 2?, da C o nstituição
ntid o estaria funda-
constituci o nais. Esses também reveem a sua jurisprudência Federal • M a s , também
82
'. interpretaçã o restritiva em relaçã
o ao nível da validade
à luz das decisões da C o rte. Tant o do lad o da CIDH quan ! 1:' ª do disp o sitiv o
da CADH, nã o se exclui urna so lução
,
da parte das co rtes estatais tem havid o u_ma disp o sição para a ampliaçã o prática_d o s direit o s fundamen-
1a1.?tiva
m :; 0 argumento em favo r da validade
'·
. ', stituc10nal da Convençã o supralegal e infra-
77. Lnwrenc, tt ai. v. Taas, 539 U.S. 558 (2003), p. 576. A respeito dessà ratificada serve a urna decisão
decisã o ver a breve exposi ção de Eskridge, 2004.
18. a. a discussão entre ScaJia e Breyer, moderada po r Dorsen (mo der.),
2005. So bre o contexto dessa discussã o , ver Ginsbu r g . 2005b. O.
também inf
· t BO. a. Ortiz, 2009, pp. 273 ss.; Burgorgue
Larsen, 2009, pp. 309 ss.
pp. 257 ss. { } ! . RE 466.343/SP, RE 349.703/RS,
H C 87.585fl'O, julg. 03/12/2008, TP,
79. A convenção foi adotada em 22 de novembro de 1%9, em São José
da Costa Rka, tendo entrado em vigor em 18 de julho de 1978,
ronfonne o se
!2
, uo/0612009 e 26/06/2009.
· o s i ção defendida pelo ministro Cels
o Mel o , em vo to conduto r da
art. 74, n? 2. A res peito, ver Burgorgue-Lars en, 2009; Orti.z, _8 neta, com apo io nas o bras de Trindade, 1997, pp. 407s.; Piovesan, 2008,
2009; s o bre adi$ · , J . n ; Mauuol 2001, pp. 147-50; 2007,
cussão no Brasil, ver Oliveira (coord.), 2007, des tacando-se
dade, 2007. Para uma análise da jurisdição da
o prefácio de Trin; pp. 682-702. MeUo (2001, pp. 25 s.)
. e s ustenta o caráter supraco nstitucional dos tratados e convenções s o -
CIDH, d. Ramírez. 2008. ei tos humanos.
TRANSCONSTITUOONAUSMO
,l .,.AO TRANSCONSTITUOONAUSMO ENTRE ORDENS JUR/DICAS 14 7
146
a prisão . ·lho Supremo Eleitora! da Nicará g u a ss. A .CIDH • nao _ so, con-
s tituição apen a s admitiu
no s entido de que a C o n s titucional po- , denou o Estado da Nicará g u a a ind a çoes por da nos
infiel; entã o , o direito infracon
do depo s itár io
re s peito da permi s s ão ou proi- :materiais e imateri a is, como tambémendJZ et emun o u que se
.
deria decidir livremente a prima- J p,rocedes se a, re,, o rma da res pectiva lei e1e1't ora l.' c. o nclwndo ·
hipóte e, o p a cto intern a cio n a l teria '"'' Es ta do deve re,orm ' .
bição e, ne s s a s
o • Só a manutençã
83 o da . I'-'
ar a regul a ção d w s ito s
disp
s
Civil bra ileir
zia s obre o Código
s
na tradiçã o jurídica to s na Lei Elei t o ral n? 311, de 2000 d ; : ! s v10la t6nos-
nte anterio rmente
orient a ção do mina a cio- :\I Convenção Americana de Direitos H u m a :o s, e adotar,
o de que os a tos intern
bra s ileira, ou s eja, a co ncepçã validade de uma lei o rdin á- J m prazo razoável, a s medida s necessária s para que os mem-
nai s ra tifica dos têm o nível de
o in s uperável entre o
STF e a .. !/'OS das comurúd des m ª · d ígenas e étnica s possam Parti Cl- .
ria, poderi a leva r a um conflit iro entro u em vigor a pós nar,nos proce s sos elei t orais de fo r m a efeti va e tomand o em
CIDH, po is o Código Civil brasile a s o, prevaleceria o má- ·êfnta suas tradições ' u s o s e co stum es , nos termos do pará-
s se c
a ratific a ção do tra tado e, ne ' ·'-"' º 249 de pres ente sentenç a ·"86 A qm· s e a pre s enta um
posterio r derogat priori ... Mantida es s a po s ição, o "remp lo Caro
xima le x o go con s titucional c o
m a 1 em_ que a ampliação de direi t os funda m en-
rompe ndo um diál
STF es tari a
en s ã o d o s direito s huma- 1 , co nstitucionais encontrou a poio em n onna da ordem
CIDH em tomo de um a c o mpre dirimir' . o co nflit . ·
s s ão a cional invoca da para
s . N o ent a nto, na discu t\tern o a própri com-
nos e dos direitos fund a m entai col o cad o no primeiro
·,,
· . ensão do direito interno de cid dania a tiva , ma tena -
claro ter ido a
que s e tra v o u, p recea s
ão de um a racio nalidade . secamente constitucional ficou vin ui
pla no o es forço com vista à formaç
ç
tre uport ável para ambas as ordens p s ando ª. de ender da : t : : e : ç S : : :
transvers al, que s e mo s s t! citonai b\
a m em intern a cional
jurídica s envolvida s . a de Direitos Hum a nos
, '. · .,
,.1Ma s há experiênci a s no ;entido invers o a s quai.s a
D o la do da Corte Interarnerican
destaca r o import ante julgam ento do caso Yatama vs. , .rma mtern a cio nal de pro t eção do s h
direito s . _ anos a s er
ca be
o democrátic a de mem- p ta da pode a pres en t ar-se como um a re s trtçao a direitos
Nicarágua, referente à pa rticipa çã a o partido Ya ta ma,
,! •/'game ntais da Consti' t u i çao
- es t atal · Esse é O ca so da co li -
idade indígen , filiados '
bros da comun a
à eleição municipal: .
entre a Constitui ça- brasil erra e o Estatuto de Roma do
que foram proibid os de candida tar-se
for a de decisão do Conse-'., · , a i Penal Int ernac1onal, que foi ad o tado em 17 de 1·u-
de 5 de novembro de 2000, por ç 1
!:!e
. 1998 e entro u em vigor na Ordem In .
t ern a cional em
·ulh o de 2002' ten do sido .
condutor � ra tificado pelo Brasil me-
ministro Gilmar Mendes, em voto
83. Posição defendida pelo
Mendes, Coelho e Branco, 2007,
pp. 665 ss. , o Decreto Legisl a tivo n? 112' de 2002 · Enquant o o
ver
da maioria. Nesse sentido,
no julgamento do RE 80.004/SP.;
pelo STF
· nº·("1e aJín do E s tatut_o de Ro ma, prevê a prisão
84. Jurisprudência consolidada
julg. 01/06/1977, DJ 29112/1977. A
respeito dessa jurisprudência, ver
Mendes'. '
é a posição de Dimoulis e
Mar 'a
· ª
o e :V:d 0 grau d ilicitude do fato e a s condi-
.
Coelho e Branco, 2007, pp. 659 ss. Essa ainda
§ 3� do art. si) oais do condenado a justificarem"), essa pena e, pro1- .
não aprovados nos termos d o '
tins (2007, p. 50) para os tratitdOs nfonne O art · 5o., InCISO
• . XLVII, alínea ,
Miranda (1960, p. 225), embora e b, da C o nstituição
da Constituição Federal. Pontes de Consti ai · Embora O art. 5?, § 4?, da C o ns tituição Federal, in-
à lei ordinária, afirmava: " A
se hierarquicamente o tratado próprio trat�:}.
ser dentro das cláusulas que o
pode atingir tratado anterior sem ab�rogaçiiç.
contém para a denúncia dele, ou a
do, válido em direito das gentes, é indisrutívt),i.:
do direito das gentes, então, · · Caso Yatama N' 6gua, Sentença de 23106/2005.
das suas regras. Assim, o primado de as:�.
[ ... } Os escritores incidiram, a respeito,
em graves confusões , oriundas ' §
Idem, 275.l(ne · ponto, �o� 0 voto dissidente do juiz ad hoc
o tratad0i
tratado anterior à Constituição e �eiArgiieJJo). A respe·t1 0 d essa deo.sao, ver Volio, 2005.
similação inconsiderada entre o f
posterior à Constituição." ,
148 TRANSCONSTITUCJONIILJSMO O rRIINSCONSTITUCJON/iLJSMOENTIU: ORDENS]URIDICIIS 149
troduzido pela Emenda Constitucional n? 45, de 2004, te- rámente compatível com o Estatuto de Roma, pode ser
nha estabelecido que o "Brasil se submete à jurisdição de .trtada pelo Tribunal Penal Internacional em uma posi-
Tubunal Penal Internacional a cuja criação tenha manifes- iaonstrutiva e disposta ao aprendizado. A questão pode-
tado adesão", a questão permanece problemática, tendo ,:nar-se mais problemática se o STF vier a considerar a
em vista que, de acordo com o art. 60, § 4?, inciso N , d(i têse como de • extradição" e afirmar a sua jurisprudên-
diploma constitucional brasileiro, a vedação de penas d e não extradição de brasileiros, nos termos do art. 5?,
"caráter perpétuo", incluída no catálogo dos direitos e ga· §!i>JLl, da Constituição brasileira. Nesse caso, não seria
rantias individuais, não pode ser abolida enquanto cláusu- imples a solução do conflito normativo. Porém não pa-
la pétrea. Por um lado, a compreensão de direitos humanos 1c0rreta, como já foi adiantado, a extensão semântica
pelo direito internacional público parte das preocupações· .ç·preceito, no sentido de que essa proibição valha tam-
com os crimes escandalosos e chocantes contra a humani- · . tpara a entrega de criminoso, réu ou indiciado ao TPI,
dade. Por outro, o ponto de partida da compreensão consti- ,a,tict:radição refere-se à relação entre Estados. Sem dú-
tucional brasileira dos direitos fundamentais reside no e n , mj!Smo admitida essa interpretação do conceito de ex-
tendirnento de que a prisão perpétua viola os direitos hu- g o, ainda surgirão novamente problemas pela invocação
manos. Uma solução unilateral não é adequada nesse caso. rt. (i(), § 4?, inciso N , da Constituição, que não permite
De acordo com os casos precedentes, há a tendência na j u , 0Jição de garantias de direitos fundamentais (" cláusu-
risdição constitucional brasileira de exigir uma condição es ·'treas"). O rumo dos desenvolvimentos nesse contex-
pecifica para a extradição do suposto criminoso a ser pro. ,rm tivo permanece aberto. Não obstante, a disposição
cessado ou do criminoso já condenado pelo Tribunal Penal 9, prendizado em ambos os lados, mediante a formação
Internacional (TPl): ele só será entregue se a prisão perpétua tr\ª rede transversal construtiva, ou seja, o transconsti-
for comutada em uma pena de, no máximo, trinta anos87,., . tialismo, é decisivo para o sucesso nessa área de coli-
Embora, a rigor, não se trate de extradição na hipótese de )l.temacionalismo e nacionalismo, nessa hipótese, po-
um tribunal internacional, pois o conceito de extradição e o.levar a atitudes destrutivas para os direitos humanos
refere à relação entre Estados, essa solução poderá ser adQ.• ndamentais.
tada para os casos de pedido ao Brasil da entrega de crirni Por fim, no plano do direito constitucional econômico,
nosos, réus ou indiciados ao Tribunal Penal Intemaciona) ação da Organização Mundial do Comércio 89, na solu-
Essa é uma solução intermediária, que, embora não seja i,ne 1L_
89)0 Tratado de lnstituição da Organização Mundial do Comércio foi
em 15 de abril de 1994. A respeito, ver Petersmann, 1995. Kosken-
87. Confinnando os precedentes na experiência jurisprudencial mais te·
' pp. 206 s,), em postura eminentemente critica, afirma, com base
centc, cf. os seguintes casos de extradição, todos decididos por unanimidad empíricos e argumentos que me parecem convincentes: - o esta.be-
pelo Pleno do STF: Ext. 1.104/UK-Reino Unido da Cri-Bretanha e da iria da OMCem 1995 foi uma vitória significativa para as preferências
da do Norte, julg. 14/11/2008, D/e 25/06/2008); Ext. 1.103 - Estados Unidos âa comércio sobre os objetivos regulatórios com enfoque nacional.
Ammca, julg. J3/03/2008, 0/e 07/11/2008; Ext. 1.060/l'U-Peru, julg. 1s11onOQ7, polarização da oposição entre o Norte e o Sul (especialmente eviden-
DJe 31/10/2007; Ext. 1.069/EU - Estados Unidos da América, julg. 09/081200t . .,
0 < p o d a propriedade intelecrual) pode ter diminuído as possibilida·
D/e l4/09n007. m atão judicial por parte dos grupos especiais (pantls) ou do Órgão
88. CC. Maliska, 2006, pp. 188 s., que ainda admite a hipótese da en ga :pelaçao. De falo, há poucos indícios que possam dissolver a impres-
ao TPI ,em essas condições (p. 189), o que me parece incompatível com os prc t'.l ue: o Órgão de Solução de Controvérsias seria um dube de riC'OS: a
cedentes jurisprudenciais bnsileiros e Implicaria a quebra de •cláusula pétrea Pli aiorla dos casos ainda são trazidos a ele pelos Estados Unidos e:
A respeito, ver Sabadell e Dimoulis, 2009. União Europeia: