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Cada ser humano é único, pela sua combinação genética, pelas suas características
físicas, pelas suas capacidades físicas, intelectuais, artísticas entre outras, pela influência
do meio familiar e social em que nasceu, pela riqueza adquirida ou, no extremo, pela
pobreza e exclusão social vivida já na vida intra-uterina, ou até antes, devido às
condições sociais dos pais biológicos.
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Assim, segundo F. Oppenheim “Não tem sentido afirmar que «todos os homens são iguais».
Alguns podem ser quanto a uma característica particular; todos, não. A única característica que
é comum a todos é a «natureza humana»”; mas isto é uma afirmação tautológica” (1991: 598).
Mas, pelo facto de a natureza ser comum, porque pertencemos à espécie humana, não
significa que se conheça a própria natureza humana, pois tal como afirmou Hannah
Arendt, conhecer a natureza humana é como tentar apanhar a própria sombra.
Os seres humanos vivem em sociedade onde existem regras que devem ter um carácter
igualitário, obedecendo a critérios justos, este é o aspecto mais importante. Não
interessa tanto saber se o tratamento de duas pessoas é igual em relação a uma
determinada regra, pois esta pode na sua concepção não ser igualitária. A igualdade só
pode ser entendida como uma construção social com um determinado marco histórico e
percurso mais ou menos lento, consoante os grupos sociais que têm vivido a
desigualdade social e foram, e (ou) ainda são objecto de atenção ao longo de pouco mais
de um século.
No século XIX, a intervenção do Estado emerge como garante da igualdade para
alcance da liberdade, passando pela prática obrigatória da solidariedade como conceito
político, mas, permanecendo paralelamente, a fraternidade como expressão voluntária
do humanismo que sempre existiu ao longo dos séculos.
O Estado assume um papel fundamental na estruturação e integração das instituições.
A esfera pública, de que as instituições são parte integrante, baseia-se na defesa do
princípio da igualdade resultante da organização humana e de princípios de justiça,
consagrados na estrutura política das sociedades democráticas. Tal como afirma H.
Arendt, “A vida política baseia-se na suposição de que podemos produzir a igualdade através da
organização” (Arendt, 1978:387).
De acordo com F. Oppenheim “O princípio da Igualdade, ou melhor, do nivelamento das
oportunidades aplica-se (...) à redistribuição do acesso a várias posições na sociedade e não à
atribuição dessas mesmas posições.” (1991:604). Assim, as pessoas têm hipoteticamente o
mesmo ponto de partida e a sua posição final dependerá das suas capacidades,
alcançando-se o nivelamento através de um processo de competição.
Reconhece-se contudo, que a igualdade de direitos não equaliza os mais desfavorecidos
relativamente aos mais privilegiados, tornando-se necessária a concessão de privilégios
jurídicos e de benefícios materiais àqueles. É neste sentido que os programas head start
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são extrinsecamente igualitários pois resultam num nivelamento das oportunidades, no
acesso à instrução que tem consequências no estatuto social e na possibilidade de
aquisição de um conjunto de bens sociais ao longo de toda a vida.
A regra da “igualdade de oportunidades” é inigualitária porque proporciona
oportunidades e vantagens a quem carece delas e não àqueles que já as possuem. Há
assim uma distribuição desigual dirigida aos mais desfavorecidos em comparação com
os mais privilegiados. Neste aspecto aproxima-se da noção de “igualdade proporcional”
em que a quantidade de benefício está ligada à “característica pessoal especificada pela
regra: quanto maior for a característica tanto maior será a parte.” (Ibid.,: 600).
Assim acontece no Lar, os idoso tem acesso a todo o tipo de terapia, actividades de
animação e ocupação, entre outras, havendo uma distribuição desigual, no sentido em
que proporciona mais vantagens àqueles que possuem características pessoais de maior
dependência.
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concretizando-se assim o princípio da equidade através do “Bem Estar Social”
traduzido, segundo Boaventura Sousa Santos, (1992), no total de bem estar fornecido
por determinada sociedade.
No que respeita a estudos recentes a oferta dos cuidados prestados em Lares, são
assumidos em 81,9%, pelo terceiro sector (Guerreiro, citado por São José:2006).
O Lar de Santa Beatriz da Silva que apresentamos em seguida entra nesta percentagem.
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Interessa agora procedermos à caracterização dos idosos do Lar, segundo: as idades; o
género; o rendimento; o nível de dependência.
Neste ano, 2007, “Ano Europeu da Igualdade de Oportunidades para Todos”, em que se
propõe uma sociedade inclusiva sem discriminação de sexo, origem racial ou étnica,
religião, deficiência, idade. O cidadão idoso encontra-se incluído na “categoria” idade
podendo esta ainda apresentar sub-categorias a partir do patamar da idade da
aposentação, 65 anos ou outra, consoante cada país e a classificação de vários autores.1
Nas alterações relacionadas com a idade estão a presença de factores de risco e a
ocorrência de doenças crónico-degenerativas, (hipertensão; diabetes; AVC; problemas
de locomoção; etc.)
Gráfico 1: Doenças crónico-degenerativas e outras mais frequentes
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Em França a classificação de “aposentado” unifica as idades. Sendo a 3ª. Idade dos 65 até aos 75 anos e a 4ª. Idade
a partir dos 75 anos.
Outra classificação cronológica considera o idoso jovem dos 65 aos 74 anos; o idoso médio dos 75 aos 84 anos e o
idoso idoso a partir dos 85 anos.
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Tabela 1: Idosos segundo as idades
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Pensões em € Nº %
< 300 30 36%
301 – 400 36 44%
401 – 500 7 8%
501 - 600 5 6%
> 600 5 6%
Total 83 100%
Fonte: lar Santa Beatriz da Silva
Na Tabela 3 o nível de pensões até 300 €/mês atinge os 36%, havendo no entanto,
situações com valores inferiores, como por exemplo: 138,10€; 218,67€, entre outros
valores.
Como vemos apesar da generalização do sistema de pensões português no que diz
respeito à sua extensão, uma franja significativa dos pensionistas idosos têm ainda
rendimentos próximos ou inferiores aos limiares de pobreza.
Este factor traduz as desigualdades vividas nas etapas de vida anterior, sobretudo no
acesso a bens, como a educação, emprego, sistemas de protecção social, realçando-se
ainda as desvantagens quanto ao género. Verifica-se que as mulheres idosas têm
pensões de valor inferior às dos homens.
Para caracterizar os idosos residentes no Lar segundo o nível de dependência
utilizámos o Método Geronte, o Índice de Barthel e os Relatórios Médicos.
Na conjugação dos resultados surgiu a seguinte classificação:
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Gráfico 3 – Avaliação da dependência
1 Totalmente independente
Avaliação da dependência
Podemos verificar que a maior dependência dos idosos está relacionada com o banho
(25%), higiene diária, apoio na alimentação, no vestir e nas transferências (23%).
A capacidade funcional segundo Lima-Costa, Barreto e Giatti (2002) é uma das grandes
componentes da saúde do idoso e vem emergindo como um factor chave para a
avaliação do seu estado de saúde. Entendemos, no Lar Santa Beatriz da Silva que as
políticas de igualdade de oportunidades devem promover o bem-estar de todos na
distribuição segunda as necessidades dos tempos de atenção, tratamento e de
acompanhamento.
Esta é uma questão-chave, uma vez que grande parte do debate acerca da igualdade e
da justiça repousa, em última análise, sobre como tornar iguais “coisas” – no caso,
situações de pessoas – que são na realidade intrinsecamente diferentes? Dependentes e
independentes.
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primária dentro de um espaço onde o ambiente criado a partir da iluminação difusa e
da música proporciona calma e segurança, estimulando os sentidos.
No Lar, o snoezelen foi introduzido desde Outubro de 2005. Alimentámos o sonho,
procurámos formação e desenhámos o projecto. As dificuldades económicas inerentes a
uma IPSS tinham de ser ultrapassadas com ousadia e criatividade. Assim recorremos à
Fundação Calouste Gulbenkian, que de imediato abraçou o nosso projecto pela sua
originalidade. O maior benefício do snoezelen é a própria experiência sensorial gerada
neste ambiente de relaxamento, descontracção e lazer com efeitos terapêuticos
resultantes da estimulação e da relação de confiança com o cuidador.
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sentimentos de uma maneira alternativa, como por exemplo os idosos que sofreram
AVC, ou doentes de Alzheimer, como mais adiante noutro painel poderemos verificar.
A imagem pode também ser muito útil no caso das afasias, quando o indivíduo tem
tendência a racionalizar, ou quando se encontra num impasse em terapêutica verbal.
Contudo, estas expressões constituem-se como uma abordagem complementar à
terapêutica convencional.
Vejamos o caso do Sr. José (sequelas de AVC e insulino-dependente). Qual a sua
expressão no início do processo e passados 10 meses…
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Com as doenças crónico-degenerativas a comunicação verbal torna-se cada vez mais
difícil. Nestas situações, a musicoterapia é uma proposta alternativa na forma de
comunicação.
Esta consiste na utilização da música e/ou dos elementos musicais (som, ritmo, melodia
e harmonia) num processo estruturado para facilitar e promover a comunicação, o
relacionamento, a aprendizagem, a mobilização, a expressão e a organização (física,
emocional, mental, social e cognitiva) para desenvolver potencialidades e /ou recuperar
funções do indivíduo de forma que ele possa alcançar melhor integração intra e
interpessoal e consequentemente uma melhor qualidade de vida. (Bruscia, 2000:286). A
Intervenção musicoterapêutica é desenvolvida pelo Conservatório de Música de
Ourém-Fátima e é inteiramente financiada pela Fundação Calouste Gulbenkian desde o
dia 2 de Maio de 2007. A igualdade de oportunidades passa pela organização do grupo
em função do nível de dependência (dependentes vs independentes). Proporcionando a
todos o mesmo bem adaptado as características pessoais. Promovemos pequenos
concertos em que uns actuam para os outros e todos juntos assistem a concertos
realizados no Lar pelos alunos do Conservatório.
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Gosta e pratica ou praticou outras formas de expressão artística (dança, pintura,
desenho, modelagem, etc)
Autores como Wells (1954, cit. In Bowberger, e Cotter, 1993) e Niesenbaum (1999)
referem que a musicoterapia é eficaz no trabalho com idosos tornando-os mais activos e
melhorando a sua mobilidade. Constitui também um enorme contributo para o
equilíbrio bio-psíco-social dos idosos.
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inferiores ou superiores, cabeça…) quando se canta o
seu nome ou se “bate” um ritmo
Expressão sonora
5 Emite sons vocais para comunicar X
6 Explora e executa fontes sonoras X
Expressão musical
7 Une-se ao canto quando se canta uma canção
X
conhecida
8 Realiza acompanhamento rítmico de acordo com o
X
contexto musical dado
9 Estabelece diálogos sonoros X
10 Interpreta e realiza silêncios após uma indicação X
11 O seu discurso sonoro apresenta variações de
X
intensidade (vocal ou musical)
12 Permanece sentado enquanto recebe estímulos
X
musicais
13 Mostra condutas aceitáveis socialmente (evita a
agressividade física e verbal, a salivação, etc..) durante X
a musicoterapia
14 Observações:
D. Etelvina (Invisual) Mostrou-se sempre desconfiada, não interagiu; perguntou
porque é que agora estava ali um músico… embora reticente, quer continuar…
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contexto musical dado
9 Estabelece diálogos sonoros X
10 Interpreta e realiza silêncios após uma indicação X
11 O seu discurso sonoro apresenta variações de
X
intensidade (vocal ou musical)
12 Permanece sentado enquanto recebe estímulos
X
musicais
13 Mostra condutas aceitáveis socialmente (evita a
agressividade física e verbal, a salivação, etc..) durante X
a musicoterapia
14 Observações:
D. Etelvina (Invisual) gosta de cantar sobretudo músicas religiosas, gosta de ouvir
essas mesmas músicas acompanhadas à viola pelo Terapeuta; bate palmas e
responde ao que lhe é solicitado…
Referências Bibliográficas
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Berg, R. (2000). Arte Terapia e Transformação Social , Rio de Janeiro. Clínica Pomar.
Diário de Notícias on line, Perda de Memória em idosos pode ser combatida, 22 Abr. 2006,
http://www.euclides.net/noticias.php?id=408, acedido em 25 de Set. 2007.
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