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GUIA DE SUGESTÕES PARA CUIDAR DA PESSOA COM DEMÊNCIA Estratégias


para melhorar o dia-a-dia

Book · October 2018

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4 authors, including:

Cristina Vaz de Almeida


Technical University of Lisbon
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Estratégias para melhorar o dia-a-dia

Cristina Vaz de Almeida (Coordenação)


Ana Paula Rodrigues,
Guida Amorim,
Leonor Anachorêta Matoso
Introdução

Este Guia de Sugestões para Cuidar da Pessoa com


Demência pretende ser um recurso simples, facilitador
e orientador da relação diária dos cuidadores informais
de pessoas com demência, independentemente da
fase de progressão da doença.
Cuidar de uma pessoa exige muitas capacidades
e competências individuais físicas, psicológicas e
emocionais. A relação diária, o esforço físico e mental
para tornar a vida da pessoa a cuidar mais satisfatória,
leva muitas vezes a uma grande carga para o cuidador
informal.
Nem sempre o cuidador tem consciência do esforço
que desenvolve, nem reconhece o papel fulcral
que desempenha. Assumir-se naturalmente como
cuidador revela a importância da solidariedade social,
intra-familiar ou inter-geracional. Contudo, faz muitas
vezes esquecer a possibilidade de mobilizar algumas
ferramentas, de adoptar determinados hábitos ou
proceder a algumas mudanças em casa que conduzem
a uma melhoria significativa da qualidade de vida e do
bem-estar de todos.
Ir ao encontro de necessidades latentes ou manifestas
dos cuidadores, fornecendo sugestões e orientações
para um melhor desempenho na sua tarefa de cuidar
é o grande desígnio deste Guia.
Convém também não esquecer que o apoio que
é possível fornecer ao cuidador seja pela família,
amigos, vizinhos, conhecidos, instituições, permite
reforçar o nível de apoio e partilhar as tarefas
associadas ao cuidar. A participação de todos e o
seu envolvimento, de uma forma positiva no cuidar,
permite que o cuidador beneficie de mais informação
e conhecimento para saber ultrapassar algumas
dificuldades e dúvidas.
O cuidador com as aprendizagens diárias que vai
adquirindo e com estratégias que desenvolve poderá,
igualmente, encontrar na tarefa de “cuidar” benefícios
de bem-estar para si próprio. A participação em
algumas actividades (os passeios, as conversas, a
dança, o exercício físico…) permitem ao cuidador
também usufruir destes momentos de interacção.
O Guia procura ser exaustivo na informação que
contém, mas temos consciência que a sua experiência
poderá trazer novos contributos e ser muito rica para
outros cuidadores de pessoas com demência.
Caso necessitem de maior orientação, a Santa Casa da
Misericórdia de Lisboa está ao seu dispôr através dos
seus serviços.
Boas leituras,

Administrador Executivo

Sérgio Cintra
ÍNDICE

A Demência
1
Ser Cuidador
2
Estratégias Facilitadoras
3
Adaptação da Casa
4
Direitos
5
Bem-Estar do Cuidador
6
Contactos Úteis
7
ÍNDICE

1. A DEMÊNCIA E AS ALTERAÇÕES SENSORIAIS


PRÓPRIAS DO ENVELHECIMENTO E DA
DEMÊNCIA 7
1 .1 O que é a demência 8
1.2 Alterações sensoriais próprias do
envelhecimento e da demência – a importância
de criar um ambiente que permita o
desenvolvimento das capacidades e relação 10

2. SER CUIDADOR 17

2 .1 Tarefas 18
2.2 Sinais de sobrecarga 19
2.3 Como cuidar de si 20
2.4 Apoio social e saúde 21

3. ESTRATÉGIAS FACILITADORAS PARA CUIDAR


DIA-A-DIA DA PESSOA COM DEMÊNCIA 25

3 .1 Como comunicar 26
3.2 Como lidar com as alterações
de comportamento 28
3.3 A importância de definir um plano semanal com
rotinas 29
3.4 A mobilidade 30
3.5 Prevenção de quedas 32
3.6 Cuidados pessoais de higiene e conforto 33
a) Banho 35
b) Cabelo/barba/pêlos 36
c) Higiene oral 37
d) Mãos/pés/unhas 38
e) Vestuário 38
f) Continência e incontinência 40
3.7 Alimentação 41
3.8 Medicação 45
3.9 Momentos lúdicos e de lazer 46
3.10 Animais de estimação 48
3.11 Fumar 48
3.12 Sono e repouso 49
3.13 Afectos, intimidade e sexualidade 50
3.14 Como lidar com o luto 51

4. ADAPTAÇÃO DA CASA 53
4.1 Aparelhos de aquecimento 54
4.2 Armários 54
4.3 Arestas dos móveis 55
4.4 Cama 55
4.5 Cadeiras e cadeirões 56
4.6 Casa de banho 58
4.7 Decoração 60
4.8 Cozinha 62
4.9 Gavetas 62
4.10 Iluminação 63
4.11 Quarto 64
4.12 Sala 66
4.13 Tomadas e fios eléctricos 67
4.14 Tapetes e revestimento do chão 67
4.15 Produtos de higiene 67
4.16 Segurança em casa 68

5. DIREITOS DA PESSOA COM DEMÊNCIA –


ASPECTOS JURÍDICOS 69

6. BEM-ESTAR DO CUIDADOR 77

7. CONTACTOS ÚTEIS 81

BIBLIOGRAFIA 87
A Demência

1
1.1 O que é a Demência

A demência é o termo utilizado para caracterizar um


grupo de doenças em que se verifica um declínio
cognitivo, ou seja, uma perda progressiva da
memória, da capacidade intelectual, do raciocínio,
das competências sociais e alterações das reacções
emocionais normais.
A diminuição progressiva destas funções vai afectar a
pessoa, a família, e o cuidador na execução das suas
actividades de vida diária. A pessoa com demência,
ao longo do tempo, irá perder a sua independência e
a sua autonomia em muitos domínios da vida.
Esta doença pode ser dividida em três fases ou
estádios – leve, moderada e grave.
No início da doença, estádio ou a fase leve, a pessoa
apresenta esquecimentos de nomes, de locais, de
objectos pessoais, faz várias repetições, verificando-se
certos esquecimentos para acontecimentos recentes.
Estas alterações têm efeito em algumas actividades
de vida diária, no entanto a pessoa mantém-se
independente.
No estádio moderado surge uma maior afectação
intelectual, com problemas na linguagem, raciocínio,
orientação espacial, funções executivas, alterações do
sono e de comportamento, podendo surgir delírios,
alucinações e agitação. Estes sintomas podem muitas
vezes ser confundidos com uma doença psiquiátrica,
pelo que deve marcar consulta com o médico de
família que encaminhará para o especialista nesta
área. Nesta fase, a pessoa com demência começa a
necessitar de ajuda para realizar as actividades do

8 - A Demência
dia-a-dia. Na terceira fase, considerada estádio grave,
a pessoa com demência deixa de reconhecer os seus
familiares e amigos, podendo apresentar dificuldades
da deglutição (engolir), incontinência e alterações
neurológicas como crises convulsivas. Nesta fase a
pessoa pode ficar acamada e totalmente dependente
de terceiros.
Apesar de existirem estes três estádios/fases, é
importante dizer que a evolução da doença varia
de pessoa para pessoa, bem como ao longo do dia,
por exemplo, num dia de manhã a pessoa pode não
reconhecer as pessoas à sua volta, e à noite conseguir
dizer o seu nome.
O tratamento nas demências é dirigido para os
sintomas que vão surgindo. Os sinais de depressão e
de ansiedade estão muitas vezes associados a algumas
demências, pelo que o tratamento com medicamentos
visa tratar esses efeitos. Por exemplo, na doença de
Alzheimer (um dos tipos de demência) existem vários
medicamentos aprovados para uso no nosso país.

A Demência - 9
1.2 Alterações sensoriais próprias do
envelhecimento e da demência.
A importância de criar um ambiente que
estimule os 5 sentidos

Os 5 sentidos (visão, audição, olfacto, paladar e


tacto) permitem que o nosso cérebro receba a
informação do ambiente que nos rodeia. No processo
de envelhecimento natural, bem como na demência
podem surgir alterações nestes sentidos.
Na pessoa com demência em que há alterações
cognitivas, de compreensão e raciocínio, os sentidos
são a forma mais simples de ter a informação sobre
o ambiente em redor. Deste modo, os estímulos do
ambiente devem ser apresentados de forma simples e
de fácil interpretação. Por exemplo, para uma pessoa
com diagnóstico de demência poderá ser mais fácil
compreender o que é um grilo através da observação
desse animal (nem que seja por fotografia) do que
apenas ler um texto sobre ele, já que estas tarefas
exigem mais competências e esforço.
A estimulação dos cinco sentidos nas actividades de
vida da pessoa com demência facilita a compreensão
do ambiente que a rodeia, melhora a sua comunicação
e promove a interacção com o mesmo.
No texto abaixo falaremos sobre as principais
alterações de cada um dos sentidos no processo
de envelhecimento e de como isso interfere nas
actividades de vida da pessoa com demência. No final
apresentamos um quadro com algumas propostas de
actividades de estimulação para cada um dos sentidos.

10 - A Demência
VISÃO
No processo de envelhecimento natural a visão ao
perto fica afectada.
Pela degeneração (envelhecimento) da visão e das
estruturas oculares (olhos e seus componentes), a
pessoa diminui a sua sensibilidade ao contraste (muito
associada a quedas), tem dificuldade na separação das
cores, na actividade motora (associada a problemas
de mobilidade) e na visão periférica (para além do
ângulo de visão).
Estas alterações associadas à demência, aumentam a
dificuldade da pessoa em realizar as suas actividades de
vida diária, tais como ler o jornal, conduzir, cortar a barba,
reforçando a necessidade de ajuda em executá-las, bem
como pode provocar o isolamento social.

▪▪ A utilização e o reconhecimento da cor


▪▪ pelas pessoas com demência
Algumas sugestões:

▪▪ As cores pastel são vistas como cinzento, pelo


que se recomenda a utilização de cores primárias
(encarnado, azul, verde, amarelo);
▪▪ As cores brilhantes distraem e são
desconfortáveis, pelo que se sugere a utilização
de cores suaves e moderadas;
▪▪ Evite utilizar padrões com bolas, quadrados
ou riscas. A pessoa pode usar bons conjuntos
de cores primárias suaves/não brilhantes e
continuar bem vestida e satisfeita;

A Demência - 11
▪▪ Para disfarçar as saídas ou divisões de quartos,
sala ou outros espaços que não são seguros
para a pessoa, pode pintar as portas da mesma
cor que as paredes (fica a ilusão que não existe
aí porta);
▪▪ Se quiser marcar uma porta para a pessoa saber
que é por ali que sai ou entra, pode pintar as
portas numa cor que contraste com a cor da
parede e assim ajudar a encontrar a porta.
Deve ser utilizada uma tinta opaca para evitar a
reflexão de brilho;
▪▪ De acordo com as boas práticas de Oftalmologia
2008, a pessoa com mais de 65 anos deve fazer
avaliação oftalmológica de 2 em 2 anos.

AUDIÇÃO
O processo de envelhecimento natural contribui para
a perda da audição, bem como os factores genéticos,
ambientais (exposição prolongada ao ruído) e
patológicos (relacionados com doenças como por
exemplo a hipertensão arterial, diabetes, colesterol
elevado e tabagismo).
A perda da audição pode levar ao isolamento social,
depressão, sensação de mal-estar e desorientação.

12 - A Demência
▪▪
A audição nas pessoas com demência
▪▪ Algumas sugestões:

▪▪ Controle os factores de risco cardiovasculares


(pressão arterial e diabetes controlados);
▪▪ Controle e evite a exposição a ruídos muito
fortes;
▪▪ A utilização de aparelhos auditivos, em especial
na pessoa com demência, melhora a sua
qualidade de vida prevenindo o isolamento
social.

OLFACTO E PALADAR (GOSTO)


Estes dois sentidos, o olfacto e o paladar diminuem
ao longo do tempo, o que faz com que a pessoa tenha
menor prazer ao alimentar-se, sendo um factor de
risco para a desnutrição.
Alguns estudos dizem-nos que o olfacto é mais afectado
do que o paladar. Relativamente ao reconhecimento
dos sabores a perda é maior nos alimentos salgados e
amargos do que nos doces e na acidez.
Estas alterações devem-se não só ao aumento das
falhas dos sentidos, mas também a alterações cerebrais
e locais da cavidade bucal (boca), como a redução
das papilas gustativas e a diminuição da saliva.
Há também medicamentos que alteram o olfacto e o
paladar.

A Demência - 13
O olfacto e o paladar nas pessoas com demência
Algumas sugestões para prevenir e controlar as perdas:

▪▪ É importante a higiene bucal/oral (lavar dentes


e boca);
▪▪ Leve a pessoa a consultas regulares do dentista
e ao otorrinolaringologista (especialista de
garganta, nariz e ouvidos);
▪▪ Controle os factores de risco cardiovasculares em
particular o consumo de sal, açúcar e cigarros;
▪▪ Controle a medicação, e se tiver dúvidas consulte
um profissional de saúde. Tenha em atenção a
dose certa de medicamentos.

TACTO
Sentir os objectos e as pessoas faz parte da natureza
humana. Através do tacto há uma forte ligação à vida.
Nos idosos a alteração da sensibilidade táctil está
quase sempre associada a várias doenças, como o
álcool e a diabetes, pelo que é possível prevenir e
tratar (por exemplo: neuropatia diabética que pode
originar perda da sensibilidade das extremidades -
dedos).
Esta perda de sensibilidade limita a execução das
actividades de vida diária.

14 - A Demência
▪▪
O tacto nas pessoas com demência
▪▪ Algumas sugestões:

▪▪ Assegure que a pessoa tem contacto com várias


texturas que a deixam feliz (um cobertor macio,
uma escova para o cabelo, etc.);
▪▪ Aproveite para dar a sentir à pessoa os elementos
da natureza (pedras, flores, areia, etc.) quando
passeia com ela;
▪▪ Controle a higiene das mãos e estimule o tacto.

A Demência - 15
Ser Cuidador

2
2.1 Tarefas

Ser cuidador pode ser uma tarefa muito gratificante


mas ao mesmo tempo muito difícil e desgastante.
À medida que a doença evolui, as necessidades da
pessoa com demência alteram-se e as funções do
cuidador também.
Entre as funções do cuidador realçamos as seguintes:
1. Apoio na alimentação e hidratação;
2. Cuidados de higiene e conforto;
3. Cuidados na imagem;
4. Apoio na preparação e toma de medicação;
5. Medição dos sinais vitais;
6. Acompanhamento ao exterior (consultas,
exames complementares de diagnóstico,
compras, cuidados de imagem, entre outros);
7. Higiene da habitação;
8. Tratamento de roupas.

Ao longo deste caminho podem surgir sentimentos


de culpa, tristeza, perda, raiva e frustração, sendo
importante reconhecê-los e pedir ajuda por forma
a prevenir a exaustão (a chamada sobrecarga do
cuidador). Converse com quem tem confiança, com
os amigos, familiares, com os profissionais e com
outras pessoas que têm o mesmo problema (grupos
de auto-ajuda).

18 - Ser Cuidador
2.2 Sinais de sobrecarga

A tarefa de cuidar de uma pessoa com demência pode


conduzir-nos a um estado de grande tensão na qual
o cuidador coloca em causa o seu bem-estar físico,
mental e emocional.
O cuidador chega a este estado pelo peso da tarefa
e pela tensão do ambiente, bem como pelas relações
interpessoais que ficam diferentes neste processo, e a
tendência é o isolamento no cuidar.
É essencial pedir ajuda e começar a cuidar de si para
que a sua saúde não fique em risco. Há caminhos e
soluções que podem não ser definitivas, mas que
ajudam a suportar a carga de cuidar de pessoas com
demência.

Esteja atento aos sinais de alerta:

1. Negação acerca da doença, sua evolução e


consequências;
2. Sentimentos de raiva (sobre a pessoa com
demência) e/ou sensação de incompreensão
dos outros;
3. Isolamento social, deixando os amigos e
actividades do seu gosto;
4. Ansiedade;
5. Depressão;
6. Exaustão;

Ser Cuidador - 19
7. Insónias;
8. Irritabilidade;
9. Falta de concentração;
10. Outros problemas de saúde

(adaptado do folheto cuide si Associação Alzheimer Portugal n.º 67, Out. a Dez. 2017)

2.3 Como cuidar de si


A caminhada de um cuidador de uma pessoa com
demência não é fácil nem breve. Para melhor cuidar
tem de cuidar de si. Tem de pensar em si e na melhoria
do seu bem-estar físico, psíquico e emocional.

Algumas sugestões para o cuidador:

1. Durante o dia faça pequenas pausas na


prestação dos cuidados;

2. Na escolha de actividades a realizar com a


pessoa, escolha aquelas que também lhe dão
prazer, assim ambos desfrutam;
3. Mantenha a calma para não tomar decisões
precipitadas;
4. Seja paciente e amável consigo, para ir ao
encontro de um equilíbrio de sentimentos ao
longo do tempo;

20 - Ser Cuidador
5. Permita-se chorar, sentir a dor e falar sobre
os seus sentimentos (com amigos, família, um
psicólogo, ou grupo de auto-ajuda);
6. Procure um grupo de auto-ajuda para poder
desabafar quando quer;
7. Escreva um diário sobre todos os seus
sentimentos, desejos, e pensamentos, sejam
eles de frustração, ou de esperança;
8. Volte a sorrir com recurso ao humor e
encontre a alegria de viver. Procure fontes de
prazer para rir. Converse, partilhe.

(fonte: adaptado de Revista Alzheimer Portugal, n.º 67, Out. a Dez. 2017)

2.4 Apoio social e saúde


Os recursos existentes na comunidade que poderão
ajudá-lo no seu dia-a-dia, tais como, centros de dia,
apoio domiciliário, residências para repouso do
cuidador e outros:

A nível Económico:

Nos Serviços da Segurança Social poderá solicitar


complementos e/ou subsídios segundo determinados
graus de dependência tais como:

▪▪ Subsídio solidário para idosos


▪▪ Complemento por dependência
▪▪ Complemento por cônjugue a cargo.

Ser Cuidador - 21
Poderá também recorrer aos Serviços da Santa Casa
da Misericórdia de Lisboa (SCML) para:

▪▪ Apoio Psicossocial
▪▪ Encaminhamentos
▪▪ Apoios económicos
▪▪ Apoio de Produtos de Apoio
▪▪ Material de incontinência e medicação (cartão
de saúde).

1. Poderá recorrer às Juntas de Freguesia.


2. Outros Subsistemas de Saúde (ADSE; ADM,
PSP/SAP, SAMS, entre outros)

A nível Social:

Pode marcar uma entrevista com a Assistente Social


da SCML, nas sedes dos serviços e em algumas Juntas
de Freguesia e esta terá um papel fundamental no
encaminhamento para:

3. Serviços de Apoio Domiciliário


4. Apoio para a realização das actividades diárias
5. Centros de Dia
6. Acompanhamento e supervisão dos cuidados
diários
7. Estrutura Residencial
8. Internamento temporário ou permanente para
assegurar o acompanhamento e supervisão 24
horas por dia.

22 - Ser Cuidador
A nível de Saúde:

Unidades de Saúde da ARS onde poderá encontrar:


9. Consultas de Saúde Primários
10. Consultas de Especialidade (consultas de
Neurologia e Psiquiatria)
11. Rede Nacional de Cuidados Continuados
Integrados.

Unidades de Saúde da SCML:

Consultas de Saúde Primários e outras consultas de


especialidade (ver contactos no Guia)

Para benefícios fiscais deverá requerer Atestado de


Incapacidade Multiusos nas Unidades de Saúde.

Outros Apoios:

▪▪ Associação Alzheimer
▪▪ Café Memória
▪▪ Grupos de auto-ajuda para Cuidadores
▪▪ Serviços de Gestão de Produtos de Apoio da
SCML

Ser Cuidador - 23
Estratégias Facilitadoras

3
3.1 Como comunicar
A pessoa com demência terá com o tempo, mais
dificuldade em lembrar-se de nomes de pessoas
e de objectos. Tende a esquecer ou trocar palavras
que antes eram habituais, e pode esquecer o sentido
dessas palavras.

Na comunicação verbal use frases curtas,


simples e directas à acção do tipo:

Ex: Queres ler este livro comigo?


Vamos comer este bolo de ananás?
Queres vestir esta blusa azul com este laço?
Queres ir passear ao nosso jardim? …

Comunicar com a pessoa com demência é fundamental.

O cuidador deve manter um diálogo com a pessoa


a cuidar, numa relação de ajuda que favorece a
comunicação.
▪▪ Simplifique a informação – ao falar com uma
pessoa com demência utilize frases curtas e
simples. Sempre que possível faça também gestos
simples durante a conversação, pois facilitam a
compreensão do que está a dizer. Pergunte apenas
uma coisa de cada vez;
▪▪ Dê tempo de resposta – a perda de memória
dificulta as respostas a dar. É fundamental que se
dê tempo de resposta à pessoa. Evite responder

26 - Estratégias Facilitadoras
pela pessoa ou apressar a sua resposta, pois pode
fazer com que ela desista de comunicar;
▪▪ Esteja preparado para repetir – a comunicação
com uma pessoa com demência irá certamente
ter frases e perguntas repetidas. Embora possa
ser frustrante para o cuidador, a repetição é
fundamental para dar segurança à pessoa. Se
criticar a pessoa por estar a repetir as frases
muitas vezes só vai aumentar a sua angústia e
desencorajá-la de comunicar;
▪▪ Utilize todas as formas de comunicação – a pessoa
com demência, vai tendo progressivamente
dificuldade na capacidade de falar e de
compreender tudo o que lhe é dito. É importante
utilizar todas as formas de comunicação possíveis.
Utilize gestos e objectos, e faça desenhos durante
a conversação, para reforçar a sua mensagem.
Use os sinais “não verbais” como as expressões
faciais, acenar com a cabeça, as pausas e a
linguagem corporal, pois são um valioso suporte
à sua comunicação;
▪▪ Não infantilize a pessoa (não a trate como
uma criança) – apesar da pessoa ir perdendo
capacidades esta não é uma criança. O adulto
não passa a ser uma criança. As atitudes de
infantilização são facilmente percebidas por um
adulto com demência, e diminuem a sua auto-
-estima, confiança e dignidade, assim como podem
aumentar as atitudes violentas;
▪▪ Olhar nos olhos - Olhe para a pessoa e mantenha
o contacto visual e o tom de voz calmo.

Estratégias Facilitadoras - 27
3.2 Como lidar com as alterações de
comportamento
Comportamento agressivo

As pessoas com demência apresentam muitas vezes


comportamento agressivo. É importante perceber que
este comportamento está relacionado com a doença,
e não propriamente com a pessoa.

A agressividade não é dirigida especificamente ao


cuidador mas trata-se de uma forma de mostrar a sua
ansiedade e frustração.

Há situações que aumentam a agressividade, pelo


que é importante identificar e perceber o que a torna
agressiva, para que não se volte a repetir (pelo menos
da maneira como é feita).

Como reagir:

▪▪ Tente manter a calma e transmita tranquilidade.


▪▪ Fale com voz suave, calma, tentando distrair a
pessoa.
▪▪ Evite o confronto físico e verbal com gestos
apaziguadores e carinhosos.

Comportamento embaraçoso

Num determinado tipo de demência há uma área


do nosso cérebro que é afectada e que condiciona
o comportamento da pessoa nas relações sociais
ficando desinibida e desadequada. Para o cuidador
esta situação pode ser muito desconfortável, difícil de
lidar com vergonha e embaraço.

28 - Estratégias Facilitadoras
Como reagir:

▪▪ Mantenha a calma.
▪▪ Se estiver num local público tente afastar a
pessoa, distraindo-a. Pense se é mesmo preciso
fazê-lo, pois pode não estar a incomodar ninguém
excepto a provocar-lhe mal-estar e nervosismo.
▪▪ Tente perceber o que desencadeou este
comportamento para evitar situações
semelhantes no futuro.
▪▪ Partilhe esta sua experiência com outros
cuidadores para que gradualmente consiga
reduzir a sua ansiedade perante este
comportamento. Há cuidadores que ao longo
do tempo conseguem reagir com humor a estas
situações.

3.3 A importância de definir um plano


semanal com rotinas
A criação de rotinas para a pessoa com demência é
organizador e ajuda-a a manter-se activa/participativa
no seu dia-a-dia. É importante criar um plano semanal
(mais à frente falaremos sobre o assunto) onde estão
incluídas todas as actividades do seu dia. Após a
elaboração conjunta deste plano as rotinas devem ser
mantidas.
No início do dia mostre-lhe o plano do dia, falando
das actividades que vai realizar.
Apresente as actividades uma de cada vez e na
sequência prevista (por exemplo. “agora vai tomar
banho” e só depois do banho fala do pequeno almoço).
Deve manter a disposição dos objectos importantes
para o dia-a-dia da pessoa na casa, de uma forma
organizada e sem mudar a sua localização, para que
ela se consiga orientar com maior autonomia.

Estratégias Facilitadoras - 29
Exemplo de um Plano Semanal:

Horas 2.ª Feira 3.ª Feira 4.ª Feira 5.ª Feira 6.ª Feira Sábado Domingo

9h Acordar

Escolher

9 h 30 m roupa

banho

Pequeno
10 h
almoço

(...)

3.4 A mobilidade
Comportamento agressivo
A pessoa com demência tende a andar, aparentemente
sem sentido. No entanto esta agitação pode estar
relacionada com as rotinas que tinha, tais como:
ida para o trabalho, ir buscar os filhos à escola, ida
às compras. A redução da sua capacidade cognitiva
(perda de memória e dificuldade na comunicação)
não lhe permite explicar o verdadeiro motivo.
Na rotina da pessoa crie momentos que lhe permitam
andar, por exemplo, passear o animal de estimação,
ir à rua passear com supervisão, ou fazer pequenas
compras no comércio local junto a casa.
É importante controlar o ambiente envolvente, não só
a casa mas também o exterior. Para isso fale com os
vizinhos sobre a doença e a possibilidade da pessoa
com demência sair de casa e se perder.

30 - Estratégias Facilitadoras
A PSP também disponibiliza gratuitamente uma
pulseira para a pessoa com demência utilizar e caso
se perca é contactado o cuidador.

▪▪ Caso a pessoa com demência se perca ou


desapareça do seu alcance de vista, mantenha
a calma.
▪▪ Procure na zona envolvente à casa, e caso não a
encontre em tempo útil (por exemplo: mais do
que 1 hora) ligue ao 112 e peça ajuda.

Em casa é importante manter os espaços organizados


e sem obstáculos em zonas de passagem.

Sugestão 2
▪▪ Mantenha uma vida activa. A mobilidade é
importante tanto para saúde da pessoa a cuidar
como do cuidador;
▪▪ A mobilidade permite diminuir a sobrecarga do
cuidador e alivia no processo de cuidar;
▪▪ Tente caminhar diariamente com a pessoa dentro
e fora do espaço de sua casa;
▪▪ A marcha mesmo que lenta e apoiada é também
exercício físico. Apoie a pessoa, mas deixe-a
caminhar para estimular a circulação e a noção
do espaço;
▪▪ As sessões de fisioterapia ou de hidroginástica
podem ser positivas e ajudar a melhorar e manter
a força muscular e articular de todo o corpo;
▪▪ Praticar exercício físico todos os dias, por
exemplo caminhar pela sua rua, dar a volta ao
quarteirão ou ir um pouco mais longe, ir passear
a um jardim ou pela praia, será muito positivo.

Estratégias Facilitadoras - 31
3.5 Prevenção de quedas

A pessoa com demência pode sofrer de alterações


na marcha, postura, equilíbrio, tremores, rigidez e
alteração dos níveis de atenção, pelo que aumenta o
risco de quedas. A prevenção das quedas pode ser
realizada de duas formas: por controlo e adaptação
do ambiente envolvente ou através do treino físico.

Em casa
▪▪ Retire os tapetes que podem conduzir a quedas
(nos corredores, no quarto ou na cozinha);
▪▪ Simplifique o mobiliário (muitas vezes existe em
excesso);
▪▪ Coloque tapetes anti-derrapantes onde considerar
necessário (por exemplo na casa da banho e
cozinha);
▪▪ Se possível coloque varões de apoio fixos ou
móveis, em especial na casa de banho e na
cozinha;
▪▪ Os sapatos da pessoa devem ser fechados,
macios, confortáveis e com sola anti-derrapante
(evite o uso de chinelos).

Na rua
▪▪ Acompanhe a pessoa de braço dado e caminhe
devagar;
▪▪ Verifique o piso (passeios, bermas e escadas que
podem levar a quedas);
▪▪ Os sapatos também têm de ser fechados e com
sola antiderrapante (evite o uso de chinelos).

32 - Estratégias Facilitadoras
Treino físico
Este treino pode ser realizado por um enfermeiro
especialista em reabilitação no domicílio (casa)
das pessoas (acontece já em algumas Unidades de
Saúde da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa) ou
por um fisioterapeuta (sessões pedidas no médico
de família).
É ensinado o treino de marcha (saber caminhar com
segurança), com aumento da resistência, equilíbrio
e força muscular da pessoa.

3.6 Cuidados pessoais de higiene e conforto

A higiene diária é essencial ao conforto da pessoa com


demência. Há alguns cuidados a ter neste processo.
Os cuidados de higiene e conforto são um conjunto
de práticas diárias que permitem assegurar a limpeza
e a integridade do corpo. Este cuidado permite bem-
-estar físico e mental, contribuindo para a auto-estima
e conforto.

Enquanto for possível, a pessoa deve fazer a sua


higiene, seja o banho, lavar os dentes, pentear-se e
outros momentos da higiene. É preciso entender a
pessoa não desaprendeu, simplesmente o cérebro
a faz esquecer essas actividades. Permita esta
autonomia para as tarefas que a pessoa ainda
consegue fazer.

Estratégias Facilitadoras - 33
Algumas sugestões:
▪▪ Ajude na higiene apenas nas tarefas que a pessoa
já não consegue fazer;
▪▪ Demonstre cuidado com o corpo da pessoa a
cuidar;
▪▪ A nudez pode ser embaraçosa para a pessoa,
mesmo que esta não tenha muitas vezes a noção
do espaço ou do tempo;
▪▪ Acompanhe com cuidado, zelo e carinho é
importante.

Habitue-se a conversar com a pessoa a cuidar nestes


momentos, e a referir o que vai fazendo:

Ex:
Agora vou pentear o teu cabelo. Já viste como cresceu?
Um dia destes temos de ir ao cabeleireiro fazer
um corte. Vou continuar a pentear-te para ficares
bonito(a).

Especialmente quando a pessoa está acamada:

▪▪ Converse com a pessoa. A companhia faz bem;


▪▪ Mude a pessoa de posição de duas em duas
horas, para evitar feridas por pressão (úlceras).
Se existirem feridas na pele, contacte a equipa
de saúde. É importante pensar em utilizar um
colchão anti-escaras;
▪▪ Use creme hidratante na pele para a proteger;

34 - Estratégias Facilitadoras
▪▪ Dê a beber líquidos durante o dia para evitar
desidratação;
▪▪ A fralda deve ser trocada, no mínimo, a cada três
horas.

a) Banho

O banho deve fazer parte da rotina da pessoa.


Se a pessoa tiver dificuldade em permanecer em pé
durante o banho, pode colocar dentro da banheira/
polibã uma cadeira/banco próprio para o banho.

▪▪ Oriente a pessoa a despir-se e a entrar na banheira;


▪▪ Incentive a tomar banho sozinho(a) e vá falando
das etapas sempre que necessário;
▪▪ Tenha tudo pronto à mão (sabonete, shampoo
toalhas, e muda de roupa);
▪▪ A temperatura deve ser confortável;
▪▪ Ponha música ambiente;
▪▪ Ligue o chuveiro e sinta a temperatura da água;
▪▪ Se a pessoa resistir a tomar banho, distraia-a e
desvie o foco da atenção. Por exemplo, cantar
ou oferecer algo colorido para segurar e olhar
enquanto está no banho;
▪▪ Se o motivo da resistência estiver relacionado
com a intimidade, permita que a pessoa cubra o
seu corpo ou parte dele com uma toalha;
▪▪ Faça uma massagem e aplique em todo o corpo
um creme hidratante.

Estratégias Facilitadoras - 35
Dê reforço positivo: “Muito bem”, “Perfeito”,
“Está muito bem assim”, entre outras palavras de
encorajamento.

b) Cabelo/barba/pêlos

A higiene pessoal é uma parte fundamental do


contacto com a pessoa que está a cuidar, permitindo
a dignificação da pessoa. É por isso importante cuidar
do cabelo, barba e pêlos da pessoa para que ela se
sinta arranjada e tratada.

▪▪ É fundamental lavar o cabelo da pessoa (ela


própria ou ajudada por alguém) 2 a 3 vezes
por semana com um shampoo neutro ou com
fórmulas não agressivas;
▪▪ Deverá cortar o cabelo uma vez por mês para
conferir um aspecto limpo e perfumado. A
imagem será mais saudável;
▪▪ A barba deverá ser feita diariamente, e se possível
com uma máquina de barbear evitando cortes e
irritações a menos que haja problemas de pele.
Manter “as suíças” devidamente cortadas e
aparadas;
▪▪ Os pêlos nas várias partes do corpo (buço,
queixo e orelhas) deverão ser retirados com
uma pinça própria, sem magoar a pele e ou com
um creme depilatório que encontra à venda nas
farmácias. Após este procedimento deve pôr um
creme hidratante.

36 - Estratégias Facilitadoras
c) Higiene oral

A pessoa com diagnóstico de demência por vezes


apresenta dificuldades relativas à higiene oral. Pode
haver:
▪▪ Alterações nos seus sentidos (tacto), que
dificultam a utilização de uma escova de dentes;
▪▪ Incapacidade de compreender a necessidade
deste tipo de higiene;
▪▪ Dificuldade em planear e sequenciar o que deve
fazer.

▪▪
Estratégias para a higiene oral:
▪▪
▪▪ Colar numa superfície visível um papel/lembrete
para a higienização dos dentes ou prótese
dentária;
▪▪ Escolher escovas de dentes mais suaves, logo
menos agressivas para que a pessoa sozinha ou
acompanhada continue a fazer uma boa higiene
dentária;
▪▪ Dispôr de um esquema, com os passos a fazer
para a higienização dos dentes ou da prótese
dentária (uma tabela, um desenho com palavras
simples e imagens);
▪▪ Utilizar pastas de dentes com sabores menos
fortes e possivelmente desagradáveis para a
pessoa, como mentol, por exemplo.

Estratégias Facilitadoras - 37
d) Mãos, pés e unhas

▪▪ Deve lavar-se as mãos depois de usar a casa de


banho, depois de se passear na rua, antes e depois
das refeições, nas idas à casa de banho, antes
de tomar a medicação e antes de se deitar. Esta
prática ajuda a prevenir muitas doenças;
▪▪ Lavar entre os dedos, as palmas e costas das mãos,
de preferência com sabão neutro;
▪▪ Seque muito bem com toalhas de algodão;
▪▪ Para cortar as unhas das mãos e dos pés, coloque
as mãos ou os pés sobre uma toalha;
▪▪ Corte as unhas da mão em forma amendoada;
▪▪ As unhas dos pés devem ser cortadas sempre a
direito;
▪▪ Mantenha as unhas das mãos e pés limpas e com
um comprimento mínimo;
▪▪ Poderá amaciar as mãos e os pés com um bom
creme hidratante;
▪▪ Faça massagens leves por todo o corpo. A pessoa
sentir-se-á bem.

e) Vestuário

As tarefas de vestir devem ser simplificadas.

Se a pessoa mostrar alguma resistência em mudar de


roupa, este comportamento pode estar relacionado
com várias causas, tais como:

▪▪ Incapacidade de fazer julgamentos face ao estado


da sua roupa (a pessoa já não reconhece as roupas
e a forma de vestir-se);

38 - Estratégias Facilitadoras
▪▪ Sentir-se confortável com uma peça de roupa, e
por isso quer vesti-la sempre;
▪▪ Dificuldade na escolha da roupa, optando assim
pela opção mais fácil, ou seja, vestir o mesmo;
▪▪ Existir desorientação temporal, que faz com que
a pessoa perca a noção sobre o dia em que está e
há quanto tempo vestiu aquela peça de roupa;
▪▪ Défices sensoriais ao nível do olfacto (cheiro), o
que dificulta perceber o odor desagradável das
suas roupas.

O QUE NÃO DEVE FAZER O QUE DEVE FAZER

Evite dizer que as roupas estão Faça sugestões de roupas entre


sujas ou com odor desagradável; as que a pessoa gosta;

Guarde no roupeiro apenas


Não encha os armários de
algumas roupas para facilitar o
roupa;
processo de escolha;
Respeite os gostos pessoais e
Não se substitua à pessoa; deixe sempre que possível a
pessoa escolher;
Compre roupas preferidas da
Comprar roupas com muitas pessoa em cores sólidas, do
riscas, bolas ou xadrez; tamanho e de textura que a
pessoa gosta;
Colocar novas peças de roupas
Deixar roupas sujas no quarto; em dois ou três conjuntos para
a pessoa poder escolher;
Roupas com fechos Use roupas sem fechos, de
complicados e difíceis de abrir, algodão de preferência e com
fivelas ou botões; velcros fáceis de abrir e fechar;
É positivo escolher um
Não é positivo deixar os conjunto de peças de roupa e
armários e gavetas cheias de colocá-las separadas, sempre
roupas misturadas. na mesma ordem.

Estratégias Facilitadoras - 39
f) Continência e incontinência
Nos casos em que existir demência é importante saber
se a pessoa é capaz de:

▪▪ Reconhecer a necessidade de ir à casa de banho;


▪▪ Ser capaz de esperar até ser oportuno ir à casa de
banho;
▪▪ Encontrar a casa de banho;
▪▪ Reconhecer a casa de banho;
▪▪ Utilizar a casa de banho de forma apropriada.

▪▪
Estratégias para a incontinência vesical e intestinal:
▪▪
▪▪ A pessoa deve beber uma quantidade adequada
de líquidos de preferência 5 a 8 copos de água
por dia;
▪▪ Reduza a ingestão de cafeína, utilizando o café
descafeinado ou chá, sobretudo à noite;
▪▪ Observe a rotina da pessoa na utilização da casa
de banho e lembre-a de utilizar a casa de banho
com regularidade, de acordo com a sua rotina;
▪▪ Existem vários auxílios e aparelhos para ajudar
no controlo da incontinência. Recorra a um
profissional de saúde para saber quais os
indicados;
▪▪ Sempre que necessário e em fases mais
avançadas, para conforto e segurança da pessoa
utilize resguardos e fraldas descartáveis.

40 - Estratégias Facilitadoras
Tenha em atenção que, em fases mais avançadas, a
pessoa com demência poderá não reconhecer o seu
cuidador (mesmo que este seja um familiar), e sentir a
sua ajuda como uma violação da sua privacidade. Tente
ser paciente, manter o contacto visual e voz calma,
por forma a tranquilizar a pessoa. Se esta recusar a
utilização da sanita ou se verificar um elevado nível de
ansiedade, tente novamente mais tarde.

Ajude a pessoa mas não a substitua:

Aqui pode dar a sua orientação verbal à pessoa acerca


do que ela deve fazer, ou ajudá-la sem a substituir:

▪▪ Pede a sua ajuda para baixar as calças e a roupa


interior;
▪▪ Pede ajuda para retirar do suporte o papel
higiénico ou papel higiénico húmido (toalhitas);
▪▪ Pede ajuda na higiene com o papel higiénico ou
papel higiénico húmido.

3.7 Alimentação

Para que a pessoa com demência esteja estabilizada,


é fundamental uma alimentação diária completa e
diversificada. O objetivo é manter a saúde o mais
equilibrada possível.

É natural que o avanço desta doença faça com que


a pessoa perca apetite e diminua a ingestão de
alimentos. Esta situação pode provocar perda de peso
e falta de nutrientes, provocados pelo esquecimento
de se alimentar e por problemas ao engolir.

Estratégias Facilitadoras - 41
Por vezes poderá ter de recorrer a suplementos
alimentares conforme indicação da equipa de saúde.

Embora os alimentos com uma consistência mais


pastosa sejam melhores para a pessoa poder engolir
mais facilmente, tenha em conta em que fase da doença
a pessoa se encontra. Se lhe for possível comer em
pedaços é importante manter essa forma. Se verificar
que a pessoa se engasga com mais frequência, deverá
alterar para a comida pastosa.

A Dieta Mediterrânica
Uma alimentação com base na dieta Mediterrânica é
boa e permite um estilo de vida mais saudável. Com a
dieta Mediterrânica a pessoa come bons ácidos gordos
poliinsaturados, vitaminas B e E, que se encontram
nos vegetais, fruta, cereais integrais, leguminosas,
azeite como fonte de gordura, peixe, lacticínios e
frutos oleaginosos (como noz, amêndoa e avelã) e o
consumo baixo de carnes vermelhas.
Deve evitar-se o uso de alimentos refinados e muito
processados (enchidos, chouriços, manteigas, etc.) e
ter um regime alimentar que promove a saúde (frutas
e legumes, cereais, entre outros alimentos).
Ao mesmo tempo é importante ter um estilo de vida
activa (passeios, caminhadas, hidroginástica com
aconselhamento de saúde, etc).

42 - Estratégias Facilitadoras
Dignificar a intervenção do cuidador e
da pessoa a cuidar:
O processo de alimentação também pode exigir
do cuidador algum esforço.
Se a pessoa a cuidar se alimentar sozinha ou com
algum apoio é importante manter essa autonomia
e deixar a pessoa comer sozinha.

Algumas sugestões no que respeita à alimentação:


▪▪ Faça da hora das refeições um festival de cores e
cheiros. Ter um prato com legumes verdes, cereais
amarelos, feijões, um pedaço de carne e uma fruta,
é muito saudável;
▪▪ Faça pratos que a pessoa aprecie, que poderão ser
um prazer para ela, mas também para o cuidador;
▪▪ Planeie e organize as refeições quando for ao
supermercado fazer as suas compras (faça uma
lista antes de sair de casa);
▪▪ Consuma fruta e hortaliças da época;
▪▪ Consuma leguminosas (como feijão, grão, ervilha,
etc.);
▪▪ Consuma pequenas quantidades de peixe e
carne diariamente (do tamanho de um punho
fechado). O ácido contido nos peixes que são
ricos em ómega-3 (como por exemplo atum,
salmão, sardinhas e anchovas) pode aumentar a
capacidade de aprendizagem;
▪▪ Coma sempre sopa ou caldo de legumes no
princípio de cada uma das refeições principais;
▪▪ Evite os fritos e os assados com muita gordura;

Estratégias Facilitadoras - 43
▪▪ Beba 1,5 a 2l de água (uma garrafa grande) por dia;
▪▪ Utilize o azeite como gordura;
▪▪ Coma diariamente alimentos de todos os grupos
da roda de alimentos: cereais, frutas, vegetais,
carne/peixe e água;
▪▪ Evite comer alimentos com açúcar, sal e
processados (chouriços por exemplo);
▪▪ Faça uma lista com o plano de refeições da semana.
Tente escrever na lista os nomes especiais desse
Menu;
▪▪ Ler em voz alta os alimentos e os pratos a cozinhar;
▪▪ Utilizar um garfo ou uma colher de cabo
engrossado pode ser uma boa solução para uma
refeição autónoma (pode colar à volta do garfo
uma tira de borracha por exemplo.);
▪▪ Se a pessoa já não consegue alimentar-se sozinha,
vá conversando com ela enquanto lhe dá a comida.
Sem pressas, suavemente pois a pessoa pode
engasgar-se;
▪▪ Se a pessoa consegue engolir facilmente os
alimentos podem estar já preparados. É melhor
deixar os alimentos inteiros ou em pedaços para
que a pessoa possa ver o prato conforme o fazia
anteriormente. Explicar que corta a comida para
que a pessoa coma melhor e se sinta bem;
▪▪ Faça pausas quando estão a fazer uma refeição.
Pouse os talheres de vez em quando para marcar
a pausa;
▪▪ É preferível que a pessoa coma pequenas doses
várias vezes ao dia.

44 - Estratégias Facilitadoras
Usufrua também do momento da alimentação:
O momento da refeição é importante para se
conversar, para ouvir música e haver prazer tanto
para a pessoa a cuidar como para o cuidador
informal.

3.8 Medicação
Num estádio inicial da demência a pessoa pode
ainda ser autónoma na toma da medicação, pelo que
nesta fase é importante a supervisão (vigiar se toma
correctamente).
Para facilitar este processo adquira uma caixa de
medicação para preparação semanal. Esta preparação
pode ser feita em conjunto com a pessoa envolvendo-a
na gestão da sua medicação, prevenindo-se assim
esquecimentos e duplicação da toma.
Evite ter à mão todas as caixas de medicamentos
disponíveis, guarde-os num armário fora do alcance
da pessoa.
Numa fase mais avançada da doença a pessoa
poderá ter dificuldade em engolir os comprimidos.
Esta dificuldade deve ser partilhada com o médico
assistente que sempre que possível adequa a
apresentação do medicamento por outro que facilite
a toma (p.e. trocar os comprimidos por xarope ou
penso transdérmico).
No caso de não ser possível a troca pode recorrer a um
almofariz e desfazer os comprimidos. Ao dar à pessoa
para tomar, não misture no prato de comida, mas sim
na colher evitando que fique sem tomar a medicação
caso não coma tudo.
Caso tenha dúvidas na melhor forma de administrar a
medicação, peça ajuda à equipa de saúde.

Estratégias Facilitadoras - 45
3.9 Momentos lúdicos e de lazer
Que actividades de lazer gostam de fazer as pessoas
com demência?
Em princípio as que gostavam de fazer antes da
demência.
A pessoa com estádio de demência mais avançado
esquece detalhes, pelo que é importante ajudá-la a
fixar e a memorizar através de formas criativas.
O objectivo das actividades de lazer é manter o corpo
e o cérebro activos, e contribuir para a manutenção do
sistema nervoso impedindo que os neurónios deixem
de funcionar.
Para o cuidador também é importante fazer actividades
que aprecie e que o relaxem ou animem.
Caso tenha dúvidas na melhor forma de administrar a
medicação, peça ajuda à equipa de saúde.

Faça uma lista de actividades que apreciam os dois:

Escreva das actividades mais simples que é


possível fazer a dois, às mais complexas, e que
exigem apoio de outras pessoas:
▪▪ Jogar às cartas;
▪▪ Ler em conjunto;
▪▪ Fazer passatempos (jogo do galo);
▪▪ Desenhar;
▪▪ Escrever palavras seguindo o alfabeto (palavras
que se recordem começadas por A, B, C, D, e
por aí adiante).

46 - Estratégias Facilitadoras
Fotografias e outros objectos
▪▪ Se for possível, recolha e mostre à pessoa
fotografias, ornamentos e outras recordações que
possam trazer boas memórias;
▪▪ Tente mostrar fotografias de infância, de eventos
importantes e felizes;
▪▪ Ao mesmo tempo, pode utilizar fotografias da
pessoa em eventos recentes e com familiares e
amigos, de forma a fortalecer o seu sentido de
identidade e memória recente;
▪▪ As fotografias podem ter etiquetas escritas com
os nomes e tipos de relação entre as pessoas;
▪▪ Tente descobrir a forma como a casa da pessoa
era decorada quando ela era mais jovem. Alguns
desses estilos de decoração ou objectos do
passado podem dar algum conforto;
▪▪ Decore os espaços da casa com fotografias,
objectos e outras recordações de familiares e
amigos para estimular a memória da pessoa.

Ideia para a decoração e para as memórias:


Os trabalhos feitos pela pessoa com demência, tais
como pinturas, artesanato, bordados ou fotografias
tiradas por ela, podem ser emoldurados e exibidos
para reforçar a sua auto-estima.
Estes objectos decorativos podem servir de formas
de se fazer conversas positivas com ela e com as
visitas.
Caso faça uma nova decoração, é importante
manter o espaço familiar, alterar o mínimo possível,
reduzir a desorganização, aumentar o conforto e
evocar memórias.

Estratégias Facilitadoras - 47
3.10 Animais de estimação
Os animais de estimação são uma referência afectiva
para qualquer pessoa. No caso da pessoa com
demência para além da referência afectiva, são fonte
de conforto e relaxamento.
A criação de rotinas para cuidar do animal de
estimação permite que a pessoa se mantenha activa
não só fisicamente, mas também psicologicamente.
Nos momentos de repouso permita que o animal esteja
em contacto com a pessoa se isso lhe proporcionar
relaxamento e tranquilidade.

3.11 Fumar
Se a pessoa com demência é fumadora, deve permitir-
-se que mantenha este hábito, de forma apoiada e
controlada.
A pessoa tem de criar uma rotina:
▪▪ Acompanhe a pessoa nessa rotina para evitar
riscos de incêndios.
▪▪ Se a pessoa não quer/não pode deixar de fumar,
acompanhe-a, de preferência na rua ou em espaços
abertos;
▪▪ Se estiver em casa, abra as janelas;
▪▪ Se estiver na varanda a fumar, acompanhe a
pessoa, mantendo a supervisão.

48 - Estratégias Facilitadoras
3.12 Sono e repouso
É importante o descanso da pessoa com demência
assim como do cuidador. O sono permite recuperar
energia para o novo dia e é organizador para o
funcionamento correcto do nosso cérebro.
▪▪ Estabeleça rotinas para que a hora de descanso
seja realizada sempre no mesmo horário;
▪▪ O sono pode não ser contínuo. Isto não quer dizer
que a pessoa não descansa. Se estiver sozinho com
a pessoa a cuidar tente fazer o mesmo horário de
sono descansando também nas horas em que a
pessoa a cuidar está a descansar;
▪▪ Mantenha sempre algum tipo de iluminação (luz
de presença). Se o ambiente onde a pessoa dorme
ficar totalmente escuro pode tornar a pessoa mais
confusa se acordar;
▪▪ Se a pessoa não dorme tente perceber o que a
perturba: terá alguma dor, terá frio ou poderá
estar desconfortável;
▪▪ Para terem um sono mais descansado é preciso
ver o estado da cama. A pessoa está segura na
cama? Se não estiver, é melhor colocar grades
(universais ou para cama articulada);
▪▪ Tenha em atenção a temperatura do quarto e as
mantas sobre a pessoa;
▪▪ A música ligeira e em tom baixo antes de dormir
pode ser favorável ao sono e descanso;
▪▪ Evite que a pessoa com demência coma doces e
ingira cafeína antes de ir dormir. Dê preferência ao
chá de plantas.

Estratégias Facilitadoras - 49
3.13 Afectos, intimidade e sexualidade
A pessoa com demência sofre alterações da memória
e do julgamento, podendo também ter os afectos
comprometidos, que incluem a intimidade e a
sexualidade.
De acordo com o tipo de demência, pode verificar-se
o aumento do desejo sexual (é um efeito da própria
evolução da doença).
A sexualidade é abrangente, não se limita ao acto
sexual, pelo que se deve olhar de uma forma natural a
todos os tipos de manifestações de afecto.
Quando o cuidador é cônjuge, na maioria das vezes
pode ocorrer uma alteração significativa de papéis.
Muitos cuidadores tendem a considerar a pessoa com
demência como um “filho”. Esta situação, associada à
sobrecarga do cuidador (cansaço físico e psicológico)
e muitas vezes ao afastamento físico (mudança
de quarto ou ida para um lar) podem dificultar os
momentos de troca afectiva, correndo-se o risco de
declínio da relação e aumento da insatisfação. As
relações existentes sofrem alterações e a actividade
sexual é muitas vezes substituída positivamente por
demonstrações de afecto e carinho.
Se necessitar de apoio ou orientação poderá falar com
os seus amigos mais íntimos e pedir ajuda profissional
para partilhar a suas dúvidas.

É importante ter presente que todas as pessoas


têm direito à expressão dos afectos, e estes são
importantes na relação. À medida que a demência
evolui, também as necessidades se modificam,
tanto para o cuidador como para a pessoa a cuidar.

50 - Estratégias Facilitadoras
3.14 Como lidar com o luto
A morte faz parte da vida.
Quando a pessoa de quem cuida chega ao fim da sua
vida, o cuidador sofre, de uma forma geral, um misto
de sentimentos.
Podem surgir sentimentos próprios, e relativos à
pessoa que perdeu, de tristeza, culpa, zanga, alívio do
sofrimento, falta de objectivos de vida, e fim do seu
papel de cuidador, que terminou em relação aquela
pessoa.
Nesta fase é importante falar dos seus sentimentos
com familiares e amigos e, caso necessite, peça ajuda
profissional no seu centro de saúde ou local onde
costuma ser apoiado. Não tenha pressa, leve o tempo
necessário para reconstruir a sua vida.
Se for difícil falar com os outros do seu sofrimento,
pode optar por fazer um diário onde escreve os seus
pensamentos e sentimentos.
Uma outra estratégia que o poderá ajudar é recordar
a pessoa que partiu. Como poderá fazê-lo? Rever
fotografias, conversar sobre essa pessoa em família
ou com amigos, relembrá-los em momentos festivos
(por exemplo no seu aniversário ou em celebrações
especiais).
Aos poucos, verá que vai conseguindo seguir em
frente, traçar novos objectivos de vida e pensar em si
e nas outras pessoas que o rodeiam. Cuidar fez de si
uma pessoa mais forte.

Estratégias Facilitadoras - 51
Adaptação da Casa

4
4.1 Aparelhos de aquecimento
▪▪ Os aquecedores em casa têm que ser seguros
(podendo ser aquecedores a óleo);
▪▪ Se utilizar outro tipo de aquecedores, estes devem
ter protecções e desligar-se automaticamente;
▪▪ É importante aquecer alguns espaços durante o
tempo mais frio, pois pode ajudar ao conforto. Por
exemplo o quarto, a sala e a casa de banho;
▪▪ O secador de cabelo deve ser trancado, caso
considere que existe alguma possibilidade da
pessoa o utilizar com as mãos molhadas ou de
colocá-lo, por engano, dentro de água.

4.2 Armários
Muitas pessoas com demência, devido ao facto de
já não se lembrarem de como utilizar os armários,
perdem o acesso às suas coisas.
▪▪ Pode colocar rótulos/etiquetas com nomes nos
armários para ajudar a pessoa a encontrar ou a
guardar as coisas;
▪▪ Pode tirar as portas de alguns armários de forma
a permitir uma melhor visibilidade e identificação
dos seus objectos;
▪▪ Coloque poucos objectos à vista. Simplifique;
▪▪ Se a pessoa já não conseguir utilizar os armários,
tente colocar as coisas na bancada ou numa
prateleira;

54 - Adaptação da Casa
▪▪ Retire os objectos afiados, como por exemplo
utensílios para a lareira, abre cartas e tesouras,
que possam causar ferimentos à pessoa;
▪▪ Tranque alguns armários e gavetas, caso seja
necessário, utilizando para tal trincos e fechaduras.
Se for necessário, cubra as prateleiras com portas
ou cortinas;
▪▪ Coloque as coisas mais utilizadas num alcance
fácil, de forma a que a pessoa não tente subir para
chegar aos armários mais altos.

4.3 Arestas dos móveis


A pessoa com demência pode ter pouca noção dos
limites de uma mesa, de uma cama, móvel ou de uma
bancada, o que poderá fazer com que colida/choque
contra esses objectos, derrame ou parta algumas
coisas.
Os cantos e arestas dos móveis, em que a pessoa se
pode magoar, devem ser removidos ou suavizados.
Para tal, poderá por exemplo lixar, almofadar ou
colocar protectores de cantos (plástico, borracha,
cartão).

4.4 Cama
As barras de segurança para a cama podem ajudar a
pessoa com demência a ficar deitada durante a noite.
Mas para algumas pessoas, as barras podem causar
frustração e a pessoa pode cair ao tentar passar por
cima delas.
O uso de colchão de pressão alternada pode ser útil
para a pessoa que permanece muito tempo na cama

Adaptação da Casa - 55
(colchão anti-escaras), assim como o uso de camas
articuladas e de almofadas de posicionamento.

Atenção:
▪▪ Os cobertores eléctricos podem ser perigosos;

▪▪ Retire as botijas de água quente caso sejam um


risco para a pessoa. Existem sacos térmicos de
cereais, que podem ser aquecidos no micro-ondas
e que não se abrem ou entornam, tendo de
ter atenção ao nível de aquecimento para não
queimar a pessoa;

▪▪ Os aquecedores de baixo consumo, tais como


os aquecedores a óleo, podem permanecer
ligados durante a noite ou serem programados
para ligar em determinada altura, permitindo um
aquecimento seguro da divisão.

4.5 Cadeiras e cadeirões


Escolha cadeiras, poltronas e sofás ergonómicos, ou
seja, altos, resistentes, impermeáveis de preferência,
com apoios de braços fortes e mais compridos que o
assento, que facilitem à pessoa sentar-se e levantar-se.

56 - Adaptação da Casa
Como escolher uma poltrona ou sofá?
Se for necessário ter ou adquirir uma poltrona/sofá,
existem vários elementos a considerar quando se escolhe:

▪▪ Deve ser confortável e resistente, no qual seja


fácil a pessoa sentar-se e levantar-se. A cadeira
deve ser mais alta do que o habitual. Existem
assentos especiais para aumentar a altura de
uma cadeira;
▪▪ A elevação deve ser manual, pois se for
automática podem ser assustadoras para
algumas pessoas com demência;
▪▪ Se tiver rodas, estas devem ser travadas quando
a pessoa estiver sentada;
▪▪ Se tiver um comando para reclinar, este deve ser
colocado atrás da cadeira, fora do alcance da
pessoa;
▪▪ Os apoios de braços devem ser fortes, e de
preferência mais compridos do que o assento,
suaves e sem arestas;
▪▪ Tecido facilmente lavável ou impermeável, à prova
de água ou com uma almofada impermeável no
assento;
▪▪ O tecido deve ser de uma cor que contraste com
o chão e as paredes, para que a pessoa o veja
mais facilmente.

Adaptação da Casa - 57
4.6 Casa de banho
Pode ser necessário alterar a casa de banho. Este é um
local importante onde se faz a higiene e onde o uso dos
objectos, como a sanita, a banheira ou o polibã podem
necessitar de algumas pequenas transformações para
facilitar a vida da pessoa.

A caminho da casa de banho:


▪▪ Se a pessoa se puder levantar sozinha durante a
noite para ir à casa de banho marque o caminho
com setas e coloque luzes de presença;
▪▪ Coloque na porta da casa de banho um símbolo
fácil de ver que é aí a casa de banho (por
exemplo uma sanita). Pode colar uma folha A4
com a imagem da sanita e a palavra “SANITA”.

Facilitadores na casa de banho


Na sanita

Para facilitar o sentar/levantar na sanita pode


colocar um alteador de sanita. É um assento maior
e mais alto que se coloca sobre a sanita e permite
que a pessoa não faça tanto esforço a sentar-se e
a levantar-se.
Evite colocar o cesto da roupa na casa de banho
pois é facilmente confundido com a sanita. É
preferível colocar o cesto noutro local da casa.
Para melhor referência e associação, coloque o
assento da sanita numa cor diferente para ser mais
fácil de identificar.

58 - Adaptação da Casa
A banheira, polibã e o chuveiro:

▪▪ Por vezes, uma banheira muito cheia de água


pode causar medo ou receio à pessoa com
demência. Certifique-se que a água do banho é
rasa e mostre-lhe para ficar tranquila (exemplo
coloque a mão na água para a pessoa ver que
não é fundo);
▪▪ Algumas pessoas sentem-se desorientadas ou
assutadas com os chuveiros aéreos. Escolha usar
um chuveiro de mão durante o banho;
▪▪ Pode colocar fita adesiva colorida à volta da
borda da banheira para ajudar a pessoa a definir
os limites da banheira;
▪▪ Coloque um tapete de borracha anti-derrapante
ou decalques anti-derrapantes na banheira;
▪▪ Instale uma barra de segurança ao longo da
banheira. Fixadas à parede são mais seguras do
que as fixadas na parte lateral da banheira;
▪▪ Os toalheiros, torneiras e lavatório não devem
ser utilizados como apoio pois não suportam o
peso de uma pessoa;
▪▪ Utilizar um dispensador de sabão líquido fixado
à parede é mais seguro para evitar ferimentos;
▪▪ Coloque pequenas almofadas ou fita de esponja
à volta das loiças sanitárias, como forma de
evitar ferimentos em caso de queda;
▪▪ Pode, ainda, ser necessário retirar as portas do
polibã e substituí-las por uma cortina de forma a
facilitar o acesso e a assistência.

Adaptação da Casa - 59
No espaço da casa de banho:
▪▪ É útil colocar varões fixos ou amovíveis na parede
da casa de banho para a pessoa se apoiar e para
ajudá-la a sentar-se ou levantar-se (os varões
são produtos de apoio);
▪▪ Se existir uma porta a separar a sanita do resto
da casa de banho, considere a possibilidade de
colocar a porta a abrir para fora ou uma porta
de fole para facilitar a assistência, caso seja
necessária;
▪▪ Caso o chão da casa de banho seja escorregadio,
pode substituí-lo por outro que seja anti-
-derrapante ou pintá-lo com uma tinta anti-
-derrapante;
▪▪ Retire os tapetes do chão pois podem provocar
quedas;
▪▪ Por razões de segurança, retire os produtos de
limpeza da casa de banho;
▪▪ Se pintar as paredes da casa de banho, utilize
uma cor que contraste com a banheira e lavatório,
para que a pessoa os visualize mais facilmente.

4.7 Decoração
▪▪ Se for preciso alterar a decoração e os espaços
da casa, tente mudar o mínimo pois é importante
mantê-los da forma o mais familiar possível;
▪▪ A decoração dos espaços deve ser simples e com
o mínimo de padrões (por exemplo nos estofos,
papel de parede e nas cortinas) pois podem ser

60 - Adaptação da Casa
perturbadores para a pessoa uma vez que podem
ser confundidos com objectos ou insectos;
▪▪ Deve utilizar cores suaves na decoração. Escolha
as cores primárias e evite as cores brilhantes;
▪▪ Utilize como decoração os trabalhos de artesanato,
pinturas ou bordados feitos pela pessoa,
ajudando-a assim a reforçar a auto-estima;
▪▪ Pendure quadros/painéis nas paredes com
diferentes texturas para estimular o toque, mas
veja como a pessoa reage às imagens;
▪▪ Retire os objectos pontiagudos que possam
provocar ferimentos, como por exemplo utensílios
para a lareira, abre cartas, tesouras e abre garrafas;
▪▪ Gravuras com uma imagem calma da natureza
pode ser benéfico;
▪▪ Ao fazer adaptações nos espaços da casa pode
ajudar a pessoa com demência a continuar
a realizar as suas actividades de forma mais
autónoma, segura e por mais tempo.

Objectivos das modificações nos espaços:


▪▪ Ajudar a prevenir quedas;
▪▪ Tornar o banho numa experiência agradável e
relaxante;
▪▪ Ajudar a pessoa a sentir-se confortável e segura;
▪▪ Respeitar a privacidade da pessoa;
▪▪ Possibilitar ao cuidador a prestação de cuidados
de uma forma mais fácil e segura.

Adaptação da Casa - 61
4.8 Cozinha
▪▪ Pode optar por usar um fogão de indução, para
evitar acidentes graves com fugas de gás;
▪▪ Use pratos anti-deslizantes e de cores diferentes
para serem fáceis de identificar pela pessoa (o
prato da sopa, o prato raso e o prato da sobremesa);
▪▪ Utilize copos adaptados com duas pegas e bocal
para facilitar a autonomia;
▪▪ Utilize talheres com cabos adaptados e mais
pesados que são uma boa opção para evitar os
tremores e facilitar a preensão. Podem ser uma
boa solução para uma refeição autónoma.

4.9 Gavetas
Há objectos que estão guardados em gavetas que
podem ser colocados à vista, para estimular o interesse
da pessoa, como artigos seguros e interessantes,
que lembrem boas recordações à pessoa ou que a
estimulem através das actividades, texturas ou cores.
Limpe e reorganize regularmente os armários e as
gavetas, diminua as quantidades de cada artigo e
mantenha apenas algumas das coisas mais utilizadas.

62 - Adaptação da Casa
Estratégias para a arrumação das gavetas e armários:

▪▪ As gavetas e armários devem ter etiquetas para


ajudar a pessoa a encontrar ou guardar as suas
coisas;
▪▪ Se a pessoa remexe constantemente nas gavetas
e armários e coloca os artigos noutro lugar,
pode ser necessário trancar alguns armários
para impedir o acesso a artigos quebráveis,
perigosos ou para evitar que a pessoa mexa em
documentos importantes;
▪▪ Sempre que possível, escolha fechaduras
discretas;
▪▪ Se quiser deixar alguns objectos à mostra
poderá retirar algumas portas de armários para
que fiquem visíveis esses objectos.

4.10 Iluminação

Se a pessoa consegue levantar-se sozinha durante


a noite, coloque uma luz de presença no quarto ou
na casa de banho para que, ao acordar, não fique
desorientada.

É útil uma iluminação na casa de banho que ajude


a ver a sanita, a borda da banheira ou da base do
duche.

Adaptação da Casa - 63
E durante a noite?
Podem realizar-se várias abordagens de iluminação
durante a noite, dependendo da situação de cada pessoa:

▪▪ Durante a noite e se a pessoa já estiver deitada,


não deixe (todas) as luzes da casa acesas para
que a pessoa não confunda a noite com o dia;
▪▪ Manter as luzes de presença ligadas para que a
pessoa não fique desorientada caso acorde e se
levante;
▪▪ Se a pessoa ainda não se foi deitar é positivo
deixar luzes acesas nas divisões principais e no
quintal, para que a pessoa deambule em maior
segurança.

4.11 Quarto
É importante tornar o quarto num local seguro e
prático para a pessoa com demência, sua família e
cuidadores.
O objectivo de fazer algumas alterações no quarto
é ajudar a pessoa com demência a deitar-se na sua
cama, dormir e descansar o máximo de tempo possível,
durante a noite.

64 - Adaptação da Casa
Perguntas que o cuidador deve fazer
quando pensar sobre as condições do quarto
onde dorme a pessoa a cuidar
(até pode ser o mesmo quarto que o seu):
▪▪ O quarto está suficientemente quente ou fresco
(dependendo da altura do ano)?
▪▪ A pessoa consegue levantar-se sozinha para ir à
casa de banho durante noite?
▪▪ O chão/piso é seguro, e não existem tapetes em
que a pessoa possa escorregar?
▪▪ Existem varões ou corrimãos para a pessoa se
apoiar para caminhar pelo quarto ou para ir à
casa de banho, sala ou cozinha ou a outra parte
da sua casa?

Facilitadores para o quarto:

▪▪ Camas articuladas com grades;


▪▪ Colchões ou almofadas no chão junto da cama, à
noite, para amparar as possíveis quedas;
▪▪ Luzes de presença;
▪▪ Lençóis de cores diferentes com dobra do lençol
de cima;
▪▪ Sem tapetes;
▪▪ Manter o percurso até à cama livre para irem
duas pessoas lado a lado (o cuidador e a pessoa
com demência).

Adaptação da Casa - 65
4.12 Sala
É importante manter a sala organizada e retirar todos
os obstáculos do caminho, especialmente nos sítios
de passagem. A pessoa com demência pode ter
dificuldade em reconhecer as mesas de apoio baixas
e, por isso, pode ser necessário removê-las, assim
como os tapetes que podem provocar quedas.

Se for necessário modificar a sala, tente mantê-la


o mais familiar possível. O objectivo geral será
simplificar a sala para que a pessoa com demência
possa manter as suas capacidades e utilizá-la
de um modo seguro. Deverá manter, se possível,
um ambiente familiar que permita desencadear
memórias na pessoa.

Verifique com regularidade se existem


elementos na sala que possam ser uma barreira
à independência ou à segurança da pessoa,
como por exemplo:
▪▪ Arestas dos móveis;
▪▪ Tapetes e revestimento do chão solto;
▪▪ Disposição da sala;
▪▪ Armários e a forma como estão organizados;
▪▪ Iluminação e brilho;
▪▪ Tomadas e fios eléctricos.

66 - Adaptação da Casa
4.13 Tomadas e fios eléctricos
▪▪ Pode colocar protectores nas tomadas e certificar-se
que as mesmas não estão sobrecarregadas com
adaptadores duplos;
▪▪ Fixe os fios eléctricos ao rodapé, de modo a evitar
que a pessoa tropece.

4.14 Tapetes e revestimento do chão


▪▪ Certifique-se que o revestimento do chão não
está solto e que as bordas dos tapetes não estão
levantadas, de forma a evitar que a pessoa tropece.

4.15 Produtos de higiene


▪▪ Retire ou tranque o champô, o amaciador, ou outros
produtos para o cabelo, produtos de limpeza, óleos
de banho, medicamentos, vitaminas, máquinas de
barbear, lâminas de barbear e outros utensílios
afiados;
▪▪ Utilize trincos ou fechaduras, mas sempre que
possível escolha modelos discretos.

Adaptação da Casa - 67
4.16 Segurança em casa
▪▪ Tenha à mão os números de telefone importantes
de emergência: INEM, Polícia, Bombeiros e de
pessoas que conhece e que podem ajudar caso
seja necessário, tais como vizinhos e/ou família;
▪▪ Verifique se os produtos de limpeza e
medicamentos estão fechados;
▪▪ Tenha as portas e janelas fechadas se estas forem
um risco para a pessoa (por exemplo durante a
noite ou se morar num prédio alto);
▪▪ Retire os objectos afiados que possam ser
perigosos e ferir a pessoa;
▪▪ Coloque protectores nas tomadas e evite usar
adaptadores duplos para não sobrecarregar as
tomadas;
▪▪ Prenda os fios eléctricos ao rodapé, de modo a
evitar que a pessoa tropece neles;
▪▪ Se a pessoa fumar, utilize cinzeiros com um pouco
de água dentro, é mais seguro;
▪▪ Retire as cadeiras de rodas e cadeiras de balanço
para evitar quedas;
▪▪ Coloque na parede imagens, fotografias e
sinaléticas para explicar o significado dos objectos
(exemplo fogão, lavatório, duche, etc.);
▪▪ Mantenha a casa arejada e usufrua do espaço.

68 - Adaptação da Casa
Direitos

5
Principais Direitos da pessoa com deficiência

Constituição da República Portuguesa:

Artigo 13.º
(Princípio da igualdade)
1. Todos os cidadãos têm a mesma dignidade social e são
iguais perante a lei.
Artigo 26.º, n.º 1:
A todos são reconhecidos os direitos a identidade pessoal,
ao desenvolvimento da personalidade, a capacidade civil, a
cidadania, ao bom nome e reputação, a imagem, a palavra,
a reserva da intimidade da vida privada e familiar e a
protecção legal contra quaisquer formas de discriminação.
Artigo 71.º
(Cidadãos portadores de deficiência)
1. Os cidadãos portadores de deficiência física ou mental
gozam plenamente dos direitos e estão sujeitos aos
deveres consignados na Constituição, com ressalva do
exercício ou do cumprimento daqueles para os quais se
encontrem incapacitados.

DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS


Artigo 1.º
“Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e
direitos (...)”.
Adoptada e proclamada pela Assembleia-Geral na sua Resolução
217A (III), de 10 de Dezembro de 1948.
Publicada no Diário da República, I Série A, n.º 57/78, de 9 de
Março de 1978, mediante aviso do Ministério dos Negócios
Estrangeiros.
Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência.

70 - Direitos
Artigo 3.º
Princípios gerais
a) O respeito pela dignidade inerente, autonomia individual,
incluindo a liberdade de fazerem as suas próprias escolhas,
e independência das pessoas;
b) Não discriminação;
c) Participação e inclusão plena e efectiva na sociedade;
d) O respeito pela diferença e aceitação das pessoas
com deficiência como parte da diversidade humana e
humanidade;
e) Igualdade de oportunidade;
f) Acessibilidade;
g) Igualdade entre homens e mulheres;
h) Respeito pelas capacidades de desenvolvimento das
crianças com deficiência e respeito pelo direito das crianças
com deficiência a preservarem as suas identidades.
Adoptada a 13 de Dezembro de 2006 (resolução A/RES/61/106)
e assinada por Portugal em 30 de Março de 2007.

O Regime Jurídico do Maior Acompanhado foi aprovado


pela Lei n.º 49/2018, em 14 de Agosto, vem substituir os
Institutos da Interdição e Inabilitação.
O maior impossibilitado, por razões de saúde, deficiência
ou pelo seu comportamento, de exercer plena, pessoal
e conscientemente os seus direitos ou de, nos mesmos
termos, cumprir os seus deveres, beneficia das medidas
de acompanhamento.
O acompanhamento é requerido pelo próprio ou,
mediante autorização deste, pelo cônjuge, pelo
unido de facto, por qualquer parente sucessível ou,
independentemente de autorização, pelo Ministério
Público.

Direitos - 71
O acompanhante, maior e no pleno exercício dos seus
direitos, é escolhido pelo acompanhado ou pelo seu
representante legal, sendo designado judicialmente.
Podem ser designados vários acompanhantes com
diferentes funções, especificando-se as atribuições de
cada um.
A Estratégia da Saúde para a Área das Demências e
constituição e acompanhamento da Coordenação do
Plano de Saúde (despacho n.º 5988/2018) estabelece
como princípio o consentimento informado e autonomia
a que devem obedecer os cuidados a pessoas com
demência.

Gestor de negócios
Atenta a noção legal de gestão de negócios (cfr. artigo 464.º
C. Civil: Dá-se a gestão de negócios, quando uma pessoa
assume a direcção de negócio alheio no interesse e por
conta do respectivo dono, sem para tal estar autorizada.).

72 - Direitos
É importante que a pessoa com demência planeie
o futuro sobre a gestão da sua pessoa e seus bens,
nomeadamente.
▪▪ Mandato com vista ao acompanhamento;
▪▪ Testamento Vital;
▪▪ Nomear Procurador para cuidados de saúde.

O mandato com vista ao acompanhamento


é introduzido pela Lei do Maior Acompanhado.
O maior pode, prevenindo uma eventual
necessidade de acompanhamento, celebrar um
mandato para a gestão dos seus interesses, com
ou sem poderes de representação.
O mandato segue o regime geral e especifica
os direitos envolvidos e o âmbito da eventual
representação, bem como quaisquer outros
elementos ou condições de exercício, sendo
livremente revogável pelo mandante.
No momento em que é decretado o
acompanhamento, o tribunal aproveita o mandato,
no todo ou em parte, e tem-no em conta na
definição do âmbito da proteção e na designação
do acompanhante. O tribunal pode fazer cessar
o mandato quando seja razoável presumir que a
vontade do mandante seria a de o revogar.

Direitos - 73
O Testamento Vital
As directivas antecipadas de vontade, designadamente
sob a forma de testamento vital, são o documento
unilateral e livremente revogável a qualquer momento
pelo próprio, no qual uma pessoa maior de idade e
capaz, que não se encontre actualmente interdita
ou inabilitada por anomalia psíquica, manifesta
antecipadamente a sua vontade consciente, livre e
esclarecida, no que concerne aos cuidados de saúde
que deseja receber, ou não deseja receber, no caso de,
por qualquer razão, se encontrar incapaz de expressar
a sua vontade pessoal e autonomamente.
Podem constar do documento de directivas antecipadas
de vontade as disposições que expressem a vontade
clara e inequívoca do outorgante, nomeadamente:
a) Não ser submetido a tratamento de suporte
artificial das funções vitais;
b) Não ser submetido a tratamento fútil, inútil
ou desproporcionado no seu quadro clínico e
de acordo com as boas práticas profissionais,
nomeadamente no que concerne às medidas
de suporte básico de vida e às medidas de
alimentação e hidratação artificiais que
apenas visem retardar o processo natural de
morte;
c) Receber os cuidados paliativos adequados ao
respeito pelo seu direito a uma intervenção
global no sofrimento determinado por doença
grave ou irreversível, em fase avançada,
incluindo uma terapêutica sintomática
apropriada;

74 - Direitos
d) Não ser submetido a tratamentos que se
encontrem em fase experimental;
e) Autorizar ou recusar a participação em
programas de investigação científica ou
ensaios clínicos.
Portaria n.º 141/2018, de 18/05.
Regulamenta a organização e funcionamento e Registo
Nacional do Testamento Vital.

Procuração de cuidados de saúde


Documento pelo qual se atribui a uma pessoa,
voluntariamente e de forma gratuita, poderes
representativos em matéria de cuidados de saúde,
para que aquela os exerça, no caso de o outorgante
se encontrar incapaz de expressar de forma pessoal
e autónoma a sua vontade.

Direitos - 75
Bem-Estar do Cuidador

6
O BEM-ESTAR DO CUIDADOR

“Para ser grande, sê inteiro: nada


Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.”

Fernando Pessoa

“Amor, compaixão e preocupação pelos outros

são verdadeiras fontes de felicidade.”

Dalai Lama

78 - Bem-estar do Cuidador
“Não importa se a estação do ano muda...
Se o século vira, se o milénio é outro.
Se a idade aumenta...
Conserva a vontade de viver,
Não se chega a parte alguma sem ela.”

Fernando Pessoa

“Um amigo chamou-me para cuidar da sua dor.

Guardei a minha no bolso. E fui.”

Clarice Lispector

Bem-estar do Cuidador - 79
“Sentir tudo de todas as maneiras,

Viver tudo de todos os lados,

Ser a mesma coisa de todos


os modos possíveis ao mesmo tempo,

Realizar em si toda a humanidade


de todos os momentos

Num só momento difuso,


profuso, completo e longínquo.”

Fernando Pessoa

80 - Bem-estar do Cuidador
Contactos Úteis

7
7. CONTATOS ÚTEIS

Associação de Alzheimer (Sede)


Avenida de Ceuta Norte, Lote 15 - piso 3
Quinta do Loureiro - Lisboa
Telefone: 213 610 460/8

Linha de Apoio “Informar e Apoiar Mais”


Horário de atendimento: 09h30-17h00
Telefone: 213 610 465
e-mail: informarmais@alzheimerportugal.org

Centro de Dia Prof. Doutor Carlos Garcia


Avenida de Ceuta Norte, Lote 1 - Loja 1 e 2
Quinta do Loureiro - Lisboa
Telefone: 213 609 300
e-mail: geral@alzheimerportugal.org

Lar e Centro de Dia “Casa do Alecrim”


Rua Joaquim Miguel Serra Moura, n.º 256
Alapraia - Estoril
Telefone: 214 525 145
e-mail: casadoalecrim@alzheimerportugal.org

82 - Contatos Úteis
Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (Sede)
Telefone: 213 235 000

Café Memória - SCML


Telemóvel: 964 034 204
(Dra. Elisabete Pinto - Departamento de Qualidade
e Inovação da SCML)
e-mail: cafe.memoria@scml.pt

UDIP Luz
(Freguesias de São Domingos de Benfica, Benfica
e Carnide)
Telefone: 217 543 300

UDIP Alta de Lisboa


(Freguesias do Lumiar e Santa Clara)
Telefone: 217 543 300

UDIP Descobertas
(Freguesias de Belém, Ajuda, Alcântara e Campo
de Ourique)
Telefone: 213 943 800

UDIP Marvila
(Freguesia de Marvila)
Telefone 218 554 100

Contatos Úteis - 83
UDIP Avenidas
(Freguesias de Alvalade, Avenidas Novas e Campolide)
Telefone: 217 543 300

UDIP Madredeus
(Freguesias do Beato e Penha de França)
Telefone: 218 420 400

UDIP Alameda
(Freguesias do Areeiro e Arroios)
Telefone: 218 420 400

UDIP Oriente
(Freguesias dos Olivais e Parque das Nações)
Telefone: 218 554 100

UDIP Colinas
(Freguesias de São Vicente e Santa Maria Maior)
Telefone: 213 235 600

SGPA - Serviço de Gestão de Produtos de Apoio


Telefone (Geral): 213 400 220

Direção de Saúde SCML


Telefone (Secretariado): 213 235 070

84 - Contatos Úteis
Direção de Saúde SCML
Telefone (Secretariado): 213 235 070

Unidade de Saúde do Bairro Padre Cruz/Telheiras


Telefone: 217 109 010

Extensão Telheiras
Telefone: 217 124 170

Unidade de Saúde do Bairro da Boavista


Telefone: 217 624 100

Unidade de Saúde do Vale de Alcântara/Tapada


Telefone: 213 600 600

Extensão Tapada
Telefone: 213 609 440

Unidade de Saúde do Castelo/Natália Correia


Telefone: 218 820 800

Extensão Natália Correia


Telefone: 218 109 090

Unidade de Saúde do Bairro do Armador


Telefone: 218 310 790

Contatos Úteis - 85
Unidade de Saúde Dr. José Domingos Barreiros
Telefone: 218 618 600

Unidade de Saúde W Mais SCML


Telefone: 213 180 380

Câmara Municipal de Lisboa


Telefone (Geral): 808 203 232

Edifício Central (Campo Grande):


Telefone: 217 988 000

Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo


Telefone: 218 499 723

Instituto de Segurança Social de Lisboa


Telefone: 300 502 502 (dias úteis das 9h00 às 18h00)

Centro Nacional de Pensões


Telefone: 300 511 300

86 - Contatos Úteis
BIBLIOGRAFIA

Associação Portuguesa de Familiares e Amigos de Doentes de


Alzheimer. Consultado em 2018. Disponível em:
http://alzheimerportugal.org/pt/text-0-15-73-153-sugestoes-para-os-
-amigos

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Figures (these are US based figures)

Castro-Caldas, A., Mendonça A. (coordenação), et al (2005)


A Doença de Alzheimer e Outras Demências em Portugal:
Lisboa-Porto: Lidel, edições técnicas.

Carvalho, M.I.L.B. de. Entre os cuidados e os cuidadores: o feminino


na configuração da política de cuidados às pessoas idosas.
Disponível em:
http://recil.grupolusofona.pt/jspui/bitstream/10437/1947/1/curso2.pdf.

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Disponivel em:
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Directrizes da Alzheimer Portugal, Consultado em Abril 2018.


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Espadaneira, R. (2008). Diferentes formas de envelhecer…por primuscare.pt.


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Frasera, K.C., Meltzerb , J.A., Rudzicza, F. (2016).


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Journal of Alzheimer’s Disease. 49 407–422 DOI 10.3233/JAD-150520
IOS Press 407

Lewis et al (2014), The Trajectory of Dementia in the UK – Making a


Difference, report produced by OHE for Alzheimer’s Research UK
Portal do Envelhecimento, Consultado em Abril de 2018.
Disponível em:
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-diferentes-formas-de-envelhecer/

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of Dementia: An analysis of prevalence, incidence, cost and trends

World Alzheimer Report 2014, Dementia and Risk Reduction, An


Analysis Of Protective And Modifiable Factors (2014). Alzheimer’s
Disease International (ADI), London.

Virtual Dementia Experience. Consultado em Julho 2018, Disponível


em:
https://www.dementia.org.au/learning/centre-for-dementia-learning/
/virtual-dementia-experience
Ficha Técnica
EDIÇÃO
SANTA CASA DA MISERICÓRDIA DE LISBOA
Sérgio Cintra
Administrador Executivo SCML
COORDENAÇÃO
Cristina Vaz de Almeida
Diretora Serviço de Gestão de Produtos de Apoio (SGPA), Doutoranda em Ciências da
Comunicação, Literacia em Saúde; Mestre em Comunicação em e-learning, Pós-Graduada
em Psicologia Positiva, Pós-Graduada em Marketing

CO-AUTORAS

Ana Paula Rodrigues


(SGPA)
Licenciada em Serviço Social, Pós-Graduada em Gerontologia Social

Guida Amorim
(Direção Saúde Santa Casa)
Enf.ª Especialista em Saúde Mental e Psiquiatria,
Mestre em Enfermagem em Saúde Mental e Psiquiatria

Leonor Anachorêta Matoso


(SGPA),
Licenciada em Serviço Social,
Pós-Graduada em Psicologia Comunitária e Protecção de Menores

FOTOGRAFIA
Núcleo de Audiovisuais e Multimédia, SCML

PRODUÇÃO GRÁFICA
Núcleo Gráfico - Jogos Santa Casa
Coordenação Gráfica
Manuel Campos
Director Núcleo Gráfico

Design
Mário Bastos
(Núcleo Gráfico JSC)

Paginação Revisão Impressão


Rui Couchinho | Dr. António Duarte | Carlos Paiva, Paulo Santos
(Núcleo Gráfico JSC)

REVISÃO DE CONTEÚDOS
AÇÃO SOCIAL E DIREÇÃO SAÚDE SANTA CASA DA MISERICÓRDIA DE LISBOA
Etelvina Ferreira, Diretora da DIDIP, Ação Social; Isabel Peres Lourenço,
Enfermeira Chefe, Direção Saúde; Luís Afonso, Diretor Clínico,
Direção Saúde; Manuela Marques, Enfermeira Diretora, Direção Saúde;
Regina Almeida, Diretora da UAPEA/Ação Social.
Aos Cuidadores

Os Cuidadores Informais são pessoas que precisam muitas


vezes de apoio e orientação para melhorar o seu desempenho
na sua tarefa de cuidar.
Cuidar de uma pessoa com demência exige muitas
capacidades e competências individuais físicas, psicológicas
e emocionais.
Pela experiência da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa
nesta área, através das suas áreas de Ação Social e Saúde,
surge este conjunto informativo com diversas sugestões.
É com este propósito de fornecer informação e tornar o
dia-a-dia do cuidador mais simples que lhe apresentamos
este Guia de sugestões elaborado por especialistas em
saúde nas áreas do envelhecimento e demência.
Esperamos que desfrute deste guia e que seja facilitador do
seu dia-a-dia.

Administrador Executivo
Sérgio Cintra

ISBN

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