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O Estado da Arte

da Formação Profissional e
Emprego de Pessoas
com Deficiência e Incapacidades

Organização
Ana Brás
Ana Cruz
António Ribeiro
Mário Pereira
Virgínia Fernandes

Edição
Francisca Silva
Raul Rocha

Coimbra, Dezembro 2016

Formação Profissional e Emprego de PCDI - O Estado da Arte em 2016


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Edição Especial ‒ Cadernos FORMEM, nº 7
Ano de 2016

Edição e Distribuição:
FORMEM – Federação Portuguesa de Centros de
Formação Profissional e Emprego de Pessoas com Deficiência
Edifício CTCV, 3º piso
Rua Coronel Júlio Veiga Simão
3025-307 Coimbra, Portugal
+351 92 51 42 209
formem.federacao@gmail.com
www.formem.org.pt

Publicação e Projeto cofinanciado pelo:


Programa Nacional de Financiamento a Projetos pelo INR,I.P., 2016

Execução Gráfica:
Tipografia Lousanense, Lda. – Lousã

Depósito Legal nº305453/10

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Índice

Índice ....................................................................................................................... 3
Introdução ................................................................................................................ 5
1 – Enquadramento.................................................................................................... 8
1.1 – Enquadramento histórico ................................................................................... 8
1.2 – O enquadramento legislativo e normativo ....................................................... 13
1.3 – Dados sobre a atividade desenvolvida ............................................................. 16
1.4 – Glossário de termos da Formação Profissional e Emprego de PCDI .................. 19
2 – A Formação....................................................................................................... 32
2.1 – Os percursos formativos .................................................................................. 34
2.2 – As metodologias de formação mais utilizadas .................................................. 37
2.3 – A Certificação dos Formandos ......................................................................... 41
2.4 – As estruturas dos percursos e as dificuldades de individualização da formação . 44
3 – Os Formandos ................................................................................................... 46
3.1 – O público-alvo tradicional e os novos públicos ................................................ 46
3.2 – As pessoas com DID ligeira .............................................................................. 49
3.3 – As pessoas com DID ligeira em Portugal .......................................................... 53
3.4 – Quem são, hoje, os formandos ....................................................................... 55
4 – As estruturas especializadas em reabilitação profissional na sua relação com a
comunidade ............................................................................................................ 58
4.1 – As escolas e rede de estruturas formadoras para o público em geral ................. 58
4.2 – Com as empresas e o mercado de trabalho ..................................................... 60
4.3 – Os Centros de Recursos para a Qualificação e o Emprego ............................... 62
5 – Os resultados conseguidos .................................................................................. 65
5.1 – Formação realizada e colocação ...................................................................... 65
5.2 – Os custos da formação .................................................................................... 69
5.3 – A relação custo-benefício ................................................................................ 71
5.4 – O que dizem os formandos ............................................................................. 74
5.4.1 – Sobre a Formação Profissional................................................................... 74
5.4.2 – Sobre a sua qualidade de vida .................................................................. 79
6 – O modelo desejável ........................................................................................... 83
6.1 – Os princípios orientadores ............................................................................... 83
6.2 – A formação como instrumento para acesso ao mercado de trabalho ............... 84
6.3 – O contributo da formação para a integração social numa perspetiva global .... 86

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6.4 – A ligação deste sistema ao sistema escolar e formativo .................................... 87
6.5 – Modalidades de Formação .............................................................................. 88
6.6 – A relação das estruturas de formação com os Centros de Recursos Locais para a
Qualificação e Emprego ........................................................................................... 90
6.7 – Questões técnicas e metodológicas .................................................................. 91
6.8 – Novas competências dos profissionais ............................................................. 93
7 – O que é possível a curto prazo ........................................................................... 94
Conclusão ............................................................................................................... 96
Referências Bibliográficas ......................................................................................... 98
Documentos Normativos – Legais ............................................................................. 99
Anexos ..................................................................................................................100
Anexo I – Questionários Estado da Arte (FORMEM, 2016a) ................................... 100
Anexo II – Questionário de grupo (FORMEM, 2016b) ........................................... 106
Anexo III – Questionário de avaliação subjetiva (FORMEM, 2016c) ....................... 108

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Introdução

A FORMEM (Federação Portuguesa de Centros de Formação Profissional e


Emprego para Pessoas com Deficiência), ao completar 25 anos de vida, entendeu
elaborar um documento que constitua, por um lado, uma reflexão sobre a caminhada
de 25 anos e, por outro, que permita consolidar uma visão do caminho que se quer
percorrer no futuro.

As discussões tidas sobre estes temas tendem a ficar presas em questões gerais ou
de princípio e, geralmente, não envolvem a análise de dados e de evidências.

Nesse sentido, o documento apresentado é o resultado de uma reflexão alargada


entre os órgãos sociais e as associadas da FORMEM, bem como outras entidades que
promovem formação profissional para Pessoas com Deficiência e Incapacidades (PCDI) ‒
participantes em ações da FORMEM ‒, espelhando também dados sobre a atividade
desenvolvida pelas associadas e a perspetiva dos formandos.

Uma premissa presente neste documento, que as conversas com as associadas


ajudaram a consolidar, permite definir que o universo da Formação Profissional
especializada em Portugal não é, de todo, homogéneo e essa diversidade é confirmada
pelos dados obtidos. Assim, o Estado da Arte em 2016 da Formação Profissional e
Emprego de Pessoas com Deficiência e Incapacidades (Estado da Arte) não presume uma
representação total, homogénea e muito menos única da realidade, procurando sim,
com os dados e a experiência dos atores no terreno, contribuir para uma clarificação das
políticas de promoção da qualificação e emprego das PCDI e empreender um esforço no
alinhamento de uma visão sobre o futuro desejável e possível.

No âmbito deste trabalho, não faria sentido refletir e analisar sem, no final,
arriscar a apresentação de propostas para a reorganização do sistema de formação
profissional, bem como dos apoios ao emprego das PCDI que potenciam as suas
oportunidades de inclusão socioprofissional.

Por razões muito diversas, as organizações têm tido dificuldades em transformar


a experiência em conhecimento sistematizado, sendo este fator um obstáculo à
visibilidade social do trabalho desenvolvido e para que não exista uma verdadeira
consciência da sua dimensão e valor para a sociedade. Deste modo, este documento,

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publicado em edição especial dos Cadernos FORMEM, ambiciona, também, evidenciar
o valor e trabalho efetuado, dando seguimento às publicações anuais iniciadas em 2009
e que procuram ser espaços de partilha e de conhecimento aberto a todos os
profissionais e entidades formadoras.

É importante referir que só foi possível apresentar esta visão do Estado da Arte
devido aos contributos das incansáveis associadas da FORMEM, da ativa participação
dos técnicos e dirigentes das mais variadas entidades promotoras de formação
profissional para PCDI, e da especial contribuição dos formandos e ex-formandos. A
todos estes intervenientes uma merecida nota de agradecimento, bem como ao Instituto
Nacional para a Reabilitação, que cofinanciou este projeto através do Programa
Nacional de Financiamento a Projetos pelo INR, I.P. 2016.

Os contributos referidos foram recolhidos nas seguintes ações promovidas pela


FORMEM em 2016:

 Debate com Técnicos e Diretores (Coordenadores) da Formação Profissional


sobre Percursos Formativos Tipo B e C, realizado em Coimbra no dia 10 de maio
de 2016 (inscrição de 86 pessoas no total);

 Debate com Dirigentes e Diretores (Coordenadores) da Formação Profissional


sobre a Análise da Realidade e Oportunidades para o Futuro da Formação
Profissional e Emprego de PCDI em Portugal, realizado em Coimbra no dia 23
de junho de 2016 (inscrição de 64 pessoas no total);

 Sessão sobre Experiências e Práticas no Desenvolvimento da Formação


Profissional para PCDI, ocorrida no dia 15 de julho de 2016 em Vila Nova de
Gaia (inscrição de 39 pessoas no total);

 Encontro de Formandos e Ex-formandos, realizado em Gouveia no dia 23 de


setembro de 2016 (inscrição de 560 pessoas no total, incluindo formandos, ex-
formandos e técnicos);

 O Questionário sobre a Formação Profissional e Emprego de PCDI, que foi


disponibilizado às associadas da FORMEM em setembro de 2016 (resposta de 23
entidades);

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 Sessão sobre Contratos de Emprego Apoiado em Mercado Aberto (EAMA),
realizada em Tomar no dia 5 de dezembro de 2016 (inscrição de 64 pessoas no
total).

Grande parte dos dados estatísticos que são utilizados resultam do questionário
suprarreferido, lançado junto das associadas da FORMEM, ao qual responderam 23
entidades (FORMEM, 2016a), aproximadamente 19% do universo total de entidades
que promovem formação profissional para PCDI e que representam cerca de 2.500
formandos, aproximadamente 15% das pessoas abrangidas pela reabilitação profissional
em Portugal (IEFP, 2016b).

Será importante salvaguardar que nem todas as entidades responderam à


totalidade das questões, pelo que os números apresentados podem variar consoante o
tema e assuntos abordados. Nesse sentido, os dados agregados apresentados são um
importante contributo para analisar tendências mas não devem ser interpretados com
dados absolutos.

De forma sintética, a estrutura explanativa deste trabalho começa por fazer um


enquadramento da atividade em Portugal, incluindo um importante exercício de
compilação de termos relacionados com a temática. Num momento posterior aborda a
organização e funcionamento da formação profissional, incluindo a perspetiva dos
formandos, e termina com uma reflexão sobre o futuro desejado, com propostas
concretas, sintetizando os pontos fulcrais deste documento.

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1 – Enquadramento

1.1 – Enquadramento histórico

A Formação Profissional para as PCDI tem, em Portugal, uma história


profundamente interligada com o movimento que permitiu o desenvolvimento dos
apoios a crianças e jovens com deficiência desencadeado após o 25 de Abril de 1974,
diretamente relacionada com a democratização da sociedade e a luta pelos direitos e
cidadania das pessoas com deficiência que eram, então, um grupo particularmente
excluído e marginalizado.

Entre 1975 e 1990 nasceu e consolidou-se o movimento de Cooperativas de


Educação e Reabilitação para Crianças/Cidadãos Inadaptados/com Incapacidades
(CERCIs) e foram criadas, em todo país, muitas outras organizações não-governamentais
com o estatuto jurídico de Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS),
dinamizadas por pais, profissionais e cidadãos preocupados, sobretudo orientadas para
o apoio a pessoas com deficiências intelectuais e motoras.

Este movimento germinou com a missão de assegurar o direito à educação e ao


desenvolvimento das crianças e jovens com deficiência e incapacidade, tendo como
caraterística inovadora a sua disseminação por todo o território nacional e a
aproximação às populações.

O objetivo destas organizações sempre foi a promoção dos direitos e da


cidadania, pelo que as atividades que têm vindo a desenvolver, incluindo a formação
profissional, são atividades instrumentais para a prossecução da promoção das pessoas
com deficiência que, sem esse apoio, rapidamente caiem em situações de exclusão e
abandono.

Em Portugal, a concretização dos direitos das pessoas com deficiência e a sua


qualidade de vida é essencialmente assegurada por estas organizações sem fins
lucrativos, limitando-se o Estado a garantir o seu acesso aos cuidados de saúde e à
educação. Foram cerca de uma dezena destas organizações que, em meados da década
de 1980, conseguiram apresentar candidaturas a programas de formação profissional e
aos primeiros programas de apoio comunitário.

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A formação profissional ganha importância na segunda metade da década de
1980 devido à conjugação de diversos fatores que impulsionaram uma mudança
estrutural na dimensão e natureza das organizações, nomeadamente:

 As crianças e jovens admitidos anos antes cresceram e tornaram-se jovens e


adultos para quem as atividades tipicamente escolares deixaram de ser úteis;

 O desenvolvimento do movimento pró-integração escolar fez com que


chegassem cada vez mais jovens e menos crianças a estas organizações;

 Esta chegada de mais jovens (e menos crianças) levou à procura de soluções que
permitissem preparar estes jovens para uma atividade profissional de modo a
que pudessem ter uma vida socialmente integrada.

A integração de Portugal na Comunidade Económica Europeia (CEE), agora


União Europeia (UE), permitiu que o Fundo Social Europeu (FSE) começasse a
disponibilizar verbas importantes também para a formação profissional de pessoas com
deficiência.

As crianças e jovens cresceram e tornaram-se jovens e adultos para quem as atividades


tipicamente escolares deixaram de ser úteis.

As crianças e jovens admitidos com 6 anos em 1975, passados 10 anos já tinham


16 e os que haviam sido admitidos com mais de 10 já tinham 20 ou mais anos, gerando
assim a necessidade de criar outras atividades.

As organizações começaram a avançar com algumas experiências de treino


profissionalizante, aproveitando o conhecimento dos professores de trabalhos manuais
ou trabalhos oficinais destacados pelo Ministério da Educação.

Este processo ganhou dimensão com o desenvolvimento da “pré-


profissionalização”, que contou com o apoio de um programa de cooperação Luso-
Sueco e permitiu a construção e equipamento de algumas oficinas, tendo posteriormente
o Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) realizado uma ação de apoio à
construção de vários centros de “Pré-profissional”, alguns deles equipados para várias
áreas profissionais, sendo as áreas mais frequentes a serralharia, carpintaria, cerâmica,
tecelagem, agricultura, jardinagem e têxteis.

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Será importante referir, neste exercício de descrição resumida do enquadramento
histórico, que logo nos anos a seguir a 1975 houve um forte impulso do movimento de
integração das pessoas com deficiência visual, auditiva e motora nas escolas regulares,
com a criação das denominadas Equipas de Ensino Especial em cada distrito. Fruto desta
experiência, da pressão das famílias e também de algumas das organizações, em 1985/86
surgiram equipas de ensino especial de âmbito local, potenciando a progressiva redução
da admissão de alunos nas escolas especiais, cujo número, na larga maioria do território
nacional, se tornou residual e cada vez mais focada nas crianças e jovens com grandes
incapacidades.

Neste contexto, os jovens com deficiência que fizeram a escolaridade integrados


na escola regular começaram a recorrer de novo às organizações especializadas na
procura de uma preparação que os capacitasse para o ingresso no mercado de trabalho.

Esta situação levou a que muitas organizações se reorganizassem, criando


parcerias com o Ministério da Educação para o funcionamento de Centros de Recursos
para a Inclusão (CRI) e reduzindo ou encerrando as suas escolas especiais. Outra solução
encontrada assentou no investimento em estruturas relacionadas com a Formação
Profissional e o Emprego, destinadas a jovens e adultos com capacidades de trabalho, e
nos Centros de Atividades Ocupacionais (CAO), para os adultos sem condições para
acederem à Formação Profissional ou ao emprego.

A integração de Portugal na União Europeia fez com que o Fundo Social Europeu
começasse a disponibilizar verbas também para a Formação Profissional de Pessoas com
Deficiência.

O financiamento do FSE, iniciado com a entrada de Portugal na Comunidade


Económica Europeia em 1 de Janeiro de 1986, permitiu avançar para programas de
formação profissional em regime de cofinanciamento com os fundos estruturais da CEE.
Este apoio foi essencial para o desenvolvimento do sistema de Formação Profissional
para PCDI existente em Portugal e, nos dias da hoje, ainda é a sua principal fonte de
financiamento.

O apoio do IEFP e dos Fundos Comunitários permitiu a criação de estruturas


com razoável dimensão e, em alguns casos, com equipamentos tecnológicos, à época,
bastante modernos. Este investimento em estruturas e equipamentos foi muito

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importante na fase inicial para a consolidação do sistema de formação, mas passados
trinta anos sobre essa fase, e apesar desses equipamentos continuarem a ter aspetos
muito positivos, são atualmente um foco de preocupação. Por um lado, precisam de
renovados investimentos e atualizações e, por outro lado, criam dificuldades a soluções
formativas mais flexíveis e adaptadas às necessidades sentidas em cada momento, pelos
candidatos ou mesmo pelo mercado de trabalho.

A especialização das estruturas levou também a uma especialização dos


formadores, cuja reconversão, ainda hoje, tem aspetos problemáticos. Nesse sentido, a
falta de programas de financiamento específicos para a renovação das instalações e
equipamentos tem criado grandes dificuldades às organizações na sua atualização que,
deste modo, vão ficando cada vez menos eficientes e mais obsoletos.

Hoje é reconhecida pelas organizações a dificuldade em adaptar estas estruturas


às variações nas orientações que, por norma, ocorrem sempre que começa um novo
quadro comunitário de apoio e aos novos modelos formativos, sendo que os custos de
funcionamento destas estruturas e a dimensão dos quadros de pessoal que exigem têm
reflexos significativos no custo das ações.

As organizações que promovem a Formação Profissional de pessoas com deficiência em


Portugal no século XXI

O número de entidades que promovem a formação profissional foi crescendo de


forma difusa e sem qualquer planeamento, estando atualmente 125 entidades
abrangidas pela Resolução do Conselho de Ministros nº 4/2016, distribuídas
praticamente por todo o território nacional.

As organizações que integram esta rede de entidades que fazem formação


profissional, regra geral, iniciaram a sua atividade criando escolas de educação especial,
que depois viriam a ser substituídas por programas de apoio à inclusão escolar. São
exceção as organizações que apenas se dedicam à formação profissional, contudo, elas
existem e são uma realidade interessante a ter em conta.

Todavia, atualmente a generalidade destas organizações prestam serviços a


pessoas com deficiência e incapacidade em muitas outras áreas além da formação
profissional, sendo o seu peso na atividade das organizações muito variado. Na maioria
destas organizações, a formação profissional coexiste com programas de Intervenção

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Precoce na Infância, Centros de Recursos para a Inclusão escolar, Centros de Atividades
Ocupacionais e apoios residenciais.

Este enquadramento é importante pois determina que a formação profissional


seja encarada como um elemento de um continuum de serviços a longo prazo e não
como cursos avulsos e pontuais. Acresce ainda que a inserção da formação profissional
em organizações com outras valências permitiu a sua subsistência em períodos em que
os financiamentos foram interrompidos, o que aconteceu sempre que se mudou de
Quadro Comunitário de Apoio. Sem essa rede de suporte, a formação profissional
nunca teria ganho a dimensão nem a expansão territorial que alcançou.

Esta “condição singular”, a inserção da Formação Profissional num contexto


organizacional de apoio às PCDI mais abrangente, foi determinante na sua evolução e
enquadramento dentro das entidades, fazendo parte dessa rede de apoios de grande
complexidade.

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1.2 – O enquadramento legislativo e normativo

O sistema de formação profissional para as PCDI desenvolveu-se com base numa


parceria estratégica que envolve os Fundos Comunitários como grandes financiadores, o
IEFP como entidade gestora e coordenadora das ações e as entidades privadas sem fins
lucrativos como executoras das ações.

Estas parcerias e as interdependências que delas decorrem, nem sempre têm sido
bem compreendidas por todos os parceiros. Em muitos momentos as regras têm sido
estabelecidas sem o envolvimento dos executores no terreno e, nos momentos de
transição de quadro comunitários, têm acontecido sucessivas situações de confusão e de
estrangulamentos financeiros.

Ao longo dos anos, a nível político, também foram havendo orientações


diversas, tendo, por exemplo, a Formação Profissional ficado sob a tutela da Segurança
Social num dos quadros comunitários, ao abrigo do Programa Integrar.

É nesta conjuntura difusa de políticas e de financiamento da Formação


Profissional que a FORMEM surge, em 1991, com o duplo objetivo: organizar as
entidades que se envolveram na formação profissional, criando um interlocutor com o
IEFP e o FSE; e contribuir para a discussão e consolidação do sistema de apoio à
formação profissional e ao emprego das pessoas com deficiência.

A legislação que enquadrou as ações de formação profissional também espelha as


mutações acima referidas. Se em termos gerais a Constituição da República Portuguesa
(CRP) e o Decreto-Lei n.º 132/1999 balizou os direitos gerais das pessoas com deficiência
enquanto cidadãos incluídos nas políticas de emprego, até à Lei n.º 38/2004 de 18 de
Agosto ter consagrado o Regime Jurídico da Prevenção, Habilitação, Reabilitação e
Participação da Pessoa com Deficiência, a legislação específica da formação e emprego
de PCDI passou por diversas etapas normativas que se passa sinteticamente a referir.

A primeira legislação que começou a estruturar o atual sistema remete para o


Despacho Normativo 336/1978, de 18 de Dezembro, que estabelece normas sobre a
reabilitação e integração dos deficientes, com apoio financeiro através do Ministério do
Trabalho (Secretaria de Estado da População e Emprego). Este foi cumulativamente
seguido pelo Despacho Normativo 218/1980, de 24 de Julho, que concede apoios
financeiros à reintegração socioprofissional de pessoas com deficiência; pelo Despacho

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Normativo 52/1982, de 26 de Abril, que revoga este último e cria um conjunto de
medidas incentivadoras do emprego; pelo Decreto-lei 40/1983, de 25 de Janeiro, e o
consequente Decreto Regulamentar n.º 37/1985, de 24 de Junho, que estabelece o
regime de emprego protegido; pela Portaria 156/1986, de 21 de Abril, que regulamenta
a concessão de apoios para a manutenção de postos de trabalho; pela Lei n.º 9/1989, de
2 de Maio, que estabelece Lei de Bases da Prevenção e da Reabilitação e Integração das
Pessoas com Deficiência; pela lei n.º 38/2004, de 18 de Agosto, que consagra o Regime
Jurídico da Prevenção, Habilitação, Reabilitação e Participação da Pessoa com
Deficiência; e pelo Decreto-Lei n.º 290/2009, de 12 de Outubro, documento legislativo
fulcral para o atual sistema de qualificação e emprego de PCDI em Portugal, razão pela
qual será abordado de forma mais completa.

De facto, o Decreto-Lei n.º 290/2009, de 12 de Outubro, procedeu à


reorganização do quadro normativo e a uma sistematização das medidas legislativas
relacionadas com o apoio à formação e ao emprego das pessoas com deficiência e
incapacidade, definindo, entre outros pontos, a duração dos diferentes percursos
formativos.

A duração da formação profissional foi reduzida de 4.000 para 2.900 horas,


com a promessa de que seria reforçado o investimento nas medidas de apoio ao
emprego. A primeira parte foi concretizada de imediato, porém, a segunda só em 2016
começa a ter uma concretização efetiva, mas ainda longe do necessário.

Foram estabelecidos três tipos de percursos formativos: Tipos A, que usam os


referenciais normais do Catálogo de Nacional de Qualificações (CNQ); Tipos B, que
usam referenciais especialmente adaptados para as PCDI inseridos no CNQ, sendo que
ambos os percursos possibilitam a dupla certificação; e os percursos Tipo C, que podem
ser desenhados por cada entidade tendo em atenção as caraterísticas da população
abrangida mas não permitem a dupla certificação.

Foi este Decreto-Lei que também sistematizou o funcionamento dos Centros de


Recursos para a Qualificação e Emprego (Centros de Recurso) e medidas como a
Informação, Avaliação e Orientação para a Qualificação e Emprego (IAOQE), o Apoio à
Colocação (AC) e o Apoio Pós-colocação (APC).

No apoio ao emprego, a grande evolução resultou da criação dos Contratos de


Emprego Apoiado em Mercado Aberto (EAMA), que garantem aos empregadores um

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apoio proporcional à redução da capacidade de trabalho. Esta era uma medida
revindicada desde os anos de 1980, mas que, infelizmente, tem demorado a ganhar
massa crítica e a generalizar-se (num capítulo posterior voltar-se-á a abordar esta
questão).

O Decreto-Lei n.º 290/2009, de 12 de Outubro, sofreu alterações pela Lei º


24/2011, de 16 de Junho, e pelos Decretos-leis nº 131/2013, de 11 de Setembro, e
nº108/2015 de 17 de Junho. Se se adicionar no enquadramento legal o Despacho nº
8376-B/2015, de 30 de Julho, com as alterações introduzidas pelo despacho nº
9251/2016, de 20 de Julho, estão expostos os pressupostos legais para os atuais apoios
ao emprego e qualificação das pessoas com deficiência e incapacidades, a saber:

 Apoio à Qualificação – Ações de formação profissional inicial e contínua para


PCDI, promovidas por entidades especializadas, tendo como objetivo a
integração, a manutenção e a progressão no mercado de trabalho;

 Apoios à Integração, Manutenção e Reintegração no Mercado de Trabalho –


Inclui os acima referidos IAOQE, AC, APC, bem como a Adaptação de Postos de
Trabalho e Eliminação de Barreiras Arquitetónicas;

 Emprego Apoiado – Remete para os Estágios de Inserção, Contratos de


Emprego-Inserção, Emprego Protegido e EAMA;

 Financiamento de Produtos de Apoio – Através do Sistema de Atribuição de


Produtos de Apoio (SAPA), permite às PCDI candidatarem-se ao apoio financeiro
para a aquisição, adaptação ou reparação de equipamentos, dispositivos,
produtos ou sistemas técnicos especializados essenciais para a prossecução da sua
formação, emprego e progressão na carreira;

 Marca Entidade Empregadora Inclusiva – Premeia/certifica empresas que tenham


práticas inclusivas e PCDI que criem empresas ou o próprio emprego.

Convém, neste contexto, ainda referir que as PCDI, além destes apoios, podem
aceder a outras medidas de âmbito geral que apoiem a sua formação e inclusão
profissional.

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1.3 – Dados sobre a atividade desenvolvida

Toda a informação recolhida aponta para uma enorme diversidade na dimensão,


número de formandos e execução de diversas medidas de apoio entres as entidades que
promovem a formação profissional e emprego de PCDI. Os dados existentes não
permitem tirar ilações categóricas sobre as estruturas existentes senão uma: é uma
atividade desenvolvida por entidades muito heterógenas e com realidades muito
díspares.

Contudo, como anteriormente referido, os dados da Resolução de Conselho de


Ministros nº 4/2016 permitem afirmar que em 2015 havia 125 organizações a realizar
formação profissional para as pessoas com deficiência, sendo que os dados do Relatório
Mensal de Dezembro de 2015 da Execução Física e Financeira, disponibilizada pela
Direção de Serviços de Estudos, Planeamento e Controlo de Gestão do IEFP,
demonstram a existência de 17.187 pessoas abrangidas no decurso de 2015 pela
Reabilitação Profissional.

Com base no suprarreferido relatório de Dezembro de 2015 e no relatório


disponível mais atualizado, o de Outubro de 2016, apresentam-se os seguintes dados
sobre a atividade desenvolvida:

Ano de 2015
(dados cumulativos até Dezembro de 2015)

Nº de pessoas
Medida/Apoio
abrangidas

Reabilitação Profissional 17.187

Estágios Emprego 1.304

CEI 101

CEI + 2.423

Adaptação de Postos de Trabalho e Eliminação de Barreiras


2
Arquitetónicas

Apoio à Colocação e Acompanhamento Pós-Colocação 2.983

Sistema de Atribuição de Produtos de Apoio 1.177

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16
Estágio de Inserção para Pessoas c/ Deficiência e Incapacidade 20

Contrato Emprego - Inserção para Pessoas c/ Deficiência e


262
Incapacidade

Emprego Protegido 368

Emprego Apoiado em Mercado Aberto 173

Fonte: IEFP (2016a), Relatório Mensal de Dezembro de 2015 da Execução Física e Financeira,
Direção de Serviços de Estudos, Planeamento e Controlo de Gestão do IEFP.

Ano de 2016
(dados cumulativos até Outubro de 2016)

Nº de pessoas
Medida/Apoio
abrangidas

Reabilitação Profissional 10.910

Estágios Emprego 959

CEI 61

CEI + 2.275

Adaptação de Postos de Trabalho e Eliminação de


5
Barreiras Arquitetónicas

Apoio à Colocação e Acompanhamento Pós-Colocação 2.550

Sistema de Atribuição de Produtos de Apoio 789

Estágio de Inserção para Pessoas c/ Deficiência e


19
Incapacidade

Contrato Emprego - Inserção para Pessoas c/


148
Deficiência e Incapacidade

Emprego Protegido 369

Emprego Apoiado em Mercado Aberto 175

Fonte: IEFP (2016b) - Relatório Mensal de Outubro de 2016 da Execução Física e Financeira,
Direção de Serviços de Estudos, Planeamento e Controlo de Gestão do IEFP.

Formação Profissional e Emprego de PCDI - O Estado da Arte em 2016


17
No âmbito dos questionários respondidos por 23 associadas da FORMEM
(FORMEM, 2016a), podem acrescentar-se os seguintes dados relativos à execução física
da amostra:

Nº Entidades Nº Formandos Nº Horas realizadas

23 2.545 2.224.419,1

Fonte: FORMEM (2016a) – Estado da Arte em 2016, Questionário para recolha de dados
sobre Formação Profissional e Emprego para Pessoas com Deficiência e Incapacidade.

E a seguinte caracterização de cursos / áreas formativas existentes:

Nº Nº
Área Formativa
cursos formandos

213 Audiovisuais e Produção dos Média 8 37

215 Artesanato 9 23

341 Comércio 8 21

346 Secretariado e Trabalho Administrativo 22 80

481 Ciências Informáticas 1 9

521 Metalurgia e Metalomecânica 24 140

522 Eletricidade e Energia 4 13

525 Construção e Reparação de Veículos a 18 63


Motor

541 Indústrias Alimentares 5 58

542 Indústria do Têxtil, Vestuário, Calçado e 33 114


Couro

543 Materiais (Madeira) 46 206

582 Construção Civil e Engenharia Civil 3 16

621 Produção Agrícola e Animal 31 128

622 Floricultura e Jardinagem 53 223

Formação Profissional e Emprego de PCDI - O Estado da Arte em 2016


18
761 Serviço de Apoio a Crianças e Jovens 5 22

762 Trabalho Social e Orientação 79 378

811 Hotelaria e Restauração 114 560

814 Serviços Domésticos 15 16

815 Cuidados de beleza 3 19

Outras 30 224

Total 511 2350


Fonte: FORMEM (2016a) – Estado da Arte em 2016, Questionário para recolha de dados
sobre Formação Profissional e Emprego para Pessoas com Deficiência e Incapacidade.

1.4 – Glossário de termos da Formação Profissional e Emprego


de PCDI

No âmbito das sessões públicas e posteriores discussões sobre este documento,


ficou claro que há dificuldades de comunicação entre as várias organizações profissionais
no terreno mas também com as estruturas financiadoras e de gestão intermédia. Porém,
a dificuldade nem sempre reside na falta de empenho ou vontade de esclarecer e
progredir por parte de todos os atores, mas sim em noções e interpretações diferentes
sobre a mesma terminologia.

A dificuldade de comunicação instalada é tão grande e grave que dá origem a


situações extraordinárias como aconteceu numa Assembleia Geral da FORMEM, onde
um grupo de 20 pessoas que, dois dias antes tinham estado na mesma reunião de
esclarecimento dinamizada com o IEFP e o Programa Operacional Inclusão Social e
Emprego (POISE) para apresentação das regras de elaboração das candidaturas para o
ano de 2016, estava literalmente divido ao meio quanto ao entendimento que faziam
de algumas informações transmitidas naquela reunião. Informações, essas, fulcrais para o
planeamento e apresentação das candidaturas plurianuais.

O desalinhamento semântico e comunicacional entre os atores da área da


reabilitação profissional consegue ser tão profundo que, em conversa com um
interlocutor com responsabilidades relevantes dentro do IEFP, este afirmou não
entender como as entidades organizam a formação. Em resposta, os representantes das

Formação Profissional e Emprego de PCDI - O Estado da Arte em 2016


19
entidades promotoras da formação profissional referiram não entender o modelo de
organização de formação que se estava a tentar apresentar.

Assim, e não sendo possível promover um alinhamento de todos os atores de


um momento para o outro, foi sugerido, numa sessão de discussão pública deste
documento, que se estabelecesse um glossário básico de termos para os quais há
necessidade de encontrar uma definição comum. Nesse sentido, a FORMEM dá o mote
para a definição de terminologia apontada como fundamental nesta área, usando como
fontes os contributos de técnicos e dirigentes, o Guia Organizativo da Formação
Profissional e Certificação de Pessoas com Deficiência (IEFP, Departamento da Formação
Profissional, 2016), a base de dados de Perguntas Frequentes do IEFP (IEFP, 2016), e o
glossário do Catálogo Nacional de Qualificações (CNQ, 2016) e do POISE (POISE,
2016).

Formação Profissional e Emprego de PCDI - O Estado da Arte em 2016


20
Glossário da Formação Profissional e Emprego para PCDI

AC – Apoio à colocação.

Ação – Uma ação corresponde a um grupo de formandos que faz um determinado


curso em conjunto. O equivalente na educação seria o termo “turma”.

Adiantamento − A antecipação do pagamento do apoio concedido.

ANQEP – Agência Nacional para a Qualificação e o Ensino Profissional, ex-ANQ


(Agência Nacional para as Qualificação), responsável pela gestão do Catálogo Nacional
de Qualificações.

APC – Apoio Pós-Colocação.

Autoridade de Gestão − Autoridade pública nacional designada pelo Estado-Membro,


responsável pela gestão e execução do programa em conformidade com o princípio da
boa gestão financeira e de acordo com as regras nacionais e comunitárias. No caso da
Formação Profissional para PCDI, o POISE.

Balcão 2020 − Portal que reúne a informação sobre todos os projetos financiados em
território nacional, sob gestão de autoridades nacionais ou sob gestão da União
Europeia, a fim de reforçar a articulação entre as diferentes fontes de financiamento
europeu, e que serve ainda de porta de entrada a todos os interessados e disponibiliza
informação, por via do sistema de informação específico, entre os fundos da coesão e o
FEADER (Fundo Europeu Agrícola de Desenvolvimento Rural) e FEAMP (Fundo
Europeu dos Assuntos Marítimos e das Pescas), permitindo assegurar a visão do conjunto
dos FEEI (Fundos Europeus Estruturais e de Investimento) e o exercício da governação
no plano do Portugal 2020, bem como o acesso à informação existente na
Administração Pública.

Candidatura – Dossier de documentação que é necessário apresentar à autoridade de


gestão de um Programa Operacional (PO) para obter autorização e financiamento para
as ações de formação. É formalizado através do preenchimento e apresentação de um

Formação Profissional e Emprego de PCDI - O Estado da Arte em 2016


21
formulário, onde é descrita, entre outros, a operação a financiar, os seus objetivos, a sua
sustentabilidade, o calendário de execução e a programação financeira.

Catálogo Nacional de Qualificações – O CNQ reúne o conjunto de referenciais de


percursos formativos aprovados para as várias profissões a nível nacional.

CEI ‒ Contrato Emprego-Inserção.

Centros de Formação – Geridos diretamente pelo IEFP, ou em regime protocolar,


asseguram cursos de formação em áreas profissionais específicas.

Centros de Recursos para a Qualificação e o Emprego – Entidades especializadas sem fins


lucrativos acreditadas pelo IEFP para articular a colaboração dos serviços de emprego
com as entidades formadoras. Tem como objetivo promover o acesso das PCDI à
qualificação e emprego.

Certificação de Entidade Formadora − Processo de validação e reconhecimento formal,


por parte da DGERT (Direção Geral do Emprego e Relações do Trabalho), da
capacidade de uma entidade para desenvolver atividades de natureza formativa nos
domínios de intervenção e áreas de formação relativamente aos quais demonstre deter
competências, meios e recursos adequados ‒ humanos, técnicos, instrumentais e/ou
materiais.

Certificação Profissional − Processo de validação e reconhecimento formal das


competências de um indivíduo e de outras condições exigidas para o exercício de uma
profissão ou atividade profissional. Estas competências poderão ter sido adquiridas
através da frequência com aproveitamento de uma ação de formação, da experiência
profissional ou da equivalência de títulos.

Certificado de Aptidão Profissional − Documento oficial que comprova a competência


do indivíduo para o exercício de uma profissão ou atividade profissional, o nível de
qualificação e, eventualmente, a equivalência a habilitações escolares.

Certificado de Formação – Certifica que o formando concluiu um percurso formativo,


descrevendo as competências adquiridas pelo mesmo.

Certificado de Formação Profissional − Documento emitido por uma entidade


formadora que comprova que o formando frequentou com aproveitamento uma ação
de formação profissional com componente de avaliação.

Formação Profissional e Emprego de PCDI - O Estado da Arte em 2016


22
Certificado de Frequência − Documento emitido por uma entidade formadora que
comprova que o formando frequentou uma ação de formação sem avaliação.

CIF ‒ Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde.

Cliente – Pessoa que recebe apoio de uma entidade na formação profissional ou noutro
serviço.

Componente da Formação – O Despacho n.º 8376-B/2015, de 30 de julho, estabeleceu


que a formação tem as componentes de Formação de Base, Formação para a
Integração, de Formação Tecnológica e Formação Prática em Contexto de Trabalho.

Contratação Pública – A aquisição por uma ou mais entidades adjudicantes do


fornecimento de produtos ou de prestação de serviços, por meio de um contrato, a
operadores económicos selecionados por essas entidades adjudicantes.

CRI – Centros de Recursos para a Inclusão.

Critérios de Seleção – Conjunto de regras que serve de suporte à apreciação de uma


candidatura. Estes critérios visam essencialmente garantir a existência de parâmetros de
análise comuns, objetivos e transparentes, para fundamentar a hierarquização e a
aprovação de candidaturas apresentadas ao financiamento no âmbito de um Programa
Operacional.

Curso – É constituído pelo conjunto de formandos que inicia uma ação de formação em
conjunto.

Data de Conclusão da Operação – Data da conclusão física e/ou financeira da operação,


considerando-se como tal, em regra, a data da última fatura paga pelo beneficiário. De
notar que esta data não marca o termo ou encerramento da operação, a qual pressupõe
a realização de um conjunto de tarefas quer por parte do beneficiário (por exemplo,
apresentação do respetivo Relatório final), como da Autoridade de Gestão (como a
validação do pedido de pagamento de saldo e respetivo Relatório final e o consequente
pagamento do saldo final), salvo disposição específica em contrário.

Data de Início da Operação – Data do início físico ou financeiro da operação, consoante


a que ocorra primeiro ou, não sendo possível apurar estas datas, a data da fatura mais
antiga, salvo disposição específica em contrário.

Formação Profissional e Emprego de PCDI - O Estado da Arte em 2016


23
Decisão de Aprovação – Ato através do qual se aceita um pedido de apoio, uma vez
verificado o cumprimento dos critérios de elegibilidade e de seleção, após o qual a
entidade formadora adquire o direito ao financiamento.

Desempregado – Pessoa não-empregada disponível para trabalhar e que procura


ativamente trabalho.

Desempregado de Longa Duração – Pessoa não-empregada, disponível para o trabalho


e à procura de emprego há 12 meses ou mais, contando este prazo a partir da data de
inscrição nos centros de emprego.

Delegações regionais do IEFP – O IEFP é organizado em delegações regionais que, por


regra, são os interlocutores com as entidades nos processos da formação profissional.

Departamento de Formação do IEFP – Departamento do IEFP que, a nível central,


coordena os assuntos relacionados com a formação profissional, incluindo a formação
das PCDI.

Departamento de Emprego do IEFP – Departamento do IEFP que, a nível central,


coordena os assuntos relacionados com as políticas do emprego, incluindo das PCDI.

DGERT − Direção Geral do Emprego e Relações do Trabalho, entidade responsável


pela certificação das Entidades Formadoras.

DID – Deficiência Intelectual ou do Desenvolvimento, substitui as designações


tradicionais de deficiência mental ou deficiência intelectual.

Diploma de Formação – A sua aquisição exige a obtenção da qualificação profissional e


do grau académico.

Dupla Certificação – Obtenção, em simultâneo, da certificação profissional e de um grau


académico.

EAMA – Emprego Apoiado em Mercado Aberto.

Elegibilidade – Conformidade face ao quadro regulamentar de uma intervenção. Aplica-


se tanto às despesas (conformidade relativa à sua natureza, ao seu montante ou à sua
data de realização), como aos projetos, aos beneficiários ou aos domínios de
intervenção (áreas geográficas, setores de atividade).

Formação Profissional e Emprego de PCDI - O Estado da Arte em 2016


24
Emprego Apoiado – Designa o conjunto de medidas de estímulo ao emprego de pessoas
com deficiência. É também usado para designar uma metodologia de suporte às PCDI na
obtenção e manutenção de um emprego.

Entidade Formadora – Organização que promove as ações de formação, em regra


organizações sociais sem fins lucrativos.

Estágio – Designa o período em que o formando realiza formação em contexto real de


trabalho com o objetivo de aplicar os conhecimentos anteriormente adquiridos, sendo o
acompanhamento menos intenso.

Formando – Pessoa que frequenta um curso de formação profissional.

Formação de Base – Reúne o conjunto das Unidades de Formação de Curta Duração


com o intuito de adquirir ou reforçar as competências profissionais, pessoais e sociais
tendo em vista a inserção na vida ativa e a adaptabilidade aos diferentes contextos de
trabalho ou à ocupação de um posto de trabalho.

Formação em Contexto de Trabalho – Designa a formação tecnológica prática realizada


em contexto real de trabalho, em que há o objetivo de aquisição de novas
competências enquadradas por um Programa Individual de Formação e um
acompanhamento regular, no mínimo semanal, por um formador/TAFE (Técnico de
Acompanhamento da Formação em Empresa). Tem como finalidade facilitar a futura
inserção profissional.

Formação Especializada para PCDI – Formação para a qual a frequência exige prova de
uma situação de deficiência ou incapacidade.

Formação para a Integração – Reúne um conjunto de Unidades de Formação de Curta


Duração com o objetivo de dotar os formandos de competências básicas nos domínios
pessoal, comportamental e organizacional.

Formação Tecnológica – Reúne um conjunto de Unidades de Formação de Curta


Duração relacionadas que potenciam nos formandos competências que lhes permitem o
desenvolvimento de atividades práticas e de resolução de problemas inerentes ao
exercício de uma determinada profissão ou à ocupação de um posto de trabalho. Esta
componente de formação pode ser dividida em teórica e prática.

Formação Profissional e Emprego de PCDI - O Estado da Arte em 2016


25
Formador – Profissional que planeia e dinamiza as sessões de formação podendo
também planear novos cursos ou ações. É quem intervém na realização de uma ação de
formação, efetua intervenções teóricas e/ou práticas para grupos de formandos,
prepara, desenvolve e avalia sessões de formação, utilizando técnicas e materiais
didáticos adequados aos objetivos da ação, com recurso às suas competências técnico-
pedagógicas, podendo ser-lhe atribuídas outras designações, nomeadamente professor,
monitor, animador ou tutor de formação.

Formador Externo – Aquele que, não tendo vínculo laboral a uma entidade formadora,
desempenha as atividades próprias do formador.

Formador Interno Permanente ou Eventual – Aquele que, tendo vínculo laboral a uma
entidade formadora, bem como aquele que nela exerça funções de gestão, direção ou
equiparadas ou seja titular de cargos nos órgãos sociais, desempenhe as funções de
formador respetivamente como atividade principal ou com carácter secundário ou
ocasional.

FORMEM − Federação Portuguesa de Centros de Formação Profissional e Emprego


para Pessoas com Deficiência.

Fórum para a Integração Profissional – É um organismo criado pelo Decreto-lei nº


290/2009, de 12 de Outubro, para acompanhamento das políticas da formação e
emprego das PCDI, sendo constituído pelo IEFP, que preside, e pela FAPPC (Federação
das Associações Portuguesas de Paralisia Cerebral), FENACERCI (Federação Nacional de
Cooperativas de Solidariedade Social), FORMEM e HUMANITAS (Federação Portuguesa
para a Deficiência Mental).

FSE – Fundo Social Europeu, responsável pelas políticas sociais da União Europeia.
Instituído em 1957 pelo Tratado de Roma, é o fundo estrutural mais antigo, que
contribui para o reforço da política económica e social da UE.

Fundos Europeus Estruturais e de Investimento – O FEEI reúne a atuação de cinco


fundos europeus, o FEDER (Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional), o Fundo de
Coesão, o FSE, o FEADER e o FEAMP pelo período de 2014 a 2020.

Formação Profissional e Emprego de PCDI - O Estado da Arte em 2016


26
IAOQE – Informação, Avaliação, Orientação para a Qualificação e Emprego.

IAS − O Indexante dos Apoios Sociais veio substituir a Retribuição Mínima Mensal
Garantida (RMMG) enquanto referencial determinante da fixação, cálculo e atualização
das contribuições, das pensões e outras prestações atribuídas pelo sistema de segurança
social. Este indexante é, também, aplicado no contexto dos apoios a formandos
cofinanciáveis através do FSE.

Incapacidade − Conceito abrangente que engloba deficiências, limitações de atividade


ou restrições na participação, decorrentes da interação dinâmica entre a pessoa e o
contexto (pessoal/ambiental).

Indicadores de Realização da Operação − Parâmetros utilizados para medir os produtos


gerados pela concretização das atividades de uma operação.

Indicadores de Resultado da Operação − Parâmetros utilizados para medir os efeitos


diretos gerados pela operação na concretização dos seus objetivos.

Majoração das Políticas Gerais – Consiste na aplicação das medidas gerais às PCDI, com
uma majoração dos apoios económicos ou outros.

Medidas de Apoio à Formação e Emprego – Conjunto de legislação que cria e regula o


apoio à formação profissional e ao emprego.

N
NEE – Necessidades Educativas Especiais.

NUT − Nomenclatura das Unidades Territoriais, designa a classificação europeia criada


pelo Serviço de Estatística da Comissão Europeia, EUROSTAT, com vista a estabelecer
uma divisão coerente e estruturada do território económico comunitário, criando uma
base territorial comum para efeitos de análise estatística de dados. Esta classificação é
hierárquica, subdividindo cada Estado-Membro em unidades territoriais ao nível de
NUTS I, cada uma das quais é subdividida em unidades territoriais ao nível de NUTS II,
sendo estas, por sua vez, subdivididas em unidades territoriais ao nível de NUTS III.

Formação Profissional e Emprego de PCDI - O Estado da Arte em 2016


27
O
Organismo Intermédio – Função desempenhada pelo IEFP relativamente às entidades
formadoras. Embora o IEFP faça a gestão dos processos, não tem capacidade de decisão
no âmbito da aprovação de candidaturas, nem financeiras.

Operação – Um projeto ou grupo de projetos selecionados pelas autoridades de gestão


dos programas, ou sob a sua responsabilidade, que contribuem para os objetivos de
uma prioridade ou prioridades. Termo surgido em 2016 para designar o conjunto de
ações/pacote formativo, vindo, de certo modo, a substituir o termo de “candidatura”.

P
PCDI – Pessoas com Deficiência e Incapacidades, aquelas que apresentam limitações
significativas ao nível da atividade e da participação, num ou vários domínios de vida,
decorrentes de alterações funcionais e estruturais de carácter permanente, e de cuja
interação com o meio envolvente resultem dificuldades continuadas, designadamente ao
nível da comunicação, aprendizagem, mobilidade e autonomia, com impacto na
formação profissional, trabalho e emprego, dando lugar à necessidade de mobilização
de serviços para promover o seu potencial de qualificação e inclusão social e
profissional, incluindo a obtenção, manutenção e progressão no emprego.

PCT – Prática em Contexto de Trabalho.

Percursos Individuais – Correspondem às adaptações feitas ao referencial do curso em


função do Programa Individual de Formação de cada formando.

PIF – Plano Individual de Formação.

PIT – Plano Individual para a Transição, destinado a promover a transição para a vida
pós-escolar.

Plano de Desenvolvimento Individual – Pode ser mais lato que o Programa Individual
de Formação e incluir objetivos de desenvolvimento pessoal que não constam do
referencial do curso.

Plano de Sessão – Instrumento de planificação usado pelo formador para uma dada
sessão.

POISE – Programa Operacional para a Inclusão Social e Emprego, gere as medidas de


apoio às PCDI para as regiões do Norte, Centro e Alentejo no âmbito dos Fundos
Europeus Estruturais e de Investimento (período 2014-2020).

Formação Profissional e Emprego de PCDI - O Estado da Arte em 2016


28
Políticas Gerais – Políticas que se dirigem à população em geral.

Políticas Específicas – Políticas concebidas especificamente para as PCDI, tendo como


condição de acesso um diagnóstico.

POPH – Programa Operacional do Potencial Humano, foi o gestor da Formação


Profissional no anterior Quadro de Apoio Comunitário (2007-2013).

POR Lisboa – Programa Operacional Regional de Lisboa, gere as medidas de apoio às


PCDI para as regiões de Lisboa e Vale do Tejo no âmbito dos Fundos Europeus
Estruturais e de Investimento (período 2014-2020).

Portugal2020 – Conjunto de políticas, estratégias de desenvolvimento, domínios de


intervenção, objetivos temáticos e prioridades de investimento vertidas quer no Acordo
de Parceria, quer nos Programas Operacionais e de desenvolvimento rural, quer ainda
no regime jurídico que enquadra a aplicação dos FEEI, no continente e nas regiões
autónomas, entre 2014 e 2020.

Pré-profissional – Programa que existiu na década de 1980 e que se destinava a


proporcionar informação e sensibilizar para o trabalho os alunos adolescentes que
frequentavam as escolas de educação especial então existentes.

Programa Individual de Formação – Regista as adaptações feitas ao referencial do curso


em função das necessidades do formando.

Projeto – O IEFP designa as candidaturas aprovadas como Projeto e atribui-lhe um


código de identificação.

Quadro Nacional de Qualificações – Instrumento concebido para a classificação de


qualificações segundo um conjunto de critérios para a obtenção de níveis específicos de
aprendizagem, que visa integrar e coordenar os subsistemas nacionais de qualificações e
melhorar a transparência, o acesso, a progressão e a qualidade das qualificações em
relação ao mercado de trabalho e à sociedade civil.

R
Registo de Acompanhamento – Registo das atividades desenvolvidas pelos técnicos de
acompanhamento no apoio aos formandos que fazem formação em posto de trabalho
ou estágio.

Formação Profissional e Emprego de PCDI - O Estado da Arte em 2016


29
Referenciais Adaptados tipo B – Referenciais adaptados para as Pessoas com Deficiência
e Incapacidades inseridos no Catálogo Nacional de Qualificações.

Referenciais tipo C – Referenciais desenvolvidos por cada entidade formadora e não


inseridos no CNQ.

Referencial de Formação − O conjunto da informação que orienta a organização e


desenvolvimento da formação, em função do perfil profissional ou do referencial de
competências associado, referenciada ao Catálogo Nacional de Qualificações.

Sistema Nacional de Qualificações ‒ O SNQ assenta num conjunto alargado de


instrumentos e estruturas que asseguram a sua coerência na concretização dos objetivos
definidos. Coordenado pela ANQEP, foi criado em 2007 e reestrutura a formação
profissional inserida no sistema educativo e no mercado de trabalho, estabelecendo
objetivos e instrumentos comuns no contexto de um enquadramento institucional
renovado.

Sessão – Conjunto de atividades desenvolvidas num período formativo de 60 minutos


que visam alcançar um ou mais objetivos pedagógicos específicos e onde deve constar
um registo sumariado. Corresponde no ensino regular, e em linguagem corrente, a uma
aula.

Sumário – Registo do que foi desenvolvido numa sessão.

TAFE – Técnico de Acompanhamento da Formação em Empresa, profissional que


acompanha os formandos que fazem formação em posto de trabalho ou estágio.

Taxa de Execução – Relação entre a despesa efetivamente realizada e a despesa


aprovada numa operação.

Taxa de Imputação – Percentagem aplicada a uma despesa que reflete a parcela da sua
contribuição para a realização da operação.

TIC – Tecnologias de Informação e Comunicação.

Turma – Em algumas componentes, ou momentos da formação, podem ser constituídas


turmas que resultam da junção na mesma sessão de formandos de diferentes cursos ou
da divisão do curso.

Formação Profissional e Emprego de PCDI - O Estado da Arte em 2016


30
TVPE – Transição para a Vida Pós-Escolar (substitui o termo TVA – Transição para a Vida
Ativa), designa as medidas de apoio específico para os alunos com necessidades
educativas especiais de carácter permanente para a realização de experiências de
natureza profissional no exterior da escola. Estas medidas podem ser mediadas pelos
Centros de Recursos para a Inclusão.

U
UFCD – Unidade de Formação de Curta Duração em que se organizam os referenciais
de formação.

Verificação Administrativa – Verificação por parte da autoridade de gestão de um


programa, que aprovou a operação, ou outra entidade competente, que incide sobre
todas as informações apresentadas pelo beneficiário da operação nos pedidos de
pagamento, e que, de forma exaustiva, pretende confirmar a elegibilidade de cada
despesa apresentada a financiamento.

Verificação no Local – Verificação por parte da autoridade de gestão de um programa,


que aprovou a operação, ou outra entidade competente, realizada no local em que a
operação se concretiza e que tem por objetivo confirmar a sua efetiva realização quer
na vertente física, quer na vertente documental e contabilística. Para este efeito, em cada
ano as operações são selecionadas com base numa amostragem representativa.

Formação Profissional e Emprego de PCDI - O Estado da Arte em 2016


31
2 – A Formação

A Formação Profissional e a qualificação das PCDI têm-se mantido como um


sistema pouco interligado com o sistema regular, que assenta no Sistema Nacional de
Qualificações (SNQ) e no seu instrumento de gestão estratégica das qualificações de
nível não-superior, o Catálogo Nacional de Qualificações (CNQ).

Apesar da residual ligação com o sistema de Formação Profissional regular, as


orientações e objetivos-macro definidos pelos decisores políticos para qualificação e
emprego de PCDI são, muitas vezes, coincidentes − como as recentes candidaturas à
tipologia 3.01 do POISE vieram demostrar. Como tal, no âmbito deste exercício do
Estado da Arte será importante enquadrar sinteticamente a formação regular, até para
posteriores reflexões relativas a opções de mainstreaming da formação especializada.

O Sistema Nacional de Qualificações, criado através da publicação do Decreto-lei


nº 396/2007, de 31 de Dezembro, pretende a reorganização da formação profissional
inserida tanto no sistema educativo como no mercado de trabalho, tendo como
principal preocupação a atribuição de qualificações escolares e profissionais, apostando
na dupla certificação e no reconhecimento, certificação e validação de competências de
aprendizagem formal e informal. O SNQ está muito adaptado aos financiamentos
provenientes dos Quadros Comunitários de Apoio.

Já o Catálogo Nacional de Qualificações é um instrumento que integra o SNQ e


contempla as qualificações necessárias e críticas para a competitividade e modernização
da economia e das organizações, procurando assegurar uma maior articulação entre as
competências necessárias ao desenvolvimento socioeconómico do país e a oferta
formativa promovida, facilitando o acesso à qualificação de dupla certificação a jovens e
adultos e promovendo a transparência entre qualificações a nível nacional e
internacional. De referir, ainda, que o CNQ é gerido pela Agência Nacional para a
Qualificação e Ensino Profissional, I.P. (ANQEP).
A maior aproximação realizada entre a Formação Profissional regular e a
especializada foi a adaptação de alguns referenciais do CNQ. De facto, desde 2001 que
o IEFP encetou esforços, juntamente com as organizações no terreno, para proceder à
adaptação de referenciais que permitissem às PCDI ter uma formação adaptada e uma

Formação Profissional e Emprego de PCDI - O Estado da Arte em 2016


32
certificação académica e profissional. Porém, só a partir de 2009, aquando da
formalização da parceria entre o IEFP e a então ANQ, é que se concretizou muito do
trabalho anteriormente realizado, no qual se vislumbrou a passagem de 9 referenciais
adaptados em 2010, para 23 em 2011, abrangendo 13 áreas de formação. Atualmente
estão disponíveis 22 referenciais adaptados, como o seguinte quadro ilustra, sendo esta
informação relevante para a posterior discussão sobre os percursos formativos:

Qualificação/Profissão Código e Área Formativa

Agente em Geriatria 762 Trabalho Social e Orientação


Assistente Administrativo/a 346 Secretariado e Trabalho
Administrativo
Assistente Familiar e de Apoio à 762 Trabalho Social e Orientação
Comunidade
Carpinteiro/a de Limpos 543 Materiais
Costureiro/a Modista 543 Materiais
Cozinheiro/a 811 Hotelaria e Restauração
Empregado/a de Andares 811 Hotelaria e Restauração
Empregado/a de Mesa 811 Hotelaria e Restauração
Estofador/a 543 Materiais
Mecânico/a de Automóveis Ligeiros 525 Construção e Reparação de
Veículos a Motor
Mecânico/a de Serviços Rápidos 525 Construção e Reparação de
Veículos a Motor
Operador/a Agrícola - 621 Produção Agrícola e Animal
Horticultura/Fruticultura
Operador/a de Acabamentos de 543 Materiais
Madeira e Mobiliário
Operador/a de Armazenagem 341 Comércio
Operador/a de Informática 481 Ciências Informáticas
Operador/a de Jardinagem 622 Floricultura e Jardinagem
Operador/a Gráfico de Acabamentos 213 Audiovisuais e Produção dos
Media
Pasteleiro/a Padeiro/a 541 Indústrias Alimentares
Pintor/a de Veículos 525 Construção e Reparação de
Veículos a Motor
Reparador/a de Carroçarias de 525 Construção e Reparação de
Automóveis Ligeiros Veículos a Motor
Serralheiro/a Civil 521 Metalurgia e Metalomecânica
Tratador/a/Desbastador/a de Equinos 621 Produção Agrícola e Animal
Total 22 Referenciais Adaptados

Fonte: CNQ (2016) - Qualificações adaptadas - Pessoas com Deficiências e Incapacidades.

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33
2.1 – Os percursos formativos

No decurso do trabalho anteriormente referido e no âmbito das candidaturas ao


POPH, o IEFP publicou pela primeira vez, em 2010, um Guia Organizativo Formação
Profissional e Certificação de Pessoas com Deficiências e Incapacidades que possibilita o
desenvolvimento de três tipos de programas:

 Percursos Tipo A – Usando os referenciais que constam no CNQ com acesso a


dupla certificação. Com a duração de 2.900h moldadas para a formação geral.

 Percursos Tipo B – São referenciais adaptados para as PCDI e publicados no


CNQ, permitindo também a dupla certificação, escolar e profissional.
Estes referenciais fazem a adaptação dos referenciais de tipo A, simplificando os
conteúdos de algumas Unidades de Formação de Curta Duração (UFCD) e
aumentando a duração de outras. Particularmente significativos são a introdução
da área de formação para a cidadania e o alargamento da duração da formação
em contexto de trabalho.
Assim, e globalmente, a carga horária destes referenciais foi aumentada em 700
horas para um total de 3.600h.

 Percursos tipo C ‒ Não conferem dupla certificação escolar e profissional mas


apenas um certificado de frequência. Os referenciais destes percursos são
elaborados pelas entidades formadoras e têm como limite máximo de duração
2.900 horas.
Estes referenciais são por natureza adaptados a pessoas com especiais dificuldades
e devem ser homologados pelo IEFP.

O quadro seguinte apresenta os dados das 23 entidades que responderam ao


inquérito da FORMEM. É interessante sinalizar a reduzida percentagem de percursos A,
bem como a percentagem relativamente próxima de formandos a fazerem percursos B e
C.

Formação Profissional e Emprego de PCDI - O Estado da Arte em 2016


34
Tipologia Cursos Formandos

Percursos A 5,75% 6,34%

Percursos B 44,44% 50,77%

Percursos C 49,81% 42,89%

Fonte: FORMEM (2016a) – Estado da Arte em 2016, Questionário para recolha de dados
sobre Formação Profissional e Emprego para Pessoas com Deficiência e Incapacidade.

Nas reflexões tidas sobre os percursos formativos, uma das críticas passíveis de
serem expostas ao CNQ relaciona-se com o facto das profissões, cujos percursos
formativos se encontram tipificados, corresponderem cada vez menos às necessidades
do mercado de trabalho. De certo modo, o conceito de profissão está hoje
relativamente esvaziado, podendo não haver uma correspondência entre a formação e
o posto de trabalho ou haver pessoas a fazer o mesmo trabalho com formações
diferentes.

Usando as próprias estruturas como exemplo das alterações no conceito de


profissão, uma entidade referiu, numa das sessões de discussão pública promovida pela
FORMEM no âmbito deste projeto, que a sua equipa de formadores inclui pessoas com
formações tão díspares como psicólogos, engenharia de produção alimentar, serviço
social, ação social, professor do 1ª ciclo, relações públicas, terapia da fala, professora de
educação especial, professora de português e história, e em que todos eles fazem o
mesmo tipo de trabalho.

Como elemento complementar, importa compreender os motivos pelos quais no


CNQ não existem referenciais adaptados para as profissões de nível 1, que pela sua
natureza são as mais acessíveis a pessoas com deficiências intelectuais e de
desenvolvimento (DID). Uma das explicações encontradas baseia-se no pressuposto que
estas profissões têm conteúdos funcionais e tarefas que são facilmente assimiladas por
aprendizagem espontânea no contexto de trabalho por uma pessoa com capacidades de
trabalho e intelectuais médias. Porém, este pressuposto exclui as PCDI, bem como outras
pessoas com fragilidades diversas que, por um lado, são incapazes de aprender as tarefas
ou de cumprir outras exigências e rotinas do posto de trabalho/profissão sem uma
formação prévia e, por outro lado, não têm capacidades para responder às exigências
de uma qualificação de nível 2.

Formação Profissional e Emprego de PCDI - O Estado da Arte em 2016


35
A situação acima referida tem confirmação prática em algumas pessoas com DID,
uma vez que, quando estas têm boas capacidades relacionais, capacidade de trabalho e
de resistência, aprendem as tarefas dos postos de trabalho correspondentes a profissões
de nível 1 com relativa facilidade. É este fenómeno que permite que um formando,
tendo feito formação numa área, possa, sem problemas de maior, ter um emprego
noutra área desde que tenha hábitos de trabalho e competências sociais e relacionais
adequadas.

O professor Lou Brown, pioneiro na integração profissional de PCDI, afirmou


que há duas estratégias para criar e desenvolver um posto de trabalho para as pessoas
com deficiência: uma possibilidade é ir aprendendo tarefas cada vez mais complexas
dentro da mesma profissão; outra é ir capturando as tarefas mais simples de outros
postos de trabalho existentes na área onde a pessoa trabalha (Brown, 1990).

Esta última estratégia é muito eficaz com as pessoas com DID que podem, assim,
ir alargando o conteúdo das suas funções e criando o seu próprio posto de trabalho, o
que acentua também a importância da formação em contexto de trabalho, uma vez que
este processo é um muitas vezes moroso.

Formação Profissional e Emprego de PCDI - O Estado da Arte em 2016


36
2.2 – As metodologias de formação mais utilizadas

Todos os referenciais incluem as componentes de formação de base e formação


tecnológica, sendo que a formação para as PCDI teve, desde o início, uma forte
componente prática, uma vez que esse aspeto foi desde sempre considerado essencial
para a futura integração profissional. Porém, as práticas têm vindo a evoluir desde 1985
e hoje encontram-se situações muito diversas.

Os referenciais tipo A e B implicam quatro componentes, sendo que, além da


duração, os segundos têm evoluído na estrutura curricular consoante novos referenciais
tem sido adaptados a profissões e necessidades das PCDI. Porém, as componentes
básicas mantêm-se:

 Formação para a Integração – Visa potenciar competências básicas nos domínios


pessoal, comportamental e organizacional.

 Formação de Base – Tem o objetivo de adquirir ou reforçar as competências


profissionais, pessoais e sociais tendo em vista a integração profissional.

 Formação Tecnológica – Procura munir os formandos de competências que lhes


permitam desenvolver atividades práticas e de resolução de problemas próprios
de uma profissão ou posto de trabalho.

 Formação Prática em Contexto de Trabalho – Pretende consolidar as


competências obtidas em fases anteriores da formação e adquirir novas
competências através da realização de atividades próprias da profissão, tendo
em vista a futura inserção profissional.

Já os referenciais tipo C têm uma liberdade curricular a definir em função do


perfil individual do formando, tendo, contudo, de respeitar certas regras ao nível da
estrutura, da identificação das componentes, da identificação das UFCD, da
apresentação dos conteúdos e da distribuição das cargas horárias, conforme definido
pelo Guia Organizativo da Formação Profissional e Certificação de Pessoas com
Deficiência e Incapacidade, disponibilizado pelo IEFP. Neste tipo de referenciais
encontram-se muitas variações, que vão desde uma grande semelhança com os percursos
A e B, até soluções em que a formação de base coexiste com a realização de toda a

Formação Profissional e Emprego de PCDI - O Estado da Arte em 2016


37
formação tecnológica em situações reais de trabalho ao longo de todo o processo
formativo.

As razões desta variabilidade relacionam-se com a diversidade da situação de


cada entidade formadora, sendo que coexistem organizações que possuem centros de
formação profissional com oficinas que permitem a realização de prática simulada de
relativa complexidade, com outras que, não tendo instalações oficinais (por opção ou
porque quando entraram no sistema não havia a possibilidade de as construírem)
potenciam a colaboração com as empresas e outras entidades realizando toda a
formação prática em posto de trabalho.

Os quadros seguintes demonstram a diversidade de formas de organização da


formação nas suas várias componentes, recolhidas dos Questionário sobre o Estado da
Arte (FORMEM,2016a). Importa relembrar que os números totais variam devido à
ausência de respostas em certos campos do questionário.

Nº de Nº de
Formação tecnológica
Cursos Formandos

A formação tecnológica prática é simulada, a que se segue


56,27% 72,79%
um estágio.

Realização de sessões teóricas em contexto sala de


31,18% 53,72%
formação teórica (com formador próprio).

A formação teórica e a prática simulada são asseguradas


50,78% 62,42%
por um mesmo formador.

A formação tecnológica prática é obrigatoriamente na


72,94% 87,31%
área do curso.

Cursos generalistas (tipo C) que admitem a realização da


8,63% 16,40%
prática em diferentes atividades à escolha dos formandos.

A formação tecnológica prática é toda feita em contextos


11,57% 32,55%
reais de trabalho.

(Percentagens não-
cumulativas)

Fonte: FORMEM (2016a) – Estado da Arte em 2016, Questionário para recolha de dados sobre
Formação Profissional e Emprego para Pessoas com Deficiência e Incapacidade.

Formação Profissional e Emprego de PCDI - O Estado da Arte em 2016


38
Formação de base Nº de Cursos Nº de Formandos

Sessões específicas por componente (com


51,96% 60,63%
formadores diferentes) - visando a dupla
certificação.

Sessões específicas por componente (com


29,41% 30,18%
formadores diferentes) - sem dupla certificação.

Todas as componentes são abordadas por um


18,63% 9,19%
único formador.

100% 100%

Fonte: FORMEM (2016a) – Estado da Arte em 2016, Questionário para recolha de dados
sobre Formação Profissional e Emprego para Pessoas com Deficiência e Incapacidade.

Nº de Nº de
Organização da formação
Cursos Formandos

A organização de base é feita num bloco inicial a que


0,19% 0,31%
se segue a formação tecnológica.

A formação de base e a formação tecnológica


coexistem numa primeira fase a que se segue um 60,50% 64,80%
estágio exclusivamente em situação de trabalho.

A formação de base e a formação tecnológica


39,31% 34,89%
coexistem ao longo de todo o percurso.

100% 100%

Fonte: FORMEM (2016a) – Estado da Arte em 2016, Questionário para recolha de dados sobre
Formação Profissional e Emprego para Pessoas com Deficiência e Incapacidade.

A constatação de práticas tão diversas levou a que, nos debates tidos, se


considerasse haver interesse em criar grupos de trabalho técnico que refletissem sobre os
vários modelos, de modo a tornar mais claro quais as potencialidades e limitações de
cada um deles. Ficou, no entanto, a noção clara das vantagens em manter diferentes

Formação Profissional e Emprego de PCDI - O Estado da Arte em 2016


39
modelos e formatos organizacionais e pedagógicos, considerando igualmente
importante que os modelos sejam adequados a diferentes necessidades e territórios.

A discussão entre pares não deve procurar homogeneizar as práticas mas


conseguir que, conhecendo as das outras, cada entidade ganhe uma consciência
acrescida sobre a sua própria prática − tendo aqui a FORMEM um papel importante na
criação de atividades que incentivem a partilha e a circulação da informação entre as
associadas.

Verificou-se, também, que cada entidade desenvolveu os seus próprios


referenciais tipo C, constatando-se que seria positivo reuni-los num repositório
consultável por todas as entidades formadoras, o que permitiria o seu aperfeiçoamento
e evitaria esforços de criação de novos referenciais idênticos a outros já criados e
homologados pelo IEFP.

Formação Profissional e Emprego de PCDI - O Estado da Arte em 2016


40
2.3 – A Certificação dos Formandos

As entidades formadoras, desde a publicação dos referenciais adaptados pelo


CNQ, têm seguido duas estratégias:

 Utilização de referenciais tipo A e B − Permitem a dupla certificação escolar e


profissional dos formandos, cuja vantagem é fornecer-lhes um diploma
reconhecido nacionalmente.

 Criação de percursos tipo C – Dão mais liberdade mas têm o problema de não
assegurarem uma certificação reconhecida.

A discussão realizada num encontro promovido pela FORMEM em Maio de


2016, além salientar estas duas estratégias, permitiu, também, identificar a maior
adequabilidade dos cursos de dupla certificação aos meios urbanos, onde há maiores
probabilidades de reunir um grupo de formandos com interesses e perfis de
competências compatíveis com as exigências de um referencial específico. Já os percursos
tipo C, sobretudo se forem desenvolvidos em atividades com baixa diferenciação,
permitem apoiar pessoas com perfis e interesses muito diversos tornando-os
especialmente adequados a áreas com baixa densidade populacional.

Numa análise mais abrangente, a certificação não pode ser encarada como um
fim em si mesmo, mas como um instrumento para facilitar o acesso a um emprego
justamente remunerado e com direitos, sendo este o resultado que verdadeiramente
interessa. Neste sentido, as grelhas de análise das candidaturas, que utilizam como
indicador relevante o facto de os cursos permitirem ou não o acesso à dupla
certificação, bem como as regras de avaliação dos projetos usadas pelo POISE que
colocam as metas ao nível da certificação e da frequência das ações, estão desajustadas.

No entendimento da FORMEM, a taxa de formandos que atinge uma situação


de integração profissional estável no final do curso é que deveria ser o indicador e
resultado mais relevante, seja na fase de análise da candidatura, seja na avaliação de
resultados.

O perverso das atuais regras é que conseguem fazer com que um formando que
abandone a formação porque conseguiu um emprego seja considerado um caso falhado
e não um caso de sucesso. Da mesma forma, nos percursos Tipo C, o certificado, em si

Formação Profissional e Emprego de PCDI - O Estado da Arte em 2016


41
mesmo, não tem efeitos relevantes para acesso e progressão no mercado de trabalho,
mas o ênfase na certificação pode induzir a que sejam atribuídos diplomas a pessoas que
claramente não têm capacidades para o desempenho pleno da profissão, o que, ungido
ao peso do estigma social associado às pessoas com deficiência, pode constituir um
elemento de desvalorização da certificação obtida numa formação profissional
específica.

Caraterização dos formandos quanto ao cumprimento Nº de


da escolaridade obrigatória Formandos

Não cumpriu a escolaridade obrigatória. 1175

Cumpriu a escolaridade obrigatória com certificado de


550
frequência.

Tem um certificado de habilitações de 9º ano. 483

Tem um certificado de habilitações de 12º ano. 173

Frequentou o ensino superior. 18


Fonte: FORMEM (2016a) – Estado da Arte em 2016, Questionário para recolha de dados
sobre Formação Profissional e Emprego para Pessoas com Deficiência e Incapacidade.

Caraterização dos formandos quanto aos Nº de


conhecimentos académicos Formandos

Não sabe ler nem escrever ou fazer cálculos. 326

Sabe ler e escrever e fazer cálculos simples. 1335

Tem conhecimentos académicos equivalentes ao 9º


474
ano ou superior.
Fonte: FORMEM (2016a) – Estado da Arte em 2016, Questionário para recolha de dados
sobre Formação Profissional e Emprego para Pessoas com Deficiência e Incapacidade.

Os dados do inquérito realizado mostram que há um número significativo de


formandos que não cumpriu a escolaridade obrigatória, contudo, a grande maioria tem
capacidades de leitura, escrita e cálculo, mesmo que simples. Mais uma vez, a

Formação Profissional e Emprego de PCDI - O Estado da Arte em 2016


42
informação recolhida reflete a diversidade presente em vários capítulos deste
documento.

Em suma, caberá a cada entidade ponderar os prós e os contras de cada solução


formativa e os interesses dos seus formandos e, baseado nisso, fazer as melhores
escolhas. Contudo, parece muito claro que não é justo que as candidaturas que utilizem
percurso tipo C sejam prejudicadas na análise do seu valor intrínseco, pois há uma
elevada probabilidade de serem perfeitamente adequadas ao contexto social e aos
formandos-alvo da ação.

Formação Profissional e Emprego de PCDI - O Estado da Arte em 2016


43
2.4 – As estruturas dos percursos e as dificuldades de
individualização da formação

Uma das justificações para a existência de formação especializada para pessoas


com deficiência é a necessidade dessa formação ser individualizada e ajustada às
necessidades de cada formando, sendo recomendada a elaboração de Programas
Individuais de Formação, contudo, na prática, há muitos obstáculos a este objetivo.

Os percursos A e B, por terem um programa pré-estabelecido quanto às UFCD e


à respetiva duração, pressupõem que o grupo de formandos funcione em bloco e não
admitem muitas variações, pois o objetivo é a obtenção de um diploma que está
condicionado à realização do respetivo percurso. Estes percursos exigem que, na
admissão, os formandos possuam um conjunto de requisitos mínimos para que exista a
expetativa de conseguirem cumprir o referencial.

Os percursos tipo C permitem, teoricamente, adequar a formação a cada


formando, mas ainda assim dependem dos referenciais usados pois se tiverem uma
estrutura próxima dos referenciais tipo A e B têm o mesmo tipo de problemas, variando
apenas as exigências feitas quanto à extensão e complexidade das aprendizagens. Os
referenciais tipo C muito generalistas e que permitem a realização da formação prática
em atividades diversificadas em contexto real de trabalho, têm a vantagem da
adaptação, sobretudo em ambientes de baixa densidade populacional, mas comportam
o risco de a formação tecnológica prática ser reduzida a um treino sem objetivos de
progressão.

Para atenuar o risco da prática ser reduzida a um treino indiferenciado, deverá


ser criado um novo perfil de formador: capaz de fazer a integração do formando, mas
também de fazer a análise de tarefas e de interagir com os responsáveis e trabalhadores
das empresas no sentido de elaborar e ajudar a implantar programas que garantam uma
efetiva aprendizagem.

Outro desafio relacionado com as dificuldades da individualização da formação


está na formação de base. Como componente essencial no desenvolvimento da
formação, esta implica o trabalho com grupos de formandos muito diversos em idades,
interesses e capacidades, colocando a necessidade de os formadores utilizarem
metodologias de formação muito participativas, nomeadamente o trabalho em projetos.

Formação Profissional e Emprego de PCDI - O Estado da Arte em 2016


44
No seguimento do último ponto é, também, importante referir que, em
qualquer um dos percursos formativos utilizados, a exigência de que as sessões de
formação tenham um mínimo de seis presenças faz com que a individualização da
formação (que seria recomendável e desejável) seja muitas vezes difícil de
operacionalizar.

Formação Profissional e Emprego de PCDI - O Estado da Arte em 2016


45
3 – Os Formandos

3.1 – O público-alvo tradicional e os novos públicos

Os programas de formação especializada para as PCDI foram concebidos para


responder às necessidades de formação inicial de jovens que terminavam um percurso
educativo nas escolas especiais ou nas escolas regulares. É esta conceção que justifica a
primazia que o IEFP quer que seja dada aos referenciais do CNQ, uma vez que são estes
que garantem uma qualificação académica e profissional e contam para a subida das
habilitações escolares e profissionais dos jovens com deficiência.

Assim, embora ainda existam no sistema de formação para PCDI cursos para
pessoas com deficiências auditivas e visuais, o seu número é muito reduzido,
acontecendo com frequência, sobretudo fora de Lisboa e Porto, situações em que estas
pessoas integram cursos em que a maioria dos formandos são pessoas com deficiência
intelectual.

No que se refere às deficiências sensoriais e motoras, muito devido aos avanços


da medicina, foi possível reduzir a sua incidência e o seu impacto na qualidade de vida
das pessoas e, também devido à melhoria dos produtos de apoio, foi possível aumentar
a sua integração em programas para o público em geral. Porém, no âmbito deste
público, a procura de formação especializada tem continuado porque frequentemente
coexiste alguma limitação intelectual, ou porque as limitações motoras são demasiado
extensas para que as pessoas possam frequentar os cursos de formação regulares sem um
apoio extra (que não é disponibilizado, seja na logística dos transportes ou na assistência
para ajuda em necessidades básicas).

Recentemente foi sentida a necessidade de dar alguma resposta a pessoas com


situações de deficiência adquirida devido a traumatismo crânio-encefálico, tendo sido
desenvolvido, no âmbito do IEFP, um grupo de trabalho para desenvolver percursos
formativos próprios. Todavia, no conjunto, este será sempre um grupo restrito de
formandos.

Formação Profissional e Emprego de PCDI - O Estado da Arte em 2016


46
Outro grupo com peso crescente são as pessoas com doenças mentais
incapacitantes, que sem ajuda específica não conseguem aceder ao mercado de trabalho.
Porém, como adiante se verá, a larga maioria dos formandos são pessoas com DID.

Caraterização dos formandos quanto ao tipo de


deficiência ou incapacidade em atenção à Classificação Nº de Formandos
Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde

1571
DID

Auditivas 33

Visuais 25

Funções motoras 96

Emocionais/Doença mental 452

Multideficiência 135

Outras 122

Total da amostra 2434


Fonte: FORMEM (2016a) – Estado da Arte em 2016, Questionário para recolha de dados sobre
Formação Profissional e Emprego para Pessoas com Deficiência e Incapacidade.

Como a amostra representativa do quadro demonstra, os formandos com DID,


são a grande maioria do público das nossas associadas, sendo também importante
refletir sobre o número de formandos com perturbações emocionais ou doença mental.

No que se refere à deficiência intelectual, a formação profissional exige


capacidades mínimas de compreensão, de execução de tarefas de rotina, de instruções e
de autonomia, o que gera como consequência a exclusão de pessoas com deficiências
mais severas e que potencialmente não atingirão as capacidades mínimas para acederem
a um emprego. Estas são as que a legislação atual determina que devam ser apoiadas
nos CAO.

Se inicialmente eram as pessoas com limitações extensas nas funções intelectuais e


em todos os domínios do comportamento adaptativo que procuravam a formação
profissional especializada, nos anos recentes este quadro da procura de pessoas com DID
tem vindo a evoluir, havendo cada vez mais pessoas com capacidades intelectuais

Formação Profissional e Emprego de PCDI - O Estado da Arte em 2016


47
ligeiras a procurar a formação especializada, ou seja, pessoas com comportamentos
adaptativos que conseguem funcionar com grande autonomia e num registo que não se
afasta notoriamente dos padrões exigidos às pessoas da mesma idade na sua
comunidade.

Uma dificuldade acrescida de identificação e apoio a estas pessoas reside no facto


de estas, em muitos casos, terem momentos em que parecem não ter limitações, o que
torna muito difícil o seu diagnóstico e apoio, especialmente por parte dos serviços
públicos sem formação ou sensibilidade para este público.

Além de disponibilizar o acesso a formação especializada, as pessoas com


deficiências sensoriais ou físicas e com capacidades intelectuais deveriam poder aceder a
programas regulares de educação e formação beneficiando de apoios especializados em
função das suas necessidades. Em sentido idêntico, começam a ser reportadas cada vez
mais situações de pessoas com deficiências sensoriais e físicas que frequentam o ensino
superior onde, além de enfrentarem dificuldades durante os cursos, não encontram
apoio na sua transição para o mercado de trabalho.

Além das pessoas com deficiências físicas e sensoriais, existe um grupo muito
significativo de pessoas com situações de doença mental com particulares dificuldades e
que precisam de apoio para acederem ao mercado de trabalho. Assim, para estes grupos
de pessoas valerá a pena considerar uma modalidade de formação focada no
desenvolvimento de um processo de transição para o emprego como complemento dos
seus percursos regulares.

Formação Profissional e Emprego de PCDI - O Estado da Arte em 2016


48
3.2 – As pessoas com DID ligeira

A larga maioria das pessoas que frequenta a formação profissional para PCDI são
pessoas afetadas por limitações no domínio intelectual, sendo que, segundo a AAIDD
(American Association on Intellectual and Developmental Disabilities), cerca de 80% das
pessoas com deficiência intelectual têm deficiência intelectual ligeira (AAIDD, 2011).

Faça-se o exercício de tomar um caso concreto de uma área com cerca de


40.000 habitantes, em que há um conhecimento muito completo das pessoas com
deficiências mais graves e onde se verifica a existência de cerca de 100 pessoas com DID
grave ou severa com idades entre os 18 e os 70 anos (dados sinalizados tendo em
atenção o número de pessoas apoiadas nos Centros de Atividades Ocupacionais e outras
conhecidas). Se se extrapolar a estimativa científica da AAIDD, e as 100 pessoas
corresponderem a cerca de 20% das pessoas com deficiência intelectual, então deverão
ser 400 o número de pessoas com DID ligeira nesta área concreta com 40.000
habitantes.

Nas discussões entre as associadas da FORMEM é referida recorrentemente a


necessidade de se abrir a formação a novos grupos de pessoas fragilizadas.
Provavelmente, não se está a falar de um novo público, mas de grupos de pessoas com
deficiência e incapacidades que não estão a receber o apoio necessário para aceder a
situações profissionais condignas.

Se se compararem os números de pessoas com DID ligeira com as pessoas que


são seguidas de forma crónica e recorrente pelas equipas do Rendimento Social de
Inserção (RSI) e das outras situações precárias e descontinuadas (apoios dos quais muitas
vezes não produzem alterações significativas e positivas na situação dessas pessoas)
poderão chegar-se a números muito próximos.

Assim, podem compreender-se melhor os fracassos sucessivos das políticas de


combate à pobreza e de inserção social de pessoas muito vulneráveis, cujos problemas
podem estar ligados ao desajustamento dos apoios e das metodologias utilizadas. Do
mesmo modo, também se compreende que as equipas do RSI sejam, em muitos locais,
uma das principais fontes de encaminhamentos para a formação profissional.

Apesar da premente necessidade social de alargar a Formação Profissional


especializada a novos públicos constituídos por pessoas com problemas de integração

Formação Profissional e Emprego de PCDI - O Estado da Arte em 2016


49
social e profissional, é, antes de mais, fundamental questionar se está a atender a todas
as pessoas com deficiência intelectual ou não, pois existem razões para pensar que há
um subdiagnóstico destas pessoas, visto que frequentemente aparecem referenciadas por
problemas que são consequência da sua deficiência e não a causa.

São indicadores do suprarreferido o facto de hoje serem identificadas pessoas


que chegam a estes serviços a partir do apoio prestado aos seus filhos, verificando-se que
por detrás das dificuldades em organizar as suas vidas, educar os filhos ou manter um
emprego, está uma deficiência intelectual ligeira.

A sinalização e identificação, por parte dos Programas de Intervenção Precoce na


Infância, das dificuldades dos pais (a maioria das vezes das mães) em conseguirem ter
um emprego por, em muitos casos, terem baixa ou muito fraca escolaridade e outras
limitações cognitivas, permitiu o encaminhamento de diversos casos para a Formação
Profissional especializada. As limitações destes pais não os impede de fazer uma vida
dentro de padrões aceitáveis, mas não permite que estes correspondam às atuais
exigências de educação dos filhos e da compatibilização dessa situação com um
emprego.

A experiência recolhida dos Centros de Recursos Locais, com a medida do


IAOQE, mostra que são muitíssimo raros os casos de pessoas enviadas pelos serviços de
emprego que não são pessoas com deficiência. Das pessoas avaliadas em IAOQE apenas
5 a 10% não terão uma deficiência intelectual. Situação muito diferente da experiência
das entidades CRI, que mostram que apenas 30% dos casos cuja avaliação é pedida são
elegíveis para a educação especial.

A forma de encaminhamento das pessoas é um problema, pois apenas são


encaminhadas as pessoas que claramente se identifiquem como tendo uma deficiência
quando se inscrevem nos serviços de emprego, sendo que estes não têm a capacidade,
prática ou competências para identificar situações de pessoas com DID ligeira. Deste
modo, estes cidadãos com dificuldades recorrentes em obter ou manter um emprego
não são encaminhados para serviços de apoio especializado à qualificação e emprego.

No âmbito desta análise, talvez será importante referir o livro “Intelletual


Disabillity, Definition, Classification, and System of Supports” editado em 2010 pela
AAIDD, consultado na tradução em castelhano feita pelo Professor Miguel Angel

Formação Profissional e Emprego de PCDI - O Estado da Arte em 2016


50
Verdugo, onde o Capitulo 12 é dedicado ao problema das pessoas com Deficiência
Intelectuais com QI elevados (AAIDD, 2011).

Entre outros elementos interessantes, é extremamente importante focar nas


dificuldades de diagnóstico das pessoas com DID ligeiras, pois, como anteriormente
apontado, estas pessoas apresentam vulnerabilidades em várias áreas da vida mas não
em todas (podem inclusivamente ter grandes competências em algumas áreas e falhas
incompreensíveis noutras), pelo que se deverá proceder a uma identificação dos
problemas numa ou em várias áreas abaixo referidas:

 Educação;

 Estatuto socioeconómico;

 Emprego;

 Residência;

 Saúde;

 Amizades e comportamento social;

 Direitos;

 Capacidade de avaliação das situações sociais;

 Respostas e julgamentos sociais inadequados;

 Dificuldades de aprendizagem e pensamento.

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51
O quadro que se segue sintetiza os desafios que atualmente enfrentam as pessoas
com limitações cognitivas ligeiras:

Nº Desafios para as pessoas com DID ligeira

Uma sociedade cada vez mais complexa, baseada na informação e


1
tecnologicamente exigente.

Menos solidariedade para ajudar as pessoas nos ambientes sociais,


2
comerciais e governamentais.

Menor probabilidade de que sejam adaptadas as barreiras relacionadas


3 com as limitações cognitivas do que as barreiras relacionadas com as
limitações físicas.

Efeito negativo desproporcionado sobre as pessoas com limitações


4 cognitivas das mudanças nas políticas públicas que afetam as pessoas com
baixos rendimentos e sem habitação.

Diferenças ou exclusão geradas pelas mudanças nos programas de apoio


5 existentes pois demoram mais a conseguir informação, entender as novas
opções e em integrar um programa.

O desejo de evitar o estigma adicional de um sistema de serviços “para a


6 deficiência”, acompanhado da ausência das capacidades necessárias para
aceder a um serviço geral (se existir).

7 A falta de acesso a um conjunto de “defensores” estáveis e conhecedores.

Vulnerabilidade a deficiências secundárias como resultado do escasso ou


8
nulo acesso aos serviços de saúde e de saúde mental.

Aumento do stress, da solidão, da ansiedade, da vitimização, da violência


e dos maus tratos devido a: uma inadequada preparação para a vida
9 independente, a falta de apoios, a tendência para fazerem juízos errados,
a aquiescência perante a autoridade percebida, a ingenuidade e a
exploração por terceiros.

Restritas oportunidades de emprego como consequência das limitações


10 nos conhecimentos académicos e da falta de conhecimentos sociais e taxas
superiores de abandono escolar.

Fonte: AAIDD (2011), Discapacidad Intelectual – Definicion, Classificación y Sistemas de Apoio.

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52
3.3 – As pessoas com DID ligeira em Portugal

Em Portugal, a situação das pessoas com deficiência intelectual ligeira é


particularmente má e é resultado do acumular de vários fatores, principalmente porque
os apoios para as pessoas com deficiência intelectual estarem muito focados no apoio a
pessoas com deficiências claramente visíveis, o que leva a que estas pessoas não
procurem os apoios existentes e que não se tenham desenvolvidos os apoios necessários
para as pessoas que parecem ter deficiências intermitentes, isto é, aquelas que em
algumas situações têm desempenhos normais e noutras falham de forma aparentemente
incompreensível.

Por outro lado, nos organismos que gerem as políticas públicas em Portugal há
um grande receio de que as pessoas possam aproveitar indevidamente de algum apoio.
Esta conjugação de fatores faz com que a FORMEM acredite que existe uma sub-
identificação destas situações e, também, escassos apoios que atendam as necessidades
específicas destas pessoas.

Como anteriormente referido, é muito frequente a primeira sinalização não ser


feita pelos serviços de emprego, mas sim por serviços como as equipas do RSI, as
Comissões de Proteção de Crianças e Jovens (CPCJ), as equipas de Intervenção Precoce
na Infância e os serviços sociais das câmaras municipais. Isto acontece porque estes
organismos não encontram estruturas com a capacidade e flexibilidade para apoiar os
processos de integração social destas pessoas, muito frequentemente afetadas por
deficiências intelectuais ligeiras.

Deste modo, considera-se que faz sentido pensar o sistema de Formação


Profissional atualmente destinado para as pessoas com deficiência de modo a atender
todas as pessoas que têm caraterísticas que suportariam um disgnóstico de deficiência
intelectual ligeira e não encontram apoio suficiente nos serviços de emprego ou nas
equipas do RSI.

A deficiência intelectual ligeira parece ter um efeito de atração de situações


negativas como a pobreza, a baixa escolaridade, a tomada de decisões profissionais,
sociais e familiares mal ponderadas, problemas legais e de administração das finanças,
etc… É paradoxal, mas com frequência as pessoas sabem trabalhar, mas não conseguem
integrar-se devido a situações como a dependência do álcool ou outras drogas, a falta

Formação Profissional e Emprego de PCDI - O Estado da Arte em 2016


53
de uma habitação condigna, a dificuldade em compatibilizar a educação dos filhos com
o trabalho, as dinâmicas familiares muitas vezes pouco funcionais, os problemas de
saúde e as grandes falhas nas competências relacionais.

Nesse sentido, se as estruturas atualmente vocacionadas para as pessoas com


deficiência se abrissem a todas as pessoas com diagnóstico de deficiência intelectual
ligeira, poderiam criar-se novas respostas para pessoas que passam anos sucessivos
dependentes de subsídios. A distribuição pelo território nacional destas estruturas e o
saber fazer acumulado ao longo dos anos poderiam ser determinantes para melhorar a
integração das pessoas com DID ligeira que, refira-se, constituem o maior grupo em
grave risco de exclusão e pobreza.

Formação Profissional e Emprego de PCDI - O Estado da Arte em 2016


54
3.4 – Quem são, hoje, os formandos

O Encontro Nacional de Formandos e Ex-formandos realizado em Gouveia pela


FORMEM a 23 de setembro de 2016, e que contou com a inscrição de 415 formandos
(num total de 560 inscritos), permitiu perspetivar uma alteração quanto aos formandos
que são apoiados pelas associadas da FORMEM, perceção essa corroborada pelos dados
recolhidos Questionários do Estado da Arte e dos quais se constroem os seguintes
quadros:

Caraterização dos Formandos quanto à idade

Idades Até 20 20-29 30-40 Mais de 40 Total

Homens 262 455 297 251 1265

Mulheres 149 436 292 259 1136

Total 411 891 589 510 2401

Fonte: FORMEM (2016a) – Estado da Arte em 2016, Questionário para recolha de dados sobre
Formação Profissional e Emprego para Pessoas com Deficiência e Incapacidade.

% sobre o total da
Caraterização dos formandos quanto à sua Nº de
amostra de
saúde Formandos
formandos

Tem alguma doença crónica associada, faz


medicação continuada e é seguido em 640 25,15%
consultas de especialidade médica?

Fonte: FORMEM (2016a) – Estado da Arte em 2016, Questionário para recolha de dados sobre Formação
Profissional e Emprego para Pessoas com Deficiência e Incapacidade.

Formação Profissional e Emprego de PCDI - O Estado da Arte em 2016


55
Caraterização dos formandos quanto à Nº de
%
situação social Formandos

Jovem em continuidade da escola. 349 13,71%

Desempregado e desocupado. 1456 57,21%

Já frequentou alguma formação profissional


506 19,88%
para PCDI.

Recebe alguma prestação social (pensão


452 17,76%
social, abono complementar).

Foi ou é beneficiário de RSI. 588 23,10%

Tem filhos a seu cargo. 441 17,33%

Existem no ambiente familiar sinais de


violência física ou psíquica sobre o 117 4,60%
formando (na perceção da equipa).

(Percentagens não-cumulativas)

Fonte: FORMEM (2016a) – Estado da Arte em 2016, Questionário para recolha de dados
sobre Formação Profissional e Emprego para Pessoas com Deficiência e Incapacidade.

Estes dados comportam informação interessante e útil, incluindo factos


surpreendentes, nomeadamente o facto de existirem mais formandos com filhos a cargo
do que aqueles que chegam em continuação do processo educativo.

Estes números também mostram que as pessoas com deficiência que procuram
maioritariamente a formação profissional fazem-no quando, já adultas, são confrontadas
com situações de desemprego ou desocupação. Para além disso, há um número
significativo de formandos que frequentemente têm necessidade de recorrer a serviços
como o RSI e que são encaminhados para a formação como uma forma de potenciar a
sua integração profissional e social.

Os dados da saúde revelam que não é de todo despiciente a percentagem de


formandos que têm situações de saúde complexas, obrigando a uma reflexão sobre a
justeza e adaptabilidade das regras de assiduidade e presença nas sessões formativas.

Com este panorama, se os formandos mudaram, torna-se indispensável repensar


os modelos de formação para responder às suas necessidades. Pode depreender-se que

Formação Profissional e Emprego de PCDI - O Estado da Arte em 2016


56
os formandos, pela sua idade e situação social, não procuram tanto uma certificação
mas sim um apoio para aceder a um emprego e dar um rumo à sua vida.

Assim, poderá fazer sentido uma modalidade de formação com programas e


duração desenhados à medida das expetativas e necessidades de cada pessoa, como mais
à frente se irá propor e fundamentar.

Formação Profissional e Emprego de PCDI - O Estado da Arte em 2016


57
4 – As estruturas especializadas em reabilitação
profissional na sua relação com a comunidade

4.1 – As escolas e rede de estruturas formadoras para o público


em geral

Por princípio orientador, o mainstreaming dos apoios prestados às PCDI precisa


que se criem relações de parceria, com normas e objetivos recíprocos, entre os vários
atores. Contudo, a prática tem demonstrado que o estabelecimento destas redes
enfrenta ainda diversas dificuldades, nomeadamente a falta de enquadramento legal.

Porém, já existem diversos casos de entidades que tentaram desenvolver com as


escolas das suas regiões parcerias, assentes em sinergias e com o duplo objetivo da
eficiência e inclusão, tendo em vista a criação de cursos para jovens que as frequentam.
Nestes casos, os jovens continuam a frequentar as escolas, mas têm simultaneamente
formação tecnológica nas oficinas das entidades formadoras.

Outro exemplo são as tentativas de aproximação entre as entidades formadoras


e as escolas regulares, no sentido de assegurar uma transição mais fluída da escola para a
formação profissional, criando parcerias para esse encaminhamento antes de os jovens
concluírem a escolaridade (por regra jovens em que se conjugam limitações intelectuais
com fatores de risco social).

Os casos relatados mostram exemplos de sucesso, mas também comportam riscos


de promoverem a exclusão social pela saída precoce da escola, gerando-se o problema
conexo dos formandos concluírem a formação com idades muito jovens, o que dificulta
a sua inserção profissional.

Existem outros exemplos de diversas entidades especializadas em reabilitação


profissional que têm trabalhado com as escolas, nomeadamente com recurso aos
Programas Individuais de Transição no âmbito das políticas de transição para a vida pós-
escolar do Ministério da Educação. Todavia, assim como noutros aspetos existem muitas
diferenças entre os diferentes territórios, havendo algumas escolas que já estão a

Formação Profissional e Emprego de PCDI - O Estado da Arte em 2016


58
conseguir dar respostas muito positivas a alunos com necessidades educativas especiais
que frequentam o Ensino Secundário, havendo outras em que as respostas deixam muito
a desejar.

Contudo, atendendo aos muito bons exemplos já existentes, parece que o


melhor caminho seja trabalhar com as escolas para que esses jovens possam concluir o
seu percurso escolar, reservando a formação profissional como o seguimento lógico.

Noutro sentido, contrário aos contactos regulares com as escolas relatados


anteriormente, as organizações formadoras dedicadas às PCDI têm uma relação muito
reduzida com as estruturas formadoras regulares. Parece que neste aspeto ainda há
muitos passos a dar, até porque existe espaço para o envolvimento das escolas
profissionais no apoio aos alunos com NEE e podendo estas vir a fornecer alternativas à
permanência dos alunos nos cursos do ensino secundário geral.

Em relação ao ensino superior, os contactos e parcerias das estruturas


especializadas na reabilitação profissional têm de se focar num novo problema: no
apoio aos jovens com deficiência que concluem o ensino superior mas que precisam de
grandes apoios para acederem a um posto de trabalho (assunto sobre o qual se voltará
a abordar na parte final deste documento).

Formação Profissional e Emprego de PCDI - O Estado da Arte em 2016


59
4.2 – Com as empresas e o mercado de trabalho

A perspetiva da FORMEM é que, regra geral, há uma boa relação das entidades
especializadas na formação profissional de PCDI e o tecido empresarial local, até porque
são relacionamentos construídos durante diversos anos e com interações regulares, com
diferentes objetivos mas com uma constante preocupação no âmbito da formação das
PCDI: ter como indicador de sucesso a integração profissional dos formandos.

A formação tem realmente sucesso quando termina na obtenção de um emprego


e, para isso, a relação com as empresas e os atores do mercado de trabalho é fulcral.
Contrariamente ao entender da FORMEM, esta ideia de sucesso tem vindo a ser
substituída pelo cumprimento do percurso formativo com aproveitamento,
despromovendo os direitos das PCDI e a importância do tecido empresarial na inclusão
de PCDI.

Embora se possa discutir se os atuais indicadores e objetivos da formação são


uma fatalidade ou apenas uma circunstância, a realidade demonstra que a maioria das
PCDI que conseguem emprego, conseguem-no em atividades com as seguintes
caraterísticas:

 Disponibilização de uma orientação constante e próxima;

 Execução de tarefas simples e repetitivas;

 Trabalho em equipa em que a PCDI realiza os trabalhos mais simples.

A qualidade da formação é uma variável muito importante na inclusão


socioprofissional das PCDI, porém, existem outras que não estão sob a alçada das
entidades formadoras e que têm um peso muito significativo. Por exemplo, em
momentos de grande desemprego as PCDI enfrentam a competição não só de pessoas
adultas sem deficiência e com baixa escolaridade, muitas vezes já com experiência
profissional, mas também de jovens que, tendo concluído a escolaridade obrigatória,
não conseguem empregos mais qualificados.

Para abordar este tipo de competição, à partida desfavorável para as PCDI,


convém que o apoio formativo prestado espelhe que as tarefas ou postos de trabalho
acessíveis às PCDI são relativamente fáceis de aprender. Deste modo, não seria
necessário fazer uma formação complexa, mas focar nas competências relacionais e na

Formação Profissional e Emprego de PCDI - O Estado da Arte em 2016


60
concentração nas tarefas, as qualidades mais referidas e muito valorizadas pelos
empresários. Estas aprendizagens são difíceis para muitas pessoas e exigem um trabalho
persistente que as entidades especializadas na formação profissional de PCDI deveriam
fornecer.

Se atualmente é reconhecida pelas entidades formadoras alguma facilidade em


encontrar locais de estágio para realização da formação em contextos reais de trabalho,
as maiores dificuldades estão, ainda, em conseguir potenciar as oportunidades de
emprego estável e devidamente remunerado. Nesse sentido, o interface entre a
formação e o emprego tem de ser trabalhado e assegurado, pois os dados disponíveis
em 2015 mostram que a taxa de conversão de estágios de formação ou estágios
profissionais em emprego não estão a ser consistentes, nem suficientes (IEFP, 2016a).

Formação Profissional e Emprego de PCDI - O Estado da Arte em 2016


61
4.3 – Os Centros de Recursos para a Qualificação e o Emprego

O IEFP credenciou uma rede de Centros de Recursos Locais (Centro de Recursos)


cuja função passa por permitir o desenvolvimento de vias de acesso ao mercado de
trabalho independentes da formação profissional. Esta rede é composta por cerca de 60
Centros de Recursos Locais procurando-se que cada Serviço de Emprego seja apoiado
por um.

Os Centros de Recursos Locais atuam a montante da formação, pois cabe-lhes


fazer a avaliação dos candidatos à formação profissional, e a jusante, pois são
incumbidos do apoio à colocação e do apoio pós-colocação. Este modelo deveria gerar
sinergias, mas a situação existente contém demasiadas disfunções que complicam e
geram desperdícios de esforços e de recursos.

Tendo optado pelo critério de ter para cada Serviço de Emprego um Centro de
Recursos Local, o IEFP criou situações complexas e disfuncionais, nomeadamente:

 Há localidades em que a entidade formadora não é o Centro de Recursos,


criando problemas de ineficiência, burocratização, duplicação das ações e
distanciamento às pessoas apoiadas;

 Há situações ainda mais disfuncionais em que entidades formadoras que não são
Centro de Recursos Locais na área geográfica em que fazem formação, são-no
noutras áreas geográficas, criando atrasos e confusões nos serviços e nos clientes;

 Alguns Centros de Recursos Locais têm uma área excessivamente vasta, devido
ao processo de concentração ocorrido ao nível dos Serviços de Emprego,
tornando muito complicado o necessário acompanhamento das PCDI;

 O modelo criado faz com que o interlocutor com o Serviço de Emprego seja o
Centro de Recurso e não as unidades de formação profissional, o que, no
modelo idealizado, poderia tornar o processo mais eficiente, mas que, na
realidade, tem demonstrado que potencia um acumular de tempo de resposta às
solicitações e a criação de canais e soluções informais.

Convém, contudo, referir que a culpa das atuais fragilidades e ineficiências da


rede de Centros de Recursos Locais não reside apenas no IEFP. As próprias entidades
gestoras dos Centros de Recursos também têm responsabilidades: seja na falta de

Formação Profissional e Emprego de PCDI - O Estado da Arte em 2016


62
harmonização e alinhamento de procedimentos com as diversas entidades que
promovem a formação profissional para PCDI na sua área de abrangência; seja porque,
em alguns casos, candidataram-se a Centros de Recursos Locais em áreas distantes e às
quais têm dificuldades em dar o apoio necessário.

A atual organização dos Centros de Recursos Locais pode ter um bom princípio
por detrás, mas a dinâmica da sua implementação não parece ter conseguido resultados
significativos, nomeadamente no mais importante: potenciar a promoção do emprego
das PCDI.

Como Federação representativa desta área, a FORMEM não se mostra satisfeita


com os resultados atingidos na integração profissional de PCDI e vê o atual modelo
pouco eficiente e com complicações excessivas. Decerto que haverá muito para afinar na
relação dos Centros de Recursos Locais com os Serviços de Emprego do IEFP, mas parece
fazer sentido propor que se regresse a um modelo em que as Entidades Formadoras
tenham todas as valências dos Centros de Recursos Locais, ressalvando-se a possibilidade
de se concentrar em alguns Centros de Recursos Locais a função específica de avaliação
da capacidade produtiva para efeito de atribuição dos apoios às empresas.

O racional da proposta da FORMEM é corroborado com o que se verificou


numa sessão sobre Contratos de Emprego Apoiado em Mercado Aberto, direcionada
aos Centros de Recursos Locais, mas aberta a todos os interessados, que ocorreu em
Tomar no dia 5 de dezembro de 2016 e que contou com a participação de 19 entidades
especializadas em reabilitação profissional (nem todas Centros de Recursos) e elementos
do IEFP.

Nesta sessão, em que a principal preocupação era agilizar e potenciar o


incremento do EAMA, ficou expresso que a maior dificuldade neste processo é a
articulação entre os diversos intervenientes e a morosidade do mesmo, tendo os Centros
de Recursos, aqui, um papel fulcral.

Formação Profissional e Emprego de PCDI - O Estado da Arte em 2016


63
Entre os presentes recolheu-se informação sobre a utilização desta medida, que se
explana no seguinte quadro:

Nº de contratos EAMA Número entidades com este nº de


propostos EAMA propostos

0 9

1 1

3 2

4 1

5 1

13 1

14 2

19 1

35 1

Total contratos EAMA


Total entidades
propostos

94 19
Fonte: FORMEM (2016d) – Relatório da Sessão sobre Contratos de Emprego
Apoiado, 5 de Dezembro, Tomar.

Estes dados mostram duas coisas distintas. A primeira, positiva, é que, tendo em
conta os dados do IEFP para 2015 sobre os EAMA (IEFP, 2016a), esta amostra de 19
entidades já propôs mais de 50% de EAMA do que a totalidade nacional de anos
anteriores, ficando a FORMEM muito ansiosa para saber se os números finais de 2016
cristalizam esta subida significativa. A segunda, negativa, é que estes dados revelam uma
atividade muito desigual entre as entidades, para a qual contribuem fatores como o
menor empenho dos Centros de Recursos e dos Serviços de Emprego. Porém, a principal
razão referida na sessão de trabalho foi a dificuldade em articular a atividade dos
Centros de Recursos com a Formação Profissional.

Formação Profissional e Emprego de PCDI - O Estado da Arte em 2016


64
5 – Os resultados conseguidos

5.1 – Formação realizada e colocação

Tendo por base as 23 entidades que responderam ao inquérito da FORMEM


podem apresentar-se os seguintes dados organizados por número de formandos
apoiados, número de formandos que terminaram a formação, horas realizadas, número
de formandos que conseguiram contrato de trabalho no ano, número de formandos
que conseguiram estágio profissional ou Contrato Emprego-Inserção (CEI) e
percentagem de formandos que conseguiram contrato de trabalho, estágio ou CEI.

Número de formandos apoiados por ano


3000 2657 2545
2362
2500 1992
2000 1587 1683

1500
1000
500
0
2011 2012 2013 2014 2015 2016

Fonte: FORMEM (2016a) – Estado da Arte em 2016, Questionário para recolha de dados
sobre Formação Profissional e Emprego para Pessoas com Deficiência e Incapacidade.

Embora nas conversas informais algumas entidades refiram que têm vindo a
“perder” formandos, os presentes dados mostram que nos últimos cinco anos tem
havido uma tendência de crescimento na procura de formação para as PCDI, pelo que
continua a ser indispensável este tipo de programas. Mais adiante irão ser referidas
algumas sugestões de mudanças que se afiguram necessárias.

Formação Profissional e Emprego de PCDI - O Estado da Arte em 2016


65
Nº de formandos que terminaram a formação por ano

Ano Total Mínimo Máximo Média

2011 416 9 58 19,81

2012 380 0 46 18,10

2013 568 9 96 25,82

2014 575 9 107 25,00

2015 547 0 88 23,78

2016 397 1 50 19,85

Fonte: FORMEM (2016a) – Estado da Arte em 2016, Questionário para recolha de dados
sobre Formação Profissional e Emprego para Pessoas com Deficiência e Incapacidade.
Nota: Os valores máximos e mínimos referem-se à entidade com menor e com maior número
de formandos no referido ano.

Horas realizadas
160000 162.114
151.125
140000

120000 118.900
113.081
100000
Média
80000 Mínimo
60000 Máximo
40000

20000

0 1.362 1.380 1.380 1.380


2011 2012 2013 2014 / 2015

Fonte: FORMEM (2016a) – Estado da Arte em 2016, Questionário para recolha de dados
sobre Formação Profissional e Emprego para Pessoas com Deficiência e Incapacidade.
Nota: Os dados de 2014 e 2015 encontram-se agregados devido à unicidade da candidatura
desses anos.

Se os três primeiros quadros dão uma ideia dos valores da execução física,
podendo conter indicadores de resultados e da capacidade formadora das entidades
bastante úteis, o mais relevante, como anteriormente referido, são os resultados

Formação Profissional e Emprego de PCDI - O Estado da Arte em 2016


66
traduzidos na percentagem de formandos que no final da formação conseguem
colocação. Os próximos quadros refletem esses resultados.

Nº formandos que conseguiram contrato de trabalho por ano

Ano Soma Mínimo Máximo Média

2011 89 0 37 4,24

2012 67 0 20 3,19

2013 59 0 11 2,68

2014 59 0 9 2,57

2015 44 0 9 1,91

2016 27 0 4 1,35
Fonte: FORMEM (2016a) – Estado da Arte em 2016, Questionário para recolha de dados
sobre Formação Profissional e Emprego para Pessoas com Deficiência e Incapacidade.
Nota: Os dados de 2016 refletem os valores apenas até ao momento de recolha dos
questionários.

Nº formandos que conseguiram estágio profissional ou CEI por ano

Ano Soma Mínimo Máximo Média

2011 80 0 15 3,81

2012 103 0 13 4,90

2013 171 0 51 7,77

2014 197 0 51 8,57

2015 248 0 69 10,78

2016 144 0 22 7,20

Fonte: FORMEM (2016a) – Estado da Arte em 2016, Questionário para recolha de dados
sobre Formação Profissional e Emprego para Pessoas com Deficiência e Incapacidade.
Nota: Os dados de 2016 refletem os valores apenas até ao momento de recolha dos
questionários.

Formação Profissional e Emprego de PCDI - O Estado da Arte em 2016


67
Percentagem de formandos que conseguiram
contrato de trabalho, estágio profissional ou CEI
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
2011 2012 2013 2014 2015 2016

Fonte: FORMEM (2016a) – Estado da Arte em 2016, Questionário para recolha de dados
sobre Formação Profissional e Emprego para Pessoas com Deficiência e Incapacidade.
Nota: Os dados de 2016 refletem os valores apenas até ao momento de recolha dos
questionários.

Os dados apresentados permitem constatar um facto muito preocupante: há


entidades que, independentemente das circunstâncias, trabalham mal a colocação pós-
formação. É alarmante que todos os anos haja pelo menos uma entidade formadora,
entre as 23, que não consiga um estágio, um CEI ou um contrato de trabalho para
nenhum dos seus formandos. É fundamental saber o porquê destas disparidades na
colocação de formandos, sendo esse um ponto essencial de autorreflexão e crítica.

Outro aspeto a ressalvar, e que o último gráfico ilustra, é que será possível
estabelecer um objetivo ambicioso para a colocação de formandos. A média de
colocações pós-formação recolhida situa-se, no decorrer dos anos de 2011 a 2016, entre
os 40% e os 53%, o que permite construir um ponto de referência para futuras
propostas mais ambiciosas de objetivos concretos a atingir.

Formação Profissional e Emprego de PCDI - O Estado da Arte em 2016


68
5.2 – Os custos da formação

A Formação Profissional, pelos custos das infraestruturas, equipas técnicas


envolvidas e apoios aos formandos, é uma atividade que movimenta verbas avultadas.
Os próximos dois quadros mostram o custo médio por ano das entidades, bem como o
valor mínimo e máximo entre as 23 entidades que responderam ao questionário (os
dados de 2016 ainda não estão disponíveis), e o custo-hora com as variações das
despesas com os formandos e formadores.

Custo total

Ano Média Mínimo Máximo

2011 496.053,72 € 170.707,86 € 853.393,40 €

2012 509.037,64 € 212.773,00 € 849.857,36 €

2013 516.505,36 € 214.249,40 € 961.374,00 €

2014/2015 559.522,87€ 231.078,49€ 1.048.782,50€

Fonte: FORMEM (2016a) – Estado da Arte em 2016, Questionário para recolha de dados
sobre Formação Profissional e Emprego para Pessoas com Deficiência e Incapacidade.
Nota: Os dados de 2014 e 2015 encontram-se agregados devido à unicidade da candidatura
desses anos.

Formação Profissional e Emprego de PCDI - O Estado da Arte em 2016


69
Custo hora sem formandos
Custo hora Custo hora sem formandos
e formadores

Ano Média Mínimo Máximo Média Mínimo Máximo Média Mínimo Máximo

2011 8,10 € 4,31 € 16,60 € 6,12 € 2,84 € 11,75 € 3,85 € 1,37 € 8,34 €

2012 7,94 € 3,79 € 17,41 € 5,87 € 2,63 € 12,26 € 3,51 € 1,45 € 7,66 €

2013 7,22 € 4,01 € 14,00 € 5,36 € 2,61 € 10,20 € 3,24 € 1,60 € 4,95 €

2014/2015 7,38€ 2,81€ 20,50€ 5,33€ 1,93€ 13,70€ 3,35€ 1,07€ 9,35€

Fonte: FORMEM (2016a) – Estado da Arte em 2016, Questionário para recolha de dados sobre
Formação Profissional e Emprego para Pessoas com Deficiência e Incapacidade.
Nota: Os dados de 2014 e 2015 encontram-se agregados devido à unicidade da candidatura
desses anos.

Como referido anteriormente, a leitura destes dados deve ser feita de forma
cautelosa, porém, parece-nos claro que existem leituras muito interessantes a retirar
destes quadros.

Em primeiro lugar, refira-se os elevados valores envolvidos, o que levanta um


grande problema sempre que não há fluidez nos pagamentos. Quando isso acontece, e
o ano de 2016 foi particularmente difícil nesse aspeto, torna-se muito difícil a gestão
geral e financeira das organizações formadoras, uma vez que as despesas têm de ser
pagas antes para que se possa pedir o respetivo reembolso. São várias as entidades que
têm encargos mensais com a formação profissional entre os 50 mil e 100 mil euros e,
portanto, um atraso de 3 ou 4 meses pode significar duzentos ou trezentos mil euros de
falta na tesouraria.

Em segundo lugar, estes dados reforçam a ideia, já diversas vezes enaltecida, de


que formação especializada em Portugal é muitíssimo heterogénea, refletindo-se
também na enorme disparidade de custos da formação entre entidades.

Por último, uma nota metodológica para futura análise: dado que as bolsas e
outros apoios têm variado em função de medidas políticas, considera-se como mais
relevante o custo hora sem formandos como base para uma discussão sustentada sobre a
fixação dos valores dos custos unitários.

Formação Profissional e Emprego de PCDI - O Estado da Arte em 2016


70
5.3 – A relação custo-benefício

Atualmente não é possível pensar nas políticas públicas sem ponderar o retorno
para a comunidade dos valores investidos. A Formação Profissional para as Pessoas com
Deficiência e Incapacidades, independentemente dos seus méritos objetivos e subjetivos,
não pode deixar de ser avaliada sobre essa perspetiva. Nesse sentido, e embora seja
conhecido que é tarefa quase impossível contabilizar o retorno direto e indireto gerado
pelo investimento realizado na formação profissional de PCDI, existem alguns pontos
que não podem deixar de ser refletidos e criticamente analisados.

A informação recolhida ao longo dos últimos anos, corroborada pelos dados dos
questionários usados para este trabalho, mostram que não há uma relação linear entre
um custo hora mais elevado e melhores resultados ao nível da empregabilidade dos
formandos. Este aspeto obriga à interrogação e à procura de informação acerca das
metodologias de formação mais económicas e, em simultâneo, mais eficazes.

Todavia, enquanto não se obtiver esse conhecimento, os dados já obtidos


permitem validar a premissa da não-correlação direta entre custo formação e
empregabilidade dos formandos, como os quadros abaixo apontam.

Custo/hora - Colocações obtidas 2011


€25 2012
2013
€20 2014
2015
Custo/hora

€15

€10

€5

€-
0% 20% 40% 60% 80% 100%
Percentagem de colocações obtidas

Fonte: FORMEM (2016a) – Estado da Arte em 2016, Questionário para recolha de dados sobre
Formação Profissional e Emprego para Pessoas com Deficiência e Incapacidade.

Formação Profissional e Emprego de PCDI - O Estado da Arte em 2016


71
Nota: Cada ponto é uma entidade num certo ano (2011, 2012, 2013, 2014 ou 2015) e representa o
custo/hora que esta teve nesse ano, assim como a percentagem de colocações desse ano.

Custo/hora - Colocações obtidas (média)


18,00 € Média
Exponencial (Média)
16,00 €
14,00 €
12,00 €
Custo/hora

10,00 €
8,00 €
6,00 €
4,00 €
2,00 €
0,00 €
0% 20% 40% 60% 80% 100%
Percentagem de colocações obtidas

Fonte: FORMEM (2016) – Estado da Arte em 2016, Questionário para recolha de dados sobre
Formação Profissional e Emprego para Pessoas com Deficiência e Incapacidade.
Nota: Cada ponto é uma entidade e representa o custo/hora que a mesma teve, assim como a
percentagem de colocações. Ao invés da apresentação dos valores de todos os anos, fez-se uma
média, quer para o custo/hora, quer para a percentagem de colocações.

Estes quadros evidenciam que é necessário refletir nas metodologias e no seu


custo, pois não é socio-politicamente razoável que existam ações com custos superiores
a 10 euros/hora com resultados muito inferiores do que outras que custaram apenas
metade. Uma das hipóteses de trabalho é que as entidades que apostam na formação
prática em contexto de trabalho tendem a ter custos/hora mais baixos, mas este ponto
requer um pensamento estrutural e não uma simples intervenção localizada.

Recentrando a análise no retorno que a Formação Profissional para PCDI tem


para a comunidade, é fundamental que haja um sentimento positivo que justifique a
continuidade do investimento. Este será o principal fator para assegurar a continuação
dos apoios no futuro, principalmente tendo em perspetiva uma redução dos apoios
comunitários.

A experiência no terreno mostra que as pessoas abrangidas por esta modalidade


de formação, na sua esmagadora maioria, não conseguiriam aceder a um emprego sem
uma preparação específica e tenderiam a ser dependentes do Estado ou das suas famílias

Formação Profissional e Emprego de PCDI - O Estado da Arte em 2016


72
toda a vida. Ou seja, a obtenção de um emprego tem um enorme efeito na redução dos
custos com o apoio social a essas pessoas.

A título de exemplo, uma pessoa a quem seja atribuída uma pensão social ou o
RSI poderá custar, a preços constantes, cerca de 155.000 euros ao longo dos anos da sua
vida ativa. No mesmo período, se ela fosse trabalhadora e ganhasse o salário mínimo
nacional, a preços constantes, teria auferido cerca de 300.000 euros de rendimentos e
gerado uma receita para a Segurança Social de cerca de 100.000 euros. Este simples
exercício permite incorporar um argumento financeiro no racional de ganhos para a
comunidade e para as pessoas, havendo ainda a considerar os ganhos transversais
relacionados com a inclusão social da pessoa e da família.

Se se conseguisse que 50% dos formandos obtivessem um emprego


relativamente estável, dar-se-ia um inestimável contributo para a economia e para a
coesão social do país. Contudo, este resultado ainda não foi conseguido na
generalidade, pelo que seria um bom objetivo para adaptar as medidas e políticas de
formação e emprego de PCDI.

Posto isto, abre-se um espaço para discussão sobre o impacto das diferentes
metodologias de formação e do seu custo, cabendo às entidades formadoras um esforço
de melhoria contínua e de adaptação das metodologias mais eficazes para conseguir
transformar os financiamentos recebidos na melhoria e valorização da comunidade.

A principal mais-valia da formação profissional de PCDI para a sociedade são,


sem dúvida, os empregos e as mudanças positivas geradas na vida das pessoas. Deste
modo, o custo-benefício deverá ser avaliado por estes indicadores, contrariando os
atuais indicadores de resultado que olham simplesmente para a realização de percursos
formativos com sucesso, o que, por si só, pode não ter consequências na qualidade de
vida da pessoa.

Formação Profissional e Emprego de PCDI - O Estado da Arte em 2016


73
5.4 – O que dizem os formandos

5.4.1 – Sobre a Formação Profissional

A FORMEM aproveitou o Encontro de Formandos e Ex-Formandos, realizado


em Gouveia no dia 23 de Setembro de 2016, e que contou com a inscrição de 415
formandos e 63 ex-formandos, para recolher informação sobre a perspetiva das pessoas
apoiadas em relação à formação e à sua qualidade de vida, variável fundamental numa
análise abrangente do Estado da Arte da Formação Profissional para PCDI. De forma a
operacionalizar esta recolha foram constituídos 40 grupos de trabalhos compostos por
formandos e ex-formandos, tendo cada grupo um técnico (no mínimo) a supervisionar a
discussão.

No âmbito das questões sobre a formação profissional estas são, em síntese, as


respostas (FORMEM, 2016b):

1 – Até que ponto a Formação Profissional ajuda ou ajudou a melhorar a vossa vida?

 A Formação Profissional permitiu-nos melhorar a nossa vida em termos


financeiros;

 Conhecer outras pessoas e conviver;

 Adquirir novos conhecimentos;

 Sentirmo-nos úteis para a sociedade;

 Arranjar trabalho, ter oportunidades e criar mais oportunidades de trabalho;

 Aprender a trabalhar em equipa;

 Ter o 9º ano de escolaridade;

 Aprender a fazer um ofício e como procurar emprego;

 Ajudou a conseguir um emprego.

2 – O que não aprenderam na Formação Profissional que gostariam de ter aprendido?

 Aprendemos tudo o que é necessário;

 Gostávamos de ter mais formação prática do que teórica;

 Gostamos mais de estar no estágio do que na sala;

 Melhorar as competências informáticas;

Formação Profissional e Emprego de PCDI - O Estado da Arte em 2016


74
 Gostaríamos de ter mais horas de formação em Tecnologias de Comunicação e
Informática (TIC) para ter mais autonomia nas nossas vidas;

 Os equipamentos da área de formação são antiquados perante os das empresas –


não aprendi a trabalhar com máquinas modernas.

3 – Se fossem vocês a mandar, o que alteravam na Formação Profissional?

 Não mudava nada;

 Gostava que houvesse uma língua estrangeira;

 Ter desporto;

 Fazer mais atividades;

 Ter mais material para os cursos;

 Maior variedade de tarefas dentro do curso;

 Ter mais aulas práticas.

 Alargava a duração dos cursos;

 Aumentar o tempo do estágio;

 Aumento da prática em contexto de trabalho.

4 – Daqui a 5 anos o que gostariam de estar a fazer na vida?

 A trabalhar e ganhar dinheiro (estas são as respostas avassaladoramente


dominantes);

 Ter uma vida mais agradável;

 Ter a carta de condução e carro;

 Melhorias na saúde;

 Vida estável;

 Ter uma família e uma casa.

5 – Quanto dinheiro precisam de ganhar por mês para ter uma vida boa?

 As respostas a esta pergunta são menos diretas, havendo diversas referências que
a bolsa de formação deveria ser igual ao salário mínimo nacional;
 Quanto à expetativa de salário são várias as referências ao salário mínimo, mas a
maioria aponta para uma grande dispersão entre os entre os 500 e os 1000
euros.

Formação Profissional e Emprego de PCDI - O Estado da Arte em 2016


75
6 – Como pensam ganhar esse dinheiro?

 A larga maioria pensa conseguir tal estando a trabalhar.

 Apenas uma pessoa acredita que vai ganhar esse dinheiro com uma
“Raspadinha”.

7 ‒ Uma vida boa e de qualidade é…

 Ser feliz;

 Ter saúde;

 Ter amigos;

 Ter uma família que goste de nós;

 Ter um bom ambiente;

 Ter vontade e estar vivo;

 Ter trabalho;

 Chegar ao fim do mês e ainda ter dinheiro;

 Ter carro.

8 – Acham que daqui a 5 anos os jovens ainda vão precisar da Formação Profissional?

 Sim (o sim simples foi a esmagadora maioria das respostas);

 Sim, para aprenderem uma profissão e para aprofundarem outras temáticas


como matemática, português e cidadania;

 Sim, para se orientarem na vida pessoal, social e profissional, porque o ensino


regular não está a funcionar bem;

 Sim, porque na formação profissional também se aprende a estar na sociedade;

 Sim, para aprenderem trabalhos que exigem formação prática.

9 – Que apoio gostariam de ter depois de acabada a Formação Profissional?

 Apoio para encontrar trabalho;

 Manter o apoio da instituição ao nível do meu processo pessoal e profissional;

 Gostaríamos de ser orientados para o mercado de trabalho;

 Ter apoio dos técnicos, pós-formação;

 Ter apoio dos técnicos, pós-colocação;

 Apoio psicológico e judicial;

Formação Profissional e Emprego de PCDI - O Estado da Arte em 2016


76
 Ter alguém disponível para apoiar, aconselhar, orientar e mediar;

 Ter sempre alguém de referência para ajudar quando precisamos;

 Mais formação.

10 – Os que trabalham, trabalham em quê e como é que arranjaram esse emprego?

 As profissões ou atividades referidas pelos ex-formandos são tão diversas como:


jardinagem, operador de caixa, contínuo das escolas, salão de cabeleireiro,
funcionário da Câmara Municipal, auxiliar de serviços gerais, ajudante, servir às
mesas e ajudante na cozinha, serralharia, numa adega, operário numa fábrica de
blocos, construção civil, marcenaria, nas áreas de limpeza de uma padaria,
operário fabril, pavilhão desportivo municipal, fábrica de ferragens, cozinha de
centro social;

 Várias referências ao facto de trabalharem a tempo parcial;

 Perguntados sobre como tinham conseguido o emprego: a maioria referiu


expressamente o apoio da entidade formadora, tendo vários referido que foi
através do estágio de formação, havendo uma resposta que referiu a “cunha”.

Quando se debruça sobre esta informação recolhida, é possível elencar, com


clareza, as seguintes ideias-chave das pessoas apoiadas:

 Atribuem grande importância à formação para a melhoria da sua vida e


consideram que será muito benéfica para os jovens no futuro;

 Gostariam que fosse reforçada a componente prática da formação;

 Gostariam de ter maior diversidade da oferta formativa e maior diversidade nos


conteúdos, nomeadamente, maior peso das TIC;

 A grande aspiração dos formandos a médio prazo é conseguir um trabalho e têm


grande expetativa de o conseguir;

 A expetativa de salário justo situa-se entre o salário mínimo e os 1000 euros;

 Consideram o trabalho essencial para ter uma vida de qualidade, a par com ter
amigos, uma família e saúde;

 Todos realçam a importância do apoio da entidade formadora para conseguir


um emprego e referem a necessidade de continuar a ter apoio ao longo da vida;

Formação Profissional e Emprego de PCDI - O Estado da Arte em 2016


77
 Os que conseguiram emprego mostram uma grande variedade nas tarefas
realizadas e atividades laborais.

Formação Profissional e Emprego de PCDI - O Estado da Arte em 2016


78
5.4.2 – Sobre a sua qualidade de vida

De forma a obter informação sobre a Qualidade de Vida dos formandos e ex-


formandos foi pedido que respondessem a uma adaptação do questionário de
autoavaliação da Escala Integral – Avaliação Objetiva e Subjetiva de Qualidade de Vida
de Pessoas com Deficiência Mental ou Intelectual, disponibilizada pelo Instituto
Universitario de Integración en la Comunidad da Universidade de Salamanca – INICO
(Verdugo, 2009).

Dados demográficos da amostra (FORMEM, 2016c):

Condição de
Género Idade
Participação

Feminino 187 Média 39,66 Formando 282

Ex-
Masculino 147 Máximo 76 48
formando

Sem Sem
10 Mínimo 15 14
Resposta Resposta

Total 344 Moda 57 Total 344

Nota: Nem todos os formandos e ex-formandos entregaram os questionários, mas a


amostra continua a ser muito significativa.

As respostas a este questionário permitiram recolher os seguintes dados da


Avaliação Subjetiva, sendo que, em cada um dos domínios, se destacam os itens em que
a média das respostas foi mais alta e mais baixa. A avaliação é feita tendo por base o 1
como valor mínimo e o 4 como valor máximo, sendo que em termos de análise, só os
valores acima de 3 são considerados positivos.

Formação Profissional e Emprego de PCDI - O Estado da Arte em 2016


79
Autodeterminação

1 - Faço compras em lojas e supermercados. 3,36


2 - Deixam-me escolher o trabalho que
2,87
mais gosto de fazer.
5 - Participo em associações que me
2,99
interessam.
7 - Faço as tarefas necessárias para manter a
3,47
minha casa (ou quarto) organizada e limpa.
1 2 3 4

Inclusão Social

10 - Tenho poucos amigos com quem sair e


2,75
me divertir.
12 - Sinto-me excluído/a na sociedade. 2,34

14 - Tenho pessoas que me ensinam a fazer


3,41
o que não sei.
15 - Tenho boas relações com pessoas de
3,56
diferentes idades.
1 2 3 4

Bem-estar Laboral

17 - Os meus colegas de trabalho aceitam-


3,47
me como a qualquer outra pessoa.

18 - Tenho boas relações de trabalho. 3,46

19 - Estou contente com o local onde


3,51
trabalho.
20 - O local onde trabalho é limpo e
3,51
seguro.
1 2 3 4

Bem-estar Material

21 - Tenho dinheiro para comprar as coisas


2,8
de que preciso.
24 - Escolho as atividades que faço nos
3,34
meus tempos livres.
27 - Estou contente com o dinheiro que
2,55
ganho.
28 - As coisas que me ensinam são
3,53
importantes.
1 2 3 4

Formação Profissional e Emprego de PCDI - O Estado da Arte em 2016


80
Bem-estar Emocional e Físico

31 - Estou contente com a minha vida. 3,19

33 - Estou contente comigo mesmo. 3,28

34 - Encontro-me bem fisicamente. 2,93

35 - Estou contente com a minha saúde. 2,82

1 2 3 4

Bem-estar Familiar

37 - Tenho uma boa relação com os meus


3,31
pais.
38 - A comunicação entre os membros da
3,38
minha família é boa.
39 - Estou tão integrado na minha família
3,44
como qualquer outro membro.

1 2 3 4

Fonte: FORMEM (2016c) – Questionário de Avaliação Subjetiva da Qualidade de Vida das


Pessoas com Incapacidade Intelectual - XIV Encontro de Formandos e Ex-formandos

Sintetizando os dados recolhidos da avaliação subjetiva da qualidade de vida, as


áreas mais frágeis são:

 Deixam-me escolher o trabalho que mais gosto de fazer;


 Participo em associações que me interessam;
 Tenho poucos amigos com quem sair e me divertir;
 Sinto-me excluído/a na sociedade;
 Tenho dinheiro para comprar as coisas de que preciso;
 Estou contente com o dinheiro que ganho.

E as áreas mais fortes são:

 Faço as tarefas necessárias para manter a minha casa (ou quarto) organizada e
limpa;
 Tenho boas relações com pessoas de diferentes idades;
 Estou contente com o local onde trabalho;
 As coisas que me ensinam são importantes;

Formação Profissional e Emprego de PCDI - O Estado da Arte em 2016


81
 Estou contente comigo mesmo;
 Estou tão integrado na minha família como qualquer outro membro.

Deste conjunto de dados, discussão de grupo e questionário sobre a qualidade de


vida, considera-se ser possível extrair algumas ideias que devem ser tidas em conta no
desenvolvimento das políticas da formação profissional e emprego das PCDI:

 A certeza de que formação é importante para os formandos e que tem um


impacto muito positivo nas suas vidas;
 A obtenção de um emprego é a meta que os formandos pretendem atingir;
 Os formados têm a perceção de que poderão precisar de apoio ao longo de
toda a sua vida profissional;
 As queixas dos formandos quanto à sua vida situam-se sobretudo na falta de
dinheiro e na falta de amigos;
 As famílias constituem um apoio essencial.

Formação Profissional e Emprego de PCDI - O Estado da Arte em 2016


82
6 – O modelo desejável

6.1 – Os princípios orientadores

Todas as entidades envolvidas no sistema de formação e reabilitação profissional


assumem como sua missão a promoção da integração ou inclusão social das PCDI. Ora,
para o público-alvo da Formação Profissional, a inclusão social depende, em boa
medida, da sua integração económica e profissional.

A inclusão profissional implica que as pessoas estejam nos locais de trabalho e


tenham direitos, nomeadamente o direito a um salário e a uma carreira profissional, mas
também é muito importante conseguir que cada pessoa se sinta como um elemento
valioso para a sua comunidade. Nesse sentido, os apoios às PCDI, nomeadamente a
Formação Profissional, devem ser centrados em cada pessoa e desenhados à medida de
cada um tendo em atenção as suas necessidades e, sobretudo, os seus sonhos e
aspirações para o futuro.

O modelo apresentado implica um posicionamento das organizações que o


queiram integrar, mais aberto à comunidade e mais focado na procura de respostas à
medida de cada pessoa. Subjacente está, também, a necessidade de alterar a sua
perceção como organizações vocacionadas apenas para as pessoas com uma
determinada deficiência e assumir a abertura a todos os públicos especialmente
vulneráveis.

Formação Profissional e Emprego de PCDI - O Estado da Arte em 2016


83
6.2 – A formação como instrumento para acesso ao mercado de
trabalho

O resultado principal, e mais valorizado da Formação Profissional, deve ser a


integração no mercado de trabalho, sendo a certificação profissional ou escolar um
resultado importante mas secundário.

Existe um consenso alargado sobre a importância da Formação Profissional das


PCDI contemplar um extenso contacto com o mundo real do trabalho, porém, o
processo de integração profissional é dificultado pela interação de dois processos
simultâneos:

 Do lado do formando, a dificuldade em aprender as tarefas e em cumprir com o


que lhe é solicitado;
 Do lado da empresa, a necessidade de ultrapassar a desconfiança e o
desconhecimento das capacidades do formando.

A melhor forma de ultrapassar estas dificuldades é através do conhecimento


mútuo, só possível de adquirir pelo convívio prolongado, ou seja, através da promoção
da formação e interação com os possíveis locais de trabalho.

A evidência empírica no terreno confirma a vantagem de promover no percurso


formativo um estreito contacto com os possíveis empregadores, uma vez que a
generalidade das contratações decorre após a existência de um conhecimento mútuo. Se
no mercado de trabalho aberto o conhecimento prévio ou pessoal do trabalhador
desempenha um fator essencial na sua contratação, no caso das PCDI esse fator tem um
peso ainda maior, sendo pouco comum as empresas contratarem um trabalhador com
deficiência com quem não tenham tido qualquer tipo de contacto anterior.

Convém, contudo, alertar que o acesso ao mercado de trabalho através de um


emprego normal poderá não ser a única forma de almejar a inclusão e potenciar
rendimentos em termos de trabalho. Importa considerar novas formas de trabalho que,
não configurando as condições de um emprego, podem ter valor económico e social
relevante, ressalvando que não devem, nem podem, prejudicar o acesso a um trabalho
com direitos. Um exemplo seriam os trabalhos sociais e economicamente úteis mas a

Formação Profissional e Emprego de PCDI - O Estado da Arte em 2016


84
tempo parcial, de forma a melhor se adaptar às especificidades da pessoa com
deficiência e incapacidades.

Outro aspeto que dificulta a integração no mercado de trabalho está relacionado


com o receio de muitas PCDI trocarem o apoio social estável pelo rendimento de um
emprego instável. Neste sentido, no decorrer do presente ano, o Governo já avançou
no sentido positivo, permitindo a acumulação de rendimentos do trabalho com
subsídios sociais até um determinado valor. Porém, ainda há que agilizar, simplificar e
acelerar os processos de renúncia e retoma de apoios sociais, de forma a retirar de vez
da equação da integração profissional a variável da instabilidade e perda financeira face
aos apoios sociais.

Formação Profissional e Emprego de PCDI - O Estado da Arte em 2016


85
6.3 – O contributo da formação para a integração social numa
perspetiva global

O senso-comum estabelece que as pessoas com deficiências significativas têm


mais dificuldades em conseguir um nível de participação na vida da comunidade
minimamente satisfatório. Porém, não há tanta consciência de que as PCDI que
trabalham podem ter uma rede de contactos sociais limitada a casa e ao trabalho, não
pertencendo a outros grupos sociais, como um estudo promovido pela FORMEM em
2012 apontou (Veiga, 2012).

Impõe-se, então, analisar até que ponto, durante a Formação Profissional, deve
haver um esforço de promoção da participação dos formandos em grupos na
comunidade e não tanto a realização de atividades pelos formandos enquanto um
grupo, que pela sua natureza é temporário e se desfaz no final da formação ‒ não sendo
regra que os colegas de formação desempenhem um papel muito relevante na vida
social uns dos outros no pós-formação.

Esta ideia está fora dos atuais modelos de formação, porém, sabe-se que muitas
entidades e respetivos técnicos, por sua própria iniciativa e muitas vezes custo, têm
procurado implementar rotinas sociais às pessoas apoiadas e incutir a sua pertença em
atividades sociais fora do âmbito do grupo e da entidade que o apoia. No entender da
FORMEM, esta mais-valia deveria ser massificada e estar enquadrada nos percursos
formativos das PCDI, bem como nos processos mais amplos de acompanhamento e
apoio para uma qualidade de vida.

Formação Profissional e Emprego de PCDI - O Estado da Arte em 2016


86
6.4 – A ligação deste sistema ao sistema escolar e formativo

Num sistema com reduzido financiamento do Fundo Social Europeu e que possa
ser sustentável com os recursos endógenos, a formação das PCDI deve estar interligada
com o sistema de ensino e com o sistema de formação regular, podendo, em muitos
casos, funcionar como uma etapa complementar da primeira ou como período
complementar e facilitador da presença das pessoas nas empresas. Faz sentido, na
continuidade das políticas de inclusão escolar, que os alunos com NEE façam a sua
aprendizagem profissional integrados no sistema regular.

O objetivo de promover a inclusão social deverá conduzir à criação de uma


nova modalidade de apoio, que poderia passar pelas estruturas especializadas
funcionarem como Centro de Recursos para a Inclusão de alunos que frequentam cursos
vocacionais, profissionais ou façam formação regular. Pode também fazer sentido que
estas estruturas assumam o apoio aos alunos de educação especial que realizam
programas de Transição para a Vida Pós-Escolar nos anos finais da escolaridade.

Para além do sugerido, as estruturas formativas especializadas em reabilitação


profissional poderão colaborar com os centros de qualificação e formação de adultos
para permitir que estes também apoiem as PCDI e interajam com as universidades e
politécnicos para colaborarem na inserção profissional dos jovens com deficiência que
fazem formação superior.

Formação Profissional e Emprego de PCDI - O Estado da Arte em 2016


87
6.5 – Modalidades de Formação

Nos dias que correm existe uma grande variedade de modalidades de formação,
embora exista, também, uma grande rigidez organizativa que dificulta a flexibilidade
que aparentemente o sistema já comporta. Deste modo, a FORMEM deixa algumas
reflexões sobre as melhorias que poderão ser introduzidas em algumas das modalidades
existentes e a sugestão de novas modalidades de formação que equilibrem o sistema e
alarguem o leque de escolhas à disposição das pessoas (tendo sempre em atenção as
caraterísticas dos formandos que efetivamente frequentam a formação profissional para
PCDI).

Formação Inicial

 Destinada a PCDI jovens que “caíram” fora do sistema escolar, ou de formação


profissional, ou a pessoas já adultas que, tendo ou não trabalhado, não têm
qualificações ou preparação profissional.
 Pode, também, ser destinada a jovens que, tendo frequentado a escola até ao
12º ano, ou concluído um curso profissional, não obtiveram aproveitamento
e/ou não têm maturidade para responder às exigências do mercado de trabalho.
 Esta modalidade poderá manter a estrutura atualmente existente, reforçando as
possibilidades de desenhar uma formação individualizada, recorrendo a uma
maior flexibilidade nos referenciais e fortalecendo a necessidade da formação
não perder o objetivo da empregabilidade.
 Concorda-se que há vantagens na manutenção dos referenciais adaptados que
permitem a dupla certificação, devendo-se trabalhar para conseguir o
reconhecimento de novos referenciais, de modo a permitir alargar o leque de
escolhas disponíveis para os formandos.

Formação para a inserção ou reinserção

 Deverá ser criada uma modalidade de formação completamente individualizada,


Esta não deve estar sujeita à utilização de referenciais mas deve obrigar à
elaboração de um perfil de competências e de um programa individual de
formação para cada formando.

Formação Profissional e Emprego de PCDI - O Estado da Arte em 2016


88
 Deverá ser especialmente dirigida a adultos que já trabalharam, jovens que
concluíram com sucesso cursos profissionais ou vocacionais, jovens que
concluíram ou frequentaram cursos superiores e ex-formandos que já tenham
feito um curso de formação inicial e não estejam integrados profissionalmente.
 Esta modalidade de formação não pode exceder a duração prevista para a
formação inicial.
 Se na formação inicial convencional podem ser exigidos pré-requisitos, nesta
modalidade deve-se procurar fazer uma preparação focada nas capacidades de
cumprimento de regras sociais, de normas profissionais e no matching entre a
pessoa e um posto de trabalho em concreto.

Formação de Ativos

 Deverão manter-se as formações de curta duração destinadas à atualização de


competências para pessoas que se encontram empregadas ou desempregadas e a
receber subsídio de desemprego.
 Em territórios com baixa densidade populacional é difícil organizar este tipo de
formação, por falta de formandos para organizar grupos, pelo que será
importante flexibilizar as regras para a criação destes grupos formativos.

Ações de apoio à integração de PCDI em cursos de formação regular

 Estes apoios são, pela sua natureza, individuais e não é possível tipificá-los pela
diversidade de situações, tanto do lado dos formandos, como do lado da
estrutura que os acolhe.
 Este apoio implicará um contacto mínimo de uma ou duas horas por semana
com o formando, tendo a entidade formadora de garantir um formador ou um
técnico com experiência cuja presença seja considerada prioritária.
 Para efeitos de cálculo do custo dos apoios, poderia ser estabelecida uma relação
do custo/hora de um formando em formação inicial.
 Atendendo às caraterísticas dominantes nos CRI, a FORMEM propõe que as
estruturas formativas assumam o apoio aos alunos em PIT (Plano Individual de
Transição – transição para a vida pós-escolar).
 Numa ação similar, deveria ser aplicada uma medida de apoio a jovens com
deficiência no Ensino Superior.

Formação Profissional e Emprego de PCDI - O Estado da Arte em 2016


89
6.6 – A relação das estruturas de formação com os Centros de
Recursos Locais para a Qualificação e Emprego

Devido às ineficiências atuais anteriormente referidas, uma das possibilidades a


ser avançada num modelo desejável é a fusão das estruturas de formação especializada
com os Centros de Recursos Locais. Faz sentido que todas as funções dos Centros de
Recursos (IAOQE, Apoios a Colocação e mesmo o Apoio pós-colocação) estejam
integradas num Centro de Recursos com competências globais, tendo este uma área de
intervenção definida em função de uma área geográfica específica e não apenas em
função da área dos serviços de emprego do IEFP. Esta fusão permitiria aproveitar
sinergias e competências já existentes. No essencial, as estruturas formativas poderiam
funcionar como Centros de Recursos com grande diversidade de serviços e de públicos,
tornando todo o sistema de apoios mais fluído e interligado.

De fora desta fusão ficaria a Avaliação da Capacidade Produtiva para efeitos de


atribuição de apoio às empresas, que se poderia manter sobre a alçada de Centros de
Recursos Locais com uma área geográfica mais abrangente, semelhantes aos atuais, de
forma a centralizar o processo e revestir a avaliação de maior independência.

Formação Profissional e Emprego de PCDI - O Estado da Arte em 2016


90
6.7 – Questões técnicas e metodológicas

O domínio das competências formativas tradicionais é essencial num novo


modelo, ao qual deve ser acrescentado a competência de desenhar programas à medida
das pessoas. Se tradicionalmente ainda há um grande foco na elaboração de programas
partindo das competências já adquiridas pela pessoa, o modelo desejável utilizaria a
primazia do planeamento centrado na pessoa.

A mudança metodológica encontra-se no ponto de partida. Se no atual modelo


os programas e apoios são desenhados para acrescentar competências às já adquiridas,
no modelo desejável a construção do programa de formação e de apoio baseia-se na
visão que a pessoa consegue formular sobre o seu futuro, sendo desenhado para a
ajudar a alcançar esse objetivo.

Isto é o equivalente ao que o professor Miguel Angel Verdugo partilhou em


Portugal, nos dias 23 de Outubro de 2015, em Coimbra, e 11 de Novembro de 2016,
em Sintra, como: “a necessidade de aprender a pensar da direita para esquerda e não
apenas da esquerda para a direita”. Esta expressão pretende questionar o facto de se
pensar com a mesma lógica com que se escreve. Lê-se e escreve-se da esquerda para a
direita e numa lógica em que o que vem a seguir se enraíza no que se acaba de ler ou
escrever. O desafio é conseguir-se compartilhar a visão do futuro que cada pessoa deseja
para si própria e planear o que se faz com ela em função desse futuro. Isto implica,
também, aceitar que o futuro não é uma mera continuação do passado e que pode ser
moldado pelas ações se se for capaz de o imaginar.

O grande desafio para as organizações é conseguir alinhar o esforço com os


esforços que cada pessoa está disponível para fazer no sentido de avançar em direção a
um futuro idealizado (Schalock e Verdugo, 2012). A experiência demonstra que, em
termos de integração profissional e social, podem ser melhor sucedidas pessoas com
menores capacidades de realização mas muito focadas no objetivo de terem um futuro
melhor, do que outras com mais capacidades de trabalho mas a quem falta a visão de
um futuro por que vale a pena empenhar-se.

Esta forma de pensar permite elaborar planos de apoio baseados nas


necessidades e desejos da pessoa apoiada (estilo de vida desejado), substituindo a visão
tradicional do modelo “remediativo” cujo centro é o deficit que a pessoa apresenta.

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Deste modo, a pessoa é a força central e o condutor do processo na determinação da
sua visão do futuro, objetivos, suportes e serviços de apoio.

A primeira grande alteração deverá ser a substituição da avaliação tradicional.


Em vez dos testes e escalas de avaliação, o que passa a ser necessário é, entre outras
coisas:

 Ouvir a pessoa;
 Atender aos detalhes que ela comunica;
 Estar aberto e atento às situações que podem ser confusas para a pessoa;
 Encorajar os sonhos e desejos da pessoa;
 Identificar o que realmente faz falta ou incomoda a pessoa.

O determinante para a organização do processo de formação terá de ser a


resposta que a pessoa der à questão: Para onde quer ir?

Obter uma boa resposta a esta questão deverá passar a ser o objetivo dos
processos de avaliação, que ainda estão muito centrados na procura de respostas à
questão: De onde vem esta pessoa e que caminho fez até chegar aqui?

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92
6.8 – Novas competências dos profissionais

O modelo desejável proposto assenta na existência de um sistema com grande


complexidade onde se terão de procurar soluções centradas em cada pessoa utilizando
múltiplas interações com escolas, centros de formação, empresas, sistemas de apoio
social e, claro, os sistemas de formação profissional e de emprego. Este sistema exige aos
profissionais novas competências pois, paralelo à atividade formativa, terão um trabalho
permanente de mediação com outras entidades.

O perfil dos técnicos, formadores ou outros, deverá evoluir de uma conceção


relativamente estática da função para algo dinâmico e variável. Ou seja, a principal
tarefa do formador deixa de ser treinar e preparar pessoas para um emprego, que
depende em última instância de forças fora do âmbito da Formação Profissional, e passa
a ser apoiar a pessoa na procura do emprego que ela deseja.

O objeto da intervenção dos serviços de Formação Profissional especializada


seria influenciar a mudança de sistemas complexos e não apenas a melhoria de pessoas
em concreto. Nesse sentido, seria essencial aos profissionais:

 Compreender como é que a pessoa apoiada quer viver;


 Compreender o significado que a pessoa atribui ao trabalho na sua vida;
 Conhecer os sonhos, desejos, dons e capacidades da pessoa;
 Oferecer um trabalho que pense fazer sentido para a pessoa e não apenas tentar
colocá-la;
 Ajudar a pessoa a estabelecer relações com colegas no trabalho;
 Ajudar a pessoa a tornar-se parte do seu local de trabalho;
 Estar presente quando a pessoa precisa de ajuda devido a problemas ou desafios
em outras áreas de vida ou a mudanças no trabalho;
 Dar atenção aos diversos comportamentos que possam sugerir uma necessidade
de mudança.

A arte destes técnicos estará em encontrar caminhos para encorajar a retirada das
barreiras que dificultam a participação das PCDI na comunidade, de modo a que, por
um lado, as pessoas na comunidade abram espaço para a participação e contributo das
pessoas com deficiência e, por outro, que as pessoas com deficiência criem espaço nas
suas vidas para a participação e relacionamentos na comunidade.

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7 – O que é possível a curto prazo

De forma geral, seria possível a curto prazo que a Formação Profissional e as


outras medidas de apoio ao emprego das PCDI fossem efetivamente políticas públicas
da responsabilidade final do Estado Português, retirando-se daí consequências para a
definição dos financiamentos. Importa que, de uma vez por todas, a Formação
Profissional deixe de ser considerada uma atividade pontual que se faz quando há
financiamentos europeus, mas sim uma política portuguesa estruturada de âmbito
económico-social.

Em termos mais específicos, os centros de formação poderiam com facilidade


desenvolver as seguintes atividades:

 Atividades de IAOQE – Com caraterísticas similares às que existem atualmente.

 Formação para a Qualificação – Ações que têm como objetivo a qualificação


profissional podendo atribuir, ou não, dupla certificação profissional e
académica. Deveriam ser alargadas a todas as pessoas que, pelas suas fragilidades,
não conseguem fazer percursos regulares ou acederem ao emprego sem esta
etapa formativa, ainda que não sejam tipicamente pessoas com deficiência.

 Formação para a Inserção – Ações desenhadas à medida de cada pessoa e


dirigidas especificamente à sua inserção profissional. Esta medida teria toda a
prática em contexto de trabalho e poderia funcionar numa lógica complementar
da formação regular ou da formação para a qualificação.

 Apoio às PCDI que frequentam o ensino profissional ou cursos de formação


profissional regulares – Uma modalidade similar ao que é feito atualmente nos
CRI.

 Apoio na Transição para a Vida Ativa (TVA) pós-escolar aos alunos do ensino
secundário e do ensino superior – Os programas de TVA poderiam ser assumidos
por estas unidades e alargados ao ensino superior.

 Apoio pós-colocação – Em moldes semelhantes ao que atualmente existe.

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Em relação aos custos, o atual sistema de financiamento com base nos custos
reais tem as suas vantagens assentes na previsibilidade da imputação dos custos, mas,
por outo lado, comporta o risco de haver critérios de admissão das despesas à posteriori
que prejudicam as entidades formadoras. Além disso, as atuais regras de custos reais
dificultam a realização de investimentos na manutenção e modernização de instalações e
equipamentos e impedem a capitalização das organizações que, assim, têm enormes
dificuldades em fazer face a problemas de tesouraria sempre que existem atrasos.

De acordo com o exposto, o sistema de custos unitários poderia ser uma boa
alternativa a curto-prazo, permitindo alguma flexibilidade na gestão de custos, se as suas
regras forem justas e adequadas. Neste sentido, o modelo desejável proposto
funcionaria melhor com um pagamento com base em custos unitários, pois só assim as
entidades formadoras poderiam fazer face à diversidade de situações e reagir atempada,
e apropriadamente, aos pedidos que poderiam chegar.

Nesta alteração, os custos de funcionamento, de pessoal e de logística, deveriam


ser tipificados por horas realizadas, pois isso favorece as pessoas apoiadas e facilita a
gestão de um sistema que se pretende mais complexo e individualizado. Já a fixação do
valor dos custos unitários para as ações de formação será sempre uma questão complexa
e a ser abordada com ponderação, mas, como anteriormente explanado neste
documento, afigurando-se possível avançar para valores de referência a partir da análise
da consistência histórica ao longo dos anos.

O ideal a curto-prazo seria a possibilidade de as entidades formadoras


escolherem entre a modalidade de custos reais ou custos unitários, conforme o mais
adequado ao seu contexto. No caso das modalidades de apoio que já têm custos
unitários, estes deverão ser mantidos, ainda que alguns montantes possam vir a ser
revistos.

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Conclusão

No preâmbulo deste trabalho foram identificadas as bases que motivaram a


construção do documento e os objetivos a atingir, nomeadamente a sistematização da
informação e das ideias que espelham a Formação Profissional especializada em
Portugal, bem como a concretização de propostas sobre o sistema de apoio à
qualificação e emprego das pessoas com deficiência e incapacidades.

Se os primeiros cinco capítulos procuraram ilustrar de uma forma transversal a


realidade da Formação Profissional para PCDI em Portugal, deixando sempre
apontamentos, reflexões e análises críticas no percurso, os últimos dois focam-se
exclusivamente em propor possíveis ações de melhoria tendo por base o diagnóstico
previamente traçado.

Para a FORMEM, este documento não é um ponto de chegada, mas sim um


pontapé de saída para uma discussão que se reconhece que será longa e complexa,
porém, extremamente necessária.

As ideias e as propostas que se avançam são aquelas que se consideraram


exequíveis e capazes de introduzir uma nova energia e dinâmica num sistema que já tem
uma importante e longa história, mas que necessita de ser reinventado para ser capaz de
corresponder ao que é pedido pela sociedade e pelas pessoas mais vulneráveis.

Nem todas as ideias e propostas serão consensuais, mas a publicação deste


documento e a sua difusão junto de todos os intervenientes visa provocar e facilitar uma
discussão capaz de gerar consensos alargados que, a jusante, permita tornar mais eficaz e
eficiente o sistema de apoio à qualificação e emprego das PCDI no seu todo.

Para dinamizar a discussão necessária, a FORMEM irá promover, em 2017,


encontros de trabalho com as organizações que compõem o Fórum para a Integração
Profissional, com o IEFP, o POISE, o POR Lisboa, o INR, o Ministério do Trabalho,
Solidariedade e Segurança Social e as organizações representativas das pessoas com
deficiência.

O sonho concreto da FORMEM é que este documento possa ser um contributo


para o desenvolvimento de novas políticas e programas com potencial para assegurar o
apoio às pessoas com deficiência para além do Quadro Portugal 2020.

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96
Para além disso, há também a necessidade de se refletir sobre as metodologias de
intervenção utilizadas, sem medo de medir os resultados que geram e os custos que
implicam, pois a Federação acredita que a sustentabilidade e viabilidade destes
programas e políticas dependerão sempre do facto de sociedade valorizar e reconhecer
que os resultados conseguidos compensam os seus custos.

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Referências Bibliográficas

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http://www.catalogo.anqep.gov.pt/Glossario
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FORMEM (2016b). Questionário de Grupo – XIV Encontro de Formandos e Ex-
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Pessoas com Incapacidade Intelectual - XIV Encontro de Formandos e Ex-formandos.
Coimbra.
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IEFP, Direção de Serviços de Estudos, Planeamento e Controlo de Gestão (2016b).
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IEFP, Departamento da Formação Profissional (2016). Guia Organizativo, Formação
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Documentos Normativos – Legais

Decreto-Lei n.º 396/2007 de 31 de Dezembro. Ministério do Trabalho e da


Solidariedade Social (2007). Diário da República, Série I, n.º251.
Decreto-Lei n.º 290/2009 de 12 de Outubro. Ministério do Trabalho e da Solidariedade
Social (2009). Diário da República, I série, N.º 197, Lisboa.
Decreto-Lei n.º 108/2015 de 16 de Junho. Ministério da Solidariedade, Emprego e
Segurança Social (2015). Diário da República, Série I, Nº 116, Lisboa.
Despacho n.º 8376-B/2015, de 30 de julho. Ministério da Solidariedade, Emprego e
Segurança Social, Gabinete do Secretário de Estado do Emprego (2015). Diário da
República, Série II, Nº 147, Lisboa.
Portaria n.º 782/2009, de 23 de Julho. Ministérios do Trabalho e da Segurança Social,
da Educação e da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (2009). Diário da República,
Série I, nº 141, Lisboa.
Resolução do Conselho de Ministros n.º 4/2016 (2016). Diário da República, Série I, Nº
16, Lisboa.

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Anexos

Anexo I – Questionários Estado da Arte (FORMEM, 2016a)

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105
Anexo II – Questionário de grupo (FORMEM, 2016b)

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107
Anexo III – Questionário de avaliação subjetiva (FORMEM,
2016c)

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