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METROLOGIA-2003 – Metrologia para a Vida

Sociedade Brasileira de Metrologia (SBM)


Setembro 01−05, 2003, Recife, Pernambuco - BRASIL

LINGUAGEM DE MEDIÇÃO PARA EXTRAÇÃO DE CARACTERÍSTICAS


GEOMÉTRICAS DE NUVENS DE PONTOS TRIDIMENSIONAIS

Armando Albertazzi Jr.1 e Carlos Aurélio Pezzotta2


1
UFSC / Labmetro, Florianópolis - SC - Brasil
2
Photonita Ltda., Florianópolis - SC - Brasil

Resumo: Métodos ópticos de medição têm sido cada vez Neste trabalho é apresentada uma sistemática que tem sido
mais utilizados em aplicações industriais que envolvem a usada com sucesso para extrair características geométricas
medição de formas geométricas. A medição é feita sem de nuvens de pontos. Implementada através de comandos,
contato e em grande velocidade, permitindo que nuvens de esta sistemática é a base sobre a qual é concebida uma nova
algumas centenas de milhares de pontos sejam adquiridas linguagem de programação. As inúmeras possibilidades de
rapidamente. Na maioria das aplicações de interesse definição de algoritmos de medição preservam grande
industrial é necessário extrair da nuvem de pontos flexibilidade para diversas aplicações.
características geométricas da peça medida. Este trabalho
A nuvem de pontos, base para a aplicação da sistemática
apresenta uma sistemática para extrair parâmetros
apresentada neste trabalho, pode ser obtida a partir de
geométricos de nuvens de pontos. Uma linguagem de
diferentes técnicas de medição. Interferometria
medição é definida com base nesta sistemática, permitindo
monocromática e interferometria de luz branca, técnicas de
grande potencialidade e flexibilidade em uma variedade de
projeção de franjas, shadow moiré e topogrametria estão
aplicações. Alguns exemplos de medição são apresentados.
dentre as possibilidades.
Esta sistemática está hoje embutida em dois sistemas ópticos
de medição disponíveis no mercado.
Palavras chave: medição de formas, medição de geometria, 2. NUVEM DE PONTOS
métodos ópticos, nuvem de pontos. Uma nuvem de ponto é um conjunto ordenado de
coordenadas de pontos tridimensionais. Na medição de
geometrias, normalmente estes pontos são extraídos de uma
1. INTRODUÇÃO
região de interesse na superfície medida.[1]
Métodos ópticos de medição têm sido cada vez mais
É obtida através da medição individual das coordenadas 3D
utilizados no meio industrial em diversas aplicações
de cada ponto. Embora seja até possível formar uma nuvem
envolvendo a medição da geometria e da integridade de
de pontos através de uma sucessão de medições por contato
partes e sistemas em geral. Métodos ópticos de medição são
ou varredura mecânica, os métodos ópticos são
realizados sem contato e geralmente envolvem o
freqüentemente utilizados para tal pela sua grande
levantamento de grandes volumes de dados com
eficiência, envolvendo a aquisição de um grande volume de
elevadíssima velocidade. A ausência de contato elimina
pontos com elevadíssima velocidade.
totalmente os riscos de danificar ou contaminar a região
medida. Vários métodos ópticos podem ser usados para adquirir
nuvens de pontos associadas à geometria das superfícies de
Na área da metrologia dimensional, por exemplo, algumas
interesse. Dentre estes, três grupos de métodos ópticos se
técnicas ópticas proporcionam medições com grande riqueza
destacam:
de detalhes e excelentes níveis de incerteza. Não é raro
medir em poucos segundos uma nuvem de pontos, composta
de centenas de milhares de pontos tridimensionais. 2.1 Interferometria
Métodos interferométricos convencionais se baseiam no
Embora uma nuvem de pontos seja, em si, um conjunto
comprimento de onda de uma luz monocromática para medir
muito amplo de informações sobre a geometria medida, em
aplicações industriais não é raro que o interesse recaia sobre a topografia de uma superfície. São restritos a superfícies
algumas características geométricas da peça medida, suaves e sem degraus ou descontinuidades. Métodos de
incidência oblíqua permitem a medição de superfícies
embutidas na nuvem de pontos. É, então, necessário extrair
rugosas, o que tem interesse industrial.
alguns parâmetros geométricos das nuvens de pontos.
Ângulos, dimensões, parâmetros que descrevem formas e Na interferometria de luz branca a luz é usada como
posição relativas entre elementos geométricos são alguns comparador. A figura 1 ilustra o esquema básico. Um semi
exemplos. Estes parâmetros geométricos são referidos na espelho divide em duas componentes a luz colimada de um
literatura técnica internacional como “features”.[1] LED ou lâmpada halogênea. A componente desviada para a
direita é refletida pela superfície da peça a medir cuja nível associadas à forma geométrica da superfície medida. O
imagem é captada pela câmera de TV. A componente uso de iluminação múltipla permite que esta técnica seja
inferior é dirigida para um espelho de referência onde é usada para medição de peças descontínuas e com degraus.
refletida e retorna para a câmera de TV. A câmera de TV
enxerga a interferência resultante entre ambas as câmera de TV
componentes de luz. Como trata-se de luz branca, com
pequeno comprimento de coerência, a figura de interferência fonte de luz
só é visível quando a diferença de caminho entre as duas
componentes de luz está dentro de poucos micrometros. Um
atuador, normalmente piezelétrico ou um motor de precisão,
movimenta o espelho inferior de forma progressiva,
tornando visível a figura de interferência para diferentes grade de moiré
regiões da peça. Esta figura é interpretada como curvas de
nível que correspondem a diferentes níveis da peça para peça a medir
cada nova posição do espelho. A varredura dentro da faixa
de interesse e o uso de algoritmos apropriados permitem a Figura 2 – Medição de formas por “shadow moiré”
medição da geometria da peça. A presença de degraus e
descontinuidades de qualquer tipo não impede a medição da 2.3 Fotogrametria e topogrametria
geometria, sendo esta sua principal vantagem em relação à
interferometria com luz monocromática. Incertezas melhores Duas outras técnicas ópticas usadas para a medição de
que 1 µm para faixas de medição de algumas dezenas de nuvens de pontos são a fotogrametria e a topogrametria. A
milímetros são atingidas. fotogrametria utiliza imagens captadas por pelo menos duas
câmeras de TV de ângulos distintos e bem conhecidos. As
fonte de luz branca
posições de regiões homólogas nas diferentes imagens são
identificadas através de técnicas de processamento de
imagens. Através de triangulação são determinadas as
lente colimadora coordenadas de um grande volume de pontos visíveis na
semi-espelho superfície da peça. Algumas vezes são introduzidos padrões
de manchas e texturas irregulares sobre a superfície da peça
peça a medir para facilitar a localização dos pontos homólogos nas duas
imagens.
câmera de TV
A topogrametria é uma evolução da fotogrametria, que
combina projeção de franjas com fotogrametria. Um projetor
espelho móvel de franjas incide sobre a superfície a medir uma seqüência
de padrões gráficos binários que são usados para identificar
atuador com grande precisão a posição sobre cada imagem dos
respectivos pontos homólogos. Além de ser possível medir
Figura 1 – Interferômetro de luz branca
peças descontínuas, incertezas da ordem de uma parte em
10.000 do volume de medição têm sido reportadas na
2.2 Moiré e projeção de franjas literatura para esta técnica de medição. [4], [7], [8]
Técnicas de projeção de franjas consistem em projetar para a
superfície a medir um conjunto de linhas retas, paralelas e
3. ENTIDADES GEOMÉTRICAS
igualmente espaçadas. A observação da peça a medir é feita
por uma câmera de TV em um ângulo distinto do de
A sistemática apresentada neste trabalho envolve uma série
projeção. Como conseqüência, as linhas projetadas
de elementos que passam a ser descritos na seqüência:
aparecem distorcidas em função da forma geométrica da
superfície medida. Algoritmos apropriados analisam as
3.1 Regiões de Interesse
franjas e determinam a forma geométrica da superfície. Esta
técnica é apropriada para superfícies contínuas de pequenas, Regiões de interesse são áreas definidas com a função de
médias ou grandes proporções. [2], [3], [5], [6], [9] focar o processamento e a análise em parte de uma nuvem
de pontos. Em outras palavras, são regiões bidimensionais
Uma variante da técnica de projeção de franjas é
que envolvem um subconjunto de pontos a ser focado em
denominada de shadow moiré, ilustrada na figura 2.
determinada análise de uma nuvem.
Consiste em posicionar uma grade contendo uma série de
linhas retas e paralelas nas proximidades da superfície a Essas regiões podem ser delimitadas com contornos
medir. Uma fonte de luz oblíqua projeta a sombra das linhas baseados em formas geométricas tradicionais, como
da grade sobre a superfície da peça a medir. A câmera de circunferências, polígonos, anéis circulares e poligonais,
TV enxerga o “batimento” entre as sombras das linhas bem como assumir formas mais complexas baseadas em
projetadas com as próprias linhas da grade, produzindo um contornos livres e combinações de regiões.
padrão de franjas de moiré que corresponde às curvas de
A figura 3 ilustra diversas formas de região de interesse que ponto (x,y) e a coordenada z do respectivo ponto (x,y)
podem ser traçadas para selecionar pontos. pertencente à região plana (ajustada matematicamente e
delimitada por uma região de interesse). Trata-se da
“distância vertical”, que é a projeção da distância euclidiana
no eixo vertical. Através de uma variação desse tipo de
medição, pode-se obter a distância entre duas regiões planas
através de uma reta vertical que intercepta ambas. Em outras
palavras, a partir das coordenadas (x,y) de um ponto
qualquer, é possível obter o valor de sua respectiva
coordenada z nas duas regiões planas envolvidas e com isso
calcular a diferença de altura entre essas regiões planas
passando por um ponto qualquer.
Para o caso da medição de ângulos da região plana, optou-se
por medir separadamente os ângulos que a região plana
Figura 3 – Regiões de interesse sobre uma nuvem de pontos forma com os eixos x e y. Esta alternativa facilita a medição
de ângulos entre regiões planas.
3.2 Regiões Planas
A Tabela 1 procura evidenciar as formas de medição
Levando em consideração o rigor matemático, a entidade anteriormente descritas e destacar as entidades envolvidas
geométrica “plano” se estende para o infinito, possuindo nesses cálculos.
área ilimitada.
Tabela 1. Tipos de cálculo e entidades envolvidas
A criação de referências planas para a medição de diversas
características geométricas de peças levou à definição de Tipo de cálculo Entidades envolvidas
uma entidade de forma plana, porém com extensão Distância Ponto a ponto
delimitada por uma região de interesse. Assim sendo, a
partir de um subconjunto de pontos proveniente de uma Altura Ponto a região plana
nuvem, é possível atribuir àquela área delimitada um plano Região plana a região plana
matematicamente calculado que melhor represente o Ângulo Região plana a região plana
referido subconjunto de pontos. Esse plano, calculado e
delimitado por uma região de interesse, foi aqui 3.4 Paralelismo e planeza
genericamente designado de região plana.
O paralelismo é uma tolerância geométrica de orientação
De uma forma simplificada, pode-se então afirmar que uma aplicada a duas ou mais regiões planas, tendo sempre uma
região plana é um trecho de plano delimitado por uma região delas como referência para o posicionamento paralelo das
de interesse. demais. A figura 4, a seguir, mostra graficamente como esse
tipo de tolerância é especificado.
3.3 Distâncias e ângulos
A definição de distâncias e ângulos pode se tornar bastante
complicada quando se trata da medição de geometrias
complexas. As referências, bem como a própria natureza das
entidades geométricas envolvidas, podem gerar
ambigüidades e dúvidas no que tange ao que se deseja
medir. Assim sendo, procurou-se definir claramente a forma
como essas medidas são realizadas.
Nessa sistemática, procurou-se tratar a medição de Figura 4 –Paralelismo entre duas superfícies planas
distâncias referentes às seguintes entidades geométricas:
A medição do paralelismo é sempre realizada envolvendo
• ponto a ponto;
duas regiões planas. Uma das regiões planas é selecionada
• ponto a região plana. como referência. As distâncias entre cada ponto da região
Em alguns casos é conveniente que o conceito de distância plana, cujo paralelismo deve ser determinado, e o plano da
seja tratado de forma particularizada. Para o caso da região de referência, são calculadas e analisadas. Da
medição “ponto a ponto”, não há considerações a fazer, pois distribuição destas distâncias é calculado o paralelismo entre
existe uma única forma de se medir essa dimensão: a estas superfícies.
distância euclidiana. A planeza exprime o quanto uma superfície se afasta da
Para o caso “ponto a região plana” existe algumas condições forma plana ideal. Normalmente é numericamente expressa
que precisam ser observadas: como a menor distância entre dois planos paralelos que
contém totalmente a superfície a ser caracterizada. A figura
Para a medição “ponto a região plana”, essa sistemática 5 ilustra como essa medida é realizada.
assume como distância a diferença entre a coordenada z do
O cálculo da planeza envolve dados delimitados por apenas medição sendo fundamentais para o disparo do início do
uma região de interesse localizada na superfície onde a processo de medição.
mesma vai ser avaliada. É criada uma região plana e, em
seguida, é aplicado o método que calcula a planeza para a
região plana de interesse. Criação das regiões de interesse:
Esse bloco de funções contém os comandos necessários para
a criação de regiões de interesse. Conforme descritas no
item 3.1, as regiões de interesse são entidades que
direcionam o foco do processamento para as áreas da nuvem
de pontos à qual se deseja efetuar algum tipo de cálculo. Em
função disso, diversas formas de região de interesse são
possíveis de serem traçadas, conforme foi exemplificado
pela figura 3.
Figura 5 – Avaliação da planeza de uma superfície
A Tabela 2 resume as diversas formas de região de interesse
que podem ser traçadas para selecionar pontos e lista as
4. LINGUAGEM DE MEDIÇÃO informações necessárias para que sua criação seja possível.

4.1 Necessidade de uma linguagem de medição Tabela 2. Tipos de região de interesse e seus parâmetros
Tipo da região de
De forma análoga à medição por coordenadas, a medição de Parâmetros
interesse
certas características geométricas requer um algoritmo de PTc – coordenadas de centro
medição. Para melhor descrever o algoritmo de medição foi R – raio da circunferência
desenvolvida uma linguagem de medição, que descreve, C – circular Sini – setor circular (inicial)
passo a passo, a seqüência de operações a realizar para CR – anel circular Sfin – setor circular (final)
quantificar o(s) parâmetro(s) de interesse. RA – ângulo de rotação
RT – largura do anel (opcional)
A aquisição da nuvem de pontos é o passo inicial de PTc – coordenadas de centro
qualquer programa de medição. Para que o processo de W – largura
R – retangular
medição seja estabelecido é necessário informar o que se RR – anel retangular
H – altura
precisa medir, qual o seqüenciamento das operações, quais RA – ângulo de rotação
parâmetros devem ser calculados, além da atribuição e RT – largura do anel (opcional)
controle de tolerâncias. As nuvens de pontos contêm dados PT1v – coordenada do vértice 1
PT2v – coordenada do vértice 2
brutos que, através de análises numéricas, se transformam
P – poligonal :
em informações de interesse prático. O programa de PTnv – coordenada do vértice 3
medição realiza essa função. É através dele que são RA – ângulo de rotação
definidas as regiões de interesse, bem como passadas as PTini – pontos da coordenada inicial
instruções para a criação das regiões planas, para o cálculo :
PL – polilinha
de alturas, paralelismo, entre outras. PTend – pontos da coordenada final
RA – ângulo de rotação
4.2 Estrutura da linguagem de medição ROI1 – Primeira região de interesse
CB - combinada ROI2 – Segunda região de interesse
A linguagem de medição está estruturada pelos seguintes Comb Mode – ADD/SUB
conjuntos de instrução:

• aquisição da nuvem de pontos;


Referenciamento:
• criação das regiões de interesse;
• referenciamento da peça; O módulo de referenciamento contém instruções que
possibilitam a criação e a localização de sistemas de
• cálculo de resultados;
coordenadas, redefinição de fatores de escala, mudança de
• operações entre resultados; sistema de coordenadas, o alinhamento da nuvem, entre
• controle das tolerâncias. outras funções.
Existem várias formas de se definir sistemas de
Aquisição da nuvem de pontos: coordenadas. Esta metodologia cobre cinco maneiras de se
realizar tal operação. A Tabela 3 mostra como esses
Esse grupo contém as operações necessárias ao processo de sistemas são criados.
criação das nuvens de ponto. São comandos que determinam
a forma como a varredura vertical será feita, definindo o
tamanho da nuvem, os limites verticais de varredura, a
aplicação de filtros, entre outros. São instruções que
obrigatoriamente estão presentes em qualquer programa de
Tabela 3. Criação de sistemas de coordenadas e seus parâmetros
Aquisição da nuvem de
Formas de criação de sistemas de pontos
Parâmetros
coordenadas
OX PTo – origem
(origem e ponto no eixo X) PTx – ponto no eixo X Criação de regiões de
OY PTo – origem interesse
(origem e ponto no eixo Y) Pty – ponto no eixo Y
OAng PTo – origem
Referenciamento
(origem e ângulo do eixo X) A – ângulo do eixo X
PTx1 – ponto no eixo X
XXY
PTx2 – ponto no eixo X
(2 pontos no eixo X e 1 ponto no eixo Y)
Pty – ponto no eixo Y Medição
PTx – ponto no eixo X
XYY
PTy1 – ponto no eixo Y
(1 ponto no eixo X e 2 pontos no eixo Y)
Pty2 – ponto no eixo Y
Controle de tolerâncias
Cálculo de resultados:
É nesse módulo que estão disponibilizadas as funções de Apresentação de
medição. São funções para realizar as seguintes ações: resultados
• criação de regiões planas baseadas em regiões de
Figura 6 – Seqüência de um programa de medição típico
interesse ou em “n” pontos;
• localização de centros de furos e anéis Conforme pode ser notado, estão presentes no esquema
concêntricos; todos os conjuntos de instrução detalhados anteriormente.
• cálculo da largura de anéis circulares; Em favor da modularidade e expansibilidade da linguagem
de medição optou-se por agrupar os comandos por
• cálculo de paralelismo, planeza e ângulo entre
similaridade e por processo. Dessa forma, novos comandos
regiões planas;
podem ser adicionados à linguagem sem afetar sua estrutura
• cálculo de distâncias entre pontos e planos, de organização.
segundo o item 3.3.
Como forma de ilustrar e mostrar como são alguns dos
Operações entre resultados: comandos de uma linguagem de medição voltada para
nuvens de pontos, na figura 7, a seguir, é apresentado um
Os resultados obtidos através da aplicação das funções de trecho de código de um programa de medição.
medição podem, ainda, ser matematicamente operados entre
si para gerar resultados intermediários ou combinados.
Sendo assim, este módulo contempla as funções
matemáticas básicas que possibilitam representar os
resultados da forma mais viável e adequada, facilitando a
interpretação e adaptação das saídas do sistema à forma
desejada pelo seu usuário.

Atribuição e controle das tolerâncias:


Cada resultado de uma medição apresenta, associadas ao seu
valor, informações de tolerância dimensional. Essas
informações levam em conta o tipo de tolerância tratado:
tolerância bilateral ou tolerância unilateral (maior que ou
menor que).
Essa informação é única e exclusiva de cada resultado,
sendo seu preenchimento necessário para que se tenha
subsídios para a realização de um controle estatístico de
processos e geração de relatórios.

4.3 Exemplo de programa de medição


Figura 7 – Trecho de código de um programa de medição
Um programa de medição típico deve realizar suas
operações no seqüenciamento apresentado na figura 6.
5. APLICAÇÕES DA METODOLOGIA de coordenadas. Através de um algoritmo são detectadas as
bordas e matematicamente são calculados parâmetros como
5.1 Superfície Inclinada o centro do furo (utilizado anteriormente para
posicionamento do sistema de coordenadas) e o raio.
Um pequeno exemplo de aplicação dessa metodologia é
apresentado a seguir. Trata-se da medição de alguns Diferença de altura entre regiões planas: para a realização
parâmetros do plano inclinado mostrado na figura 8. dessa medida, inicialmente foram criadas duas regiões
planas independentes baseadas nas regiões de interesse
retangulares localizadas na parte inferior e superior da peça
(indicadas em vermelho). Em cada uma dessas regiões, foi
localizado seu respectivo ponto central e calculada a
diferença de altura entre esses dois pontos. Vale ressaltar
que a altura de cada ponto já leva em consideração o plano
matematicamente calculado.
Planeza: a região utilizada para o cálculo da planeza é a
forma poligonal livre traçada em azul. Foram considerados
Figura 8 – Peça a ser medida
os pontos em seu interior para a criação de uma região plana
O primeiro passo a ser executado é a aquisição da nuvem de e posteriormente foi calculada a planeza dessa região.
pontos. Para tal utilizou-se o sistema Photonita M-Plan, Ângulo X e Y entre regiões planas: foram calculados os
empregando a tecnologia de shadow moiré para digitalizar a ângulos na direção X e Y entre a região plana definida na
superfície a ser medida. Em seguida, foram criadas regiões parte superior da peça (em vermelho) e a região plana
de interesse e calculados alguns parâmetros voltados para a definida na parte inclinada (em azul). Como as regiões
localização de um sistema de coordenadas posicionado na planas estavam previamente definidas, foi necessário apenas
peça. Para realizar essa operação, foi necessário definir aplicar diretamente a operação que efetua esse cálculo
como esse sistema de coordenadas seria criado. Neste caso, aceitando como argumento duas regiões planas.
optou-se pela definição a partir de sua origem e de um ponto
pelo qual o eixo das abscissas passaria (OX). Assim sendo, Na figura 10, estão representados os resultados obtidos pelas
duas regiões de interesse anelares foram criadas, envolvendo medições na peça da figura 8.
os dois furos localizados na parte superior da peça. Para
cada furo, foi solicitado o cálculo de seu respectivo centro e
então posicionou-se o sistema de coordenadas conforme
indicado na figura 9. A partir dessa operação, a criação de
qualquer elemento e a saída de qualquer informação do
sistema, passou a ser referenciado em relação à peça e com
coordenadas reais dadas em mm.
Figura10 – Forma de saída dos resultados e valores obtidos

5.2 Chave
Com a nuvem de pontos adquirida, é possível realizar uma
série de análises não somente quantitativas, mas qualitativas
também. Na figura 11, é apresentada uma imagem em 3D,
de uma chave digitalizada pelo Photonita 3D-I, que utiliza a
técnica da interferometria por luz branca para adquirir a
nuvem de pontos.

Figura 9 – Representação da nuvem de pontos com regiões de


interesse me destaque
Na seqüência foram medidas algumas características
geométricas da peça. Neste exemplo, foram calculados os
seguintes parâmetros:
Raio do furo superior direito: para proceder com esse Figura 11 – Imagem 3D adquirida com o Photonita 3D-I
cálculo, foi utilizada a região de interesse anelar que envolve
totalmente o furo onde está posicionado o centro do sistema
Além de se poder visualizar a peça por diversos ângulos, é REFERÊNCIAS
possível verificar sua superfície através de uma ferramenta
[1] Sitnik, R; Kujawinska, M. From cloud-of-point coordinates to
de análise de perfil. Essa ferramenta possibilita que sejam three-dimensional virtual environment: the data conversion
traçadas linhas sobre a superfície digitalizada e system, Optical Engineering 41(02), p. 416-427, Donald C.
automaticamente se verifique a altura dos pontos sob a O'Shea; Ed., Fev/2002.
mesma. Essa informação é visualizada em um perfilograma,
[2] Zacher, M; Krohne, I; Glaser, U; Pfeifer, T. Object
que mostra em escala real a distribuição de alturas ao longo
digitalization using a scanning fringe projection system. Proc.
da linha, dando uma visão geral sob a planeza e a forma da SPIE Vol. 4661, p. 198-205, Three-Dimensional Image
superfície sendo analisada. A escala de cores auxilia Capture and Applications V; Brian D. Corner, Roy P. Pargas,
também nessa tarefa, pois mostra as diferenças de altura na Joseph H. Nurre; Eds. Março/2002.
topologia da peça.
[3] Koerner, K at ali. Projection of structured light in object
planes of varying depths for absolute 3D profiling in a
triangulation setup Proc. SPIE Vol. 4398, p. 23-34, Optical
Measurement Systems for Industrial Inspection II: Application
in Industrial Design; Wolfgang Osten, Werner P. Jueptner,
Malgorzata Kujawinska; Eds. Oct 2001.
[4] Reich, C.; Ritter, R.; Thesing, J. 3-D shape measurement of
complex objects by combining photogrammetry and fringe
projection Optical Engineering 39(01), p. 224-231, Roger A.
Lessard; Ed. Jan 2000.
[5] Huang, P.; Chiang, F. Recent advances in fringe projection
technique for 3D shape measurement SPIE Vol. 3783, p. 132-
142, Optical Diagnostics for Fluids/Heat/Combustion and
Photomechanics for Solids; Soyoung S. Cha, Peter J.
Bryanston-Cross, Carolyn R. Mercer; Eds. Oct 1999.
[6] Pancewicz, T; Kujawinska, M. CAD/CAM/CAE representation
of 3D objects measured by fringe projection Proc. SPIE Vol.
3479, p. 70-75, Laser Interferometry IX: Applications; Ryszard
J. Pryputniewicz, Gordon M. Brown, Werner P. Jueptner; Eds.
Jul 1998.
Figura 12 – Análise de perfil com Photonita 3D-I [7] Knyaz, V. Photogrammetry for rapid prototyping: development
of noncontact 3D reconstruction technologies Proc. SPIE Vol.
4644, p. 414-422, Seventh International Conference on Laser
6. CONCLUSÕES and Laser-Information Technologies; Vladislav Y. Panchenko,
Este trabalho apresenta uma sistemática flexível para Vladimir S. Golubev; Eds. Apr 2002.
extração de características geométricas de peças através de [8] D'Apuzzo, N. Modeling human faces with multi-image
nuvens de pontos tridimensionais. Concebida de forma a photogrammetry. Proc. SPIE Vol. 4661, p. 191-197, Three-
preservar grande flexibilidade para diversos tipos de Dimensional Image Capture and Applications V; Brian D.
medição, esta sistemática é a base sobre a qual foi Corner, Roy P. Pargas, Joseph H. Nurre; Eds. Mar 2002.
construída uma linguagem de medição. Além de permitir a [9] Years, A. M Moire topography in odontology Proc. SPIE Vol.
descrição clara do procedimento de medição, a linguagem 4419, p. 50-53, 4th Iberoamerican Meeting on Optics and 7th
desenvolvida permite que vários parâmetros numéricos Latin American Meeting on Optics, Lasers, and Their
sejam incorporados e testes matemáticos realizados para Applications; Vera L. Brudny, Silvia A. Ledesma, Mario C.
verificação de tolerâncias. Marconi; Eds. Aug 2001.

Esta sistemática tem se mostrada suficientemente flexível e


poderosa para atender uma variedade de aplicações de Autores:
interesse industrial. Esta tecnologia está hoje em uso em
dois sistemas ópticos de medição comercializados pela Professor, D.Eng., Armando Albertazzi Gonçalves Jr., UFSC /
Labmetro (Universidade Federal de Santa Catarina / Laboratório de
empresa brasileira Photonita, atualmente incubada no
Metrologia e Automatização), caixa postal 5053, Campus
CELTA em Florianópolis (http://www.photonita.com.br). Universitário, Trindade, 88.040-970 - Florianópolis - SC, Brasil.
Tel.: (55) 48 239-2040. Fax: (55) 48 239-2009. E-mail:
AGRADECIMENTOS albertazzi@labmetro.ufsc.br.
Diretor Administrativo, M.Sc., Carlos Aurélio Pezzotta, Photonita
Os autores gostariam de expressar seus agradecimentos ao
Ltda. – Photonical Instruments for Technical Applications, Rod.
apoio dado pelo CNPq/RHAE, pela FINEP, pela CAPES e SC 401 – km 01, no. 600, Parque Tecnológico Alfa – Edifício
pelo CTPETRO. CELTA, Saco Grande, 88030-000 - Florianópolis - SC, Brasil.
Tel.: (55) 48 239-2258. Fax: (55) 48 239-2200. E-mail:
pezzotta@photonita.com.br.

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