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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SANTA CATARINA

CENTRO DE ESTUDOS JURÍDICOS


PÓS-GRADUAÇÃO EM GESTÃO ESTRATÉGICA NO PODER JUDICIÁRIO
DE SANTA CATARINA
DISCIPLINA: GESTÃO DA COMUNICAÇÃO NAS ORGANIZAÇÕES
PÚBLICAS
PROFESSORA: VERA BUENO CURY
ALUNA: SILVIA REGINA DANIELSKI

CONTINUANDO A CONVERSA...

O ser humano é feito de linguagem. É a linguagem que nos define, com


nossas narrativas, com o nosso viver-com-o-outro. E isso ocorre exatamente por
isso: porque não estamos sozinhos, estamos uns com os outros e precisamos
uns dos outros.
Nesse contexto, a comunicação tem um papel primordial: ela é o ponto de
“encontro”. E quase sempre se constrói em “desencontros”: minhas mensagens
nem sempre são recebidas como foram emitidas. E também as mensagens do
outro chegam até minha percepção de forma diferenciada de suas intenções.
Esses “desencontros” podem ser responsáveis por mal entendidos, por
conflitos entre vontades, por mágoas veladas ou explícitas. Também podem criar
o novo e, nesse movimento criativo, produzir evolução.
Os “desencontros” são causados por modos diferentes de ver o mundo,
de entender o mundo; por sentimentos que entram em choque e não se
reconhecem; por vozes que às vezes nem mesmo temos consciência da sua
existência.
O “encontro” dos “desencontros”, assim é a comunicação.
A minha motivação para realizar a pós-graduação está relacionada com o
meu fazer: ser mediadora. Que pretensão a minha! Querer ser ponte, querer ser
tradutora; querer ser decodificadora; querer ser um meio do “encontro” dos
“desencontros”.
Deixando de lado minha pretensão, percebi no conteúdo proposto pelo
curso uma grande contribuição para minha formação. Dentre as disciplinas
ofertadas, a de “Comunicação” foi uma das mais esperadas. Como que estivesse
esperando por fórmulas mágicas, por receitas de bolo, por tutoriais que me
fornecessem pistas para cumprir meu mister de mediadora.
Contudo, mesmo com essa esperança, soube desde sempre que nessa
disciplina ampliaria a imensidão das dúvidas e angústias em relação à
comunicação. Pois se trata de pessoas, de encontros e desencontros. E não tem
fórmula que dê jeito. E mesmo assim frustrada, considero que foi grande a
oportunidade de “encontro” nos dois dias de curso. Pude senti a energia dos
meus colegas, pude senti a presença marcante da mestra, sua generosidade em
nos conduzir em meio ao nevoeiro.
Não é como matemática, onde o resultado é igual para todos e facilmente
obtido e comprovado, desde que se conheça a fórmula a ser aplicada. Nem
mesmo a apresentação de uma teoria vazia, com suas verborragias
intermináveis, conduzindo-nos por meio de conceitos, axiomas e verdades nem
sempre verdadeiras.
Mas, como uma aula de pessoas para pessoas, com seus “encontros” e
“desencontros”. A importância de se compreender que o esforço em ver, ouvir e
receber o outro para desfazer o “nó” e contribuir de alguma forma para uma vida
melhor para todos.
É essa minha audácia em querer ser mediadora: quero colaborar no
desfazimento dos nós dos outros. Resta-me reconhecer quando esses outros
querem realmente desfazer esses nós. E talvez esse seja um dos grandes
desafios em ser mediadora.
Mediar as narrativas tão pessoais, às vezes pessoais demais, perdidas
nos “desencontros”. Mediar vontades, necessidades, que muitas vezes se
revestem de mágoas e de revanches. A comunicação fica comprometida
intencionalmente e, pior, muitas vezes sem qualquer intenção das pessoas
envolvidas. Os “desencontros” se confirmam além da vontade. E se torna mais
difícil a jornada de volta ao ponto onde o “encontro” era o ponto comum entre
duas narrativas e daí extrair apenas o melhor. O pior, deixar como lição.
E como tornar possível o “encontro”? Essa é uma das questões da minha
vida. É aquilo que me assusta mais que tudo. É o monstro que me devora quando
olho para as pessoas na minha frente e percebo o quanto elas têm de caminhar
para tornar possível qualquer “encontro”, estabelecer a “conversa” e resolver
suas demandas sem perdas, sem dor. Ou mesmo com perdas e dor, mas
descobrindo uma forma de sobreviver e de superar. E percebo o quanto sou
impotente diante desse fato.
A experiência vivenciada em sala de aula, aproximando-se dos meus
colegas, enxergando alguns mais nitidamente, alimentaram minhas forças para
seguir meus objetivos, sem qualquer pretensão de resultados apenas positivos,
mas sim com a pretensão de me permitir o “encontro” com o outro.

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