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Distribuição gratuita Ano IX – Número 26 – junho/2007 a março/2008

Associação Nacional
dos Peritos Criminais Federais
Diretoria Executiva Nacional

Octavio Brandão Caldas Netto


Presidente

Jorge Luiz Oliveira de Castro João Luiz Moreira de Oliveira Hélio Buchmüller Lima Adauto Zago Pralon
Secretário-Geral Suplente de Diretor Jurídico Diretor de Comunicação Suplente de Diretor Técnico-Social

Sara Lais Lenharo Renato Rodrigues Barbosa Sara Oliveira Farias Rinaldo José Prado Santos
Suplente de Secretário-Geral Diretor Financeiro Suplente de Diretor de Comunicação Diretor de Aposentados

Paulo César Pires Fortes Pedroza Luiz Carlos de Gouveia Horta Sérgio Ricardo Silva Cibreiros de Souza Sonia Regina Pereira
Diretor Jurídico Suplente de Diretor Financeiro Diretor Técnico-Social Suplente de Diretor de Aposentados

Conselho Fiscal Deliberativo

Agadeilton Gomes de Menezes Francisco José F. Braga Rolim Gladston Guimarães Naves Paulo Roberto Fagundes Marcos de Jesus Morais
Titular Titular Titular Suplente Suplente

Diretorias Regionais

ACRE FOZ DO IGUAÇU PARAÍBA RONDÔNIA


Diretor: Pedro Miguel de A. L. S. da Cruz Diretor: Eduardo Kraemer Góes Diretor: Antônio Vieira de Oliveira Diretor: Ricardo Vassoler Silva
Suplente: Francisco José Bentes Suplente: Giovani Vilnei Rotta Suplente: Eduardo Aparecido Toledo Suplente:DGH¿QLU
apcf.ac@apcf.org.br apcf.pb@apcf.org.br
apcf.foz@apcf.org.br apcf.ro@apcf.org.br
ALAGOAS
Diretor: Nivaldo do Nascimento GOIÁS PARANÁ RORAIMA
Suplente: Alexandro Mangueira L. de Assis Diretor: Fabiano Afonso de Sousa Menezes Diretor: Marcos de Almeida Camargo Diretor: Hamilton de Oliveira Pinho Júnior
apcf.al@apcf.org.br Suplente: Clayton José Ogawa Suplente: Fábio Augusto da Silva Salvador Suplente:)HUQDQGR3ÀXJ&RPSDUVL
apcf.go@apcf.org.br apcf.pr@apcf.org.br apcf.rr@apcf.org.br
AMAZONAS
Diretor: Daniel Pereira de Oliveira
MARANHÃO PERNAMBUCO SANTA CATARINA
Suplente: Gustavo Henrique M. Álvares da Silva
Diretor: Eufrásio Bezerra de Sousa Filho Diretor: Assis Clemente da Silva Filho Diretor: Alexanders Tadeu das Neves Belarmino
apcf.am@apcf.org.br
Suplente: Fábio Leônidas Campos dos Santos Suplente: Rodrigo Barbosa de Almeida Suplente: Alexandre Bacellar Raupp
AMAPÁ apcf.ma@apcf.org.br apcf.pe@apcf.org.br apcf.sc@apcf.org.br
Diretor: Alex Souza Sardinha
Suplente: André Morum de Lima Simão MATO GROSSO PIAUÍ SANTOS
apcf.ap@apcf.org.br Diretor: Carlos Sérgio Nunes Rodrigues
Diretora: Luíza Nicolau Brandão Caldas Diretor: Carlos Renato Perruso
Suplente: DGH¿QLU Suplente:DGH¿QLU Suplente: Erick Simões Câmara e Silva
BAHIA
Diretor: Jair Monteiro Pontes apcf.mt@apcf.org.br apcf.pi@apcf.org.br apcf.@apcf.org.br
Suplente: Adilson Carvalho Silva
apcf.ba@apcf.org.br MATO GROSSO DO SUL RIO DE JANEIRO SÃO PAULO
Diretor: Everaldo Gomes Parangaba Diretor: Luiz Carlos de Almeida Serpa Diretor: Alexandre Bernard Andréa
CEARÁ Suplente: Silvio César Paulon Suplente: Marcos Bacha Santos Suplente: Carlos Alberto Doria de Magalhães Neto
Diretor: João Bosco Carvalho de Almeida
apcf.ms@apcf.org.br apcf.rj@apcf.org.br apcf.sp@apcf.org.br
Suplente: José Carlos Lacerda de Souza
apcf.ce@apcf.org.br
MINAS GERAIS RIO GRANDE DO NORTE SERGIPE
DISTRITO FEDERAL Diretor: João Bosco Gomide Diretor: César de Macedo Rego Diretor: Reinaldo do Couto Passos
Diretor: Acir de Oliveira Júnior Suplente: Adriano Azeredo Coutinho Villanova Suplente: Roberto Oliveira Garcia Suplente: Jefferson Ricardo Bastos Braga
Suplente: Nivaldo Dias Filho apcf.mg@apcf.org.br apcf.rn@apcf.org.br apcf.se@apcf.org.br
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PARÁ RIO GRANDE DO SUL TOCANTINS
ESPÍRITO SANTO
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Revista Perícia Federal


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Pedro Peduzzi (Mtb: 4811/014/083vDF) Estagiário: William Grangeiro Tiragem: 13.000 exemplares e-mail: apcf@apcf.org.br - www.apcf.org.br

2 Perícia Federal
Sumário Editorial: Octavio Brandão Caldas Netto, presidente da APCF

O DNA DO INC
Distribuição Gratuita
Ano IX – Número
26 – junho/20
07 a março/2
008

É com grande satisfação que vejo o desenvolvimento da Genética Forense


no Brasil e, em particular, no âmbito da Criminalística do Departamento de
Polícia Federal (DPF).
No período de 1995 a 1999, fui chefe do Laboratório do Instituto Nacional de
Criminalística (INC/DPF), ocasião em que reuni alguns colegas peritos para
planejarmos o nosso futuro nessa atividade pericial. O objetivo principal era
ganharmos tempo enquanto outras coisas aconteciam e, assim, decidimos
investir na capacitação dos peritos que tivessem interesse em se preparar para
CAPA Arquivo APCF DWXDUQDiUHDHVSHFt¿FDGH'1$)RUHQVH
Isto porque o nosso antigo prédio do INC não tinha con-
%DQFRGH'DGRVGH3HU¿V*HQpWLFRV dições de abrigar um laboratório de DNA Forense, pois não
O DNA a serviço da Justiça
havia mais espaço físico, e as condições de infra-estrutura
Rede Nacional de Genética Forense eram precárias, mesmo após ter sofrido diversas reformas
Pedro Peduzzi ao longo do tempo.
PÁGINA 6 Porém, naquela época já despendíamos esforços na im-
portante tarefa de elaborar o Plano de Necessidade do Novo
DNA x Criminalidade Prédio do INC. Logicamente, era essa a oportunidade da cri-
PCF Hélio Buchmuller Lima
PÁGINA 8

%DQFRGH'DGRVGH3HU¿V*HQpWLFRV
no Combate aos Crimes Sexuais

As questões
minalística do DPF ter em sua estrutura um setor que fosse
HVSHFL¿FDPHQWHFRQFHELGRSDUDDUHDOL]DomRGHSHUtFLDVHP
que envolvem materiais biológicos, por meio do exame de DNA, com vistas
a formar o necessário conjunto de provas para estabelecer a
PCF Kátia Michelin, PCs Ana Cláudia Pacheco, Eloísa a implantação autoria de crimes.
Auler Bittencourt e Maria Jenny Mitraud Lima e PQF Trícia de um Banco O novo prédio do INC foi entregue pronto em março
Kommers Albuquerque
de Dados de de 2004, tendo em sua estrutura um moderno laboratório
PÁGINA 12
Perfis Genéticos construído observando-se todas as normas técnicas e
Aspectos Éticos e Legais dos requisitos para exames em DNA. Paralelamente, foram
%DQFRVGH'DGRVGH3HU¿V*HQpWLFRV serão em breve adquiridos os equipamentos necessários para a realização
PCFs Guilherme Silveira Jacques e Aline Costa Minervino superadas, pois de tais exames, de acordo com os padrões mais elevados de
PÁGINA 17
o crime não tecnologia. Nesse meio tempo, ingressavam no DPF novos
SHULWRVFRPDTXDOL¿FDomRQHFHVViULDHRSHU¿OGHVHMDGR
Infecção pelo contato com materiais espera para
biológicos: uma revisão para atuar na área de Genética Forense.
PCF Meiga Áurea Mendes Menezes
acontecer, e a Ações de capacitação, treinamento e investimentos na
PÁGINA 21 vida humana
“ área de infra-estrutura e de aparelhamento – promovidas

BDCrim não tem preço pela SENASP em parceria com o DPF, universidades e com
outros órgãos de centros mais adiantados – rapidamente
Biblioteca Digital da Criminalística
SHUPLWLUDPVHDOFDQoDURQtYHOSUR¿VVLRQDOTXHWHPRVKRMH
PCF Norma Rodrigues Gomes
no Brasil entre os nossos peritos criminais. Sejam eles da Polícia Federal ou
PÁGINA 26
de instituições congêneres nacionais no âmbito das secretarias de segurança
Encontro Nacional na Paraíba pública, de tal forma que o reconhecimento internacional seria apenas uma
Pedro Peduzzi PÁGINA 30 questão de tempo.
$VTXHVW}HVTXHHQYROYHPDLPSODQWDomRGHXP%DQFRGH'DGRVGH3HU¿V
O Dia Nacional do Perito Criminal
Pedro Peduzzi PÁGINA 32
Genéticos e de uma legislação adequada no Brasil serão em breve superadas,
pois o crime não espera para acontecer, e a vida humana não tem preço.
PCF cria modelo de gestão para CTI 6HDFLrQFLDWHPDVDUPDVPDLVH¿FLHQWHVSDUDFRPEDWHUDLPSXQLGDGHSRU
Pedro Peduzzi e William Grangeiro PÁGINAS 33 que não utilizá-las?
Notas e Curtas PÁGINA 34
Saudações periciais!

Perícia Federal 3
ENTREVISTA: LUIZ FERNANDO CORRÊA, DIRETOR-GERAL DO DPF

O Nº 1 DA POLÍCIA FEDERAL

Pereira/DCS/GAB
A criminalística nacional ganhou fôlego
durante a gestão de Luiz Fernando
Corrêa na Secretaria Nacional de
Segurança Pública (SENASP). No
mesmo período, o Departamento de
Polícia Federal (DPF) conquistava,
enquanto tinha à frente Paulo Lacerda,
o patamar de entidade mais bem
avaliada do País. Nesse contexto,
a indicação de Corrêa para o cargo
de diretor-geral do DPF suscitou
expectativas ainda mais positivas
entre os peritos criminais federais. Por
outro lado, esse otimismo – reforçado
pela iniciativa democrática do
diretor-geral em convocar entidades
classistas para o Grupo de Trabalho
que preparou a minuta inicial da
Lei Orgânica – corre o risco de ser
revertido negativamente, caso não
sejam encontradas soluções mínimas
para os problemas internos históricos ambiente, que já sinaliza uma percepção públi- nós tivemos, e se tornou público, foi um debate
FDHQRWyULDFRPUHÀH[RQRSURFHVVRGHSODQHMD- intenso. Esse debate faz parte dessa discussão
que a Lei Orgânica tentará resolver. mento. Há também uma tendência de as drogas democrática provocada. O que se espera numa
$SHVDUGDVGL¿FXOGDGHV/XL])HUQDQGR sintéticas terem maior impacto na sociedade e, instituição madura como a PF é que as entida-
&RUUrDGHPRQVWUDFRQ¿DQoDQR portanto, na nossa demanda da PF. São sinais GHVGHFODVVHGLDQWHGRVFRQÀLWRVHVWDEHOHFL-
documento em elaboração, e acredita de que devemos estar atentos para adequar dos, tenham a maturidade e a capacidade de
os investimentos nas áreas de perícia, visando construir os consensos possíveis. A discussão
¿HOPHQWHQRSRWHQFLDOFRQFLOLDGRU atender demandas dos cenários futuros. demonstra o conflito. Agora, temos que de-
das categorias de policiais federais. monstrar a capacidade e construir o consenso.
4XHWLSRGHGL¿FXOGDGHVHVSHUDHQFRQWUDU Se não chegaram a conclusões consensuais,
Quando à frente da SENASP, o senhor de- para atender essas demandas? trouxeram muitos dados relevantes para que a
monstrou estar antenado quanto às necessi- Não trabalhamos com foco na dificuldade PF possa encaminhar ao ministro um texto que
dades da Criminalística nacional. Os peritos porque a polícia existe para superar as adversi- permita restabelecer um ambiente de harmonia
criminais federais podem esperar o mesmo, dades. O que olhamos são as tendências de ce- dentro da PF, sem o prejuízo à constante busca
tendo-o à frente do DPF? nários nos campos político, econômico, ambien- das categorias pelos seus ideais e pelos seus
Sim, até porque tudo o que foi planejado na tal e na geopolítica em geral, adequando a PF pleitos. Nenhuma legislação vai enterrar esses
SENASP teve a PF como cabeça de sistema para não sermos pegos de surpresa. O avanço pleitos. Só vai trazê-los para um estágio possí-
em todas as áreas, inclusive a perícia. DITEC, nesse método nos dá capacidade de adequação vel num dado momento histórico.
INC e, no que couber, INI, sempre foram, a meu a cenários possíveis e de atualização do planeja-
ver, instituições de referência na construção mento. Não faremos gastos irresponsáveis nem 0DVDFUHGLWDTXHDVFDWHJRULDV¿FDUmRVDWLV-
das políticas públicas. Destaco como prioridade GHVFRQVLGHUDUHPRVRVJDVWRVFLHQWt¿FRV3URFX- feitas com o documento?
da Criminalística do DPF a atualização constan- ramos sempre nos precaver fazendo seleção e A expectativa é a de que o texto, após ser re-
te e capacitação continuada dos peritos. Dentro treinamento de pessoal, e investindo nas tecno- visado sobre a ótica de redação legislativa, de
do planejamento estratégico, a perícia tem um logias adequadas aos cenários possíveis. mérito e de adequação a uma forma não muito
papel fundamental porque, dependendo dos H[DXVWLYDGD/HL2UJkQLFDUHÀLWDHVVHSHUtRGR
FHQiULRVTXHQyVYLVOXPEUDUPRVYDLGH¿QLUSRU Apesar da democrática e elogiosa iniciativa e que dê as condições para que passemos a vi-
exemplo, que tipo de investimento teremos de de discutir a Lei Orgânica com as categorias, ver um novo período com outros comportamen-
fazer no parque de perícia, para manter a capa- o Grupo de Trabalho não chegou ao consen- tos, dando lastro para os avanços no futuro.
cidade de resposta. so com relação à situação das atribuições Não poderemos dar saltos. Já perdemos muito
dos cargos e da carreira policial federal. O tempo com discussão e com animosidade in-
Já tem alguma conclusão a respeito de que os peritos podem esperar desse docu- terna. Agora é o momento de inaugurarmos um
quais seriam esses investimentos? mento, após a revisão prevista? ambiente de convivência e harmonia para que
Sim, em alguns cenários de maior impacto, Se esse documento não chegou a um con- o debate continue. Algo que não tenha sido ple-
FRPRDViUHDVFRQWiELO¿QDQFHLUDHGHPHLR senso de 100%, esteve próximo disso. O que namente atingido pode, num ambiente harmo-

4 Perícia Federal
nioso, ser corrigido. Por isso não se pode fazer H[FHGHQWHVFRQWLQXDUHPRVFRPGp¿FLW2TXH utilizados para a preparação do laudo e da
uma lei que engesse inclusive o debate. precisamos é ter sempre um planejamento de materialidade da prova?
longo prazo para não estarmos sempre pedindo Com certeza, e eu já me socorri disso na
Pessoalmente, tem mais simpatia por três novos concursos pontuais ou aproveitamentos PLQKDYLGDHPDOJXQVFDVRVHVSHFt¿FRVRQGH
ou cinco cargos? de concursos anteriores. Daqui para a frente, a operação está lastrada e a investigação tem
Eu não quero antecipar esses méritos agora vamos fazer concursos com validades curtas como centro um laudo complexo de conhe-
porque foram pontos muito discutidos. Pessoal- SDUDXPQ~PHURHVSHFt¿FRGHYDJDVGHDFRU- cimento restrito. Mas via de regra a demanda
mente, temos convicções, mas como diretor do com as demandas mais urgentes da PF, para de informação da opinião publica não desce a
preciso zelar pela harmonia. Vamos agregar, ao que tenhamos com regularidade concursos e esse nível de rigor técnico, mas à notícia de atu-
pleito demonstrado pelas categorias e ao inte- para que essa reposição se dê dentro de uma ação genérica e do dano que essa organização
resse da administração, a lógica de harmonizar política de pessoal, e não como medidas even- criminosa causa à sociedade. Penso também
ações para continuar o debate. tuais como reaproveitamentos ou excedentes. que em algumas situações não convém expor
Esta questão, em especial, está tramitando no um nível de detalhamento muito aprofundado,
Como avalia as propostas apresentadas Planejamento. Aguardaremos a decisão para por se tratar de matéria que será enfrentada na
pela APCF? acolhê-la e implementá-la, se for o caso. fase judicial. E esta é a grande arma que tem o
O conjunto das propostas é harmônico e estado para a condenação.
FRQ¿UPDDSUHRFXSDomRGRVSHULWRVHPDWXDU
com independência na elaboração do laudo. A Considerando que a Polícia Judiciária do
APCF apresentou sugestões maduras que de- IXWXURWHUiGHVHUFDGDYH]PDLVFLHQWt¿FD
acompanhando a evolução tecnológica das
monstram o estágio e o nível de consciência
dos peritos em relação ao sistema da PF e da
“A APCF apresentou quadrilhas, como incentivar os demais poli-
Justiça Criminal. Foram sugestões interessan- sugestões maduras ciais a se adaptarem a essa realidade?
É uma questão de tratamento. Todos nós den-
tes que estão sendo analisadas. Muitas serão
acolhidas. A idéia é dar condições para que a
(para a Lei Orgânica) que tro da PF nos reconhecemos como um sistema
perícia continue tendo a autonomia que gera demonstram o estágio constituído de atores e papéis. Os atores têm de
se respeitar mutuamente e de se prestigiar entre
e o nível de consciência
credibilidade, e que o perito não receba inge-
rência no seu trabalho. Um dos patrimônios da si. Os papéis de cada um desses atores também
PF é justamente a credibilidade da instituição. dos peritos em relação ao têm de ser prestigiados. A soma disso dá um
sistema forte para o enfrentamento de qualquer
sistema da PF e da Justiça
Em boa medida, isto se deve à perícia federal.
RUJDQL]DomRFULPLQRVD,VVRVLJQL¿FDLGHQWL¿FDU
Que tipo de retorno o senhor vem tendo do Criminal. Foram sugestões os papéis descritos na legislação e o que cabe a
cada um fazer. Historicamente, por questões de
interessantes que estão
ministro da Justiça sobre a Lei Orgânica?
O ministro, na sua trajetória política de viés disputas internas, houve um desgaste nas rela-
democrático marcante, é um homem que defen- sendo analisadas. Muitas ções. Os atores não se reconheciam e os papéis
QmRHVWDYDPGH¿QLGRV2TXHTXHUHPRVDSDUWLU
de e incentiva o diálogo. Ele gostou da estratégia
de a PF fazer discussões internas porque quer o serão acolhidas” de agora é que os atores e seus papéis estejam
produto do consenso. Assim sendo, as opiniões GH¿QLGRVHSUHVWLJLDGRVQmRGHL[DQGRHVSD-
pessoais, tanto do DG como do ministro, diante de oRSDUDFRQÀLWRVLQWHUQRV2UHVXOWDGRpXPD
uma decisão fruto de debate, perdem importância. capacidade institucional de enfrentamento de
qualquer nível de credibilidade. E aí entra a ela-
Quais são as grandes preocupações dele em Que iniciativas têm sido implementadas ERUDomRGDSURYDWpFQLFDDSUR¿VVLRQDOL]DomR
relação ao DPF? pelo DPF no sentido de propor a reforma do do agente de campo, e o preparo jurídico para
Ele está na expectativa de um conjunto de Código de Processo Penal? apresentar de forma adequada esse conjunto
medidas em andamento. Muitas delas, depen- A PF participa, junto com o MP, de grupos de probatório na Justiça. Acho que, com esta visão,
dentes do que se extrair do planejamento es- trabalho no MJ, visando alguma atualização em a questão é de fácil enfrentamento.
tratégico e das demandas decorrentes dele. O termos de legislação. O próprio MJ, desde a re- Mas vai ser simples assim?
ministro percebe que a administração da PF forma do poder Judiciário, vem promovendo vá- Vai, porque todos sabem que operar no con-
está agregando ferramentas de gestão à rotina rias alterações legislativas, de forma a dar mais ÀLWRQmRDJUHJDYDORUSDUDQLQJXpPHPSDUWLFX-
e que as medidas a serem solicitadas não serão celeridade ao processo. lar, e todos perdem enquanto sistema. Agora,
pontuais ou isoladas, mas sistêmicas e alicer- na medida em que criarmos ambiência para
çadas num planejamento de longo prazo, com Como o senhor vê a questão da perícia ad hoc? TXHKDMDXPUHVSHLWRSUR¿VVLRQDOHQWUHDVFDWH-
horizonte em 2022. Apresentadas as medidas, 1yVWHPRVTXHWUDEDOKDUFRPSUR¿VVLRQDLV JRULDVKDUPRQL]DQGRGHIRUPDDGH¿QLUSDSpLV
ele capitaneará o andamento das demandas no e o estado tem que se estruturar de forma a ter e atores, respeitando e reconhecendo a impor-
governo e no legislativo. HVVHVSUR¿VVLRQDLVHPWRGDVDViUHDV$TXHV- tância de cada um. Ninguém é mais importante
tão do ad hoc é um recurso para suprir uma ca- do que o outro dentro do sistema.
Recentemente o ministro Tarso Genro mani- rência histórica de peritos no Brasil. A PF, hoje
festou ao ministro Paulo Bernardo a intenção em dia, não precisa se socorrer desse instituto Alguma mensagem aos peritos criminais
de aproveitar o excedente do último concur- porque seus quadros, apesar de não serem ide- federais?
so público. Qual é a posição do senhor sobre ais, estão distribuídos por todas as superinten- 'HFRQ¿DQoDQDFDSDFLGDGHGHOHVQmRVyGH
HVWHDVVXQWRFRQVLGHUDQGRRGp¿FLWGHSHUL- dências de maneira a atender a casuística. responderem tecnicamente, como também de
tos e a demanda reprimida de laudos? atuar nesse novo modelo comportamental da
7HPRVXPGp¿FLWHPWRGDVDViUHDV1mR Apesar de os peritos responderem civil e cri- PF. De se entenderem como parte do sistema e
só na perícia. Visando implementar o planeja- minalmente pelos laudos, não são eles que de potencializar este sistema. Vale para os pe-
mento estratégico, uma das medidas é, antes se manifestam publicamente pelo mesmo. ritos como para qualquer outro, mas os peritos
de qualquer concurso, reestruturar a academia Não seria interessante disponibilizar, durante têm um papel muito importante porque a prova
para adequá-la às diretrizes que vierem. Quan- as coletivas, peritos para o caso de haver per- técnica é fundamental, e também porque ela faz
to à demanda, mesmo acolhendo o pleito dos guntas relativas aos procedimentos técnicos a diferença nas investigações da PF.

Perícia Federal 5
GITAD: PEDRO PEDUZZI

Fotos: Arquivo APCF


Rede Nacional de

Genética
Forense
%UDVLOHVWiSURQWRSDUDWHUXP%DQFRGH'DGRVGH3HU¿V*HQpWLFRV
Prestes a assumir a DITEC, o PCF
Fagundes sugeriu parcerias com
universidades, visando pesquisas
QDiUHDGHSHU¿VJHQpWLFRV

dados de perfis genéticos, a reunião foi “No Brasil, a legislação acaba trabalhan-
Especialistas estrangeiros uma oportunidade de aproximar entidades GRFRQWUDDVYtWLPDV$VGL¿FXOGDGHVTXH
elogiam o nível de com visões divergentes sobre o tema. O re- temos para a obtenção do DNA decorrem
sultado foi extremamente satisfatório, uma do fato de os suspeitos se negarem a doar
FRQKHFLPHQWRFLHQWt¿FR vez que foram apresentadas técnicas de amostras biológicas. A solução seria a cria-
extração de DNA que não causam nenhum ção de um banco de dados de criminosos e
brasileiro, durante a tipo de lesão ao indivíduo. Com isso, barrei- de vestígios, algo que já é feito em dezenas
ras contrárias à implementação desse tipo de países”, relatou Jacques, que listou 30
reunião da Rede Nacional de banco de dados foram desmontadas”, países que já adotaram tal recurso.
ressalta o chefe do Laboratório de DNA do
de Genética Forense, e INC, PCF Guilherme Silveira Jacques, um Direitos Humanos
dos organizadores da reunião. As experiências chilena, colombiana,
garantem: o país já tem Para as palestras, foram convidadas espanhola e panamenha foram relatadas
autoridades desses países, bem como os por autoridades diretamente ligadas à im-
condições de criar Banco de maiores especialistas brasileiros no assun- plantação desses bancos de dados, possi-
'DGRVGH3HU¿V*HQpWLFRV to. Entre eles, o então coordenador-geral
de Planejamento Estratégico em Seguran-
bilitando a atualização das entidades bra-
sileiras presentes no evento – entre elas
ça Pública e Projetos Especiais da Secre- as atuantes na área dos Direitos Humanos
taria Nacional de Segurança Pública, PCF – sobre os procedimentos utilizados para a

A
baixa taxa de elucidação de ho- Paulo Roberto Fagundes, atual diretor Téc- obtenção de material biológico. “Há técni-
micídios no Brasil é preocupante. QLFR&LHQWt¿FRGD3ROtFLD)HGHUDO)DJXQ- cas que impossibilitam conclusões sobre
$¿PGHUHYHUWHUHVWHTXDGURHGH des fez uma explanação sobre a Rede Na- raça e outras características a partir das
avançar a legislação brasileira na cional de Genética Forense, após defender amostras. É importante que isso seja divul-
direção das mais modernas do mundo, a Di- que as atividades de pesquisa na área de gado”, ressaltou o PCF Jacques.
UHWRULD7pFQLFR&LHQWt¿FDGR'HSDUWDPHQWR SHU¿VJHQpWLFRVVHMDPIHLWDVHPFRQMXQWR Representando a Secretaria Especial de
de Polícia Federal (DITEC / DPF) e o Insti- com as universidades. Direitos Humanos, Liliane Bernardes, que
tuto Nacional de Criminalística (INC / DPF) Segundo dados apresentados pelo PCF trabalhou com DNA para reconhecimen-
deram um passo histórico para a implanta- Guilherme Jacques, a taxa de elucidação de to de desaparecidos políticos, manifestou
omRGR%DQFRGH'DGRVGH3HU¿V*HQpWLFRV homicídios no Brasil é de 6% e está entre as que, particularmente, não é contra o banco
no país. Com o apoio da Associação Nacio- mais baixas do mundo. No Rio de Janeiro de dados de DNA. Mas defendeu, a priori,
nal dos Peritos Criminais Federais (APCF), HVWHQ~PHURFDLDLQGDPDLV¿FDQGRHQWUH que a amostra deveria ser doada por ser
promoveram, entre 11 e 14 de junho em e 4%. Em São Paulo, onde 24% dos inqué- parte do indivíduo. “Mas esta é uma ques-
Brasília, a reunião do Grupo Ibero-America- ritos são arquivados, a taxa está entre 10 e tão que pode ser discutida”, sugeriu.
no em análise de DNA (GITAD) e da Rede 12%. Em países onde a legislação na área A promotora de Justiça do Ministério Públi-
Nacional de Genética Forense. de DNA está mais avançada, a taxa de eluci- co do DF e Territórios, Luciana Medeiros Cos-
“Mais que conhecer a experiência de dação de crimes é bem maior. Na Argentina ta, pediu a palavra para dizer que não vê pro-
países como Chile, Colômbia, Espanha e é de 45%; nos EUA é de 65%; na França é blema em coletar amostras biológicas, desde
Panamá, avançados na área de banco de de 80%; e na Inglaterra chega a 90%. que não haja prejuízo à pessoa. “Segundo a

6 Perícia Federal
Presidente do GITAD, Lorente
defende uma legislação compatível
com a realidade brasileira

PCF Buchmuller: proposta de


fórum para discussão de PLs
com entidades foi bem recebida

Constituição, até mesmo o direito à vida, em vorável, até pela busca da verdade real que direitos individuais se sobrepõem aos direi-
caso de guerra, pode ser privado. Portanto, é característica das atividades do órgão. tos coletivos. Já nos países de origem lu-
para a elucidação e prevenção de crimes, O benefício para a comunidade será muito terana e anglicana ocorre o oposto: os di-
uma vez que é alto o índice de reincidência maior, e mecanismos como a punição grave reitos coletivos se sobrepõem aos direitos
em crimes como estupro e assassinato, é ra- por vazamento poderão ser adotados”, res- individuais. Há que se levar isso em conta.”
zoável a coleta de amostras biológicas.” pondeu a promotora. “Gostaria de lembrar Lorente chamou a atenção para a neces-
“Sob o ponto de vista técnico, todos os que o exame de DNA tem, também, o papel sidade de os peritos atuantes na área es-
laboratórios de DNA do país já têm condi- de proteger inocentes”, completou a perita tarem muito bem preparados. “Sem bons
ções de, com um suabe (cotonete estéril), criminal da Divisão de Laboratório do IC/MG, peritos é impossível obter sucesso”, decla-
fazer todas as análises possíveis, sem cau- Jenny Mitraud. URXDQWHVGHHORJLDURVSUR¿VVLRQDLVEUDVL-
sar nenhuma lesão”, argumentou o professor Ao pedir a palavra, o PCF Hélio Bu- OHLURV³2QtYHOGHFRQKHFLPHQWRFLHQWt¿FR
Sidney Santos, da Universidade Federal do chmüller, diretor de Comunicação da APCF no Brasil é igual ao da Espanha ou da In-
Pará (UFPA). “Todos os países avançados e um dos organizadores da reunião, pro- glaterra, ou de qualquer outro país avança-
fazem uso deste tipo de banco de dados, por pôs a criação de um fórum técnico contínuo do nesses estudos. Por isso o Brasil está
verem neles a possibilidade de obter provas para discutir projetos de lei com represen- preparado para ter um banco de dados de
materiais irrefutáveis. A maioria não viola tantes dos Direitos Humanos, da Senasp SHU¿VJHQpWLFRV´
direitos básicos e tem órgãos de defesa dos e do Ministério Público. A idéia foi bem re- Durante a palestra, o presidente do
'LUHLWRV+XPDQRVPDLVH¿FLHQWHVTXHR%UD- cebida e acolhida pelos representantes de GITAD levantou questões como a relação
sil”, emendou o professor Luís Antônio, da todos os órgãos participantes. O PCF Fa- entre os custos da coleta de amostras em
Universidade Federal de Alagoas (UFAL). gundes, à época ainda ligado à Senasp, função de ela abranger suspeitos, acusa-
defendeu que a criação do fórum fosse GRV HRX FRQGHQDGRV D GH¿QLomR VREUH
Fórum DGRWDGDGHIRUPDR¿FLDOSURSRVWDHORJLDGD quem tomaria a amostra; os tipos de labo-
Perita criminal da Bahia, Márcia Valéria também pela procuradora Luciana Costa e UDWyULRVTXHIDUmRDVDQiOLVHVHDGH¿QLomR
informou que esse tipo de investigação es- por Liliane Bernardes, da Secretaria Espe- de quem acessará ou irá gerir a base de da-
WDULDUHVWULWDDDSHQDVXPSUR¿VVLRQDO³$ cial de Direitos Humanos dos. “É importante termos em mente a se-
Rede não teria acesso a essas informações paração dos conceitos de dados genéticos
DSDUWLUGRPRPHQWRHPTXHGH¿QDPRVQt- GITAD HGHDPRVWUDVELROyJLFDV´¿QDOL]RX
veis de segurança do uso da informação Presidente do GITAD, José Lorente, que A reunião da Rede Nacional de Genéti-
genética. Outros instrumentos de seguran- HQWUHRXWURVWUDEDOKRVLPSRUWDQWHVLGHQWL¿- FD)RUHQVHS{GHLGHQWL¿FDUGHIRUPDXQk-
oDLQFOXVLYHGHSXQLomRjTXHOHTXH¿]HU cou os restos mortais de Cristóvão Colom- nime, a maturidade técnica alcançada pelo
mau uso das informações, podem ser facil- bo, ministrou a palestra “A GITAD e a Ge- Brasil, que tem, hoje, totais condições de
mente estabelecidos”, defendeu. nética Forense na Ibero-América”, na qual viabilizar projetos e avançar nas delibera-
Motivado pelo debate franco, respeitoso defendeu a criação de uma legislação com- ções necessárias para a implantação de
e aberto que estava em andamento, o PCF patível com a realidade brasileira. um banco de dados de DNA. Para tanto,
Paulo Roberto Fagundes solicitou uma es- Diferenças na relação entre direitos in- foi fundamental a participação efetiva que
timativa da promotora Luciana Costa, sobre dividuais e coletivos nos países de origem o Ministério Público e a Secretaria Espe-
a possível posição do MP/DF e Territórios latina e nos luteranos/anglicanos foram ci- cial de Direitos Humanos tiveram desde o
em relação ao tema. “Acredito que será fa- tadas por Lorente. “Nos países latinos, os início dos debates.

Perícia Federal 7
DNA FORENSE: PCF HÉLIO BUCHMULLER LIMA (BIÓLOGO, MESTRE EM GENÉTICA E DOUTOR EM BIOLOGIA CELULAR E MOLECULAR)

7pFQLFDGHLGHQWL¿FDomRSRU

E
m 30 de julho de 1981 uma mu- de perfis genéti-

Fonte: www.innocenceproject.org
lher foi estuprada e teve seu car- cos de centenas
DNA adotada por peritos ro roubado no estado da Geórgia, de milhares de
EUA. Alguns dias após o crime, criminosos em to-
criminais federais evita a Robert Clark foi visto dirigindo o carro da ví- dos os Estados
tima. Foi detido por roubo do veículo. Não Unidos. Resultado
exposição dos doadores foi considerado suspeito do estupro, a prin- da comparação:
cípio, pois não coincidia com as caracte- Robert Clark era
de amostras, viabilizando rísticas descritas pela vítima. Porém, esta inocente. Após 21
GH¿QLWLYDPHQWHDLPSODQWDomR situação logo mudou quando ele não foi
convincente ao explicar como teria adquiri-
DQRVQDFDGHLDHOHHQ¿PREWHYHDOLEHUGD-
de. O DNA do esperma coletado da vítima
de um banco de dados de do o carro. Robert Clark foi condenado por coincidia com outro criminoso já condena-
estupro em maio de 1982. do por violência sexual em 1985, Tony Ar-
SHU¿VJHQpWLFRVQR%UDVLO Em dezembro de 2003, uma entida- QROGHTXHWLQKDVHXSHU¿OJHQpWLFRDUPD-
de chamada Innocence Project pediu que zenado no banco de dados.
fosse realizado teste de DNA no material Esta história é uma das inúmeras que
FROHWDGRGDYtWLPDDQRVDQWHV2SHU¿O a todo momento surgem em países onde
REWLGRGHYHULDVHUFRPSDUDGRFRPRSHU¿O existem banco de dados de DNA. Já está
de Robert Clark e com o banco de dados na hora de contarmos as nossas histórias.

“Cold Cases”
A implementação de banco de dados de DNA fez aumentar
o número de resoluções dos chamados “cold cases”, como
são chamados, em inglês, os casos que passam muito tem-
po sem solução.
Vítima: Roy Tutill Assassino: Brian Lunn Field, hoje e há 30 anos
em http://news.bbc.co.uk/1/hi/uk/1189170.stm em http://www.thesun.co.uk/sol/homepage/news/article70865.ece
„ Em 1968, um garoto de 14 anos, Roy Tutil, desapareceu após
pegar uma carona para casa, em Surrey, Inglaterra. Três dias „ Em 2001, em uma pequena cidade da Inglaterra, John Wood
depois, seu corpo foi encontrado em outra cidade, Leatherhead. foi preso por furtar 10 libras de uma loja de conveniência. Um exa-
Ele foi violentado sexualmente e estrangulado. PHGH'1$GHURWLQDIRLUHDOL]DGRSDUDLGHQWL¿FDURLQIUDWRUHVHX
Em 1999, 31 anos depois, Brian Lunn Field foi detido pela po- SHU¿OJHQpWLFRIRLVXEPHWLGRDR%DQFR1DFLRQDOGH'DGRVGH'1$
OtFLDSRUHVWDUGLULJLQGRDOFRROL]DGR6HXSHU¿OJHQpWLFRIRLREWLGR GD,QJODWHUUD2SHU¿OGH-RKQ:RRGHUDLGrQWLFRDRGHXPDDPRV-
e enviado para o banco nacional de dados de DNA. Houve coin- tra de sêmen coletada após violência sexual em duas vítimas de 9
FLGrQFLDGHVWHSHU¿OFRPRREWLGRGDDPRVWUDGHVrPHQFROHWD- e 11 anos, em 1988. Após treze anos, John Wood foi condenado a
da do corpo do jovem Roy, que havia sido congelada. 15 anos de prisão pelo estupro destas duas crianças.

8 Perícia Federal
A técnica utilizada
A primeira dúvida que paira sobre um
banco de dados de informações genéticas
é sobre o que consta nessas informações.
Poderia o órgão detentor deste banco de
dados inferir sobre características físicas
de um indivíduo? Empresas de seguro de
vida ou de saúde poderiam utilizar estas in-
formações para recusar uma apólice? Em-
pregadores que dispusessem destes da-
dos saberiam se um indivíduo teria maior
propensão a uma doença?
De fato, as informações extraídas do
material genético de um indivíduo podem
levar a conclusões sobre vários aspectos
físicos deste. Tudo depende de onde esta
informação é retirada, dentro do imenso
universo que é o material genético de uma Figura 01 - Representação de um microssatélite com a unidade de repetição tctg
célula humana. Façamos uma pequena
comparação: se a seqüência do genoma de 0DVFRPRVHULDPHVWHVSHU¿VJHQpWLFRV amostra de um suspeito para comparação.
apenas de uma célula humana, representa- GHPLFURVVDWpOLWHV"$¿JXUDPRVWUDXP Senão, vejamos: ao analisarem a amostra
das pelas letras A, C, T e G, fosse colocada desenho esquemático de um microssatéli- questionada coletada no local do crime, os
em páginas como esta, precisaríamos de te. Estes marcadores são regiões do DNA SHULWRVGRODERUDWyULRLUmRREWHURSHU¿OJH-
uma biblioteca com 1.000 livros de mais de pouco conservadas, ou seja, variam muito QpWLFRGDDPRVWUD(RTXHGL]HVWHSHU¿O"
600 páginas em cada. É muita informação! de um indivíduo para outro. Esta variação Se o indivíduo que deixou aquela man-
Contudo, nem todas estas páginas guar- se dá por diferença no número de peque- cha de sangue no local do crime herdou de
dam informações sobre características fí- nas seqüências repetitivas, que é uma ca- seu pai um alelo com 12 repetições e de
sicas da pessoa. Mais de 95% do genoma racterística dos microssatélites. sua mãe um alelo com 15 repetições em
não trazem informação alguma que se con- Então, digamos que um crime foi come- um microssatélite. Podemos dizer que o
verterá em características físicas. Foi por tido, e os peritos, ao analisarem o local, SHU¿OJHQpWLFRGHVWDDPRVWUDQHVWHPLFURV-
muito tempo chamado de Junk DNA (DNA encontram uma mancha de sangue que satélite é 12,15.
lixo, em inglês), mas hoje acredita-se que acreditam ser do criminoso. Este material Agora poderíamos analisar vários outros
esta maior parte do genoma humano possa é então submetido a exame no Laborató- marcadores genéticos da mesma amostra.
ser útil na estabilidade da molécula de DNA rio de Genética Forense do INC. A primeira Encontraremos, por exemplo, um marca-
dentro do núcleo celular. pergunta que os peritos do laboratório farão dor com 7 e 9 repetições. Outro com 13 e
Dessa forma, a proporção de DNA que é “qual a amostra de referência do suspeito UHSHWLo}HVHDVVLPSRUGLDQWH1R¿QDO
será traduzido em proteína ou que partici- para comparação com a amostra questio- de uma análise de vários marcadores ob-
pe de processo de regulação, ou seja, que nada?”. De fato de nada adianta a tipagem WHUtDPRVXPSHU¿OJHQpWLFRGDDPRVWUDTXH
WHUiLQÀXrQFLDHPFDUDFWHUtVWLFDVItVLFDV da amostra questionada se não houver uma poderia ser o seguinte:
não chega a 10 % do genoma humano.
Voltemos à nossa vasta biblioteca con-
tida em uma célula. Tudo que precisamos Marcador genético 1 - 12,15 Marcador genético 8 – 10,13
GHODSDUDLGHQWL¿FDomRKXPDQDVmRSRXFDV
Marcador genético 2 - 7,9 Marcador genético 9 – 6,7
linhas. Podemos pensar em um texto com
100 letras, todas consoantes. Não faria o Marcador genético 3 - 13,15 Marcador genético 10 – 9,13
menor sentido. Exatamente assim são os
marcadores genéticos utilizados para iden- Marcador genético 4 – 16,16 Marcador genético 11 – 11,11
WL¿FDomRKXPDQD2VSULQFLSDLVPDUFDGR-
res utilizados são os microssatélites. Estes Marcador genético 5 – 12,18 Marcador genético 12 – 8,10
marcadores são altamente variáveis na po-
Marcador genético 6 – 22,24 Marcador genético 13 – 9,15
pulação, ou seja, existem várias formas do
mesmo marcador. A partir da análise destas Marcador genético 7 – 8,9 Marcador genético 14 – 28,32
formas (alelos), e das freqüências destes
na população, podemos fazer uma análise 3RGHUtDPRVHVFUHYHURSHU¿OJHQpWLFRGHVWDDPRVWUDGDVHJXLQWHPDQHLUD
GHLGHQWL¿FDomRJHQpWLFD 12,15 – 7,9 – 13,15 – 16,16 – 12,18 – 22,24 – 8,9 – 10,13 – 6,7 – 9,13 – 11,11 – 8,10 – 9,15 – 28,32

Perícia Federal 9
DNA FORENSE: PCF HÉLIO BUCHMULLER LIMA (BIÓLOGO, MESTRE EM GENÉTICA E DOUTOR EM BIOLOGIA CELULAR E MOLECULAR)

Contudo, estes números nada dizem so- Eslováquia, Espanha, Estônia, Finlândia, DLQVHUomRGHSHU¿VGHFULPLQRVRVPDLVH¿-
bre características físicas da pessoa (cor França, Holanda, Hong Kong, Hungria, Itá- ciente será o banco de dados. Este assunto
dos olhos, cor dos cabelos, etnia, altura, lia, Islândia, Letônia, Noruega, Nova Zelân- pHVSHFL¿FDPHQWHDERUGDGRHPDUWLJRGRV
habilidade para jogar xadrez...).Então, para dia, Panamá, Polônia, Portugal, República PCFs Guilherme Jacques e Aline Costa Mi-
que fazermos esta tipagem? Tcheca, Singapura, Suécia e Suíça. nervino nesta edição da Perícia Federal.
2SHU¿OJHQpWLFRGHXPLQGLYtGXRWHPDO- O banco de dados britânico, por ter sido
tíssimo poder de individualização. Todos já o primeiro a ser implementado, em 1995, Como funciona o
ouviram falar dos famosos 99,99999999%. encontra-se em um estágio mais desen- banco de dados de DNA?
Quanto mais marcadores genéticos forem ti- volvido que os demais. Os resultados são O funcionamento de um banco de dados
pados, mais nove colocaremos no resultado animadores. Dados publicados em 2006 GHSHU¿VJHQpWLFRVpEHPPDLVVLPSOHV
do cálculo. Mas, para isso, é preciso que se PRVWUDPDH¿FLrQFLDGREDQFRGHGDGRVGH do que parece. Na realidade existem dois
FRPSDUHRSHU¿OHQFRQWUDGRQXPDDPRVWUD SHU¿VJHQpWLFRV$WD[DGHUHVROXomRGHFUL- EDQFRVGHGDGRVXPGHSHU¿VJHQpWLFRV
TXHVWLRQDGDFRPRSHU¿OGHXPDDPRVWUDGH mes passa de 26% para 40%, quando ves- obtidos de amostras coletadas em locais
referência. Por exemplo: se encontrarmos tígios encontrados no local do crime são GHFULPHHRXWURFRPRVSHU¿VJHQpWLFRV
uma guimba de cigarro numa cena de crime colocados no banco de dados. GHUHIHUrQFLDV ¿JXUD (VWDVUHIHUrQFLDV
SRGHPRVH[WUDLURSHU¿OJHQpWLFRGRXVXi- O banco de dados norte-americano foi podem ser diversas, dependendo da legis-
rio. Mas, para sabermos quem é este usuá- implementado em 1994, porém com diferen- lação vigente. Pode ser, por exemplo, que
ULRXPVXVSHLWRGHYHVHUWLSDGRHVHXSHU¿O tes legislações em cada estado. Atualmente, determinado país estabeleça que os conde-
comparado com a amostra questionada. Se todos os estados norte-americanos es- nados por crimes hediondos ou condenados
não há suspeito, não há conclusão. Dessa tão inseridos no banco de dados nacional, por qualquer crime, ou mesmo pessoas deti-
forma, o poder do exame genético é enfra- conhecido como NDIS (National DNA Index das por praticarem qualquer tipo de infração
quecido pela falta de suspeito. System, que utiliza o software chamado CO- penal, sejam obrigatoriamente tipados.
DIS), e a grande maioria já passou por refor- Exemplos de cada uma destas situa-
%DQFRGHSHU¿VJHQpWLFRV PDVQDOHJLVODomRHVSHFt¿FDSDUDGDUPDLRU ções são encontrados nos diversos países
Estudos de laboratórios criminais norte- H¿FLrQFLDSDUDREDQFRGHGDGRVHVWDGXDO que hoje têm banco de dados. Obviamente,
americanos mostram que em mais de 40% Um dos principais fatores para o sucesso quanto maior a abrangência do banco de
dos vestígios encontrados em um local de do banco de dados de DNA é a legislação SHU¿VJHQpWLFRVGHUHIHUrQFLDPDLRUVHUiD
ocorrência de homicídio ou violência sexual que o regulamenta. Na maioria dos países a H¿FLrQFLDGHVWHEDQFRGHGDGRV(VWHIDWR
é possível encontrar vestígios biológicos pas- legislação começou de forma mais restritiva, pHYLGHQFLDGRSHODH¿FiFLDGREDQFRGH
síveis de serem examinados por análise de armazenando-se apenas condenados por dados da Inglaterra. Atualmente é o banco
DNA. Da mesma maneira, estudos do ser- crimes hediondos. Porém, com o tempo per- de dados com maior abrangência na legis-
viço britânico de ciências forenses indicam cebeu-se que quanto mais abrangente fosse lação, permitindo que pessoas detidas pela
que 50% dos delitos de crime contra o patri-
mônio possuem vestígios biológicos passí-
veis de serem examinados geneticamente.
Contudo, em menos de 1% dos casos um
suspeito é apresentado para a comparação.
A solução encontrada por países como
Inglaterra e Estados Unidos para este pro-
blema foi a criação de um banco de dados
de DNA. A partir deste ponto, mesmo os cri-
mes sem suspeitos são investigados com
exame de DNA, com uma alta taxa de su-
cesso, uma vez que os bancos de dados
daqueles países já possuem armazenados
PLOK}HVGHSHU¿VJHQpWLFRVGHSHVVRDVTXH
já foram tipadas em outras oportunidades.
Os países citados foram os pioneiros na
implementação de banco de dados de per-
¿VJHQpWLFRV FRQKHFLGRVFRPREDQFRGH
dados de DNA). Hoje existe uma lista muito
maior de países que utilizam esta poderosa
ferramenta de investigação, os quais pode-
mos citar Alemanha, Áustria, Bélgica, Cana-
dá, Chile, Colômbia, Croácia, Dinamarca, Figura 02 &RPRIXQFLRQDULDREDQFRGHGDGRVGHSHU¿VJHQpWLFR

10 Perícia Federal
Número de casos que foram ligados a um ou mais indivíduos Número de casos que foram ligados a um ou mais indivíduos
cadastrados no banco de dados do Reino Unido. cadastrados no banco de dados do Reino Unido.

10000 8969 10000 8969

Número de casos
9000 8170
Número de casos

9000 7776 8170 7837 7776 7837


8000 8000
7000 7000
6000 5343 6000 5343
4689 4689
5000 5000
4000 4000
3000 3000
2000 1146 2000 681 1146
681
1000 1000
0 0

rto

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Ar
ess

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rriim

rim
CC

C
Tipos de crime Tipos de crime

PROPORÇÃO DE CADA CRIME COMETIDO POR PESSOAS COM PROPORÇÃO DE CADA CRIME COMETIDO POR PESSOAS COM
ANTECEDENTES DE ENVOLVIMENTO COM DROGAS ANTECEDENTES DE ESTELIONATO
Outros Seqüestro
Ofensas sexuais
12% (20) 8% (13)
26% (12) Estupro/
Ofensas sexuais assassinato
Seqüestro 2% (1)
20% (35) 2% (1)
Roubo 2% (1)
Outros 2% (1)
Arrombamento Roubo Homicídio
24% (41) 10% (18) 17% (8)

Arrombamentos 49% (22) Agressão


Seqüestro Homicídios 2% (1)
8% (13) 2% (3)

Proporção de crimes cometidos por pessoas com Proporção de crimes cometidos por pessoas com
antecedentes de envolvimento com drogas, cadastrados no antecedentes de estelionato, cadastrados no banco de dados
banco de dados do estado norte-americano da Virgínia do estado norte-americano da Virgínia

Figura 03 %DQFRGHGDGRVGHSHU¿VJHQpWLFRVQD,QJODWHUUDHQRV(8$

SROtFLDMiVHMDPLGHQWL¿FDGDVSRU'1$ FRQ- As estatísticas mostram que essa “coin- 2VSUR¿VVLRQDLVGHVWHVODERUDWyULRVVmR


forme o exemplo de John Wood , citado no cidência” é muito comum. Na Inglaterra, capacitados constantemente, com forte
início deste artigo). Não é surpresa que a por exemplo, cerca de 25% das infrações apoio da Senasp e da Polícia Federal. Atu-
Inglaterra tenha uma taxa de elucidação como furtos e roubos são praticadas por almente são realizados os mais modernos
de homicídios em mais de 80%. Segundo SHVVRDVMiLGHQWL¿FDGDVJHQHWLFDPHQWHQR exames, como análise de DNA mitocondrial
o Instituto de Segurança Pública do Rio de banco de dados. Crimes como estupro e e de Mini-STRs.
-DQHLURHVWDWD[DpGHQRHVWDGRÀX- atentado violento ao pudor também são re- 2FXVWRGRH[DPHWDPEpPQmRMXVWL¿FD
minense. No Brasil não passa de 5% (nú- correntes, e seus autores apresentam alto a inexistência do banco de dados. A imple-
mero estimado, pois não há pesquisa com índice de reincidência. mentação de um banco de dados é relativa-
YDORUHVFRQ¿iYHLV  Esta é, sem dúvida, uma das mais po- mente barata. Comparado com o benefício,
Uma vez estabelecidos os bancos de derosas ferramentas investigativas na atua- RLQYHVWLPHQWRptQ¿PR$VLPSOHVLPSOH-
amostras questionadas e de amostras de lidade. E, voltando à pergunta inicial, por mentação do banco de dados de DNA não
referências, passamos a cruzar os dados. quê ainda não utilizamos esta ferramenta? requer uma complexa estrutura tecnológi-
Podemos ilustrar com o seguinte exem- É muito cara? É de difícil implementação? ca para o armazenamento dos dados e a
plo: após a ocorrência de um roubo a uma 7HPRVSUR¿VVLRQDLVFDSDFLWDGRV" WURFDGHVWDVLQIRUPDo}HVSRLVRVSHU¿VJH-
DJrQFLDGRV&RUUHLRVRVSHULWRVLGHQWL¿- Hoje o Brasil conta com uma das maio- néticos se transformam em simples código
cam alguns vestígios biológicos que eles res redes de laboratório de genética foren- alfa-numérico. Claro que quanto maior o
acreditam ser dos criminosos. Este ma- se do mundo. Temos 15 laboratórios em valor investido, maior o retorno de resulta-
terial é coletado e enviado para exame. O funcionamento, sendo um na Polícia Fede- dos. Não é à toa que em 2003 o presiden-
SHU¿OJHQpWLFRREWLGRpHQWmRFRQIURQWDGR ral e 14 nas secretarias de segurança pú- te dos EUA liberou 1 bilhão de dólares para
FRPREDQFRGHGDGRVGHSHU¿VJHQpWLFRV blica estaduais. Outros 5 serão implanta- realização de exames de DNA, para dar
de amostras de referência. Dessa maneira dos no início de 2008. Ainda é muito pouco PDLRUH¿FLrQFLDDRCodis.
é possível saber se pessoas já condenadas quando comparado aos números america- Agora só falta um empecilho a ser
por outros crimes (amostras de referência) nos, mas não deve em nada a vários outros vencido: a falta de vontade política.
cometeram mais este crime. países desenvolvidos.

Perícia Federal 11
12 Perícia Federal
DNA FORENSE: PCF KÁTIA MICHELIN (FARMACÊUTICA E BIOQUÍMICA, ESPECIALISTA EM GENÉTICA FORENSE); PC ANA CLÁUDIA PACHECO (BIÓLOGA E ESPECIALISTA EM BIOLOGIA MOLECULAR),
PC ELOÍSA AULER BITTENCOURT (BIÓLOGA, MESTRE EM MORFOLOGIA-GENÉTICA HUMANA), PC MARIA JENNY MITRAUD LIMA (FARMACÊUTICA E BIOQUÍMICA, ESPECIALISTA EM INFORMÁTICA
APLICADA E EM ESTUDOS DE CRIMINALIDADE E SEGURANÇA PÚBLICA); PQF TRÍCIA KOMMERS ALBUQUERQUE (BIOLÓGA E DOUTORA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS-BIOQUÍMICA)

Banco de Dados
GH3HU¿V*HQpWLFRV
no combate aos crimes sexuais
Segundo estudos americanos, o índice de reincidência dos crimes de violência
sexual chega a 67%. Em média, são oito vítimas para cada criminoso.
$FDSDFLGDGHGHSUHYHQomRDHVWHWLSRGHFULPHVHULDH[WUHPDPHQWHEHQH¿FLDGD
FDVRR%UDVLODGRWHDFULDomRGHXPEDQFRGHGDGRVGHSHU¿VJHQpWLFRV

E
m sentido amplo, a violência se- “ato de constranger alguém, mediante vio- tendências suicidas, anorexia nervosa. Entre
[XDOSRGHVHUGH¿QLGDFRPRTXDO- lência ou grave ameaça, a praticar ou per- FULDQoDVHDGROHVFHQWHVDYLROrQFLDVHUHÀH-
quer forma de atividade sexual mitir que com ele se pratique ato libidinoso te em maior propensão da vítima prostituir-se
não consentida1. É um fenôme- diverso de conjunção carnal”. O Estatuto da ou tornar-se usuária de drogas1.
no de caráter universal que atinge indistin- Criança e do Adolescente acrescentou um Os dados oficiais publicados pela
tamente todas as classes sociais, etnias, parágrafo único a estes artigos agravan- SENASP em 20063 contabilizam 13.372
religiões e culturas. Ocorre em populações do a pena quando o crime de estupro e/ou casos de violência sexual em 2004 (7.601
de diferentes níveis de desenvolvimento so- atentado violento ao pudor forem cometi- estupros e 5.771 atentados violentos ao pu-
cial e econômico, em espaços públicos ou dos contra menores de 14 anos. A lei de dor) e 15.842 casos em 2005 (8.520 estu-
dentro dos lares. Embora possa atingir tan- crimes hediondos também agravou a pena pros e 7.322 atentados violentos ao pudor).
to mulheres quanto homens, em qualquer para os crimes de estupro e atentado vio- Estes números, no entanto, restringem-
etapa de suas vidas, os dados acerca deste lento ao pudor. Em ambos os casos, caso VHDRVFDVRVQRWL¿FDGRVDWUDYpVGHRFRU-
tipo de violência mostram que as principais a infração deixe vestígios, é imprescindível rências registradas pelas Polícias Civis no
vítimas são mulheres jovens e crianças2. o exame de corpo de delito (artigo 158 do Brasil, sendo certamente subestimados.
Pelos danos que acarreta e pelos altos ín- Código do Processo Penal). No Brasil, acredita-se que menos de 10%
dices de reincidência que a caracterizam, 0HVPRFRQ¿JXUDQGRXPDFODUDYLRODomR dos casos chegue às delegacias4. São es-
representa um sério problema de seguran- aos direitos humanos, os crimes de estupro cassos em nosso país dados acerca da vio-
ça e saúde públicas em todo o mundo. Sua e atentado violento ao pudor não são clas- lência sexual que não é reportada às autori-
conceituação legal varia de acordo com o VL¿FDGRVSHOR&yGLJR3HQDO%UDVLOHLURFRPR dades. A maioria dos estudos publicados em
SDtVHPERUDDPDLRULDGDVGH¿QLo}HVLQ- crimes contra a pessoa e sim como crimes âmbito nacional foram realizados em centros
clua uso da força física ou intimidação, o contra liberdade sexual e contra os costu- de atenção à saúde e tinham como foco a
contato sexual e o não-consentimento da mes. Os crimes contra os costumes são de violência contra a mulher de forma geral, em
vítima. Estima-se que 12 milhões de pesso- ação privada, isto é, requerem iniciativa da especial a violência doméstica, não focando
as no mundo sofram alguma forma de vio- vítima para abertura de processo criminal. HVSHFL¿FDPHQWHDYLROrQFLDVH[XDO
lência sexual a cada ano1. A violência sexual é uma importante causa Nos Estados Unidos, os dados do Na-
2&yGLJR3HQDO%UDVLOHLURFODVVL¿FDYLR- de morbidade e mortalidade, tendo um enor- cional Crime Victimization Survey de 2005,
lência sexual como crimes contra a liberda- me impacto sobre a saúde física e mental de que inclui estatísticas de crimes reportados
de sexual e contra os costumes. O estupro suas vítimas. As agressões sofridas compro- e não-reportados às autoridades entre os
pWLSL¿FDGRQRDUWLJRFRPR³FRQVWUDQJHU PHWHPVXDYLGDSHVVRDOSUR¿VVLRQDOHDIH- anos de 2004 e 2005, apontaram uma ocor-
mulher à conjunção carnal mediante violên- tiva, resultando em seqüelas físicas e psico- rência de crime sexual (estupro, tentativa
cia ou grave ameaça”. Já no artigo 214 é ti- lógicas como gravidez indesejada, doenças de estupro ou atentado violento ao pudor)
SL¿FDGRRDWHQWDGRYLROHQWRDRSXGRUFRPR sexualmente transmissíveis, depressão, a cada 2,5 minutos, sendo que 44% das

Perícia Federal 13
DNA FORENSE: PCF KÁTIA MICHELIN; PC ANA CLÁUDIA PACHECO, PC ELOÍSA AULER BITTENCOURT, PC MARIA JENNY MITRAUD LIMA; PQF TRÍCIA KOMMERS ALBUQUERQUE

vítimas de estupro eram menores de dezoi-


to anos e 80% tinham menos de trinta anos5.

Fotos: INC/DPF
Dos 401.550 crimes sexuais ocorridos en-
tre 2004 e 2005, segundo o estudo, apenas
38,3% foram reportados às autoridades.
Outra característica marcante deste tipo
de crime é a reincidência. Criminosos sexu-
ais costumam cometer o mesmo crime ou si-
milar, afetando múltiplas vítimas. A natureza,
gravidade e freqüência dos crimes freqüen-
temente aumentam. Um estudo americano
realizado com estupradores e molestado-
res de crianças mostrou que cada agressor
comete, em média, oito crimes, e que 67%
destes criminosos já haviam cometido mais
de uma agressão6.
No Brasil, segundo os dados oficiais
GD6(1$63TXDQWRDRSHU¿OGDVYtWLPDVH
agressores, relativos aos anos de 2004 e
20053, a maioria das vítimas de estupro (le-
galmente apenas mulheres) se concentra
na faixa etária de 12 a 17 anos, enquanto
que as vítimas de atentado violento ao pu-
dor são majoritariamente do sexo femini-
no e menores de 11 anos. Estes dados são
corroborados por estudos realizados em
serviços de atenção à saúde, que demons-
tram predomínio de crimes sexuais entre
adolescentes e entre adultas jovens1,2,7. Em
um destes estudos, realizado entre vítimas
de violência sexual atendidas pelo proje-
to Maria-Maria, em Teresina-PI, buscou-se
avaliar as características da violência se-
xual contra mulheres, os tipos de crimes
sexuais e as lesões corporais resultantes.
Os resultados mostraram que a violência
sexual predominou em crianças e adoles-
centes solteiras e de baixa escolaridade.
As agressões ocorreram principalmente à
noite, perpetradas por desconhecidos e em
locais ermos, no caso das adolescentes, e
por conhecidos (vizinhos principalmente)
e nos domicílios, no caso das crianças. O
estupro prevaleceu em vítimas maiores de
Exemplos de vestígios de crimes sexuais submetidos a exames de DNA. De cima
dez anos e o atentado violento ao pudor às para baixo: peça íntima de criança vítima de agressão sexual, preservativo encon-
crianças de um a nove anos1. trado em local de estupro e suabes vaginais coletados de vítima. Nos três casos, a
Assim como a verdadeira incidência de DQiOLVHJHQpWLFDGRVYHVWtJLRVSHUPLWLXDLGHQWL¿FDomRGRDJUHVVRU
crimes sexuais é difícil de mensurar, dado
que um parcela mínima das vítimas regis-
tra ocorrência, os custos sociais são ainda divíduo é levado em consideração: um único sociedade, tais como os custos processuais
mais difíceis de serem estimados. Segun- crime dessa natureza foi estimado em US$ e custos relacionados à insegurança social e
do um estudo conduzido pelo U.S. Depart- 87.000,00 (mais de mais de cem mil dólares gastos com segurança privada, sendo, por-
ment of Justice Bureau of Justice Statistics em valores atualizados)8,9. Neste estudo fo- tanto, uma estimativa conservadora. Não
em 1995, os crimes sexuais são os mais ca- ram contabilizados apenas os custos relati- existem dados semelhantes aplicados à rea-
ros de todos os crimes quando o dano ao in- vos às vítimas, sem estimar os custos para a lidade brasileira, mas não é difícil supor que,

14 Perícia Federal
pelo seu potencial de prejuízo a longo prazo genética de vestígios coletados de diferen- Dessa forma, pode-se aumentar em muito a
na vida das vítimas, na maioria muito jovens, tes vítimas, ou de diferentes locais de crime, SRVVLELOLGDGHGHLGHQWL¿FDomRGRDJUHVVRU
também aqui este seja um dos crimes mais também pode ajudar a desvendar casos de Também pode haver o cruzamento de dados
caros se considerados os danos ao indiví- crimes seriais, onde um único agressor faz FRPSHU¿VGHYHVWtJLRVREWLGRVGHRXWUDVYt-
duo e à sociedade. múltiplas vítimas. O exame de DNA permite, timas e de outros locais de crime, estabele-
A luta contra a impunidade nos casos de ainda, inocentar pessoas falsamente acusa- cendo a relação entre diversos crimes come-
crime sexuais é complexa e requer esforços das por um crime sexual. tidos pelo mesmo indivíduo.
conjuntos dos serviços de saúde, das po- No entanto, a utilidade do exame de DNA 8PEDQFRGHGDGRVGHSHU¿VJHQpWLFRV
lícias, dos órgãos periciais e do judiciário. QDLGHQWL¿FDomRGHDJUHVVRUHVVH[XDLV¿FD permite resolução de crimes para os quais
Somente com estruturas preparadas para o limitada nos casos em que não há um sus- não há nenhum suspeito, e que de outra for-
acolhimento humano das vítimas, onde elas peito conhecido, ou nos casos em que este ma permaneceriam insolúveis.
sintam condições de prestar queixa e se sub- não consente em fornecer material biológi- Países que já adotam o banco de dados
meter ao necessário exame de corpo de de- co para comparação. Dados de um estudo GHSHU¿VJHQpWLFRVWrPREWLGRUHVXOWDGRVH[-
lito, ao passo que recebam os cuidados de conduzido entre 1.189 vítimas de estupro pressivos no combate à criminalidade. No
saúde necessários, poderão aumentar o nú- ou atentado violento ao pudor atendidas no Estado da Virgínia, primeiro nos Estados
mero de iniciativas de registro dos casos. É Centro de Referência da Saúde da Mulher, Unidos a adotar o banco, dos 4.318 crimes
consenso que para a maioria das vítimas é em São Paulo, mostraram que o agressor resolvidos com o auxílio do banco de dados
muito difícil registrar a ocorrência por medo desconhecido prevaleceu entre as adoles- desde sua criação, em 1993, até outubro de
de serem discriminadas e estigmatizadas em centes (86,6%) e adultas (88,1%)7. Nestes 2007, aproximadamente 736 eram relativos
seu meio social ou mesmo pela própria famí- casos, mesmo que a vítima supere todas as a estupros seguidos de assassinato ou ou-
lia. O receio sobre o tratamento que lhe será GL¿FXOGDGHVHUHFHLRVUHJLVWUHRFRUUrQFLDH tros crimes sexuais10. No Canadá, das 8.194
dispensado pela polícia, pelo Instituto Médi- se submeta ao exame de corpo de delito, a investigações criminais auxiliadas pelo ban-
co Legal ou pelo serviço de saúde também identidade do agressor pode jamais ser co- co de dados desde sua criação até dezem-
desencoraja muitas vítimas a procurar aju- nhecida, contribuindo para os já alarmantes bro de 2007, 1.129 correspondiam a crimes
da. Para que se sinta estimulada a superar dados da impunidade e para a insegurança de natureza sexual11.
HVWHVGHVD¿RVHUHJLVWUDURFRUUrQFLDDYtWL- social em nosso país. A solução de um crime desta natureza,
ma precisa ter assegurado um tratamento A efetividade dos exames de DNA no com a conseqüente punição do responsável,
TXDOL¿FDGRUHVSHLWRVRHSURPRWRUGRVVHXV combate à criminalidade em geral, e em es- tem enorme impacto sobre a vida da vítima,
direitos, além da garantia de que sua denún- pecial dos crimes sexuais, pela sua caracte- sua família e sobre a sociedade.
cia será investigada, e de que tudo será feito rística de reincidência, poderia ser aumenta- Em 1989, a norte-americana Debbie Smi-
SHODLGHQWL¿FDomRHSXQLomRGRDJUHVVRU da em muito com a existência em nosso país th foi estuprada em sua residência. Segun-
2FDPLQKRPDLVFXUWRHH¿FLHQWHSDUDD GHXPEDQFRGHGDGRVGHSHU¿VJHQpWLFRV do seu relato, o estuprador disse-lhe que,
aplicação da justiça em casos de agressão Atualmente, na ausência de um banco sabendo onde ela morava, poderia voltar a
sexual é a produção de uma prova material de dados, nos deparamos com a situação qualquer momento e que, se ela contasse a
irrefutável, através da coleta e tratamento de que, na grande maioria dos casos, não qualquer pessoa sobre o ataque, ele a ma-
adequado dos vestígios encontrados, manu- se apresenta prontamente um suspeito para taria. Mesmo amedrontada, Debbie se sub-
tenção de uma cadeia de custódia segura e comparação. Mesmo quando há um suspei- meteu à coleta de material biológico para
os devidos exames periciais. Uma das pro- to, este não é obrigado pela legislação bra- exame de DNA. Durante seis anos, Debbie
vas mais contundentes em crimes desta na- sileira a fornecer material biológico para a sentiu-se insegura na sua própria casa, com
tureza são os vestígios biológicos deixados realização do exame. Nestes casos, mesmo medo de que o agressor retornasse. Sofreu
pelo agressor no corpo da vítima ou no local que a amostra da vítima seja analisada, ge- de insônia e depressão, e pensou até mes-
GRFULPHTXHSHUPLWHPLGHQWL¿FDURDJUHV- rando custos para o sistema, ela pode pas- mo em suicídio. Até que em 1994 sua amos-
sor através de exames de DNA. sar anos à espera do material de um sus- tra foi analisada e, em 1995, seu agressor foi
peito para realização do exame, que pode LGHQWL¿FDGRDWUDYpVGREDQFRGHGDGRVGH
Bancos de Dados MDPDLVVHULGHQWL¿FDGR2DJUHVVRUSRGHUi SHU¿VJHQpWLFRVQRUWHDPHULFDQRMiFXP-
GH3HU¿V*HQpWLFRV ¿FDUOLYUHSDUDFRPHWHURXWURVFULPHVFRQ- prindo pena por dois roubos. Sendo sua ter-
A utilização dos exames de DNA para ¿DQWHQDVXDLPSXQLGDGH ceira condenação, o agressor cumpre hoje
LGHQWL¿FDUFULPLQRVRVWHPUHYROXFLRQDGRD Com a existência de um banco de dados XPDVHQWHQoDGHDQRV'HEELH¿QDO-
investigação criminal em todo mundo. Em GHSHU¿VJHQpWLFRVMiDGRWDGRSRUPDLVGH mente pôde dormir em paz: em uma declara-
casos de agressões sexuais o exame de SDtVHVHPWRGRRPXQGRRVSHU¿VJH- omRDSyVDLGHQWL¿FDomRGRDJUHVVRUHODGLV-
'1$JHUDOPHQWHSHUPLWHLGHQWL¿FDURDJUHV- néticos obtidos de vestígios das vítimas e se que nunca imaginou que “seriam núme-
sor através de vestígios biológicos, tais dos locais de crime podem ser confronta- ros coincidindo com números que poderiam
como manchas de sêmen ou de sangue, GRVDTXDOTXHUWHPSRFRPSHU¿VGHFULPLQR- devolver o ar aos (seus) pulmões e permitir
ou até um único pêlo, coletados diretamen- sos condenados, mesmo que por outro tipo (a ela) verdadeiramente viver de novo”. De-
te da vítima ou do local do crime. A análise de crime e em outro estado da Federação. EELHVHUHIHULDjIRUPDFRPRRVSHU¿VJHQp-

Perícia Federal 15
DNA FORENSE: PCF KÁTIA MICHELIN; PC ANA CLÁUDIA PACHECO, PC ELOÍSA AULER BITTENCOURT, PC MARIA JENNY MITRAUD LIMA; PQF TRÍCIA KOMMERS ALBUQUERQUE

ticos são armazenados no banco de dados, sexual a doar amostra biológica para análi- de casos tende a incentivar mais vítimas a
como uma seqüência de números. Hoje, De- VHRTXHUHVWULQJHEDVWDQWHDH¿FLrQFLDGR prestar queixa de suas agressões, diminuin-
bbie dá nome a uma lei norte-americana que banco de dados, já foi possível estabelecer a GRDVXEQRWL¿FDomRFDUDFWHUtVWLFDGHVWHWLSR
visa garantir, entre outras medidas, que as ligação entre crimes cometidos pelo mesmo de crime e, ao mesmo tempo, aumentando a
amostras de casos de estupro sejam anali- agressor em cinco casos, sendo que em um H¿FLrQFLDGREDQFRGHGDGRV
sadas o mais breve possível, independente- destes casos já são mais de trinta vítimas de É preciso, portanto, investir nos serviços
mente de haver ou não um suspeito12. um único agressor. de atendimento às vítimas, incluídos aí ser-
Também temos que considerar o número A quantidade de crimes que podem ser viços de saúde, delegacias especializadas
de crimes que um banco de dados pode evitados, e o benefício social advindo da pri- e Institutos Médicos Legais, e nos laborató-
evitar, pois cria a oportunidade de deter o são de um criminoso sexual antes que faça rios de DNA de segurança pública, para que
criminoso antes que faça novas vítimas. novas vítimas são os aspectos mais impor- as vítimas sejam estimuladas a denunciar o
8P EDQFR GH GDGRV GH SHU¿V JHQpWLFRV WDQWHVGHXPEDQFRGHGDGRVGHSHU¿VJH- crime, para que a coleta de amostras seja a
que inclua criminosos condenados, ou até QpWLFRVHMXVWL¿FDPRVLQYHVWLPHQWRVHPVXD mais adequada possível e para que todos os
mesmo indiciados, permite a prevenção de criação e manutenção, como se pode con- vestígios da agressão sejam analisados. Pa-
FULPHVPDLVJUDYHVDRVHLGHQWL¿FDUHSX- cluir da experiência de países que já adotam ralelamente, é fundamental a criação de uma
nir o criminoso logo nos primeiros crimes. esta tecnologia. Nos Estados Unidos, onde o legislação que obrigue todo indiciado por cri-
Em 1998, Francisco de Assis Pereira, po- banco de dados foi implantado em 1994, um me sexual a doar amostra biológica para um
pularmente conhecido como o “Maníaco estudo estimou que a economia advinda de EDQFRGHGDGRVGHSHU¿VJHQpWLFRV$H[-
do Parque” foi condenado pelo estupro e se apreender criminosos sexuais no início de periência internacional tem mostrado que a
morte de onze mulheres em São Paulo, suas carreiras pode ser 35,2 vezes maior que adoção destas medidas tornará muito mais
em 1998. A existência de um banco de os gastos com as análises de todos os crimes H¿FD]RFRPEDWHHSULQFLSDOPHQWHDSUH-
dados de perfis genéticos à época dos sexuais reportados em um ano naquele país9. venção dos crimes sexuais em nosso país.
crimes permitiria que os vestígios coletados Além disso, a solução de um maior número
das vítimas fossem comparados e estabele-
cessem a interligação entre os crimes, mos-
trando de maneira muito mais rápida e clara %LEOLRJUD¿D
a existência de um criminoso serial. Em
2003, Adriano da Silva confessou ter mata- 1 LOPES, I.M.R.S, GOMES, K.R.O., SILVA, B.B. et. al. Caracterização da violência sexual em mu-
lheres atendidas no projeto Maria-Maria em Teresina-Piauí. Revista Brasileira de Ginecologia e
do doze meninos entre oito e treze anos de
Obstetrícia. Rio de Janeiro, março de 2004.
idade no Rio Grande do Sul, entre os anos 2 DREZZET, J. Aspectos Biopsicossociais da Violência Sexual. In: Anais da Reunión Internacional
de 2002 e 2003. O assassino confessou ter Violência: ética, Justicia y Salud para la Mujer. Monterrey, 2000.
abusado sexualmente de três de suas víti- 3 MINISTÉRIO DA JUSTIÇA/ Secretaria Nacional de Segurança Pública - SENASP/ Secretarias
mas, depois de mortas. Apesar da sucessão Estaduais de Segurança Pública/Departamento de Pesquisa, Análise da Informação e Desenvol-
de crimes com características semelhantes, vimento de Pessoal em Segurança Pública - Coordenação Geral de Pesquisa/ Instituto Brasileiro
GH*HRJUD¿DH(VWDWtVWLFD±,%*(
a polícia não estabeleceu conexão imediata
4 DINIZ, G.S. A violência contra as mulheres como questão de saúde no Brasil.In: Vinte e cinco anos
entre eles. À época dos crimes, Adriano era de respostas brasileiras em violência contra a mulher: Alcances e Limites. São Paulo: Coletivo
foragido da justiça no estado do Paraná, Feminista Sexualidade e Saúde, 2006. Disponível em: http://mulheres.org.br/25anos.html
condenado em 2001 a 27 anos por assas- 5 BUREAU OF JUSTICE STATISTICS BULLETIN. Nacional Crime Victimization Survey 2005. Dis-
sinato, roubo e ocultação de cadáver. Se, ponível em http://www.rainn.org/docs/statistics/ncvs_2005.pdf. Acesso em 10/10/2007.
uma vez condenado pelo primeiro crime, 6 GROTH, A.N., LONGO, R.E., McFADIN, J.B. Undetected Recidivism Among Rapists and Child
Molesters. Crime and Delinquency, v.28, n.3, 1982 apud WICHENHEISER, R. The Business Case
Adriano tivesse sido incluído em um ban-
for Using Forensic DNA Technology to Solve and Prevent Crime. Journal of Biolaw & Business,
FRGHGDGRVGHSHU¿VJHQpWLFRVQDFLRQDO vol.7, 2004.
SRGHULDWHUVLGRLGHQWL¿FDGRPDLVUDSLGD- 7 DREZZET, J. Estudo de Fatores Relacionados com a Violência Sexual contra Crianças, Adoles-
mente, poupando talvez a vida de muitas centes e Mulheres Adultas. Resumo de Tese. Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia,
de suas vítimas. v.22, n.7, 2000.
Numa iniciativa pioneira do Estado de Mi- 8 MILLER, T.R., COHEN, M.A. WEIRSEMA, B. Victim Costs and Consequences: a New Look. U.S.
'HSDUWPHQWRI-XVWLFH2I¿FHRI-XVWLFH3URJUDPV1DFLRQDO,QVWLWXWHRI-XVWLFH'LVSRQtYHOHP
nas Gerais, o material referente a todos os
http://www.ncjrs.gov/App/Search.
casos de crimes sexuais, mantido sob custó- 9 WICHENHEISER, R. The Business Case for Using Forensic DNA Technology to Solve and Pre-
dia desde 2002, começou a ser analisado a vent Crime. Journal of Biolaw & Business, vol.7, 2004. Disponível em: http://www.dnaresource.
SDUWLUGHHRVSHU¿VJHQpWLFRVREWLGRV com/documents/BusinessCaseforDNA.pdf
passaram a ser inseridos em um banco de 10 Informação disponível em: http://www.dfs.virginia.gov/statistics/index.cfm
dados, mesmo na ausência de um suspeito 11 Informação disponível em: http://www.nddb-bndg.org/stats-e.htm
12 TELSAVAARA, T.V.T; ARRIGO, B.A. DNA Evidence in Rape Cases and the Debbie Smith Act: Fo-
para comparação. Apesar de não haver le-
rensic Practice and Criminal Justice Implications. Internacional Journal of Offender Therapy and
gislação que obrigue o indiciado por crime Comparative Criminology, v. 50, p487-491, 2006.

16 Perícia Federal
DNA FORENSE: PCFS GUILHERME SILVEIRA JACQUES (BACHAREL EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E MESTRE EM CIÊNCIAS GENÔMICAS E BIOTECNOLOGIA) E ALINE COSTA MINERVINO (BACHAREL
EM ODONTOLOGIA E ESPECIALISTA EM GENÉTICA HUMANA)

Aspectos éticos e legais


dos Bancos de Dados
GH3HU¿V*HQpWLFRV
Desde meados de 1980, o uso O uso de toda a base de dados en- ASPECTOS ÉTICOS
de análise forense de DNA tem volve um contrapeso entre os direitos
do indivíduo e os interesses coletivos. Preocupações e temores
uma contribuição importante Ao discutir as vantagens e as desvanta- Não restam dúvidas que o DNA de uma
para a investigação do crime e a JHQVGRXVRGHEDQFRVGHSHU¿VJHQpWL- pessoa possui muito mais informações que
reprodução dos fatos. Não obstante, cos deve-se considerar: quais indivíduos as linhas e pontos de sua impressão digi-
algumas questões éticas devem devem ser incluídos no banco de dados, tal. Ao longo das bilhões de letras que com-
o uso de consentimento do indivíduo põem o DNA de uma célula humana estão
ser avaliadas, os mitos que rondam para fazer exame e uso das amostras e FRGL¿FDGDVLQIRUPDo}HVVREUHDVFDUDFWH-
o tema devem ser desfeitos e como gerir a informação que uma análise rísticas físicas da pessoa, sobre sua saúde,
as questões legais precisam ser deste tipo envolve. RULJHPHFRQVWLWXLomRpWQLFD ¿JXUD 
regulamentadas. Visando atingir
os benefícios sociais de um banco
GHGDGRVGHSHU¿VJHQpWLFRV
precisamos avaliar eventuais riscos
e resguardar, técnica e legalmente,
as garantias para que os direitos
individuais sejam preservados

HYROXomRGDLGHQWL¿FDomRJHQpWL-

A ca passa por uma fase, ainda em


desenvolvimento, na qual ocorre o
amadurecimento de todo o processo, com
padronização dos dados estatísticos e a in-
WURGXomRGRVEDQFRVGHSHU¿VJHQpWLFRV
Os bancos de dados de DNA são casos
particulares em que as informações genéticas
VmRDUPD]HQDGDVSDUDXPGHWHUPLQDGR¿P
XVXDOPHQWHDLGHQWL¿FDomRGHXPLQGLYtGXR
por comparação com o padrão armazenado.
Estes bancos geralmente têm caráter forense.
Vários países apresentam discussões
políticas e administrativas sobre o uso de
SHU¿VJHQpWLFRV$VGLIHUHQoDVGHQRUPDV
OHJDLVHMXULVGLomRGL¿FXOWDPDIRUPDomRGH
banco de dados e a troca de informações
entre os países. Embora os grandes bancos
Figura 01 7RGRRJHQRPDKXPDQRHVWiFRGL¿FDGRHPFRPELQDo}HVGHDSHQDVTXDWUROHWUDV(VWDV
de dados possuam critérios rigorosos quan-
letras representam compostos orgânicos: o A é a adenina, o T é a timina, o C é a citosina e o G é a gua-
WRjXWLOL]DomRGHSHU¿VJHQpWLFRVTXHVW}HV nina. Estes compostos estão sempre agrupados em pares: a adenina sempre se agrupa com a timina
éticas podem ser levantadas. e a citosina com a guanina. O material genético humano tem cerca de 3 bilhões de pares dese tipo.

Perícia Federal 17
DNA FORENSE: PCFS GUILHERME SILVEIRA JACQUES (BACHAREL EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E MESTRE EM CIÊNCIAS GENÔMICAS E BIOTECNOLOGIA) E ALINE COSTA MINERVINO (BACHAREL EM ODON TO

É natural, portanto, que existam muitos Tal episódio foi profundamente lamen- Um dos objetivos das declarações da
temores circundando o tema de acesso e tável, de modo que todos os esforços de- UNESCO relacionadas à utilização do ge-
armazenamento das informações genéti- vem ser feitos para que fatos semelhantes noma humano é prover uma estrutura uni-
cas. Entre eles, podemos destacar: sejam evitados1. versal de princípios e procedimentos para
a) o DNA poderia revelar tendências orientar os estados na formulação de sua
comportamentais como “comportamento Recomendações sobre legislação, políticas ou outros instrumentos
agressivo”, “tendência homicida”; o uso da informação genética no campo da bioética, visando sempre pro-
b) o DNA poderia revelar uma propensão ¬PHGLGDHPTXHRSURJUHVVRFLHQWt¿FR mover o respeito pela dignidade humana e
a doenças como câncer ou doenças cardio- se acelera no campo da genética e, ao mes- proteger os direitos humanos, asseguran-
vasculares; mo tempo, gerando esperanças para a hu- do o respeito pela vida dos seres humanos
c) seguradoras e outras empresas priva- manidade e criando dilemas éticos, a ONU, e pelas liberdades fundamentais, de forma
das poderiam acessar essas informações por meio da UNESCO (Organização das Na- consistente com a legislação internacional
e negar assistência ou negar emprego em ções Unidas para a Educação, a Ciência e a de direitos humanos3.
função das informações genéticas, promo- Cultura), sentiu necessidade de elaborar um Deve ser assegurado que todos os da-
vendo uma “discriminação genética”; sistema voltado para seu acompanhamento dos genéticos de indivíduo identificável
d) algum governante poderia utilizar es- HLPSOHPHQWDomRGRSURJUHVVRFLHQWt¿FRH devem ser recolhidos, tratados, utilizados
sas informações para promover algum tipo tecnológico neste campo. Em 1997, através e conservados com base em procedimen-
GHHXJHQLDJHQRFLGDYLVDQGRXPD³SXUL¿- da Declaração Universal sobre o Genoma tos transparentes e eticamente aceitáveis.
cação racial” hitleriana. Humano e os Direitos Humanos2, a UNES- $OpP GLVWR GHYHP WHU VXD FRQ¿GHQFLDOL-
Estas preocupações não são novas. CO reconhece que: dade assegurada, nas condições estabe-
Nas décadas de 1960 e 1970, por exemplo, “A pesquisa sobre o genoma humano e lecidas pela legislação, em conformidade
houve debate acerca da “síndrome XYY”, as aplicações dela resultantes abrem am- com o direito internacional relativo aos di-
homens com um cromossomo Y a mais plas perspectivas para o progresso na me- reitos humanos; ou seja, os dados gené-
que, supostamente, estariam mais pro- lhoria da saúde de indivíduos e da humani- ticos humanos e as amostras biológicas
pensos a cometer crimes. Após alguns es- dade como um todo [...].” não deverão ser comunicados nem torna-
tudos indicarem que a freqüência de ho- Mas enfatiza: dos acessíveis a terceiros, em particular
mens XYY era maior em presídios do que “[...] tal pesquisa deve respeitar inteira- empregadores, companhias de seguros,
na população em geral, os portadores de mente a dignidade, a liberdade e os direitos estabelecimentos de ensino ou família, se
cromossomo Y passaram a ser discrimi- humanos, bem como a proibição de todas não for por um motivo de interesse público
nados, mesmo que não apresentassem as formas de discriminação baseadas em importante nos casos restritivamente pre-
comportamento agressivo ou criminoso. características genéticas.” vistos pelo direito interno em conformida-

Figura 02 ([HPSORGHSHU¿OJHQpWLFR$SDUWLUGRSHU¿OJHQpWLFRSRGHVHLGHQWL¿FDUXPDSHVVRDPDVQmRVDEHUVXDVFDUDFWHUtVWLFDVItVLFDVRXGHVD~GH

18 Perícia Federal
ON TOLOGIA E ESPECIALISTA EM GENÉTICA HUMANA)

de com o direito internacional relativo aos

Fonte: Instituto H: Pardini


direitos humanos 4.
É preciso que entendamos o mínimo so-
bre as informações do DNA para que possa-
mos avaliar os riscos de se obtê-las e arma-
zená-las. Em primeiro lugar, é preciso que
¿TXHFODUDDGLVWLQomRHQWUHR'1$ XPDPR-
lécula que contém muitas informações) e o
SHU¿OJHQpWLFR XPDSHTXHQDLQIRUPDomRH[-
traída do DNA). O DNA como um todo pode,
realmente, revelar muitas informações sen-
síveis, como a propensão a doenças, entre
RXWUDV2SHU¿OJHQpWLFRHQWUHWDQWRREWLGRD
SDUWLUGDVUHJL}HVQmRFRGL¿FDQWHVGR'1$
é incapaz de revelar qualquer característi-
ca física ou de saúde. A única aplicação do
SHU¿OJHQpWLFRpDLQGLYLGXDOL]DomR,QIHOL]-
mente, devido ao parco entendimento públi-
co sobre a ciência e a tecnologia envolvidos
nesta questão, muitas pessoas são levadas
DDFUHGLWDUTXHRSHU¿OJHQpWLFRWHPPXLWR
mais informações do que ele realmente tem.
Para garantir que não se faça uso inde-
vido das informações genéticas armazena-
das em bancos de dados, basta que essas
informações não permitam isso. Deve ser
armazenado, eletronicamente, somente o
SHU¿OJHQpWLFRTXHQmRFRQWpPLQIRUPD- Figura 03 - Demonstra a coleta de DNA pelo suabe bucal
ções suscetíveis à discriminação genética.
Arquivo APCF

Em resumo, para minimizar eventuais Dessa forma, deve-se focar em um “pú-


riscos associados à utilização indevida das EOLFRDOYR´TXHIDYRUHoDDH¿FLrQFLDGREDQ-
informações genéticas, deve-se visar as FRGHGDGRVHPVXD¿QDOLGDGH%DQFRVGH
seguintes recomendações: GDGRVSDUDDLGHQWL¿FDomRGHSHVVRDVGH-
a) não deve ser armazenada eletronica- saparecidas, por exemplo, devem conter
mente toda a seqüência de DNA, apenas o SHU¿VJHQpWLFRVGRVSDUHQWHVGHGHVDSD-
³SHU¿OJHQpWLFR´VX¿FLHQWHSDUDLQGLYLGXDOL- UHFLGRVDOpPGRVSHU¿VGHUHVWRVPRUWDLV
zar uma pessoa; QmRLGHQWL¿FDGRV%DQFRVGHGDGRVSDUDD
E RSHU¿OJHQpWLFRGHYHVHUREWLGRDSDU- LGHQWL¿FDomRGHFULPLQRVRVGHYHPFRQWHU
WLUGHUHJL}HVQmRFRGL¿FDQWHVGR'1$ SHU¿VJHQpWLFRVGRVYHVWtJLRVELROyJLFRV
F QREDQFRGHGDGRVRSHU¿OJHQpWLFR encontrados no local do crime e de crimino-
deve estar associado a um código e não ao VRV$GH¿QLomRGHTXDLVFULPLQRVRVGHYHP
Figura 04 - Coleta de células da mucosa bucal
nome da pessoa; com suabe. A coleta com suabe é considerada WHURVHXSHU¿OJHQpWLFRLQFOXtGRQREDQFR
d) o acesso às informações genéticas não-invasiva de dados é crucial para o funcionamento
deve ser restrito e controlado. deste e deve ser expressa em lei.
GHH¿FLrQFLDQDLGHQWL¿FDomRGHSHVVRDV
Indivíduos incluídos desaparecidas e de criminosos. Coleta da amostra biológica
no Banco de Dados Devido ao custo inerente à obtenção do 3DUDVHREWHURSHU¿OJHQpWLFRGHXPDSHV-
Do ponto de vista ético, seria justo e SHU¿OJHQpWLFRHDRWDPDQKRGDSRSXODomR soa, é necessária a coleta de uma amostra
igualitário que todas as pessoas tivessem brasileira, tal opção ainda é inviável. Mes- biológica. A coleta de sangue periférico, via
VHXSHU¿OJHQpWLFRHPXPEDQFRGHGDGRV mo países com populações menores, como punção venosa, é uma das formas mais co-
$REWHQomRGRSHU¿OJHQpWLFRSRGHULDGDU a Nova Zelândia, a Inglaterra e a Áustria, nhecidas de acesso ao material biológico.
se no nascimento ou na ocasião da identi- que começaram muito antes do Brasil a ali- Apesar de muitas pessoas doarem volun-
¿FDomRFLYLO6HPG~YLGDXPEDQFRGHGD- PHQWDUEDQFRVGHSHU¿VJHQpWLFRVDLQGD tariamente seu sangue todos os dias, tal
GRVGHSHU¿VJHQpWLFRVTXHUHSUHVHQWDVVH não alcançaram uma representatividade prática é considerada invasiva e apresenta
toda a população brasileira teria o máximo grande da população. algumas restrições legais e éticas.

Perícia Federal 19
DNA FORENSE: PCFS GUILHERME SILVEIRA JACQUES E ALINE COSTA MINERVINO

A Constituição garante o direito à invia- Direito ao silêncio Conclusão


bilidade do corpo e à dignidade. Todos têm A Constituição Federal/88, entre os direi- Os problemas éticos apresentados pelo
o direito de negar a introdução de uma agu- tos fundamentais, inseriu a prerrogativa do grande desenvolvimento da genética molecu-
lha em sua veia e a remoção de seu san- silêncio, a teor do disposto no art. 5.º, LXIII: lar estão apenas começando. Nesta esfera, o
gue. Dessa forma, a punção de sangue estudo da Bioética aplicada às ciências foren-
pode não ser a forma mais adequada para “LXIII – o preso será informado de ses é de grande importância para a formulação
coleta de amostra biológica em um progra- seus direitos, entre os quais o de perma- de leis, programas e realização de projetos.
PDGHLGHQWL¿FDomRKXPDQDSHOR'1$ necer calado [...].” A disseminação de conceitos de bioéti-
A forma de coleta de amostra biológica ca aplicados à biologia molecular e genéti-
mais amplamente aceita no mundo, hoje, Tal direito visa garantir a impossibilidade ca deve ser a mais ampla possível e espe-
é realizada através de um esfregaço da de aquele que está sendo preso ser obri- cialmente orientada a círculos intelectuais
mucosa jugal (parte interna da boche- gado a produzir provas contra si próprio. A HFLHQWt¿FRVUHVSRQViYHLVSRUSURJUDPDV
cha) com o uso de um suabe (cotonete de Suprema Corte dos Estados Unidos faz uma de educação e treinamento, principalmente
haste longa) ou uma escova (cytobrush) distinção ainda ausente na jurisprudência nas universidades e órgãos tomadores de
(¿JXUDVH). Trata-se de um procedi- brasileira, mas muito pertinente. O direito de decisão, como os governantes. Intercâmbio
mento completamente indolor, não-inva- não “testemunhar contra si mesmo”, análo- de estudos e análises pertinentes a ques-
sivo e que não ofende a inviolabilidade do go norte-americano do direito ao silêncio, tões da Bioética e programas de informação
corpo e a dignidade humana. somente é aplicável em casos onde o tes- sobre o assunto devem ser organizados em
temunho é de natureza “comunicativa”5. A nível internacional e regional, especialmen-
ASPECTOS LEGAIS análise do DNA, da impressão digital ou de WHYLVDQGRLGHQWL¿FDUSUiWLFDVTXHSRVVDP
qualquer outro vestígio físico, portanto, não ser contrárias à dignidade humana.
2H[DPHGH'1$pXWLOL]DGRSDUD¿QVGH viola esse direito constitucional. A genética forense continuará a estudar
LGHQWL¿FDomRFULPLQDOKiPDLVGHDQRV o desenvolvimento das técnicas de aná-
no Brasil, mesmo sem qualquer lei que o ,GHQWL¿FDomRFULPLQDO lise de DNA. Os debates entre cientistas,
regulamente. Seguindo a legislação geral $LGHQWL¿FDomRFULPLQDOSHOR'1$QDGD governantes e a sociedade sobre o uso de
atual, exige-se que a pessoa inves- PDLVpTXHXPWLSRDPDLVGHLGHQWL¿FDomR bancos de dados do DNA devem prosse-
tigada forneça voluntariamente uma DVVLPFRPRDLGHQWL¿FDomRIRWRJUi¿FDRX guir, considerando sempre que toda deci-
amostra biológica. Sem datiloscópica. são e operação deve maximizar o benefí-
XPDOHLHVSHFt¿FDRV A Constituição Federal/88, art. 5º, inciso cio social e ao mesmo tempo salvaguardar
suspeitos que se ne- LVII, argumenta que o indivíduo será sub- os direitos individuais dos cidadãos.
gam a fornecer amos- PHWLGRjLGHQWL¿FDomRFULPLQDOVRPHQWHGH
tra biológica não têm seu acordo com as hipóteses previstas em lei. 5HIHUrQFLDELEOLRJUi¿FD
DNA analisado, por mais Em 2000, por meio da Lei n° 10.054/00,
fortes que sejam os in- PHVPRTXHRLQGLYtGXRSRVVXDLGHQWL¿ 1 The Law Reform Comission. Consultation pa-
per on the establishment of a DNA database.
dícios contra eles ou por FDomRFLYLOVHUiLGHQWL¿FDGRFULPLQDO-
Irlanda. 2004.
mais grave que sejam as mente naqueles casos previstos6. O 2 UNESCO. Declaração Universal sobre o
acusações. portador de documento de identidade Genoma Humano e os Direitos Humanos -
%DQFRVGHSHU¿VJHQpWLFRV civil, se for indiciado ou acusado de 1997. Disponível em: <http://www.bioetica.
catedraunesco.unb.br/htm/X%20-%20htm/
de vestígios, de restos mor- crimes como homicídio doloso, re- documentos/dec_uni_gen_hum_dire_hum.
tais não-identificados e de FHSWDomRTXDOL¿FDGDFULPHVFRQWUD pdf>. Acesso em: 11 de setembro de 2007
pessoas que doaram volunta- a liberdade sexual, dentre outros, será 3 UNESCO. Declaração Universal sobre Bio-
riamente seu material biológico indiciado criminalmente, inclusive ética e Direitos Humanos - 2005. Disponível
em: <http://www.bioetica.catedraunesco.
podem ser criados hoje, sem mu- SRUSURFHVVRVIRWRJUi¿FRVHGD- unb.br/htm/X%20-%20htm/documentos/de-
danças na legislação. Entretanto, tiloscópicos. claracaojulho2006.pdf>. Acesso em: 11 de
um banco de dados, para auxiliar Em 2003, ao reconhecer a setembro de 2007.
4 UNESCO. Declaração Internacional sobre os
QDLGHQWL¿FDomRGHFULPLQRVRVGH atualização da tecnologia de iden-
Dados Genéticos Humanos - 2004. Disponí-
IRUPDH¿FLHQWHSUHFLVDHVWDUDWUH- WL¿FDomRFULPLQDOIRLSURSRVWR vel em: <http://www.bioetica.catedraunesco.
lado a uma legislação que permita a o Projeto de Lei n° 417, que unb.br/htm/X%20-%20htm/documentos/
coleta de amostras biológicas de cri- sugere a inclusão na Lei n° dec_int_dados_Gen_hum.pdf>. Acesso em:
11 de setembro de 2007.
minosos. A legislação que rege o ban- 10.054 da análise de DNA 5 Graddy, J. The ethical protocol for collecting
co de dados também deve ditar seu QRVFDVRVGHLGHQWL¿FDomRFULPL- DNA samples in the criminal justice system.
funcionamento, seus limites e as garan- nal, assim como os processos dati- Journal of the Missouri Bar, volume 59, nú-
mero 5, 2003.
tias, para que os direitos individuais se- ORVFySLFRHIRWRJUi¿FR5HIHULGR3/
6 Wendt, E. Breves comentários à nova lei so-
jam resguardados, respeitando os direitos no entanto, ainda não foi apreciado pelo EUHLGHQWL¿FDomRFULPLQDO'LVSRQtYHO
fundamentais: plenário da Câmara dos Deputados. em: <www.advogado.adv.br>.

20 Perícia Federal
BIOSSEGURANÇA: PCF MEIGA ÁUREA MENDES MENEZES (FARMACÊUTICA BIOQUÍMICA E MESTRE EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS)

Infecção pelo contato


com materiais biológicos: uma revisão
Riscos, vias de transmissão
e medidas preventivas

Aids e hepatite B estão entre as


doenças que representam maior risco de
contaminação para os peritos que lidam com
restos de cadáveres, manchas de sangue
e outros materiais biológicos de origem
humana coletados em local de crime

O
s peritos criminais que trabalham necedor. Outra informação muitas vezes não Hepatite B se já for cadáver, ou pior, não
em laboratórios forenses, seja disponível é a estimativa do tempo em que o “existir”? Independente desta informação
nas áreas de Genética (DNA), material biológico se encontra no local. o perito corre algum risco de contrair es-
Toxicologia ou Química, invaria- Frente a esta realidade, os peritos cri- tas doenças nos casos citados? Em outras
velmente manipulam amostras biológicas minais tratam todo material biológico de palavras, esses vírus (patógenos) ainda
oriundas de cadáveres humanos, ou, sim- origem humana como potencialmente in- “existem” nesses materiais, ou seja, ain-
plesmente, de procedência desconhecida, fectante, o que não afasta totalmente o da estão viáveis e são capazes de produzir
como nos casos de manchas de sangue risco de um acidente ou de uma situação uma infecção?
coletadas em local de crime. inesperada face à grande heterogenidade
A maioria destas amostras são coleta- dos materiais encontrados. Imaginemos, Objetivo
das por outro grupo de peritos criminais, por exemplo, que um perito se corte com a Dúvidas como as descritas acima em re-
geralmente os que se encontram na escala ponta de uma tesoura ou bisturi contendo lação às amostras forenses de origem huma-
de plantão e comparecem aos locais de cri- resquícios de sangue seco anteriormente na, tanto na fase de coleta como durante seu
me envolvendo morte violenta, desastres presente em um estofado. Ou que, durante processamento, foram o principal estímulo
com múltiplas vítimas, arrombamentos, a manipulação de parte de um cadáver de para pesquisa do assunto e confecção do
entre outros. menos de 15 dias, algum líquido deste entre presente trabalho. Assim, o principal objetivo
Por serem objetos de investigações crimi- em contato com uma ferida não-cicatrizada desta revisão será reunir o máximo de infor-
nais, nem sempre estas amostras apresen- ou respingue no olho do perito. Naturalmen- mações atualizadas quanto aos patógenos
WDPXPDLGHQWL¿FDomRHVWDEHOHFLGDRXVHMD te, surgiriam as perguntas: Como saber se PDLVLQIHFWDQWHVHPWDLVPDWHULDLVHVSHFL¿-
GL¿FLOPHQWHDSRQWDPSDUDXPLQGLYtGXRIRU- o indivíduo fonte é portador do vírus HIV ou camente Aids, Hepatites B e C (respectiva-

Perícia Federal 21
BIOSSEGURANÇA: PCF MEIGA ÁUREA MENDES MENEZES (FARMACÊUTICA BIOQUÍMICA E MESTRE EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS)

mente HIV, HBV e HCV) e M. tuberculosis Embora a literatura consultada não indi-
(bactéria causadora da Tuberculose), com que esta via nos casos transmissão do HIV,
foco nas vias de transmissão e viabilidade HBV e HCV, faz-se necessário aqui citá-la
(capacidade de sobrevivência). Algumas por sua participação em cerca de 90% dos
medidas preventivas relacionadas também casos de contaminação pelo M. tuberculosis
serão destacadas. SDUDUHYLVmRYLGH%XUWRQ-/ 

Principais patógenos c) Via de inoculação direta/percutânea


encontrados em materiais (via dos acidentes perfurocortantes)
biológicos de origem humana Ocorre durante a manipulação de instru-
Os patógenos HIV, HBV e HCV são as mentos perfurocortantes como seringas,
maiores fontes de preocupação quando se bisturi, tesouras, etc. É considerada
trabalha com materiais biológicos de ori- a principal via de transmissão
gem humana, principalmente por sua alta QRDPELHQWHSUR¿VVLRQDO
freqüência mundial e capacidade de co- dada a possibilidade de
transmissão. Outro patógeno atualmente inoculação de uma
em evidência é o M. tuberculosis, não só por maior quantidade de
apresentar igualmente uma alta freqüência, material.
mas também pela sua crescente resistência
aos tratamentos convencionais. mucocutânea é de 0,04–0,63% (Ministério
Além destes, é sabido que outros patóge- da Saúde, 2006), sendo raros os casos de
QRVWDPEpPRIHUHFHPULVFRVDRVSUR¿VVLR- contaminação por HBV e HCV conhecidos
nais que trabalham com materiais biológi- por esta via (Weber DJ and Rutala WA,
cos, embora apresentem comparativamente H/DXHU-/HWDO 
um menor número de casos de infecção Não há registros de casos de transmissão
após exposição ocupacional. Apesar de não do M. tuberculosis através da via mucocutâ-
VHUHPGLVFXWLGRVDTXLSRGHVHD¿UPDUTXH nea SDUDUHYLVmRYLGH%XUWRQ-/ 
muitos dos mecanismos de prevenção, a se-
guir destacados, poderão ser aplicados a es- b) Via aérea
tes patógenos, o que não exclui, entretanto, Como o nome sugere, esta via de trans-
DQHFHVVLGDGHGHXPDSHVTXLVDHVSHFt¿FD missão ocorre pelo ar, sendo os aerossóis
dos mesmos aplicadas à rotina forense. os agentes principais de veiculação. Os ae-
rossóis são partículas líquidas ou sólidas
Principais vias de transmissão em suspensão aérea, invisíveis a olho nu, O HIV apresenta risco médio de 0,3%
Primeiramente, é importante conhecer as de diâmetro na faixa de micrômetros e que de soroconversão nos casos de inoculação
potenciais vias de transmissão dos patóge- todos respiramos. Caso contenham em seu direta com presença de sangue infectado.
nos HIV, HBV, HCV e M. tuberculosis, seja interior microorganismos, estes também po- Segundo consulta ao CDC (Centers of Di-
no local de crime, em laboratórios ou durante derão ser inalados. No trabalho forense, sease Control), disponível em http://www.
acompanhamento de uma autópsia. por exemplo, podem ser formados durante cdc.gov/ncidod/diseases/hepatitis/index.
Não deverá ser descartado que algumas a manipulação de um cadáver contaminado htm, o HCV apresenta risco médio de 1,8%
estatísticas e demais dados apresentados no local do crime ou durante uma autópsia. de soroconversão após a inoculação direta
a seguir variam sempre caso a caso, pois com presença de sangue infectado, poden-
estão sujeitos aos fatores clássicos de in- do o valor chegar a até 10% em alguns
fectividade, como por exemplo, imunidade casos. Já o M. tuberculosis apresenta, em
GRSUR¿VVLRQDOHDTXDQWLGDGHGHSDWyJHQRV média, cerca de 5–10% de risco de con-
viáveis presentes no material e inoculada no taminação através desta via (para revisão
momento do contato. YLGH%XUWRQ-/ 
Quando comparamos o HBV com os pa-
a) Via mucocutânea WyJHQRVDFLPDSRGHPRVD¿UPDUTXHHVWH
Ocorre pelo contato, geralmente respin- é o que apresenta a maior virulência (capa-
gos, do material biológico com as mucosas cidade infectante), pois seu risco de trans-
GRSUR¿VVLRQDOFRPRSRUH[HPSORROKRV missão chega a ser 100 vezes maior do que
ERFDQDUL]H¿VVXUDVGDSHOH aquele oferecido pelo HIV , ou seja, de 30%
No caso do vírus HIV, o risco de sorocon- 6KDUPD%5DQG5HDGHU0'H0LQLV-
YHUVmRSDUDRSUR¿VVLRQDODSyVDH[SRVLomR WpULRGD6D~GH 

22 Perícia Federal
Variação do comportamento dos HPJHUDOQmRHVWmRSUHVHQWHVHPFHQWURV QDWXUH]DLGDGHHHVWDGRGHFRQVHUYDomRGR
patógenos nas amostras forenses KRVSLWDODUHVLQVWLWXWRVGHPHGLFLQDOHJDOH PDWHULDOELROyJLFR$VIRWRJUD¿DVDVHJXLULOXV
$OJXQVGRVWUDEDOKRVQRkPELWRGDSHUt D¿QV'HIDWRKiXPDHQRUPHYDULDELOLGDGH WUDPDOJXQVPDWHULDLVHQYROYLGRVHPFDVRV
FLDFULPLQDOHQYROYHPSDUWLFXODULGDGHVTXH WDQWR QD IRUPD GH DSUHVHQWDomR FRPR QD UHDLVGR'HSDUWDPHQWRGH3ROtFLD)HGHUDO

)RWRJUD¿DGRORFDORQGHHQFRQWUDYDPVHRVFRUSRVGRVJDULPSHLURVPRUWRVQDUHVHUYD )RWRJUD¿DGRDFRPSDQKDPHQWRGHXPDDXWySVLDSRU
LQGtJHQDRRRVHYHOW5RQG{QLD0DWHULDOJHQWLOPHQWHFHGLGRSHORVSHULWRVFULPLQDLV SDUWH GH SHULWRV FULPLQDLV IHGHUDLV7ROHGR3DUDQi
IHGHUDLV)iELR$XJXVWRGD6LOYD6DOYDGRUH'HQLV3HWHUV 0DWHULDOJHQWLOPHQWHFHGLGRSHORSHULWRFULPLQDO
IHGHUDO*XVWDYR8HQR2WD

)RWRJUD¿DVRULXQGDVGDDSRVWLODGH/RFDLVGH&ULPHGD
$FDGHPLD1DFLRQDOGH3ROtFLDYHUVmRVREUHFR
)RWRJUD¿DGRORFDORQGHHQFRQWUDYDVHRFDGiYHUGHXPGRVWULSXODQWHVGHXPQDYLRHVWUDQJHLUR OHWDHSUHVHUYDomRGHYHVWtJLRVELROyJLFRVJHQWLOPHQWH
IXQGHDGRQDEDUUDGR3RUWRGH6DQWRV6mR3DXOR0DWHULDOJHQWLOPHQWHFHGLGRSHODSHULWD FHGLGDVSHORVSHULWRVFULPLQDLVIHGHUDLV.iWLD0LFKHOLQ
FULPLQDOIHGHUDO6HOPD0DUFHOOL H5HQDWR7HRGRUR)HUUHLUDGH3DUDQDtED

Perícia Federal 23
BIOSSEGURANÇA: PCF MEIGA ÁUREA MENDES MENEZES (FARMACÊUTICA BIOQUÍMICA E MESTRE EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS)

Na seqüência, serão disponibilizadas as outros estudos demonstraram que o vírus do de ácidos nucleicos) são validados apenas
principais informações, de forma resumida, HIV, ainda viável, pode ser isolado do osso para uso em soro plasmático de cadáveres
obtidas quanto à variação do comportamen- FUDQLDQRÀXLGRFHUHEURHVSLQKDOOLQIRQRGRV que apresentem um mínimo de conservação
to de cada patógeno nos materiais de origem e baço por mais de 5 dias após o óbito, quan- e qualidade. Os autores reforçam ainda que
humana. do estes são mantidos a 6°C (para revisão há uma considerável probabilidade dos testes
YLGH%XUWRQ-/ Nyberg M et al, em em amostras forenses produzirem resultados
0\FREDFWHULXPWXEHUFXORVLV 7XEHUFXORVH 1990, demonstraram ainda que o HIV pode falso-negativos para a presença dos pató-
Apesar do M. tuberculosis ser um microor- permanecer viável no baço no mínimo por 14 genos, tanto por um alto grau de hemólise,
ganismo extremamente frágil quando em dias à temperatura ambiente. Face a estes como pela presença de outros inibidores.
contato com a luz e calor, capaz apenas de dados, Nolte KB et al,D¿UPDUDPHP $SHVDUGHVWDVGL¿FXOGDGHVRVSHULWRVFUL-
desencadear a doença (Tuberculose) em “corpos infectados com HIV devem ser con- minais podem, na sua rotina, lançar mão de
cerca de 1-10% das pessoas contaminadas siderados potencialmente infecciosos por no algumas medidas preventivas de fácil apli-
$UHQG&)  estudos recentes apon- mínimo duas semanas após o óbito”. cação, além, claro, da constante busca por
tam que durante o acompanhamento de atualizações sobre a variação do comporta-
uma autópsia o risco de infecção não deve +HSDWLWLV%9LUXV +%9 9LUXVGD+HSDWLWH% mento dos patógenos em amostras forenses.
ser subestimado. O HBV é encontrado principalmente no san- Algumas das principais medidas preventivas
De fato, há relatos tanto da presença do gue, podendo ser isolado ainda a partir de encontram-se destacadas a seguir:
M. tuberculosis, ainda viável, em vários pon- RXWURVÀXLGRVFRPRVDOLYDVrPHQHVHFUH-
tos da sala de necropsia após 24 horas do ções vaginais. Estudos sobre o comporta- (1) Imunização
¿PGDPHVPD (para revisão vide Burton JL, mento do vírus já comprovaram que amos- Curiosamente, passados 100 anos da “revolta
  como de episódios de infecção após tras biológicas secas contendo HBV podem da vacina”, boa parte da população brasileira
a exposição, por 10 minutos, a um cadáver. produzir infecção após 7 dias se estocadas à adulta não visita regularmente os postos de
Mesmo cadáveres embalsamados podem temperatura de 25ºC (como citado em Bond vacinação, sendo ainda grande o número de
apresentar o M. tuberculosis viável por até WW et al, 1983). não-vacinados ou com vacinação incompleta.
60 horas após o embalsamento (como cita- Mesmo com poucos dados na literatura Cabe então relembrar que o governo
GRHP6KDUPD%5DQG5HDGHU0'  sobre a viabilidade do HBV em amostras tipi- brasileiro disponibiliza, nos postos de saú-
camente forenses, sua alta virulência esbar- de, diversas vacinas para o adulto, gratui-
+XPDQOPPXQRGH¿FLHQF\9LUXV +,9  ra em uma igualmente alta probabilidade de tamente. Dentre elas destaca-se para os
9tUXVGDLPXQRGH¿FLrQFLDKXPDQD prevenção: a vacinação gratuita nos postos peritos criminais a vacina contra o HBV, o
De acordo com os dados da literatura, os prin- de saúde brasileiros, a seguir abordada. qual, como descrito anteriormente, possui o
FLSDLVÀXLGRVELROyJLFRVFDSD]HVGHWUDQVPLWLU mais alto risco de infecção, quando compa-
o HIV são sangue, sêmen, secreções vagi- +HSDWLWLV&9LUXV +&9 9LUXVGD+HSDWLWH& rado ao HIV e HCV.
QDLVHOHLWHPDWHUQR-iRXWURVÀXLGRVFRQKH- O sangue contaminado é o meio transmissí- Mais informações podem ser consultadas
cidos, como saliva, lágrimas e urina não têm vel mais comum do HCV, sendo, a exemplo nos sítios http://portal.saude.gov.br/portal/
sido relacionados com a transmissão do HIV, do HIV, ainda inexistente uma vacina contra saude/visualizar_texto.cfm?idtxt=25806 e
a menos que apresentem sangue visível. este vírus. Ainda são escassos na literatura http://www.sbim.org.br/programas.htm.
Comparando-se os valores apresentados estudos como o de Cuypers HT et al, 1992,
sobre os riscos de contaminação referentes no qual foi possível a detecção de partículas (2) Lavagem das mãos e uso de equipa-
ao HIV com aqueles relacionados aos vírus de HCV em sangue total deixado à tempe- mento de proteção individual
HBV e HCV, pode-se considerar o HIV como ratura ambiente por 14 dias (como citado em 2XWUDVPHGLGDVH¿FD]HVQDSUHYHQomRGH
um vírus de infectividade baixa, apesar de Weber DJ and Rutala WA, 2001). infecções é a sempre saudável lavagem das
seu inconteste impacto social (Sharma BR mãos e o uso dos EPI (Equipamentos de Pro-
DQG5HDGHU0'H0LQLVWpULRGD6D~- Ação e prevenção teção Individual) mais adequados à ocasião.
GH Mesmo apresentando um baixo Infelizmente, nos casos de acidentes ocu- Como exemplo destes, podemos destacar o
poder de infectividade e relativa fragilida- pacionais envolvendo amostras forenses, a uso de botas impermeáveis com biqueiras rígi-
de quando isolado do hospedeiro, os riscos pesquisa de patógenos em tempo hábil pode- das, macacões descartáveis feitos de materiais
ocupacionais relativos ao HIV não devem rá ser prejudicada pela ausência do indivíduo impermeáveis (ex: Tyvex®), máscaras faciais,
ser subestimados, principalmente em ma- fonte ou mesmo pela inexistência de testes aventais, óculos de proteção, entre outros.
teriais de origem post mortem, quando há comerciais para detecção de HIV, HBV, HCV Vale ressaltar a importância de que cada
a falsa idéia de que o vírus está igualmente e M.tuberculosis totalmente validados para grupo de trabalho pericial elabore, para pos-
“morto”. De acordo com os experimentos de amostras desta natureza. De acordo com terior aquisição, uma listagem qualitativa e
Douceron H et al, em 1993, o HIV pode apre- os trabalhos de Christensen PB et al, 2006 quantitativa de EPI baseada nas casuísti-
sentar-se viável quando isolado de sangue e Strong DM et al, 2005, mesmo testes la- cas existentes e informações técnicas dos
e outros líquidos corpóreos por até 16,5 dias boratoriais mais modernos (conhecidos pela produtos disponíveis no mercado. Preferên-
após a morte do paciente. Curiosamente, sigla inglesa “NAT” e baseados na detecção cias pessoais, quando aplicáveis, poderão

24 Perícia Federal
%LEOLRJUD¿D
1 Arend CF. Transmission of Infectious Diseases
through Mouth-to-Mouth Ventilation: Evidence-
Based or Emotion-Based Medicine? Arq. Bras.
Cardiol. 2000;74 (1):86-97
2 Bond WW, Favero MS, Petersen NJ and Ebert
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mediate-to-High-Level Disinfectant Chemicals.
Journal of Clinical Microbiology. 1983; 18 (3):
535-538.
3 Burton JL. Health and safety at necropsy. J Clin
Pathol. 2003; 56:254–260.
4 Christensen PB, Kringsholm B, Banner J, Thom-
sen JL, Cowan S, Stein GF, Jurgensen GW,
Grasaasen K, Georgsen J and Pedersen C. Sur-
veillance of HIV and viral hepatitis by analysis
of samples from drug related deaths. European
Journal of Epidemiology; 2006. 21:383–387.
5 Douceron H, Deforges L, Gherardi R, Sobel,
A and Chariot, P. Long-lasting postmortem viabi-
OLW\RIKXPDQLPPXQRGH¿FLHQF\YLUXVDSRWHQWLDO
risk in forensic medicine practice. Forensic Sci
Caricatura intitulada “Guerra Vacino Obrigateza” publicada na revista carioca “O Malho”, em outubro Int. 1993; 60:61-66.
de 1904 sobre a revolta da população contra a lei de vacinação obrigatória. 6 Lauer JL, Vandrunen NA, Washburn JW
Autor: Leônidas. Fonte: Acervo Casa de Oswaldo Cruz. and Balfour HH.Transmission of hepatitis B
virus in clinical laboratory areas. J Infect Dis.
ser consideradas. Por exemplo, a revisão Conclusão 1979;140(4):513-6.
de Burton JL, 2003, destaca a opção de al- Em um primeiro momento, os verdadei- 7 Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à
Saúde. Departamento de Ações Programáticas
JXQVSUR¿VVLRQDLVSHORXVRGHOXYDVGXSODV ros riscos biológicos presentes em um de-
Estratégicas. Exposição a materiais biológicos.
para diminuição dos riscos de perfurações. terminado material de origem humana são 2006. disponível em http://bvsms.saude.gov.
Já no caso das máscaras faciais, há uma in- imprecisos. No universo da perícia criminal, br/bvs/publicacoes/protocolo_expos_mat_bio-
dicação dos autores Sharma BR and Reader a desinformação pode ser ainda mais abran- logicos.pdf
MD, em 2005, pelo uso obrigatório de más- gente, uma vez que muitos materiais, além 8 Nolte KB, Taylor DG and Richmond JY. Biosafety
considerations for autopsy. The American Jour-
caras respiratórias do tipo N-95 nos casos de não apresentarem um indivíduo fornece- nal of Forensic Medicine and Pathology. 2002;
de suspeita de tuberculose. dor conhecido, encontram-se nas mais diver- 23(2):107–122.
'LVSRUGHXPSURJUDPDH¿FD]GHGHVFDU- sas apresentações e graus de degradação. 9 Strong DM, Nelson K, Pierce M and Stramer SL.
te e desinfecção dos EPI usados também é Logo, a pesquisa sobre a variação de com- Preventing disease transmission by deceased
tissue donors by testing blood for viral nucleic
necessário do ponto de vista ambiental, prin- portamento dos principais patógenos em ma-
acid. Cell and Tissue Banking. 2005; 6:255–
cipalmente para se evitar a propagação das teriais tão heterogêneos entre si é extrema- 262.
mesmas doenças outrora objetos de combate. mente útil para uma rápida ação nos casos 10 Sharma BR and Reader MD. Autopsy room:
de acidentes ocupacionais, quando poderá a potential source of infection at work place in
(3) Ação rápida nos acidentes surgir a necessidade de adaptação dos proto- developing countries. American Journal of Infec-
tion Diseases; 2005. 1(1): 25-33.
A publicação pelo Ministério da Saúde em colos de atendimento hospitalar. Outra van-
11 Weber DJ and Rutala WA. The Emerging Noso-
2006 intitulada “Exposição a materiais bio- tagem deste esforço é não permitir que um comial Pathogens Cryptosporidium, Escherichia
lógicos”, disponível em http://bvsms.saude. possível risco de infecção seja subestimado coli O157:H7, Helicobacter pylori, and Hepati-
gov.br/bvs/publicacoes/protocolo_expos_ pelas equipes periciais quando, por exem- tis C: Epidemiology, Environmental Survival,
mat_biologicos.pdf, apresenta as principais plo, o material estiver aparentemente “velho”, (I¿FDF\RI'LVLQIHFWLRQDQG&RQWURO0HDVXUHV
Infection Control and Hospital Epidemiology.
medidas práticas a serem adotadas antes e “seco”, “congelado” ou “queimado”. Ou pior, 2001; 22 (5): 306-315.
após os acidentes envolvendo materiais bio- que o material seja tratado de maneira “espe-
lógicos de origem humana. Além da divulga- cial” apenas nos casos onde o perito for, por
ção deste material, é igualmente importante exemplo, avisado de que o indivíduo fornece- Agradecimentos
a prévia divulgação às equipes periciais dos dor é sabidamente portador do HIV.
A toda equipe da APGEF, em especial seu res-
endereços e telefones dos principais hospi- Quanto à prevenção de tais riscos, as medi- ponsável, perito criminal federal Jacques, por seu
tais de referência de sua circunscrição. Pre- das mais úteis são muitas vezes as mais sim- apoio. A todos os peritos criminais federais citados
ferencialmente, aqueles de fácil acesso, com ples, como o uso de EPI e vacinação, as quais, QRWUDEDOKRSHODFHVVmRGDVIRWRJUD¿DV$RVSHUL-
funcionamento 24 horas e que estejam aptos conjuntamente com a busca e divulgação de tos criminais federais Luis Carlos Serpa e Gustavo
&KHPDOHSHODUHYLVmRFUtWLFDHSRU¿PDRDPLJR
a agir, em tempo hábil (preferencialmente novas informações na área, permitem afastar, PhD. Rui Sutton de Souza Neves, pela preciosa
até as duas primeiras horas), nos acidentes ou ao menos minimizar, os indesejados impac- ajuda na busca e disponibilização de muitas refe-
envolvendo materiais biológicos. tos causados pelas doenças ocupacionais. rências aqui citadas ou consultadas.

Perícia Federal 25
BDCRIM: PCF NORMA RODRIGUES GOMES (MESTRE EM CIÊNCIAS DA COMPUTAÇÃO)

BDCrim
Biblioteca Digital da Criminalística
Uma ferramenta para compartilhar conhecimento

Alimentada de forma colaborativa via web, a BDCrim é um ambiente digital onde todas as
áreas da Criminalística possuem espaço próprio para armazenar e recuperar conhecimento

PDVGLYHUVRV YLGH¿JXUD SRGHQ-

A
Criminalística do Departa- Para promover um ambiente de ca-
mento de Polícia Federal, do variar de crimes de informática a ráter multidisciplinar capaz de arma-
atuando nos mais diversos exames de DNA, por exemplo, ou de zenar e organizar esses conteúdos
ramos das ciências forenses, crime ambientais a exames de pa- diversos, foi criada a BDCrim - Biblio-
produz e faz uso de um grande volume pel-moeda. Além da variedade de in- teca Digital da Criminalística. Trata-se
de informações, na sua maioria de ca- IRUPDo}HVWpFQLFRFLHQWt¿FDVpIXQ- de um projeto desenvolvido pelo Insti-
UiWHUWpFQLFRFLHQWt¿FRTXHQHFHVVLWDP damental que a legislação aplicável tuto Nacional de Criminalística com a
estar disponíveis e acessíveis no âmbi- em cada área da criminalística este- ¿QDOLGDGHGHDUPD]HQDUHUHFXSHUDU
WRGDSHUtFLDIHGHUDOD¿PGHVXEVLGLD- ja sempre atualizada, sem abrir mão informações de interesse das diversas
rem a execução dos exames periciais. do registro histórico face à freqüente áreas da criminalística, como artigos,
Trata-se de um universo de as- necessidade de se reconstituir situa- detalhamento de casos relevantes, pa-
suntos muito amplo que envolve te- ções pretéritas. drões, recursos para exames, manuais

Figura 1 – Estrutura da BDCrim com detalhamento das comunidades de Documentoscopia e Legislação

26 Perícia Federal
de procedimentos, legislação, entre Como encontrar uma informação 2ª OPÇÃO: PESQUISAR
outros, em vários formatos digitais. A informação pode ser encontrada, „ Pesquisa simples – permite inserir
A Biblioteca Digital está organizada em essencialmente, através de duas for- palavras na caixa de pesquisa, que serão
comunidades, que correspondem às áreas mas: percorrendo ou pesquisando o automaticamente pesquisadas nos meta-
da criminalística. Cada comunidade estru- FRQWH~GRGD%'&ULP YLGH¿JXD  dados (títulos, autores, palavras-chave,
tura os seus conteúdos em coleções, que etc.), bem como no texto integral, de cada
correspondem ao tipo de documento que 1ª OPÇÃO – PERCORRER: item da biblioteca.
será armazenado (apresentações, artigos, „ Coleções - permite consultar as várias „ Pesquisa avançada±SHUPLWHGH¿QLU
casos, etc). Todo documento digital depo- comunidades disponíveis e visualizar as quais metadados serão objetos de busca,
VLWDGRQD%'&ULPpLQGH[DGRHFODVVL¿FDGR respectivas coleções. SURSLFLDQGRXPUH¿QDPHQWRGDSHVTXLVD
de acordo com seu assunto de forma pa- „ Títulos - permite consultar uma lista or- „ Pesquisa de assuntos – é baseada
dronizada, permitindo um processo de re- denada alfabeticamente dos títulos de to- em uma árvore de assuntos que correspon-
cuperação da informaçãoPDLVH¿FLHQWH dos os documentos disponíveis. de a um vocabulário controlado de cada co-
A BDCrim está disponível na intranet do „ Assuntos - permite consultar uma lista munidade, representando de forma hierár-
DPF, sendo acessível de qualquer estado ordenada alfabeticamente dos assuntos de quica os termos e conceitos de uma área
da Federação, de onde também é possível todos os documentos disponíveis. HVSHFt¿FD YLGH¿JXUD $SHVTXLVDpUHDOL-
contribuir com conteúdos de interesse de „ Autores - permite consultar uma lista or- zada selecionando-se o assunto desejado.
qualquer área da criminalística. denada alfabeticamente dos autores.
„ Por data - permite consultar uma lista de
Como foi desenvolvida a BDCrim todos os documentos por ordem cronológica.
O projeto de criação de uma biblioteca
digital da criminalística iniciou-se em no-
vembro de 2006. Após várias avaliações e
testes, a BDCrim foi colocada em produção
em março de 2007.
A BDCrim utiliza uma plataforma de sof-
tware livre, denominada DSpace (www.ds-
pace.org TXHIRLGHVHQYROYLGDHVSHFL¿FD-
mente, para armazenamento, manutenção
e divulgação de materiais em formato digi-
tal. O Massachusetts Institute of Technolo-
gy (MIT), através dos serviços da sua biblio-
teca, em parceria com a Hewlett-Packard
Labs (HP), foram as entidades responsáveis
pelo desenvolvimento do Dspace.
Dessa forma, toda instituição interessa-
da em criar uma biblioteca digital pode fazer Figura 3 – Modelo Árvore de Assuntos
XVRGHVVHVRIWZDUHOLYUHFRQ¿JXUDQGRRGH
acordo com a estrutura de cada instituição. Conteúdo da BDCrim
Como exemplos de uso dessa mesma pla- De uma forma geral, em cada comunida-
taforma, podem ser citados os seguintes de (leia-se área da criminalística) existem
órgãos: STJ, Senado Federal, IBICT/MCT, coleções de artigos, apresentações, casos e
alguns Tribunais de Justiça e diversas uni- recursos para exames (manuais de equipa-
versidades estrangeiras e nacionais. mentos, procedimentos, formulários, etc.).
Todo item inserido na BDCrim possui Entretanto, as coleções são criadas de
metadados, informados no momento do acordo com a necessidade de cada área,
armazenamento, referentes a título, auto- coforme exemplos: comunidade de “En-
ria, resumo, palavras-chave, dentre outros, genharia Legal” criou coleções de mapas
que descrevem seu conteúdo, permitindo e tabelas de custos; “Meio-Ambiente” criou
uma posterior recuperação do mesmo. FROHomRGH¿FKDVGHPDGHLUDHD³'RFX-
Tanto os metadados, quanto o conteú- PHQWRVFRSLD´FULRXFROHo}HVHVSHFt¿FDV
do integral de documentos em formato tex- de padrões (passaportes, papel-moeda,
to, são indexados para agilizar o processo selos, cheques, etc.).
de recuperação de informação e viabilizar Como o projeto-piloto da BDCrim foi ini-
a total acessibilidade ao acervo da BDCrim. Figura 2 – Opções de busca ciado junto a duas áreas, a saber, Documen-

Perícia Federal 27
BDCRIM: PCF NORMA RODRIGUES GOMES (MESTRE EM CIÊNCIAS DA COMPUTAÇÃO)

toscopia e Acompanhamento Legislativo,


suas respectivas comunidades já se encon-
tram bem estruturadas, cabendo destacar:
„ Documentoscopia: está em desen-
volvimento um trabalho de criação de pa-
drão digital dos principais documentos de
VHJXUDQoD YLGH¿JXUD 
„ Legislação e Jurisprudência: há um
trabalho contínuo de captação de leis, por-
tarias, decisões judiciais e outros normati-
YRVTXHWHQKDPLQÀXrQFLDVREUHDVDWLYLGD-
des da perícia criminal.

Formatos de arquivos aceitos


Qualquer formato digital pode ser sub-
metido à BDCrim, no entanto, é recomen-
dável que sejam utilizados formatos os
mais conhecidos possíveis, de forma a
garantir a sua inteligibilidade em diversas
plataformas.
Alguns formatos disponíveis e reco-
mendáveis são: PDF, HTML, TEXT, JPEG,
MPEG, dentre outros.
Controle de acesso ao conteúdo
Apesar do acesso à BDCrim ser disponi-
bilizado no âmbito da intranet do DPF, exis-
tem algumas coleções de conteúdo restrito
(a exemplo das coleções de “Casos” e “Pa-
drões”). O acesso a conteúdo restrito é limi-
Figura 4 – Padrão digital do passaporte da África do Sul
tado ao grupo de peritos, os quais deverão
proceder ao cadastro de usuários, através
da opção “Novo usuário?”, apresentada n
D¿JXUD

Figura 5 – Tela de autenticação

Casos de uso da BDCrim


A utilização da BDCrim vem aumentan-
do gradativamente, face ao crescimento de
seu conteúdo e da quantidade de usuários
cadastrados, destacando-se o esforço con-
tínuo para o estabelecimento de uma cultu-
ra de uso da nova ferramenta. Figura 6 ±&DVRGHIDOVL¿FDomRGHSDVVDSRUWHGD0DOiVLD

28 Perícia Federal
Figura 7±(VSHFL¿FDo}HVGDPRHGDGH5HDO

Casos referentes a análise de passapor- dronização de procedimentos nas área de publicação não-exclusiva à BDCrim, refe-
tes da África do Sul, através do padrão di- química analítica e merceologia, normativos rente a documentos cujo conteúdo esteja
JLWDOH[LVWHQWHQD%'&ULP YLGH¿JXUD Mi internos sobre preâmbulo e títulos de laudo, protegido pelo direito autoral.
foram reportados pelas unidades de crimi- execução de plano de férias, e manual de
nalística do Distrito Federal e Pernambuco. incentivo à pesquisa na criminalística. Conclusões
6LPLODULGDGHHQWUHWLSRVGHIDOVL¿FDomR A BDCrim é uma ferramenta de uso cor-
de passaporte da Malásia também foram Como contribuir com a BDCrim porativo para compartilhar conhecimento,
constatados entre Pernambuco e Rio de Todo perito, de qualquer local com aces- cujo conteúdo deve ser construído de for-
Janeiro, com base no detalhamento de um so à intranet do DPF, pode realizar o depó- ma colaborativa entre os atuantes e pes-
FDVRSUHVHQWHQD%'&ULP YLGH¿JXUD  sito de um item na BDCrim. Para tanto, é quisadores das áreas de criminalística.
Caso de perícia em moedas do Real, necessário passar pelo processo de auten- Como trabalho futuro, está previsto um
apreendidas em Alagoas, também foi de- WLFDomRGHXVXiULR YLGH¿JXUD VHOHFLR- estudo de viabilidade de integração da
senrolado a partir de conteúdo presente na nar a coleção desejada e seguir as instru- BDCrim ao Consórcio BDJur, que corres-
coleção de “Papel-Moeda” da comunidade ções fornecidas pelo sistema. ponde a uma rede de Bibliotecas Digitais
GH³'RFXPHQWRVFRSLD´ YLGH¿JXUD  Durante o processo de depósito de um Jurídicas que utilizam a plataforma DSpace
Além dos casos envolvendo questões LWHPRPHVPRGHYHVHUFODVVL¿FDGRGHDFRU- (http://www.consorciobdjur.gov.br/).
técnicas, há também um grande uso relati- do com um ou mais assuntos da árvore da res- Este instrumento, formado pelos órgãos
vo à comunidade de “Legislação e Jurispru- SHFWLYDFRPXQLGDGH YLGH¿JXUD 2VDVVXQ- do Poder Judiciário, além dos órgãos es-
GrQFLD´2DFHVVRiJLOHXQL¿FDGRDGLYHU- WRVVmRSUHYLDPHQWHGH¿QLGRVSHORVPHPEURV senciais e auxiliares da Justiça, pretende
sas fontes de normas facilita a recuperação da respectiva comunidade, de acordo com a integrar, em um único portal, os mais im-
de conteúdos diversos, como: resoluções necessidade e conveniência de cada área. portantes repositórios de informação digi-
RDC da ANVISA (listas de substâncias O documento submetido passa por um tal jurídica do Judiciário, de forma a permitir
controladas), pareceres da COGER (perí- processo de revisão/avaliação, para então ser FRQVXOWDVXQL¿FDGDV
cia por amostragem), dentre outros. aprovado e integrar o conteúdo da BDCrim. Dessa forma, a participação da BDCrim
Os relatórios de estatística da BDCrim no Consórico BDJur proporcionaria maior
FRQ¿UPDPRFUHVFLPHQWRGHVXDXWLOL]DomR Diretos autorais visibilidade do trabalho desenvolvido
apontando os seguintes itens como os mais O último passo do processo de depósito pela perícia criminal, nas diversas áreas
acessados: instruções técnicas sobre pa- consiste na concessão de uma licença de da Criminalística.

Perícia Federal 29
IV ENCONTRO NACIONAL: PEDRO PEDUZZI

Encontro Nacional
na Paraíba
A atividade pericial conquistou visibilidade inédita na Paraíba,
durante o IV Encontro Nacional de Peritos Criminais Federais
DFLrQFLDHQWUDGH¿QLWLYDPHQWHFRPRQ~FOHR

O
s encontros nacionais de peritos do Instituto de Polícia Científica, Antonio
criminais federais promovidos Toscano; além do PCF Geraldo Amorim. da investigação criminal”, argumentou.
pela APCF sempre serviram de Uma das primeiras deliberações toma- Diretor Regional da APCF/DF, o PCF Acir
palco para a discussão das gran- das na manhã do dia 29, pela Assembléia de Oliveira Junior pediu a palavra para des-
des questões relativas à Criminalística na- Geral Extraordinária, foi a possibilidade de tacar um dos PLs citados por Roosevelt. “O
cional. No realizado em 2007, expectativas D$3&) SUHVWDU DSRLR ¿QDQFHLUR SDUD SD- PL 6.735/06 (elaborado pela APCF para ti-
foram superadas, e o evento serviu também gamento de inscrição de associados, para SL¿FDUFULPHVGHPDOYHUVDomRGHUHFXUVRV
de vitrine da categoria para a sociedade, apresentação de trabalhos em eventos. públicos) nasceu da frustração dos peritos
graças à ampla cobertura realizada pela “Este tipo de apoio só poderá ser concedi- que atuaram no caso Sudam/Sudene. Infe-
mídia paraibana. GRGHQWURGDVSRVVLELOLGDGHV¿QDQFHLUDVGD lizmente constatamos que superfaturar não
Realizado entre 28 de outubro e 4 de no- entidade”, frisou o presidente da APCF, Oc- é crime, segundo o Código Penal. A prepa-
vembro no Littoral Hotel de João Pessoa, o tavio Brandão Caldas Netto. ração deste PL foi um retorno mínimo dos
IV Encontro Nacional de Peritos Criminais nossos esforços à sociedade”, explicou Acir.
Federais foi aberto pelo PCF Geraldo Amo- Prestação de contas, ações e PLs “Cabe a nós aproveitarmos todo o conheci-
rim, vereador da cidade-sede. Durante o A parte da tarde foi destinada à prestação mento que adquirimos durante nossas ati-
discurso, Amorim destacou a importância da GHFRQWDVDSUHVHQWDGDSHORGLUHWRU¿QDQFHL- vidades para apresentarmos outras suges-
atividade pericial e fez uma comparação en- ro da APCF, Renato Barbosa; à atualização tões, que podem ir desde crimes cibernéticos
tre passado e presente da Criminalística na- das ações judiciais movidas pelo advogado até banco de dados de DNA”, completou.
cional, para concluir: “Não tenho dúvidas de contratado pela APCF, Antônio Torreão; e à
que o futuro da polícia está na perícia”. palestra proferida pelo então vice-presiden- Mídia
Compuseram a mesa de abertura do te da entidade, Roosevelt Leadebal Júnior, Nenhum Encontro Nacional de PCFs
Encontro o presidente da APCF, Octavio sobre os projetos de lei em tramitação no conseguiu tanta cobertura jornalística como
Brandão Caldas Netto; o vice-presidente Congresso Nacional que podem afetar a pe- o de 2007. O presidente Octavio Brandão
da entidade, Roosevelt Alves Leadebal Jú- rícia criminal federal. Caldas Netto foi entrevistado em programas
nior; o secretário-geral, Jorge Luiz Castro; Roosevelt destacou o PL 4.325/04, que dis- como o Bom Dia Paraíba e o JPB, dois dos
o suplente do diretor regional da Paraíba, S}HVREUHR¿PGRSHULWRad hoc³2¿PGHVVD SULQFLSDLVSURJUDPDVYHLFXODGRVSHODD¿OLD-
Eduardo Aparecido Toledo; o delegado Gil- ¿JXUDQR&yGLJRGH3URFHVVR3HQDOpHVVHQ- da local da Rede Globo, TV Cabo Branco.
mar Santos Lima, da SR/PB; o diretor-geral cial para a modernização das polícias porque Record, CBN, Rádio 101 FM, WSCOM, Jor-

Arquivo APCF

O Encontro de João Pessoa reuniu peritos


criminais federais lotados em todos os
estados para discutir os principais temas
de interesse da Criminalística nacional

30 Perícia Federal
Arquivo APCF
publicada pelo grupo WSCOM, responsável
pela Revista Nordeste. “Atualmente a justiça
valoriza mais a prova material que a prova
testemunhal, porque uma testemunha pode
mudar seu depoimento durante uma investi-
gação”, destacou o Correio da Paraíba, en-
tre as declarações do presidente da APCF,
Octavio Brandão.

'HVD¿RVKLVWyULDH$*(
Proferida pela PCF Maria Elisa Bezerra
GH6RX]DDSDOHVWUD³'HVD¿RVGD&ULPLQD-
lística” abordou a necessidade de a catego-
ria buscar representatividade política no Le-
Presidente da APCF,
Octavio Brandão atendeu gislativo. Com um rico histórico em defesa
a jornalistas de toda a da categoria dos peritos criminais federais,
mídia paraibana Elisa defendeu, inclusive, alianças com ou-
tras categorias do DPF.
Outra interessante palestra proferida du-
nal do Correio, O Norte e Correio da Paraí- Os problemas vividos pela perícia tam- rante o Encontro foi sobre a Biblioteca Digital
ba, SBT (TV Tambaú) e Portal Correio tam- bém foram abordados nas matérias. “É ur- de Criminalística, desenvolvida pela DITEC.
bém cobriram o evento, mostrando a toda gente a necessidade de novas contratações, “Pretendemos incluí-la em um consórcio de
população paraibana as atribuições dos que deve se dar com o anúncio de um novo publicações digitais jurídicas criado pelo STJ”,
peritos e a importância do trabalho pericial concurso que deve abrir mais de cinco mil adiantou PCF Norma Rodrigues Gomes.
para as ações da PF. vagas na Polícia Federal”, citou a matéria
DITEC e INC
O Encontro Nacional permitiu, também,
HomenagemHomenagemHomenagem um contato direto entre os associados da
APCF e as duas maiores autoridades da
Representando a categoria dos peritos e de membros das polícias Civil e Federal. Criminalística Federal: o diretor Técnico-
criminais federais, o então vice-presidente Autor da proposta de homenagem, o ve- &LHQWt¿FRGR'3)3DXOR5REHUWR)DJXQGHV
da APCF, Roosevelt Leadebal Júnior, re- reador Geraldo Amorim, perito criminal fe- e o diretor do Instituto Nacional de Crimina-
cebeu a medalha Cidade de João Pessoa, deral aposentado, teceu elogios à Crimina- lística, Clênio Guimarães Belluco. “É uma
a mais importante honraria oferecida pelo lística nacional. “Muitos não sabem, mas a oportunidade de os colegas questionarem e
Poder Legislativo da Paraíba, durante even- Polícia Federal brasileira está entre as me- apresentarem as considerações que têm a
to comemorativo ao 4 de dezembro, Dia OKRUHVGRPXQGR´D¿UPRX'XUDQWHRGLV- respeito destes órgãos, num clima amistoso
Nacional do Perito Criminal. Realizada pela curso, Roosevelt falou sobre o vínculo fami- e democrático”, ressalta Brandão.
Câmara Municipal de João Pessoa em par- liar que tem com a Paraíba e da importância
ceria com a Assembléia Legislativa do es- deste tipo de homenagem para o reconheci-
tado, a homenagem contou com a presen- mento da atividade pericial.
Seminários e AGE
A APCF organizará seminários sobre Cri-
ça de autoridades dos três poderes locais (Colaborou Andréia Barros)
minalística dirigidos a jornalistas. Esta foi
uma das propostas apresentadas pelo as-
Andréia Barros

sessor de Comunicação da APCF, Pedro


Arquivo APCF

Peduzzi, durante a palestra intitulada Proje-


to de Campanha de Valorização da Perícia
Criminal Federal. Nela foi feita uma explana-
ção sobre os produtos da Campanha: semi-
QiULRVSODFDVFHUWL¿FDGRVOLYURGD$3&)H
o Prêmio Perícia Jornalística.
A abolição da jóia para entrada e regresso
de associados na APCF foi abolida, mas quem
regressar à Associação só terá direito aos be-
nefícios após seis meses de contribuição. Esta
e outras decisões – como a de baixar de 40%
para 20% o quorum mínimo para delibera-
ções nas assembléias gerais extraordinárias,
A homenagem ao PCF Roosevelt e o encaminhamento da minuta de um novo
(com a medalha Cidade de João
estatuto para a APCF, a ser submetida a uma
Pessoa ao peito) foi proposta pelo
vereador Geraldo Amorim (esq.) Assembléia Geral Extraordinária Distribuída
– foram tomadas durante a Assembléia Geral
Extraordinária realizada no Encontro.

Perícia Federal 31
DIA DO PERITO: PEDRO PEDUZZI

O Dia Nacional
do Perito Criminal
Diversos estados comemoraram o Dia Nacional do Perito Criminal.

Fotos: Regina Santos


Mas foi em Brasília que, devido à maior proximidade com autoridades
dos Três Poderes e com a mídia, o evento causou maior repercussão

D
iversos estados comemoraram o Dia
Nacional do Perito Criminal. Mas foi
em Brasília que, devido à maior pro-
ximidade com autoridades dos Três
Poderes e com a mídia, o evento causou maior
repercussão
Seguindo a estratégia de prestar contas à so-
PCF Sara Lenharo apresenta o Microscópio
ciedade sobre as atividades periciais desenvol-
Eletrônico de Varredura aos convidados
vidas pela Criminalística da Polícia Federal, dois
eventos foram realizados no Instituto Nacional
de Criminalística (INC) em comemoração ao 4
de dezembro, Dia Nacional do Perito Criminal.
De manhã, uma palestra foi proferida para Ana Paula Padrão (c) e Keila Castro recebem,
estudantes universitários. À tarde, autoridades, do PCF Fagundes, o Prêmio Perícia Jornalística
jornalistas, peritos e demais policiais federais na categoria Televisiva, pelo especial sobre
assistiram outra palestra, sobre as principais Criminalística do SBT Realidade
ações periciais realizadas em 2007. Antes, uma
VpULHGHKRPHQDJHQVIRLGLULJLGDDSUR¿VVLRQDLV que, no desempenhar de suas funções, contri-
EXtUDPGHIRUPDVLJQL¿FDWLYDSDUDD&ULPLQDOtV-
tica nacional.
A relevância da atividade pericial para as in-
vestigações da Polícia Federal e para o Brasil Marcelo Rocha, jornalista do Correio Braziliense,
é cada vez mais percebida pela sociedade. Du- recebe do PCF Belluco o Prêmio, na categoria
rante o ano de 2007 a coisa não foi diferente, e a Imprensa Escrita
atuação dos peritos criminais federais foi nova-
mente imprescindível para o sucesso das diver-
sas operações realizadas pelo DPF. A Carreira de Perito Criminal Federal foi o
“De agora em diante, o 4 de dezembro será tema da palestra iniciada às 10 horas, proferida
um dia para fazermos nossa prestação de con- pelo PCF Darley Torteloti da Cunha, auxiliado por
tas à sociedade. Aproveitaremos a data come- UHSUHVHQWDQWHVGHWRGDVDViUHDVSHULFLDLV$R¿-
morativa para apresentar os principais traba- QDORVSHULWRV¿FDUDPjGLVSRVLomRSDUDHOXFLGDU
lhos periciais realizados ao longo do ano”, as dúvidas apresentadas pelos estudantes.
anunciou o presidente da Associação
Nacional dos Peritos Criminais Fe- Homenagens
derais (APCF), Octavio Brandão As atividades na parte da tarde foram dedica-
Caldas Netto, ao constatar o su- das principalmente a homenagens a peritos, jor-
cesso dos eventos organizados nalistas e autoridades. O perito Antônio Augusto
pela Diretoria Regional da APCF de Araújo, ex-presidente da APCF, foi o primeiro
no DF em parceria com a Direto- homenageado, em reconhecimento pela atua-
ULD7pFQLFR&LHQWt¿FDGR'HSDU- ção à frente do Promotec.
tamento de Polícia Federal (DI- A deputada Iriny Lopes e a senadora Serys
TEC / DPF). Slhessarenko também foram homenageadas.

PCF Octavio Brandão dará


sequência à iniciativa de
aproveitar a data para
apresentar, à sociedade,
um resumo das atividades
periciais desenvolvidas
ao longo de cada ano

32 Perícia Federal
A deputada, em reconhecimento pela atuação geamos os jornalistas que divulgaram de forma Geral da República, procuradora Raquel Bran-
HPGHIHVDGDSHUtFLDR¿FLDOHFRQWUDD¿JXUDGR exemplar nossos trabalhos e nosso dia-a-dia. É, quinho Nascimento, pelo diretor do INC, Clênio
perito ad hoc; a senadora, por ter apresenta- sem dúvidas, uma forma de deixarmos a socie- Guimarães Belluco, pelo representante do dire-
do, no Congresso, o Projeto de Lei que criou o dade a par de uma atividade que nem sempre tor-geral do DPF, Romero Lucena, e pelo presi-
Dia Nacional do Perito Criminal. Outro homena- está à frente dos holofotes”, argumenta o diretor dente da APCF, Octavio Brandão.
geado foi o deputado Valtenir Pereira, pelo em- regional da APCF no DF, PCF Acir de Oliveira Durante o discurso, Fagundes destacou o
penho na defesa da Criminalística. Junior, que, ao lado do PCF Eduardo Siqueira índice de aprovação da PF junto à sociedade.
Na categoria televisiva do II Prêmio Perícia e da Diretoria Executiva da APCF, foram os res- Belluco falou sobre a evolução da Criminalística
Jornalística, a vencedora foi a jornalista Ana ponsáveis pela organização dos eventos reali- DRORQJRGRV~OWLPRVDQRVHRGHVD¿RFDGD
Paula Padrão, que, juntamente com integrantes zados em Brasília. vez mais possível de a perícia federal se tornar
da equipe do programa SBT Realidade (Keila Operação Navalha, Renan Calheiros, aci- referência mundial.
Castro, Fábio Diamante e Ronaldo Dias), rece- dente da TAM, o treinamento policial em Ron- A procuradora da PGR no DF, Raquel Bran-
EHXGDVPmRVGRGLUHWRU7pFQLFR&LHQWt¿FRGR donópolis/MT (que resultou numa tragédia por quinho, disse ser testemunha do avanço, apri-
DPF, Paulo Fagundes, o Prêmio. “Em meus 27 terem sido utilizados projéteis comuns ao invés moramento e desenvolvimento da Criminalísti-
anos de perícia, poucas vezes vi um programa de festim), o incêndio no alojamento estudantil ca. “Se temos sucesso, principalmente na área
abordar de forma tão aprofundada a Crimina- da Universidade de Brasília (UnB), o concurso federal, isso se deve aos excelentes laudos pe-
lística nacional”, elogiou o presidente da APCF, para magistratura no RJ, Mensalão e Valeriodu- riciais que auxiliam nossas investigações e que
Octavio Brandão. to Mineiro foram os casos abordados pelo PCF sustentam nossas ações”, declarou.
Na categoria Imprensa Escrita, o Prêmio foi Frederico Quadros D’Almeida, durante a pales- “Hoje, a abrangência e o dinamismo do crime
entregue ao jornalista Marcelo Rocha, do Cor- tra intitulada “A Evolução e o Desempenho da faz com que haja cada vez maior necessidade
reio Braziliense, pela matéria intitulada “Não à Criminalística do DPF no ano de 2007”. de integração entre as categorias de policiais e
pista sob chuva” sobre a perícia realizada na “Daremos seqüência a esta iniciativa de apro- entre as polícias”, declarou, em nome do diretor-
pista do aeroporto de Congonhas, após a tragé- veitar o Dia do Perito para apresentarmos um re- geral do DPF, o delegado Romero Lucena.
dia ocorrida com o vôo 3054 da TAM. “Foi com sumo das atividades que desenvolvemos durante 3DUD¿QDOL]DUDVFRPHPRUDo}HVIRLRIHUHFL-
exatidão que o Marcelo abordou o excelente tra- o ano”, adianta Brandão. “Esta iniciativa conjunta do, pela APCF, um buffet aos convidados. Aque-
balho pericial realizado na pista. E foi graças à entre a Diretoria Executiva e a APCF/DF será uma les que tiveram o interesse por conhecer de per-
interdição recomendada pelos colegas que ou- inestimável ferramenta para mostrarmos que in- to um pouco mais do universo apresentado ao
tras tragédias foram evitadas”, comentou o pre- vestir na Criminalística resulta em grande retor- ORQJRGRGLD¿]HUDPXPDYLVLWDomRDRVODERUD-
sidente da APCF. no para o nosso país”, complementa o PCF Acir. tórios do INC, ambiente onde estão presentes
“Implantado há apenas dois anos, o Prê- A mesa do evento foi composta pelo diretor as tecnologias de ponta e as técnicas apura-
mio Perícia Jornalística é uma idéia que já vem 7pFQLFR&LHQWt¿FRGR'3)3DXOR5REHUWR)D- das utilizadas pelos peritos para a preparação
rendendo bons frutos. Por meio dele, homena- gundes; pela representante da Procuradoria da “Rainha das Provas”: a prova material.

PCF cria modelo


Arquivo APCF

– foram fundamentais para estabelecer


as bases do MHAES TI. Por conhecerem
de gestão para CTI o ambiente de TI, os peritos rapidamente
LGHQWL¿FDUDPRVSUREOHPDVHVXDVUDt]HV
Mergulhada em problemas decorren- e encontraram meios para solucioná-los.
tes da falta de modelos de planejamento ³eUHDOPHQWHJUDWL¿FDQWHFRQVWUXLURIX-
e gestão desde a sua criação, a Coorde- WXURGHXPDRUJDQL]DomRHWHUDFRQ¿DQ-
nação de Tecnologia da Informação (CTI/ ça dos colaboradores. Este apoio mútuo
'/2*'3) ¿QDOPHQWHWHUiXP0RGHORGH transformou nosso local de trabalho em
Gestão moderno para seguir. Concebido um ambiente participativo, seguro, pra-
pelo PCF Alexandre Cardoso de Barros, zeroso e cheio de oportunidades para o
chefe da Divisão de Informática da CTI, o GHVHQYROYLPHQWRSUR¿VVLRQDO´FRPHQWD
Modelo Holístico de Administração Estra- emocionado, Alexandre.
tégica (MHAES TI), simbolizado por uma “Apesar de possuir em seu quadro de
estrela de cinco pontas interdependentes, pessoal terceirizado profissionais alta-
baseia-se em práticas consagradas de mente gabaritados na esfera pública fede-
administração. “Estas pontas fazem re- ral, o clima organizacional da CTI sempre
ferência aos macroprocessos de gestão se caracterizou pela ansiedade, incerteza
nas áreas de negócio, serviços, pessoal, e pela falta de motivação com as cons-
desempenho e de segurança da informa- tantes alterações de chefias, em sua
ção”, explica, resumidamente, Alexandre maioria despreparadas tecnicamente. A
– o pai da criança. FDGDFKH¿DVXUJLDXPDQRYDPDQHLUDGH
A concepção do modelo iniciou-se no PCF Alexandre de Barros: solução para administração, sempre descompromissa-
¿QDOGHFRPDHODERUDomRGRSULPHL- os problemas históricos da CTI da e desalinhada com as administrações
ro planejamento estratégico da coordena- anteriores. O bom trabalho desenvolvi-
ção, cujo propósito principal era atacar os chefes dos serviços de suporte técnico e do pelos colegas peritos deu um basta
problemas crônicos e históricos da coor- de desenvolvimento de sistemas da DINF, nisso, merecendo entrar para os anais da
denação. O conhecimento técnico e a ex- PCFs Rafael Costa e Marcos Mendes, história do DPF”, avalia o presidente da
periência de gestão dos peritos envolvidos auxiliados pelos gerentes de projeto da APCF, Octavio Brandão Caldas Netto.
no planejamento estratégico da CTI – os CTI, Cristina Carvalho e Salatiel Correia (Colaborou William Grangeiro)

Perícia Federal 33
NOTAS E CURTAS: PEDRO PEDUZZI

Arquivo APCF
Diretoria Executiva da APCF recebeu o apoio das
regionais, em reconhecimento à atuação no GT

Lei Orgânica
Diretores regionais e executivos da APCF
reuniram-se nos dias 27 e 28 de fevereiro,
em Brasília, para discutir sobre o andamen-
Peritos criminais criam clube de investimento to dos trabalhos de elaboração da Lei Orgâ-
nica do DPF. Na oportunidade, o presidente
A preocupação com o futuro levou alguns peritos criminais fe- da APCF falou sobre a participação da en-
derais a buscarem alternativas de investimentos. A idéia nasceu tidade nestas discussões. “É uma mesa de
em uma lista de discussões na internet, que abordava temas negociações que requer muita habilidade da
como aposentadoria, previdência privada e alternativas de in- nossa parte”, informou. Brandão participou,
vestimentos. De forma conjunta, os peritos resolveram investir durante semanas, de reuniões diárias em
QRPHUFDGR¿QDQFHLUR$R¿QDOGHR&OXEHGH,QYHVWLPHQ- dois turnos com os integrantes do Grupo de
to já contava com aproximadamente 150 membros. “Nosso ob- Trabalho formado para elaborar a minuta do
jetivo é capitalizar recursos e obter retorno superior ao dos fun- GRFXPHQWR$R¿QDOGD5HXQLmRGH'LUHWRUHV
dos tradicionais, inclusive ao índice IBOVESPA”, informa o PCF da APCF, foi apresentada uma carta assina-
Rodrigo Albernaz Bezerra, um dos fundadores do Clube, que já da pelos diretores regionais, dando apoio e
tem estatuto e conselho de representantes eleitos. manifestando reconhecimento pela atuação
“Em três meses conseguimos uma rentabilidade próxima da Diretoria Executiva durante os debates do
DHQTXDQWRR,%29(63$¿FRXQDFDVDGRV´FR- GT. “Ainda que não represente todos os an-
memora Albernaz. Sob a gerência da experiente corretora Ati- seios de nossa categoria, foi preparado um
YD7UDGH6$TXHGH¿QLUiRVLQYHVWLPHQWRVGHIRUPDLQGHSHQ- documento a ser revisado pelo DPF. Espera-
GHQWHRSHU¿OGHLQYHVWLPHQWRYDLGRFRQVHUYDGRUDRPRGHUDGR mos que alguns pontos sem consenso sejam
com no mínimo 51% dos recursos em renda variável e até 49% bem avaliados pelo diretor-geral, de forma a
HPUHQGD¿[D2FOXEHHVWiDEHUWRDRVVHUYLGRUHVGR'HSDUWD- corresponder às expectativas que temos, de
mento de Polícia Federal, não sendo restrito a peritos. Os inte- XPD3ROtFLD)HGHUDOFLHQWt¿FDHPRGHUQD´
ressados em obter informações mais detalhadas podem conta- declarou o presidente da APCF.
tar o PCF Albernaz pelo telefone (63) 8402 7171.

Associação Internacional
Com mais de 310 mil associados, divididos em 59 países, aqueles que desejam participar de treinamentos,
a International Police Association (IPA) vem crescendo seminários, cursos, conferências, congressos e
também no Brasil, e criou, na capital federal, uma nova outras modalidades culturais de aperfeiçoamento
seção. Na vice-presidência da IPA/Brasília, está o e de atualização”, garante Renato Barbosa.
diretor Financeiro da APCF, PCF Renato Barbosa. Recém-criada, a seção Brasília da IPA já mostra
“Associar-se à IPA representa oportunidades de serviço, e está constituindo uma Delegação
intercâmbio e contatos em níveis local, regional e Brasileira de Policiais para participar da 35ª
internacional, proporcionando maior interação no Conferência Internacional da IPA em Moscou
FDPSRSUR¿VVLRQDOHHVWLPXODQGRRGHVHQYROYLPHQWR (Rússia), a ser realizada entre 16 e 21 setembro
educacional e cultural. Há uma série de vantagens, de 2008. Mais informações no site www.ipa-brasil.
como prioridade e descontos em hotéis no exterior para org.br, ou pelo telefone (61) 3223 3633.

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