Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
6186
http://www.espacoacademico.com.br/034/34tc_lutero.htm
Estudo Introdutório:
Essas teses foram afixadas na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg a 1 o de
outubro de 1517. Era esse o modo usual de se anunciar uma “disputa”, prática
regular da vida universitária. Ao fazer isso, não havia nada de excepcional na atitude
de Lutero(1483-1546), pois apenas agia conforme costumes medievais ainda
presentes nas universidades européias. Não se tratava de uma ação que deveria ter
uma conotação individual, visto que as disputas eram debates que envolviam
professores e estudantes, daí o fato de Lutero pedir para aqueles que não pudessem
se fazer presentes às disputas que, ao menos, enviassem suas opiniões por escrito
para serem lidas. Portanto, as “teses” deveriam ser vistas como “pontos a serem
debatidos” em uma plenária. Nesse sentido, trata-se de um ato público envolvendo
doutos e/ou seus estudantes, como demonstra o fato de as teses terem sido escritas
originalmente em latim e não em alemão (língua familiar de Lutero). Observe-se
também que o tom irônico e uma certa preocupação com métrica e rima fazem parte
do ritual de “belo discurso”(arte da retórica), matéria obrigatória nas universidades
da época. Portanto, ao lançar suas “95 Teses”, Lutero tornava públicas e não
populares as suas idéias, com a finalidade de expor questões que o incomodavam a
respeito das “vendas de perdão/indulgências”, cujas contradições práticas e
doutrinais, somadas à corrupção de determinados setores do clero, eram vistas por
ele como uma ameaça à credibilidade em relação à fé cristã e à Igreja de Roma. Isso
significa que, ao tornar públicas suas teses, Lutero esperava receber o apoio do papa
e não a sua censura. No entanto, depois de novas disputas teológicas, desta vez com
agentes enviados pelo Papa Leão X(1475-1521; pontificado: 1513-1521), foi
redigida contra Lutero uma carta de excomunhão datada em 21 de janeiro de 1521,
que ele receberia meses depois.
Entre 1517 e 1521, Lutero foi submetido a algumas disputas teológicas e quase
metade de suas teses foi refutada pelos agentes teológicos do papa. Aos poucos, a
situação fugiu dos muros da universidade, e muitas idéias de Lutero foram
convenientemente distorcidas por membros da nobreza alemã, que utilizaram a
“desculpa da fé” para tomar bens e terras de famílias inimigas e da própria Igreja.
Toda esta situação foi consolidando uma situação de cisma religioso na Europa que
estava longe das intenções de Lutero. Portanto, deve-se entender que a ação de
Lutero misturou-se involuntariamente com interesses políticos e outras tendências do
debate teológico que remontavam ao século XIII. Por isso, ele criticou tanto as
revoltas camponesas (marcadamente anabatistas) quanto os nobres que misturavam
o plano religioso com o secular. Inserido numa realidade mental de Antigo Regime,
Lutero era muito cioso das hierarquias sociais e criticava a nobreza e parte do clero
que não davam “bom exemplo” e, explorando os camponeses com tributações
extraordinárias, alimentavam as suas revoltas. Assim, não surpreende que em 1520
tenha escrito “Apelo à Nobreza Germânica” e, em 1525, no contexto das guerras
camponesas ocorridas na Alemanha, tenha escrito “Sobre a Autoridade Secular”, que
tinham um teor claramente secularizante e favorável ao equilíbrio dos diretos e
responsabilidades que justificavam, aos seus olhos, as hierarquias sociais. Portanto,
frente a um mundo que se apresentava instável e inseguro, Lutero apelava para
dispositivos tradicionais como meio de restaurar a segurança do mundo, mas com
uma novidade que jamais foi praticada plenamente em parte nenhuma da Europa até
o final do Antigo Regime: apenas quem julga a fé é Deus e, portanto, nenhuma
*
Professor do Departamento de História da FEUDUC-RJ que assume inteira responsabilidade pela revisão
técnica e notas, pelo estudo introdutório da fonte e pela organização da cronologia.
Revista Espaço Acadêmico – Nº 34 – Março de 2004 – Mensal – ISSN 1519.6186
http://www.espacoacademico.com.br/034/34tc_lutero.htm
autoridade política deve, em nome dela, causar desperdício de vida e bens de seus
subordinados políticos.
Valeria fazer uma indagação final: Se a ação de Lutero de lançar suas teses em 1517
não tinha nada de excepcional, por que posteriormente isso foi lembrado em muitos
livros didáticos de história com conotações de heroicidade ou excepcionalidade? Em
primeiro lugar, porque os desdobramentos não necessariamente luteranos de uma fé
reformada ganhou avultado corpo e agentes sociais. Sem isso, não há quem celebre
ou crie memória social em torno de determinado evento. Em segundo lugar, várias
idéias de outros escritos de Lutero foram utilizadas por políticos e intelectuais da
segunda metade do século XIX para, muito antes de Max Weber, fazer a ponte entre
“protestantismo” e “espírito capitalista” e, assim, explicar a emergência imperial da
Grã-Bretanha e do Império Prussiano, em contraponto ao “atraso ibérico” e à
“decadência francesa”. No entanto, foi ao final do século XVII, contexto da expansão
militar de Luís XIV (que revogou o Édito de Nantes em 1685), que se começou a
celebrar nos meios “protestantes” o dia de lançamento das teses de Lutero como um
“marco de ruptura” com Roma.
Cronologia Básica:
1483, 10 de novembro: Nasce Lutero.
1509: Henrique VIII(1491-1547) torna-se rei da Inglaterra. Nasce João Calvino em
10 de julho.
1517, 1.º de outubro: Lutero fixa as suas “95 Teses” na porta da Igreja do Castelo de
Wittenberg.
1518: Lutero recusa-se a retratar-se perante o papa Leão X(1475-1521; pontificado:
1513-1521).
1520, junho: Leão X condena 41 proposições de Lutero.
1521, 21 de janeiro: Leão X excomunga Lutero, mas leva vários meses até a ordem
de excomunhão chegar à Alemanha.
1522: Lutero publica a sua advertência contra os distúrbios e publica a tradução do
hebreu para o alemão do Novo Testamento, com gravuras de Lucas
Kranach(1472-1553).
1523: Lutero publica texto que fala do direito de a comunidade de fiéis julgar toda a
doutrina e nomear e demitir clérigos.
1524-1525: Guerra dos camponeses de Müntzer.
1525: Lutero publica texto contra os “profetas sagrados” e contra as “revoltas
camponesas”.
1528: Mandato imperial ameaça de morte os anabatistas.
1530: Carlos I(1500-1558) – rei de Espanha desde 1516 e eleito imperador desde
1519 – fracassa em impor uma ortodoxia religiosa ao império.
1534: Ruptura de Henrique VIII da Inglaterra com Roma, supressão dos monastérios
e concessão de permissão para os padres se casarem. Na Alemanha, Lutero publica a
tradução do hebreu para o alemão do Velho Testamento.
1534-1535: Anabatistas tomam o poder em Münster, mas seu reino é derrubado por
forças católicas e protestantes.
1536: Calvino edita “Instituições da Religião Cristã”. Há também a introdução da
bíblia vernacular na Inglaterra.
1542: Calvino organiza o seu catecismo em Genebra.
Revista Espaço Acadêmico – Nº 34 – Março de 2004 – Mensal – ISSN 1519.6186
http://www.espacoacademico.com.br/034/34tc_lutero.htm
Latim Português
Amore et studio elucidande veritatis hec Com um desejo ardente de trazer a verdade à
subscripta disputabuntur Wittenberge, luz, as seguintes teses serão defendidas em
Presidente R. P. Martino Lutther, Artium et S. Wittenberg sob a presidência do Rev. Frei
Theologie Magistro eiusdemque ibidem lectore Martinho Lutero, Mestre de Artes, Mestre de
Ordinario. Quare petit, ut qui non possunt Sagrada Teologia e Professor oficial da mesma.
verbis presentes nobiscum disceptare agant id Ele, portanto, pede que todos os que não
literis absentes. puderem estar presentes e disputar com ele
verbalmente, façam-no por escrito.
Em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo.
In nomine domini nostri Hiesu Christi.
Amém.
Amen.
sacerdotum ministerio celebratur) non potest satisfação celebrada pelo ministério dos
intelligi. sacerdotes).
3. Non tamen solam intendit interiorem, immo 3. No entanto, ela não se refere apenas a uma
interior nulla est, nisi foris operetur varias penitência interior; sim, a penitência interior
carnis mortificationes. seria nula se, externamente, não produzisse
toda sorte de mortificação da carne.
4. Por conseqüência, a pena perdura enquanto
4. Manet itaque pena, donec manet odium sui
persiste o ódio de si mesmo (isto é a verdadeira
(id est penitentia vera intus), scilicet usque ad
penitência interior), ou seja, até a entrada do
introitum regni celorum.
reino dos céus.
5. Papa non vult nec potest ullas penas
5. O papa não quer nem pode dispensar de
remittere preter eas, quas arbitrio vel suo vel
quaisquer penas senão daquelas que impôs por
canonum imposuit.
decisão própria ou dos cânones.
6. Papa non potest remittere ullam culpam nisi
6. O papa não tem o poder de perdoar culpa a
declarando, et approbando remissam a deo
não ser declarando ou confirmando que ela foi
Aut certe remittendo casus reservatos sibi,
perdoada por Deus; ou, certamente, perdoados
quibus contemptis culpa prorsus remaneret.
os casos que lhe são reservados. Se ele deixasse
de observar essas limitações, a culpa
permaneceria.
7. Nulli prorus remittit deus culpam, quin
simul eum subiiciat humiliatum in omnibus 7. Deus não perdoa a culpa de qualquer pessoa
sacerdoti suo vicario. sem, ao mesmo tempo, sujeitá-la, em tudo
humilhada, ao sacerdote, seu vigário.
8. Canones penitentiales solum viventibus
sunt impositi nihilque morituris secundum 8. Os cânones penitenciais são impostos apenas
eosdem debet imponi. aos vivos; segundo os mesmos cânones, nada
deve ser imposto aos moribundos.
9. Inde bene nobis facit spiritussanctus in
papa excipiendo in suis decretis semper 9. Por isso, o Espírito Santo nos beneficia
articulum mortis et necessitatis. através do papa quando este, em seus decretos,
sempre exclui a circunstância da morte e da
10. Indocte et male faciunt sacerdotes ii, qui
necessidade.
morituris penitentias canonicas in
purgatorium reservant. 10. Agem mal e sem conhecimento de causa
aqueles sacerdotes que reservam aos
11. Zizania illa de mutanda pena Canonica in
moribundos penitências canônicas para o
penam purgatorii videntur certe dormientibus
purgatório.
episcopis seminata.
11. Essa cizânia de transformar a pena canônica
12. Olim pene canonice non post, sed ante
em pena do purgatório parece ter sido semeada
absolutionem imponebantur tanquam
enquanto os bispos certamente dormiam.
tentamenta vere contritionis.
12. Antigamente se impunham as penas
13. Morituri per mortem omnia solvunt et
canônicas não depois, mas antes da absolvição,
legibus canonum mortui iam sunt, habentes
como verificação da verdadeira contrição.
iure earum relaxationem.
13. Através da morte, os moribundos pagam
14. Imperfecta sanitas seu charitas morituri
tudo e já estão mortos para as leis canônicas,
necessario secum fert magnum timorem,
tendo, por direito, isenção das mesmas.
tantoque maiorem, quanto minor fuerit ipsa.
14. Saúde ou amor imperfeito no moribundo
15. Hic timor et horror satis est se solo (ut alia
necessariamente traz consigo grande temor, e
taceam) facere penam purgatorii, cum sit
tanto mais quanto menor for o amor.
proximus desperationis horrori.
15. Este temor e horror por si sós já bastam
(para não falar de outras coisas) para produzir a
16. Videntur infernus, purgaturium, celum pena do purgatório, uma vez que estão
differre, sicut desperatio, prope desperatio, próximos do horror do desespero.
securitas differunt.
16. Inferno, purgatório e céu parecem diferir da
Revista Espaço Acadêmico – Nº 34 – Março de 2004 – Mensal – ISSN 1519.6186
http://www.espacoacademico.com.br/034/34tc_lutero.htm
1
Lutero refere-se à caixa de coleta de rendas oriundas da venda de “cartas de indulgência”. (Vide Tese 36)
Revista Espaço Acadêmico – Nº 34 – Março de 2004 – Mensal – ISSN 1519.6186
http://www.espacoacademico.com.br/034/34tc_lutero.htm
2
Observa neste trecho o quanto a postura de Lutero não é cismática, mas reformadora, pois reconhecia,
pelo menos em 1517, o papel do Papa como intercessor.(Vide Teses 61, 69, 70, 71, 72, 73, 74, 75, 76,
77, 78, 79, 80, 81, 83, 84, 87, 89, 90, 91)
3
No século XVII, o padre católico Gregório da Mattos Guerra(1633-1696) voltaria, com sarcasmos, a este
tema em seu poema-missiva “A Jesus Cristo Nosso Senhor”: Pequei, Senhor; mas não porque hei
pecado./Da vossa clemência me despido,/porque, quanto mais tenho delinqüido,/vos tenho a perdoar mais
empenhado./.../Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada./ Cobrai-a e não queirais, pastor divino,/perder na
vossa ovelha a vossa glória. (MATOS, Gregório de. Poemas Escolhidos. São Paulo, Cultrix, 1976. p.
297).(Vide Teses 44, 49, 67, 76, 84, 93)
Revista Espaço Acadêmico – Nº 34 – Março de 2004 – Mensal – ISSN 1519.6186
http://www.espacoacademico.com.br/034/34tc_lutero.htm
fraudem negocii veniarum quacunque arte 76. Afirmamos, pelo contrário, que as
machinantur. indulgências papais não podem anular sequer o
menor dos pecados venais no que se refere à
sua culpa.
[74] Multomagnis fulminare intendit eos, qui
77. A afirmação de que nem mesmo São Pedro,
per veniarum pretextum in fraudem sancte
caso fosse o papa atualmente, poderia conceder
charitatis et veritatis machinantur.
maiores graças é blasfêmia contra São Pedro e o
[75] Opinari venias papales tantas esse, ut Papa.
solvere possint hominem, etiam si quis per
78. Dizemos contra isto que qualquer papa,
impossibile dei genitricem violasset, Est
mesmo São Pedro, tem maiores graças que
insanire.
essas, a saber, o Evangelho, as virtudes, as
graças da administração (ou da cura), etc.,
como está escrito em I.Coríntios XII.
[76] Dicimus contra, quod venie papales nec
minimum venialium peccatorum tollere 79. É blasfêmia dizer que a cruz com as armas
possint quo ad culpam. do papa, insigneamente erguida, eqüivale à cruz
de Cristo.
[77] Quod dicitur, nec si s. Petrus modo Papa
esset maiores gratias donare posset, est 80. Terão que prestar contas os bispos, curas e
blasphemia in sanctum Petrum et Papam. teólogos que permitem que semelhantes
sermões sejam difundidos entre o povo.
[78] Dicimus contra, quod etiam iste et
quilibet papa maiores habet, scilicet 81. Essa licenciosa pregação de indulgências faz
Euangelium, virtutes, gratias, curationum &c. com que não seja fácil nem para os homens
ut 1.Co.XII. doutos defender a dignidade do papa contra
calúnias ou questões, sem dúvida argutas, dos
leigos.
[79] Dicere, Crucem armis papalibus
82. Por exemplo: Por que o papa não esvazia o
insigniter erectam cruci Christi equivalere,
purgatório por causa do santíssimo amor e da
blasphemia est.
extrema necessidade das almas – o que seria a
mais justa de todas as causas –, se redime um
número infinito de almas por causa do
[80] Rationem reddent Episcopi, Curati et
funestíssimo dinheiro para a construção da
Theologi, Qui tales sermones in populum licere
basílica – que é uma causa tão insignificante?
sinunt.
83. Do mesmo modo: Por que se mantêm as
[81] Facit hec licentiosa veniarum predicatio,
exéquias e os aniversários dos falecidos e por
ut nec reverentiam Pape facile sit etiam doctis
que ele não restitui ou permite que se recebam
viris redimere a calumniis aut certe argutis
de volta as doações efetuadas em favor deles,
questionibus laicorm.
visto que já não é justo orar pelos redimidos?
[82] Scilicet. Cur Papa non evacuat
84. Do mesmo modo: Que nova piedade de Deus
purgatorium propter sanctissimam charitatem
e do papa é essa que, por causa do dinheiro,
et summam animarum necessitatem ut
permite ao ímpio e inimigo redimir uma alma
causam omnium iustissimam, Si infinitas
piedosa e amiga de Deus, mas não a redime por
animas redimit propter pecuniam
causa da necessidade da mesma alma piedosa e
funestissimam ad structuram Basilice ut
dileta por amor gratuito?
causam levissimam?
85. Do mesmo modo: Por que os cânones
penitenciais – de fato e por desuso já há muito
[83] Item. Cur permanent exequie et revogados e mortos – ainda assim são redimidos
anniversaria defunctorum et non reddit aut com dinheiro, pela concessão de indulgências,
recipi permittit beneficia pro illis instituta, cum como se ainda estivessem em pleno vigor?
iam sit iniuria pro redemptis orare?
86. Do mesmo modo: Por que o papa, cuja
fortuna hoje é maior do que a dos ricos mais
crassos, não constrói com seu próprio dinheiro
[84] Item. Que illa nova pietas Dei et Pape,
ao menos esta uma basílica de São Pedro, ao
quod impio et inimico propter pecuniam
invés de fazê-lo com o dinheiro dos pobres fiéis?
concedunt animam piam et amicam dei
Revista Espaço Acadêmico – Nº 34 – Março de 2004 – Mensal – ISSN 1519.6186
http://www.espacoacademico.com.br/034/34tc_lutero.htm
redimere, Et tamen propter necessitatem 87. Do mesmo modo: O que é que o papa perdoa
ipsius met pie et dilecte anime non redimunt e concede àqueles que, pela contrição perfeita,
eam gratuita charitate? têm direito à plena remissão e participação?
[85] Item. Cur Canones penitentiales re ipsa 88. Do mesmo modo: Que benefício maior se
et non usu iam diu in semet abrogati et mortui poderia proporcionar à Igreja do que se o papa,
adhuc tamen pecuniis redimuntur per assim como agora o faz uma vez, da mesma
concessionem indulgentiarum tanquam forma concedesse essas remissões e
vivacissimi? participações cem vezes ao dia a qualquer dos
fiéis?
89. Já que, com as indulgências, o papa procura
[86] Item. Cur Papa, cuius opes hodie sunt
mais a salvação das almas do que o dinheiro, por
opulentissimis Crassis crassiores, non de suis
que suspende as cartas e indulgências, outrora
pecuniis magis quam pauperum fidelium struit
já concedidas, se são igualmente eficazes?
unam tantummodo Basilicam sancti Petri?
90. Reprimir esses argumentos muito
perspicazes dos leigos somente pela força, sem
[87] Item. Quid remittit aut participat Papa iis, refutá-los apresentando razões, significa expor
qui per contritionem perfectam ius habent a Igreja e o papa à zombaria dos inimigos e fazer
plenarie remissionis et participationis? os cristãos infelizes.
[88] Item. Quid adderetur ecclesie boni 91. Se, portanto, as indulgências fossem
maioris, Si Papa, sicut semel facit, ita centies pregadas em conformidade com o espírito e a
in die cuilibet fidelium has remissiones et opinião do papa, todas essas objeções poderiam
participationes tribueret? ser facilmente respondidas e nem mesmo teriam
surgido.
92. Portanto, fora com todos esses profetas que
[89] Ex quo Papa salutem querit animarum
dizem ao povo de Cristo "Paz, paz!" sem que
per venias magis quam pecunias, Cur
haja paz!
suspendit literas et venias iam olim concessas,
cum sint eque efficaces? 93. Que prosperem todos os profetas que dizem
ao povo de Cristo "Cruz! Cruz!" sem que haja
[90] Hec scrupulosissima laicorum argumenta
cruz!8
sola potestate compescere nec reddita ratione
diluere, Est ecclesiam et Papam hostibus 94. Devem-se exortar os cristãos a que se
ridendos exponere et infelices christianos esforcem por seguir a Cristo, seu cabeça,
facere. através das penas, da morte e do inferno.
[91] Si ergo venie secundum spiritum et 95. E que confiem entrar no céu antes passando
mentem Pape predicarentur, facile illa omnia por muitas tribulações do que por meio da
solverentur, immo non essent. confiança da paz.
[1517 A.D.]
[92] Valeant itaque omnes illi prophete, qui
dicunt populo Christi “Pax pax”, et non est
pax.
[93] Bene agant omnes illi prophete, qui
dicunt populo Christi “Crux crux”, et non est
crux.
[94] Exhortandi sunt Christiani, ut caput suum
Christum per penas, mortes infernosque sequi
studeant,
[95] Ac sic magis per multas tribulationes
intrare celum quam per securitatem pacis
confidant.
8
Com tal imprecação, Lutero espera uma reforma moral da Igreja e seu rebanho, o que significava a
interiorização da fé, da contrição e da “charitas”.(Supra notas “3” e “5”)
Revista Espaço Acadêmico – Nº 34 – Março de 2004 – Mensal – ISSN 1519.6186
http://www.espacoacademico.com.br/034/34tc_lutero.htm
M.D.Xvii.