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LIBERDADE
LIBERDADE
Sabemos que a liberdade, como apontou Sartre, expressa-se na escolha que fazemos
durante todo o tempo. Porém, talvez as escolhas que estamos fazendo estejam
corrompidas, talvez estejamos agindo sob influência de interesses que não são
verdadeiramente nossos. Vejamos a música abaixo para situarmos melhor o problema
que expomos:
VAMOS FILOSOFAR...
1 – Quais são os imperativos que a música demonstra que nos são impostos
ininterruptamente?
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3 – Explique como a música, ao comparar-nos com robôs, mostra que não somos livres.
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4 – Você já foi influenciado por propagandas a adquirir algo que não tinha muita
necessidade? Exemplifique e explique como sua liberdade foi afetada.
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Voltaire, filósofo francês que viveu entre 1694 e 1778, tentou encontrar uma solução
para o problema que estamos discutindo, embora, seja evidente, em um contexto
diferente. No Dicionário filosófico, ele escreveu um verbete intitulado “Liberdade de
Pensamento”, expondo um conflito entre um general inglês (Boldmind) e um
funcionário da Inquisição na Espanha (Medroso). Deste conflito, Voltaire indicou o
caminho para escolhermos sem seguir interesses que não são verdadeiramente nossos.
Vamos acompanhar o diálogo para encontrar esse caminho:
Liberdade de pensamento
“Boldmind: Sois, portanto, sargento dos dominicanos? Exerceis um bem vil ofício.
Medroso: É verdade; mas gostei mais de ser criado deles do que ser vítima e preferi a
desgraça de queimar o meu próximo à de ser eu próprio cozido.
Boldmind: Que horrível alternativa! Éreis cem vezes mais felizes sob o jugo dos mouros
que vos deixaram estagnar livremente no meio das vossas superstições e que, embora
vencedores, não se arrogavam o direito inaudito de pôr as almas a ferros.
Medroso: Que quereis? Não nos é permitido escrever, nem falar, nem mesmo pensar. Se
falamos, torna-se fácil interpretar as nossas palavras e mais ainda os nossos escritos.
Enfim, como não podem condenar-nos a um auto-de-fé pelos nossos pensamentos
secretos, ameaçam-nos de sermos eternamente queimados por ordem do próprio Deus se
não pensarmos como os dominicanos. Persuadiram o governo que se possuíssemos o
senso comum todo o Estado ficaria em combustão e a nação tornar-se-ia a mais
desgraçada da Terra.
Boldmind: Achais que somos assim desgraçados, nós, ingleses, que cobrimos os mares
com os nossos barcos e viemos ganhar para vós batalhas nos confins da Europa? Vede
os holandeses que vos desapossaram de quase todas as vossas descobertas na Índia e
hoje se enfileiram entre os vossos protetores: pensais que sejam malditos de Deus por
haverem concedido inteira liberdade à imprensa e por fazerem o comércio dos
pensamentos humanos? Foi menos poderoso o império romano por Cícero haver escrito
com liberdade?
Medroso: Quem é Cícero? Nunca ouvi falar desse homem; não se trata aqui de Cícero,
trata-se de nosso santo pai, o papa, e de Santo Antônio de Pádua, e sempre ouvi dizer
que a religião romana está perdida se os homens começam a pensar.
Boldmind: Não cabe a vós acreditá-lo, pois estais seguro que a vossa religião é divina e
que as portas do inferno não podem prevalecer contra ela. Se assim é, nada poderá
destruí-la.
Medroso: Não, mas pode ser reduzida a pouca coisa. E foi por terem pensado que a
Suécia, a Dinamarca, toda a vossa ilha e metade da Alemanha gemem na pavorosa
desgraça de não mais serem súditos do papa. Diz-se mesmo que se os homens
continuassem a guiar-se pelas suas falsas luzes acabarão em breve por ater à simples
adoração de Deus e à virtude. Se alguma vez as portas do inferno prevalecerem até esse
ponto, em que se tornará o Santo Ofício?
Boldmind: Se os primeiros cristãos não tivessem a liberdade de pensar, não é verdade
que não existiria cristianismo?
Medroso: Que quereis dizer? Não vos entendo?
Boldmind: Acredito. Quero dizer que se Tibério e os primeiros imperadores
dispusessem de dominicanos que houvessem impedido os primeiros cristãos de usar
penas e tinta; se durante tanto tempo não tivesse sido permitido pensar livremente no
império romano, tornar-se-ia impossível aos cristãos estabelecer os seus dogmas.
Portanto, se o cristianismo só se formou pela liberdade de pensamento, por que
contradição, por que injustiça desejaria aniquilar hoje essa liberdade sobre a qual está
fundado?
Quando vos propõem algum negócio interessante, não o examinais demoradamente,
antes de o concluirdes? Haverá no mundo maior interesse que o da nossa felicidade ou
eterna desgraça? Existem sobre a Terra cem religiões e todas vos condenam à danação
por acreditares nos vossos dogmas, que essas religiões consideram absurdos e ímpios;
examinai, portanto, esses dogmas.
Medroso: Como posso examiná-lo? Não sou dominicano.
Boldmind: Sois homem e isso basta.
Medroso: Ai de mim! Sois bem mais homem que eu.
Boldmind: A vós apenas cabe aprender a pensar; haveis nascido com espírito; sois uma
ave na gaiola da Inquisição; o Santo Ofício aparou-vos as asas mas elas podem voltar a
crescer. Quem não sabe geometria, pode aprendê-la; qualquer homem pode instruir-se: é
vergonhoso que se deposite a alma nas mãos daqueles aos quais não se confiaria o
dinheiro. Ousai pensar por vós mesmo.
Medroso: Há quem diga que, se toda a gente pensasse por si, a confusão seria
prodigiosa.
Boldmind: Pelo contrário. Quando assistimos a um espetáculo, cada qual dá livremente
a sua opinião e a paz não é perturbada; se, porém, algum insolente, protetor de algum
mau poeta, quiser forçar todas as pessoas de gosto a considerarem bom o que lhes
parece mau, os dois partidos podem acabar alvejando-se com maçãs, como já aconteceu
em Londres. São estes tiranos dos espíritos que causaram parte das desgraças do mundo.
Na Inglaterra, só somos felizes desde que cada qual goze livremente o direito de
exprimir a sua opinião (...)” .
O problema que temos a resolver é: como fazer escolhas que reflitam o que realmente
queremos, o que realmente necessitamos, sem sermos influenciados e manipulados por
outrem? Voltaire, pela personagem Boldmind, indicou que estas escolhas precisam
passar pelo critério do pensamento: trata-se de ousar pensar por nós mesmos, sem aderir
a nenhum projeto sem antes examiná-lo com cuidado, sem entregar nossa alma seja a
quem for.
VAMOS FILOSOFAR...
5 – Como Voltaire resolveu a questão de fazermos escolhas sem sermos livres em nossa
sociedade? Você concorda com a solução dele? Explique.
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6 – Leia a letra da música abaixo e relacione-a com o texto de Voltaire para explicar se
somos livres ao fazermos o que a televisão nos propõe.
Televisão
Titãs
Kant (1724 - 1804) foi mais um filósofo que pensou nas condições de possibilidades da
liberdade e, tal como Voltaire, preocupou-se em impedir que fôssemos manipulados por
interesses exteriores aos nossos. Para isso, Kant aposta em um movimento do qual todos
precisariam participar: trata-se de um esclarecimento que retiraria a humanidade da
posição de menoridade.
Segundo Kant, encontramo-nos na posição de menoridade por não usarmos nosso
entendimento da maneira que deveríamos; por covardia e preguiça, apenas orientamo-
nos por razões alheias a nossa e, assim, damos origem a tutores que dizem o que
devemos fazer sobre as mais variadas questões do dia-a-dia. Nosso erro, portanto, é
preferir a orientação de outrem e não usarmos nosso entendimento com autonomia. Um
bom exemplo desse erro é a música abaixo:
Pacato Cidadão
Skank
Composição: Samuel Rosa E Chico Amaral
Ô pacato cidadão, te chamei a atenção
Não foi à toa, não
C\'est fini la utopia, mas a guerra todo dia
Dia a dia não
E tracei a vida inteira planos tão incríveis
Tramo à luz do sol
Apoiado em poesia e em tecnologia
Agora à luz do sol
Pacato cidadão
Ô pacato da civilização
Pacato cidadão
Ô pacato da civilização
Ô pacato cidadão, te chamei a atenção
Não foi à toa, não
C\'est fini la utopia, mas a guerra todo dia
Dia a dia não
E tracei a vida inteira planos tão incríveis
Tramo à luz do sol
Apoiado em poesia e em tecnologia
Agora à luz do sol
Pra que tanta TV, tanto tempo pra perder
Qualquer coisa que se queira saber querer
Tudo bem, dissipação de vez em quando é bão
Misturar o brasileiro com alemão
Pacato cidadão
Ô pacato da civilização
Ô pacato cidadão, te chamei a atenção
Não foi à toa, não
C\'est fini la utopia, mas a guerra todo dia
Dia a dia não
E tracei a vida inteira planos tão incríveis
Tramo à luz do sol
Apoiado em poesia e em tecnologia
Agora à luz do sol
Pra que tanta sujeira nas ruas e nos rios
Qualquer coisa que se suje tem que limpar
Se você não gosta dele, diga logo a verdade
Sem perder a cabeça, perder a amizade
Pacato cidadão
Ô pacato da civilização
Pacato cidadão
Ô pacato da civilização
Ô pacato cidadão, te chamei a atenção
Não foi à toa, não
C\'est fini la utopia, mas a guerra todo dia
Dia a dia não
E tracei a vida inteira planos tão incríveis
Tramo à luz do sol
Apoiado em poesia e em tecnologia
Agora à luz do sol
Consertar o rádio e o casamento é
Corre a felicidade no asfalto cinzento
Se abolir a escravidão do caboclo brasileiro
Numa mão educação, na outra dinheiro
Pacato cidadão
Ô pacato da civilização
Pacato cidadão
Ô pacato da civilização.
VAMOS FILOSOFAR...
1 – Kant e Voltaire têm um projeto parecido sobre a liberdade. Qual é esse projeto?
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a) o que é menoridade?
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5 – Kant e Voltaire têm um método em comum para alcançar a liberdade? Qual é ele e
como funciona?
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TEXTO COMPLEMENTAR
Eu, etiqueta
Em minha calça está grudado um nome
que não é meu de batismo ou de cartório
um nome... estranho.
Meu blusão traz lembrete de bebida
que jamais pus na boca, nesta vida.
Em minha camiseta, a marca de cigarro
que não fumo, até hoje não fumei.
Minhas meias falam de produto
que nunca experimentei
mas são comunicados a meus pés.
Meu tênis é proclama colorido
de alguma coisa não provada
por este provador de longa idade.
Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro,
minha gravata e cinto e escova e pente,
meu copo, minha xícara,
minha toalha de banho e sabonete,
meu isso, meu aquilo,
desde a cabeça ao bico dos sapatos,
são mensagens,
letras falantes, gritos visuais,
ordens de uso, abuso, reincidência,
costume, hábito, premência, indispensabilidade,
e fazem de mim homem-anúncio itinerante,
escravo da matéria anunciada.
Estou, estou na moda.
É doce estar na moda, ainda que a moda
seja negar minha identidade,
trocá-la por mil, açambarcando
todas as marcas registradas,
todos os logotipos do mercado.
Com que incidência demito-me de ser
eu que antes era e me sabia
tão diverso de outros, tão mim-mesmo,
ser pensante, sentinte e solidário
com outros seres diversos e conscientes
de sua humana, invencível condição.
Agora sou anúncio,
ora vulgar ora bizarro,
em língua nacional ou em qualquer língua
(qualquer, principalmente).
E nisto me comprazo, tiro glória
de minha anulação.
Não sou – vê lá – anúncio contratado.
Eu é que mimosamente pago
para anunciar, para vender
em bares festas praias pérgulas piscinas,
e bem à vista exibo esta etiqueta
global no corpo que desiste
de ser veste e sandália de uma essência
tão viva, independente,
que moda ou suborno algum a compromete.
Onde terei jogado fora
meu gosto e capacidade de escolher,
minhas idiossincrasias tão pessoais,
tão minhas que no rosto se espelhavam,
e cada gesto, cada olhar,
cada vinco da roupa
resumia uma estética?
Hoje sou costurado, sou tecido,
sou gravado de forma universal,
saio da estamparia, não de casa,
da vitrine me tiram, recolocam,
objetos estáticos, tarifados.
Por me ostentar assim, tão orgulhoso
de ser não eu, mas artigo industrial,
peço que meu nome retifiquem.
Já não me convém o título de homem,
meu nome novo é coisa.
Eu sou a coisa, coisamente.
Carlos Drummond de Andrade
Texto:
A Canoa
Paulo Freire
Frases:
Ninguém é melhor do que ninguém.
Ter estudo é ter mais oportunidades, mas não me torna melhor do que os outros.
Muitos que estudaram se acham muito importantes, mas todos são importantes.
Ninguém sabe tudo, mas todo mundo sabe alguma coisa.
Não existe saber mais ou saber menos, existem saberes diferentes.