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Atividades de filosofia

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO


DIRETORIA DE ENSINO - REGIÃO DE BRAGANÇA PAULISTA
E E JOSÉ SIQUEIRA BUENO
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Atividade realizada de acordo com a Resolução da Seduc, de 18/03/2020 (Deliberação CEE
177/2020)

Professor(a): Andréa Vinchi Lapellegrini Ano / Série: 2 ano A e B


Disciplina: filosofia Número de aulas: 2
Período: manhã Dia / Semana: 11/04 ao 15/05

ENSINO MÉDIO- Filosofia

LIBERDADE: RAZÃO E AUTONOMIA

“Esclarecimento é a saída do homem de sua menoridade, da qual ele próprio é culpado”


Immanuel Kant

1 – O problema da escolha sem autonomia em nossa sociedade.

Sabemos que a liberdade, como apontou Sartre, expressa-se na escolha que fazemos
durante todo o tempo. Porém, talvez as escolhas que estamos fazendo estejam corrompidas,
talvez estejamos agindo sob influência de interesses que não são verdadeiramente nossos.
Vejamos a música abaixo para situarmos melhor o problema que expomos:
https://youtu.be/1G3qk6LhMfAAdimirável Chip Novo
Pitty
Pane no sistema, alguém me desconfigurou
Aonde estão meus olhos de robô?
Eu não sabia, eu não tinha percebido
Eu sempre achei que era vivo
Parafuso e fluido em lugar de articulação
Até achava que aqui batia um coração
Nada é orgânico, é tudo programado
E eu achando que tinha me libertado,
Mas lá vem eles novamente e eu sei o que vão fazer:
Reinstalar o sistema
Pense, fale, compre, beba
Leia, vote, não se esqueça
Use, seja, ouça, diga
Tenha, more, gaste e viva
Pense, fale, compre, beba
Leia, vote, não se esqueça
Use, seja, ouça, diga...
Não senhor, Sim senhor, Não senhor, Sim senhor

Pane no sistema, alguém me desconfigurou


Aonde estão meus olhos de robô?
Eu não sabia, eu não tinha percebido
Eu sempre achei que era vivo
Parafuso e fluido em lugar de articulação
Até achava que aqui batia um coração
Nada é orgânico, é tudo programado
E eu achando que tinha me libertado,
Mas lá vem eles novamente e eu sei o que vão fazer:
Reinstalar o sistema
Pense, fale, compre, beba
Leia, vote, não se esqueça
Use, seja, ouça, diga
Tenha, more, gaste e viva
Pense, fale, compre, beba
Leia, vote, não se esqueça
Use, seja, ouça, diga...
Não senhor, Sim senhor, Não senhor, Sim senhor
Mas lá vem eles novamente e eu sei o que vão fazer:
Reinstalar o sistema
PITTY. Admirável chip novo, 2003.

O refrão da música compõe-se de imperativos que nos são ininterruptamente transmitidos


pela televisão, pelo rádio, pela internet, pelos jornais, pelas revistas, pelos outdoors, por
religiões e até pelos nossos amigos. Embora possamos passar a vida sem perceber,
escolhemos entre roupas da marca A ou B, refrigerante A ou B; carro A ou B,
eletrodoméstico A ou B, deus A ou B. É verdade que há uma escolha, é verdade que
podemos escolher por A e não por B; porém, é verdade também que muitas vezes agimos
influenciados sobre os imperativos que nos foram transmitidos.
A música expressa que as escolhas que fazemos podem estar corrompidas pelo consumismo
contemporâneo, expressa que fazemos escolhas influenciadas por falsas necessidades, por
interesses exteriores a nós mesmos. Isto é, a comparação feita pela música, entre nós e os
robôs, retrata justamente o modo como somos “programados” a realizar escolhas que
beneficiam interesses que não são necessariamente os nossos, a escolher coisas que não
precisamos, a fazer coisas que podem até estar contrárias a nossos interesses. E ainda
podemos aceitar estas coisas de bom grado: “Não senhor, Sim senhor, Não senhor, Sim
senhor”. Caso não gostemos e fazemos algo contrário aos imperativos que nos foram
transmitidos, a música mostra a saída que é usada para tudo continuar do modo como está:
“Lá vem eles novamente e eu sei o que vão fazer: reinstalar o sistema”.
Portanto, o problema da liberdade em nossa sociedade é ainda um problema não resolvido,
trataremos neste período justamente das escolhas que fazemos e que podem ainda não
serem suficientes para sermos livres. Segundo a música, em cada um de nós é como se
houvesse um chip, como se não fôssemos livres.

VAMOS FILOSOFAR...

1 – Quais são os imperativos que a música demonstra que nos são impostos
ininterruptamente?
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2 – Ao escolhermos um produto de uma marca, e não de outra, após sermos convencidos


por uma propaganda, somos livres? Explique.
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3 – Explique como a música, ao comparar-nos com robôs, mostra que não somos livres.
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4 – Você já foi influenciado por propagandas a adquirir algo que não tinha muita
necessidade? Exemplifique e explique como sua liberdade foi afetada.
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5 – Desenhe um exemplo de propaganda que influencia as pessoas e, assim, afeta a


liberdade delas.
PROFª: Andréa Lapellegrini 2 ano do ensino Médio- Filosofia

Ousar pensar: a saída de Voltaire para o problema da escolha sem


autonomia em nossa sociedade.

Voltaire, filósofo francês que viveu entre 1694 e 1778, tentou encontrar uma solução para o
problema que estamos discutindo, embora, seja evidente, em um contexto diferente. No
Dicionário filosófico, ele escreveu um verbete intitulado “Liberdade de Pensamento”,
expondo um conflito entre um general inglês (Boldmind) e um funcionário da Inquisição na
Espanha (Medroso). Deste conflito, Voltaire indicou o caminho para escolhermos sem
seguir interesses que não são verdadeiramente nossos. Vamos acompanhar o diálogo para
encontrar esse caminho:

Liberdade de pensamento

“Boldmind: Sois, portanto, sargento dos dominicanos? Exerceis um bem vil ofício.
Medroso: É verdade; mas gostei mais de ser criado deles do que ser vítima e preferi a
desgraça de queimar o meu próximo à de ser eu próprio cozido.
Boldmind: Que horrível alternativa! Éreis cem vezes mais felizes sob o jugo dos mouros que
vos deixaram estagnar livremente no meio das vossas superstições e que, embora
vencedores, não se arrogavam o direito inaudito de pôr as almas a ferros.
Medroso: Que quereis? Não nos é permitido escrever, nem falar, nem mesmo pensar. Se
falamos, torna-se fácil interpretar as nossas palavras e mais ainda os nossos escritos. Enfim,
como não podem condenar-nos a um auto-de-fé pelos nossos pensamentos secretos,
ameaçam-nos de sermos eternamente queimados por ordem do próprio Deus se não
pensarmos como os dominicanos. Persuadiram o governo que se possuíssemos o senso
comum todo o Estado ficaria em combustão e a nação tornar-se-ia a mais desgraçada da
Terra.
Boldmind: Achais que somos assim desgraçados, nós, ingleses, que cobrimos os mares com
os nossos barcos e viemos ganhar para vós batalhas nos confins da Europa? Vede os
holandeses que vos desapossaram de quase todas as vossas descobertas na Índia e hoje se
enfileiram entre os vossos protetores: pensais que sejam malditos de Deus por haverem
concedido inteira liberdade à imprensa e por fazerem o comércio dos pensamentos
humanos? Foi menos poderoso o império romano por Cícero haver escrito com liberdade?
Medroso: Quem é Cícero? Nunca ouvi falar desse homem; não se trata aqui de Cícero, trata-
se de nosso santo pai, o papa, e de Santo Antônio de Pádua, e sempre ouvi dizer que a
religião romana está perdida se os homens começam a pensar.
Boldmind: Não cabe a vós acreditá-lo, pois estais seguro que a vossa religião é divina e que
as portas do inferno não podem prevalecer contra ela. Se assim é, nada poderá destruí-la.
Medroso: Não, mas pode ser reduzida a pouca coisa. E foi por terem pensado que a Suécia, a
Dinamarca, toda a vossa ilha e metade da Alemanha gemem na pavorosa desgraça de não
mais serem súditos do papa. Diz-se mesmo que se os homens continuassem a guiar-se pelas
suas falsas luzes acabarão em breve por ater à simples adoração de Deus e à virtude. Se
alguma vez as portas do inferno prevalecerem até esse ponto, em que se tornará o Santo
Ofício?
Boldmind: Se os primeiros cristãos não tivessem a liberdade de pensar, não é verdade que
não existiria cristianismo?
Medroso: Que quereis dizer? Não vos entendo?
Boldmind: Acredito. Quero dizer que se Tibério e os primeiros imperadores dispusessem de
dominicanos que houvessem impedido os primeiros cristãos de usar penas e tinta; se
durante tanto tempo não tivesse sido permitido pensar livremente no império romano,
tornar-se-ia impossível aos cristãos estabelecer os seus dogmas. Portanto, se o cristianismo
só se formou pela liberdade de pensamento, por que contradição, por que injustiça desejaria
aniquilar hoje essa liberdade sobre a qual está fundado?
Quando vos propõem algum negócio interessante, não o examinais demoradamente, antes
de o concluirdes? Haverá no mundo maior interesse que o da nossa felicidade ou eterna
desgraça? Existem sobre a Terra cem religiões e todas vos condenam à danação por
acreditares nos vossos dogmas, que essas religiões consideram absurdos e ímpios;
examinai, portanto, esses dogmas.
Medroso: Como posso examiná-lo? Não sou dominicano.
Boldmind: Sois homem e isso basta.
Medroso: Ai de mim! Sois bem mais homem que eu.
Boldmind: A vós apenas cabe aprender a pensar; haveis nascido com espírito; sois uma ave
na gaiola da Inquisição; o Santo Ofício aparou-vos as asas mas elas podem voltar a crescer.
Quem não sabe geometria, pode aprendê-la; qualquer homem pode instruir-se: é
vergonhoso que se deposite a alma nas mãos daqueles aos quais não se confiaria o dinheiro.
Ousai pensar por vós mesmo.
Medroso: Há quem diga que, se toda a gente pensasse por si, a confusão seria prodigiosa.
Boldmind: Pelo contrário. Quando assistimos a um espetáculo, cada qual dá livremente a
sua opinião e a paz não é perturbada; se, porém, algum insolente, protetor de algum mau
poeta, quiser forçar todas as pessoas de gosto a considerarem bom o que lhes parece mau,
os dois partidos podem acabar alvejando-se com maçãs, como já aconteceu em Londres. São
estes tiranos dos espíritos que causaram parte das desgraças do mundo. Na Inglaterra, só
somos felizes desde que cada qual goze livremente o direito de exprimir a sua opinião (...)” .

O problema que temos a resolver é: como fazer escolhas que reflitam o que realmente
queremos, o que realmente necessitamos, sem sermos influenciados e manipulados por
outrem? Voltaire, pela personagem Boldmind, indicou que estas escolhas precisam passar
pelo critério do pensamento: trata-se de ousar pensar por nós mesmos, sem aderir a
nenhum projeto sem antes examiná-lo com cuidado, sem entregar nossa alma seja a quem
for.

Voltaire. Estátua de 1781, Museu de São Petesburgo.

VAMOS FILOSOFAR...
1 – Qual é o problema relativo à liberdade a ser resolvido em nossa sociedade?
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2 – Que tipo de trabalho a personagem Medroso realiza, segundo Voltaire no texto


Liberdade de pensamento? Como esse trabalho é classificado pela personagem Boldmind?
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3 – Existe liberdade de pensamento na Espanha sob a Inquisição? O que a personagem


Medroso alega para defender o comportamento da Inquisição? Boldmind concorda com
Medroso ?
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4 – Para que a personagem Medroso se tornasse livre, Boldmind aconselhou: “A vós apenas
cabe aprender a pensar; haveis nascido com espírito; sois uma ave na gaiola da Inquisição;
o Santo Ofício aparou-vos as asas mas elas podem voltar a crescer. Quem não sabe
geometria, pode aprendê-la; qualquer homem pode instruir-se: é vergonhoso que se
deposite a alma nas mãos daqueles aos quais não se confiaria o dinheiro. Ousai pensar por
vós mesmo” . Explique qual deve ser o comportamento de Medroso para que ele seja livre.
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5 – Como Voltaire resolveu a questão de fazermos escolhas sem sermos livres em nossa
sociedade? Você concorda com a solução dele? Explique.
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6 – Leia a letra da música abaixo e relacione-a com o texto de Voltaire para explicar se
somos livres ao fazermos o que a televisão nos propõe.

PROFª: Andréa Lapellegrini, 2 ano A e B, ENSINO MÉDIO- Filosofia


Copiar e responder em folha separada né entregar na escola

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