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Sabemos que a liberdade, como apontou Sartre, expressa-se na escolha que fazemos
durante todo o tempo. Porém, talvez as escolhas que estamos fazendo estejam corrompidas,
talvez estejamos agindo sob influência de interesses que não são verdadeiramente nossos.
Vejamos a música abaixo para situarmos melhor o problema que expomos:
https://youtu.be/1G3qk6LhMfAAdimirável Chip Novo
Pitty
Pane no sistema, alguém me desconfigurou
Aonde estão meus olhos de robô?
Eu não sabia, eu não tinha percebido
Eu sempre achei que era vivo
Parafuso e fluido em lugar de articulação
Até achava que aqui batia um coração
Nada é orgânico, é tudo programado
E eu achando que tinha me libertado,
Mas lá vem eles novamente e eu sei o que vão fazer:
Reinstalar o sistema
Pense, fale, compre, beba
Leia, vote, não se esqueça
Use, seja, ouça, diga
Tenha, more, gaste e viva
Pense, fale, compre, beba
Leia, vote, não se esqueça
Use, seja, ouça, diga...
Não senhor, Sim senhor, Não senhor, Sim senhor
VAMOS FILOSOFAR...
1 – Quais são os imperativos que a música demonstra que nos são impostos
ininterruptamente?
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3 – Explique como a música, ao comparar-nos com robôs, mostra que não somos livres.
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4 – Você já foi influenciado por propagandas a adquirir algo que não tinha muita
necessidade? Exemplifique e explique como sua liberdade foi afetada.
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Voltaire, filósofo francês que viveu entre 1694 e 1778, tentou encontrar uma solução para o
problema que estamos discutindo, embora, seja evidente, em um contexto diferente. No
Dicionário filosófico, ele escreveu um verbete intitulado “Liberdade de Pensamento”,
expondo um conflito entre um general inglês (Boldmind) e um funcionário da Inquisição na
Espanha (Medroso). Deste conflito, Voltaire indicou o caminho para escolhermos sem
seguir interesses que não são verdadeiramente nossos. Vamos acompanhar o diálogo para
encontrar esse caminho:
Liberdade de pensamento
“Boldmind: Sois, portanto, sargento dos dominicanos? Exerceis um bem vil ofício.
Medroso: É verdade; mas gostei mais de ser criado deles do que ser vítima e preferi a
desgraça de queimar o meu próximo à de ser eu próprio cozido.
Boldmind: Que horrível alternativa! Éreis cem vezes mais felizes sob o jugo dos mouros que
vos deixaram estagnar livremente no meio das vossas superstições e que, embora
vencedores, não se arrogavam o direito inaudito de pôr as almas a ferros.
Medroso: Que quereis? Não nos é permitido escrever, nem falar, nem mesmo pensar. Se
falamos, torna-se fácil interpretar as nossas palavras e mais ainda os nossos escritos. Enfim,
como não podem condenar-nos a um auto-de-fé pelos nossos pensamentos secretos,
ameaçam-nos de sermos eternamente queimados por ordem do próprio Deus se não
pensarmos como os dominicanos. Persuadiram o governo que se possuíssemos o senso
comum todo o Estado ficaria em combustão e a nação tornar-se-ia a mais desgraçada da
Terra.
Boldmind: Achais que somos assim desgraçados, nós, ingleses, que cobrimos os mares com
os nossos barcos e viemos ganhar para vós batalhas nos confins da Europa? Vede os
holandeses que vos desapossaram de quase todas as vossas descobertas na Índia e hoje se
enfileiram entre os vossos protetores: pensais que sejam malditos de Deus por haverem
concedido inteira liberdade à imprensa e por fazerem o comércio dos pensamentos
humanos? Foi menos poderoso o império romano por Cícero haver escrito com liberdade?
Medroso: Quem é Cícero? Nunca ouvi falar desse homem; não se trata aqui de Cícero, trata-
se de nosso santo pai, o papa, e de Santo Antônio de Pádua, e sempre ouvi dizer que a
religião romana está perdida se os homens começam a pensar.
Boldmind: Não cabe a vós acreditá-lo, pois estais seguro que a vossa religião é divina e que
as portas do inferno não podem prevalecer contra ela. Se assim é, nada poderá destruí-la.
Medroso: Não, mas pode ser reduzida a pouca coisa. E foi por terem pensado que a Suécia, a
Dinamarca, toda a vossa ilha e metade da Alemanha gemem na pavorosa desgraça de não
mais serem súditos do papa. Diz-se mesmo que se os homens continuassem a guiar-se pelas
suas falsas luzes acabarão em breve por ater à simples adoração de Deus e à virtude. Se
alguma vez as portas do inferno prevalecerem até esse ponto, em que se tornará o Santo
Ofício?
Boldmind: Se os primeiros cristãos não tivessem a liberdade de pensar, não é verdade que
não existiria cristianismo?
Medroso: Que quereis dizer? Não vos entendo?
Boldmind: Acredito. Quero dizer que se Tibério e os primeiros imperadores dispusessem de
dominicanos que houvessem impedido os primeiros cristãos de usar penas e tinta; se
durante tanto tempo não tivesse sido permitido pensar livremente no império romano,
tornar-se-ia impossível aos cristãos estabelecer os seus dogmas. Portanto, se o cristianismo
só se formou pela liberdade de pensamento, por que contradição, por que injustiça desejaria
aniquilar hoje essa liberdade sobre a qual está fundado?
Quando vos propõem algum negócio interessante, não o examinais demoradamente, antes
de o concluirdes? Haverá no mundo maior interesse que o da nossa felicidade ou eterna
desgraça? Existem sobre a Terra cem religiões e todas vos condenam à danação por
acreditares nos vossos dogmas, que essas religiões consideram absurdos e ímpios;
examinai, portanto, esses dogmas.
Medroso: Como posso examiná-lo? Não sou dominicano.
Boldmind: Sois homem e isso basta.
Medroso: Ai de mim! Sois bem mais homem que eu.
Boldmind: A vós apenas cabe aprender a pensar; haveis nascido com espírito; sois uma ave
na gaiola da Inquisição; o Santo Ofício aparou-vos as asas mas elas podem voltar a crescer.
Quem não sabe geometria, pode aprendê-la; qualquer homem pode instruir-se: é
vergonhoso que se deposite a alma nas mãos daqueles aos quais não se confiaria o dinheiro.
Ousai pensar por vós mesmo.
Medroso: Há quem diga que, se toda a gente pensasse por si, a confusão seria prodigiosa.
Boldmind: Pelo contrário. Quando assistimos a um espetáculo, cada qual dá livremente a
sua opinião e a paz não é perturbada; se, porém, algum insolente, protetor de algum mau
poeta, quiser forçar todas as pessoas de gosto a considerarem bom o que lhes parece mau,
os dois partidos podem acabar alvejando-se com maçãs, como já aconteceu em Londres. São
estes tiranos dos espíritos que causaram parte das desgraças do mundo. Na Inglaterra, só
somos felizes desde que cada qual goze livremente o direito de exprimir a sua opinião (...)” .
O problema que temos a resolver é: como fazer escolhas que reflitam o que realmente
queremos, o que realmente necessitamos, sem sermos influenciados e manipulados por
outrem? Voltaire, pela personagem Boldmind, indicou que estas escolhas precisam passar
pelo critério do pensamento: trata-se de ousar pensar por nós mesmos, sem aderir a
nenhum projeto sem antes examiná-lo com cuidado, sem entregar nossa alma seja a quem
for.
VAMOS FILOSOFAR...
1 – Qual é o problema relativo à liberdade a ser resolvido em nossa sociedade?
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4 – Para que a personagem Medroso se tornasse livre, Boldmind aconselhou: “A vós apenas
cabe aprender a pensar; haveis nascido com espírito; sois uma ave na gaiola da Inquisição;
o Santo Ofício aparou-vos as asas mas elas podem voltar a crescer. Quem não sabe
geometria, pode aprendê-la; qualquer homem pode instruir-se: é vergonhoso que se
deposite a alma nas mãos daqueles aos quais não se confiaria o dinheiro. Ousai pensar por
vós mesmo” . Explique qual deve ser o comportamento de Medroso para que ele seja livre.
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5 – Como Voltaire resolveu a questão de fazermos escolhas sem sermos livres em nossa
sociedade? Você concorda com a solução dele? Explique.
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6 – Leia a letra da música abaixo e relacione-a com o texto de Voltaire para explicar se
somos livres ao fazermos o que a televisão nos propõe.