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ADM.

PÚBLICA II - LOZANO 1

GESTÃO PÚBLICA PRINCIPIOS GERAIS

Prof.MSc. José Ricardo Leal Lozano

legalidade, o gestor público deve estar


1. Administração Pública x Privada sempre sujeito aos ditames da lei. Diz-se,
pois, que o poder do administrador
Afinal, o que difere a administração público é, em verdade, um poder-dever.
pública da administração de empresas
privadas? O que impede que o gestor Assim, o gestor não só pode fazer o que a
público atue da mesma forma que o lei o autoriza, mas tem o dever de fazê-lo.
administrador de uma empresa? Quais Em síntese, ao passo que na
são as efetivas razões da constantemente administração de uma empresa privada
referenciada ineficiência da o gestor pode fazer tudo que a lei não
administração pública? proíbe, na esfera pública, de forma
oposta, o administrador pode e deve
Porque os órgãos e entidades da fazer somente o que a lei permitir
administração pública não são (noções de ato vinculado e ato
gerenciados com a eficiência da empresa discricionário). A gestão pública,
privada? Estas são questões presentes no portanto, está restrita aos ditames legais
senso comum, e que exigem resposta. – o que se denomina princípio da
legalidade administrativa.
Tais respostas, no entanto, são
construções particulares, eis que 2. O Que são Princípios?
envolvem significativa parcela de
subjetividade. Cumpre assinalar de início Segundo Cretella Júnior (1995, p.6),
que a ineficiência administrativa não é princípio é “toda proposição,, pressuposto de
prerrogativa exclusiva dos órgãos e um sistema, que lhe garante a validade,
entidades da administração pública. Na legitimando-o”. Os princípios de gestão
esfera privada, ambiente sabidamente pública constituem os fundamentos de
mais competitivo, existem empresas com validade da ação administrativa.
práticas tão ou mais ineficientes,
chegando, inclusive às raias do 3. Princípios da Administração Pública
amadorismo gerencial.
Estabelece a Constituição Federal, art. 37,
Neste contexto, a análise das caput que a Administração Pública deve
especificidades que cercam a obedecer aos princípios da:
administração pública requer a
abordagem de alguns elementos a) legalidade;
conceituais básicos, tais como a noção de
poder/dever do administrador público e b) impessoalidade;
suas conseqüências.
c) moralidade;
Em se tratando de administração pública,
fundamentalmente em razão do d) publicidade; e
denominado princípio basilar da
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e) eficiência. Na essência deste princípio reside a idéia


de que “na relação administrativa, a vontade
“Art. 37 A administração pública direta e da Administração Pública é a que decorre da
indireta de qualquer dos Poderes da União, lei.” (Di Pietro, 1997, p. 61).
dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios obedecerá aos princípios de Segundo o princípio da legalidade, a
legalidade, impessoalidade, moralidade, administração pode fazer somente o que
publicidade e eficiência e, também, ao a lei permite. A lei constitui a expressão
seguinte: (...).” da vontade geral, produto formal da
interação de órgãos de representação da
São, pois, todos princípios a serem sociedade, segundo um processo
obrigatoriamente observados pela legislativo definido na Constituição.
Administração por ocasião da prática dos
atos de gestão. O Processo Legislativo

Gestão pública não é, portanto, Sistema de atos previamente ordenados,


unicamente a busca da observância do levados a efeito pelos órgãos legislativos
princípio da legalidade administrativa. O com vistas à criação de normas de direito
conteúdo jurídico transcende o relacionadas no artigo 59, da
‘positivado’, exigindo, pois, uma Constituição Federal (ver, ainda, Lei
interpretação sistemática de alcance mais Complementar Federal nº 95/98).
abrangente, com vistas ao seu propósito
maior – o interesse público (Freitas, 1997). “Art. 59 - O processo legislativo compreende
a elaboração de::
3.1 Princípio da Legalidade:
I - emendas à Constituição;
“O império da lei.”
II - leis complementares;
A soberania e participação popular
constituem o fundamento do Estado III - leis ordinárias;
Democrático. No império da lei reside,
entretanto, a base do Estado de Direito. IV - leis delegadas;
Da noção de Estado Democrático,
sustentado no Direito, depreende-se, V - medidas provisórias;
portanto, a concepção de Estado
Democrático de Direito. VI - decretos legislativos;

O Estado Democrático de Direito funda- VII - resoluções.


se, desta forma, no princípio da
legalidade. É princípio essencial Parágrafo único – Lei complementar disporá
específico do Estado de Direito, sobre a elaboração, redação, alteração e
qualificando-o como tal. É “a tradução consolidação das leis”
jurídica de um propósito político: o de
submeter os exercentes do poder em concreto - Etapas do Processo Legislativo:
o administrativo - a um quadro normativo
que embargue favoritismos, perseguição ou 1 – Iniciativa
desmandos” (Mello, 1993, p. 49/50).
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1.1 comum: art. 61 da CF; 4 - Sanção

1.2 reservada: outorga, pela CF, de Ato do chefe do Poder Executivo


determinadas matérias a determinados relativamente a projetos de lei aprovada
órgãos (art. 61, parágrafo 1º); no Poder Legislativa. (art. 66 da CF).

1.3 vinculada: situação em que a 5 - Veto


apresentação do projeto de lei é
obrigatória; ex. orçamento. Manifestação de discordância do Chefe
do Executivo em relação ao projeto de lei,
2 - Discussão (Instrução) Matéria regulada por inconstitucionalidade ou
nos regimentos internos dos Órgãos contrariedade ao interesse público (art.
Legislativos 66, CF).

(artigos 64 e 65). 6 - Promulgação

Este Órgão pode: Ato que atesta a existência da lei,


reconhecendo os fatos atos geradores da
a) aprovar - segue para sanção ou veto, lei e indicando que o texto legal é válido.
promulgação e publicação;
A lei, entretanto, somente se torna eficaz,
b) rejeitar - segue para arquivamento; com a promulgação publicada (art. 66,
parágrafo 7º).
c) emendar; retorna à Casa originária.
7 - Publicação
3 - Votação
Constitui a forma mediante a qual se dá
Ato de deliberação coletiva. ciência da promulgação da lei aos seus
destinatários. A publicação da lei é
a) maioria simples - necessária para condição para sua vigência e eficácia2.
aprovação de lei ordinária (art. 47 da CF); Vacatio legis é o período entre a
“Art. 47 - Salvo disposição constitucional em publicação da lei e sua entrada em vigor.
contrário, as deliberações de cada Casa e de
suas Comissões serão tomadas por maioria os
votos, presente a maioria absoluta de seus a) no mínimo, 1/3 dos membros da Câmara dos Deputados
membros”.” ou do Senado;
b) Presidente da República; e
c) mais da metade das Assembléias
b) maioria absoluta – necessária para Legislativas das unidades da Federação manifestando-se,
aprovação de lei complementar (art. 69, cada uma delas, pela maioria relativa de seus membros.
A aprovação de EC depende de voto favorável de 3/5 dos
CF).
membros da Casas.
Senado: 81 membros (42 são a maioria); Câmara dos
c) maioria de três quintos - necessária para Deputados: 513 (257 constituem a maioria).
aprovação de emenda constitucional (art. 2 Em geral as leis dispõem em artigo próprio a data de sua
60, parágrafo 2º).1 entrada em vigor. Na ausência de disposição expressa,
aplica-se a regra contida no artigo 1º do Decreto Lei nº
4.567/42 - Lei de Introdução ao Código Civil Brasileiro: “Art.
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1º . Salvo disposição em contrário, a lei começa a vigorar em
A proposta de Emenda Constitucional deve partir de: todo o país, 45 dias depois de oficialmente publicada.”
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Durante este período, vigoram as Segundo Silva (1995, p. 43) 3, a


disposições da lei antiga. Constituição Federal é: “Um sistema de
normas jurídicas, escritas ou costumeiras,
Atos Legislativos e Atos que regula a forma do Estado, a forma de seu
Administrativos governo, o modo de aquisição e o exercício do
poder, estabelecimento de seus órgãos, os
1 - Nível Fundamental limites de sua ação, os direitos fundamentais
do homem e as respectivas garantias. É o
1.1 Constituição Federal conjunto de normas que organiza os
elementos constitutivos do Estado”.
1.2 Emendas Constitucionais9
2 Emendas Constitucionais
2 - Nível Primário
É a forma mediante a qual se processam
São atos legislativos que têm fundamento as alterações formais no texto
na Constituição Federal. constitucional.

2.1 Leis Complementares Nível Primário

2.2 Leis Ordinárias 1. Leis Complementares

2.3 Medidas Provisórias Conforme dispõe o artigo 69 da


Constituição Federal, as leis
complementares são aprovadas por
2.4 Leis Delegadas
maioria absoluta. A restrição visa a
resguardar determinadas matérias de
2.5 Decretos Legislativos
mudanças em demasia.
2.6 Resoluções As leis complementares têm objetos
casuísticamente definidos na
3 - Nível Secundário Constituição Federal. Exemplo: lei que
define termos e limites do exercício do
São atos administrativos fundamentados direito de greve pelo servidor público
na estrutura constituída no nível civil (Art. 37, inciso VIII); Lei que
primário. Não são definidos estabelece o número de Deputados por
constitucionalmente. Estado e pelo Distrito Federal,
proporcionalmente à população.(Art 45,
3.1 Decretos Executivos parágrafo 1º) etc.

3.2 Portarias

3.3 Instruções, etc.


3
Nível Fundamental SILVA, José Afonso da. Curso de Direito
Constitucional Positivo. 1995.

1. Constituição Federal
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2. Leis Ordinárias Resolução de Mesa: constitui mero ato


administrativo.
São os atos legislativos primários que tratam
de todas as matérias, com exceção daquelas Nível Secundário
que são de competência privativa, matérias de
reservadas às leis complementares, decretos 1. Decretos Executivos
legislativos e resoluções.
São atos administrativos de competência
3. Medidas Provisórias exclusiva do Chefe do Poder Executivo,
destinadas à explicar situações gerais ou
São atos normativos destinados ao tratamento individuais previstas na legislação.
de matérias de urgência e relevância, com
vigência fixada constitucionalmente 30 dias
-
2. Regulamentos
(Art. 62, CF).

A matéria passível de ser tratada em medidas


É ato explicativo, com eficácia externa.
Algumas leis dependem de regulamento
provisórias é a mesma de lei ordinária.
(ICMS, etc.).
4. Leis Delegadas
3. Instruções Normativas
São atos normativos elaborados e editados
Atos de Ministros de Estado ou Secretarias de
pelo Presidente da República em virtude de
Estado e Municípios, para a execução de leis,
autorização do Poder Legislativo.
decretos e regulamentos.
Esta autorização (delegação) tem a forma de
4. Regimentos
Resolução do Congresso Nacional (art. 68 da
CF).
De eficácia interna, destinada a reger
5. Decretos Legislativos funcionamento de instituições. É posto em
vigência por resolução. Exemplo: Regimento
São atos onde o Poder Legislativo exercita Interno da Câmara Municipal.
sua competência privativa, e que tenha efeitos
externos a ele. Não exige sanção do Chefe do 3.2 Princípio da Impessoalidade
Executivo (art. 48, Caput, CF), mas sujeita-se
a todas as regras de elaboração das leis Di Pietro (1997) assinala que a exigência de
ordinárias. Exemplo: remuneração de impessoalidade nos atos da Administração
prefeitos, aprovação de convênios, cassação implica que este atributo deve ser observado
de mandatos, etc. tanto em relação aos administrados quanto
em relação à Administração.
6. Resoluções
Em relação aos administrados (contato com a
São deliberações político-administrativas finalidade pública) significa dizer que os atos
destinadas a normatizar matérias de interesse da Administração não podem destinar-se a
interno. Exemplo: aprovação de regimento prejudicar ou beneficiar pessoas
interno, licença de vereadores, organização determinadas. A ação administrativa deve ser
de serviços, etc. impessoal, visando sempre ao interesse
coletivo.
Resolução de Plenário: sofre
processo legislativo completo. Relativamente à própria Administração
importa dizer que os atos praticados pelos
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agentes públicos a estes não são imputáveis, rentabilidade social”.


mas ao órgão ou entidade da Administração.
3.6 Princípio da Razoabilidade
3.3 Princípio da Moralidade
Conforme Freitas (1997, p. 60/61), a
Sintetiza Di Pietro (1997, p. 71), “sempre que “subordinação da Administração Pública
em matéria administrativa se verificar que o não é apenas à lei. Deve haver respeito à
comportamento da administração ou do legalidade sim, mas encartada no plexo de
administrado que com ela se relaciona características e ponderações que a
juridicamente, embora em consonância com a qualifiquem como razoável”.
lei, ofende a moral, os bons costumes, as
regras de boa administração, os princípios de A observância do principio da razoabilidade
justiça e eqüidade, a idéia comum de exige proporcionalidade entre os meios
honestidade, estará havendo ofensa ao empregados pela Administração e os fins
princípio da moralidade administrativa.” visados (Di Pietro, 1997). Tal relação de
proporcionalidade não deve considerar
3.4 Princípio da Publicidade critérios pessoais do gestor público, mas
padrões comuns da sociedade em que se
A observância a tal princípio exige a ampla insere. Não deve alicerçar-se termos frios da

divulgação dos atos da Administração lei, mas diante do caso concreto” (Di Pietro,
Pública, ressalvadas as hipóteses de sigilo 1997, pQ2).
previstas em lei.
Para Freitas (1997, p. 56), em essência: “O
3.5 Princípio da Eficiência princípio da proporcionalidade quer
significar que o Estado não deve agir com
Inovação no texto constitucional trazida pela demasia, tampouco de modo insuficiente na
Emenda Constitucional n0 19/98. A consecução de seus objetivos”.
Administração passa a obrigar-se
expressamente a conferir a seus atos um O tratamento das ações de gestão pública, em
caráter de economicidade. seu contexto histórico, tem evoluído (por
imperativo de sobrevivência) de “um
Por economicidade pode-se entender unia legalismo primitivo e descompromissado,
necessária relação favorável e tecnicamente para uma visão principíológlca e
justificável entre fins e meios (positiva substancialista” (Freitas, 1997).
relação entre custo e beneficio social e
-

econômico dos atos de gestão).


- O administrador público tem compromisso
com todos os princípios constitucionais. A
Moraes (1999, p. 298), na busca de uma apreciação da legalidade lato sensu dos atos
definição ampla acerca do que seja o administrativos implica, pois na necessária
principia da eficiência, afirma: “é aquele que adequação, fundamentalmente aos princípios
impõe à Administração Pública Direta e constitucionais de forma regrada.
Indireta e a seus agentes a persecução do bem
comum, por meio do exercício de suas Assim, em que pese a Administração não ter
competências de forma imparcial, neutra, agido em perfeita consonância com o
transparente, participativa, eficaz, sem disposto no art. 50, caput, do Magno Texto, há
burocracia e sempre em busca da qualidade, que se observar as conseqüências dos atos
primando pela adoção dos critérios legais e subseqüentes e sua relação com os demais
morais necessários para a melhor utilização princípios constitucionais, em especial o da
possível dos recursos públicos, de maneira a razoabilidade.
evitar-se desperdícios e garantir-se uma maior
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Moreira Neto (1989, p. 37/40 apud Di Pietro,


1997, p. 72), acerca do princípio da
razoabilidade, destaca a necessária “relação
de pertinência entre oportunidade e
conveniência, de um lado, e a finalidade, de
outro”.

A noção de proporcionalidade que reveste o


princípio da razoabilidade resultaria não
atendida quando dados dois valores legítimos,
“o administrador prioriza um em detrimento
ou sacrifício exagerado do outro” (Freitas,
1997, p 57).

Admite-se a ocorrência de sacrifícios na


aplicação do direito. O erro reside, no
entanto, no sacrifício excessivo de um direito.
O Administrador, segundo Freitas (1997, p.
57), “está obrigado a sacrificar o mínimo
para preservar o máximo de direitos”.

O atendimento ao princípio da razoabilidade,


por fim, é “mais do que a vedação de
excessos, exige a ponderação e a
racionalidade prudente do administrador e
de quem controla os seus atos, contratos e
procedimentos” (Freitas, 1997, p. 57).

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