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Psicanálise no Cotidiano
"Onde 'isso' estava, Eu devo advir" Sigmund Freud
► 2016 (2)
O INCONSCIENTE E OS ATOS FALHOS O que as pessoas
► 2015 (1)
revelam sobre si mesmas quando cometem erros
▼ 2013 (4)
A suposição de atividade mental inconsciente é o que possibilitou a Freud
► Março (1)
elaborar toda a teoria psicanalítica. Vários fenômenos o levaram a sustentar a
existência do inconsciente. Um deles em particular é bem divertido, pois ► Fevereiro (1)
facilmente observado em nossa vida cotidiana: os atos falhos. A partir do ▼ Janeiro (2)
momento que passamos a compreender o real sentido dos atos falhos, podemos
Um sonho analisado por mim
ver o modo como o inconsciente de um indivíduo o trai e revela suas reais exemplo do sentido do...
intenções.
O INCONSCIENTE E OS
ATOS FALHOS O que as
Os atos falhos consistem em pequenos lapsos esquecimentos de nomes, de
pessoas...
horários, datas, coisas a fazer, ou algo dito que não era o que tinha sido
intencionado a dizer, erros ao fazer alguma coisa, em suma, todo processo em
► 2012 (7)
que ocorre alguma interferência no que foi planejado, na atitude "normal"
esperada, por isso o nome ato falho.
Quem sou eu
Até antes de Freud na verdade até hoje, para aqueles que desconhecem a Diêgo Santos Gonçalves
psicanálise e querem ocultar o real sentido dos pequenos erros os atos falhos Aracaju, Sergipe, Brazil
eram tidos apenas como simples equívocos, algo feito "sem querer", que não Bacharel em Psicologia pela
tinha maior importância, que não possuíam nenhuma causa e eram atribuídos Universidade Tiradentes, e Mestre
em Psicologia Social pela
simplesmente a um "descuido". Freud, por sua vez, pôde mostrar no livro "Sobre a
Universidade Federal de Sergipe.
psicopatologia da vida cotidiana" que até os erros mais simples teriam um sentido Psicanalista em formação, membro
oculto que teria sido evidenciado de tal forma no erro. do Instituto Freudiano de Orientação
Lacaniana de Sergipe.
Num exemplo do livro, um senhor estava conversando com uma jovem sobre Visualizar meu perfil completo
como a cidade [Berlim] estava bonita com os preparativos para a Páscoa, e disse:
Endereço profissional:
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14/03/2017 Psicanálise no Cotidiano: O INCONSCIENTE E OS ATOS FALHOS O que as pessoas revelam sobre si mesmas quando cometem erros
"viu a loja Wertheim? Está toda decotada, oh, quis dizer decorada!". Esse é um Rua Profº José Freitas de Andrade,
exemplo bastante simples, mas é interessante pois comumente as pessoas têm a nº 2685, Bairro Coroa do Meio,
tendência a atribuir um erro como esse simplesmente ao acaso, e não procuram Aracaju/SE.
Tel p/ contato: (79) 999359303.
investigar o que o ocasionou. O locutor diria "oh, quis dizer decorada!" e a coisa
ficaria por aí mesmo. A outra pessoa da conversa geralmente tende a não dar Pesquisar este blog
atenção ao ato falho. Já Freud interpreta esse pequeno erro como uma
Pesquisar
interferência de um pensamento inconsciente do senhor a respeito do decote da
roupa da jovem senhora. Em todos os casos analisados, Freud consegue mostrar
que os atos falhos, dos mais simples aos mais complexos, são fruto de um
processo inconsciente suprimido e que sua causa pode ser descoberta.
Outro exemplo do livro: um professor de medicina, conhecido por sua arrogância,
dá uma aula sobre cavidades nasais. Depois de perguntar se todos os alunos
entenderam recebe um 'sim' geral. Diz então que esse assunto é muito difícil e
que duvidava da compreensão deles. Afirma que 'mesmo em Viena, com seus
milhões de habitantes, os que entendem das cavidades nasais podem ser
contados num dedo, quero dizer, nos dedos das mãos'. O inconsciente do prof. o
traiu aqui no fundo de si, de todos os médicos da cidade ele acredita ser o único
a saber sobre o assunto.
Já vemos nesses pequenos exemplos o que provoca a irrupção do ato falho. Por
razões sociais, sabemos que não podemos dizer tudo o que temos vontade, e
apesar de nosso controle para segurar e suprimir o que realmente queremos
dizer, o pensamento ainda resiste com notável força no inconsciente para se fazer
ouvir no ato falho. De fato, alguns atos falhos dizem respeito somente a
conteúdos que são significativos para quem os comete. Estes não são assim tão
facilmente explicados nem prontamente reconhecidos por quem os comete, e
geralmente são dotados de alto valor afetivo.
Portanto, podese ter em mente que quase todo erro cometido tem um significado
oculto. Digo quase todo porque às vezes erros são fruto do alto investimento
psíquico em outros fatores por exemplo, alguém extremamente preocupado com
uma reunião de negócios pode vir a esquecer de pegar a filha no colégio. Esse
erro não seria inconscientemente motivado, mas fruto da preocupação com algo.
De qualquer forma, existem em bem menor quantidade.
Uma vez certa paciente minha, bem resistente ao tratamento, mandoume uma
mensagem desculpandose por ter que remarcar novamente a sessão, e
escreveu: "Por favor, me pergunte, estou angustiada". Num primeiro momento não
entendi, mas depois vi que a intenção dela era dizer "por favor, me perdoe, estou
angustiada". A interpretação desse ato falho foi bastante óbvia.
Noutro exemplo esse foi particularmente engraçado ouvi uma garota certa vez
numa lanchonete pedir um suco de "capuaçu" à garçonete enquanto estava em
companhia do que pareciam ser seus pais. Podemos bem entender que o decoro
exerceu sua influência sobre este lapso, impossibilitando a menção a uma palavra
tão vulgar na frente dos mais velhos.
A lista aqui poderia ser bem vasta, principalmente para quem gosta de colecionar
esses fenômenos na memória, que são uma verdadeira prova da existência de
atividade mental inconsciente. Vou agora rever o texto para ver se cometi algum
erro... Pretendo trazer mais alguns exemplos de atos falhos depois.
Postado por Diêgo Santos Gonçalves às 4:08 PM
94 comentários:
Anônimo 17 de agosto de 2013 22:50
Caro Dr. Diego,
primeiramente, obrigada pela importante informação sobre atos falhos.
Entretanto, preciso com urgência, de uma palavra ou frase de "como"
resolver esse problema sem ser preciso uma terapia que dure toda
uma vida.
No texto acima diz: Freud consegue mostrar que os atos falhos, dos
mais simples aos mais complexos, são fruto de um processo
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14/03/2017 Psicanálise no Cotidiano: O INCONSCIENTE E OS ATOS FALHOS O que as pessoas revelam sobre si mesmas quando cometem erros
inconsciente suprimido e que sua causa pode ser descoberta.
Após descoberta a causa, como mudar esse hábito repetitivo de
cometer certos erros?
Responder
Respostas
Diêgo Santos Gonçalves 11 de março de 2014 23:15
Bom, primeiro obrigado pelo comentário. Acredito que esse
"hábito repetitivo" ao qual se refere seria antes a chamada
"compulsão à repetição" que Freud observou em seus
pacientes neuróticos durante o tratamento. Esse fenômeno
seria diferente e um pouco mais complexo do que os ditos
"atos falhos". Acontece que esses pacientes mostravam
uma tendência a repetir sempre as mesmas situações no
decorrer de sua vida, a estarem fadados a um destino
irremediável. E uma característica desse destino que tendia
a se repetir é que desde a sua primeira ocorrência ele não
trazia ao sujeito um afeto de prazer, e sim de desprazer.
Apesar de sofrer e sentir a situação de vida como penosa,
os sujeitos ainda sim mostravam uma espécie de compulsão
à repetila, indefinidamente. Por exemplo, uma garota que
vê todo relacionamento amoroso seu acabar em traição, ou
um rapaz que vê todas suas tentativas de produção
culminarem no fracasso. O que Freud mostrou foi que,
apesar de tais pessoas "aparentemente" sofrerem tal destino
mórbido de forma passiva, na verdade elas tinha papel ativo
nesse desenrolar de sua história. A única adversativa a isto
é que esse papel relevante do sujeito ao escrever sua
própria história estava sendo guiado por determinantes
inconscientes. Essa era única diferença: os sujeitos
construiam seu próprio destino inconscientemente, sem
saber os fatores que os levavam a tanto. Por exemplo no
caso da garota que vê todo relacionamento seu terminar em
fracasso, poderiase suspeitar que logo de início ela
escolheu o parceiro "errado" ou certo, se tomarmos as
coisas do ponto de vista do inconsciente.
Acontece que você tocou numa questão delicada do ponto
de vista da psicanálise. A compulsão à repetição foi o
fenômeno que levou Freud a revolucionar toda a sua teoria,
e a substituir o antigo princípio do prazer pelo conceito de
pulsão de morte. Como foi colocado, os indivíduos
compulsoriamente eram levados ao mesmo destino
independentemente da quantidade de sofrimento que isso
lhes trazia. Com isso, o conceito da pulsão de morte trouxe
sérias complicações ao tratamento analítico. Apesar disso,
ele era capaz de explicar satisfatoriamente porque certos
pacientes simplesmente não conseguiam abdicar de seus
sintomas.
De acordo com a terapia analítica, o "saber" que o sujeito
constrói sobre si mesmo durante o processo de análise, faz
com que ele crie uma espécie de barreira contra esse
caráter nefasto da compulsão à repetição. O saber sobre si,
isto é, o conhecimento sobre seu próprio inconsciente, sobre
as experiências de vida e afetos que constituíram o sujeito
tal como ele é, único, é capaz de fazer barra à repetição.
Acontece que esse saber é dificilmente adquirido, não se
acha presente em nenhum livro no mundo, demanda tempo
e trabalho de construção do sujeito em análise. Cabe
àqueles interessados decidir se essa volta vale a pena ou
não.
Espero que tenha respondido sua pergunta.
Att. Diêgo S. Gonçalves
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