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ERRO Artigo de Revisão

DE MEDICAÇÃO
Revisao
~

ERROS DE MEDICAÇÃO: QUEM FOI?


M ÁRIO BORGES R OSA *, EDSON P ERINI
Trabalho realizado na Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais e na
Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG.

RESUMO – Novas tecnologias diagnósticas e terapêuticas são cada sistemas de distribuição de medicamentos por dose unitária. Os
vez mais utilizadas, melhorando a qualidade assistencial e aumen- sistemas possuem graus variados de segurança e devem levar em
tando a expectativa de vida; entretanto, a atenção à saúde vem se conta, na sua construção e funcionamento, as limitações humanas.
tornando mais cara e complexa. Os eventos adversos relacionados Em relação ao uso dos medicamentos, uma mudança de paradigma
à assistência, especialmente os erros, são cada vez mais conhecidos, é necessária, pois não basta um medicamento ter qualidade garan-
discutidos e julgados em tribunais. Os profissionais de saúde, devido tida, mas o seu processo de utilização também deve ser seguro.
à sua formação, não estão preparados para lidar com os erros, pois Os erros de medicação, que são por definição evitáveis, são atual-
estes estão associados à vergonha, ao medo e às punições. A mente um sério problema de saúde pública, levando a perdas de
abordagem dos erros no sistema de saúde é, geralmente, feita de vidas e desperdício importante de recursos financeiros. A aborda-
forma individualista, considerando os erros como atos inseguros gem sistêmica dos erros de medicação poderá revelar as falhas do
cometidos por pessoas desatentas, desmotivadas e com treinamen- processo, sendo possível implementar melhorias, diminuindo, as-
to deficiente. Quando o erro ocorre, a tendência é escondê-lo, sim, a ocorrência desses eventos.
perdendo-se oportunidade importante de aprendizado. Existe ou-
tro modo de lidar com erros, a visão sistêmica, que na sua aplicação UNITERMOS: Erros de medicação. Sistemas de medicação. Sistemas de
apresenta bons resultados em setores como aviação, anestesia e medicação no hospital

INTRODUÇÃO que a outra está fazendo o que deve ser feito suas atividades à vergonha, perda de prestígio
Ainda que sob forte questionamento do até o momento em que os erros acontecem. A e medo de punições. De modo geral, o ambi-
ponto de vista coletivo 1, a utilização de novas partir daí, principalmente quando o erro é ente nas instituições de saúde não é propício
tecnologias diagnósticas e terapêuticas na as- grave, desencadeia-se uma forte pressão para para uma discussão franca sobre o assunto,
sistência à saúde vem promovendo melhoria se descobrir o culpado, normalmente repre- visando a melhoria do sistema como um todo.
na qualidade e aumento da expectativa de vida sentado por um indivíduo 2. O estudo dos erros humanos é recente.
das pessoas no mundo todo. Estas inovações, A mídia, por sua vez, é voraz na cobertura Campo de estudo multidisciplinar, envolve
entretanto, vêm tornando o processo de assis- dos casos desastrosos, procurando revelar conhecimentos sobre psicologia cognitiva, fa-
tência à saúde cada vez mais caro e complexo. detalhes assustadores que acabam atraindo tores humanos, trabalhos de grupos e sociolo-
Paralelamente, cresce também a importância ainda mais a atenção da população. Muitas gia organizacional. O sistema de saúde está
dos eventos adversos que ocorrem durante a vezes, nesses casos, perde-se importante bastante atrasado na aplicação desse novo sa-
assistência prestada ao paciente. Estes aconte- oportunidade de aprendizado com o evento ber, a ciência da segurança, que possui alguns
cimentos têm recebido vários nomes, como adverso ocorrido. Todas as energias e aten- modelos de excelência, tais como a aviação e
erros médicos, eventos adversos relacionados ções se voltam para a descoberta do culpado. as companhias geradoras de energia nuclear4,5.
à internação, agravos à saúde, iatrogenia médi- Aliviada a tensão, outros assuntos ocupam o Não obstante esse atraso, a formação dos
ca, erros de medicação e outros. noticiário até que um novo acidente aconteça. profissionais que lidam com vidas humanas é
Muitas são as condições facilitadoras para Nos países ocidentais, o sistema jurídico fortemente marcada pela busca da infalibilida-
que os erros aconteçam no sistema de saúde e, vigente está de tal forma estruturado que pe- de. Seja na graduação ou nos treinamentos
em geral, existe em relação a eles uma espécie naliza, na maioria das vezes, o indivíduo, dan- em serviço, a mensagem hegemônica é de que
de silêncio consentido entre as partes envolvi- do pouco valor às causas sistêmicas que contri- “os erros são inaceitáveis, porque um doente
das: organizações provedoras de serviços, ór- buíram para que o erro acontecesse. As inves- está em suas mãos”. Inicia-se aí a extrema
gãos de classe, instituições reguladoras, profis- tigações do fato que ocorreu tendem a ser dificuldade de médicos, enfermeiros, farma-
sionais da área e pacientes. Cada uma acredita obscurecidas pela necessidade rápida de se cêuticos e outros profissionais lidarem com o
encontrar uma causa e um responsável, che- erro humano nas organizações de saúde 6.
gando-se, muitas vezes, a conclusões precipi- Quando algum acidente ocorre, a tendên-
tadas e simplistas3. cia é procurar escondê-lo. Quando isso não é
*Correspondência: Muitos paradigmas são desafiados quando possível, o foco é geralmente dirigido às pesso-
R. Valdir Leite Pena, 185 – apto. 303
31140-420 – Belo Horizonte – MG
se fala em erros de medicação. Os profissionais as, negligenciando-se a busca das causas
mariobr@uai.com.br de saúde normalmente associam falhas nas sistêmicas do problema. Alguns estudos

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demonstram que a maioria dos eventos adver- primeiros têm sido motivo de atenção e estu- imprecisão permanece como um obstáculo a
sos é resultante de deficiências nos sistemas, e do nos países desenvolvidos, pois são os tipos uma visão real do problema dos eventos ad-
não devido a falhas individuais 3. de evento adverso mais comuns relacionados versos. Nos últimos anos, um grande esforço
Os anos 90 marcam um aumento das à internação, afetam um grande número de vem se desenvolvendo para se chegar a uma
abordagens sensacionalistas na mídia sobre pessoas e aumentam de forma importante os taxonomia consensual. Destacam-se, nesse
erros na saúde e um crescimento das conten- custos do sistema de saúde 14. Quanto aos esforço, duas importantes organizações norte-
das judiciais, tanto em número de processos erros de medicação, revela-se uma importan- americanas, o National Coordinating Council
quanto no valor financeiro das indenizações. O te peculiaridade conceitual que é a possibilida- for Medication Error Reporting and Prevention
paciente tornou-se mais contestador e exigen- de de sua prevenção 15. (NCCMERP) e a American Society of Health-
te, forçando uma mudança de atitude dos A discussão deste assunto, no Brasil, ainda System Pharmacists (ASHP). A primeira congre-
prestadores de serviços. A assistência à saúde é incipiente. Escassos trabalhos foram publica- ga vinte organizações com representantes de
passou a ser, cada vez mais, uma forma de dos sobre alguns aspectos pontuais do proble- profissionais da saúde, consumidores e institui-
prestação de serviços sujeita às leis contratuais ma e não existe ainda instituição do governo ou ções do governo dos EUA, muito respeitada
e suas conseqüências nas áreas cível e penal. privada que cuide especificamente do assunto. pela legitimidade de suas ações para detecção
Atualmente, os eventos adversos que ocor- A Agência Nacional de Vigilância Sanitária e prevenção dos erros de medicação.
rem na saúde são considerados um importante (ANVISA) criou, no ano de 2001, um projeto A seguir são descritos os conceitos sobre
problema de saúde pública nos EUA7-11. Desse de hospitais sentinela que começa a tratar do os acidentes que ocorrem com os medica-
quadro conturbado, surgiram ações direcio- problema, tentando construir uma rede de mentos. Ressalte-se que a terminologia apre-
nadas a melhor conhecer o problema e tomar hospitais de referência que irá fornecer dados sentada é a mais aceita atualmente, não po-
medidas para preveni-los e tratá-los. Isso tem sobre eventos adversos. Considerando as de- dendo ser assumida como definitiva dada à
ocorrido principalmente nos Estados Unidos ficiências do sistema de saúde brasileiro, tais polêmica que ainda desperta:
da América (EUA), onde várias instituições como a insuficiência de verbas, a baixa remu- Denominam-se “acidentes com medica-
governamentais e não governamentais, órgãos neração, múltiplas jornadas de trabalho, o pre- mentos” todos os incidentes, problemas ou
representativos de classe e de pacientes pos- paro técnico inadequado dos trabalhadores, o insucessos, inesperados ou previsíveis, pro-
suem hoje, como principal foco de atenção, os atraso tecnológico e outras mazelas, pode-se duzidos ou não por erro, conseqüência ou
erros médicos. supor que, no Brasil, os eventos adversos não de imperícia, imprudência ou negligên-
O número de erros que ocorre no sistema tenham uma dimensão importante, com rele- cia, que ocorrem durante o processo de
de saúde é cada vez mais evidente e inaceitá- vantes prejuízos humanos e materiais. Sendo utilização dos medicamentos. Esse conceito
vel, e medidas precisam ser tomadas para assim, este artigo tem por objetivo apresentar engloba toda a seqüência de procedimentos
mudar esse cenário. Pesquisas demonstram uma discussão e atualização sobre os conceitos técnicos ou administrativos, causem ou não
que a maioria dos eventos adversos podem ser pertinentes à área com um direcionamento dano ao paciente 9,16. Acidentes com medica-
evitados, demonstrando a possibilidade de vi- sobre a questão específica dos erros de medi- mentos são, pois, todos os “eventos adver-
das serem salvas, sofrimentos evitados e de cação. Ele é parte de uma investigação em um sos” relacionados a medicamentos, os quais,
significativa economia de recursos2. hospital de grande porte, cujos resultados se- por sua vez, se dividem em “reações adver-
Na verdade, os erros médicos, e em par- rão apresentados em outros artigos. O objeti- sas” e “erros de medicação”.
ticular os erros de medicação, vêm sendo vo é, entretanto, mais que estabelecer as bases Os eventos adversos relacionados a medi-
objetos de artigos científicos há muitos anos. O conceituais que orientam a investigação, iniciar camentos, por sua vez, são considerados
aumento na quantidade de trabalhos publica- um debate sobre o assunto. Salienta-se que, como qualquer dano ou injúria causado ao
dos a partir da década de 90 reflete o grande não obstante sua apresentação esteja concen- paciente pela intervenção médica relacionada
interesse despertado pelo assunto, motivado trada em eventos ocorridos nos hospitais, o aos medicamentos 17. A ASHP 18 define-os
pelas questões acima referidas, e permitiu que escopo conceitual não se limita a tão-somente como qualquer injúria ou dano advindo de
os conceitos sobre esses eventos fossem esse ambiente, mas também a qualquer situa- medicamentos, provocados pelo uso ou falta
melhor definidos, embora persistam ainda im- ção em que os medicamentos são objeto de do uso quando necessário. A presença do
precisões e divergências importantes. O mais trabalho ou investigação. dano é, portanto, condição necessária para a
inquietante é que, devido ao restrito conheci- caracterização do evento adverso19.
mento epidemiológico sobre eles, os dados CONCEITUAÇÃO Reação adversa a medicamento, ou RAM,
atuais são subestimados. Houvesse sistemas Persiste ainda uma certa imprecisão é definida como qualquer efeito prejudicial ou
seguros para medir a prevalência e magnitude, conceitual nos termos utilizados para denomi- indesejado que se apresente após a adminis-
todos estaríamos face a face com taxas bem nar os efeitos negativos derivados da utilização tração de doses de medicamentos normal-
mais altas12,13 . dos medicamentos. A existência de diferentes mente utilizadas no homem para profilaxia,
Os eventos adversos relacionados a medi- nomenclaturas dificulta a comparação entre os diagnóstico ou tratamento de uma enfermida-
camentos e os erros de medicação são ocor- estudos realizados e os profissionais, muitas de20. Sua definição expressa o risco inerente
rências comuns, impõem custos importantes vezes, não sabem classificar um evento que de problemas com os medicamentos quando
ao sistema e são clinicamente relevantes. Os presenciaram ou que irão notificar. Essa usados corretamente.

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ERRO DE MEDICAÇÃO

Erro de medicação é qualquer evento evi- Figura 1 - Relação entre acidentes com medicamentos, eventos adversos relacionados a
tável que, de fato ou potencialmente, pode medicamentos, reações adversas a medicamentos e erros de medicação.
levar ao uso inadequado de medicamento. Fonte: Otero & Domínguez-Gil, 2000, p.261, com permissão dos autores
Esse conceito implica que o uso inadequado
pode ou não lesar o paciente, e não importa se
o medicamento se encontra sob o controle de
profissionais de saúde, do paciente ou do con-
sumidor. O erro pode estar relacionado à
prática profissional, produtos usados na área
de saúde, procedimentos, problemas de co-
municação, incluindo prescrição, rótulos, em-
balagens, nomes, preparação, dispensação,
distribuição, administração, educação, moni-
toramento e uso de medicamentos 18,21.
Felizmente, muitos erros não chegam a
lesar os pacientes. A maioria desses eventos é
banal e não produz efeitos nocivos nos pacien-
tes19, fazendo com que não possam ser classi-
ficados dentro do conceito anterior, como
eventos adversos. Entretanto, todos os tipos
de erros - sejam eles banais ou não - devem ser tem por volta de 43 especialidades profissio- Os erros derivados do modo mais elabo-
investigados, pois podem produzir eventos nais que estudam os erros humanos 22, de- rado de resolução de problemas ocorrem pela
adversos, dependendo da conjunção de fato- monstrando a complexidade multidisciplinar falta ou insuficiência de conhecimento sobre a
res que atuam em situações específicas de desse campo de conhecimento. atividade ou tarefa que está sendo executada
utilização de medicamentos. Psicólogos e especialistas de outras forma- ou, também, como resultado de erro na inter-
Os eventos adversos preveníveis e poten- ções vêm estudando, nessas últimas décadas, pretação do problema a ser solucionado. Os
ciais relacionados a medicamentos são produ- os mecanismos que influenciam na ocorrência fatores que agem no modo automático, tam-
zidos por erros de medicação, e a possibilida- dos erros. Basicamente, apontam a existência bém influenciam negativamente na dinâmica
de de prevenção é uma das diferenças de duas maneiras pelas quais a mente humana que demanda mais energia e intelecto 6.
marcantes entre as reações adversas e os erros resolve os problemas: um modo automático, O conhecimento da dinâmica cerebral de
de medicação. A reação adversa a medica- rápido, e outro mais lento, que requer ativida- resolução de problemas é importante, pois o
mento é considerada como um evento inevitá- de mental mais intensa. O primeiro requer planejamento, produção e desenho de ambi-
vel, ainda que se conheça a sua possibilidade pouco esforço mental, não havendo a necessi- entes de trabalho e equipamentos não ade-
de ocorrência, e os erros de medicação são, dade de “pensar”. Pode-se citar, como exem- quadamente dimensionados às limitações hu-
por definição, preveníveis. Decorre disso que, plo, o fato de que para dirigir um carro não é manas têm como resultado uma maior sus-
com ações bem planejadas, é possível prevenir necessário pensar nos passos a serem executa- ceptibilidade aos erros. Os conhecimentos
os erros, melhorando a qualidade de assistên- dos de forma consecutiva. Ele é inconsciente, sobre os fatores humanos auxiliam no enten-
cia prestada nas unidades de saúde. A Figura 1 sendo alterado somente quando alguma mu- dimento sobre o porquê e como as pessoas
mostra a relação entre os conceitos de aciden- dança no procedimento usual o exige. O outro erram, demonstrando que os fatores sistê-
tes com medicamentos, eventos adversos re- modo usado pelo cérebro para solucionar micos influenciam, de forma decisiva, nas
lacionados a medicamentos, reações adversas problemas requer a aplicação de normas e falhas humanas 3.
e erros de medicação. conhecimento prévio da atividade. Este meca- Os acidentes ou erros possuem uma pri-
nismo é consciente, lento, seqüencial e, muitas meira e uma segunda história. A primeira expli-
ESTUDOS DOS ERROS HUMANOS vezes, difícil6. ca o acidente de forma simples, imputando aos
Até a década de 70, os erros humanos Quando os erros se relacionam à dinâmica fatores humanos a sua principal causa. É bas-
eram considerados inevitáveis e inacessíveis ao mental automática são chamados de deslizes ou tante singela: encontra-se um responsável
escrutínio científico. Quando ocorriam, o lapsos. Fatores como fadiga, horas de sono pelo delito e a investigação está encerrada. A
clichê “errar é humano” era usado como uma insuficientes, uso de álcool e drogas, frustrações análise do erro é prejudicada pelo conheci-
justificativa. A partir de 1970, estudos mais pessoais, medo, ansiedade, raiva, estresse, ba- mento prévio do resultado adverso ocorrido.
detalhados sobre erros são realizados, de- rulho e calor excessivos podem desviar a aten- Isto bloqueia o conhecimento detalhado da
monstrando que, a despeito da variedade das ção da pessoa e, influindo nesse modo automá- situação como um todo que levou ao erro,
circunstâncias em que acontecem, eles pare- tico de pensar, aumentam o risco de erros 6. Os levando a conclusões superficiais sobre a causa
cem ter origem comum em alguns mecanis- erros são menos numerosos quando predomi- do acidente. Analisam-se somente o local e os
mos mentais específicos 5 . Atualmente, exis- na o modo automático de pensar 5. profissionais que interagiram diretamente com

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o acidente (“sharp end”). Os casos célebres de são falíveis e que todas as organizações, inclu- permanecem como obstáculos à melhoria da
erros médicos possuem uma forte tendência indo aquelas de excelência em segurança, irão segurança na área de saúde:
de somente investigar a ponta da linha, rele- conviver com uma certa taxa de erros. Esta a. a complexidade inerente ao sistema;
vando muitos detalhes do fato ocorrido e abordagem destaca os erros como conse- b. a falta de definição clara de quem é o dono
perdendo com isso a chance preciosa de se qüências e não causas, imputando grande im- ou chefe;
aprender com o erro3. portância à segurança dos sistemas. A aborda- c. a informação não estar disponível no mo-
A segunda história é uma análise profunda gem sistêmica tem como norma ser melhor mento em que é necessária;
das causas que contribuíram para que o erro mudar o sistema e torná-lo mais seguro do que d. a tolerância a práticas individualistas;
ocorresse. São investigados todos os fatores mudar as condições humanas. Quando ocorre e. o caráter incomum da ocorrência de casos
que interferiram no problema: os recursos um erro, procura-se conhecer a segunda his- sérios de erros;
disponíveis, a presença de normas e regula- tória em todos os seus detalhes, e não saber f. o medo de punição.
mentos, as condições ambientais presentes, os quem foi e aplicar punições 3,24.
equipamentos envolvidos no problema, a car- Os sistemas complexos apresentam uma ORGANIZAÇÕES MODELO EM SEGURANÇA
ga de trabalho da equipe presente no momen- combinação de múltiplas falhas que, indivi- A aviação é uma organização considerada
to do erro, e vários outros aspectos. O conjun- dualmente, não representam um risco consi-
modelo em termos de segurança. Seus traba-
to de informações sobre esses fatores (“blunt” derável de acidente. Estas falhas são chamadas
ou “dull end”) é que leva ao conhecimento das lhadores operam em um sistema complexo,
latentes e seu comportamento varia de acordo
falhas latentes, geralmente presentes em várias com inúmeras interfaces entre pessoas e
com a mutabilidade do sistema, característica
etapas do processo e que podem se tornar tecnologia e, mesmo assim, possui índices de
intrínseca de sua existência. A somatória das
ativas dependendo da situação. As empresas e acidentes extremamente baixos. Os aciden-
ações das diversas falhas pode ou não ter como
segmentos da saúde que conseguiram ganhos resultado um acidente, pois todo sistema se tes aeronáuticos são raros, altamente visíveis
expressivos em qualidade obtiveram dados constitui também por um complexo de defesas e dão origem a exaustivas investigações para
importantes para implementar melhorias que tendem a evitar o desfecho adverso 3. se saber tudo o que envolveu o acidente,
sistêmicas, estudando e aprendendo lições Uma das características marcantes da com o propósito maior de aprender com os
com a segunda história 3,23. abordagem pessoal dos erros humanos é acu- erros e evitar outros acidentes. Ao contrário,
A análise sobre os erros humanos pode sar indivíduos. Essa é sempre uma atitude mais os erros médicos são, na sua maioria, pouco
ser feita de duas maneiras: a abordagem pes- fácil e menos comprometedora do que culpar visíveis, subnotificados, e não existem pa-
soal e a sistêmica. Estes dois tipos de aborda- instituições, pois os indivíduos são mais frágeis drões ou métodos de investigação e docu-
gem são praticamente antagônicos e influenci- e um alvo facilmente identificável. Essa carac- mentação. O conhecimento obtido com o
am, diretamente, no entendimento das causas terística está relacionada à visão simplista de estudo do erro ocorrido não é difundido 4.
e conseqüências dos erros humanos. O siste- que, se alguma coisa vai mal, é sempre por A aviação nos EUA possui um órgão inde-
ma de saúde adota, em sua maioria, a aborda- causa das pessoas; afinal, errar é humano! Do pendente, a Aviation Safety Reporting-System
gem individual na análise e tomada de decisão ponto de vista legal, também é mais conveni- (ASRS), operado pela National Aeronautics &
sobre os erros médicos 24. ente culpar as pessoas do que as instituições24. Space Administration (Nasa) e fundado pela
A abordagem pessoal considera que os O tipo de relação que a sociedade e a área Federal Aviation Administration (FAA). Esse
erros resultam de atos inseguros cometidos da saúde estabelece com os erros e com órgão desenvolveu um sistema inteiramente
por pessoas. Pode-se citar, como erro, uma aqueles que erram é relevante, pois é um dos confidencial para receber notificações de inci-
situação em que um profissional não seguiu maiores obstáculos ao conhecimento e pre- dentes de pilotos, comissários ou qualquer
um procedimento pré-definido e, como con- venção desses eventos. Como conseguir da- outra pessoa. As informações são revisadas
seqüência, ocorreu uma falha. Este modo de dos fidedignos e em número significativo sobre por especialistas e o notificador recebe infor-
análise considera que os erros acontecem erros se quase sempre a primeira pergunta é mações e esclarecimentos sobre o resultado
devido à falta de atenção, baixa motivação, “quem foi?”, seguida de medidas disciplinares? dos estudos. Em nenhum momento o nome
negligência ou desvio de conduta 23,24. As cor- É preciso que o foco sistêmico seja adotado da pessoa é revelado para fins judiciais, sendo
reções provenientes da abordagem pessoal pela área de saúde, construindo sistemas mais um sistema não punitivo e confidencial. As
significam, quase sempre, medidas disciplina- seguros, planejados, de forma a considerar as informações processadas, e com os nomes dos
res como reprimendas orais ou escritas, sus- limitações humanas23,24. notificadores retirados, podem ser acessadas
pensões, punições e até demissão. É de se Para Leape6, prevenir acidentes em hospi- pelas companhias aéreas com a finalidade de
concluir que um indivíduo, quando comete tais não tem sido um foco de atenção primário melhorar a segurança de vôo 3.
um erro em um ambiente regido por essas como é feito na indústria. Quando ocorrem os O ambiente onde trabalham os profissio-
normas, tenha vergonha, medo e frustração, erros, são tomadas medidas paliativas, tais nais de saúde é certamente mais complexo do
entre outros sentimentos negativos. A men- como treinamento mais apurado em determi- que os “cockpits” dos aviões; entretanto, algu-
sagem passada é: “coisas erradas acontecem nada atividade e novas checagens de procedi- mas lições podem ser aprendidas com a avia-
com pessoas ruins”24. mentos, não sendo avaliado se, na verdade, a ção. Os erros devem ser estudados em todos
A visão sistêmica considera que os homens insegurança é inerente ao processo. Para ele, os seus aspectos e dentro de uma abordagem

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ERRO DE MEDICAÇÃO

não punitiva e os notificadores dos eventos a implantação da dose unitária, esta taxa dimi- lapso que, a princípio, aparenta pouca impor-
devem receber retorno da informação que nuiu para dois ou três erros/paciente/semana. tância. Uma situação dessa pode ser
gerou. Tal qual a aviação, há a necessidade de Os hospitais americanos começaram en- exemplificada quando o médico faz o diagnós-
um órgão ou setor independente que possa tão, a partir do final da década de 60, a implan- tico correto e prescreve o medicamento certo
receber informações sobre erros, protegendo tação da dose unitária. Com este novo sistema, da forma adequada. A seguir, o farmacêutico
a identidade de quem informou 4. a enfermagem diminui o tempo gasto na pre- dispensa, apropriadamente, o medicamento e
paração de medicamentos, dedicando maior a enfermeira vai então fazer a administração,
SEGMENTOS DA SAÚDE COM HISTÓRICO atenção ao paciente. Os erros são diminuídos usando uma bomba de infusão. O equipamen-
DE SUCESSO NA REDUÇÃO DE ERROS drasticamente e se obtém importante redução to é um novo modelo e a enfermeira não está
nos gastos com a aquisição de produtos farma- bem familiarizada com o seu funcionamento. A
Anestesia cêuticos29,30. profissional chama o técnico responsável da
Na área médica, a especialidade de anes- empresa do equipamento, mas ele não res-
Mudança de paradigma no uso dos
tesia foi pioneira no estudo dos fatores huma- ponde ao chamado. A enfermeira lê o manual,
medicamentos
nos, conseguindo diminuir dramaticamente as que é confuso, e decide infundir o medicamen-
mortes durante o ato anestésico. Após os O conceito de segurança no uso dos me- to, pois a situação do paciente assim o exige. A
estudos de Beecher & Todd 25, em 1954, e a dicamentos não é estático. Ele muda conforme bomba de infusão apresenta então um proble-
partir da década de 70, com a utilização do avançam os conhecimentos sobre farmacolo- ma de gotejamento e libera livremente para o
método de estudo de erros chamado “técnica gia, sendo também alterado ao longo do tem- paciente o fármaco que deveria ser administra-
do incidente crítico”, a segurança do trabalho po pelas situações desastrosas que acontecem do em oito horas a cinco mililitros por hora. O
dos anestesistas aumentou consideravelmen- com o uso dos fármacos. Na década de 60, a medicamento termina a infusão em uma hora
te26. A mortalidade caiu de 2/10.000 procedi- tragédia da focomelia em bebês de mães que e o paciente apresenta então crise renal aguda
mentos para 1/200.000 a 300.000 27. fizeram uso da talidomida acarretou um efeito e evolui com o comprometimento permanen-
A Anesthesia Patient Safety Foundation foi colateral benéfico, ao tornar mais rígidas as te do funcionamento dos seus rins. Neste caso,
criada em 1985 e vem desenvolvendo ativida- normas para os ensaios clínicos de drogas e como classificar a situação nos velhos moldes?
des para aperfeiçoar a segurança no trabalho aumentar e melhor definir as responsabilida- Houve falhas no processo, entretanto, nenhu-
dos anestesistas. O sucesso nessa área mostra des dos órgãos governamentais e indústrias ma delas pode ser classificada como reação
que certos segmentos profissionais podem al- farmacêuticas sobre os produtos farmacêuti- adversa a medicamento, sendo na verdade
terar uma situação adversa, conseguindo mu- cos lançados no mercado19. Nessa década sur- uma sucessão de eventos adversos evitáveis
dar cenários com a implantação do modo gem os programas de farmacovigilância, cujo que resultaram em um dano significativo para o
sistêmico de abordagem dos erros humanos 2. principal objeto de interesse são as reações paciente.
adversas a medicamentos que acontecem A segurança do uso dos medicamentos se
Dose unitária de medicamentos após o lançamento do produto no mercado. O divide, então, em dois segmentos: o primeiro
em hospitais importante para a farmacovigilância é avaliar a busca a garantia de que o produto seja eficaz e
Barker e MacConnel 28, em trabalho pio- segurança de uso dos medicamentos comer- seus efeitos nocivos conhecidos e aceitáveis, e
neiro, demonstraram que o sistema tradicio- cializados, tomando-se como base a experi- o segundo garantir que o processo de utiliza-
nal de distribuição de medicamentos cen- mentação dos ensaios clínicos e, diante de suas ção do medicamento seja seguro em todas as
trado nas atividades de enfermagem apre- limitações metodológicas, estabelecer a vigi- suas etapas 19. Muitos dos problemas surgidos
senta taxa de 16,2% de erros de medicação. lância das reações adversas a partir do mo- com o uso dos medicamentos não se enqua-
Posteriormente, surgiram propostas de um mento em que os medicamentos passam a ser dram no conceito de reação adversa a medica-
novo método de distribuição, a dose unitária, consumidos em larga escala. mento, pois acontecem em doses ou condi-
no qual, os medicamentos já são distribuídos A partir da década de 90, novos conheci- ções não usuais de tratamento e profilaxia. Essa
pela farmácia, prontos para serem adminis- mentos sobre medicamentos despontam e a razão pela qual foram então propostos os
trados pela enfermagem. antigos paradigmas são quebrados: não basta conceitos para eventos adversos relacionados
Pesquisadores norte-americanos descre- um medicamento ser seguro, no seu sentido a medicamentos e erros de medicação.
veram que a mudança do sistema tradicional intrínseco, mas deve-se também garantir a O processo de utilização dos medica-
para a dose unitária diminuiu a taxa de erros de segurança do seu processo de uso. Vários mentos nos hospitais é complexo, envolven-
13% para 1,9%29. Com a implantação da dose autores demonstraram que falhas em etapas do de 20 a 30 etapas diferentes. Implica na
unitária, a administração de doses erradas foi do uso dos medicamentos, muitas vezes sem atuação de diversos profissionais, transmis-
reduzida em mais de 80% 30. Barker et al. 31 e relação com a segurança do medicamento são de ordens ou materiais entre pessoas,
Barker & Allan 32, analisando as taxas de erros como produto, leva a importantes agravos à contendo, cada elo do sistema, potenciais
de medicação publicadas em outros trabalhos, saúde dos pacientes, com relevantes reper- variados de ocorrência de erros. Uma redu-
estimaram uma taxa de um erro/paciente/dia cussões econômicas e sociais 9,14,15,19. ção real dos erros de medicação somente
nos hospitais que utilizavam o sistema tradi- A falha em uma das etapas do uso dos será obtida com uma análise sistêmica do pro-
cional de distribuição de medicamentos. Com medicamentos pode ocorrer por distração ou cesso, a detecção dos seus pontos vulneráveis

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e a implementação de medidas para diminuir The approach to errors in the health system is 9. Manasse HR Jr. Medication use in a imperfect
as taxas dos eventos adversos preveníveis33. usually individualistic, considering such events as world: drug misadventuring as an issue of
public policy, part 1. Am J Hosp Pharm 1989;
Outro aspecto a ser considerado é relativo acts of insecurity performed by careless, non- 46(5): 929-44.
à qualidade e à quantidade de informações motivated and ill-trained persons. The tendency 10. Manasse HR Jr. Medication use in a imperfect
fornecidas ao paciente sobre os medicamen- is to hide errors when they occur, with the result world: drug misadventuring as an issue of
that an important learning opportunity is lost. public policy, part 2. Am J Hosp Pharm 1989;
tos que utiliza. A informação adequada sobre a 46(6): 1141-52.
doença e seus sintomas característicos, a ênfa- There is another way to deal with errors, a 11. Manasse HR Jr. The paradox of medication
se na necessidade de se cumprir o tratamento systemic view that has obtained positive results use. In: Zipperer L, Cushman S, editors.
prescrito e a disponibilização de conhecimen- in sectors such as aviation, anesthesiology and Lessons in patient safety. Chicago: National
unit-dose drug distribution systems. These Patient Safety Foundation; 2001. p.73-80.
to apropriado sobre medicamentos ao pacien- 12. General Accounting Office of the United
te são aspectos importantes na adesão ao systems have varied degrees of safety and should States. Adverse drug events: the magnitude of
tratamento farmacológico, na melhora dos re- take into account human limitations when health risk is uncertain because of limited data
sultados obtidos e na redução das taxas de designed and applied. A change in paradigm is [on line]. Washington: GAO; 2000. [cited
needed when dealing with drugs, as it is not 2001 Sept 15] Available from: URL: http://
erros de medicação. O papel de educadores www.gao.gov.
sobre medicamentos cabe principalmente aos enough for a drug to have quality assurance, but 13. Weingart SN, Wilson RM, Gilberd RW,
profissionais de saúde, que devem dispor de the complete process of drug use should be safe. Harrison B. Epidemiology of medical error.
tempo e habilidade para exercer esta impor- Medication errors, avoidable by definition, are at BMJ 2000; 320(7237):774-7.
present a serious public health issue, leading to 14. Leape LL, Brennan TA, Laird N, Lawthers AG,
tante atividade, que é o aconselhamento do Localio AR, Barnes BA, et al. The nature of
paciente34 . loss of lives and significant financial losses. A adverse events in hospitalized patients: results
O conhecimento atual sobre erros de systemic approach to medication errors may of the Harvard Medical Practice Study II. N
medicação ainda não possibilita uma visão real disclose failures in the process as a whole, and Engl J Med 1991; 324(6):377-84.
improvements can be implemented to reduce 15. Brennan TA, Leape LL, Laird NM, Hebert L,
e sistêmica da dinâmica desses eventos adver- Localio AR, Lawthers AG, et al. Incidence of
sos12,13. Verifica-se, nos numerosos estudos their occurrence. [Rev Assoc Med Bras 2003; adverse events and negligence in hospitalized
publicados, que a dimensão desses eventos é 49(3): 335-41] patients: results of the Harvard Medical
Practice Study I. N Engl J Med 1991;
bem maior do que a imaginada. Vidas são
KEY WORDS: Medication errors. Medication 324(6):370-6.
perdidas ou limitadas e valiosos e muitas vezes 16. Manasse HR Jr. Medication misadventuring as a
escassos recursos financeiros são consumidos systems. Medication Systems. Hospital. public policy issue. In: Scovitz A, Pathak DS,
em decorrência dessas falhas no processo de Schneider PJ, editors. Improving the quality of
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falível, não pode pretender isso; entretanto, é Washington: National Academy of the Institute 18. American Society of Healthy-System Phar-
preciso ter humildade e sabedoria para apren- of Medicine; 1999. macists. Suggested definitions and relation-
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der com os erros cometidos e usar este conhe- stories: contrasting views on patient safety [on
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Rev Assoc Med Bras 2003; 49(3): 335-41 341

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