MARCIO QUEIROZ
TERESINA-PI
JUNHO – 2017
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MARCIO QUEIROZ
_______________________________________________________________ Examinador
FACULDADE EVANGÉLICA DO PIAUÍ
_______________________________________________________________ Examinador
FACULDADE EVANGÉLICA DO PIAUÍ
_______________________________________________________________ Examinador
FACULDADE EVANGÉLICA DO PIAUÍ
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QUEIROZ, Marcio1
RESUMO
ABSTRACT
The biblical typology is a hermeneutical technique for understanding New Testament spiritual
truths in the light of the Old Testament. The type most found in the Old Testament refers to an
antitype always found in the New Testament. Both type and antitype can be people, things or
events. Most of the time the type is messianic and usually refers to aspects of the work of
salvation. Two main characteristics are - the historicity and prophetic character of the type. The
typology allows a systematization of the study of the Word, concatenating both testaments,
since all interpretation of the Word should not be done by itself. God, through His Word, gives
us an instrument to search out the treasures hidden by Him.
Keywords: Biblical Typology, Biblical Hermeneutical.
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Graduado em Direito – UFPR. Pós-Graduado em Sociologia Política – UFPR e em Gestão
Pública Com Habilitação em Políticas Públicas – IFPR. Email: marcioqrz@live.com.
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE TIPOLOGIA BÍBLICA
TERESINA 2017
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1 INTRODUÇÃO
A tipologia bíblica não é um assunto muito comum para a maioria dos cristãos. Ela é
uma importante ferramenta hermenêutica das Escrituras, pois estrutura sistematicamente a
Palavra de Deus, facilitando interpreta-la de forma coesa.
Através da tipologia, o Antigo Testamento é interligado com o Novo Testamento.
Verdades tratadas no Novo Testamento são representadas por riqueza de detalhes no Antigo
Testamento, demonstrando o caráter sobrenatural da revelação divina.
Jesus utilizava parábolas, tipos e alegorias para ilustrar suas pregações, de modo a
facilitar e interpretação de verdades espirituais, através de paralelos de modelos matérias, mais
fáceis de serem entendidos, por outro lado, dificultava a interpretação dos não escolhidos, pois
a verdades dependiam de revelação divina.
Deus ilustra, no Antigo Testamento, o santuário celestial por meio do Tabernáculo de
Moisés, feito por instruções fidedignas, conforme a Carta aos Hebreus 9.23-24 relata. É a
maneira que Deus encontrou de demonstrar verdades espirituais por meio de coisas terrestres.
O Novo Testamento é repleto de tipos que possuem seus respectivos antítipos no Antigo,
tendo como figura central Cristo, que é o começo, o meio e fim de todas as coisas.
O tipo diferencia das outras figuras de linguagem utilizadas na Bíblia, pois a pessoa,
coisa ou cerimônia utilizada, refere-se a eventos futuros, isto é, o tipo tem um caráter profético.
Por exemplo, Adão é o primeiro tipo de Cristo, em I Coríntios 15.45b, Ele é chamado
de último Adão. O primeiro homem foi feito alma vivente, o último homem (Adão) espírito
vivificante.
2 TIPOS HUMANOS
libertador (At. 7.35) / Libertador (Rm. 11.26; I Ts. 1.10).” (HABERSHON, 2003, 163)2
Moisés é um tipo de contrastes também, assim como Adão. Adão simboliza a entrada
da morte por um homem, Jesus a ressurreição dos mortos por um homem.
Moisés representa a Lei, Jesus a graça e a verdade. A glória da Lei era tal que Moisés
tinha que cobrir o rosto quando descia do monte, entretanto ela desvanecia. A glória da graça é
tal que em 2Co. 3.6 é chamada de glória excelente. Moisés simboliza a primeira Páscoa, Jesus,
a última.
A importância do conhecimento dos tipos para interpretação bíblica pode ser
exemplificada quando analisamos o seguinte texto:
“E Pedro, tomando a palavra, disse a Jesus: Senhor, bom é estarmos aqui; se queres, façamos
aqui três tabernáculos, um para ti, um para Moisés, e um para Elias. E, estando ele ainda a falar,
eis que uma nuvem luminosa os cobriu. E da nuvem saiu uma voz que dizia: Este é o meu amado
Filho, em quem me comprazo; escutai-o.” (Mt. 17.4-5)
Aqui encontramos três tipos diferentes, Elias é tipo dos profetas, Moisés da Lei e Jesus
da Graça. Quando Pedro pensa em construir três tabernáculos e colocar a Lei e os profetas no
mesmo nível da Graça, Deus intervém e determina que devemos escutar apenas a pregação da
Graça. Em Romanos esse texto é esclarecido. Moisés representa as obras da Lei, Jesus a Justiça
de Deus que vêm pela fé. Jesus, a Justiça de Deus, foi manifesto e a Lei e os profetas
testemunharam. “Por isso nenhuma carne será justificada diante dele pelas obras da lei, porque
pela lei vem o conhecimento do pecado. Mas agora se manifestou sem a lei a justiça de Deus,
tendo o testemunho da lei e dos profetas” (Rm. 3.20-21).
José é outro importante tipo de Cristo. Assim como Cristo, os irmãos não acreditavam
nele, mas ele foi escolhido para salvar seu povo. Enquanto José foi vendido como escravo por
vinte peças de prata, Jesus foi traído por 30 moedas de prata. Ninguém era tão criterioso e sábio
quanto José, em Jesus está todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento.
José reconheceu seus irmãos, mas eles não o reconheceram. Jesus conhecia os homens
(2 Jo. 2.24.25), mas o mundo não o reconheceu. Veio para o que era seu, mas os seus não o
reconheceram. Jesus foi morto pelo seu próprio povo, seus irmãos.
Os irmãos de José, depois de grande fome, descem ao Egito e José movido por grande
misericórdia os recebe e o relacionamento entre eles é restaurado. Esse fato é tipo da conversão
escatológica de Israel durante a grande Tribulação.
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HABERSHON, Ada, Manual De Tipologia Bíblica, 2003.
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Davi é tipo de Cristo. Ele foi ungido pelo comando de Deus (1 Sm. 16.1,12,13). Jesus
era o Cristo, o ungido de Deus (Lc. 4.18; At. 4.27; Hb. 1.9). Davi era pastor (1 Sm. 16.11),
Jesus é o bom pastor (Jo. 10.14). Davi enfrentou Golias com cinco pedras e o matou apenas
com uma delas. Jesus enfrentou Satanás com cinco livros do Pentateuco, mas usou apenas um
para derrota-lo, o de Deuteronômio.
Além dos tipos que simbolizam a pessoa de Jesus, Joel Leitão de Melo cita diversos:
“Eva – a Igreja.
Caim – os que confiam nas suas obras.
Abel – os que confiam no sangue.
Enoque – os santos transladados.
Moisés – os santos ressuscitados.
Noé – “os restantes” que habitarão a nova terra.
Abraão – os crentes que andam na fé.
Ló – os crentes que andam pela vista.
Ismael – a semente carnal.
Isaque – a semente espiritual.
Esaú – a velha natureza.
Jacó – a nova natureza. ” (MELO, 1989, 39)3
Jesus é tipificado por coisas também. Jesus é a luz do mundo. Na criação, no princípio
o universo era caótico, Deus começa a criação separando a luz das trevas. Essa restauração das
coisas na criação é tipo da ordem que Jesus veio trazer ao mundo. Uma figura profética da
restauração espiritual que Jesus estava destinada a trazer a terra.
A arca de Noé é tipo de Jesus. Era a única salvação de uma humanidade condenada.
Aqueles que creram na salvação sobreviveram.
Jesus é o cordeiro que foi dado por Deus de Genesis 22.13. O filho de Abraão estava
condenado a morte, deveria ser sacrificado, porém Deus providencia o cordeiro substituto, que
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MELO, Joel Leitão de, Sombras, Tipos e Mistérios da Bíblia7, 1989.
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foi morto para que nós vivêssemos. Acredita-se que o monte que Abraão levou Isaque para ser
sacrificado, seja o Moriá, mesmo monte em que Israel construiu o Templo, em que eram
oferecidos sacrifícios.
Abraão, neste caso, é tipo humano de Deus Pai, pois sua disposição em sacrificar o seu
próprio filho revela o coração do Pai, em que não hesitou em entregar Jesus no madeiro para
morrer pela humanidade.
Em rumo a terra prometida, o povo hebreu murmurava e pecava contra Deus. Eles
haviam visto muitos milagres, mas o coração incrédulo os levava a duvidar do poderoso Deus.
Números 21 relata que o povo se arrependeu, confessou que haviam pecado contra Deus. Deus
pede a Moisés que faça uma serpente de metal e erguesse no meio do acampamento. Todos que
olhassem para ela seriam curados do pecado e a morte seria transferida para a serpente.
Jesus é a serpente que foi erguida no meio do povo, no madeiro Ele foi erguido para que
a morte não nos atingisse. Jesus declara: “E, como Moisés levantou a serpente no deserto, assim
importa que o Filho do homem seja levantado; para que todo aquele que nele crê não pereça,
mas tenha a vida eterna” (Jo. 3.14,15).
Quando Deus quis provar a fé de Abraão, não recusando de entregar seu próprio filho,
foi específico em determinar que o sacrifício deveria ser realizado no monte Moriá, “o lugar
que Deus lhe havia indicado”4, sendo, nas escrituras, duas vezes mencionado isso.
Posteriormente Davi determina que a construção do templo seja nesse mesmo local.
Quando Satanás incitou Davi a realizar o censo, isso desagradou a Deus. Davi começou
a confiar na sua própria força e num ímpeto de autossatisfação, realizou a contagem do efetivo
de seu exército, para saber o poder de combate de Israel. Davi deixou que seu coração se
elevasse e esqueceu que as vitórias que o exército teve foram exclusivamente pela graça de
Deus.
Uma peste foi enviada a Israel, setenta mil homens caíram. Deus havia mandado o anjo
destruidor para Israel, mas se arrependeu, ordenou que voltasse. Esse local que o anjo estava
era onde ficava a eira de Ornã, o Jebuseu. Davi olhou para os céus e viu o anjo do Senhor, com
a espada desembainhada, estendida sobre Israel, argumentando com Deus para que não deixasse
que esse pecado que ele havia cometido, atingisse o povo.
Deus ordenou, então, que Davi edificasse um altar na eira de Ornã, ou seja, o monte
Moriá. Davi sobe o monte e pede para Ornã o local para edificar o altar, que além de ceder o
local, oferece bois para o holocausto, a lenha e o trigo para as ofertas. Davi recusa, diz que quer
comprar o campo pelo preço justo, “não tomarei para o Senhor o que é teu, nem oferecerei
holocausto que não me custe nada” (1 Cr. 21.24b).
Conforme Gênesis 22, Abraão chamou aquele lugar de “o Senhor proverá”, e ficou
conhecido por “no monte do Senhor se proverá”. Deus respondeu Davi enviando fogo do céu
para queimar o sacrifício.
Estávamos destinados a morte, como consequência do pecado, mas Deus pela sua
misericórdia providencia um sacrifício, Cristo Jesus. Quando deixamos de confiar em nós
mesmos e olhamos para a graça de Deus, somos alcançados por sua misericórdia e graça.
Davi de imediato percebeu que esse era o local que o templo do Senhor deveria ser
construído. A ira que estava destinada ao homem, pela consequência de seu pecado, foi
desviada para o Filho de Deus. Embora o homem tenha escolhido a morte, Deus proveu uma
alternativa. Ou confiamos nas nossas próprias forças e morremos, ou colocamos nossa fé
exclusivamente em Jesus Cristo, o cordeiro que foi dado para morrer por nossos pecados.
4
Gn. 22.3b.
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Em ambas as passagens a graça de Deus é alcançada pela fé. Abraão creu que Deus
poderia, ainda que seu filho Isaque fosse sacrificado, “acreditou que Deus era suficientemente
poderoso para ressuscitá-lo dentre os mortos e, simbolicamente, recebeu Isaque de volta dentre
os mortos (Hb. 11.19)”. Davi teve fé em Deus, e ainda que soubesse que merecia ser punido,
creu na misericórdia de Deus Pai.
No mesmo monte Moriá, Jesus observa a fé da viúva pobre, que deu tudo o que tinha
para sobreviver, como oferta a Deus. Ela tinha fé que Deus era a sua provisão.
5 TIPOS DUPLOS
Tipos são como sombras, produzem a imagem imperfeita dos objetos que fazem
referência (HABERSHON, 2003. p. 21). Muitas vezes o ângulo que a luz incide pode trazer
diferentes imagens. Para a correta interpretação das escrituras é necessário pegar vários tipos
para agrupar as características e apurar a interpretação.
Outros tipos vêm em pares, e mostram diferentes aspectos de uma mesma verdade. É o
caso das aves utilizadas para a purificação dos leprosos. Uma é sacrificada e outra é solta,
representando a morte e ressurreição de Cristo Jesus.
No dia da Expiação havia dois bodes, um era sacrificado e o sangue levado para dentro
do tabernáculo, outro era solto no deserto. O bode solto no deserto representa a expiação, levava
embora a iniquidade, Jesus levou em sua carne todos os nossos pecados, mas isso não era
suficiente para chegar diante de Deus, precisamos ser justificados pelo sangue de Cristo. Além
de se fazer pecado por nós, permitiu que pudéssemos participar parte de sua natureza divina,
por meio de Cristo somos feitos Justiça de Deus.
Quando o povo hebreu saiu do Egito rumo a Canaã, tiveram que atravessar, para sair do
Egito, o mar Vermelho e para adentrar Canaã, o rio Jordão. Em ambos os casos atravessaram
por terra seca. São símbolos do batismo. I Coríntios 10.2 fala que em Moisés eles foram
batizados na nuvem e no mar. O batismo fala de morte e ressurreição de Cristo Jesus. João
Batista pregava o batismo do arrependimento, era requisito básico para entrar no Reino. Quando
o povo hebreu teve que atravessar o mar Vermelho, Deus não deixou que fossem pelo caminho
dos Filisteus, para que não se arrependessem e voltassem para o Egito.
Temos diversos outros tipos duplos, por exemplo o Tabernáculo e o Templo, ambos
dando diferentes aspectos da habitação de Deus. Davi e Salomão, ambos apresentando aspectos
de Jesus com rei.
Elias e Eliseu são tipos de Cristo, possuem muitos pontos semelhantes nos milagres que
realizaram, tanto entre si como com relação a Cristo. As duas ordens de sacerdócio, a de Arão
e a de Malquisedeque também representam o Senhor Jesus como sacerdote.
É interessante notar que cada aspecto de Cristo está representado nos últimos exemplos
dados, ou seja, Jesus sacerdote, profeta e rei.
6 O TABERNÁCULO
E quase todas as coisas, segundo a lei, se purificam com sangue; e sem derramamento de sangue
não há remissão.
De sorte que era bem necessário que as figuras das coisas que estão no céu assim se purificassem;
mas as próprias coisas celestiais com sacrifícios melhores do que estes.
Porque Cristo não entrou num santuário feito por mãos, figura do verdadeiro, porém no mesmo
céu, para agora comparecer por nós perante a face de Deus; (Hb. 9.22-24)
Deus ordenou que Moisés construísse um tabernáculo, com instruções muito precisas,
pois era imagem do tabernáculo celestial.
O tabernáculo era o centro da comunidade hebreia, era o local onde Deus falava com o
seu povo. Mesmo quando o povo se afastava de Deus, o tabernáculo estava lá para lembrar a
aliança que Ele tinha com o seu povo.
Todos os elementos do tabernáculo possuem significado, sendo tipos de Cristo e sua
obra. Ele era dividido em átrio externo, lugar santo e santíssimo lugar, que simbolizam
respectivamente, corpo, alma e espírito do homem.
A pia ou bacia era usada como lavatório. Era uma meia esfera de bronze cheia de água.
O bronze servia como um espelho, quando cheio de água refletia imperfeitamente. Os
sacerdotes usavam para lavar os pés e as mãos. Significa purificação pela Palavra. Os sacerdotes
deveriam se lavar para não morrer quando entrassem na tenda.
corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados da vossa vã maneira de viver que por
tradição recebestes dos vossos pais, mas com o precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro
imaculado e incontaminado”.
O linho fino significa justiça de Deus. Fomos resgatados para sermos Sua justiça. Justiça
aqui não tem o sentido do Direito, de condenação, mas de retidão. Quando vivemos em Cristo,
temos a natureza divina e o resultado é frutos de justiça, praticamos as mesmas obras que Jesus
praticou. Não porque somos bons, mas porque Ele vive em nós, Ele manifesta sua natureza por
meio de nós.
Havia o portão oriental, que era a única forma de acesso ao tabernáculo. O portão estava
sempre aberto, sendo tipo de Jesus. Cristo é a única entrada. Ele declara, “Eu sou o caminho, a
verdade e a vida, ninguém vem ao Pai, senão por mim”.
A porta de entrada era sustentada por quatro estacas, simbolizando os quatro
evangelhos. Havia quatro cores no véu de entrada, também simbolizando os quatro evangelhos:
Cores Evangelho Significado
Púrpura Mateus Realeza, Jesus nosso Rei
Escarlate Marcos Servo, Cristo sofredor, sangue
Branco Lucas Pureza, o filho do homem
Azul João Divino, natureza divina de Cristo
Tabela 1 – representação multiforme de Jesus
O altar de incenso significa as orações do crente. Em apocalipse está descrito que nossas
orações sobem como um cheiro suave às narinas de Deus. É oração em todos os seus aspectos,
súplica, louvor, adoração, agradecimento e intercessão.
Ficava diante do véu que separa o lugar santo do lugar santíssimo. É através da oração
que temos acesso ao trono de Deus, que podemos entrar em sua presença.
O castiçal era uma luminária de ouro com sete lâmpadas. O ouro tipifica a natureza de
Deus. Sete significa os sete espíritos de Deus, o Espírito Santo. O Espírito Santo nos ilumina,
para que também sejamos luz do mundo.
Não se sabe a medida do castiçal, assim como não podemos medir o Espírito Santo. Era
feito de ouro batido, não ouro fino, sugerindo a manufatura divina, bem como o sofrimento de
cristo.
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A mesa dos pães representa a vontade de Deus. Jesus declara: “minha comida é fazer a
vontade daquele que me enviou”, Jesus é o pão da vida. Alimentar-se do pão da vida é não se
conformar com este mundo. Havia doze pães, simbolizando a família de Deus.
Na entrada do lugar santo havia cinco colunas, representando os cinco ministérios de
Efésios 4. As cinco colunas eram cobertas com uma cortina de quatro camadas, de quatro
materiais diferentes:
_linho fino – significa Justiça de Deus;
_peles de cabra – simboliza o pecado;
_peles de carneiro tingidas de vermelho – sangue de Cristo que verteu por nós;
_peles de animal marinho – era durável e resistente, porém não era atraente.
O lugar santo representa a alma do homem. A vontade é a mesa dos pães; a mente, o
candelabro; as emoções, o altar de incenso.
A única luz do ambiente era do castiçal. A mente do crente deve receber a iluminação
do Espírito Santo.
O véu que separava o lugar santo do santíssimo lugar feito de estofo azul, púrpura,
escarlate e linho fino, representando o caráter de Cristo. Quando Jesus morreu, o véu partiu ao
meio. A parede de separação que havia entre o homem e Deus foi quebrada.
Quando o sacerdote entrava no santo dos santos, ele levava o castiçal com ele, significa
que hoje podemos entrar com ousadia no santo dos santos, falar diretamente com Deus (Hebreus
9.4).
7 OS NÚMEROS NA BÍBLIA
Os números têm uma função importante na tipologia bíblica, pois são usados para
revelar a sabedoria divina. Deus detalhou a sua obra em cada detalhe, atribuindo significado.
Os números relacionados a obra e governo de Deus são o 3, 7, 10 e 12. Três é a perfeição divina;
sete a perfeição espiritual; dez, perfeição comum e doze, a perfeição governamental celestial:
_Um – símbolo da unidade, número de Deus;
_Dois – número de testemunha, divisão. No hebraico há o gênero singular, plural e dual.
O dual é usado quando duas unidades se completam, por exemplo, no corpo, os dois olhos, os
pés, as mãos; na criação, a luz e as trevas, a terra e os céus, etc;
_Três – trindade, plenitude de Deus;
_Quatro – número da criação, 4 pontos cardeais, 4 estações, 4 cantos da terra, 4 ventos;
_Cinco – representa a graça de Deus, os 5 ministérios;
_Seis – número do homem, do pecado, número de satanás;
_Sete – perfeição, de completude, 4+3, isto é, a criação em sintonia com Deus, significa
obra completa, os sete dias da criação. Os sete Espíritos de Deus;
_Oito – simboliza Jesus, sua ressurreição. O novo começo;
_Nove – número dos frutos e dos dons do Espírito Santo, número do Espírito Santo;
_Dez – número do governo de Deus, da perfeição na ordem divina. Também símbolo
da lei, da plenitude humana, número de teste, dez pragas no Egito, Abraão foi testado 10 vezes
em sua fé;
_Onze – número do incompleto, desorganização, anarquia, do anticristo; um a mais que
10 e um a menos que 12;
_Doze – número do governo divino, representado pelas 12 constelações ou signos do
zodíaco, 7 é o governo de Deus na criação, isto é, 3+4. Doze é o governo de Deus através do
homem, 7+5, perfeição de Deus manifesta por meio do ministério da graça que age no homem.
Essa tipologia é útil para entender a multiplicação dos pães. Na primeira multiplicação os
discípulos se dispõe de coração, apresentam aquilo que eles têm, cinco pães e dois peixes, cinco
é o número dos ministérios, o homem agindo em prol do governo de Deus, para estabelecer seu
Reino. No final restam 12 cestos de pães, é o símbolo do governo de Deus através do homem.
Entretanto, na segunda multiplicação, os discípulos dispões de sete pães e alguns
peixinhos, mas não trazem de imediato, mesmo sabendo que Jesus tinha autoridade para
alimentar a todos, antes perguntam para Jesus, “Onde encontraremos neste deserto tantos pães
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para fartar tão grande multidão?”. Jesus alerta os discípulos posteriormente: “guardai-vos do
fermento dos fariseus e do fermento de Herodes” (Mc. 8.15). “Tendo olhos, não vedes? E tendo
ouvidos, não ouvis? E não vos lembrais? Quando parti os cinco pães para os cinco mil, quantos
cestos cheios de pedaços levantastes? Responderam-lhe: Doze. E quando parti os sete para os
quatro mil, quantas alcofas cheias de pedaços levantastes? Responderam-lhe: Sete. E ele lhes
disse: Não entendeis ainda?” (Mc. 8.18-21)
Na segunda multiplicação restam 7 cestos de pães, tipificando o governo de Deus na
criação, sem a participação do homem. Quando Deus criou o homem, deu poder para governar
sobre a terra. Quando deixamos de exercer o governo de Deus por meio da graça, deixamos que
a hipocrisia entre no nosso coração. Os discípulos sabiam que Jesus poderia multiplicar os pães
e poderiam participar ativamente nisso, mas preferiram deixar que Jesus atuasse sozinho;
_Treze – número de rebelião, de apostasia. O número treze aparece pela primeira vez
em Gênesis 14.4, “doze anos haviam servido a Quedorlaomer, mas ao décimo terceiro ano
rebelaram-se” (regra da primeira aparição);
_Trinta – é número da avaliação espiritual do homem. 30 siclos de prata era a
indenização pelo prejuízo causado pelo boi, Ex. 21.32. Foi o preço em moedas de prata
oferecidos pelos fariseus pela vida de Jesus. Idade de início de diversos ministérios de
personagens bíblicos, Jesus, os sacerdotes no ministério das coisas sagradas, os levitas, Davi,
etc;
_Quarenta – número da provação. Jesus provado 40 dias no deserto. O Dilúvio,
chovendo 40 dias e quarenta noites. O povo de Israel 40 anos no deserto. Moisés passou 40 dias
no monte, conversando com Deus. Davi e Salomão reinaram 40 anos. Jonas pregou a Nínive,
que tiveram um prazo de 40 dias para se arrepender;
_Seiscentos e sessenta e seis – número da besta. Seis é número do homem, do pecado.
O triplo seis representa a trindade do pecado, ou seja, o dragão (satanás), a besta e o falso
profeta. Sete é o número perfeito, seis é o número da imperfeição, três é ênfase, seiscentos e
sessenta e seis é total corrupção do homem.
8 CARACTERÍSTICAS DA TIPOLOGIA
A tipologia bíblica difere da alegoria por possuir um elemento histórico na sua narrativa.
A alegoria é um instrumento de linguagem que utiliza a metáfora para ilustrar uma narrativa ou
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE TIPOLOGIA BÍBLICA
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ideia. Pode-se dizer que a tipologia é uma alegoria com elementos históricos, pois o narrador
se utiliza de pessoas ou coisas que realmente existiram.
Quanto a natureza, o tipo pode ser descrito como uma técnica hermenêutica do NT que
se utiliza de realidades históricas da salvação do AT ou dos “tipos”, que Deus escolheu para
servir de tipo ao cumprimento da história da salvação, ou antítipo, no Novo Testamento.
Para ilustrar, podemos comparar o tipo a um molde de plástico de uma peça de gesso,
por exemplo um pedestal. O molde é oco, retrata uma realidade concreta, mas não é uma ideia
abstrata. Da mesma forma o tipo é uma realidade histórica – uma pessoa, evento ou instituição.
Entretanto, o molde não é em si mesmo, mas foi projetado conforme o original. Por exemplo o
tabernáculo de Moisés, foi espelhado no Santuário Celeste.
O molde de plástico tem uma função, moldar o produto final. Da mesma forma o tipo
do AT molda o produto escatológico, ou seja, o antítipo do NT. Porém o produto final
transcende o molde, isto é, o Novo Testamento transcende o Velho Testamento, atingindo o
propósito para que foi criado.
Desta forma, vamos elencar as características da tipologia bíblica:
_o tipo e o antítipo possuem semelhança natural, não forçada;
_os fatos, pessoas ou elementos do Antigo Testamento possuem realidade histórica, isto
é, realmente existiram, não foram obras da imaginação;
_os tipos são uma forma de profecia, pois indicam uma realidade que está à frente de
sua época. Quando Deus, em Genesis 3.21, faz túnicas de peles para Adão e Eva, houve um
sacrifício de animais e derramamento de sangue, esse foi o primeiro tipo do sacrifício de Cristo
na cruz;
__o antítipo é sempre superior ao tipo. Cristo é superior a Melquisedeque. O Templo
Celestial é superior ao Tabernáculo de Moisés;
_os tipos foram projetados por Deus, utilizando-os de forma ilustrativa, profética e
didática do Seu plano para a humanidade.
Alguns interpretes acabaram exagerando na utilização dos tipos, não observando a
necessidade deste enquadramento das características, ampliando sem critério o rol dos tipos.
Em oposição, alguns estudiosos tentaram limitar os tipos somente aqueles descritos
expressamente no Novo Testamento. Há inúmeras figuras de linguagem na bíblia, entretanto os
tipos devem seguir as características citadas.
A tipologia é considerada pelos intérpretes cristãos da atualidade como a chave para
interpretar as verdades do Antigo Testamento a luz do Novo Testamento. Para Leonhard
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Goppelt, “de acordo com a essência do NT, tipologia é teologicamente essencial para uma
compreensão do evangelho” (GOPPELT, 2002, p. 255)5.
O tipo como cumprimento profético pode assumir três aspectos:
_os tipos são prenúncios das realidades no Novo Testamento, por exemplo o povo de
Israel no deserto, representando a Igreja e sua experiência para conquistar o Reino de Deus, que
é um estado espiritual, diferente de Canaã, que era um local geográfico. Ainda, o santuário
terreno é uma cópia e sombra do Santuário celeste;
_na relação tipológica podemos verificar a intenção divina de apresentar certas verdades
espirituais. Em I Co. 10.11, Paulo declara que “tudo isto lhes sobreveio como figuras, e estão
escritas para aviso nosso, para quem já são chegados os fins dos séculos”, sobre o evento do
Êxodo. A peregrinação no deserto aconteceu como exemplo, não que Paulo tenha pegado como
exemplo, mas o próprio motivo de ter acontecido foi planejado por Deus para servir como typos.
Não há como ignorar que os escritores do Novo Testamento reconhecem que certos eventos,
instituições e pessoas foram divinamente designados para serem figuras proféticas, desde o
início. Desta forma, não se pode confundir tipologia bíblica com analogia, usada como uma
figura de linguagem explicativa lógica e racional (racionalidade humana, pois o tipo é produto
da racionalidade divina);
_podemos neste ponto declarar, sem qualquer sombra de dúvida, que a tipologia não é
apenas uma ferramenta hermenêutica, pois o seu caráter profético, de prenunciar eventos
futuros, divinamente planejados. A palavra grega typos tem por significado um selo ou uma
cicatriz, por analogia, uma estátua, uma amostra, um modelo (para imitação) ou um exemplo
(para advertência), uma impressão. Aqui é reforçada a ideia de forma oca, molde, para delinear
os eventos e fatos futuros, demonstrando o planejamento divino, totalmente orquestrado por
Deus. G. K. Beale defende que o termo cumprimento profético deve englobar a tipologia bíblica
e não somente as profecias verbais do Antigo Testamento.
9 CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES
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GOPPELT, Leonhard, Teologia do Novo Testamento, 2002.
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descritos no Novo Testamento como tal, estaria limitado a apenas seis passagens, Rm. 5,14; I
Co. 10.6; I Pe. 3.21; Hb. 8.5 e Hb. 9.24. Por exemplo, temos José, que possui muitas
característica e fatos por ele vividos que possuem forte paralelo com Jesus e em nenhum
momento foram citados pelos autores do Novo Testamento.
Os tipos devem conter as características básica de existência, principalmente o fator
histórico e o caráter profético, de predição futurística de certos eventos. Quanto ao controle
profético, predição do NT pelo VT, pode haver uma tipologia interna do NT. É o que acontece
na passagem de Mateus 24, quanto a destruição de Jerusalém, que é tipo da destruição
apocalíptica do mundo.
Para Richard M. Davison, “os elementos básicos da tipologia são os seguintes”
(DAVISON, 2004, p. 94)6:
1 - O elemento histórico, necessariamente tipo e antítipo são realidades históricas;
pessoas, eventos ou instituições;
2 – Os elementos escatológicos, predição de acontecimentos históricos, cujo
cumprimento pode ocorrer em três momentos diversos: inaugurado – relacionado com a
primeira vinda do Senhor Jesus; apropriado – relacionado ao tempo do governo da Igreja;
consumado – relacionado ao tempo da segunda vinda de Cristo;
3 – O elemento cristológico/soterológico do tipo. Se o tipo não tem seu centro em Cristo,
deve ter na sua obra, nos aspectos de seu sacrifício ou do resultado dele, salvação em sentido
amplo;
4 – O elemento eclesiológico, isto é, o objeto, o fim da salvação conquistada por Cristo
é a Igreja, devendo estar relacionada no cumprimento tipológico, seja como adorador
individual, a Igreja como corpo ou os sacramentos (batismo e ceia do Senhor);
5 – O elemento profético da tipologia, estabelecendo relação de predição no Velho
Testamento e cumprimento no Novo Testamento, exceto na tipologia interna que tanto a
predição e cumprimento acontecem no Novo Testamento.
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DAVISON, Richard M., A Natureza [e Identidade] da Tipologia Bíblica – Questões
Cruciais, 2004.
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE TIPOLOGIA BÍBLICA
TERESINA 2017
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: