Você está na página 1de 10

Educação física e sedentarismo

Já não é mais novidade que o sedentarismo é o principal inimigo da saúde. Ele


atinge cerca de 70 % da população brasileira e mata mais que a obesidade, hipertensão,
tabagismo, diabetes e colesterol alto. O estilo de vida sedentário é responsável por 54 %
do risco de morte por infarto e 50 % do risco de morte por derrame cerebral, as principais
causas de morte nos dias de hoje. Em resumo: 300 mil pessoas morrem por ano no País
por doenças decorrentes do sedentarismo. Dados da IHRSA (The Internacional Health,
Racquet and Sportsclub Association) revelam que, enquanto quase 10 % da população
americana pratica atividades físicas, no Brasil, apenas 1,2 % da população adota esse
hábito.

O estilo de vida na idade adulta é determinado em parte já no período infantil.


Portanto, crianças sedentárias são adultos potencialmente sedentários. Estimativas
apontam que 25 % das crianças que fazem atividades físicas tornam-se adultos ativos.
Nesse contexto, surge a importância da Educação Física na fase escolar. Além de
combater o sedentarismo, verifica-se que a educação física escolar, ministrada
principalmente nas primeiras séries do ensino fundamental, contribui no aumento da
freqüência às aulas, na melhora do desempenho acadêmico, no aumento da
responsabilidade, na diminuição dos distúrbios de comportamento, na diminuição da
delinqüência e uso de drogas e álcool e na melhora do relacionamento com os pais.

Sabendo disso, a nova gestão da Secretaria da Educação do Estado de São


Paulo está realizando uma iniciativa pioneira: a retomada, a partir de 2003, da Educação
Física de 1ª a 4ª série na rede ministrada por profissionais de Educação Física. É preciso
esclarecer que quem ministra hoje as aulas de Educação Física nessa fase escolar são os
professores polivalentes, ou seja, aqueles que ministram diversas disciplinas e não têm a
formação específica necessária. Os 9.980 educadores físicos da rede atendem apenas os
alunos de 5ª a 8ª série do ensino fundamental e do ensino médio.

Vale destacar que a retomada da Educação Física de 1ª a 4ª série por


educadores físicos virá acompanhada de uma reorganização e adequação do processo
metodológico. Para isso, formou-se uma comissão composta por renomados educadores
da rede pública estadual e privada de ensino, além de representantes de algumas
entidades atuantes na área, a fim de desenvolver uma nova proposta educacional. Ou
seja, o atual programa será reformulado, porém dando continuidade ao trabalho que vem
sendo desenvolvido. Os educadores físicos da rede serão capacitados pela Secretaria da
Educação a trabalhar com a nova proposta educacional por meio de cursos presenciais,
teleconferências e fóruns, que serão ministrados entre o final de 2002 e início de 2003.

Os motivos pelos quais as pessoas começam a praticar exercícios físicos


englobam as questões de saúde, estéticas e sócio-afetivas. Porém, é o hábito que faz com
que se mantenham constantemente em atividade física. Ou seja, não basta iniciar a
prática. É preciso se manter praticante, e isso é chamado aderência. E a aderência, um
conjunto de determinantes pessoais (histórico pessoal, nível educacional, conhecimento
dos benefícios, entre outros), ambientais (apoio de um amigo, reforço social, facilidade do
acesso, disponibilidade de tempo) e características do exercício físico (percepção
individual da intensidade e características do corpo técnico), propicia uma manutenção da
prática física por um longo tempo, elevando a qualidade de vida das pessoas.

Portanto, é facilmente perceptível a grande responsabilidade da Educação Física


Escolar ao “oferecer” aos alunos muitos dos determinantes pessoais, contribuindo assim
com a aderência e, conseqüentemente, combate ao sedentarismo. O professor de
Educação Física deve transformar o momento da aula em um momento prazeroso, que
tenha um alto grau de apreciação pelo aluno, para que ele reflita sobre a Educação Física
de maneira positiva em sua adolescência e fase adulta. Sabemos que um indivíduo
simpatizante pela atividade física irradia este gosto para pelo menos três pessoas. Então,
se o professor da Secretaria da Educação fizer um trabalho competente com os 6.100
milhões de alunos da rede, estará atendendo cerca 24 milhões de pessoas.

Em contrapartida, dados levantados pelo CELAFISCS (Centro de Estudos do Laboratório


de Aptidão Física de São Caetano do Sul/SP) apontam a importância dos pais na atividade
física dos filhos. Os dados mostram que se a mãe for ativa fisicamente, o filho tende a ser
duas vezes mais ativo; se o pai for ativo fisicamente, o filho é 3,5 vezes mais ativo; e se o
pai e a mãe forem ativos, o filho será quase 6 vezes mais ativo do que as crianças de pais
sedentários. Vale lembrar que os alunos da rede estadual de ensino de hoje serão os pais
de amanhã. Por tudo isso, a Educação Física Escolar é muito mais do que uma disciplina
educacional. É questão de saúde pública.
Fonte: Informe Phorte, matéria "A educação física escolar e o sedentarismo",
por Fabio Saba e Fabio Mattos, no Informe nº 12.
EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE

Nos últimos anos, a pesquisa tem demonstrado que uma boa parte da falta de
saúde é causada diretamente pela falta de atividade física . A tomada de consciência
desse fato, acompanhada de um conhecimento mais completo a respeito de cuidados
para com a saúde, está modificando os estilos de vida. O entusiasmo atual pelo
movimento não é modismo. Sabemos agora que o único meio de prevenir os males da
inatividade é permanecer ativo – não durante um mês, nem um ano, mas a vida toda.

Nossos ancestrais não sofriam dos problemas que se seguem a uma vida
sedentária; eles precisavam trabalhar para sobreviver. Permaneciam fortes e saudáveis
devido a atividades vigorosas e constantes (ao ar livre): cortando lenha, cavando,
cultivando o solo, plantando, caçando, além de todas as demais tarefas diárias. Porém ,
face ao advento da Revolução Industrial, as máquinas passaram a realizar o trabalho
que era feito a mão. À medida que as pessoas passaram a ser menos ativas,
começaram a perder força e também o movimento natural.

É evidente que as máquinas tornaram a vida mais fácil, mas elas também
criaram sérios problemas. Em vez de andarmos, dirigimos; em vez de subirmos
escadas, usamos elevadores; enquanto antigamente estávamos quase o tempo todo em
atividade, hoje gastamos a maior parte de nossas vidas sentados. Na ausência de
exercícios físicos diários, nossos corpos tornaram-se depósitos de tensões acumuladas.
Na ausência de canais naturais de saída para nossas tensões, nossos músculos tornam-
se fracos e tensos, e perdemos o contato com nossa natureza física, com as energias
vitais.

Necessidades e obrigações tornaram nossas vidas tão agitadas que


esquecemos de tomar nossas refeições calmamente e selecioná-las de acordo com as
necessidades e características individuais. A quantidade de horas dormidas que podem
determinar a qualidade e o rendimento do nosso trabalho somadas às necessidades de
ordem psicológicas como a auto-estima, a pertinência, o reconhecimento e o respeito
dos semelhantes, o sentir-se útil, e os valores de ordem social como a solidariedade, a
cooperação, o respeito, a amizade, também já se tornaram quase esquecidas ou tão
sem importância a ponto de lembrar a Organização Mundial de Saúde (OMS) que
caracteriza "estado de saúde" como sendo o conjunto bio-psico-social.

Considerando-se que a vida sem atividade física pode ser igualmente vivida
sem educação, sem saúde, sem alimentação adequada e sem assistência
médica/odontológica, acreditamos poder, através da atividade física e saúde tornar
nossos alunos, autônomos, no sentido de organizarem suas próprias vidas e
acrescentar a ela mais anos, ou acrescentarem a ela mais anos ou, aos anos, mais vida.

Através da Educação Física, espera-se que os alunos tenham encontrado,


através das modalidades esportivas, as respostas a seus anseios, expectativas e
necessidades de movimento. Pretendemos, com isso, oferecer algo motivante, como a
prática de modalidades esportivas, sem, no entanto, esquecer a importância do
desenvolvimento das capacidades e habilidades físicas próprias à faixa etária em que se
encontram. Lembramos que o equilíbrio no que diz respeito ao desenvolvimento de
capacidades tais como: força, velocidade, resistência, coordenação motora, flexibilidade
etc... vão determinar o crescimento harmônico dos sistemas ósseo, muscular e
nervoso, e que somente essa harmonia poderá propiciar condições de uma performance
geral na prática de modalidades esportivas. Por sua vez, facilitará o equilíbrio
emocional, a integração social e as condições para que o organismo acumule reservas
para responder às solicitações de sobrecargas exigidas durante as práticas esportivas.

Colégio Rainha da Paz
Esporte e Saúde
Selva Maria Guimarães Barreto
Professora do Departamento de Educação Física e Motricidade Humana da UFSCar ­ Universidade  

Federal de São Carlos

e­mail: selva@power.ufscar.br

Nos   cursos   de   Educação   Física   está   ocorrendo   uma   revolução,   que   vem 
provocando   questionamentos   sobre   alguns   conceitos:   o   que   se   tenta   expor 
criticamente   hoje   é   a   relação   entre   “Esporte   e   Saúde”.   Esta   veiculação, 
infelizmente,   não   é   a   mais   usual,   pois   geralmente   é   substituída   por   “Esporte   é 
Saúde” pelo conhecimento popular, uma relação que aparenta ser uma verdade 
absoluta,   quando   não,   obrigatoriamente,   é.   Os   novos   conceitos   trabalhados 
relacionam Esporte, Saúde e Qualidade de Vida, de maneira a levantar o debate 
para refletirmos sobre os mesmos.  

       

O Esporte coletivo é um meio de aprender sobre nossos limites corporais e sobre  
como nos relacionar com os limites do outro.
O Esporte, como conceito, é considerado uma atividade metódica e regular, que 
associa resultados concretos referentes à anatomia dos gestos e à mobilidade dos 
indivíduos. Esta é a conotação que podemos chamar de “Esporte de alto nível”, 
veiculada   nas   mídias   em   geral,   representada   por   pessoas   executando   gestos 
extremamente   mecanizados,   uniformes,   com   um   certo   gasto   de   energia   para 
produzir um determinado tipo de movimento repetidas vezes. São gestos plásticos, 
muito organizados, moldados e com muitas regras, para que se possa obter algum 
resultado prático. O Esporte pode ser encarado, dentro de outras ópticas, tanto 
como o Esporte veiculado nas mídias, como uma atividade dentro de um grupo de 
amigos (na escola, na rua ou qualquer local).

Existem outros conceitos de Esporte, em que se consideram como um componente 
dos blocos de conteúdos da Educação Física escolar, isto é, a Educação Física nas 
escolas   possui   alguns   conteúdos,   tais   como   a   Dança,   os   Jogos,   as   Lutas,   as 
Brincadeiras, e o Esporte é um destes. É na escola que a conotação de Esporte 
deve   ser   diferente   do   Esporte   de   alto   nível,   apesar   de   alguns   professores   de 
Educação   Física   insistirem   em   alto   rendimento.   Felizmente   este   modelo   vem 
modificando­se, aos poucos. Assim, a idéia que se tem de Esporte é muito ampla, 
o   que   permite   uma   variedade   de   conceitos.   Dependendo   do   conceito   e   do 
entendimento, Esporte pode estar ou não veiculado à Saúde.

Já Saúde, enquanto conceito, é sentir­se bem em todos os seus aspectos: físicos, 
motores, sociais, mentais e afetivos. Isto acaba tornando muito difícil ter uma saúde 
perfeita   e   praticamente   impossível   um   conjunto   de   profissionais   completamente 
saudáveis (como os professores de Educação Física, por exemplo).

A respeito de Saúde, a diferença entre os termos físico e motor é muito tênue. 
Motor é uma idéia que está ligada ao movimento, isto é, é necessário estar bem; o 
organismo   e   todos   os   aparelhos   que   o   compõem   precisam   estar   em   pleno 
funcionamento para se movimentar bem. Por outro lado, físico é um conceito ligado 
à   capacidade,   força   e   potência   (aeróbia   ou   anaeróbia).   Logo,   não 
necessariamente,   quem   realiza   bem   um   movimento   tem   uma   capacidade   física 
muito   grande,   e   vice­versa.   Por   exemplo,   aqueles   que   fazem   musculação 
ininterruptamente   costumam   ter   uma   certa   dificuldade   ao   caminhar,   ou   seja,   o 
aspecto físico bem trabalhado não significa um aspecto motor de boa qualidade. 
Por isso, Esporte como entendimento de uma atividade metódica pode provocar 
saúde   ou   bem­estar   em   nível   psico­motor,   mas   dificilmente   em   nível   social. 
Também aquele que realiza um Esporte e coloca acima de tudo a vitória (validando 
atividades “anti­jogo”, tais como puxão de cabelo, cotovelada e outras faltas), não 
promove sua Saúde completa.
Associado   à   Saúde   está   o   conceito   de   Qualidade   de   Vida,   definido   como   a 
condição   humana   resultante   de   um   conjunto   de   parâmetros individuais   e  sócio­
ambientais (modificáveis ou não) que caracterizam as condições em que vive o ser 
humano.   Para   se   definir   como   boa   qualidade   de   vida,   deve­se   levar   em 
consideração   a   satisfação   das   necessidades   básicas   de   sobrevivência: 
alimentação, vestuário, trabalho, moradia e relações sociais e afetivas (as quais, no 
mundo capitalista de hoje, sempre se subordinam à outra: a econômica).

Analisando agora a relação do conhecimento popular “Esporte é Saúde”, esta se 
difunde   como   contrapartida   ao   mundo   atual,   que   promove   em   suas   práticas   o 
sedentarismo,   como   conseqüente,   a   obesidade   –   tida   como   o   mal   do   século. 
Assim, em combate à obesidade, o Esporte promove Saúde. O Esporte também é 
promotor de Saúde por ser um incentivo às relações sociais, tais como coleguismo, 
amizade e paixões.

Outras inverdades são disseminadas pelo conhecimento popular. Algumas pessoas 
dizem que ao caminhar uma hora por dia mantêm seu nível de colesterol reduzido, 
com   chances   reduzidas   de   obter   problemas   cárdio­respiratórios,   ou   ainda 
possibilidades   de   emagrecimento.   Mas,   em   seguida,   comem   chocolate, 
"churrasquinho",   "leitão   à   pururuca",   "torresminho",   doces,   refrigerantes,   etc   – 
alimentos que invalidam qualquer  atividade saudável. Além disto, caminham em 
locais inadequados e usam calçados impróprios para a atividade exercida. Logo, o 
corpo não descansa, como ainda pode sofrer lesões por exercícios praticados de 
maneira errada. Também existem aqueles que caminham em excesso, acima de 
quatro   horas   ao   dia,   todos   os   dias   da   semana,   sem   um   descanso   mínimo.   As 
estruturas corpóreas e seus respectivos ligamentos não agüentam e acabam por 
“inchar”, inflamar ou até romper. Está comprovado que qualquer treinamento físico, 
principalmente   os   de   altíssimo   nível,   deve   ser   praticado   com   o   necessário 
descanso para que o organismo possa se recuperar da atividade e da perda de 
líquidos   e   sais   minerais.   Outros   praticam   esforços   aos   finais   de   semana   como 
maneira   de   compensar   uma   vida   sedentária   de   segunda   à   sexta­feira,   sem 
qualquer   sistemática   apropriada.   Deve­se   praticar   atividades   periódica   e 
cotidianamente, com pausas corretas de descanso.

Tudo que é feito ininterruptamente cansa, desgasta e não promove os benefícios 
almejados.   O   Esporte   é   uma   atividade   física   e,   como   tal,   promove   desgaste 
energético, emagrecendo o organismo. Mas, sem respeitar os parâmetros físicos 
limitantes de cada indivíduo, ou ainda, um controle alimentar adequado, ao invés 
de benefícios, a atividade pode promover malefícios. O controle alimentar é muito 
importante no que se refere à relação entre ingestão e gasto de energia, ou seja, o 
quanto   (e   o   que)   se   come   e   o   quanto   se   trabalha.   Neste   parâmetro,   podemos 
entender  que  é   perigoso  pessoas   obesas  e  despreparadas  praticarem  Esportes 
como triathlon, uma competição onde se nada, pedala e corre longas distâncias 
exaustivamente. Até que ponto é saudável praticar triathlon, ou ainda malhar de 
duas a quatro horas numa academia? São associações equivocadas relacionar alto 
rendimento e esforço excessivo. Para que o Esporte fazer bem, tem que suar muito 
e deixar o indivíduo cansado.

Esporte não é Saúde. Pode vir a ser um promotor de Saúde, mas nem sempre irá 
produzir   Saúde,   como   uma   regra.   Inclusive   temos   recentemente   dois   casos   de 
jogadores   de   futebol   que   faleceram   enquanto   praticavam   a   atividade   física. 
Percebemos   também,   que   existem   vários   desportistas   que   fazem   uso   de 
substâncias – questionáveis – para obter melhores desempenhos nas atividades, o 
que corrompe a noção de que Esporte faz bem. Esporte só faz bem dentro de seus 
fatores  limitantes: bem  empregado,  bem  trabalhado  e  sob  uma   perspectiva  que 
esteja além do alto rendimento.

Isso não quer dizer que muitos que praticam Esportes de alto rendimento não são 
pessoas saudáveis. Serão na medida em que o treinamento lhes provocar bem­
estar físico e uma boa relação para com os outros. Mas ao exagerar na atividade 
(em nome da relação “Esporte é Saúde), acaba­se promovendo um malefício ao 
corpo”. Outro problema nesta relação ocorre com uma concepção inadequada de 
Esporte,   sendo   esta,   muitas   vezes,   a   concepção   dos   professores   de   Educação 
Física   dos   ensinos   fundamental   e   médio.   Em   determinada   ocasião,   Esporte   é 
considerado   como   um   conteúdo   mínimo   e   único,   o   que   acaba   se   tornando   a 
exclusiva prioridade a ser promovida entre seus  alunos: aos que jogam  bem, a 
oportunidade   de   praticar;   aos   que   possuem   dificuldades,   acabam   como   juiz, 
gandula ou ainda sentados no banco, só observando a turma jogar. Nestes casos, 
não há Saúde social, ou, sequer, Saúde motora. Como deve se sentir o aluno que 
permanece sentado durante toda a atividade dos colegas? O que ele acaba por 
representar?  E  sobre a  prática  de distribuir  os alunos  em  dois  times, onde  são 
escolhidos um por vez, alternadamente: como se sente o último a ser escolhido? 
Como “resto”? São estas as práticas a serem repensadas.
     

As crianças têm limites especiais que precisam ser respeitados.

A Educação Física nas escolas não pode ter por objetivo formar campeões, assim 
como   não   deve   negar   a   possibilidade   de   que   alguns   realmente   serão   futuros 
campeões.   Temos   a   necessidade   de   dissociar   a   Educação   Física   escolar   de 
treinamento   esportivo.   A   inserção   dos   alunos   obesos,   lentos   e   sem   muita 
coordenação motora trará  mais  Qualidade  de Vida ao  conjunto, ensinando,  não 
apenas, nossos limites, mas também em como conviver com os limites alheios. 
Nas escolas, os pré­requisitos para os professores de Educação Física não devem 
ser grandes atletas que sabem jogar, devem ser grandes professores que saibam 
ensinar. Do contrário, o Esporte deixa de ser um agente de inclusão social para ser 
um fator de exclusão social, onde “quem joga bem, joga; quem não joga bem, que 
fique quieto e não atrapalhe”.

Existem   também   aqueles   que   praticam   musculação   e,   paralelamente,   tomam 


suplementos   alimentares   e   aminoácidos.   Alguns   em   apenas   dois   meses   têm   a 
musculatura toda definida e acreditam que isto é ser saudável: muito questionável, 
principalmente, se tratando de um adolescente, por exemplo. No momento, o corpo 
fica “esteticamente belo” (o que não deixa de ser uma mera convenção social), mas 
passados   alguns   anos,   estes   complementos   podem   deixar   a   pessoa   estéril   ou 
ainda provocar doenças no fígado. Tudo o que é feito para além dos limites naturais 
do corpo, com certeza prejudica o mesmo. Existe um composto chamado Creatina, 
substância que ao ser ingerida dá condições de um rendimento um pouco maior ao 
corpo,   produzindo   mais   energia.   Porém,   ao   se   ingerir   Creatina   após   um   longo 
período, o corpo para de produzir os benefícios mesmo que o indivíduo continue 
ingerindo­a. Mais tarde, começam a se formar certos resíduos, estranhos ao corpo: 
são compostos que acabarão por gerar algum problema grave, talvez até um tumor. 
Também   não   praticam   um   ato   saudável   os   indivíduos   que   se   abstêm   de   se 
alimentar com legumes, verduras e frutas para só ingerir suplementos alimentares. 
Não se deve exagerar em nada, tudo tem seus limites.

Ainda   sobre  os   excessos   além   dos   limites   do   corpo,   está  o   que   chamamos   de 
“Especialização   Motora   Precoce”   ou   “Inadequação   no   Movimento   ao   Nível 
Desenvolvimental   do   Praticante”.   São   as   Escolinhas   de   Esporte   para   crianças 
(como as Escolinhas de Futebol, por exemplo) que ensinam como se estas fossem 
adultos, esquecendo que seus limites físicos e motores são muito maiores. Nesta 
idade, deveriam somente ensinar os movimentos que lhes são possíveis, deixando 
a especialização no Esporte de alto nível para depois, quando desenvolverão sua 
habilidade motora. Para as crianças de 8 até 12 anos o que deve ser praticado está 
muito distante do Jogo profissional em si – apenas mobilidades precursoras. Além 
do corpo não compreender o movimento se não estiver bem desenvolvido, existem 
pesquisas   comprovando   que   devemos   primeiro   desenvolver   nossa   base   motora 
para   em   seguida   decidir   o   que   fazer   com   ela.   Isto   é,   na   infância   devemos 
desenvolver   nosso   nível   de   movimentos   em   uma   grande   amplitude   de   ações 
(genéricas)   para   só   depois   podermos   decidir   os   esportes   a   praticar   (em   uma 
especialização   do   movimento).   Podemos   ver   que   no   Vôlei,   por   exemplo,   os 
jogadores que se destacam hoje são aqueles que sabem atuar bem em diversas 
posições, levantamento, bloqueio, saque, corte, enquanto que antigamente o bom 
jogador   era   especialista   em   uma   só   posição.   O   atual   jogador   de   vôlei   aprende 
inicialmente os lances mais gerais e só mais tarde escolhe a posição que melhor 
lhe convém, assim já aprendeu mais do esporte e desenvolveu mais amplamente 
sua coordenação motora para o mesmo. Além disso, a especialização prematura 
pode acarretar lesões (no joelho, ombro, cotovelo, etc – e não há maneira de se 
compensar   o   corpo   depois   de   lesionado),   o   que   ocasiona   uma   curta   vida   no 
Esporte, tendo que abandonar mais cedo a atividade.

© Revista Eletrônica de Ciências ­ Número 22 ­ Outubro / Novembro / Dezembro de 2003.

Você também pode gostar