Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Resistindo A Secularização - Arival Dias Casimiro PDF
Resistindo A Secularização - Arival Dias Casimiro PDF
RESISTINDO A
SECULARIZAÇÃO
REFLEXÕES SOBRE
A LUTA DA IGREJA CONTRA
A SECULARIZAÇÃO
———————————————————————————————————————————————
* — O autor é pastor da Igreja Presbiteriana de Pinheiros – São Paulo. É formado em Pedagogia, Mestre
em Comunicação e Letras pelo Mackenzie e Doutorando em Língua Portuguesa pela PUC-SP. É editor
responsável pela Revista de Educação Cristã e Jornal O Mediador. É casado com Társia e pai de Matheus
e Túlio. [Informação colhida na contracapa do livro original]
1
RESISTINDO A SECULARIZAÇÃO
Autor: Arival Dias Casimiro
2
Apresentação
Damos graças a Deus porque na Sua infinita misericórdia, Ele chama os Seus profetas nos
dias atuais como chamou no passado para nos advertir de erros que cometemos ou
venhamos a cometer contra os preceitos escriturísticos que contrariam a vontade do
Senhor Todo-Poderoso.
Louvamos a Deus pela vida e ministério do Rev. Arival Dias Casimiro que, com
coragem destemida, publicou no Jornal "O Mediador", editoriais de valor inestimável que
chamam a nossa atenção, como líderes do povo de Deus, para não cairmos na esparrela de
certas alianças que nos são propostas.
Vale a pena ler e reler Resistindo a Secularização - Reflexões sobre a luta contra
a secularização da Igreja Presbiteriana do Brasil, ora publicado em forma de livro,
considerando as eleições para os diversos cargos da Igreja a nível nacional, a fim de que
estejamos conscientizados da responsabilidade que temos em eleger nossos líderes.
Aprendamos com a expressão de Karl Barth: "Que Deus seja Deus, e que o
homem aprenda, uma vez por todas, a ser não mais e não menos que homem."
Que o Senhor nos abençoe e nos faça líderes responsáveis e corajosos para
denunciar, a tempo e fora de tempo, alianças perniciosas que, porventura, venham a
existir e perturbar a Igreja de Cristo. Amém!
3
Sumário
Vocação ou Profissão 7
Boçalidade Teológica 11
Interpretando a História 13
Não Reformarás 16
Anulando Sofismas 18
Confessionalismo ou Pluralismo 27
Formação de Pastores 29
A Disciplina Eclesiástica 31
Parceria Santa 39
Presbitismo 41
4
Lutando Contra a
Secularização da Igreja
Secularizar é o ato de tornar aquilo que é sagrado em profano. No caso da Igreja, é
substituir os valores de Deus pelos valores de uma sociedade sem Deus. "E não vos
conformeis com este século", exorta a Palavra de Deus, "mas transformados pela
renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita
vontade de Deus" (Rm 12.2). Observe que Paulo vê a possibilidade de um cristão ou uma
instituição cristã, adotar uma atitude mental modelada pelo mundo e não pela Bíblia.
Também, a impossibilidade de uma mente secularizada compreender e experimentar a
vontade de Deus.
O Dr. James Kennedy, em seu livro As Portas do Inferno não prevalecerão (1998), fala
sobre a influência destruidora dos Seminários Liberais na Igreja Americana:
'Tragicamente, muitos dos seminários deste país são tão liberais que já abandonaram o
Cristianismo histórico ou os elementos básicos da fé. Eles não crêem na Bíblia, na
divindade de Cristo, na sua obra de redenção da cruz ou na sua ressurreição corpórea.
Eles são guias cegos que fazem naufragar a fé de muitos jovens que querem servir a Deus
- e que saem do seminário como virtuais incrédulos".
5
para baixo, nos nossos seminários. Há hoje muitos professores que não aceitam a
inspiração e a inerrância da Bíblia, mas continuam lecionando em nossos seminários. Os
professores fiéis são chamados de fundamentalistas e são banidos dos nossos seminários.
É preciso orar e agir. Os oficiais e concílios da Igreja precisam acordar do sono da apatia
e da omissão. Observem a recomendação do apóstolo Paulo: "Atendei por vós e por todo
o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastoreardes a igreja
de Deus, a qual ele comprou com o seu próprio sangue. Eu sei que, depois da minha
partida, entre vós penetrarão lobos vorazes, que não pouparão o rebanho. E que, dentre
vós mesmos, se levantarão homens falando coisas pervertidas para arrastar os
discípulos atrás deles. Portanto, vigiai..."(At 20.28-31).
6
Vocação ou Profissão?
Na Igreja Evangélica hoje, o pastorado está se secularizando, ou seja, deixando de ser um
ofício sacerdotal para ser uma profissão. Entende-se a secularização dos pastorado como
o processo de ser, de se formar e de se exercer o pastorado não segundo o modelo bíblico,
mas no modelo da sociedade sem Deus. O que seleciona o candidato ao ministério hoje,
não é mais a comprovação de um chamado de Deus, mas um vestibular. Quem forma o
pastor não é mais a Igreja, mas a Faculdade de Teologia por meio Mestres e Doutores sem
experiência pastoral. O pastor troca de Igreja hoje como se estivesse trocando de
emprego. Cada vez mais o sacerdócio pastoral tem sido desvalorizado.
O ser pastor, segundo a Bíblia, é uma vocação divina que envolve chamado para o
ofício e para o campo de trabalho. O apóstolo Paulo declara: "Porém em nada considero a
vida preciosa para mim mesmo, contanto que complete a minha carreira e o ministério
que recebi do Senhor Jesus para testemunhar o evangelho da graça de Deus" (Atos
20.24). E o Espírito Santo diz: "Separai-me, agora, Barnabé e Saulo para a obra que os
tenho chamado" (At 13.2). Nesses dois versículos, a Bíblia mostra que a prioridade do
verdadeiro ministro é cumprir o ministério que recebeu do Senhor, trabalhando sempre no
local para onde o Senhor o enviar.
O profeta Jeremias afirma que uma das maneiras de Deus castigar o seu povo é
dando-lhe uma liderança não vocacionada. Então ele diz: "Convertei-vos, ó filhos
rebeldes, diz o SENHOR; porque eu sou o vosso esposo e vos tomarei, um de cada cidade
e dois de cada família, e vos levarei a Sião. Dar-vos-ei pastores segundo o meu coração,
que vos apascentem com conhecimento e com inteligência" (Jr 3.14-15). Pastores
segundo o coração de Deus, que apascentem o rebanho de Cristo hoje, é uma grande
necessidade. Faz-se necessário que a Igreja encare a escolha dos seus pastores nesta
perspectiva sobrenatural, por meio da oração, como uma dádiva de Deus e não,
meramente, na perspectiva secularizada da contratação de um novo funcionário.
7
pastoral, seja em seminário ou faculdade, que não contemplar esse tripé, não formará um
pastor com uma filosofia bíblica de ministério.
8
A Secularização Político-
Administrativa da Igreja
Jesus Cristo estabeleceu para os seus discípulos os critérios fundamentais para o exercício
da liderança na Igreja: "Sabeis que os que são considerados governadores dos povos,
têm-nos sob seu domínio, e sobre eles os seus maiorais exercem autoridade. Mas entre
vós não é assim; pelo contrário, quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que
vos sirva; e quem quiser ser o primeiro entre vós, será servo de todos" (Mc 10.42-44).
Primeiro, a natureza do exercício da autoridade na Igreja é totalmente oposta às outras
instituições seculares: "Mas entre vós não é assim". Segundo, o caminho para o
exercício da liderança, "entre vós"e não "sobre vós", é o serviço. Além desses princípios
estabelecidos por Jesus, o apóstolo Paulo fala sobre o dom ou capacitação espiritual para
o exercício da liderança: "o que preside, com diligência" (Rm 12.8).
No caso da IPB, o Supremo Concílio (1962), ciente do perigo que a reeleição traz
para a administração da Igreja, tomou as seguintes resoluções:
9
encaminhara Comissão de Indicações sugestão no sentido de evitar tanto quanto possível
a indicação de nomes para reeleição a fim de assegurar-se a rotatividade na composição
das mesmas, bem como se evite a indicação de mais de um nome de cada Presbitério.
10
Boçalidade Teológica
O presbiterianismo (1859) foi a primeira denominação no Brasil, a apresentar um
discurso teológico claramente definido. Essa definição se evidencia com a adoção da
Confissão de Fé de Westminster e os Catecismos Maior e Breve, como sistema expositivo
de doutrina e prática.
11
ensina? (o professor) Por que ensina? (motivação) O que ensina? (conteúdo) Como
ensina?(metodologia) Onde ensina? (local) A quem ensina? (clientela) Para que
ensina? (objetivo).
O mais folclórico é que as pessoas que decidem sobre educação teológica são, na
sua maioria, ignorantes sobre a matéria. O critério para composição das comissões e
juntas teológicas é mais político do que de vivência e competência teológica. Na Reunião
do Supremo Concílio da IPB -1990, em Governador Valadares, quando uma comissão
estava discutindo sobre o elenco das disciplinas que deveria compor a grade curricular do
curso de teologia, um presbítero exigiu que se constasse a disciplina: Noções de
Veterinária.
12
Interpretando a História
E. H. Carr diz que a história "se constitui de um processo contínuo de interação entre o
historiador e seus fatos, um diálogo interminável entre o presente e o passado". Nesse
processo de interação o historiador e os fatos históricos são necessários um ao outro.
Logo, a missão dupla do historiador é selecionar os fatos e compreender o pensamento
que está por trás dos mesmos. Conclui-se que toda pessoa, mesmo aquela que não é
historiador por ofício, recria em sua mente a história. É óbvio que "todo historiador
militante... está empenhado em ajustar seus fatos à sua interpretação e sua interpretação
a seus fatos", conclui Carr.
Neste pequeno artigo, atrevo-me a apresentar a minha visão dos últimos quarenta
anos da história da Igreja Presbiteriana do Brasil.
O grande prejuízo desse período foi quanto a liderança. A meu ver, a geração de
líderes produzida nessa época, que delinearia os novos rumos da igreja foi prejudicada.
Dois grupos se formaram: primeiro, "os filhos do boanergismo", que não conseguiram,
sozinhos, "sair do ventre" e impor uma liderança com identidade própria dando
continuidade àquelas coisas positivas conseguidas ou preservadas pelo "boanergismo".
Muitos se dedicaram apenas a defender o grande líder. Segundo, "os filhos do
ressentimento", que são os feridos da "ditadura boanergista" e que em grande número,
estão liderando a igreja hoje, tentando inutilmente denegrir "o boanergismo" e atenuar, de
forma "neo-boba", as suas frustrações "pós-guerra". Querem, em pouco tempo , "escrever
o nome na história", reproduzindo um discurso do passado ou tentando produzir fatos
13
eclesiásticos historicamente relevantes, como por exemplo a reforma da Constituição. É
uma das bandeiras defendidas por Dias em Inquisição sem Fogueiras: "Para o futuro
seria necessário reformar a Cl ou aboli-la para dar lugar a uma expressão mais
espontânea de vida eclesiástica. Creio que a Cl se transformou num estímulo
enrijecedor e radicalizador de posições que impediram a assimilação de novas
expressões de vida espiritual dentro da Igreja. Os grupos da "renovação espiritual", da
"responsabilidade social"e do "ecumenismo" foram marginalizados ou extirpados
porque se constituíram em ameaça à estrutura rígida arquitetada pelo "cimento
armado" da constituição" (Dias,1982,p 120)
Quarto, peça discernimento a Deus para entender o seu tempo. Seja um homem
do seu tempo. Isso fará com que você não seja "usado" para fins escusos.
14
Quinto, esteja sempre no lugar em que Deus quer que você esteja. Não seja pastor
de uma igreja, só porque você quer ser. Não ocupe uma função ou um cargo se você não
tem certeza da aprovação de Deus. Seja obediente a Deus e você será uma grande benção
onde estiver.
Sexto, ame a igreja como Cristo a amou e se entregou por ela. A igreja é a
comunidade mais preciosa sobre a terra, uma vez que Cristo a adquiriu com o seu próprio
sangue. Portanto, ministrar na igreja constitui-se o maior dos privilégios e também a
responsabilidade mais pesada que alguém pode assumir.
15
Não Reformarás
A reforma da Constituição tem sido uma obsessão das cúpulas que têm dirigido a IPB
nesses últimos anos. Parece até que a Constituição é a causadora dos equívocos
administrativos e um entrave para o desenvolvimento espiritual da Igreja. Os argumentos
apresentados pelo "alto clero" não têm sido convincentes.
16
muitas outras. Daqui a dez anos os Seminários terão que se auto sustentar. Adivinha quem
pagará á conta? Por que mandar dinheiro para o SC se a igreja local paga tudo? Há uma
sobrecarga financeira sobre a igreja local, que tem reagido: O que tem feito a IPB por
nós? Logo, grande parte das igrejas não relaciona a fidelidade dizimai do crente com
Deus no ato de culto local (base bíblica) com a fidelidade dizimai da igreja com a IPB
(base constitucional). Ao invés de criar um "selo de fidelidade" por que não desonerar a
igreja local de tantas responsabilidades financeiras?
Quarto, há uma desconfiança por parte das lideranças locais ("baixo clero")
quanto às verdadeiras intenções de se reformar a Constituição. Os defensores da bandeira
reformista querem uma reforma administrativa ou teológica? Por mais que esses
defensores transmitam um discurso calvinista de compromisso dom a Bíblia, há indícios
práticos de inclusivismo e pluralismo teológico. Por exemplo, no novo Regimento
Interno dos Seminários Teológicos se oficializa o pluralismo: "Oferta de ensino dentro
dos princípios da fé reformada, admitindo que a exposição à análise crítica da
pluralidade de idéias e concepções teológicas, filosóficas e pedagógicas, enriquecem e
nos levam a firmar ainda mais os nossos posicionamentos bíblico-teológicos" (Art. 2,
X). Primeiro, o que nos enriquece e nos leva a firmar os nossos posicionamentos
bíblico-teológicos é o estudo da Bíblia acompanhado da vida de oração, o que hoje é
pouco estimulado nos nossos Seminários. Segundo, jamais na história dos nossos
Seminários se deixou de analisar correntes teológicas diferentes. Claro, que o objetivo
sempre foi apologético e não para "firmar os nossos posicionamentos bíblicos
teológicos". Não se firma a verdade com a mentira.
Quinto, é importante questionar: Por que reformar uma Constituição se a
disposição interior de muitos é anárquica? Se a atual Constituição já tem sido tão
desrespeitada para que serviria uma nova? E o pior, o mau exemplo vem de cima. A
Comissão Executiva do Supremo Concílio tem, há muito tempo e por repetidas vezes,
desrespeitado a carta magna da Igreja. A CE -SC já deixou de ser executiva para ser
legislativa. Também, todos concordam que a linguagem e a forma jurídica do Código de
Disciplina dificultam a sua aplicação. Contudo, o que existe na prática hoje é uma
rejeição da disciplina bíblica. Com ou sem Código, o pecado em nossos arraias tem sido
visto apenas como fraqueza natural ou desajuste psicológico. Quanto aos atuais
Princípios de Liturgia? Como o próprio termo indica, são princípios. Princípios que
orientam o tempo, o espaço, os elementos, os tipos, as funções dos adoradores e os
objetivos do culto. Eles não estabelecem uma liturgia fixa ou rígida, mas um princípio
regulador: a Palavra de Deus. Contudo há um grupo bem distinto na IPB hoje que quer
um "missal": são os liberais ritualistas (moderados) que desejam ressuscitar o culto
medieval com sua ênfase no teatral (togas, calendários eclesiásticos e outras aberrações).
Pelo exposto, seria prudente que os bandeirantes da reforma considerassem a voz
das lideranças locais responsáveis, que ecoa: Não Reformarás. Vamos com paciência e
maturidade emendar a nossa Constituição. Antes, porém, vamos cumpri-la. E,
simultaneamente, precisamos atacar os verdadeiros problemas que impedem o
crescimento sadio da nossa amada Igreja. Se houver uma reforma imposta pela cúpula, a
IPB implodira. Ou então, como já está acontecendo Brasil a fora, cada igreja adotará um
modelo próprio sem se preocupar com o que legisla o SC. O pós-denominacionalismo se
implantará de forma oficial, mandando para o espaço o aspecto federativo da
denominação.
17
Anulando Sofismas
A proposta de reforma da Constituição da Igreja Presbiteriana do Brasil fundamenta-se
em vários sofismas. Entende-se por sofisma ou sofismar o ato de distorcer um assunto e
dar aparências de verdade ao que é falso. É um argumento sedutor, aparentemente
correto, mas na realidade falso, destinado a induzir o interlocutor a erro.
Igreja e sacrifício pessoal (tempo e dinheiro). Há muita gente que está a favor da
reforma não por achá-la necessária, mas para não perder o emprego ou contrariar
interesses outros. Há também os que estão contra a reforma por ressentimento de algum
interesse pessoal contrariado.
18
Um quarto sofisma a ser anulado é que esse anteprojeto baixado aos presbitérios
expressa o pensamento e o desejo da Igreja pela reforma. As comissões que estavam
elaborando o anteprojeto de reforma, enviaram para aos presbitérios o que já havia sido
produzido pelas mesmas, solicitando sugestões até o dia 31 de julho. Por se tratar de um
procedimento no mínimo estranho aos processos constitucionais de reforma (art 141, b:
esta comissão especial elaborará o anteprojeto de reforma, que será enviado à Comissão
executiva do Supremo Concílio, a fim de que esta o encaminhe aos presbitérios) muitos
presbitérios fizeram sugestões e alguns até já votaram favoráveis ou não à reforma.
Agora, quando os presbitérios tiverem que votar o anteprojeto, muitos serão
constrangidos a votar favoravelmente, pois como votarão contra um anteprojeto que eles
mesmo sugeriram?
Para nós, a grande reforma que a Igreja precisa hoje não é a Constitucional, mas a
reforma espiritual. Precisamos urgentemente de um avivamento espiritual que nos leve a
andar não em "novidade teológica ou cultural", nem em "novidade constitucional", mas
em "novidade de vida".
19
Redescobrindo o Ministério
dos Presbíteros
A Igreja Presbiteriana é a igreja dos presbíteros. O seu nome e a sua forma de governo se
originam no ensino bíblico acerca dos presbíteros: "E, promovendo-Ihes, em cada igreja,
a eleição de presbíteros, depois de orar com jejuns, os encomendaram ao Senhor em
quem haviam crido" (At 14.23).
Cada igreja local organizada pelos apóstolos era pastoreada por um corpo de
presbíteros (plural). Os presbíteros eram eleitos e encomendados ao Senhor (consagrados
ou ordenados) pelos apóstolos ou por um dos seus representantes autorizados. O apóstolo
Paulo recomenda a Tito:"Por esta causa, te deixei em Creta, para que pusesses em ordem
as coisas restantes, bem como, em cada cidade constituísses presbíteros, conforme te
prescrevi" (Tt 1.5). Fica evidente que um conselho de presbíteros era encarregado do
cuidado geral de uma igreja local.
20
Observe que para MacArtur Jr a figura do pastor é a mesma do presbítero.
Nos dias atuais, principalmente dentro da Igreja Presbiteriana, essa visão bíblica e
sistemática está em processo de decadência. Os responsáveis por essa decadência são os
próprios presbíteros, principalmente os docentes (pastores). As causas dessa decadência
são várias e eu gostaria de apresentar algumas:
1. A PROFISSIONALIZAÇÃO DO PASTORADO
A Bíblia ensina, de forma inequívoca, que o pastorado é uma vocação divina, um
sacerdócio santo, um privilégio imerecido. Ninguém se faz pastor, pois o ministério é
uma designação divina. O ministério é para o pastor uma "carreira sagrada" que precisa
ser concluída mesmo com o sacrifício pessoal: "Porém em nada considero a vida
preciosa para mim mesmo, contanto que complete a minha carreira e o ministério que
recebi do Senhor Jesus para testemunhar o evangelho da graça de Deus" (At20.24). A
motivação maior do ministério é a obediência ao chamado de Deus. Quando se obedece a
Deus, O mesmo se encarregará de suprir todas as nossas necessidades pessoais e
familiares. Deus é fiel.
21
"As normas que disciplinam as relações entre o pastor, o tempo e seus fiéis tem
a sua fonte de inspiração no Poder Espiritual. O pastor protestante, a exemplo do
padre da Igreja Católica sem atividade leiga, vive de espórtulas tiradas das propendas ,
donativos dos crentes. Confundir espórtulas com salários, contraprestação de serviço,
importa em deformação da crença religiosa, em farsa de princípios no reconhecimento
do trabalho mercenário. Sacerdócio é devoção, não é emprego, o pastore carente de
ação no foro trabalhista pela inexistência de relação de emprego" (TRT, 1.ª Região,
proc. 687/62)
3. O CONSELHO-PATRÃO
A culpa da transformação do pastorado em profissão não é apenas do pastor. Há muitos
22
presbíteros e conselhos que tratam o pastor como se fosse um empregado. Há tesoureiros
de igreja local que humilham o pastor, principalmente quando o sustento do mesmo
depende integralmente da Igreja. Conheço muitos colegas que trocaram o pastorado
integral pelo ensino secular porque foram humilhados por presbíteros e conselhos. E isso
tem deixado seqüelas profundas na família do pastor. Há esposas e filhos de pastor que
são revoltados com a Igreja por causa desse motivo.
Segundo a Bíblia, a escolha e eleição de presbíteros deve ser realizada com muita
oração e jejum (At 14.23). Não se deve desprezar o padrão de Deus para o caráter do
presbítero ou do pastor (1 Tm 3 e Tt 1). Se existe um estado de calamidade hoje que gera
a necessidade de um jejum coletivo, esta é o estado da liderança da Igreja.
4. A DISTORÇÃO DA REPRESENTATIVIDADE
O sistema presbiteriano de governo é definido como uma democracia representativa. Por
exemplo, quando uma igreja local é organizada, os membros da assembléia elegem
alguns presbíteros, os quais formarão um conselho administrativo. Legalmente, a
assembléia dará para esse conselho poderes exclusivos e reservará para si alguns outros.
É aquilo que se chama competência exclusiva do Conselho ou da Assembléia. Daí por
diante, a igreja se fará representada nos concílios superiores através dos membros do seu
Conselho.
Outro sintoma sério dessa distorção é que os representantes, por não terem
ministério abençoado na Igreja local, não representam o sentimento da mesma. Os
assuntos tratados pelos concílios superiores são mais do interesse de pessoas ou grupos do
que propriamente do interesse da igreja local. Como na política secular, os políticos
eclesiásticos só aumentam a "carga tributária" sobre as igrejas. Leiam as últimas decisões
dos nossos Concílios e comprovem o que estou dizendo.
23
5. A INEXISTÊNCIA DE UM PLANO GLOBAL PARA
A FORMAÇÃO DE PASTORES
Acho que uma das funções mais difíceis na igreja atual é a de diretor de Seminário. A
razão é simples: não existe um plano de educação teológica definido e permanente para a
formação de seus pastores. E enquanto, a educação teológica estiver vinculada a política
eclesiástica não se terá um plano definido. A Igreja insiste em reproduzir o modelo
educacional burocratizado do Estado. A cada quatriênio, com reeleição ou não do
presidente do Supremo Concílio, temos novidades na educação teológica. E, o pior,
sempre com mais pedantismo.
Preparo de Pastores
Foi também nessa mesma reunião do SC que se criou um curso para Presbíteros e
Diáconos. O curso foi chamado de Extensão Teológica e seria ministrado em três níveis:
primário, secundário e superior, conforme o grau de instrução da clientela. Se não foi
excelente na sua qualidade, pelo menos foi um plano global de educação teológica.
Pensou-se na formação de pastores, presbíteros e diáconos. Manteve-se o ideal de não
copiar um modelo de educação secular.
24
A formação de pastores jamais deverá ser dirigida por uma filosofia secular:
"Disse Jesus: Vinde após mim, e eu vos farei pescadores de homens?" (Mc 1.17). "Tu,
pois, filho meu, fortifica-te na graça que está em Cristo Jesus. E o que de minha parte
ouviste através de muitas testemunhas, isso mesmo transmite a homens fiéis e também
idôneos para instruirá outro?" (2 Tm 2.1-2). Estes dois trechos já seriam suficientes para
fundamentar uma filosofia bíblica para a formação de pastores. As prescrições do Novo
Testamento para a formação da liderança da Igreja são atemporais.
25
A Metáfora do Cabelo Pintado
Está na moda pintar os cabelos com cores diferentes da cor natural. É moda entre os
adolescentes, entre as mulheres e principalmente, entre as pessoas da terceira idade. Os
motivos que as levam a pintar são os mais diversos: contestação, necessidade de
mudança, beleza estética, esconder a velhice dos cabelos brancos etc.
O segundo sinal é o das exigências legais somente para os outros. Legislam, mas
não cumprem. Disse Jesus: "Atam fardos pesados [e difíceis de carregar] e os põem
sobre os ombros dos homens; entretanto eles mesmos nem com o dedo querem movê-los"
( M X 23.4). É como disse um colega: Na igreja, para os amigos tudo, para os inimigos a
lei. Os códigos e as leis religiosas são usadas parcialmente, conforme o interesse de quem
legisla ou interpreta. Muitas injustiças são cometidas dentro da legalidade.
26
Confessionalismo ou Pluralismo
A Bíblia declara: "Não há nada novo debaixo do sol" (Ec 1.9). Logo, não há nada tão
equivocado como as pessoas pensarem que estamos vivendo hoje algo inteiramente novo.
Globalização, Nova Era, Nova Ordem Mundial são termos utilizados para caracterizar
um "novo tempo", entretanto a verdade bíblica permanece. Martyn Lloyd-Jones diz: "Os
homens e as mulheres modernos, com toda a sua inteligência, são incapazes de inventar
um novo pecado. As piores formas de vícios e males cometidos hoje são encontrados em
algum lugar da Bíblia. Nada é novidade debaixo do sol!"
A Igreja vive hoje uma grande pressão, interna e externa, no sentido de promover
mudanças, a fim de adaptar-se aos "novos tempos". Internamente, os paladinos do "novo"
ou os profetas dos "novos paradigmas", acham que a Igreja perderá a sua relevância
histórica se, urgentemente, não promover mudanças. Na visão destes, para alcançar a
sociedade atual, a Igreja precisa se tornar plural na sua teologia, no seu culto, na sua
metodologia e na sua ética. Entretanto, a grande pergunta a ser respondida é: pode uma
Igreja ser, ao mesmo tempo, confessional e plural?
27
mudanças teológicas, o incentivo e o financiamento de movimentos que questionam a
estrutura das denominações históricas (G 12, por exemplo).
28
Formação de Pastores
Há diferenças fundamentais entre o processo de formar pastores e o de diplomar
bacharéis em teologia.
Por uma razão de coerência, a formação dos mestres que lecionam nos Seminários
deve preservar essa linha educacional. Foi com esse objetivo que o Centro Presbiteriano
de Pós-Graduação Andrew Jumper foi criado. Originalmente, o Centro era apenas o curso
de pós-graduação do Seminário José Manoel da Conceição. Infelizmente, por motivações
políticas, o pós-graduação do JMC (CPPGAJ) foi levado para as dependências da
Universidade Presbiteriana Mackenzie. Ali, sempre foi um corpo estranho na estrutura da
Universidade.
29
A Igreja Católica Romana, mesmo possuindo uma rede de Universidades que
oferece cursos de Teologia, não abre mão da formação dos seus padres. Ela continua
mantendo os seus seminários, com currículos específicos para formação de sua mão de
obra. Recentemente, a Igreja Romana lançou uma campanha de oração em prol da
vocação de novos padres. Ela prefere a oração ao vestibular.
30
A Disciplina Eclesiástica
J.MacArthur Jr. afirma: "Durante este século (XX), na maior parte do tempo, o
Cristianismo evangélico vem se concentrando na batalha pela pureza doutrinária, e deve
fazê-lo, mas estamos perdendo a batalha pela pureza moral. Temos pessoas com a
teologia certa, vivendo de modo impuro".
Mas, como impedir que a impureza mundana penetre na Igreja? Como impedir
que os valores do mundo não sejam assimilados e praticados pelos crentes hoje? Há uma
dupla resposta: primeiro, somente Deus, através da sua providência sobrenatural, pode
impedir que a sua Igreja se deteriore moralmente (Ef 5.26); segundo, Jesus Cristo
autorizou a liderança ordenada da Igreja que use a disciplina eclesiástica como um
instrumento de combate ao pecado (Mt 18.15-17).
Entende-se que cada pessoa possui o foro íntimo da consciência, a qual escapa à
jurisdição da igreja. Contudo, há o foro externo que deve ser observado. Quando um
membro da Igreja comete uma falta ou pecado que prejudique a paz e a pureza da mesma,
deve ser disciplinado. "Falta é tudo que, na doutrina e prática dos membros e concílios da
Igreja, não esteja de conformidade com os ensinos das Sagrada Escritura, ou transgrida e
prejudique a paz, a unidade, a pureza, a ordem e a boa administração da comunidade
cristã" (CD da IPB).
2. RESISTÊNCIAS À DISCIPLINA
Há uma grande resistência hoje, na Igreja, à prática da disciplina. Alguns argumentos são
usados:
31
2.4. Argumento do Afastamento
A disciplina eclesiástica afastará as pessoas da Igreja.
Resposta: (Sl 37.23-24; 1 Jo 2.18-19).
3. APLICANDO A DISCIPLINA
Havia na igreja de Corinto, uma pessoa que mantinha um relacionamento incestuoso com
a mulher de seu próprio pai. Provavelmente, a sua madrasta. O apóstolo Paulo estranha:
"Geralmente, se ouve que há entre vós imoralidade e imoralidade tal, como nem mesmo
entre os gentios, isto é, haver quem se atreva a possuir a muIher de seu próprio pai. E,
contudo, andais vós ensoberbecidos e não chegastes a lamentar, para que fosse tirado do
vosso meio quem tamanho ultraje praticou?" (1 Co 5.1-2). Paulo definiu aquele pecado
como uma grande imoralidade e um ultraje.
32
3.2.3. Evitar que o juízo de Deus caia sobre a Igreja
(Ap 2.18-29).
A Igreja não deve falhar no combate do pecado interno. A sua saúde espiritual
depende da sua pureza. "Você pode ter disciplina sem santidade, mas não pode ter
santidade sem disciplina".
33
Liberais, Fundamentalistas
e Moderados
No atual processo de secularização da Igreja, antigas terminologias eclesiásticas são
utilizadas para rotular os que estão envolvidos.
No Brasil, como produto made in Brazil, temos aqueles que se intitulam hoje de
moderados, ou seja, não são nem liberais nem fundamentalistas. Moderado é o adjetivo
que qualifica a pessoa que age prudentemente, sem exageros, comedidamente. O termo
latino moderatio significa a capacidade ou virtude de permanecer na exata medida. O
apóstolo Paulo recomenda aos cristãos: "Seja a vossa moderação conhecida de todos os
homens" ( F p 4.5). A palavra grega denota o espírito magnânimo que supera ofensas, ou
um espírito paciente. Jesus é o exemplo supremo (2 Co 10.1). No atual contexto
eclesiástico, porém, moderação ganha novos significados, diferentes dos acima citados.
Primeiro, toda a pessoa que não têm uma posição teológica definida e não defende
princípios é reconhecida hoje como moderada. Filosoficamente, diríamos que o
moderado é aquele que convictamente tem como posição não ter uma posição definida.
Um exemplo bíblico é o do povo de Israel, na época do profeta Elias: "Então, Elias se
chegou a todo povo e disse: Até quando coxeareis entre dois pensamentos? Se o
SENHOR é Deus, segui-o; se é Baal, segui-o. Porém, o povo nada lhe respondeu" (1 Rs
18.21). Observe que o texto apresenta dois perfis: o de Elias claramente definido: o
SENHOR é Deus; e o do povo indeciso claudicando entre dois pensamentos ou duas
proposições teológicas: o povo nada lhe respondeu. A indefinição do povo de Israel
representa o moderado de hoje.
34
Segundo, toda pessoa que age politicamente hoje é chamado de moderado. É o
politicamente correto ou o que tem jogo de cintura. O fato de não ter convicção, esse tipo
de moderado passa a agir pela conveniência, isto é, pelo interesse ou o seu maior
benefício pessoal. A convicção estará sempre onde o lucro for maior. O apóstolo Paulo
repreendeu a Pedro por atitude semelhante: "Quando, porém, Cefas veio a Antioquia,
resisti-lhe face a face, porque se tomara repreensível. Com efeito, antes de chegarem
alguns da parte de Tiago, comia com os gentios; quando, porém, chegaram, afastou-se e,
por fim, veio a apartar-se, temendo os da circuncisão. E também os demais judeus
dissimularam com ele, a ponto de o próprio Barnabé ter-se deixado levar pela
dissimulação deles" (Gl 2.11-13). Infelizmente, na Igreja hoje, a posição teológica
dependerá sempre do emprego oferecido ou ameaçado.
Terceiro, toda pessoa que foge da luta cristã é chamada hoje de moderada.
Entende-se por esse prisma que o rebanho de Deus e a sã doutrina não precisam ser
defendidas. Entretanto, conforme a Bíblia, a fé cristã é por natureza confrontadora e é
dever de cada cristão pelejar pela fé: "Amados, quando empregava toda a diligência em
escrever-vos acerca da nossa comum salvação, foi que me senti obrigado a
corresponder-me convosco, exortando-vos a batalhardes, diligentemente, pela fé que
uma vez por todas foi entregue aos santos" (Judas 3). O verdadeiro pastor é aquele que,
em benefício do rebanho, enfrenta o lobo. Jesus reconhece que a característica principal
do mercenário é a covardia: "O mercenário, que não é pastor, a quem não pertencem as
ovelhas, vê vir o lobo, abandona as ovelhas e foge; então, o lobo as arrebata e dispersa".
(Jo 10.12). Aquele que foge à luta em prol da proteção do rebanho de Deus, não é visto
por Jesus Cristo como moderado, mas, sim, como mercenário.
35
Atos, O Manual de
Missões da Igreja
Manual é um pequeno livro que contém noções essenciais de uma matéria. Qualquer
objeto industrializado que você adquire hoje, vem acompanhado de um "Manual de
Instrução". Nele você encontra a descrição técnica do produto, como funciona e como
deve ser instalado. A garantia do produto pela fábrica, dependerá da observação correta
desse manual. É por isso que nos manuais sempre aparece a expressão: "Siga
corretamente as instruções. No caso de dúvida, consulte um representante autorizado".
No Livro dos Atos dos Apóstolos temos um manual bíblico de evangelização. Ele
narra os contínuos atos do Senhor Jesus Cristo, após sua ascensão, através dos apóstolos:
"Escrevi o primeiro Livro, ó Teófilo, relatando todas as cousas que Jesus começou a
fazer e ensinar" (Atos 1.1). Quem escreveu? Lucas (Lc 1.1 -4). Para quem escreveu? À
Teófilo, que ocupava um alto posto no governo romano. Como escreveu? Em dois
volumes: Lucas e Atos. Ambos retratam os dois estágios do ministério de Jesus Cristo.
Em Lucas, relata todas as coisas que Jesus começou a fazer e ensinar até a sua ascensão.
Em Atos, escreve sobre aquilo que Jesus continuou a fazer e a ensinar após a sua
ascensão.
Atos é, portanto, um manual daquilo que Jesus fez e ensinou através dos
apóstolos, na Igreja Primitiva. O assunto principal é Evangelização e Missões.
1. O PROPÓSITO DO MANUAL
O grande propósito de Lucas ao escrever Atos foi relatar o crescimento do cristianismo.
Ele traça o progresso do evangelho, a partir de Jerusalém, onde teve início, até Roma, a
capital do império.
C.H. Turner destaca seis divisões em Atos, nas quais aponta para o crescimento e
desenvolvimento do evangelho:
36
1.1. De 1.1 - 6.7 - Nos fala da Igreja de Jerusalém e da pregação de Pedro; e
finaliza com um resumo: "Crescia a palavra de Deus e, em Jerusalém, se
multiplicava o número dos discípulos; também muitíssimos sacerdotes
obedeciam a fé".
1.5. De 16.6 -19.20 - Relata a expansão da Igreja na Europa e nas cidades grandes
como Corinto e Éfeso: "Assim a palavra do Senhor crescia e prevalecia
poderosamente".
1.6 De 19.21 - 28.31 - Nos fala da chegada de Paulo em Roma e de sua prisão ali.
Termina com uma descrição de Paulo: "Pregando o reino de Deus, e, com
toda a intrepidez, sem impedimento algum, ensinava as cousas referentes ao
Senhor Jesus Cristo".
Fica claro que o propósito de Lucas era mostrar como o cristianismo começou em
Jerusalém e chegou até Roma. Um grande erudito do Novo Testamento disse que o título
de Atos poderia ser: "Como chegaram as Boas Novas de Jerusalém a Roma".
2. A IMPORTÂNCIA DO MANUAL
Para John Stott, Atos é importante por duas razões: por causa dos seus registros históricos
e devido à inspiração contemporânea que nos traz. De fato, sempre olhamos para a Igreja
Primitiva, suas experiências e práticas, como algo a ser revivido pela Igreja
contemporânea. Entretanto, podemos incorrer em dois perigos: o primeiro, de
sobrenaturalizar a Igreja Primitiva, esquecendo-nos de que ela cometeu e possuía graves
erros; o segundo, o de achar que a experiência da Igreja Primitiva é norma para as Igrejas
de todas as épocas. Você já imaginou se todo mentiroso que está na Igreja hoje, recebesse
o mesmo castigo que receberam Ananias e Safira? Ou que todo crente para se converter
precisasse cair do cavalo e ficar cego como Saulo?
Vejo em Atos um Manual de Missões para a Igreja Cristã, de todas as épocas. Não
na repetição ou tentativa das mesmas experiências da Igreja Primitiva, mas nos princípios
espirituais normativos.
37
2.1. A obra missionária é produzida, motivada, dirigida e capacitada por Deus,
através do Espírito Santo. "Mas recebereis poderão descer sobre vós o
Espírito Santo..."(At 1.8; 8.29; 10.19; 11.12; 13.2,4; 15.28; 16.6; 20.23).
2.3. A visão missionária deve ser ampla: cidade, estado, país e o mundo inteiro.
Visão missionária é visão do ponto de vista de Deus. "E sereis minhas
testemunhas tanto em Jerusalém, como em toda a Judéia e Samaria e até aos
confins da terra". (At 1.8; 9.31; 11.18; 23.11; 28.28).
2.6. O método utilizado pela Igreja Primitiva para expansão missionária era o de
organizar Igrejas locais. A Igreja pregava e reunia os convertidos em Igrejas
locais, onde pudessem ser edificados e treinados para o serviço. (At 14.23;
11.19-26; 17.1-4; 18.11).
2.7. A obra missionária é a tarefa mais importante da Igreja, por isso devemos dar
para a obra missionária o que temos de melhor. Os melhores obreiros (At
13.2), os maiores recursos (At 20.35), o melhor de nós mesmos (At 20.24).
38
Parceria Santa
Parceria é a palavra de ordem no mundo atual. Significa a reunião de indivíduos ou
instituições para certo fim com interesse comum. Parceria santa é a reunião de duas ou
mais igrejas que juntam recursos e esforços com o objetivo de evangelizar os perdidos e
organizar novas igrejas.
Mas, quais são os obstáculos que a idéia da parceria precisa superar para se tornar
algo efetivo na igreja hoje?
Primeiro, o obstáculo da visão missionária. Jesus disse aos seus discípulos: Erguei
os olhos e vede os campos, pois já branquejam para a ceifa. Segundo Jesus, os discípulos
possuíam visão, mas o que estava errado era o foco: erguei os olhos. A igreja local precisa
deixar de olhar somente para as suas necessidades internas e olhar para o mundo perdido.
A razão de ser da igreja é o cumprimento da tarefa missionária. Quando falamos de igreja,
pensamos no modelo de Atos dos Apóstolos. É a igreja local que deve coordenar o
trabalho missionário. Não se deve esperar que os Concílios ou as Juntas Missionárias
cumpram o papel que, biblicamente, é da igreja local.
39
Terceiro, o obstáculo financeiro. Um dos grandes trunfos que Satanás tem usado
para impedir a igreja local de evangelizar e plantar novas igrejas é o da falta de recursos.
"Não temos dinheiro!" afirma o pastor ou o presbítero. Contudo, a questão central não é
quanto se tem para investir em missões, mas a disposição para investir. Antes do
envolvimento financeiro exige-se o envolvimento pessoal com a obra financiada. Não
existe na História das Missões Mundiais um só exemplo de crente ou Igreja que
envolveu-se com missões porque tinha dinheiro sobrando. A obra é gloriosa e sacrificial.
Deus enviará os recursos para aqueles que priorizarem aquilo que é a prioridade de Deus
- a evangelização do perdido.
Quarto, o obstáculo da vaidade. Observa-se que a vaidade dos líderes da igreja local é
uma grande barreira às parcerias para a evangelização. Quem é que vai ficar com as
honras de ter organizado a nova igreja? Quais os nomes que aparecerão na placa de
inauguração? Como contribuir com uma obra que vai evidenciar as virtudes de uma outra
comunidade ou de outro colega pastor? Existe uma competitividade diabólica,
geralmente velada, entre os líderes da Igreja, que tem atrasado o avanço da obra de Deus.
Alguns usam até a Bíblia ou a Constituição da Igreja para justificar o não envolvimento
ou até mesmo impedir a formação de parcerias missionárias.
Concluindo, convocamos o povo de Deus, os líderes da igreja local, que nos unamos em
torno do objetivo comum da evangelização e plantação de novas igrejas. Façamos
parcerias santas e lutemos juntos pela fé: " Vivei, acima de tudo, por modo digno do
evangelho de Cristo, para que, ou indo ver-vos ou estando ausente, ouça, no tocante a
vós outros, que estais firmes em um só espírito, como uma só alma, lutando juntos pela fé
evangélica" (Fp 1.27).
40
Presbitismo
Aurélio define: Presbitismo: deficiência da visão, resultante da diminuição do cristalino
pela perda da sua elasticidade, que impede que se veja com nitidez aquilo que está
próximo, e que exige lentes corretivas; vista cansada; presbitia, presbiopia. O
presbitismo é, portanto, uma doença da vista peculiar aos idosos ou aos mais velhos.
Não concordamos com esta distorção! A Igreja não deve, para o seu próprio bem,
ter essa visão. Mas, o mais importante, é que os verdadeiros presbíteros regentes, não
aceitam esse falso ensino. É a luz da Palavra de Deus, que a Constituição da Igreja
Presbiteriana do Brasil legisla: Vocação para o ofício na Igreja é a chamada de Deus,
41
pelo Espírito Santo, mediante o testemunho interno de uma boa consciência e a
aprovação do povo de Deus, por intermédio de um concílio. Ninguém poderá exercer
ofício na Igreja sem que seja regularmente eleito, ordenado e instalado no cargo por um
concílio competente. Ordenar é admitir uma pessoa vocacionada ao desempenho do
ofício na Igreja de Deus, por imposição das mãos, segundo o exemplo apostólico, e
oração pelo concílio competente (CI art. 108 e 109§ 1.º).
Neste momento, em que a Igreja Presbiteriana do Brasil vive uma crise na sua
identidade teológica, litúrgica e administrativa é de suma importância a participação dos
presbíteros. Nos variados concílios e, principalmente, no Supremo Concílio, o presbítero
regente tem, para todos os fins, igualdade de voto e mesma autoridade que o pastor. A
metade dos votos na Assembléia Geral é dos presbíteros. Poderão ser o fiel da balança nas
decisões sobre o futuro da Igreja.
A Palavra de Deus fala aos presbíteros: Atendei por vós e por todo o rebanho
sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastoreardes a Igreja de Deus, a
qual ele comprou com o seu próprio sangue. Eu sei que depois da minha partida, entre
vós penetrarão lobos vorazes, que não pouparão o rebanho. E que, dentre vós mesmos, se
levantarão homens falando coisas pervertidas para arrastar os discípulos atrás deles.
Portanto, vigiai... (At 20.28-31)
42