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ARIVAL DIAS CASIMIRO*

RESISTINDO A
SECULARIZAÇÃO

REFLEXÕES SOBRE
A LUTA DA IGREJA CONTRA
A SECULARIZAÇÃO

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* — O autor é pastor da Igreja Presbiteriana de Pinheiros – São Paulo. É formado em Pedagogia, Mestre
em Comunicação e Letras pelo Mackenzie e Doutorando em Língua Portuguesa pela PUC-SP. É editor
responsável pela Revista de Educação Cristã e Jornal O Mediador. É casado com Társia e pai de Matheus
e Túlio. [Informação colhida na contracapa do livro original]

1
RESISTINDO A SECULARIZAÇÃO
Autor: Arival Dias Casimiro

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Santa Bárbara d'Oeste – SP – Brasil
1ª Edição – Abril/2002

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Apresentação
Damos graças a Deus porque na Sua infinita misericórdia, Ele chama os Seus profetas nos
dias atuais como chamou no passado para nos advertir de erros que cometemos ou
venhamos a cometer contra os preceitos escriturísticos que contrariam a vontade do
Senhor Todo-Poderoso.

O Israel de Deus, no passado, por intermédio de seus líderes, fazia alianças


contrárias aos interesses do Senhor, trazendo sobre todo o povo, sérias e graves
conseqüências pelo pecado cometido. Essas alianças, tanto no passado, como no presente,
provocam a ira de Deus e Ele permite que os que assim procedem colham seus frutos
amargos, conforme podemos observar em tantas passagens da Bíblia.

Este pecado deve ser confessado, profundamente arrependido e abandonado de


uma vez por todas, servindo-nos de exemplo o capítulo 10 de Esdras, porque há
esperança, mercê de Deus, para o Israel de nossos dias do qual a IPB faz parte.

Louvamos a Deus pela vida e ministério do Rev. Arival Dias Casimiro que, com
coragem destemida, publicou no Jornal "O Mediador", editoriais de valor inestimável que
chamam a nossa atenção, como líderes do povo de Deus, para não cairmos na esparrela de
certas alianças que nos são propostas.

Vale a pena ler e reler Resistindo a Secularização - Reflexões sobre a luta contra
a secularização da Igreja Presbiteriana do Brasil, ora publicado em forma de livro,
considerando as eleições para os diversos cargos da Igreja a nível nacional, a fim de que
estejamos conscientizados da responsabilidade que temos em eleger nossos líderes.

Aprendamos com a expressão de Karl Barth: "Que Deus seja Deus, e que o
homem aprenda, uma vez por todas, a ser não mais e não menos que homem."

Que o Senhor nos abençoe e nos faça líderes responsáveis e corajosos para
denunciar, a tempo e fora de tempo, alianças perniciosas que, porventura, venham a
existir e perturbar a Igreja de Cristo. Amém!

Pb. Antônio Ribeiro Soares

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Sumário

Lutando contra a secularização da Igreja 5

Vocação ou Profissão 7

A Secularização Político-Administrativa da Igreja 9

Boçalidade Teológica 11

Interpretando a História 13

Não Reformarás 16

Anulando Sofismas 18

Redescobrindo o Ministério dos Presbíteros 20

A Metáfora do Cabelo Pintado 26

Confessionalismo ou Pluralismo 27

Formação de Pastores 29

A Disciplina Eclesiástica 31

Liberais, Fundamentalistas e Moderados 34

Atos, O Manual de Missões da Igreja 36

Parceria Santa 39

Presbitismo 41

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Lutando Contra a
Secularização da Igreja
Secularizar é o ato de tornar aquilo que é sagrado em profano. No caso da Igreja, é
substituir os valores de Deus pelos valores de uma sociedade sem Deus. "E não vos
conformeis com este século", exorta a Palavra de Deus, "mas transformados pela
renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita
vontade de Deus" (Rm 12.2). Observe que Paulo vê a possibilidade de um cristão ou uma
instituição cristã, adotar uma atitude mental modelada pelo mundo e não pela Bíblia.
Também, a impossibilidade de uma mente secularizada compreender e experimentar a
vontade de Deus.

O processo de secularização de uma Igreja se dá, principalmente, por forças internas,


quando falsos mestres introduzem heresias no meio do povo de Deus. O apóstolo Pedro
alerta-nos: "Assim como, no meio do povo, surgiram falsos profetas, assim também
haverá entre vós falsos mestres, os quais introduzirão, dissimuladamente, heresias
destruidoras... e muitos seguirão as suas práticas libertinas, e, por causa deles, será
infamado o caminho da verdade; também, movidos por avareza, farão comércio de vós,
com palavras fictícias". (2 Pe 2.1 -2). É enfático no texto, que é por meio dos falsos
mestres, isto é, do falso ensino teológico, que a Igreja é prejudicada. Também, a
motivação do falso mestre é sempre a avareza ou o lucro pessoal.

No processo de secularização da Igreja Presbiteriana nos Estados Unidos da América, no


século XX, tudo começou no ensino teológico. Num relatório produzido pelo Presbitério
de Piratininga - SP, Secularismo no Ensino Teológico da IPB, lemos: "Durante a crise
que metamorfoseou a Presbyterian Church in the USA, os seguintes elementos foram
introduzidos, levando ao lamentável estado em que se encontrava por ocasião da sua
extinção: 1. Pluralidade teológica, abandonando a referência da teologia reformada; 2.
Distanciamento da teologia reformada; 3. Interpretação liberal das Escrituras; 4.
Valorização da experiência subjetiva, em detrimento dos fatos históricos registrados nas
Escrituras Sagradas, como referencial; 5. Ênfase no ativismo social; 6. Foco na unidade
institucional em detrimento da unidade doutrinária; 7. Alterações na Educação
Teológica adotando os posicionamentos supracitados; 8. Reestruturação dos centros de
Educação Teológica referenciais (por exemplo: Princeton) demitindo os Mestres e
Doutores fiéis aos símbolos de Fé - Confissão de Fé de Westminster, Catecismos Maior e
Menor. 9. Domínio nos centros de Educação Teológica referenciais por parte dos
Mestres e Doutores liberais ou moderados, isto é, tolerantes ao liberalismo.

O Dr. James Kennedy, em seu livro As Portas do Inferno não prevalecerão (1998), fala
sobre a influência destruidora dos Seminários Liberais na Igreja Americana:
'Tragicamente, muitos dos seminários deste país são tão liberais que já abandonaram o
Cristianismo histórico ou os elementos básicos da fé. Eles não crêem na Bíblia, na
divindade de Cristo, na sua obra de redenção da cruz ou na sua ressurreição corpórea.
Eles são guias cegos que fazem naufragar a fé de muitos jovens que querem servir a Deus
- e que saem do seminário como virtuais incrédulos".

O processo de secularização da Igreja no Brasil já foi iniciado. E ele é promovido de cima

5
para baixo, nos nossos seminários. Há hoje muitos professores que não aceitam a
inspiração e a inerrância da Bíblia, mas continuam lecionando em nossos seminários. Os
professores fiéis são chamados de fundamentalistas e são banidos dos nossos seminários.
É preciso orar e agir. Os oficiais e concílios da Igreja precisam acordar do sono da apatia
e da omissão. Observem a recomendação do apóstolo Paulo: "Atendei por vós e por todo
o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastoreardes a igreja
de Deus, a qual ele comprou com o seu próprio sangue. Eu sei que, depois da minha
partida, entre vós penetrarão lobos vorazes, que não pouparão o rebanho. E que, dentre
vós mesmos, se levantarão homens falando coisas pervertidas para arrastar os
discípulos atrás deles. Portanto, vigiai..."(At 20.28-31).

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Vocação ou Profissão?
Na Igreja Evangélica hoje, o pastorado está se secularizando, ou seja, deixando de ser um
ofício sacerdotal para ser uma profissão. Entende-se a secularização dos pastorado como
o processo de ser, de se formar e de se exercer o pastorado não segundo o modelo bíblico,
mas no modelo da sociedade sem Deus. O que seleciona o candidato ao ministério hoje,
não é mais a comprovação de um chamado de Deus, mas um vestibular. Quem forma o
pastor não é mais a Igreja, mas a Faculdade de Teologia por meio Mestres e Doutores sem
experiência pastoral. O pastor troca de Igreja hoje como se estivesse trocando de
emprego. Cada vez mais o sacerdócio pastoral tem sido desvalorizado.

O ser pastor, segundo a Bíblia, é uma vocação divina que envolve chamado para o
ofício e para o campo de trabalho. O apóstolo Paulo declara: "Porém em nada considero a
vida preciosa para mim mesmo, contanto que complete a minha carreira e o ministério
que recebi do Senhor Jesus para testemunhar o evangelho da graça de Deus" (Atos
20.24). E o Espírito Santo diz: "Separai-me, agora, Barnabé e Saulo para a obra que os
tenho chamado" (At 13.2). Nesses dois versículos, a Bíblia mostra que a prioridade do
verdadeiro ministro é cumprir o ministério que recebeu do Senhor, trabalhando sempre no
local para onde o Senhor o enviar.

A grande conseqüência para a Igreja é que, com a secularização do pastorado, ela


forma muitos teólogos, mas se ressente da falta de pastores. É fato incontestável que há
hoje muitos pastores sem campo na Igreja Presbiteriana do Brasil, e os seminários
continuam fabricando teólogos em série como numa linha de produção industrial. Há
também várias Igrejas que tiveram experiências pastorais traumáticas, precisando de
pastores, mas não desejam absorver essa mão de obra excedente. Como resolver este
problema à luz da afirmação de Jesus de que a seara, na verdade é grande, mas os
trabalhadores são poucos? Se os trabalhadores são poucos e a seara é grande, como
explicar o excesso de pastores e de seminários ou faculdades de teologia? Se a seara é
grande e há sobra de trabalhadores, será que a igreja não é omissa na sua tarefa
missionária? Será que não precisamos fechar seminários?

O profeta Jeremias afirma que uma das maneiras de Deus castigar o seu povo é
dando-lhe uma liderança não vocacionada. Então ele diz: "Convertei-vos, ó filhos
rebeldes, diz o SENHOR; porque eu sou o vosso esposo e vos tomarei, um de cada cidade
e dois de cada família, e vos levarei a Sião. Dar-vos-ei pastores segundo o meu coração,
que vos apascentem com conhecimento e com inteligência" (Jr 3.14-15). Pastores
segundo o coração de Deus, que apascentem o rebanho de Cristo hoje, é uma grande
necessidade. Faz-se necessário que a Igreja encare a escolha dos seus pastores nesta
perspectiva sobrenatural, por meio da oração, como uma dádiva de Deus e não,
meramente, na perspectiva secularizada da contratação de um novo funcionário.

Entendo que o pastor, segundo o coração de Deus, apascentará qualquer rebanho


local, com sucesso (conhecimento e inteligência), dedicando-se a três tarefas: oração,
pregação/ensino e visitação. Esse tripé dará sustentação a qualquer pastorado,
independente da região ou do contexto onde a Igreja se acha inserida. Toda ovelha precisa
da oração do seu pastor, do alimento da palavra preparada pelo seu pastor e do
aconselhamento e cuidado por meio da visita do seu pastor. Qualquer plano de formação

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pastoral, seja em seminário ou faculdade, que não contemplar esse tripé, não formará um
pastor com uma filosofia bíblica de ministério.

Irmãos, lutemos juntos, contra a secularização do pastorado valorizando os


verdadeiros ministros. Peçamos a Deus a benção de pastores segundo o Seu coração.
"Rogai, pois, ao Senhor da seara que mande trabalhadores para a sua seara", é a
ordem de Jesus.

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A Secularização Político-
Administrativa da Igreja
Jesus Cristo estabeleceu para os seus discípulos os critérios fundamentais para o exercício
da liderança na Igreja: "Sabeis que os que são considerados governadores dos povos,
têm-nos sob seu domínio, e sobre eles os seus maiorais exercem autoridade. Mas entre
vós não é assim; pelo contrário, quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que
vos sirva; e quem quiser ser o primeiro entre vós, será servo de todos" (Mc 10.42-44).
Primeiro, a natureza do exercício da autoridade na Igreja é totalmente oposta às outras
instituições seculares: "Mas entre vós não é assim". Segundo, o caminho para o
exercício da liderança, "entre vós"e não "sobre vós", é o serviço. Além desses princípios
estabelecidos por Jesus, o apóstolo Paulo fala sobre o dom ou capacitação espiritual para
o exercício da liderança: "o que preside, com diligência" (Rm 12.8).

Infelizmente, na igreja hoje, os critérios bíblicos têm sido substituídos por


critérios seculares. Em alguns casos, na igreja, as ações são piores do que as do mundo
secular, pois vêm travestidas de espiritualidade e são feitas falsamente em nome do
Senhor e de irmão contra irmão.

Por exemplo, no processo de escolha e eleição da Mesa do Supremo Concílio da


IPB, há muito, já prevalece a metodologia da política secular. A oração e a direção do
Espírito Santo são desprezadas. Interesses pelo poder e por cargos em autarquias
rentáveis são colocados acima dos interesses do Reino. O marketing político é cada vez
mais utilizado na igreja. Através de uma pesquisa, as necessidades dos eleitores são
identificadas e, a partir daí, o candidato monta o seu discurso ou a sua plataforma de
campanha, descaracterizando completamente a natureza conciliar da igreja. O "culto" de
abertura da Assembléia Geral da Igreja, realizada a cada quadriênio, tornou-se um
espetáculo para impressionar eleitores incautos. Cada vez mais, a igreja é tratada de
forma lúdica, com a realização de competições e a distribuição de bugigangas. A figura
do presidente do Supremo Concílio, que deveria ser apenas a de um moderador, é vista
como a de um imperador, o qual não pode ser contrariado.

A forma mais evidente da secularização político-administrativa da Igreja é a


perpetuação em cargos e funções administrativas, por um mesmo grupo de pessoas. O
argumento legal para a perpetuação no poder é o da reeleição contínua. Contudo, está
provado, mesmo em instituições seculares, que as reeleições são prejudiciais à vida da
instituição. Até mesmo em algumas repúblicas, o presidente só pode ser reeleito por uma
vez, mesmo realizando um grande governo. A reeleição, a experiência prova, cria na
pessoa reeleita o complexo de narciso, isto é, ele se acha tão competente que ninguém
poderá substituí-lo no exercício daquela função. Sem levar em conta que, na Igreja, o
presidente não precisa se afastar do cargo seis meses antes do término do seu mandato
para se dedicar a reeleição. Ele faz a sua campanha utilizando-se da máquina.

No caso da IPB, o Supremo Concílio (1962), ciente do perigo que a reeleição traz
para a administração da Igreja, tomou as seguintes resoluções:

SC-62-171 - Quanto ao Doc. 146 - Comissões Permanentes - o SC resolve

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encaminhara Comissão de Indicações sugestão no sentido de evitar tanto quanto possível
a indicação de nomes para reeleição a fim de assegurar-se a rotatividade na composição
das mesmas, bem como se evite a indicação de mais de um nome de cada Presbitério.

SC-62-172 - Quanto ao Doc. 162 - Participação do Presidente e Secretário


Executivo do Supremo Concílio nas Comissões - o SC resolve: 1)0 Presidente e o
Secretário Executivo do Supremo Concílio não devem ser eleitos ou nomeados para as
Comissões Permanentes às quais comparecerão por iniciativa própria ou por
convocação dos mesmos, sem direito a voto; 2) Recomenda-se à Comissão de Indicações
que no seu relatório cumpra a resolução supra.

Infelizmente, essas decisões não são divulgadas e nem aplicadas.

Uma outra forma de secularização na administração da Igreja é a valorização de


títulos e diplomas em detrimento da consagração espiritual. Para ocupar funções e
ministérios na Igreja hoje, exige-se diplomas em pós-graduação. Ser Mestre ou Doutor é
quase uma obsessão dos pastores hoje. É aquilo que Roberto Gomes, em seu livro Crítica
da Razão Tupiniquim (1984) chama de "razão ornamental: ser algum dia chamado de
brilhante é a glória à qual aspira o intelectual tupiniquim. E ser brilhante hoje é possuir
títulos. Não existe algo tão esquisito como um programa de doutoramento em ministério,
cursado em dois anos. Sem maldade, o que significa ser doutor em ministério? E se o
sujeito for doutor em ministério e não conseguir pastorear uma igreja local?" Como disse
Oswald de Andrade: "Sempre enfezei ser eu mesmo. Mau mas eu".

Muitas pessoas competentes e consagradas são alijadas da administração da Igreja


por não possuírem mestrado ou doutorado. A Bíblia, porém, ao falar sobre os dons
conectados aos ofícios, para a edificação da Igreja diz: "E ele mesmo concedeu uns para
apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas, e outros para pastores e
mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço,
para a edificação do corpo de Cristo"(Ef 4.11 -12). Os pastores/ mestres são presentes de
Cristo à sua Igreja e não produtos fabricados por universidades.

Com tamanha secularização, a igreja sofre o prejuízo espiritual. O Soberano Deus


permite, ainda que temporariamente, que a Igreja ande pelos seus próprios caminhos:
"Eu sou o SENHOR, teu Deus, que te tirei da terra do Egito. Abre bem a tua boca, e ta
encherei. Mas o meu povo não me quis escutar a voz, e Israel não me atendeu. Assim,
deixei-os andar na teimosia do seu coração: sigam os seus próprios conselhos."
(Sl 81.10-12). Logo, ficamos como Israel no tempo de Saul, com líderes não segundo o
coração de Deus, mas de acordo com a simpatia do povo. Aqueles líderes piedosos que
poderiam contribuir para o bem espiritual da igreja, afastam-se da vida conciliar
proporcionando espaço para aqueles que, de forma equivocada, fazem carreira na política
eclesiástica.
Irmãos, lutemos contra a secularização política e administrativa da Igreja. Com
humildade e coragem tomemos duas decisões: oremos perseverantemente pela Igreja e
resistamos àqueles que introduzem na Igreja os valores do mundo. Em julho de 2002, na
cidade do Rio de Janeiro, presbíteros e pastores de todo Brasil, poderão com o seu voto,
na reunião do Supremo Concílio, definir os rumos espirituais e teológicos da Igreja
Presbiteriana do Brasil.

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Boçalidade Teológica
O presbiterianismo (1859) foi a primeira denominação no Brasil, a apresentar um
discurso teológico claramente definido. Essa definição se evidencia com a adoção da
Confissão de Fé de Westminster e os Catecismos Maior e Breve, como sistema expositivo
de doutrina e prática.

É importante salientar que foi através dos Catecismos e das Confissões de Fé


elaboradas no período da Reforma (Século XV e XVI), que os princípios e práticas
distintivos do protestantismo reformado foram expressos.

Com o discurso teológico definido, o presbiterianismo erigiu um sistema informal


(regime de tutoria) e formal de educação teológica (Seminários), baseados da Teologia de
Princeton - Velha Escola. Os missionários pioneiros que foram modelados pela Teologia
de Princeton, nos Estados Unidos, reproduziram o mesmo modelo na formação dos
pastores brasileiros. Os principais elementos dessa teologia são: aceitação da inspiração
plena da Bíblia e a sua infalível autoridade; o ensino da ciência subordinado à
teologia; o uso do método indutivo (Filosofia Escocesa do Senso Comum) para a
sistematização teológica; preocupação com a defesa da fé (apologética); retorno ao
confessionalismo Reformado; e a necessidade de uma experiência pessoal de fé.
Boanerges Ribeiro oferece uma exposição consistente e bem documentada sobre esse
assunto em seu livro Igreja Evangélica e República Brasileira (1889 - 1930), e conclui:
"A Teologia de Princeton modelou a prédica, a polêmica e a ação pastoral dos
introdutores presbiterianos da Reforma no Brasil. Ela ofereceu o modelo para a
formação dos pastores nacionais e não esteve de todo ausente, na filosofia da educação
subjacente, no primeiro grande conflito que enfrentamos". (Ribeiro, 1990. p201).

A teologia de Princeton (Velha Escola) não somente estabeleceu uma matriz


teológica, mas influenciou na sistematização da educação teológica na IPB. Podemos
detectar ainda essa influência na Constituição da IPB, promulgada em 1950. Vejamos
alguns exemplos: Primeiro, estabelece a competência exclusiva da Igreja, através do
Supremo Concílio, em "criar e superintender seminários, bem como estabelecer padrões
de ensino pré-teológico e teológico" (art 97. J). Em outras palavras, a formação de
pastores seguirá padrões eclesiásticos e não deverá ser terceirizada a faculdades
seculares. Segundo, o ensino teológico deverá ser realizado por pastores: "Os ministros
poderão ser designados para exercer funções na imprensa, na beneficência, no ensino ou
em qualquer obra de interesse eclesiástico. Em qualquer destes cargos terão a
superintendência espiritual dos que lhes confiados" (art 37). Isto é, a função de professor
de seminário é uma atividade pastoral e de natureza espiritual. Não é "carreira
universitária", mas uma "função de confiança" designada a um pastor por parte da Igreja.
Terceiro, a clientela dos Seminários (Escolas de Ensino Teológico) se constituirá,
exclusivamente, dos fiéis que, no trabalho da igreja local, sentiram e demonstraram
vocação para o ministério sagrado (artigos 115 e 116). Quarto, o objetivo da educação
teológica ministrada nos seminários da Igreja será a formação de pastores. Todo pastor
deverá ser capacitado a interpretar a Bíblia no texto original, a conhecer e defender as
doutrinas da Confissão de Fé e a pregar bem a Palavra de Deus (artigos 120-121).

Qualquer sistema educacional, no mínimo, deve definir claramente: Quem

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ensina? (o professor) Por que ensina? (motivação) O que ensina? (conteúdo) Como
ensina?(metodologia) Onde ensina? (local) A quem ensina? (clientela) Para que
ensina? (objetivo).

Entretanto, apesar de oficialmente continuar a adotar a Confissão de Fé de


Westminster como símbolo de fé, na prática, a Igreja Presbiteriana do Brasil, nesses
últimos anos, não realizou educação teológica seguindo uma matriz teológica clara. Não
o fez porque não possui um padrão definido. O pior é que pensamos que temos e até
defendemos que temos! Há uma boçalidade incrível! Cada Seminário segue, na prática,
uma linha teológica e uma filosofia própria de ensino. Ao falar sobre um novo curso
teológico oferecido pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, um professor falou: "O
curso oferecido pelo Mackenzie será aberto a todos, mas manterá a linha teológica
reformada calvinista plural". O que significa "calvinista plural?"

Por falar em plural, Pluralismo é a palavra da moda em nosso ambiente teológico.


Fala-se até em uma "educação teológica pluralista" Silveira Bueno define: "Plural: é o
designativo de número gramatical que indica mais de um. Pluralismo: doutrina que
atribui uma pluralidade de causas aos fenômenos cosmológicos e históricos". Se o termo
tem sido tomado, na educação teológica, como variedade ou multiplicidade, é
necessário questionar: como implantar uma educação pluralista numa igreja
confessional? Como ensinar e defender certos dogmas da fé cristã de forma plural? Será
que não estão confundindo "pluralidade" com "currículo multidisciplinar"?

O mais folclórico é que as pessoas que decidem sobre educação teológica são, na
sua maioria, ignorantes sobre a matéria. O critério para composição das comissões e
juntas teológicas é mais político do que de vivência e competência teológica. Na Reunião
do Supremo Concílio da IPB -1990, em Governador Valadares, quando uma comissão
estava discutindo sobre o elenco das disciplinas que deveria compor a grade curricular do
curso de teologia, um presbítero exigiu que se constasse a disciplina: Noções de
Veterinária.

A inexistência de uma matriz teológica ou de uma filosofia educacional gera


alguns problemas sérios: Primeiro, a secularização da formação pastoral. Infelizmente
isso já está acontecendo. O Ministério da Educação já está autorizando o funcionamento
de cursos de teologia em universidades particulares e muitos têm visto nisso a
oportunidade para o pastor possuir um diploma reconhecido. Segundo, é a
profissionalização do pastor/mestre, que tem produzido o pastor profissional, que busca
uma relação empregado/patrão com a igreja. Terceiro, uma anarquia no ensino teológico
de uma instituição reconhecidamente confessional.

E qual a solução? Precisamos, urgentemente, banir a boçalidade e definir um


sistema de educação teológica que oriente a formação dos nossos pastores.

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Interpretando a História
E. H. Carr diz que a história "se constitui de um processo contínuo de interação entre o
historiador e seus fatos, um diálogo interminável entre o presente e o passado". Nesse
processo de interação o historiador e os fatos históricos são necessários um ao outro.
Logo, a missão dupla do historiador é selecionar os fatos e compreender o pensamento
que está por trás dos mesmos. Conclui-se que toda pessoa, mesmo aquela que não é
historiador por ofício, recria em sua mente a história. É óbvio que "todo historiador
militante... está empenhado em ajustar seus fatos à sua interpretação e sua interpretação
a seus fatos", conclui Carr.

Neste pequeno artigo, atrevo-me a apresentar a minha visão dos últimos quarenta
anos da história da Igreja Presbiteriana do Brasil.

Após o período de implantação do Presbiterianismo (1859 -1888), o período mais


importante para a sobrevivência da igreja (instituição) foi o que eu chamaria de
"boanergismo" (1966 -1986). Sob a liderança obstinada de Boanerges Ribeiro um grupo
de pastores e presbíteros, nativos de todos os estados brasileiros, travou uma luta em
defesa da igreja contra o liberalismo teológico travestido de "teologia da libertação" ou de
"ecumenismo". A luta foi polarizada, ortodoxia contra liberalismo. Não havia uma
terceira via: "Igreja Presbiteriana do Brasil: ame-a ou deixe-a". Foram anos de guerra e
não foi "guerra fria". João Dias de Araujo, em seu documentário Inquisição sem
Fogueiras, definiu o "boanergismo" como a "radicalização conservadora" que,
incentivada pelos métodos inquisitoriais do Fundamentalismo Americano, levou a IPB ao
"iso-lacionismo provinciano". Porém, o "boanergismo" prevaleceu. Como em toda
guerra, sobraram vivos, mortos e feridos.

As outras denominações históricas, Metodistas e Congregacionais, sucumbiram


ao liberalismo teológico e ao movimento de renovação espiritual, respectivamente, pois
não tiveram um grupo de resistência interna semelhante ao "boanergismo". Se não fosse o
"boanergismo" com certeza estaríamos participando da Campanha da Fraternidade 2000,
promovida pela CNBB.

Paradoxalmente, o que mais impressiona, é que apesar da guerra, foram anos de


crescimento e expansão para a Igreja Presbiteriana do Brasil. Quem duvida deve
consultar as estatísticas da época e compará-las com o crescimento atual da igreja. Em
época de guerra não se tem tempo nem dinheiro para propaganda!

O grande prejuízo desse período foi quanto a liderança. A meu ver, a geração de
líderes produzida nessa época, que delinearia os novos rumos da igreja foi prejudicada.
Dois grupos se formaram: primeiro, "os filhos do boanergismo", que não conseguiram,
sozinhos, "sair do ventre" e impor uma liderança com identidade própria dando
continuidade àquelas coisas positivas conseguidas ou preservadas pelo "boanergismo".
Muitos se dedicaram apenas a defender o grande líder. Segundo, "os filhos do
ressentimento", que são os feridos da "ditadura boanergista" e que em grande número,
estão liderando a igreja hoje, tentando inutilmente denegrir "o boanergismo" e atenuar, de
forma "neo-boba", as suas frustrações "pós-guerra". Querem, em pouco tempo , "escrever
o nome na história", reproduzindo um discurso do passado ou tentando produzir fatos

13
eclesiásticos historicamente relevantes, como por exemplo a reforma da Constituição. É
uma das bandeiras defendidas por Dias em Inquisição sem Fogueiras: "Para o futuro
seria necessário reformar a Cl ou aboli-la para dar lugar a uma expressão mais
espontânea de vida eclesiástica. Creio que a Cl se transformou num estímulo
enrijecedor e radicalizador de posições que impediram a assimilação de novas
expressões de vida espiritual dentro da Igreja. Os grupos da "renovação espiritual", da
"responsabilidade social"e do "ecumenismo" foram marginalizados ou extirpados
porque se constituíram em ameaça à estrutura rígida arquitetada pelo "cimento
armado" da constituição" (Dias,1982,p 120)

Carr adverte: "A história está preocupada com os processos fundamentais de


mudança. Se você é alérgico a estes processos, abandone a história...". Não podemos
abandonar a história. Em sua essência, a história é movimento, ação e progresso. Deus é
Senhor da história, e, principalmente, da história da igreja. E nós somos os agentes de
Deus na história. Portanto, não podemos e nem devemos reproduzir hoje os mesmos
processos históricos do passado.

O momento histórico da igreja é de apatia. Grande parte da nossa liderança


"oficial" está comprometida com empregos e cargos (fisiologismo). Muitos só votam e
decidem pensando nos seus próprios interesses. Não se reúnem mais em torno de idéias,
mas de interesses. Estão simplesmente usufruindo daquilo que foi adquirido no passado
numa espécie de "síndrome do pardal". Por outro lado, os membros das igrejas locais
estão indiferentes às questões importantes da Igreja em âmbito nacional. Essa atitude já
está sendo chamada de "pós-denominacionalismo". Graças a Deus, pois ele ainda
preserva descendentes de Calebe e Josué no seio igreja.

Porém, a história é progresso. E a Reforma deve continuar, como sempre foi,


através do povo e das lideranças "marginais". É como disse Moisés: "Senhor, tu tens sido
o nosso refúgio, de geração em geração" (Sl 90.1). Passam-se as gerações e Deus
continua sendo o refúgio dos seus escolhidos em cada nova geração. E o que a minha
geração deve fazer? Chamo de "minha geração" aqueles que nasceram a partir de 1960 e
que já estão envolvidos na edificação da igreja. Quero compartilhar com o leitor alguns
conselhos que recebi e já procuro aplicá-los na minha vida

Primeiro, prepare-se espiritual e intelectualmente; seja uma pessoa de oração,


estudo da Bíblia e de conhecimento científico.

Segundo, busque, com a providência de Deus, a sua independência econômica, a


sua liberdade política e de expressão. Não se venda por um cargo ou um emprego. Não
troque a benção da primogenitura pôr um prato de lentilhas

Terceiro, realize um ministério abençoado na igreja local. Seja frutífero


espiritualmente no seu pastorado. Você não deve aspirar o muito se você não é fiel no
pouco.

Quarto, peça discernimento a Deus para entender o seu tempo. Seja um homem
do seu tempo. Isso fará com que você não seja "usado" para fins escusos.

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Quinto, esteja sempre no lugar em que Deus quer que você esteja. Não seja pastor
de uma igreja, só porque você quer ser. Não ocupe uma função ou um cargo se você não
tem certeza da aprovação de Deus. Seja obediente a Deus e você será uma grande benção
onde estiver.

Sexto, ame a igreja como Cristo a amou e se entregou por ela. A igreja é a
comunidade mais preciosa sobre a terra, uma vez que Cristo a adquiriu com o seu próprio
sangue. Portanto, ministrar na igreja constitui-se o maior dos privilégios e também a
responsabilidade mais pesada que alguém pode assumir.

Sétimo, seja humilde e paciente, esperando sempre o "kairós" divino.

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Não Reformarás
A reforma da Constituição tem sido uma obsessão das cúpulas que têm dirigido a IPB
nesses últimos anos. Parece até que a Constituição é a causadora dos equívocos
administrativos e um entrave para o desenvolvimento espiritual da Igreja. Os argumentos
apresentados pelo "alto clero" não têm sido convincentes.

Aproveitando-se das propostas de emendas enviadas pelos presbitérios, o plenário


do Supremo Concílio (Recife 1999) estranhamente aprovou uma nova possibilidade de
reforma da Constituição. Acreditamos que os sentimentos das lideranças locais e
regionais não foram entendidos pelo Supremo Concílio. Logo, haverá rejeição por parte
das lideranças locais responsáveis dessa nova tentativa de reforma. Eis algumas razões
simples e claras:
Primeiro, não há anacronismos ou casuísmos na Constituição vigente que não
possam ser corrigidos por emendas constitucionais (Artigo 140 da Cl). Por exemplo, pode
se diminuir o número de deputados ao SC emendando artigos sobre Concílios (artigos
59-97). Basta emendar o número mínimo de igrejas para se constituir um presbitério, que
já seria feito um enxugamento significativo.
Segundo, pela experiência das últimas reuniões do SC, com mais de 800
deputados, não há possibilidade de se discutir de forma profunda e amadurecida um
anteprojeto de reforma. É preferível ficar com uma Constituição com anacronismos do
que se aventurar com uma nova Constituição elaborada e aprovada apressadamente por
um plenário inexperiente. Funciona a lógica do matuto: "ruim com ela, pior sem ela".
Terceiro, há problemas que as lideranças locais gostariam que fossem priorizados
a reforma da Constituição: 1. Reforma na estrutura das sociedades internas da Igreja
(UCP, UPA, UMP, SAF e UPH). O atual modelo (faixa etária e sexo) não tem atendido as
expectativas dos irmãos na igreja local. Há muitos que são membros, mas não se
envolvem com o trabalho das sociedades internas. A atual estrutura ou o modelo de
funcionamento está em processo de falência. Mesmo o trabalho operoso das mulheres
está ameaçado, pois não está havendo reposição na liderança. As novas gerações de
mulheres têm resistido ao atual modelo altamente burocratizado 2. Prioridade na
qualidade e não na quantidade de pastores. As igrejas locais estão sentido a
necessidade de pastor. Paradoxalmente, há excesso de pastores em relação ao número de
igrejas, mas há várias igrejas sem pastor. O número de pastores que tem prejudicado o
trabalho de igrejas locais tem crescido de forma preocupante. Está sobrando pastor no
mercado e o Supremo Concílio, politicamente, continua abrindo Seminários. A IPB atual
não comporta mais do que cinco Seminários bem estruturados. Porque abrir um curso de
teologia na Universidade Presbiteriana Mackenzie se a própria Universidade criou em
1986 uma Fundação Educacional, que organizou o Seminário José Manuel da
Conceição? Por que um Seminário em Teresina se já existe o Seminário do Norte em
Recife? Por que um Seminário em Brasília seja existe um em Goiânia? Até quando vai se
"empurrar com a barriga" esse problema? 3. Reforma nas obrigações financeiras das
igrejas locais. Muitas igrejas não têm contribuído ao SC por não se sentirem beneficiadas
com algum retorno. A Igreja local tem assumido o sustento do pastor (salário, moradia,
aposentadoria, plano de saúde, Fundo de Garantia, transporte e outros), construções e
reformas locais, congregações, missionários na JMN e JME, verbas presbiteriais, e

16
muitas outras. Daqui a dez anos os Seminários terão que se auto sustentar. Adivinha quem
pagará á conta? Por que mandar dinheiro para o SC se a igreja local paga tudo? Há uma
sobrecarga financeira sobre a igreja local, que tem reagido: O que tem feito a IPB por
nós? Logo, grande parte das igrejas não relaciona a fidelidade dizimai do crente com
Deus no ato de culto local (base bíblica) com a fidelidade dizimai da igreja com a IPB
(base constitucional). Ao invés de criar um "selo de fidelidade" por que não desonerar a
igreja local de tantas responsabilidades financeiras?
Quarto, há uma desconfiança por parte das lideranças locais ("baixo clero")
quanto às verdadeiras intenções de se reformar a Constituição. Os defensores da bandeira
reformista querem uma reforma administrativa ou teológica? Por mais que esses
defensores transmitam um discurso calvinista de compromisso dom a Bíblia, há indícios
práticos de inclusivismo e pluralismo teológico. Por exemplo, no novo Regimento
Interno dos Seminários Teológicos se oficializa o pluralismo: "Oferta de ensino dentro
dos princípios da fé reformada, admitindo que a exposição à análise crítica da
pluralidade de idéias e concepções teológicas, filosóficas e pedagógicas, enriquecem e
nos levam a firmar ainda mais os nossos posicionamentos bíblico-teológicos" (Art. 2,
X). Primeiro, o que nos enriquece e nos leva a firmar os nossos posicionamentos
bíblico-teológicos é o estudo da Bíblia acompanhado da vida de oração, o que hoje é
pouco estimulado nos nossos Seminários. Segundo, jamais na história dos nossos
Seminários se deixou de analisar correntes teológicas diferentes. Claro, que o objetivo
sempre foi apologético e não para "firmar os nossos posicionamentos bíblicos
teológicos". Não se firma a verdade com a mentira.
Quinto, é importante questionar: Por que reformar uma Constituição se a
disposição interior de muitos é anárquica? Se a atual Constituição já tem sido tão
desrespeitada para que serviria uma nova? E o pior, o mau exemplo vem de cima. A
Comissão Executiva do Supremo Concílio tem, há muito tempo e por repetidas vezes,
desrespeitado a carta magna da Igreja. A CE -SC já deixou de ser executiva para ser
legislativa. Também, todos concordam que a linguagem e a forma jurídica do Código de
Disciplina dificultam a sua aplicação. Contudo, o que existe na prática hoje é uma
rejeição da disciplina bíblica. Com ou sem Código, o pecado em nossos arraias tem sido
visto apenas como fraqueza natural ou desajuste psicológico. Quanto aos atuais
Princípios de Liturgia? Como o próprio termo indica, são princípios. Princípios que
orientam o tempo, o espaço, os elementos, os tipos, as funções dos adoradores e os
objetivos do culto. Eles não estabelecem uma liturgia fixa ou rígida, mas um princípio
regulador: a Palavra de Deus. Contudo há um grupo bem distinto na IPB hoje que quer
um "missal": são os liberais ritualistas (moderados) que desejam ressuscitar o culto
medieval com sua ênfase no teatral (togas, calendários eclesiásticos e outras aberrações).
Pelo exposto, seria prudente que os bandeirantes da reforma considerassem a voz
das lideranças locais responsáveis, que ecoa: Não Reformarás. Vamos com paciência e
maturidade emendar a nossa Constituição. Antes, porém, vamos cumpri-la. E,
simultaneamente, precisamos atacar os verdadeiros problemas que impedem o
crescimento sadio da nossa amada Igreja. Se houver uma reforma imposta pela cúpula, a
IPB implodira. Ou então, como já está acontecendo Brasil a fora, cada igreja adotará um
modelo próprio sem se preocupar com o que legisla o SC. O pós-denominacionalismo se
implantará de forma oficial, mandando para o espaço o aspecto federativo da
denominação.

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Anulando Sofismas
A proposta de reforma da Constituição da Igreja Presbiteriana do Brasil fundamenta-se
em vários sofismas. Entende-se por sofisma ou sofismar o ato de distorcer um assunto e
dar aparências de verdade ao que é falso. É um argumento sedutor, aparentemente
correto, mas na realidade falso, destinado a induzir o interlocutor a erro.

O primeiro sofisma a ser anulado é o de que a Constituição em vigor é cheia de


falhas e portanto precisa ser urgentemente reformada. Ledo engano. Qualquer lei humana
contém erros. Contudo, desde a sua promulgação na década de 50 até hoje, para quem
quis trabalhar e ser consagrado a Deus, a Constituição jamais foi impedimento. É
interessante observar que nesses últimos cinqüenta anos, pastores e presbíteros que mais
defenderam a extinção e a reforma da Constituição ou estão fora da Igreja ou não tem
ministério abençoado na igreja local. Vale a pena considerar o que Paulo escreveu:
"Sabemos, porém, que a lei é boa, se alguém dela se utiliza de modo legítimo, tendo em
vista que não se promulga lei para quem é justo, mas para transgressores e rebeldes,
irreverentes e pecadores, ímpios e profanos, parricidas e matricidas, impuros,
sodomitas, raptores de homens, mentirosos, perjuros e para tudo quanto se opõe a sã
doutrina"(1Tm 1.8-10). O raciocínio de Paulo é claro e lógico: a lei é boa para quem dela
se utiliza de modo legítimo; a lei é ruim para aquele que a transgride e para aquele que se
opõe a sã doutrina.

O segundo sofisma a ser anulado é o do envelhecimento da lei. Há pessoas que


defendem a reforma, pois acham que a Constituição em vigor é caduca. Quem pensa
assim reflete um condicionamento cultural tupiniquim. Compare a quantidade de
Constituições que foram elaboradas no Brasil desde o Império com o número de
Constituições elaboradas por exemplo nos Estados Unidos ou na Inglaterra. Uma lei
quando se fundamenta em princípios universais ou absolutos da Palavra de Deus não fica
velha e jamais deverá ser mudada. Por exemplo, se desejam reformar a Constituição no
que tange a ordenação de oficiais (presbíteros e diáconos) ampliando à ordenação de
mulheres, não é o princípio bíblico que mudou, mas é um conceito sociológico que está
sendo introduzido em substituição ao princípio bíblico. Logo, o que estão querendo não é
uma nova Constituição, mas uma nova Igreja.

O terceiro sofisma a ser anulado é o de que aquele que se posicionar contra a


reforma da Constituição é contra o avanço da Igreja ou está a serviço de forças ocultas do
conservadorismo. Não é nada disso. Primeiro, aos proponentes da reforma cabem o ônus
da prova, ou seja, provar que a Constituição em vigor precisa ser mudada e em que
precisa ser mudada. Também aos proponentes da reforma cabem oferecer um anteprojeto
de qualidade que justifique a reforma da Constituição em vigor. O material produzido até
agora pelas Comissões que elaboram o anteprojeto é pouco convincente. Outra coisa, até
agora quem tem se posicionado contra a reforma de maneira aberta e democrática,
inclusive o jornal O Mediador, tem feito por questões idealistas, amor a

Igreja e sacrifício pessoal (tempo e dinheiro). Há muita gente que está a favor da
reforma não por achá-la necessária, mas para não perder o emprego ou contrariar
interesses outros. Há também os que estão contra a reforma por ressentimento de algum
interesse pessoal contrariado.

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Um quarto sofisma a ser anulado é que esse anteprojeto baixado aos presbitérios
expressa o pensamento e o desejo da Igreja pela reforma. As comissões que estavam
elaborando o anteprojeto de reforma, enviaram para aos presbitérios o que já havia sido
produzido pelas mesmas, solicitando sugestões até o dia 31 de julho. Por se tratar de um
procedimento no mínimo estranho aos processos constitucionais de reforma (art 141, b:
esta comissão especial elaborará o anteprojeto de reforma, que será enviado à Comissão
executiva do Supremo Concílio, a fim de que esta o encaminhe aos presbitérios) muitos
presbitérios fizeram sugestões e alguns até já votaram favoráveis ou não à reforma.
Agora, quando os presbitérios tiverem que votar o anteprojeto, muitos serão
constrangidos a votar favoravelmente, pois como votarão contra um anteprojeto que eles
mesmo sugeriram?

Um quinto sofisma a ser anulado é que a necessidade de emendas na Constituição


exige uma grande reforma. Conforme a Constituição, art. 139, parágrafo único: Emendas
são modificações que atingem apenas partes da Constituição ou dos Símbolos de Fé;
Reforma é a alteração que modifica o todo ou grande parte deste. As propostas enviadas
ao Supremo Concílio, em Recife, foram de emendas, ou seja, propostas para se modificar
apenas partes da Constituição. A modificação parcial foi transformada em proposta de
alteração do todo ou da grande parte. Mas, o que significa alterar o todo ou grande
parte? Será mesmo que precisamos alterar grande parte ou o todo da nossa Constituição?
Alterar o todo não seria criar ou constituir uma nova igreja?

Concluindo, a Igreja avança somente quando retorna às suas raízes bíblicas.


Gostaria de citar R. Mayhue:

"Reengenharia da Igreja" foi o tema de uma recente conferência de liderança


pastoral sobre como preparar a igreja para o século XXI. Quando li o panfleto da
conferência, minha primeira reação foi: Por que reengenharia na igreja, se Deus a
projetou perfeitamente no início? Não deveríamos inspecionara igreja primeiro e
demolir só as partes defeituosas, para podermos reconstruirá parte demolida de acordo
com o plano original do Construtor? Quem pode melhorara engenharia de Deus? A
solução não é reengenharia, mas restauração às especificações originais perfeitas do
Projetista divino. O alvo de qualquer mudança deve ser um retorno da igreja às raízes
bíblicas, para que ela reconquiste a antiga glória.

Para nós, a grande reforma que a Igreja precisa hoje não é a Constitucional, mas a
reforma espiritual. Precisamos urgentemente de um avivamento espiritual que nos leve a
andar não em "novidade teológica ou cultural", nem em "novidade constitucional", mas
em "novidade de vida".

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Redescobrindo o Ministério
dos Presbíteros
A Igreja Presbiteriana é a igreja dos presbíteros. O seu nome e a sua forma de governo se
originam no ensino bíblico acerca dos presbíteros: "E, promovendo-Ihes, em cada igreja,
a eleição de presbíteros, depois de orar com jejuns, os encomendaram ao Senhor em
quem haviam crido" (At 14.23).

Cada igreja local organizada pelos apóstolos era pastoreada por um corpo de
presbíteros (plural). Os presbíteros eram eleitos e encomendados ao Senhor (consagrados
ou ordenados) pelos apóstolos ou por um dos seus representantes autorizados. O apóstolo
Paulo recomenda a Tito:"Por esta causa, te deixei em Creta, para que pusesses em ordem
as coisas restantes, bem como, em cada cidade constituísses presbíteros, conforme te
prescrevi" (Tt 1.5). Fica evidente que um conselho de presbíteros era encarregado do
cuidado geral de uma igreja local.

O trabalho principal dos presbíteros, segundo a Bíblia, era pastorear o rebanho:


"Atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos
(presbíteros), para pastoreardes a igreja de Deus, a qual ele comprou com o seu próprio
sangue" (At 20.28). O apóstolo Pedro corrobora: "Rogo, pois, aos presbíteros que há
entre vós, eu, presbítero como eles, e testemunha dos sofrimentos de Cristo, e ainda
co-participante da glória que há de ser revelada: pastoreai o rebanho de Deus que há
entre vós, não por constrangimento, mas espontaneamente, como Deus quer; nem por
sórdida ganância, mas de boa vontade; nem como dominadores dos que vos foram
confiados, antes, tornando-vos modelos do rebanho. Ora, logo que o Supremo Pastor se
manifestar, recebereis a imarcescível coroa da glória" (1Pe 5.1 -4). Pastorear o rebanho
de Deus é, portanto, o ministério dos presbíteros, segundo o ensino bíblico.

O apóstolo Paulo afirma que na função do pastoreio há presbíteros que se dedicam


a presidir e há outros que se dedicam a palavra e ao ensino: "Devem ser considerados
merecedores de dobrados honorários os presbíteros que presidem bem, com
especialidade os que se afadigam na palavra e no ensino" (1Tm 5.17). Depreendem-se
deste texto dois ministérios de presbíteros: regente ( aquele administra ou preside) e
docente (aquele que prega e ensina). É interessante observar, que em virtude de sua
função, os presbíteros são chamados de pastores (Ef 4.11), bispos (At 20.28) e guias (Hb
13.17). Não há como separar a função de presbítero do seu ofício. Todo pastor é um
presbítero e todo presbítero é um pastor. John MacArtur Jr comentando o texto de 1 Pedro
5.1-3, diz:
"O apóstolo Pedro não leu nenhum livro ou artigo de revista sobre liderança
pastoral. Ele não freqüentou seminários nem ouviu fitas. Entretanto, com a sabedoria de
longos anos de experiência, Pedro destilou a essência da liderança pastoral em duas
admoestações simples: ser humilde e apascentar o rebanho... Pedro foi um exemplo da
humildade que propunha aos pastores. Embora fosse reconhecido como líder dos doze
apóstolos, ele se descrevia humildemente como 'presbítero com eles'. Ele se recusava a
impor sua posição sobre os outros presbíteros. E no versículo 2, descreve a vocação do
pastor: 'apascentar o rebanho de Deus', tarefa confiada aos seus cuidados. Pastores
humildes são o que Deus requisita para liderar o seu rebanho".

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Observe que para MacArtur Jr a figura do pastor é a mesma do presbítero.

A Igreja Presbiteriana fundamenta o seu sistema a partir desses pressupostos


bíblicos. Ela defende que há somente dois ofícios: presbítero e diácono. O ofício de
presbítero se desdobra em duas funções: presbítero docente e presbítero regente. O
docente é o pastor que se forma em Teologia, tornando-se, em tese, um especialista na
pregação e no ensino, e que é sustentado financeiramente pela igreja que pastoreia. O
regente é o presbítero que não possui, necessariamente, formação teológica, se dedica à
administração da igreja, e não recebe salário da mesma. O governo presbiteriano não se
fundamenta, portanto, no indivíduo, mas na coletividade (assembléia e concílios).

Nos dias atuais, principalmente dentro da Igreja Presbiteriana, essa visão bíblica e
sistemática está em processo de decadência. Os responsáveis por essa decadência são os
próprios presbíteros, principalmente os docentes (pastores). As causas dessa decadência
são várias e eu gostaria de apresentar algumas:

1. A PROFISSIONALIZAÇÃO DO PASTORADO
A Bíblia ensina, de forma inequívoca, que o pastorado é uma vocação divina, um
sacerdócio santo, um privilégio imerecido. Ninguém se faz pastor, pois o ministério é
uma designação divina. O ministério é para o pastor uma "carreira sagrada" que precisa
ser concluída mesmo com o sacrifício pessoal: "Porém em nada considero a vida
preciosa para mim mesmo, contanto que complete a minha carreira e o ministério que
recebi do Senhor Jesus para testemunhar o evangelho da graça de Deus" (At20.24). A
motivação maior do ministério é a obediência ao chamado de Deus. Quando se obedece a
Deus, O mesmo se encarregará de suprir todas as nossas necessidades pessoais e
familiares. Deus é fiel.

Numa reunião da Comissão Executiva do Supremo Concílio, no ano de 1961, os


pastores presentes tomaram uma decisão exemplar:

"Resolve-se publicar no Brasil Presbiteriano a seguinte resolução: A CE


procurando expressar o sentido da vocação ministerial, declara que não reconhece
nenhum cargo confiado a ministro da IPB como emprego de salário, e sim como
oportunidade e privilégio de exercer uma vocação dada pelo Espírito Santo. Os
pastores presentes a esta reunião da CE declaram que votaram unanimemente esta
resolução porque se veriam diminuídos, lesados e feridos na dignidade de sua vocação
ministerial, tanto pela pretensão de qualquer ministro a fazer uso das leis trabalhistas
contra a Igreja, bem como por qualquer decisão da Igreja em atender a exigências ou
ameaças de qualquer obreiro presbiteriano neste sentido. Votaram unanimemente a
resolução porque abraçaram o ministério em função de uma relação pessoal com
Cristo que os resgatou com o seu sangue, e não como empregados de uma organização.
Essa declaração não diminui aqueles que são empregados de qualquer organização
dentro da estrutura social, mas exalta o ministério religioso como vocação especial
para servir a Deus no serviço dos homens" (CE/SC 61.196 Ata 6, fl 310, doc.
LXXXIV).

Também a própria Justiça do Trabalho já criou jurisprudência no sentido de negar


a existência da relação de emprego entre o Pastor e a Igrejas:

21
"As normas que disciplinam as relações entre o pastor, o tempo e seus fiéis tem
a sua fonte de inspiração no Poder Espiritual. O pastor protestante, a exemplo do
padre da Igreja Católica sem atividade leiga, vive de espórtulas tiradas das propendas ,
donativos dos crentes. Confundir espórtulas com salários, contraprestação de serviço,
importa em deformação da crença religiosa, em farsa de princípios no reconhecimento
do trabalho mercenário. Sacerdócio é devoção, não é emprego, o pastore carente de
ação no foro trabalhista pela inexistência de relação de emprego" (TRT, 1.ª Região,
proc. 687/62)

Infelizmente, a secularização tem invadido a Igreja, transformando aquilo que é


santo em profano. Os próprios pastores se colocam numa posição de empregados da
Igreja. A motivação de uma grande maioria é o salário. E com a crise econômica que
vivemos no Brasil, muitos jovens têm visto no ministério uma oportunidade de emprego.
O mais curioso é que esses pastores-empregados exigem direitos trabalhistas, mas não
querem os deveres.

2. A TRANSFORMAÇÃO DA IGREJA EM SINDICATO


Sindicato é uma associação de indivíduos da mesma categoria ou profissão para a defesa
de seus interesses profissionais, econômicos, políticos ou sociais (Larousse Cultural). A
Igreja é também uma associação civil. Contudo, de forma sobrenatural, é a comunhão dos
santos. E há uma diferença básica entre uma comunhão e uma associação: a associação se
cria pela iniciativa humana (sindicato), enquanto a comunhão (Igreja), foi uma criação
divina. Na origem e na essência são diferentes. Logo, a Igreja, sobreviverá aos interesses
corporativos, pois na hora certa, Deus há de intervir.

A Igreja tem sido penosamente vítima de interesses pessoais ou corporativos.


Alguém já chegou a dizer que "presidira Igreja é administrar interesses?. Na igreja local,
há sempre o interesse de classes: as famílias fundadoras, os discípulos de Diótrefes, o
"presbítero dono", a ala jovem, o grupo pentecostal ou tradicional, e outros mais. Quando
se faz eleição para presbíteros na Igreja local, cada segmento deseja eleger um
representante a fim de que o mesmo defenda os seus interesses junto ao Conselho. É
muito comum a expressão "o candidato da SAF" ou "o candidato dos jovens". Contudo, a
doutrina bíblica acerca dos presbíteros se fundamenta na vocação divina. A eleição por
parte da Igreja apenas confirma o chamado divino. É por isso que no sistema
presbiteriano, o mandato é temporário mas o ofício é definitivo. Se um presbítero docente
(pastor) ou regente, sendo já ele ordenado, perder uma eleição, não deixará de ser
presbítero. Portanto, diferentemente do sindicato ou da política secular, não é o mandato
que faz o ofício.

Mas são nos concílios superiores que preponderam os maiores interesses


políticos. Ocupar cargos na cúpula da Igreja hoje é algo fascinante e lucrativo. Como a
Igreja possui muitas autarquias, há muitos cargos e empregos para serem distribuídos. Se
o fisiologismo é insaciável, junta-se a fome com a vontade de comer.
Quais são os interesses de Deus na Igreja hoje? Quem são os defensores desses
interesses divinos?

3. O CONSELHO-PATRÃO
A culpa da transformação do pastorado em profissão não é apenas do pastor. Há muitos

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presbíteros e conselhos que tratam o pastor como se fosse um empregado. Há tesoureiros
de igreja local que humilham o pastor, principalmente quando o sustento do mesmo
depende integralmente da Igreja. Conheço muitos colegas que trocaram o pastorado
integral pelo ensino secular porque foram humilhados por presbíteros e conselhos. E isso
tem deixado seqüelas profundas na família do pastor. Há esposas e filhos de pastor que
são revoltados com a Igreja por causa desse motivo.

É interessante que o Conselho-patrão quando vai conduzir o processo de escolha e


eleição do pastor, se utiliza de estratégias mercadológicas. A partir do perfil social da
igreja se estabelece o perfil do pastor. A abordagem aos candidatos ao pastorado sempre é
salarial: — Venha para a nossa igreja que nós dobramos o seu salário. A nossa Igreja
paga muito bem!. É por isso que um pastor quando tem mais de uma proposta - uma igreja
que paga mais outra que paga menos - e ele pede um tempo para orar a fim de receber a
resposta do alto, a resposta sempre vem para a igreja que paga mais.

Segundo a Bíblia, a escolha e eleição de presbíteros deve ser realizada com muita
oração e jejum (At 14.23). Não se deve desprezar o padrão de Deus para o caráter do
presbítero ou do pastor (1 Tm 3 e Tt 1). Se existe um estado de calamidade hoje que gera
a necessidade de um jejum coletivo, esta é o estado da liderança da Igreja.

4. A DISTORÇÃO DA REPRESENTATIVIDADE
O sistema presbiteriano de governo é definido como uma democracia representativa. Por
exemplo, quando uma igreja local é organizada, os membros da assembléia elegem
alguns presbíteros, os quais formarão um conselho administrativo. Legalmente, a
assembléia dará para esse conselho poderes exclusivos e reservará para si alguns outros.
É aquilo que se chama competência exclusiva do Conselho ou da Assembléia. Daí por
diante, a igreja se fará representada nos concílios superiores através dos membros do seu
Conselho.

Atualmente, há uma distorção na representatividade da Igreja local aos Concílios.


A distorção não é na legalidade, mas na qualidade. Na reunião do Conselho, quando se
vai escolher os representantes aos Concílios superiores, com exceções, vão sempre os
menos comprometidos. É impressionante o baixo nível de qualidade dos nossos concílios.
Em parte, por culpa dos próprios concílios, que na prática da política eclesiástica
privilegiam os improdutivos e pune os produtivos. Os cargos conciliares de importância
na igreja que deveriam ser ocupados por aqueles que mais servem na igreja local, são
ocupados por aqueles que fazem carreira política na Igreja. Sem ministério abençoado na
Igreja local, o pastor ou o presbítero não deveria ocupar cargo importante num concílio
superior. Precisamos praticar a justiça de Cristo: "Muito bem, servo bom e fiel; foste fiel
no pouco, sobre o muito de colocarei" (Mt 25.21).

Outro sintoma sério dessa distorção é que os representantes, por não terem
ministério abençoado na Igreja local, não representam o sentimento da mesma. Os
assuntos tratados pelos concílios superiores são mais do interesse de pessoas ou grupos do
que propriamente do interesse da igreja local. Como na política secular, os políticos
eclesiásticos só aumentam a "carga tributária" sobre as igrejas. Leiam as últimas decisões
dos nossos Concílios e comprovem o que estou dizendo.

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5. A INEXISTÊNCIA DE UM PLANO GLOBAL PARA
A FORMAÇÃO DE PASTORES
Acho que uma das funções mais difíceis na igreja atual é a de diretor de Seminário. A
razão é simples: não existe um plano de educação teológica definido e permanente para a
formação de seus pastores. E enquanto, a educação teológica estiver vinculada a política
eclesiástica não se terá um plano definido. A Igreja insiste em reproduzir o modelo
educacional burocratizado do Estado. A cada quatriênio, com reeleição ou não do
presidente do Supremo Concílio, temos novidades na educação teológica. E, o pior,
sempre com mais pedantismo.

Na pesquisa que realizei, o último plano global de educação mais consistente e


efetivo que a Igreja Presbiteriana aprovou foi em 1970, SC 70-09:

Preparo de Pastores

1. Manter durante o quatriênio 1970-74, quatro professores em cada Seminário da


IPB, todos oferecendo ao Seminário dedicação integral.
2. Solicitará Igreja Evangélica Reformada (Holandesa) que dê a nossa Igreja
valiosíssima colaboração, mantendo um professor em cada Seminário.
3. Determinar às Congregações que reformulem o Curriculum dos Seminários,
subordinando-o aos seguintes Departamentos: Teologia Sistemática; Teologia
Exegética; Teologia Pastoral, História da Igreja e Filosofia.
4. Os professores dos Seminários poderão exercer pastorados de Igreja ou
congregação, a juízo da diretoria do Seminário respectivo.
5. Os seminários terão 15 dias de férias em julho, e 45 dias de férias em
dezembro-janeiro.
6. A reformulação do Curriculum deverá fazer-se de modo a tornar possível a
conclusão do Bacharelado em 4 anos, no máximo, e do curso breve em 2 anos.
7. Os professores dos Seminários são ministros de Deus, chamados pela Igreja para
exercerem seu ministério no preparo de pastores. Não trabalham por um salário,
mas por obediência a vocação do Espírito Santo, como todos os ministros do
Evangelho.
8. Aos professores dos Seminários ( que deverão dedicar-se exclusivamente à sua
tarefa no Seminário, com exceção da clausula 4) a Igreja Presbiteriana do Brasil
oferecerá estipêndio nunca inferior a 8 (oito) salários mínimos da região onde o
Seminário se localize. Caso a Igreja (ou Seminário) possa oferecer residência ao
professor, o valor locativo será computado como parte do estipêndio.

Foi também nessa mesma reunião do SC que se criou um curso para Presbíteros e
Diáconos. O curso foi chamado de Extensão Teológica e seria ministrado em três níveis:
primário, secundário e superior, conforme o grau de instrução da clientela. Se não foi
excelente na sua qualidade, pelo menos foi um plano global de educação teológica.
Pensou-se na formação de pastores, presbíteros e diáconos. Manteve-se o ideal de não
copiar um modelo de educação secular.

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A formação de pastores jamais deverá ser dirigida por uma filosofia secular:
"Disse Jesus: Vinde após mim, e eu vos farei pescadores de homens?" (Mc 1.17). "Tu,
pois, filho meu, fortifica-te na graça que está em Cristo Jesus. E o que de minha parte
ouviste através de muitas testemunhas, isso mesmo transmite a homens fiéis e também
idôneos para instruirá outro?" (2 Tm 2.1-2). Estes dois trechos já seriam suficientes para
fundamentar uma filosofia bíblica para a formação de pastores. As prescrições do Novo
Testamento para a formação da liderança da Igreja são atemporais.

Concluindo, gostaria de apresentar uma proposta, que na minha opinião ajudaria a


estancar esse processo de decadência: Primeiro, precisamos redescobrir o ensino bíblico
sobre os presbíteros ou sobre os fundamentos do presbiterianismo. Como fazer isto?
Promovendo encontros locais e regionais e utilizando a Escola Dominical. Segundo,
precisamos combater a secularização da Igreja, que enquadra o pastor numa categoria
profissional, transforma o conselho de presbíteros numa organização patronal e a Igreja
num sindicato. Terceiro, precisamos valorizar as forças produtivas da igreja,
incentivando-as a um envolvimento mais amplo no sistema, a fim de que as mesmas
trabalhem mais em benefício das igrejas locais. Quarto, precisamos urgentemente
implementar um plano estável de educação teológica, baseado na Bíblia, que defina a
formação dos nossos pastores.

25
A Metáfora do Cabelo Pintado
Está na moda pintar os cabelos com cores diferentes da cor natural. É moda entre os
adolescentes, entre as mulheres e principalmente, entre as pessoas da terceira idade. Os
motivos que as levam a pintar são os mais diversos: contestação, necessidade de
mudança, beleza estética, esconder a velhice dos cabelos brancos etc.

No ambiente evangélico, chama-nos a atenção o grande número de crentes que


aderiram a moda de tingir os cabelos. Ironicamente, em metáfora e símile, os cabelos
pintados artificialmente denotam a religião de teatro, isto é, aquela que se preocupa
apenas com a aparência. Jesus Cristo, na época do seu ministério, ao combater esse tipo
de religião, utilizou-se de uma metáfora semelhante: sepulcros caiados. Podemos, então
afirmar que os cabelos pintados denotam a religião teatro ou o farisaísmo no novo
milênio.

Quais os sinais da religião teatro? Quais os sinais que identificam os fariseus do


novo milênio?

O primeiro sinal é o do discurso desligado do exemplo. Dizem e não fazem. Disse


Jesus: "Fazei e guardai, pois, tudo quanto eles vos disserem, porém não os imiteis nas
suas obras; porque dizem e não fazem". (Mt 23.3). Infelizmente, alguns que se acham
grandes líderes na igreja, poderiam ser enquadrados nesta premissa: façam o que eu digo,
mas não façam o que eu faço.

O segundo sinal é o das exigências legais somente para os outros. Legislam, mas
não cumprem. Disse Jesus: "Atam fardos pesados [e difíceis de carregar] e os põem
sobre os ombros dos homens; entretanto eles mesmos nem com o dedo querem movê-los"
( M X 23.4). É como disse um colega: Na igreja, para os amigos tudo, para os inimigos a
lei. Os códigos e as leis religiosas são usadas parcialmente, conforme o interesse de quem
legisla ou interpreta. Muitas injustiças são cometidas dentro da legalidade.

O terceiro sinal é o da ostentação. Fazem para aparecer. Disse Jesus: "Praticam,


porém, todas as suas obras com o fim de serem vistos dos homens" ( M X 23.5). A
ostentação se manifesta através do exibicionismo, busca frenética pelos lugares de honra
ou a luta política pela manutenção dos primeiros lugares, adoração pelo reconhecimento
público (saudações) e paixão pelos títulos honoríficos. O marketing eclesiástico tem sido
um instrumento poderoso na mão dos atores religiosos.

Na figura dos cabelos pintados temos a mudança apenas do exterior. Enquanto, o


visual se apresenta novo, a raiz é velha. A partir dessa raiz antiga, dá-se a matiz que
desejar. É a figura do líder espiritual que apresenta um discurso antigo com aparências de
novo. E assim como se muda a coloração da tinta, esse líder muda o seu discurso
conforme os seus interesses e espectadores. Eis os sepulcros caiados do novo milênio!

26
Confessionalismo ou Pluralismo
A Bíblia declara: "Não há nada novo debaixo do sol" (Ec 1.9). Logo, não há nada tão
equivocado como as pessoas pensarem que estamos vivendo hoje algo inteiramente novo.
Globalização, Nova Era, Nova Ordem Mundial são termos utilizados para caracterizar
um "novo tempo", entretanto a verdade bíblica permanece. Martyn Lloyd-Jones diz: "Os
homens e as mulheres modernos, com toda a sua inteligência, são incapazes de inventar
um novo pecado. As piores formas de vícios e males cometidos hoje são encontrados em
algum lugar da Bíblia. Nada é novidade debaixo do sol!"

A Igreja vive hoje uma grande pressão, interna e externa, no sentido de promover
mudanças, a fim de adaptar-se aos "novos tempos". Internamente, os paladinos do "novo"
ou os profetas dos "novos paradigmas", acham que a Igreja perderá a sua relevância
histórica se, urgentemente, não promover mudanças. Na visão destes, para alcançar a
sociedade atual, a Igreja precisa se tornar plural na sua teologia, no seu culto, na sua
metodologia e na sua ética. Entretanto, a grande pergunta a ser respondida é: pode uma
Igreja ser, ao mesmo tempo, confessional e plural?

Tomemos como exemplo, a Igreja Presbiteriana do Brasil. Na sua vigente


Constituição lemos no artigo 1º - " A Igreja Presbiteriana do Brasil é uma federação de
igrejas locais, que adota como única regra de fé e prática as Escrituras Sagradas do
Velho e Novo Testa-mentos e como sistema expositivo de doutrina e prática a sua
Confissão de Fé e os Catecismos Maior e Breve; rege-se pela presente Constituição...".
Observa-se que a IPB é definida como uma federação de igrejas locais. A federação existe
a partir da igreja local. A natureza fundamental desta federação é que ela adota uma única
regra de fé e prática - a Bíblia. Adota também um único sistema expositivo de doutrinas
ou um conjunto de crenças. Logo, o que une as igrejas locais, formando assim a
federação, é a adoção de uma mesma fé. Isto caracteriza a IPB como uma federação
confessional. Além de federativa e confessional, a IPB é constitucionalista, isto é,
funciona dentro de um estado de direito eclesiástico. Ela se rege por uma Constituição. É
por isso que só poderá ser ordenado e instalado no ofício de diácono ou presbítero, quem
depois de instruído, aceitar a doutrina, o governo e a disciplina da Igreja Presbiteriana do
Brasil.

Sendo a IPB uma igreja federativa, confessional e constitucionalista, jamais


poderá ser, simultaneamente, uma igreja plural. Na expressão federação de igrejas locais,
já fica implícito um pluralismo regional, pois cada igreja local tem as suas peculiaridades.
Contudo, nada que comprometa a identidade da IPB. Entenda-se plural ou pluralismo
como um sistema que se baseia na coexistência de comunidades ou grupos diferentes e
independentes em matéria de fé e de administração. A IPB, portanto, nega ou perde a sua
identidade quando admite no seu seio diversas igrejas que defendem a doutrina, o culto e
a ética fundamentalista, pentecostal, liberal etc.

Há, de forma historicamente perceptível, forças que lutam para implantar o


pós-denominacionalismo, isto é, o fim das denominações históricas. As estratégias são
bem claras: a promoção do ensino teológico interdenominacional, o fim dos seminários
confessionais com a criação de cursos teológicos em Universidades, a profissionalização
do pastorado, a reforma das Constituições Eclesiásticas com o objetivo de promover

27
mudanças teológicas, o incentivo e o financiamento de movimentos que questionam a
estrutura das denominações históricas (G 12, por exemplo).

Confessionalismo e Pluralismo são antagônicos. A existência de um anula o


outro. A única maneira de uma denominação religiosa ser plural é através da implantação
de um sistema totalitário de governo eclesiástico. O melhor exemplo atual é o da Igreja
Católica Apostólica Romana. O pluralismo na base (carismáticos, progressistas,
ortodoxos etc) é incentivado e monitorado por uma cúpula totalitária. Um papa infalível
domina com direitos absolutos. O povo não tem nenhuma voz na igreja. Talvez seja esta a
aspiração de alguns que, por ignorância ou por má fé, propõem um golpe no sistema
reformado de governo. L. Berkhof destaca: "Um dos princípios fundamentais do governo
reformado ou presbiteriano é que o poder ou a autoridade da igreja não reside antes de
tudo na assembléia mais geral de alguma igreja, e só secundariamente e por derivação
dessa assembléia, confiado ao corpo governante da igreja local; mas, sim, que tem a sua
sede original no consistório ou sessão ou conselho da igreja local e por este transferido
para as assembléias maiores, como classes ou presbitérios e sínodos ou assembléias
gerais".

Concluindo, se nos reportarmos para o contexto da Igreja Primitiva,


observaremos que o cristianismo nasceu e cresceu de forma fenomenal dentro de uma
"grande ordem mundial", o Império Romano (mundo globalizado). Dentro daquele
grande Império, convivia uma sociedade extremamente plural. Não há precedentes
históricos para o pluralismo religioso e comportamental daquela época. Jesus Cristo é
quem faz esta avaliação (Mt 11.20-24). Entretanto, o segredo do crescimento foi a
pregação, a encarnação e a defesa da sã doutrina. Os cristãos não pluralizaram o
evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, mesmo vivendo sob uma poderosa ordem
mundial e numa sociedade radicalmente plural.

28
Formação de Pastores
Há diferenças fundamentais entre o processo de formar pastores e o de diplomar
bacharéis em teologia.

No primeiro caso, a tarefa se limita exclusivamente a uma denominação, que


prepara a sua "mão de obra" oficial. No caso, da Igreja Presbiteriana do Brasil, tudo está
bem definido na sua Constituição.

Compete ao Supremo Concílio, de forma exclusiva, "criar e superintender


seminários, bem como estabelecer padrões de ensino pré-teológico e teológico" (Artigo
97: j). O Seminário é o local ou a escola onde os pastores serão formados. Não se trata de
uma Faculdade de Teologia, mas de um departamento espiritual da Igreja que prepara os
seus obreiros. Os professores responsáveis pela formação são pastores com habilidade no
ensino e que, além da transmissão do conteúdo programático, serão responsáveis pela
formação espiritual do aluno. Veja o que diz a Constituição: "os ministros poderão ser
designados para exercer funções na imprensa, na beneficência, no ensino ou em
qualquer outra obra de interesse eclesiástico. Em qualquer destes cargos terão a
superintendência espiritual dos que lhe forem confiado? (art. 37). Portanto, o professor
de Seminário, que deve ser um pastor-mestre, é responsável pela formação intelectual e
espiritual do aluno. A Constituição define também quem deve estudar no Seminário. O
aluno deve ser vocacionado: "Vocação para ofício na Igreja é a chamada de Deus, pelo
Espírito Santo, mediante o testemunho interno de uma boa consciência e a aprovação do
povo de Deus, por intermédio de um concilio" (Art. 108). São os presbitérios que ficarão
responsáveis por encaminhar o aluno ao Seminário, acompanhá-lo durante o curso, e
ordená-lo ou não, após a conclusão do curso. Todo esse processo de formação pastoral é
exclusivamente eclesiástico e confessional.

Por uma razão de coerência, a formação dos mestres que lecionam nos Seminários
deve preservar essa linha educacional. Foi com esse objetivo que o Centro Presbiteriano
de Pós-Graduação Andrew Jumper foi criado. Originalmente, o Centro era apenas o curso
de pós-graduação do Seminário José Manoel da Conceição. Infelizmente, por motivações
políticas, o pós-graduação do JMC (CPPGAJ) foi levado para as dependências da
Universidade Presbiteriana Mackenzie. Ali, sempre foi um corpo estranho na estrutura da
Universidade.

Formar Bacharéis, Mestres e Doutores em Teologia é tarefa para qualquer


Faculdade ou Universidade secular. Conforme legislação vigente do Conselho Federal de
Educação (MEC), as Universidades brasileiras podem criar cursos confessionais ou não
de teologia. São exemplos próximos a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e a
Universidade Metodista, as quais possuem bacharelado em Teologia e mestrado e
doutorado em Ciências da Religião. Contudo, essa formação é para teólogos e religiosos
de todas as linhas e jamais para pastores de igrejas, principalmente para aqueles que serão
ordenados pelos presbitérios. Aos professores desses cursos universitário não se exige
fidelidade confessional. Qualquer pessoa, crente ou não, poderá ingressar nesses cursos
desde que aprovados no vestibular ou no exame de seleção. É estritamente uma formação
científica e intelectual.

29
A Igreja Católica Romana, mesmo possuindo uma rede de Universidades que
oferece cursos de Teologia, não abre mão da formação dos seus padres. Ela continua
mantendo os seus seminários, com currículos específicos para formação de sua mão de
obra. Recentemente, a Igreja Romana lançou uma campanha de oração em prol da
vocação de novos padres. Ela prefere a oração ao vestibular.

O grande problema na formação dos pastores da IPB é que querem reproduzir a


estrutura do ensino secular no ensino da Igreja. A Igreja Presbiteriana do Brasil precisa
urgentemente revogar toda essa vigente legislação confusa de Educação Teológica. O
CPPGAG deve voltar para o Seminário JMC e os sete professores devem ser contratados
como pastores/mestres da Igreja, a fim de no âmbito eclesiástico, com tranqüilidade,
exercerem os seus ministérios. Se é, porventura, do interesse da Universidade
Presbiteriana Mackenzie, continuar com um Curso Superior de Teologia ou criar um
curso de pós-graduação em Ciências da Religião, que assuma a responsabilidade. A
Igreja Presbiteriana do Brasil, que é a instituição mantenedora do Mackenzie,
responsabilizará os seus representantes, no Conselho de Curadores e no Conselho
Deliberativo, na defesa dos seus interesses.

30
A Disciplina Eclesiástica
J.MacArthur Jr. afirma: "Durante este século (XX), na maior parte do tempo, o
Cristianismo evangélico vem se concentrando na batalha pela pureza doutrinária, e deve
fazê-lo, mas estamos perdendo a batalha pela pureza moral. Temos pessoas com a
teologia certa, vivendo de modo impuro".

Mas, como impedir que a impureza mundana penetre na Igreja? Como impedir
que os valores do mundo não sejam assimilados e praticados pelos crentes hoje? Há uma
dupla resposta: primeiro, somente Deus, através da sua providência sobrenatural, pode
impedir que a sua Igreja se deteriore moralmente (Ef 5.26); segundo, Jesus Cristo
autorizou a liderança ordenada da Igreja que use a disciplina eclesiástica como um
instrumento de combate ao pecado (Mt 18.15-17).

Estudemos a doutrina bíblica da disciplina eclesiástica. Ela é um instrumento de


combate ao pecado dentro da Igreja.

1. JESUS ORDENOU A DISCIPLINA


A disciplina eclesiástica é uma ordem divina. Jesus a instituiu na Igreja ao autorizar os
apóstolos a corrigir os membros da Igreja que viviam na prática de determinados pecados.
É conforme o texto de Mateus 18, o poder de "ligar" ou "desligar" pecados, isto é,
autoridade à liderança ordenada da Igreja para combater o pecado dentro da comunidade.
"Em verdade vos digo que tudo o que ligardes na terra terá sido ligado nos céus, e tudo o
que desligardes na terra terá sido desligado nos céus" (Mt 18.18 cf. Jo 20.23).

Entende-se que cada pessoa possui o foro íntimo da consciência, a qual escapa à
jurisdição da igreja. Contudo, há o foro externo que deve ser observado. Quando um
membro da Igreja comete uma falta ou pecado que prejudique a paz e a pureza da mesma,
deve ser disciplinado. "Falta é tudo que, na doutrina e prática dos membros e concílios da
Igreja, não esteja de conformidade com os ensinos das Sagrada Escritura, ou transgrida e
prejudique a paz, a unidade, a pureza, a ordem e a boa administração da comunidade
cristã" (CD da IPB).

2. RESISTÊNCIAS À DISCIPLINA
Há uma grande resistência hoje, na Igreja, à prática da disciplina. Alguns argumentos são
usados:

2.1. Argumento do Amor


A disciplina eclesiástica é contrária ao amor.
Resposta: (Rm 13.8-10; He 12.4-12).

2.2. Argumento de Liberdade


A disciplina eclesiástica opõe-se a liberdade cristã.
Resposta: (Jo 8.31-36; Tg 1.25).

2.3. Argumento da Felicidade


A disciplina eclesiástica opõe-se a felicidade do cristão.
Resposta: (Sl 1; Is 48.22).

31
2.4. Argumento do Afastamento
A disciplina eclesiástica afastará as pessoas da Igreja.
Resposta: (Sl 37.23-24; 1 Jo 2.18-19).

2.5. Argumento da Hipocrisia


A disciplina eclesiástica é um ato de hipocrisia, pois todos na Igreja são
pecadores.
Resposta: (1 Co 6.1-11; At 5.1-11).

2.6. Argumento da Injustiça


A disciplina eclesiástica pode ser aplicada injustamente ou ser utilizada
como instrumento de perseguição.
Resposta: (Is 5.20,22; Mt 23.1-36).

3. APLICANDO A DISCIPLINA
Havia na igreja de Corinto, uma pessoa que mantinha um relacionamento incestuoso com
a mulher de seu próprio pai. Provavelmente, a sua madrasta. O apóstolo Paulo estranha:
"Geralmente, se ouve que há entre vós imoralidade e imoralidade tal, como nem mesmo
entre os gentios, isto é, haver quem se atreva a possuir a muIher de seu próprio pai. E,
contudo, andais vós ensoberbecidos e não chegastes a lamentar, para que fosse tirado do
vosso meio quem tamanho ultraje praticou?" (1 Co 5.1-2). Paulo definiu aquele pecado
como uma grande imoralidade e um ultraje.

A partir do texto de 1 Coríntios 5.1-13, podemos estabelecer alguns princípios


acerca da disciplina eclesiástica.

3.1. A Sua Necessidade


A necessidade fundamental da disciplina é combater o pecado dentro da
Igreja. Não permitir que o sal perca o seu sabor (Mt 5.13). Através dela se
define o limite que separa a igreja do mundo.

3.2. Os Seus Objetivos


A Confissão de Westminster explica: "As censuras eclesiásticas são
necessárias para chamar e ganhar os irmãos transgressores, a fim de impedir
que outros pratiquem ofensas semelhantes, para lançar fora o velho fermento
que poderia corromper a massa inteira, para vindicar a honra de Cristo e a
santa profissão do evangelho e para evitar a ira de Deus, a qual, com justiça,
poderia cair sobre a Igreja, se ela permitisse que a aliança divina e seus selos
fossem profanados por ofensores notórios e obstinados" (Cap. XXX:3).

Em síntese, podemos afirmar quatro objetivos da disciplina:

3.2.1. Impedir a propagação do mal na Igreja - "Lançar fora o


velho fermento" (1 Co 5.6-7).

3.2.2. Vindicar a honra de Jesus Cristo e a boa reputação do


Evangelho (2 Co 6.3).

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3.2.3. Evitar que o juízo de Deus caia sobre a Igreja
(Ap 2.18-29).

3.2.4. Levar ao arrependimento e recuperar a ovelha.


(2 Co 2.5-11).

3.3. A Sua Forma


A forma bíblica da disciplina é baseada na gravidade e notoriedade do
pecado. Veja os estágios para tratar o irmão em pecado (Mt 18.15-17) lendo a
instrução de Jesus.

Jamais alguém deverá ser penalizado sem a oportunidade de defesa ou


explicação. Paulo recomenda a Timóteo a não aceitar denúncia contra
presbíteros, senão com o apoio de no mínimo duas testemunhas (1 Tm 5.19).

Concluindo: "Disciplina eclesiástica é o exercício da jurisdição espiritual da


Igreja sobre seus membros, aplicada de acordo com a Palavra de Deus" (Código de
Disciplina da IPB). Na jurisdição espiritual, a Igreja exerce o direito de punir os pecados
dos seus membros, mesmo que esses pecados sejam práticas permitidas na sociedade em
que a Igreja está inserida.

A Igreja não deve falhar no combate do pecado interno. A sua saúde espiritual
depende da sua pureza. "Você pode ter disciplina sem santidade, mas não pode ter
santidade sem disciplina".

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Liberais, Fundamentalistas
e Moderados
No atual processo de secularização da Igreja, antigas terminologias eclesiásticas são
utilizadas para rotular os que estão envolvidos.

Os que tentam secularizar a Igreja são chamados de liberais pelos resistentes. O


liberalismo teológico, também conhecido como modernismo, teve sua origem na
Alemanha, no final do século XIX. As suas características principais são: (1) adaptar o
cristianismo a cultura e ao pensamento contemporâneo através de uma nova linguagem;
(2) a Bíblia não é o registro infalível da revelação sobrenatural de Deus, mas um livro
histórico e, portanto, não possui autoridade absoluta; (3) a negação da transcendência
divina e defesa da sua total imanência na criação - panteísmo; (4) a valorização da
experiência religiosa subjetiva em detrimento da fé e da obediência a Bíblia; (5) o
otimismo humanista que prega a evolução ética da sociedade pelo esforço humano, por
meio da implantação do reino terrestre divino. Não se deve confundir Liberalismo com
Neo-Ortodoxia.

Os que resistem a secularização da Igreja são chamados de fundamentalistas pelos


liberais. O Fundamentalismo foi um movimento que surgiu nos Estados Unidos, logo
após a Primeira Guerra Mundial, com o objetivo de reafirmar o protestantismo ortodoxo,
defendendo-o do liberalismo teológico, da alta-crítica e do darwinismo. Na série de doze
volumes chamada Os Fundamentos, a ortodoxia era reafirmada por meio do combate a
teologia liberal. Os autores eram das diversas denominações evangélicas (presbiterianos,
batistas, anglicanos etc) e os editores responsáveis eram do Instituto Bíblico Moody e do
Instituto Bíblico de Los Angeles. Não se deve confundir o Fundamentalismo com o
Evangelicalismo.

No Brasil, como produto made in Brazil, temos aqueles que se intitulam hoje de
moderados, ou seja, não são nem liberais nem fundamentalistas. Moderado é o adjetivo
que qualifica a pessoa que age prudentemente, sem exageros, comedidamente. O termo
latino moderatio significa a capacidade ou virtude de permanecer na exata medida. O
apóstolo Paulo recomenda aos cristãos: "Seja a vossa moderação conhecida de todos os
homens" ( F p 4.5). A palavra grega denota o espírito magnânimo que supera ofensas, ou
um espírito paciente. Jesus é o exemplo supremo (2 Co 10.1). No atual contexto
eclesiástico, porém, moderação ganha novos significados, diferentes dos acima citados.

Primeiro, toda a pessoa que não têm uma posição teológica definida e não defende
princípios é reconhecida hoje como moderada. Filosoficamente, diríamos que o
moderado é aquele que convictamente tem como posição não ter uma posição definida.
Um exemplo bíblico é o do povo de Israel, na época do profeta Elias: "Então, Elias se
chegou a todo povo e disse: Até quando coxeareis entre dois pensamentos? Se o
SENHOR é Deus, segui-o; se é Baal, segui-o. Porém, o povo nada lhe respondeu" (1 Rs
18.21). Observe que o texto apresenta dois perfis: o de Elias claramente definido: o
SENHOR é Deus; e o do povo indeciso claudicando entre dois pensamentos ou duas
proposições teológicas: o povo nada lhe respondeu. A indefinição do povo de Israel
representa o moderado de hoje.

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Segundo, toda pessoa que age politicamente hoje é chamado de moderado. É o
politicamente correto ou o que tem jogo de cintura. O fato de não ter convicção, esse tipo
de moderado passa a agir pela conveniência, isto é, pelo interesse ou o seu maior
benefício pessoal. A convicção estará sempre onde o lucro for maior. O apóstolo Paulo
repreendeu a Pedro por atitude semelhante: "Quando, porém, Cefas veio a Antioquia,
resisti-lhe face a face, porque se tomara repreensível. Com efeito, antes de chegarem
alguns da parte de Tiago, comia com os gentios; quando, porém, chegaram, afastou-se e,
por fim, veio a apartar-se, temendo os da circuncisão. E também os demais judeus
dissimularam com ele, a ponto de o próprio Barnabé ter-se deixado levar pela
dissimulação deles" (Gl 2.11-13). Infelizmente, na Igreja hoje, a posição teológica
dependerá sempre do emprego oferecido ou ameaçado.

Terceiro, toda pessoa que foge da luta cristã é chamada hoje de moderada.
Entende-se por esse prisma que o rebanho de Deus e a sã doutrina não precisam ser
defendidas. Entretanto, conforme a Bíblia, a fé cristã é por natureza confrontadora e é
dever de cada cristão pelejar pela fé: "Amados, quando empregava toda a diligência em
escrever-vos acerca da nossa comum salvação, foi que me senti obrigado a
corresponder-me convosco, exortando-vos a batalhardes, diligentemente, pela fé que
uma vez por todas foi entregue aos santos" (Judas 3). O verdadeiro pastor é aquele que,
em benefício do rebanho, enfrenta o lobo. Jesus reconhece que a característica principal
do mercenário é a covardia: "O mercenário, que não é pastor, a quem não pertencem as
ovelhas, vê vir o lobo, abandona as ovelhas e foge; então, o lobo as arrebata e dispersa".
(Jo 10.12). Aquele que foge à luta em prol da proteção do rebanho de Deus, não é visto
por Jesus Cristo como moderado, mas, sim, como mercenário.

35
Atos, O Manual de
Missões da Igreja
Manual é um pequeno livro que contém noções essenciais de uma matéria. Qualquer
objeto industrializado que você adquire hoje, vem acompanhado de um "Manual de
Instrução". Nele você encontra a descrição técnica do produto, como funciona e como
deve ser instalado. A garantia do produto pela fábrica, dependerá da observação correta
desse manual. É por isso que nos manuais sempre aparece a expressão: "Siga
corretamente as instruções. No caso de dúvida, consulte um representante autorizado".

A Bíblia é o manual de fé e prática do cristão. Ela é útil para o ensino, a


repreensão, a correção e a educação do cristão. "O vigor de nossa vida espiritual está na
proporção exata do lugar que a Bíblia ocupa em nossa vida e em nossos pensamentos"
(George Muller).

A tarefa suprema do cristão e da Igreja é a evangelização do mundo.

No Livro dos Atos dos Apóstolos temos um manual bíblico de evangelização. Ele
narra os contínuos atos do Senhor Jesus Cristo, após sua ascensão, através dos apóstolos:
"Escrevi o primeiro Livro, ó Teófilo, relatando todas as cousas que Jesus começou a
fazer e ensinar" (Atos 1.1). Quem escreveu? Lucas (Lc 1.1 -4). Para quem escreveu? À
Teófilo, que ocupava um alto posto no governo romano. Como escreveu? Em dois
volumes: Lucas e Atos. Ambos retratam os dois estágios do ministério de Jesus Cristo.
Em Lucas, relata todas as coisas que Jesus começou a fazer e ensinar até a sua ascensão.
Em Atos, escreve sobre aquilo que Jesus continuou a fazer e a ensinar após a sua
ascensão.

Atos é, portanto, um manual daquilo que Jesus fez e ensinou através dos
apóstolos, na Igreja Primitiva. O assunto principal é Evangelização e Missões.

1. O PROPÓSITO DO MANUAL
O grande propósito de Lucas ao escrever Atos foi relatar o crescimento do cristianismo.
Ele traça o progresso do evangelho, a partir de Jerusalém, onde teve início, até Roma, a
capital do império.

O versículo chave de Atos é: "Mas recebereis poder, ao descer sobre vós o


Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas, tanto em Jerusalém, com em toda a Judéia e
Samaria, e até aos confins da terra" (1.8). Em linhas gerais, este versículo contém um
esboço do Livro: O evangelho se propaga por toda Jerusalém e Judéia - capítulos 1-7; O
evangelho se propaga por Samaria e regiões vizinhas - capítulos 8-12; O evangelho se
propaga a terras distantes - capítulos 13-28. Em outras palavras, missões locais, missões
regionais e missões internacionais.

C.H. Turner destaca seis divisões em Atos, nas quais aponta para o crescimento e
desenvolvimento do evangelho:

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1.1. De 1.1 - 6.7 - Nos fala da Igreja de Jerusalém e da pregação de Pedro; e
finaliza com um resumo: "Crescia a palavra de Deus e, em Jerusalém, se
multiplicava o número dos discípulos; também muitíssimos sacerdotes
obedeciam a fé".

1.2. De 6.8 - 9.31 - Descreve a divulgação do cristianismo através da Palestina e o


martírio de Estevão, que foi seguido pela pregação em Samaria. Finaliza com
o resumo: "A Igreja, na verdade, tinha paz por toda a Judéia, Galiléia e
Samaria, edificando-se e caminhando no temor do Senhor e, no conforto do
Espírito Santo, crescia em número".

1.3. De 9.32 -12.24 - Inclui a conversão de Paulo, a Igreja de Antioquia e a


aceitação de Cornélio, o gentio, na Igreja através de Pedro. O resumo é:
"Entretanto a palavra do Senhor crescia e se multiplicava".

1.4. De 12.25 -16.5 - Fala da propagação da Igreja na Ásia menor e da pregação


pela Galácia. Finaliza: "Assim as Igrejas eram fortalecidas na fé e
aumentavam em número dia a dia".

1.5. De 16.6 -19.20 - Relata a expansão da Igreja na Europa e nas cidades grandes
como Corinto e Éfeso: "Assim a palavra do Senhor crescia e prevalecia
poderosamente".

1.6 De 19.21 - 28.31 - Nos fala da chegada de Paulo em Roma e de sua prisão ali.
Termina com uma descrição de Paulo: "Pregando o reino de Deus, e, com
toda a intrepidez, sem impedimento algum, ensinava as cousas referentes ao
Senhor Jesus Cristo".

Fica claro que o propósito de Lucas era mostrar como o cristianismo começou em
Jerusalém e chegou até Roma. Um grande erudito do Novo Testamento disse que o título
de Atos poderia ser: "Como chegaram as Boas Novas de Jerusalém a Roma".

2. A IMPORTÂNCIA DO MANUAL
Para John Stott, Atos é importante por duas razões: por causa dos seus registros históricos
e devido à inspiração contemporânea que nos traz. De fato, sempre olhamos para a Igreja
Primitiva, suas experiências e práticas, como algo a ser revivido pela Igreja
contemporânea. Entretanto, podemos incorrer em dois perigos: o primeiro, de
sobrenaturalizar a Igreja Primitiva, esquecendo-nos de que ela cometeu e possuía graves
erros; o segundo, o de achar que a experiência da Igreja Primitiva é norma para as Igrejas
de todas as épocas. Você já imaginou se todo mentiroso que está na Igreja hoje, recebesse
o mesmo castigo que receberam Ananias e Safira? Ou que todo crente para se converter
precisasse cair do cavalo e ficar cego como Saulo?

Vejo em Atos um Manual de Missões para a Igreja Cristã, de todas as épocas. Não
na repetição ou tentativa das mesmas experiências da Igreja Primitiva, mas nos princípios
espirituais normativos.

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2.1. A obra missionária é produzida, motivada, dirigida e capacitada por Deus,
através do Espírito Santo. "Mas recebereis poderão descer sobre vós o
Espírito Santo..."(At 1.8; 8.29; 10.19; 11.12; 13.2,4; 15.28; 16.6; 20.23).

2.2. A responsabilidade missionária é de cada crente, pois individualmente ele é


uma testemunha de Jesus Cristo. Testemunhar é falar aos outros o que Jesus
tem feito em sua vida. "E sereis minhas testemunhas". (At 1.8; 4.20; 8.4;
28.31).

2.3. A visão missionária deve ser ampla: cidade, estado, país e o mundo inteiro.
Visão missionária é visão do ponto de vista de Deus. "E sereis minhas
testemunhas tanto em Jerusalém, como em toda a Judéia e Samaria e até aos
confins da terra". (At 1.8; 9.31; 11.18; 23.11; 28.28).

2.4. A pregação da Palavra é o meio escolhido e determinado por Deus para


produzir a fé no coração do incrédulo. "Ouvindo eles estas cousas,
compungiu-se-lhes o coração e perguntaram a Pedro e aos demais
apóstolos: Que faremos irmãos?". (At 2.37; 6.4; 4.31; 8.35; 10.42).

2.5. A Igreja local deve coordenar o trabalho missionário recrutando, treinando,


enviando, sustentando e recebendo relatórios dos missionários: "Ali
chegados, reunida a Igreja, relataram quantas cousas fizera Deus com eles e
como abrira aos gentios a porta da fé1. (At 14.27; 15.3-4; 21.17-19).

2.6. O método utilizado pela Igreja Primitiva para expansão missionária era o de
organizar Igrejas locais. A Igreja pregava e reunia os convertidos em Igrejas
locais, onde pudessem ser edificados e treinados para o serviço. (At 14.23;
11.19-26; 17.1-4; 18.11).

2.7. A obra missionária é a tarefa mais importante da Igreja, por isso devemos dar
para a obra missionária o que temos de melhor. Os melhores obreiros (At
13.2), os maiores recursos (At 20.35), o melhor de nós mesmos (At 20.24).

2.8. A oração era o segredo espiritual, que alimentava a comunhão espiritual da


Igreja Primitiva com Deus e consigo mesma. A Igreja vivia em oração (At
1.14; 2.42; 4.31; 6.4; 9.11; 10.4; 13.2-3; 16.25; 20.36).

O Livro de Atos é o Manual de Missões da Igreja. Nele descobrimos que a


evangelização é a prioridade da Igreja. O Espírito Santo é o grande executivo do trabalho
missionário.
Ele separa os missionários, reveste-os de poder e sabedoria espiritual, mostra-lhes
o campo de trabalho, providencia-lhes os recursos para o sustento, aplica a mensagem
pregada no coração dos ouvintes, incorporando-os no corpo de Cristo.
O Livro de Atos é o "Livro dos Atos do Espírito Santo". "Igreja de Cristo! Os
relatos desses atos do Espírito Santo nunca foram completados. Esse é o livro que não
possui fim, pois está à espera de novos capítulos a serem acrescentados no ritmo e na
medida em que o povo de Deus confirma o bendito Espírito Santo na sua santa cadeira de
comando", afirmou Arthur T. Pierson.

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Parceria Santa
Parceria é a palavra de ordem no mundo atual. Significa a reunião de indivíduos ou
instituições para certo fim com interesse comum. Parceria santa é a reunião de duas ou
mais igrejas que juntam recursos e esforços com o objetivo de evangelizar os perdidos e
organizar novas igrejas.

Tomemos como exemplo o caso real de uma Congregação na região Leste, na


cidade de São Paulo. Com esforços próprios, essa Congregação que já existe há mais de
15 anos, adquiriu um terreno, mas não têm recursos para construir o seu templo e
conseqüentemente organizar-se em Igreja. Se apenas 20, das 200 igrejas presbiterianas da
área Metropolitana de São Paulo contribuíssem com R$ 500,00 (quinhentos reais) por
mês, em apenas seis meses a referida Congregação receberia R$ 60.000,00 (sessenta mil
reais), para construir o seu templo. Essa parceria significaria mais eficiência no
desenvolvimento do reino de Deus. Outro exemplo, é se reuníssemos 30 igrejas
presbiterianas do Estado de São Paulo, cada uma contribuindo com R$ 1.000,00 (um mil
reais) por mês, (R$ 30.000,00 mensais) e investíssemos na plantação de igrejas nos mais
de duzentos municípios do Estado que ainda não tem o trabalho presbiteriano.

Infelizmente só a igreja local ainda não descobriu que a melhor maneira de se


atingir o objetivo da evangelização dos perdidos é a parceria. O sábio Salomão
reconhece: "Melhore serem dois do que um, porque têm melhor paga do seu trabalho".

Mas, quais são os obstáculos que a idéia da parceria precisa superar para se tornar
algo efetivo na igreja hoje?

Primeiro, o obstáculo da visão missionária. Jesus disse aos seus discípulos: Erguei
os olhos e vede os campos, pois já branquejam para a ceifa. Segundo Jesus, os discípulos
possuíam visão, mas o que estava errado era o foco: erguei os olhos. A igreja local precisa
deixar de olhar somente para as suas necessidades internas e olhar para o mundo perdido.
A razão de ser da igreja é o cumprimento da tarefa missionária. Quando falamos de igreja,
pensamos no modelo de Atos dos Apóstolos. É a igreja local que deve coordenar o
trabalho missionário. Não se deve esperar que os Concílios ou as Juntas Missionárias
cumpram o papel que, biblicamente, é da igreja local.

Segundo, o obstáculo da desunião entre os crentes e as igrejas. Na oração


sacerdotal, Jesus intercedeu por aquilo que seria o maior obstáculo para o
desenvolvimento do Reino de Deus: a desunião dos crentes. Ele pede ao Pai: " A fim de
que todos sejam um; e como és tu, ó Pai, em mim e eu em ti, também sejam eles em nós;
para que o mundo creia que tu me enviasté" (Jo 17.21). Observa-se claramente a
incapacidade que os líderes da igreja local têm de incentivar e participar de trabalhos
conjuntos com outras igrejas, até da mesma denominação. Por exemplo, há cidades que
possuem três igrejas presbiterianas que não se relacionam de forma nenhuma entre si.
Geralmente, a Segunda Igreja organizou-se de um grupo que saiu brigado da Primeira
Igreja. Já a Terceira Igreja originou-se de um grupo de irmãos mais avivados ou mais
tradicionais que não tiveram espaço nem na Primeira e nem na Segunda Igreja. É
impressionante o número de Igrejas que surgiu por brigas eclesiásticas.

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Terceiro, o obstáculo financeiro. Um dos grandes trunfos que Satanás tem usado
para impedir a igreja local de evangelizar e plantar novas igrejas é o da falta de recursos.
"Não temos dinheiro!" afirma o pastor ou o presbítero. Contudo, a questão central não é
quanto se tem para investir em missões, mas a disposição para investir. Antes do
envolvimento financeiro exige-se o envolvimento pessoal com a obra financiada. Não
existe na História das Missões Mundiais um só exemplo de crente ou Igreja que
envolveu-se com missões porque tinha dinheiro sobrando. A obra é gloriosa e sacrificial.
Deus enviará os recursos para aqueles que priorizarem aquilo que é a prioridade de Deus
- a evangelização do perdido.

Quarto, o obstáculo da vaidade. Observa-se que a vaidade dos líderes da igreja local é
uma grande barreira às parcerias para a evangelização. Quem é que vai ficar com as
honras de ter organizado a nova igreja? Quais os nomes que aparecerão na placa de
inauguração? Como contribuir com uma obra que vai evidenciar as virtudes de uma outra
comunidade ou de outro colega pastor? Existe uma competitividade diabólica,
geralmente velada, entre os líderes da Igreja, que tem atrasado o avanço da obra de Deus.
Alguns usam até a Bíblia ou a Constituição da Igreja para justificar o não envolvimento
ou até mesmo impedir a formação de parcerias missionárias.

Concluindo, convocamos o povo de Deus, os líderes da igreja local, que nos unamos em
torno do objetivo comum da evangelização e plantação de novas igrejas. Façamos
parcerias santas e lutemos juntos pela fé: " Vivei, acima de tudo, por modo digno do
evangelho de Cristo, para que, ou indo ver-vos ou estando ausente, ouça, no tocante a
vós outros, que estais firmes em um só espírito, como uma só alma, lutando juntos pela fé
evangélica" (Fp 1.27).

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Presbitismo
Aurélio define: Presbitismo: deficiência da visão, resultante da diminuição do cristalino
pela perda da sua elasticidade, que impede que se veja com nitidez aquilo que está
próximo, e que exige lentes corretivas; vista cansada; presbitia, presbiopia. O
presbitismo é, portanto, uma doença da vista peculiar aos idosos ou aos mais velhos.

Há na Igreja Evangélica hoje, principalmente na Igreja Presbiteriana, uma praga


de presbitismo, ou seja, os presbíteros não enxergam a sua importância e o seu papel para
a vida espiritual da Igreja. Muitos, adoentados, têm sido omissos nos seus ministérios e
em suas responsabilidades espirituais, permitindo que lobos vorazes prejudiquem o
rebanho de Cristo.

O Presbiterianismo tem a origem do seu nome no termo presbítero (presbyteroi).


Como sistema de governo eclesiástico, enfatiza a importância de anciões ou presbíteros.
A base teológica que dá sustentação a essa forma de governo vem desde o tempo de
Moisés: Êx 3.16; 4.29; 17.5; 18.12; 19.17; 24.1, 11; Nm 11.16. No Novo Testamento, os
presbíteros aparecem pela primeira vez em Atos 11.30. Os presbíteros já aparecem
assumindo posição juntamente com os apóstolos, profetas e

mestres. Em Jerusalém, estão associados a Tiago no governo da Igreja local (At


11.30; 21.18), mas também estão juntos aos apóstolos para resolver os assuntos da Igreja
inteira (At.15.2,6,23; 16.4). Conforme Pedro, um apóstolo pode ser um presbítero: Rogo,
pois, aos presbíteros que há entre vós, eu, presbítero como eles, e testemunha dos
sofrimentos de Cristo (1 Pe 5.1). Em síntese, os Presbiterianos defendem que os apóstolos
desenvolveram um sistema simples de governo, com apenas dois ofícios: presbítero e
diácono, sendo que o primeiro deles é subdivido em presbíteros docentes (pastores) e
presbíteros regentes (supervisão) -1 Tm 5.17; At 20.17 ss.

O que há, hoje, na Igreja Presbiteriana, é uma exaltação a figura do pastor em


detrimento a do presbítero. É como se os presbíteros fossem apenas meros acessórios
eclesiásticos. Em 1831, Samuel Miller já denunciava essa distorção: Deve-se considerar
que o presbítero regente, não menos que o presbítero docente (i.e., pastor), age sob
autoridade de Cristo em tudo que legitimamente faz. Se o ofício de que tratamos foi
instituído na igreja apostólica por infinita sabedoria —s e é uma ordenança de Jesus
Cristo tanto quanto é a d o ministro do evangelho — ambos são, portanto, igualmente
oficiais de Cristo...Há motivos para se crer que algumas pessoas, mesmo na Igreja
Presbiteriana, adotam uma visão diferente sobre este assunto. Elas consideram o pastor
como um oficial de Cristo, e atendem às suas instruções como as de um homem enviado
por Cristo, e vindo em Seu Nome. Mas, quanto ao presbítero, acostumaram-se a
considerá-lo como o detentor de um ofício instituído meramente pela prudência humana
e que, portanto, para o cumprimento de seus deveres oficiais, possui um fundamento bem
diferente do ofício que é exercido pelo "embaixador de Cristo" (2 Co 5.20).

Não concordamos com esta distorção! A Igreja não deve, para o seu próprio bem,
ter essa visão. Mas, o mais importante, é que os verdadeiros presbíteros regentes, não
aceitam esse falso ensino. É a luz da Palavra de Deus, que a Constituição da Igreja
Presbiteriana do Brasil legisla: Vocação para o ofício na Igreja é a chamada de Deus,

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pelo Espírito Santo, mediante o testemunho interno de uma boa consciência e a
aprovação do povo de Deus, por intermédio de um concílio. Ninguém poderá exercer
ofício na Igreja sem que seja regularmente eleito, ordenado e instalado no cargo por um
concílio competente. Ordenar é admitir uma pessoa vocacionada ao desempenho do
ofício na Igreja de Deus, por imposição das mãos, segundo o exemplo apostólico, e
oração pelo concílio competente (CI art. 108 e 109§ 1.º).

Neste momento, em que a Igreja Presbiteriana do Brasil vive uma crise na sua
identidade teológica, litúrgica e administrativa é de suma importância a participação dos
presbíteros. Nos variados concílios e, principalmente, no Supremo Concílio, o presbítero
regente tem, para todos os fins, igualdade de voto e mesma autoridade que o pastor. A
metade dos votos na Assembléia Geral é dos presbíteros. Poderão ser o fiel da balança nas
decisões sobre o futuro da Igreja.

A Palavra de Deus fala aos presbíteros: Atendei por vós e por todo o rebanho
sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastoreardes a Igreja de Deus, a
qual ele comprou com o seu próprio sangue. Eu sei que depois da minha partida, entre
vós penetrarão lobos vorazes, que não pouparão o rebanho. E que, dentre vós mesmos, se
levantarão homens falando coisas pervertidas para arrastar os discípulos atrás deles.
Portanto, vigiai... (At 20.28-31)

Presbíteros: vamos combater a doença do PRESBITISMO! Abra os olhos e não


negligencie o dom que lhe foi dado, pois pior que presbitismo é a PRESBIOFRENIA:
fraqueza senil com amnésia e desorientação.

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