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[editar] Dasein
[editar] Neokantismo
Ver artigo principal: Neokantismo
Algumas obras de Heidegger revestem-se de inspiração kantiana, quer pelo método crítico
que os rege, quer pelos seus resultados, quer pela escolha dos temas. Regra geral considera-se
que as obras anteriores a Ser e Tempo são de teor kantiano. Esta fase do seu pensamento
constitui para alguns estudiosos o primeiro momento da sua filosofia, marcado pela
influência de Kant e pela pujança fenomenológica. Apesar das reservas dos seguidores da sua
metodologia, Heidegger tende a ser aproximado ao movimento existencialista. Esta fase é
aquela que mais facilmente se relaciona com este movimento.
A tese de doutoramento sobre A teoria do juízo no psicologismo (1913), a tese de docência
acerca d'A doutrina das categorias e do significado em Duns Escoto (1916) e o tratado A
História do Conceito de Tempo, também conhecido como Conceito de Tempo em
Historiografia (1914), são consensualmente aceites como (neo)kantianas. Estas obras, dentro
de uma terminologia e temática próprias do Neokantismo, abordam problemas que o
extravazam e já não podem ser resolvidas nas estritas fronteiras kantianas.
A facticidade da existência, que viria a fazer parte da terminologia de Ser e Tempo, torna
impraticável a posição de um sujeito do conhecimento como sujeito puro que se supõe na
reflexão de tipo transcendental. A consciência implica uma temporalidade irredutível ao
tempo físico, estritamente métrico ou cronológico. Esta temática torna-se o cerne da sua lição
inaugural, na Faculdade de Teologia da Universidade de Marburgo, A História do Conceito
de Tempo.
Dizia que "O homem acorda para sua existência, tendo sido "jogado" ou "lançado" em um
mundo que ele não criou, em um lugar que ele não escolheu e em um tempo que ele não
optou. Esse elemento mais factual de sua existência é determinado, algo que não pode ser
modificado. Parte de nossa facticidade é o ambiente físico em que vivemos; parte dele é
nossa herança socioeconômica. Os únicos materiais que podemos trabalhar, na medida em
que moldamos nossa própria existência, estão baseados nessa facticidade do mundo físico."
[editar] Husserl
Nos escritos de Husserl, na formulação conhecida até 1920, Heidegger podia encontrar já
uma novidade radical relativamente ao Neokantismo. Este privilegiava a ciência e aspirava
para a Filosofia uma linguagem igualmente rígida e estrita. Para Husserl, o acto de cognição
resolvia-se na intuição eidética (Anschauung). O acto cognitivo não podia assim ser limitado
ao conhecimento científico, pois trata-se dum encontrar as coisas.
O ir às coisas elas mesmas husserliano ficou conhecido para sempre: trata-se dum encontro
com as coisas em carne e osso. Esta concepção já não entende o fenómeno em oposição à
coisa em si ou ao númeno, mas como manifestação positiva da própria essência da coisa, por
assim dizer (veja-se a este respeito H. G. Gadamer, Die phänomenologische Bewegung em
Philosophisce Rundschau 1963, pp. 19-20). Esta posição saía da matriz neokantiana e dos
limites do transcendentalismo.
[editar] Fenomenologia
Heidegger encontra na fenomenologia, na forma que tinha à época, nas obras de Husserl até
então publicadas, um mundo em pleno desenvolvimento. Husserl afirmava que "a
Fenomenologia somos eu e Heidegger".
A Fenomenologia recebe assim influência de Heidegger que lhe inculca alguns dos seus
problemas e temas centrais, tais como a Lebenswelt. A influência é, portanto, mútua. Nesta
altura Heidegger recebe também vigorosas influências provenientes da segunda edição de
Kierkegaard e de Dostoievski, ao mesmo tempo que vê surgir o interesse por Hegel e
Schelling por todo o meio académico alemão. As poesias de Rilke e de Trakl são outras
fontes de inspiração. Nietzsche, influência e preocupação maior dos anos que vão de 1935 a
1943, está ainda, entre 1910 e 1916, longe do seu pensamento.
A esta altura Heidegger encontra-se principalmente ocupado na interpretação de Dilthey e
Kierkegaard.
[editar] Dilthey
Dilthey ocupará um lugar central em Ser e Tempo. O pensamento dele e o do conde de Yorck
têm o sentido de mostrar que a historicidade só se pode fundamentar se fundeada numa
recolocação do problema do ser. Em permanente diálogo com Duns Escoto começam-se a
delinear em Heidegger as linhas mestras que haveriam de produzir Ser e Tempo: o problema
da historicidade é um problema da filosofia da vida. São precisamente os fenómenos da
historicidade e da vida que instam à recolocação do problema do ser.
Nesta envolvência instala-se essa preocupação fundamental com a dinâmica existencial. É
nesta perspectiva que Kierkegaard adquire uma relevância importante.
[editar] Kierkegaard
Para Heidegger, para os heideggereanos e, de facto, para a maior parte dos existencialistas,
Kierkegaard é um pensador que enunciou explicitamente o problema da existência. Contudo,
Heidegger considera que a colocação do problema não remanesceu existencialmente, mas
que, pelo contrário, permaneceu geralmente a um nível existenciário ou ôntico.
A formação do pensamento que levaria ao Ser e Tempo encontraria ainda contributos de São
Paulo, de Lutero e de Calvino. No semestre de Inverno do ano escolar de 1919-1920,
Heidegger profere um dissertação em jeito de discurso sobre os Fundamentos da mística
medieval e, no ano seguinte, um de Introdução à fenomenologia da religião.
No semestre de verão de 1921 surge um discurso intitulado S. Agostinho e o neoplatonismo.
Isto numa época em que as suas preocupações estão centradas na problemática da
temporalidade com o estudo de Kierkegaard a fornecer-lhe novos horizontes, e Heidegger
traçava novos planos teóricos rasgando com o esquema da ontologia clássica que o próprio
Kierkegaard havia deixado intacto, bem como com a estrutura metafísica helénica preservada
pelo neoplatonismo e adoptada por Aurélio Agostinho.