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Iluminação pública e urbana

Capítulo I Novo!

Conceitos fundamentais I
Por Plinio Godoy*

Nesta edição iniciamos uma série de 12 Este trabalho é um processo vivo, Na história científica, foram
artigos sobre iluminação pública e urbana, assim, sugestões e comentários são bem- formuladas diferentes teorias para explicar
objetivando levar ao leitor uma visão vindas a fim de aprimorar sempre a a luz, sendo a primeira tentativa efetuada
geral dos aspectos técnicos, normativos e informação e a busca pela qualidade da por Isaac Newton no século XVII com a
de soluções, possibilitando melhorar sua iluminação em nossas cidades, visando a chamada Teoria Corpuscular, com base
capacidade crítica e permitindo uma análise iluminação social. em três premissas: 1. Os corpos luminosos
mais embasada nos conceitos fundamentais, Parte do material a ser utilizado nestes emitem energia radiante em formas de
conhecimentos, dicas e detalhes técnicos que capítulos foram desenvolvidos no livro partículas; 2. Estas partículas propagam-se
muitas vezes passam despercebidos dos olhos “Iluminação Urbana”, escrito por mim, em linhas retas; 3. Estas partículas atuam
destreinados. Plinio Godoy, e por Paulo Candura. sobre a retina, estimulando uma resposta
Não temos aqui a pretensão de que produz uma sensação visual.
desenvolver um curso de iluminação, mas Conceitos básicos Já no final do século XVII, o holandês
sim levantar alguns assuntos importantes, Christiaan Huygens lançou a Teoria
aguçando a curiosidade daqueles interessados Define-se “luz” como a energia Ondulatória da Luz, com base nas premissas
para aí sim buscar um aprofundamento. radiante que é capaz de excitar a de que a luz é resultado das vibrações
Como diz o nome deste fascículo, retina do olho humano e produzir, por moleculares no elemento luminoso e de
abordaremos a iluminação pública e urbana, consequência, uma sensação visual, que as vibrações são transmitidas em um
pois entendemos a existência de questões desencadeando o processo de percepção meio denominado “Éter”, com movimento
específicas nestas duas áreas, lembrando o visual. A compreensão completa da luz ondulatório em forma similar às ondas da
entendimento mais abrangente da iluminação implica não somente o conhecimento água. E estas vibrações assim transmitidas
como um todo: a Iluminação das cidades! das leis físicas sobre sua natureza como atuam sobre a retina do olho humano,
Dividimos assim os assuntos a serem também as respostas do ser humano estimulando uma resposta que produz a
discutidos neste espaço: perante esse fenômeno. sensação visual.
Capítulo 1 Conceitos fundamentais I Mais adiante, no século XIX, o físico
Capítulo 2 Conceitos fundamentais II escocês James Clerk Maxwell estabelece
Capítulo 3 Fotometria básica a Teoria Eletromagnética, partindo da
Capítulo 4 Iluminação urbana
ideia de que os corpos luminosos emitem
Capítulo 5 Fontes de luz na iluminação urbana
luz por meio de energia radiante. Esta
Capítulo 6 Luminárias na iluminação urbana
Capítulo 7 Eletrônica na iluminação urbana energia se propaga em forma de ondas
Capítulo 8 Iluminação viária eletromagnéticas, que atuariam sobre
Capítulo 9 Iluminação de áreas verdes a retina do olho humano, estimulando
Capítulo 10 Iluminação de valorização urbana uma resposta que produz a sensação
Capítulo 11 Poluição luminosa
visual. As ondas eletromagnéticas são
Capítulo 12 Plano mestre de iluminação urbana
campos elétricos e magnéticos paralelos
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se propagando no espaço e têm velocidade século XX, dirigiu sua atenção ao que Unificando as teorias acerca da luz, os 29
c = lf, em que c é a velocidade da luz, l o era, todavia, um problema não resolvido cientistas Louis De Broglie e Heisenberg
comprimento de onda, que é a distância pela física do século XIX, e que consistia estabeleceram as premissas de que cada
entre os picos, e f é a frequência (o na distribuição entre os diversos elemento de massa em movimento tem
inverso do período de uma oscilação). comprimentos de onda da energia associado uma onda cuja longitude é
As diferentes frequências de oscilação calorífica irradiada por um corpo quente. definida pela equação:
estão associadas a diferentes tipos de Sob certas condições ideais, a energia
radiação. Por exemplo, ondas de rádio se distribui de um modo característico. l=h/mv
têm frequências menores, a luz visível tem Planck demonstrou que podia ser
frequências intermediárias e a radiação explicada supondo que a radiação Em que l é a longitude de onda associada
gama tem as maiores frequências. eletromagnética era emitida pelo corpo ao movimento de onda; h é a constante de
A Teoria do Eletromagnetismo foi o em pacotes discretos aos quais chamou Planck; m é a massa da partícula; e v é a
que permitiu o desenvolvimento da Teoria “quanta”. velocidade da partícula.
Restrita (ou Especial) da Relatividade por O postulado de Planck parte do ponto
Albert Einstein, em 1905, descrevendo de que a energia é emitida e absorvida
a física do movimento na ausência de em quantidades definidas (Fótons) e A radiação visível
campos gravitacionais. A noção de que o valor energético de cada fóton é
variação das leis da física no que diz determinado pelo produto de: A energia radiante na parte visível
respeito aos observadores é a que dá nome do espectro está inserida entre duas
à teoria, à qual se acrescenta o qualificativo hxv longitudes de onda, 380-770 nanômetro
de especial ou restrita, por limitar-se (IESNA, 1993). Isso significa que os olhos
apenas aos sistemas em que não se têm em Em que: h = 6,626 x 10-34 (Constante de humanos estão aptos a enxergar a radiação
conta os campos gravitacionais. Plank) e v = frequência da vibração do dentro destes comprimentos de onda, é o
O físico Max Planck, no início do fóton (Hz). que chamamos de luz (Figura 1).
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Iluminação pública e urbana

Figura 1 – Luz visível

Propagação da luz obtém-se a reflexão dita especular.


Com relação ao fenômeno da refração,
A luz se propaga em linha reta em se o raio incidente encontra-se em um meio
um meio homogêneo e a uma velocidade 1, de índice de refração n1, e o raio refratado
menor do que a velocidade no vácuo, encontra-se em um meio 2, de índice de
segundo um fator definido como Índice de refração n2, a relação dos ângulos incidente
Refração do meio. Quanto mais próximo e emergente é expressa pela equação: Figura 3 – Reflexão.
da unidade for o Índice de Refração, mais
próxima é a velocidade de propagação no n1 sen F1 = n2 sen F2 É importante salientar que, sempre que
vácuo (velocidade da luz). se ilumina uma superfície cuja característica
Quando a luz atravessa a interface Esta expressão é conhecida como Lei de Snell. de reflexão é especular, o resultado é a baixa
entre dois meios com distintos índices de percepção de luz; quando se ilumina uma
refração, uma parte da radiação é refletida Reflexão e transmissão difusa superfície com características de reflexão
pelo meio um e a outra parte é transmitida difusa, os resultados são muito mais
pelo meio dois, sofrendo um desvio da Em geral, a distribuição angular da luz expressivos, considerando-se o índice de
direção original, ao que caracteriza que a refletida e transmitida depende do ângulo sua reflexão. Em linhas gerais, sempre que
luz sofreu uma refração (Figura 2). de incidência do raio luminoso em relação há o interesse na iluminação de uma dada
à superfície e da natureza da rugosidade da superfície é recomendada a utilização de cores
superfície. claras e acabamentos foscos (reflexão difusa).

Figura 2 – Refração.

Os raios incidente e refletido, quando


em um mesmo meio, são iguais, ou seja, o
ângulo de incidência é igual ao ângulo de
emergência. Quando a superfície é polida, Figura 4 – Curvas de sensibilidade CIE.
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32 Fluxo luminoso
Sensibilidade espectral do por E, sua unidade de medida é o Lux e é
olho humano calculada pela relação lm/m2.
Iluminação pública e urbana

O fluxo luminoso F é a parte do fluxo


A sensibilidade do olho humano não é radiante de uma fonte relacionada à resposta 1 Lux = 1 lm/1 m2
uniforme dentro do espectro visível, sendo visual humana, conforme explicitado na
que a variação em relação ao comprimento curva de sensibilidade CIE (Figura 4), entre Caso a área utilizada seja sq.ft (pé
de onda pode ser analisada no gráfico da 380 nm e 780 nm, considerando-se a curva quadrado), o resultado é expresso em fc
Figura 4. de visão fotópica. A unidade de medição (lm/ft2). Pelas relações de área, tem-se:
chama-se lúmen (lm).
A visão fotópica “Um Lúmen é o fluxo luminoso de uma 1 footcandle = 10.76391 lux
radiação monocromática caracterizada por
Em ambientes nos quais há altos níveis uma frequência de 540 Hz x 1012 Hz e um
de iluminação, em geral durante o dia, fluxo radiante de (1/683)W”
a percepção da luz é representada pela De forma resumida, uma energia
curva relativa à visão fotópica, percebida radiante de 1 W proporciona no máximo
completamente pelos receptores chamados 683 lm, quando utilizada uma radiação
de cones. A resposta máxima desses monocromática de 555 nm.
receptores ocorre na região verde amarelada
do espectro, cujo comprimento de onda Eficiência da fonte
está na casa dos 555 nanômetros (nm).
Na prática, o fluxo luminoso de uma
A visão escotópica lâmpada é a soma de toda energia radiante
que sensibiliza o olho humano na visão
Em ambientes nos quais há baixos níveis fotópica, diretamente relacionada com a Figura 6 – Iluminância.
de iluminação, em geral durante o período capacidade de cada fonte em transformar
noturno, e os olhos humanos dispõem de energia elétrica em luminosa. A esta O conceito de luminância baseia-se no
tempo suficiente para se adaptar à escuridão capacidade chama-se de eficiência da fonte observador da superfície iluminada, isto é,
(até 30 minutos), tem-se a visão chamada medida em lumens por watt (lm/W) e pode tudo o que os olhos humanos enxergam pode
escotópica, percebida por outra categoria ser analisada na Figura 5. ser descrito por luminância de determinado
de receptores, os bastonetes. A resposta objeto. A luminância de um objeto
máxima dos bastonetes ao estímulo Iluminância e luminância iluminado depende do ângulo de visão entre
ocorre na região azulada do espectro, cujo o plano e o observador e, por consequência,
comprimento de onda está na casa dos O conceito de iluminância, no passado da superfície aparente do objeto e de seu
507nm. conhecido por iluminamento, caracteriza o índice de reflexão. A luminância é medida
resultado de uma fonte de luz que incide em em candela por metro quadrado (cd/m2) no
A visão mesópica determinada área iluminada. Simbolizada sistema internacional (Figura 7).

Na região intermediária entre as


visões fotópica e escotópica, tem-se uma
interessante visão chamada mesópica, em
que cones e bastonetes interagem entre
si, proporcionando uma visão débil em
reconhecimento de cores, aumentando a
percepção das cores vermelhas em relação
às azuis (motivo pelo qual a luz de freio
dos automóveis é vermelha). Assim, para
cada momento do dia e sua respectiva
quantidade de luz, a curva de sensibilidade
move-se desde a visão fotópica e escotópica,
conforme mostrado na Figura 4. Figura 5 – Eficiência da fonte luminosa.
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Supondo a existência de duas lâmpadas 33


de dimensões diferentes, porém com o
mesmo fluxo luminoso, se olharmos as duas
fontes luminosas a uma mesma distância,
a lâmpada maior será percebida menos
brilhante do que a lâmpada menor, ou seja,
luminância pode ser também descrita por
brilho. Ou ainda, o brilho de superfícies
escuras é menor que o brilho de superfícies
Figura 7 – Luminância. claras.

Intensidade luminosa

A definição de luminância utiliza


um conceito de intensidade luminosa (I)
medido em candela (cd). O conceito de
intensidade luminosa pode ser descrito pela
unidade de luz, que quando somada resulta
no fluxo luminoso da fonte. Dessa forma, a
integral de todas as intensidades luminosas
emitidas por uma fonte resulta no fluxo
luminoso da fonte.
Por definição: intensidade luminosa (I)
Figura 8 – Luminância e brilho.
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34 é a luz que se propaga numa dada direção, sendo uma medida relativa à percepção de aparência diante de uma fonte de luz. A luz
dentro de um ângulo sólido unitário e sua luminosidade da luminância. artificial, como regra, deve permitir ao olho
Iluminação pública e urbana

unidade é lúmen/esferorradiano ou candela humano perceber as cores corretamente ou


(cd). O ângulo sólido (w) é uma medida Considerando que na iluminação o mais próximo possível da luz natural.
do espaço tridimensional, assim como o existe o conceito aditivo, ou seja, em que Lâmpadas com Ra igual a 100
radiano é para o espaço bidimensional. a adição de todas as fontes de espectro apresentam as cores com total fidelidade
O esferorradiano é a unidade de um monocromático resulta na luz branca, e precisão. Quanto mais baixo o índice,
ângulo sólido, ou seja, um ângulo no espaço pode-se, com base em três cores básicas mais deficiente é a reprodução de cores.
tridimensional. monocromáticas, o sistema RGB criar a luz Os índices variam conforme a natureza da
com a cor que se deseja. Para cores menos luz, e são indicados de acordo com o uso de
saturadas, acrescenta-se a luz branca, cada ambiente.
obtendo-se como resultado cores pastéis. A
esse sistema chama-se de RGBW. Fatores humanos em iluminação
Dentre as características da luz relativas
à cor, dois aspectos são fundamentais O uso da energia elétrica para produção
para o bom entendimento e definição da de luz artificial foi estabelecido há mais de
fonte de luz: a aparência de cor correlata 100 anos e, durante este período, foram
ou, simplesmente, a aparência de cor. desenvolvidos diversos estudos para se
Quando há necessidade de expressar chegar a descrições e recomendações de
Figura 9 – Esferorradiano. uma determinada cor de luz emitida por como a luz deveria ser melhor utilizada.
uma fonte, utiliza-se esta definição com Inicialmente, as pesquisas buscaram
Medidas colorimétricas frequência, pois ela expressa diretamente a quantificar a luz, ou seja, medir as diversas
cor emitida com base em uma comparação unidades características das fontes de luz,
No que se refere à cor, temos duas com padrão definido. como fluxo luminoso.
situações distintas: a cor na esfera da É sabido que a maioria dos corpos, Chegou-se, assim, à abordagem
impressão e percepção e a cor no âmbito da quando aquecidos a temperaturas suficiente­ quantitativa da luz, para a qual foram
iluminação. A cor percebida pertencente mente altas, emite luz avermelhada e que, à realizadas pesquisas estatísticas com base
a um objeto ou a uma fonte de luz medida que a temperatura do corpo aumenta, na observação de universos de pessoas
refere-se a uma percepção instantânea. Ela a cor da luz emitida tende para o tom azulado. estatisticamente válidas. O objetivo era
depende da interação de fatores como as definir a quantidade de luz necessária
características do objeto e da fonte de luz Índice de reprodução de cores para cada tipo de atividade. Mais
incidente sobre este objeto, dos arredores, (Ra ou IRC) recentemente, as técnicas buscaram não
da direção de visão e capacidades do somente a quantidade correta de luz, mas
observador. É a medida de correspondência entre o desenvolvimento de soluções que visam a
A cor de um objeto é definida pela a cor real de um objeto ou superfície e sua qualidade do ambiente iluminado, ou seja,
cor da luz refletida ou transmitida por ele
quando iluminado por uma fonte de luz
padrão (luz do sol, por exemplo). A cor
pode ser caracterizada por:

Tom: associado a cores básicas como


vermelho, amarelo, laranja, verde, azul ou
roxo.
Saturação: corresponde à pureza da cor que
determina o tom. Uma cor monocromática
espectral tem maior saturação. Por
consequência, como em iluminação, o
branco se dá pela soma das diversas cores
saturadas.
Claridade: refere-se à quantidade de luz,
Figura 10 – Aspectos que influenciam a qualidade de um sistema de iluminação.
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36 analisar os efeitos psicológicos da luz nas direta ou indireta das fontes de luz em
pessoas – uma abordagem qualitativa. intensidades que possam atrapalhar ou
Iluminação pública e urbana

O assunto relacionado à qualidade da impedir a execução de determinada tarefa.


iluminação foi desenvolvido na Divisão 3 O ofuscamento direto ou indireto
(que trata dos temas ambientes interiores criado por uma fonte de luz está
e lighting design) do Comitê Internacional relacionado à intensidade da luz observada
de Iluminação (CIE), por meio do Comitê e a iluminação existente no ambiente. Neste
Técnico TC 3-34. Ficou estabelecido que caso, estamos nos relacionando com as
a qualidade de um sistema de iluminação luminâncias observadas, e é fundamental
é determinada pelo grau de excelência para o projetista preocupar-se com um bom Figura 12 – Sombras.
alcançado relativo ao bem-estar das balanceamento destas luminâncias.
é causado pela relação espacial entre a tarefa,
pessoas e sua integração com as questões O ofuscamento depende da luminância
o observador e a fonte de luz ou por sombras
arquitetônicas e econômicas. do elemento iluminado ou da fonte, e
indesejáveis criadas por elementos terceiros.
O conforto visual é, na verdade, o como a luminância está relacionada à área
A consideração do uso de iluminação
atendimento de vários quesitos que podem observada, temos maior probabilidade de
localizada para a correção destes transtornos
interferir direta ou indiretamente na ação minimizá-la quando trabalhamos com
é importante, pois é uma ferramenta de fácil
de enxergar objetos e ambientes. Alguns fontes de maior dimensão, motivo pelo
implementação e eficaz para prover a luz
fatores têm possibilidade de interferir na qual o ofuscamento criado por lâmpadas
necessária no local necessário.
qualidade e no conforto visual, e estar fluorescentes é menor quando comparado
No entanto, pode-se interagir com as
diretamente relacionados à iluminação ou ao ofuscamento criado por lâmpadas
fontes de luz e os objetos, criando espaços
com a tarefa em si. incandescentes pequenas.
iluminados em que a presença de sombras
é desejável para a criação de efeitos
Problemas associados à
especiais. A essa técnica dá-se o nome de
iluminação
Shadowlighting.

A variação temporal da iluminação


artificial, também conhecida como
Flickering, é a quase percepção pelo indivíduo
da variação do fluxo luminoso diante da
frequência nominal da tensão de 50 Hz ou
60 Hz. Dizemos quase percepção pelo fato
de, na maioria dos casos, não haver a real Figura 11 – Ofuscamento.
percepção da variação de fluxo, porém há
o indício de que constantes dores de cabeça Sombras
estão relacionadas a este fato. Interessante é
o fato de que, quando se utilizam os reatores A sombra é a consequência da presença Figura 13- Shadowlighting.
eletrônicos de alta frequência (entre 30 KHz e de uma fonte de luz e de um objeto, pois onde
50KHz), o problema relacionado às dores de não há luz, não há sombra. Imediatamente Reflexões veladoras
cabeça diminui drasticamente, aumentando o pode-se imaginar que, quanto maior for o
bem-estar do indivíduo. número de fontes, maior será o número de A reflexão da luz em superfícies
Uma orientação para minimizar sombras, porém com menor contraste. próximas ao observador pode ser
o problema, quando a utilização dos A sombra será mais definida quanto indesejável e causada, principalmente, pelas
equipamentos eletrônicos não for menor for a fonte de luz. Desta relação características de reflexão relacionadas ao
uma opção econômica possível, é o chama-se de luz dura toda luz que produz ângulo de incidência da luz proveniente da
balanceamento entre fases elétricas em sombras definidas, e de luz mole toda fonte ou do grau de reflexão da superfície, se
luminárias próximas. aquela que produz sombras difusas. é uma reflexão difusa, mista ou especular. A
Um problema a evitar com as sombras reflexão é normalmente controlada a partir
Ofuscamento é a diminuição da qualidade de uma tarefa da fonte, anteparo ou mesmo da alteração
pela má visualização causada por uma de posição do objeto, como um livro, por
O ofuscamento é fruto da observação sombra indesejada. Em geral, esse problema exemplo.
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Fontes de luz 37

Hoje em dia não se pode mais chamar


de lâmpadas as fontes de luz artificial em
uso no campo da iluminação, pois há
fontes de luz eletrônicas em estado sólido
chamadas LEDs (light emitting diode,
diodos emissores de luz, na tradução livre
do inglês). Dessa forma, para entender
a evolução desses dispositivos, vamos
começar a entender as lâmpadas.

Figura 14 – Elementos da lâmpada incandescente.


Lâmpadas incandescentes

As lâmpadas incandescentes produzem somente este fato não conseguia produzir Para uma especificação perfeita, devem ser
luz através da incandescência de um luz por longos períodos de tempo em conhecidos certos aspectos de uma lâmpada
filamento confeccionado a partir dos metais função da queima do filamento. incandescente como potência (W); tensão de
de transição tungstênio e molibdênio. Verificou-se que, inserindo este operação (V); bulbo; e base. A potência de
O inventor e empresário americano filamento em um ambiente sem ar, ou uma lâmpada, definida em watts (W), equivale
Thomas Edison, o precursor da lâmpada seja, no vácuo, ele produzia luz por mais à potência consumida pela lâmpada em uma
incandescente, verificou que, para o tempo. E o desenvolvimento tecnológico da hora de operação. Assim, uma lâmpada de 100
filamento produzir luz, bastava aquecê-lo lâmpada possibilitou chegar no que hoje é watts equivale a um equipamento que consome
utilizando-se da energia elétrica. Porém, uma lâmpada incandescente. 100 watts por hora.
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38 Determinar somente a potência da bulbo por meio de molde do vidro e da


lâmpada não permite estabelecer um inserção de material refletivo no interior
Iluminação pública e urbana

parâmetro seguro de especificação, pois o do bulbo já formado. A segunda categoria


valor da tensão de operação é importante é formada pelas lâmpadas conhecidas como
para o seu perfeito funcionamento. Assim, PAR (Parabolic Aluminium Reflector), mais
deve-se especificar a tensão de operação da robustas que as lâmpadas refletoras e mais
lâmpada com base na tensão de operação do resistentes à umidade. Esse tipo de lâmpada
local em que ela será utilizada. É necessário apresenta como principal característica um
pesquisar se a tensão de operação é 110 V, bulbo confeccionado em vidro prensado,
115 V, 120 V, 127 V, 208 V ou 220 V. mais resistente em relação às refletoras de
O bulbo, recipiente de vidro que bulbo soprado, permitindo a utilização,
recobre o filamento, difere de lâmpada Figura 16 – Curva Isocandela. muitas vezes, em sistemas sem a necessidade
para lâmpada, principalmente em função de luminárias fechadas. Sendo da categoria
da potência consumida. Quanto maior curva, expressa em Candela (cd), que une
das lâmpadas refletoras, as lâmpadas PAR
a potência da lâmpada, com mais calor as intensidades em diversas direções. A esta
focam o fluxo luminoso produzido pelo
envolverá o filamento e de mais espaço este curva dá-se o nome de Isocandela. Assim,
filamento em direções e intensidades
filamento precisará. O formato de bulbo a soma dos planos formando 360 graus ao
específicas de cada modelo. Nestes casos, o
mais conhecido é o chamado pera, contudo, redor da fonte de luz traduzirá a emissão
valor do fluxo luminoso nominal da lâmpada
outros formatos foram desenvolvidos para total da lâmpada ou luminária.
não é mais importante, mas sim a curva de
facilitar o uso em diferentes luminárias. como o fluxo é direcionado.
Este é o motivo pelo qual as lâmpadas
Fotometria básica refletoras, em geral, devem ser analisadas
pela curva fotométrica ou por simplificações
Como qualquer fonte de luz, a lâmpada práticas, como podemos analisar na Figura 18.
incandescente produz luz de maneira
diferente para cada tipo de bulbo. Por
exemplo, uma lâmpada incandescente cristal
que possui o vidro transparente produz luz
como demonstrado na Figura 15.

Figura 17 – Emissão total da lâmpada.

Importante salientar que este método


de transformar a emissão de uma lâmpada
em planos e curvas (Isocandela) é feito para
qualquer fonte de luz ou luminária, sendo a
Figura 18 – Curva fotométrica de uma lâmpada
maneira pela qual se traduz um efeito físico refletora.
em dados, usados para os cálculos manuais
ou informatizados. A leitura desta curva deve ser feita
Uma categoria importante de bulbos considerando a intensidade máxima, em
é a das lâmpadas refletoras, que diferem candelas (cd), produzida pela lâmpada,
Figura 15 – Emissão de luz por lâmpada das demais por apresentarem uma camada no centro do facho de luz. Duas linhas
incandescente cristal.
interna feita em material refletivo e que são consideradas, mostrando onde
Uma maneira de descrever como a produz uma curva fotométrica específica, estão as intensidades, expressas em
luz é produzida para fins de utilização em focando a luz produzida pelo filamento, candelas, correspondentes à metade da
um software de cálculo é a transformação independentemente da luminária na qual intensidade máxima, chamadas de linha
desta emissão em diversos planos, distintos está instalada. da intensidade de meio pico. Define-se
em suas posições em relação ao centro A categoria das lâmpadas refletoras a abertura do facho desta lâmpada o
geográfico da lâmpada. pode ser dividida em duas subcategorias: da ângulo formado entre estas duas linhas.
Unindo-se as diversas intensidades primeira fazem parte as lâmpadas refletoras Uma utilização prática das
neste determinado plano, tem-se uma de bulbo soprado, obtendo-se a forma do curvas fornecidas pelos fabricantes
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é a determinação da iluminância um exemplo dos níveis de iluminação e 39


a certa distância da lâmpada em distância: uma lâmpada aqui chamada de
um plano perpendicular à normal R63 de 60 W e abertura de facho de 30
calculada em zero grau, passando pela graus produzirá, a dois metros de altura,
intensidade máxima (cd). Pelas relações um círculo iluminado com diâmetro de
trigonométricas, calcula-se o diâmetro 107 centímetros e iluminância igual a 240
do círculo formado pela emissão de lux. Uma opção de projeto seria que, para
uma lâmpada simétrica, como são as conseguir um espaço iluminado geral de
lâmpadas circulares. 240 lux, deve-se posicionar as lâmpadas
Na Figura 19, podemos analisar neste espaço à altura de dois metros a cada
1,07 metro.
Outra maneira de apresentar a
distribuição de luz de uma lâmpada ou
luminária é a divisão em planos, para o que
se criou uma curva chamada curva polar. Figura 20 – Aspecto de curvas polares.
As curvas polares de lâmpadas ou
luminárias circulares, isto é, cuja fotometria * Plinio Godoy é engenheiro eletricista
é simétrica em relação ao eixo central da especializado em lighting design. É
consultor e lighting designer sênior da
fonte de luz, são apresentadas conforme a CityLights.
curva mostrada na Figura 20. Esta curva
Continua na próxima edição
mostra, para cada ângulo, a intensidade
Acompanhe todos os artigos deste fascículo em
(cd) emitida pela lâmpada – esta curva www.osetoreletrico.com.br
Dúvidas, sugestões e comentários
específica mostra que a intensidade máxima podem ser encaminhados para
redacao@atitudeeditorial.com.br
Figura 19 – Níveis de iluminação e distância. a zero grau é de aproximadamente 8.700 cd.
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Iluminação pública e urbana

Capítulo II

Conceitos de iluminação urbana


Por Plinio Godoy*

Neste capítulo, são apresentados Como iniciar um projeto de ABNT NBR 5101-2012:
alguns conceitos fundamentais para o iluminação de uma via? A primeira Saber as características da via é
bom entendimento das questões relativas informação que devemos buscar é fundamental para a definição das soluções.
à Iluminação urbana. a largura do leito carroçável (w). A
A partir de uma instalação típica segunda informação importante que Classificação da distribuição
de iluminação pública, vamos entender precisamos definir é a categoria da das intensidades das
como os diversos dados se relacionam e via e, por consequência, os índices luminárias
como interpretá-los para a definição da luminotécnicos que temos de atender.
correta solução para seus projetos. Esses índices são encontrados na norma Esta classificação é necessária para
definição do tipo de fotometria que
Volume de tráfego da via devemos utilizar para aproveitar ao

Tabela 1 – Tráfego motorizado


máximo a luz emitida, proporcionando
conforto aos pedestres e motoristas.
Classificação Volume de tráfego noturno a de veículos por hora,
em ambos os sentidos b, em pista única
Conforme a norma ABNT NBR
Level (L) 150 a 500
5101/2012:
Médio (M) 501 a 1.200
Intenso (I) Acima de 1.200
“A distribuição apropriada das
a
Valor máximo das médias horárias obtidas nos períodos compreendidos entre 18 e 21 h.
b
Valores para velocidads regulamentadas por lei.
intensidades luminosas das luminárias é

Nota: Para vias com tráfego menor do que 150 veículos por hora, consideram-se as exigências mínimas do
um dos fatores essenciais de iluminação
grupo leve (L) e, para vias com tráfego muito intenso, superior a 2.400 veículos por hora, consideram-se as eficiente em vias. As intensidades
exigências máximas do grupo de tráfego intenso (I).
emitidas pelas luminárias são controladas
Tabela 2 – Tráfego de pedestres a direcionalmente e distribuídas de acordo
com a necessidade para visibilidade
Classificação Pedestre cruzando vias com tráfego motorizado.
adequada (rápida, precisa e confortável).
Distribuições de intensidades são,
Sem tráfego (S) Como nas vias arteriais
geralmente, projetadas para uma faixa
Level (L) Como nas vias residenciais médias
típica de condições, as quais incluem altura
Médio (M) Como nas vias comerciais secundárias
de montagem de luminárias, posição
Intenso (I) Como nas vias comerciais principais
transversal de luminárias (avanço),
a
O projetista deve levar em conta esta tabela, para fins de elaboração do projeto. espaçamento, posicionamento, largura
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das vias a serem efetivamente iluminadas, b) Distribuição média: três tipos de distribuição vertical (curta, 31
porcentagem do fluxo luminoso na pista e Quando o seu ponto de máxima média e longa, conforme Figura 1);
áreas adjacentes, mantida a eficiência do intensidade luminosa encontra-se na
sistema.” região “M” do sistema de coordenadas, b) Tipo II
isto é, entre 2,25 AM LTV e 3,75 AM LTV. Quando a linha de meia intensidade
A distribuição das intensidades máxima fica compreendida entre a LLV
luminosas da luminária em relação à via c) Distribuição longa: 1,75 AM e a linha de referência na área
é classificada de acordo com três critérios: Quando o seu ponto de máxima dos três tipos de distribuição vertical
intensidade luminosa encontra-se na (curta, média e longa, conforme Figura
• Distribuição longitudinal (em plano região “L” do sistema de coordenadas, 1);
vertical); isto é, entre 3,75 AM LTV e 6,0 AM LTV.
• Distribuição transversal; c) Tipo III
• Distribuição da emissão de luz para o céu. Classificação das luminárias Quando a linha de meia intensidade
em relação à distribuição máxima ultrapassa parcial ou totalmente
As distribuições longitudinais transversal das intensidades a LLV 1,75 AM, porém não ultrapassa
verticais das intensidades luminosas luminosas a LLV 2,75 AM na área dos três tipos
dividem-se em três grupos: de distribuição vertical (curta, média e
a) Tipo I: longa, conforme Figura 1);
a) Distribuição curta: Quando a linha de meia intensidade
Quando o seu ponto de máxima máxima não ultrapassa as linhas LLV d) Tipo IV
intensidade luminosa encontra-se na 1,0 AM, tanto do “lado das casas” como Quando parte da linha de meia intensidade
região “C” do sistema de coordenadas, do “lado da via”, caindo em ambos os máxima ultrapassa parcial ou totalmente a
isto é, entre 1,0 AM LTV e 2,25 AM LTV. lados da linha de referência na área dos LLV 2,75 AM (ver Figura 1).
Apoio

32 Toda essa classificação é necessária


para saber qual a fotometria que melhor
Iluminação pública e urbana

atenderá a situação da via a ser projetada


em função da largura da via e da
distribuição da luz.

Figura 1 – Diagrama mostrando a relação das LTV e LLV na via e na esfera imaginária, cujo centro Figura 3 – Tipos de distribuição de iluminação
é ocupado pela luminária. externa, de acordo com a IESNA.

Figura 2 – Vista em planta de uma via com os diferentes tipos de luminárias.


Apoio

34 A distribuição de luz para o céu pode a) Distribuição totalmente limitada (full luminosa acima de 80° não excede 10%
ser mais precisamente definida como: cut-off) dos lúmens nominais da fonte luminosa
Iluminação pública e urbana

Quando a intensidade luminosa acima empregada. Isso se aplica a todos os


Controle de distribuição de de 90° é nula e a intensidade luminosa ângulos verticais em torno da luminária.
intensidade luminosa no espaço acima de 80° não excede 10% dos lúmens
acima dos cones de 80° e 90° nominais da fonte luminosa empregada. c) Distribuição semilimitada (semi cut-
(cujo vértice coincide com o Isso se aplica a todos os ângulos verticais off)
centro ótico da luminária) em torno da luminária. Quando a intensidade luminosa acima de
90° não excede 5% e a intensidade luminosa
Este controle de distribuição de b) Distribuição limitada (cut-off) acima de 80° não excede 20% dos lumens
intensidade luminosa é dividido em quatro Quando a intensidade luminosa acima nominais da fonte luminosa empregada.
categorias, como segue: de 90° não excede 2,5% e a intensidade Isso se aplica a todos os ângulos verticais
em torno da luminária.
Tabela 3 – Classes de iluminação para cada tipo de via
Classe de
Descrição da via d) Distribuição não limitada (non cut-
iluminação
Vias de trânsito rápido; vias de alta velocidade de tráfego, com separação de pistas, sem
off)
cruzamentos em nível e com controle de acesso; vias de trânsito rápido em geral; Auto- Quando não há limitação de intensidade
estradas luminosa na zona acima da máxima
Volume de tráfego intenso V1
intensidade luminosa.
Volume de tráfego médio V2

Vias arteriais; vias de alta velocidade de tráfego, com separação de pistas; vias de mão Requisitos luminotécnicos
dupla, com cruzamentos e travessias de pedestres em pontos bem definidos; vias
rurais de mão dupla com separação por canteiro ou obstáculo
Com a informação da tipologia da via
Volume de tráfego intenso V1
– via de trânsito rápido, arterial, coletora
Volume de tráfego médio V2
e local – é preciso consultar as tabelas 3
Classe de
Descrição da via e 4 (respectivamente, as tabelas 4 e 5 da
iluminação
ABNTNBR 5101/2012). Estes valores são
Vias coletoras; vias de tráfego importante; vias radiais e urbanas de interligação entre estabelecidos para as partes retas das vias.
bairros, com tráfego elevado
Situações distintas devem ser encontradas
Volume de tráfego intenso V2
Volume de tráfego médio V3
no capítulo 6 da mesma ABNT NBR
Volume de tráfego leve V4 5101/2012.
Conhecendo a classe de iluminação,
Vias locais; vias de conexão menos importante; vias de acesso residencial
Volume de tráfego médio V4 é preciso consultar os índices na Tabela 3
Volume de tráfego leve V5 (tabela 5 da ABNT NBR 5101/2012):

Tabela 4 – Iluminância média mínima e uniformidade para cada classe de iluminação


Conhecendo a classe de iluminação,
Classe de Iluminância média Fator de uniformidade
é preciso consultar os índices na Tabela 3
iluminação mínima emed,min lux mínimo u=e min/ emed
(tabela 5 da ABNT NBR 5101/2012):
V1 30 0,4
V2 20 0,3
V3 15 0,2 Note que os valores apresentados
V4 10 0,2 referem-se à média mínima (Eméd,min),
V5 5 0,2 o que significa que é preciso considerar
Tabela 5 – Classes de iluminação para cada tipo de via a depreciação do sistema, a depreciação
Classe de da fonte de luz (lâmpada ou Led),
Descrição da via
iluminação a depreciação da luminária e dos
Vias de uso noturno intenso por pedestres (por exemplo, calçadões, passeios de zonas
comerciais) P1 componentes elétricos (reator ou drivers).
Vias de grande tráfego noturno de pedestres (por exemplo, passeios de avenidas, praças, Uma classificação semelhante deve
área de lazer) P2
ser feita para vias de pedestres (pedonais)
Vias de uso noturno moderado por pedestres (por exemplo, passeios, acostamentos) P3
utilizando-se as tabelas 5 e 6 (tabelas 6 e 7
Vias de pouco uso por pedestres (por exemplo, passeios de bairros residenciais) P4
da norma ABNT NBR 5101/2012).
Apoio

35
Tabela 6 – Iluminância média e fator de uniformidade mínimo a lâmpada ou o reator falham e, assim,
para cada classe de iluminação
o ponto é acessado pelas equipes de
Classe de Iluminância horizontal Fator de uniformidade manutenção.
iluminação média emed lux mínimo u=e min/ emed
Com a adoção do Led, podemos
P1 20 0,3
definir equipamentos que são
P2 10 0,25
P3 5 0,2 desenvolvidos para uma depreciação
P4 3 0,2 de 30%, porém, há soluções que já
apresentam menor depreciação para
Tabela 7 – Requisitos de a limpeza do conjunto. A recomendação da uma determinada quantidade de horas
luminância e uniformidade
ABNT NBR 5101/2012 é que a depreciação de operação, como 10%, por exemplo.
Classe de U0 Ul TI
Lmed SR máxima admitida seja igual a 30%, isto é, Assim, podemos ter um sistema com
iluminação ≥ ≤ %
V1 2,00 0,40 0,70 10 0,5 quando os níveis luminotécnicos mantidos maior depreciação com um custo menor
V2 1,50 0,40 0,70 10 0,5 atingirem 70% dos índices iniciais, deve-se ou um sistema com menor depreciação
V3 1,0 0,40 0,70 10 0,5 adotar o procedimento de manutenção com com um custo inicial maior. Cada solução
V4 0,75 0,40 0,60 15 -
a limpeza da luminária e troca da fonte de pode se adaptar melhor dependendo do
V5 0,50 0,40 0,60 15 -
luz. retorno do investimento.
Com a utilização tradicional das
Perfil de manutenção lâmpadas, é comum estabelecer a Encontrando a solução
manutenção do sistema quando este
Um detalhe importante que deve ser atingir os 30% de depreciação, porém, Considerando a largura da via, temos
considerado é a previsão de manutenção do na prática, o que ocorre é a manutenção algumas possibilidades de instalação das
sistema, ou seja, qual o período previsto para quando ocorre uma falha do sistema, ou luminárias:
Apoio

36 com canteiro central estreito.


Em vias largas não é aconselhável este
Iluminação pública e urbana

tipo de montagem, dado que o fluxo


luminoso incidente sobre as fachadas
dos prédios frontais se torna disperso, tal
como potencia a maior possibilidade de
colisão entre viaturas e as colunas.

Figura 4 – Disposição das luminárias.

Unilateral (U)

Este tipo de posicionamento das


luminárias é normalmente utilizado Fonte: www.voltimum.pt/artigos/ordenamento-da-ilumincao-publica.

quando as distâncias entre fachadas Figura 8 – Disposição central dupla


forem menores do que 15 m ou a
distância entre guias for inferior a 10 m. Calculando a solução
O sistema unilateral deverá prevalecer Fonte: www.voltimum.pt/artigos/ordenamento-da-ilumincao-publica. (exemplo)
sobre os demais indicados, a não ser Figura 6 – Posicionamento bilateral com
centros alternados
que a sua instalação seja totalmente • Sabemos a largura da via – 8,0 m
inadequada. Bilateral com centros • Sabemos a classificação da via – v3
opostos (B-O) • Sabemos os índices luminotécnicos
para a via – Eméd,min = 15 Lux, U=20%
Este tipo de posicionamento, com • Definimos o tipo de montagem –
as luminárias uma em frente a outra, Unilateral
é normalmente utilizado quando a • Definimos a altura de montagem –
distância entre fachadas é superior a 8,0 m
18 m ou em locais em que as distâncias • Definimos o recuo

Fonte: www.voltimum.pt/artigos/ordenamento-da-ilumincao-publica.
entre guias é superior a 13 m, ou,
excepcionalmente, em ruas de grande Softwares de auxílio
Figura 5 – Posicionamento unilateral
movimento.
Bilateral com centros Softwares gratuitos ou fornecidos
alternados (B-A) por fabricantes podem auxiliar a obter as
definições.
Este tipo de posicionamento, com as Um software gratuito disponível para
luminárias em ambos os lados da via em download é o DiaLux e pode ser baixado
um sistema alternado, é normalmente no seguinte endereço: http://www.
utilizado nos locais em que as distâncias dial.de/DIAL/en/dialux-international-
entre fachadas é de 15 m a 18 m ou a download/portugues.html
distância entre guias esteja compreendida Fonte: www.voltimum.pt/artigos/ordenamento-da-ilumincao-publica.
Outro software muito utilizado,
Figura 7 – Posicionamento bilateral com
entre 10 m a 13 m, ou excepcionalmente independemente de fabricantes, é o
centros opostos
em ruas de grande movimento. AGI32 (www.agi32.com).
Esta disposição, apesar de um custo Central dupla (C-D)
mais elevado, permite uma melhor Assim, para uma via:
uniformidade da iluminância, sendo Este tipo de posicionamento, com
aconselhada em vias de tráfego médio ou duas luminárias instaladas em um único • Largura: W = 8,0 m
intenso. apoio, é normalmente usado em vias • Classificação: V3
Apoio

38 • Iluminância: Eméd,min = - largura da via - Tipo de piso (r3)


15 Lux - U(Emin/Eméd) = 20% - Índices luminotécnicos requeridos - Tipo de montagem unilateral, duas
Iluminação pública e urbana

• Luminância : Lmed = 1,0 - Padrão ABNT NBR 5101/2012 vias, mão simples
• Disposição: Unilateral
• Montagem: H = 8,0 m
• Recuo da calçada: 0,5 m
• Faixas: 02
• Inclinação: 5,0 graus

Figura 11 – Resultados.

Figura 9 – Softwares gratuitos de iluminação.

Utilizando uma luminária Led


com potência de 150 W e fotometria
conforme a curva fotométrica a seguir:

Cálculo da iluminância média e mínima

Figura 10 – Curva fotométrica da luminária


com Led do exemplo dado.

Considerando os dados de instalação


e requerimentos:

- Altura de montagem
- Comprimento do braço
Apoio 39

Os resultados, muitas vezes,


não atendem a todos os requisitos e
demandarão ajustes na montagem ou no
tipo da luminária e fotometria. Analisar
outras soluções é importante, pois, como
há muitas opções de fotometrias entre
os fabricantes, alguma pode ser mais
adequada para seu caso específico.

Termo para licitação

Uma vez desenvolvida a solução,


é importante a definição detalhada
do produto a ser adquirido em suas
características:

- mecânicas;
- elétricas;
- apresentando os resultados
luminotécnicos desejados;
- montagem desejada;
- temperatura média e ventos médios da
região.

Estas informações são importantes


balizadores para que os proponentes
estejam cientes das condições de
utilização. Sugere-se, então, desenvolver
um processo de homologação.
Nos próximos capítulos, serão
abordados mais detalhes dos processos
de cálculo, luminárias, fontes de luz e
qualidade da iluminação.

* Plinio Godoy é engenheiro eletricista


especializado em lighting design. É
consultor e lighting designer sênior da
CityLights.

Continua na próxima edição


Acompanhe todos os artigos deste fascículo em
www.osetoreletrico.com.br
Dúvidas, sugestões e comentários
podem ser encaminhados para
redacao@atitudeeditorial.com.br
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32
Iluminação pública e urbana

Capítulo III

Fotometria básica
Por Plinio Godoy*

A maneira como expressamos a


forma que uma fonte de luz ou luminária
projeta o fluxo luminoso no espaço, as
direções e as intensidades é medida e
expressa por meio de curvas e diagramas
fotométricos. Entender a fotometria é
fundamental para a boa utilização das
informações na tomada de decisões de
projeto.
Hoje em dia, com o advento
dos sistemas Led, há uma gama de
possibilidades que pode levar o Figura 1 – Ilustração do conceito de intensidade luminosa.

projetista a bons resultados ou não,


dependendo do tipo utilizado na
solução do problema.
Apresentaremos de maneira
resumida e prática os conceitos
importantes relacionados à fotometria
aplicada à iluminação. Alguns conceitos
importantes devem ser compreendidos,
pois são as ferramentas que utilizamos
nas questões fotométricas.
De acordo com o Sistema
Internacional de Unidades (SI), temos:

Intensidade luminosa
Figura 2 – Relacionando o fluxo de água total que sai do chuveiro ao fluxo de luz total que sai da
luminária, a intensidade luminosa seria o jato de água que sai de cada furinho do chuveiro.
• Unidade de medida: candela"
• Abreviação: cd"
• Símbolo: I" intensidade energética nessa direção medido em candela (cd). O conceito de
• Fórmula: I = ϕ / ω" é 1/683 watt por esterradiano."Para intensidade luminosa pode ser descrito
• A candela é a intensidade luminosa, entender o conceito, imaginemos um pela unidade de luz, que, quando
em uma dada direção de uma fonte, que chuveiro no lugar de uma luminária: somada, resulta no fluxo luminoso da
emite uma radiação monocromática A definição de luminância utiliza fonte. Dessa forma, a integral de todas
de frequência 540 x 1012 hertz e cuja um conceito de intensidade luminosa (I) as intensidades luminosas emitidas por
33
Apoio

uma fonte resulta no fluxo luminoso da fonte.


Por definição: intensidade luminosa (I) é a luz que se
propaga em uma dada direção, dentro de um ângulo sólido
unitário e sua unidade é lúmen / esferorradiano ou candela (cd).
O ângulo sólido (w) é uma medida do espaço tridimensional,
assim como o radiano é para o espaço bidimensional. O
esferorradiano é a unidade de um ângulo sólido, ou seja, um
ângulo no espaço tridimensional.

Fluxo luminoso

Utilizando a explicação simples do chuveiro, entende-se


que o fluxo luminoso é a soma das intensidades luminosas em
uma superfície esférica que abrange o chuveiro (esferoradiano).

• Unidade de medida: lúmen


• Abreviação: lm
• Símbolo: ϕ
• Fluxo luminoso emitido por uma fonte puntiforme e
invariável de 1 candela, de mesmo valor em todas as direções,
no interior de um ângulo sólido de 1 esferorradiano.

Temos então dois conceitos importantes, a intensidade


luminosa (cd) e o fluxo luminoso (Lm).
Em um plano tridimensional, a luz é projetada em várias
direções. O exemplo a seguir mostra como a luz produzida por
uma lâmpada incandescente comum é distribuída no espaço.
A questão então é como descrever esta distribuição espacial
em tabelas ou de alguma forma que possa ser projetada.

Figura 3 – Esferorradiano.
Apoio

34
Iluminação pública e urbana

Figura 4 – Ilustração da distribuição da luz


gerada por uma lâmpada incandescente.

Figura 6 – Curva de intensidade luminosa.

o que, normalmente, acontece são curvas as intensidades para cada ângulo no plano,
assimétricas que precisam então de muitos temos uma curva de intensidade luminosa.
planos de corte para expressar a distribuição A Figura 6 mostra uma curva de uma
da luz no espaço de maneira fidedigna. lâmpada incandescente refletora. Este tipo
Aproveitando a imagem, notamos que, de curva também é chamada de “curva de
se criarmos uma curva que conecte todas distribuição polar”.

Figura 5 – Corte tridimensional da luz.

O que fazemos é cortar esta


distribuição tridimensional por planos
e, neste plano específico, temos a
distribuição de luz (Figura 5).
Entendemos então que se utilizarmos,
por exemplo, um plano somente temos uma
quantidade de informação suficiente da
emissão da luz da lâmpada “se” esta emissão
for simétrica, ou seja, emissão igual em
qualquer plano de análise. Porém, na vida
real, a simetria ocorre em poucos casos, Figura 7 – Fotometria criada com PhotoView. Fonte: OxyTech.
Apoio

36 Todos os semiplanos C têm como eixo


comum o eixo vertical FV, que passa
Iluminação pública e urbana

pelo centro fotométrico da luminária.


Sobre cada semipleno C e com origem
no centro fotométrico da luminária se
fixam as distintas direções coordenadas
por ângulos verticais gama (γ).
Os semiplanos C de referência
são os semiplanos C 0° e o C 180° e os
semiplanos C 90° e C 270°. Para localizar
os semiplanos C de referência em relação
à luminária, considere as duas direções
principais da rua a iluminar, que são
perpendiculares entre si. A direção
longitudinal e a direção transversal
têm dois sentidos para a calçada. Ou
seja, para frente e para trás do centro
fotométrico da luminária.
Para o centro do sentido da rua se faz
um correspondente, o semiplano C 90° e
para o centro do semiplano da calçada, o
Figura 8 – Planos para o levantamento da curva fotométrica.
semiplano C = 270°. Então, determina-se
Assim, para o levantamento de curvas luminárias possuem diversas formas, o sentido do semiplano C = 0°, tomando
fotométricas profissionais, ou seja, que ainda que na iluminação pública como sentido de giro o anti-horário, o
demonstrem com exatidão como a luz predominem as de fluxo assimétrico para semiplano C = 0° posicionado 90° em
é projetada pelo sistema “fonte de luz + uma melhor distribuição da superfície atraso em relação ao semiplano C = 90°.
luminária”, definimos os planos a seguir: iluminada sobre a calçada. Todos os valores levantados em
Uma boa curva fotométrica utiliza Para estabelecer a distribuição um laboratório são utilizados em
para suas medições pelo menos 360 luminosa de uma luminária utilizada processos computacionais, porém,
planos, ou seja, um plano para cada grau. na iluminação pública no espaço, para a apresentação gráfica das curvas,
Concretamente, na iluminação estabeleceu-se um sistema de referência selecionamos somente alguns planos que
pública, são empregadas lâmpadas a fotométrica da luminária. expressam de maneira resumida como a
vapor de mercúrio, a vapor metálico e Utilizam-se os semiplanos verticais luz é distribuída por uma determinada
a vapor de sódio de alta pressão. Já as coordenados por ângulos horizontais C. luminária. Veja o exemplo:

Figura 9 – Curva polar para três planos, 90°-270°, 20°-160° e 0°-180°.


Apoio

A curva 20°-160° foi estabelecida, 37


pois é neste plano que está a máxima
intensidade da distribuição de luz desta
luminária específica.
Notem que há uma indicação na
parte superior direita da curva “cd/
klm”, o que indica que os valores
de intensidade que aparecem na
curva devem ser multiplicados pelos
quilolúmens produzidos pela lâmpada
utilizada. Assim, para uma lâmpada com
22.000 lm, o valor da curva deve ser
multiplicado por 22.
Esta técnica é utilizada quando uma
luminária pode utilizar várias lâmpadas
de potências diferentes.
Com o advento do Led, as curvas
fotométricas utilizam o conceito de
fotometria absoluta, ou seja, cada curva
Figura 10 – Curva no plano tridimensional expressa no plano bidimensional.
fotométrica é utilizada para um conjunto
de led + lentes + luminária, ou seja, Graficamente, podemos analisar as desenvolver cálculos computacionais?
somente expressa aquela montagem curvas (Figura 10) e entender como a Existem padrões de inclusão de
específica, não podendo ser equivalente luminária projeta luz no espaço, porém, dados, como ângulos, intensidades,
a nenhuma outra medição. como utilizamos estas informações para planos, fluxo luminoso, potência do
Apoio

38 É importante conhecer qual padrão


de arquivo fotométrico o software de
Iluminação pública e urbana

cálculo utilizado considera para análise


dos dados. Por exemplo, o software
AGI32 utiliza o padrão IES LM-63-95,
mas também consegue ler e interpretar o
padrão Eulumdat.
A seguir, o conteúdo de um arquivo
IES:
Até esta parte do arquivo, o
fabricante apresenta a luminária, suas
características e outras observações. O
software entende que as informações
Figura 11 – Exemplo de conteúdo de um arquivo IES. fotométricas se encontram nesta parte
do arquivo (veja a Figura 12).
Para conhecer a fundo os dados
que compõem um arquivo IES, é
recomendável uma pesquisa no site
www.iesna.org sobre como montar o
arquivo.
O importante deste tipo de arquivo
é que todo fabricante deve apresentar
as curvas fotométricas das suas
luminárias levantadas em laboratórios
independentes ou em laboratórios
acreditados internacionalmente e pelo
Inmetro.
Figura 12 – Informações fotométricas relacionadas no software. Com a curva fotométrica do
conjunto, dimensões do elemento O padrão IES segue a normativa fabricante, procure saber qual o padrão
iluminante, fatores de correções, etc. Os IES LM-63-95 Photometric Data File utilizado e desenvolva alguns cálculos
mais utilizados são os padrões norte- Format. Já o padrão Eulumdat segue o para verificar como a luz se distribui
americanos (IES) e o padrão europeu padrão Eulumdat Photometric Data File e se o plano “zero” equivale ao plano
(Eulumdat). Format. transversal ou longitudinal da luminária.

Figura 13 – Cálculos permitem iluminação transversal da calçada.


Apoio

40 Esta questão pode fazer seu cálculo Uma dica interessante é desenvolver - Altura de montagem;
utilizar a luminária corretamente, os cálculos com o seu software - Distância entre postes;
Iluminação pública e urbana

iluminando transversalmente, criando luminotécnico e checar estes cálculos - Comprimento do braço;


linhas de luz transversais no plano. com o fabricante da luminária, - Ângulo de inclinação vertical (TILT).
Ou iluminando longitudinalmente a via, considerando a mesma situação de
criando o plano da via e calçada corretamente. montagem: Assim, você “calibra” seu cálculo
baseando-se no cálculo fornecido,
atestando que está utilizando a curva de
maneira correta.
Este curso visa apresentar os conceitos
e questões sensíveis quando você trabalha
com curvas fotométricas, por isso, sugiro
buscar um aprofundamento nestas questões
por meio de bibliografia específica.

* Plinio Godoy é engenheiro eletricista


especializado em lighting design. É
consultor e lighting designer sênior da
CityLights.

Continua na próxima edição


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Figura 14 – Cálculos permitem iluminação longitudinal da calçada.
Apoio

32
Iluminação pública e urbana

Capítulo IV

Qualidade na iluminação urbana


Por Plinio Godoy*

Este capítulo abordará o tema ou seja, dos aspectos projetuais baseados da região, aspectos turísticos e acima de
“qualidade na iluminação urbana”, um na quantidade de luz em determinada tudo, levando em consideração as pessoas.
tema bastante interessante, visto que via ou espaço público, para a abordagem Quando as pessoas são levadas em
abrange os conceitos mais atuais ligados “qualitativa”, em que a quantidade de conta, tem-se como base de análise
à iluminação pública, a qualidade e seus luz é um dos aspectos estudados para o a percepção dos espaços que estas
benefícios para as pessoas. desenvolvimento do projeto de luz de pessoas vivenciam, como o resultado da
uma determinada região, espaço ou até iluminação impacta na visão objetiva e
A boa iluminação urbana de uma cidade inteira. subjetiva delas.
Uma das questões mais interessantes Assim, podemos entender que Acredito que, no futuro, os processos
no âmbito da iluminação urbana é o a qualidade pode ser aplicada na projetuais serão mais elaborados neste
entendimento da sua importância na iluminação urbana quando esta considera sentido, buscando a qualidade dos
qualidade de vida das pessoas que utilizam não somente questões normativas, mas espaços como uma resultante entre o
os espaços públicos no período noturno. também questões relacionadas com a espaço, a luz existente e a percepção das
É comum analisarmos o fato da arquitetura, a composição urbanística, os pessoas, pois é para elas que devemos
migração das abordagens “quantitativas”, usos e costumes locais, a microeconomia trabalhar.

Figura 1 – As fotos mostram dois momentos urbanos na cidade de Nova York, à esquerda durante o dia e à direita durante a noite.
Apoio

33
A percepção do meio urbano de informações e o cérebro utiliza muito Para exemplificar a capacidade da
A percepção do meio urbano esta qualidade para interpretar os lugares, luz de criar prioridades na percepção
noturno é uma relação de causa e efeito até para impor sentimentos, como a do espaço, à noite, observe o quadro
como a percepção durante o dia, porém, sensação de segurança. de Rambrandt conhecido como “Night
na noite, temos a existência de regiões Pela capacidade da luz de mostrar ou Watch”, datado de 1642, em que, com
escuras, não iluminadas, que alteram o não os elementos, há também a capacidade a utilização de técnicas de iluminação,
espaço significativamente. de alterar um espaço ou elemento, o que percebemos as prioridades na percepção
Costumo dizer que na noite, o que não podemos utilizar de maneira positiva do espaço, valorizando-os mais ou
é iluminado, desaparece, e podemos sim para valorização e destaque de partes do menos, levando o observador a perceber
perceber esta questão com um exemplo todo, mudando a percepção deste espaço. o meio conforme o artista desejou.
simples: pensando em um caminho,
onde sabemos exatamente onde entrar,
qual esquina virar, mas, durante a noite,
como algumas referências urbanas não
são iluminadas, perdemos muitas vezes a
capacidade de orientação e passamos a não
ter tanta facilidade em desenvolver aquele
caminho.
As imagens da Figura 1 foram
registradas dos mesmos lugares, e
notamos quão diferentes são entre os dois
períodos. A percepção dos espaços muda
completamente, pois a visão tem uma Figura 2 – Imagem do quadro “The night watch”, de Rembrandt van Rijin, de 1642. (www.
importância muito grande na transmissão huffingtompost.com)
Apoio

34

Nytimes.com
Iluminação pública e urbana

Figura 3 – Nova York durante o dia (à esquerda) e à noite (à direita).

No plano de iluminação urbana, dos equipamentos utilizados no projeto, uma das características do equipamento
devemos considerar esta questão de sua utilização efetiva, focalização, utilizado, diferentes equipamentos
maneira fundamental, pois a luz tem a posicionamento, e a resultante da podem apresentar mesmo fluxo
capacidade de impor às pessoas a visão luz projetada nos volumes e planos luminoso porém diferentes fotometrias,
e a percepção do espaço, trabalhar com observados. o que causará mudanças nos resultados
essa ferramenta tão potente exige muito A distribuição da luz no espaço é obtidos em relação aos projetados.
cuidado e critério, pois ao contrário de
melhorar a vida das pessoas, podemos
Ledmagazine.com
trabalhar o contrário.
O universo da qualidade na iluminação
urbana é vasto, pois entender todas as
relações entre o espaço e a pessoa demanda
análises holísticas, arquitetônicas, urbanas,
paisagísticas, antropológicas, etc.
Dentro do aspecto da iluminação,
temos algumas questões básicas que
impactam na qualidade da iluminação
de um determinado lugar, afetando seus
usuários, as pessoas.

Distribuição de luz
A distribuição de luz no espaço é uma
resultante da característica fotométrica Figura 4 – Distribuição da luz no espaço.
Apoio

36

medada.net
Iluminação pública e urbana

Figura 5 – A mesma pessoa é iluminada com o mesmo foco posicionado diferentemente em relação à câmera.

Não há equipamentos similares, a ponto de se tornar padrão em sua maneira, utilizar equipamentos com
há sim equipamentos equivalentes, maioria, pela utilização indiscriminada bom controle ótico é uma decisão,
principalmente quando usamos a de luminárias com baixo controle ótico. além de técnica, fundamental para o
tecnologia Led. As luminárias utilizadas na bem-estar das pessoas, pois este tipo de
Uma mesma fonte de luz, utilizada iluminação viária, por exemplo, podem efeito pode aumentar o nível de estresse,
de maneira diferente, cria efeitos exercer um grande impacto na qualidade interferir no sono, prejudicando a vida
completamente diferentes, como podemos da iluminação de uma cidade. Dessa das pessoas.
ver na Figura 5, em que a pessoa é
iluminada com o mesmo foco posicionado

www.illinoislighting.org
diferentemente em relação à câmera.
Uma das questões mais sensíveis aos
olhos humanos em relação à iluminação
é o que chamamos de “ofuscamento”.
O “ofuscamento” é, em resumo,
a utilização descontrolada da luz
em relação às pessoas e seus olhos,
este podendo ser classificado como
“desconfortante”, ou seja, aquele que cria
desconforto nas pessoas pela incidência
de luz no plano de visão, até “velador”,
aquela luz que, incidindo nos olhos, cria
uma cegueira temporária, impedindo
que as pessoas consigam ver os arredores.
Este ofuscamento ilustrado na Figura
6 é típico “velador” e deve ser evitado
sempre.
Já o ofuscamento desconfortante
Figura 6 – Situação em que o ofuscamento (à esquerda) impede a visão dos arredores, como
é muito presente nas cidades, comum mostra a imagem à direita.
Apoio

37

environmentallysound.wordpress.com
Figura 7 – Exemplo de ofuscamento desconfortante.
Apoio

38 Outra consequência nefasta da de qualidade de resultado, tendo em Lmín


U O=
utilização de equipamentos com baixo suas normas níveis mínimos a serem Lmed
Iluminação pública e urbana

controle ótico é a poluição luminosa. alcançados pelos equipamentos e


Fator de uniformidade da luminância
Uma abordagem sustentável deve evitar disposição definidos.
(uniformidade longitudinal)U L
ao máximo esses equipamentos, pois A Tabela 1, retirada da norma
razão entre a luminância mínima e a
além de desperdiçar energia, prejudicam ABNT NBR 5101/2012, mostra os
luminância máxima ao longo das linhas
a natureza. valores referenciais de luminância e
paralelas do eixo longitudinal da via em
as respectivas uniformidades globais e
um plano especificado:
Uniformidade longitudinais a serem alcançadas.
L mín
A uniformidade deve ser entendida de U L=
dois aspectos diferentes, a uniformidade Fator de uniformidade da luminância Lmáx

no sistema de iluminação viária e a (uniformidade global) U O Já a tabela 2, extraída da mesma norma,


uniformidade na iluminação urbana. razão entre a luminância mínima e apresenta os valores referenciais
A iluminação viária tem na a luminância média em um plano para iluminância e suas respectivas
uniformidade um aspecto de análise especificado: uniformidades.

goldendaleobservatory.com
Figura 8 – Níveis de controle ótico.

Tabela 1 – Valores de luminância e uniformidades globais e longitudinais


para cada classe de iluminação

Classe de iluminação Lmed UO ≥ UL ≤ TI % SR

V1 2,00 0,40 0,70 10 0,5


V2 1,50 0,40 0,70 10 0,5
V3 1,00 0,40 0,70 10 0,5
V4 0,75 0,40 0,60 15 -
V5 0,50 0,40 0,60 15 -

Lmed : luminância; UO : uniformidade global: UL : uniformidade longitudinal; TI: incremento linear.


Nota 1 Os critérios de TI e SR são orientativos, assim como as classes V4 e V5.
Nota 2 As classes V1, V2 e V3 são obrigatórias para a luminância

Tabela 2 – Iluminância média mínima e uniformidade para cada classe de iluminação

Classe de iluminação Luminância média mínima Emed, mín lux Fator de uniformidade mínimo U=Emín /Eméd

V1 30 0,4
V2 20 0,3
V3 15 0,2
V4 10 0,2
V5 5 0,2
Apoio

40 A uniformidade é relação entre

sfbetterstreets.org
os pontos mais iluminados e menos
Iluminação pública e urbana

iluminados em um espaço iluminado,


podendo esta relação ser entre os
valores mínimos, máximos e médios.
A uniformidade, na prática,
evita pontos escuros onde a visão é
prejudicada, podendo assim tornar
estes locais zonas de baixa percepção
visual.
A uniformidade na iluminação
urbana é uma ferramenta da criação
dos efeitos de luz, valorização dos
volumes e na busca da criação de um
espaço tridimensional mais coerente e
agradável aos olhos.
Um exemplo é a iluminação de
fachadas, antigas ou contemporâneas,
em que a não uniformidade pode ser uma
consequência desejada para o resultado
visual final, salientando aspectos e
criando as hierarquias visuais, trazendo
vibração e interesse aos olhos.
Figura 9 – Uniformidade: relação entre os pontos mais e menos iluminados.

http://science-technologies-engineering.com/

Figura 10 – Ponte na cidade de Los Angeles, iluminada anteriormente com sistema de lâmpadas a vapor de sódio de alta pressão (à esquerda) e
iluminada com Leds (à direita), apresentando uma melhor uniformidade.
luxreview.com

Iguzzini.com

Figura 11 – Fachadas podem usar o recurso da não uniformidade para Figura 12 - Um edifício iluminado de maneira a mostrar todos os seus
melhor resultado final. detalhes e volumes.
Apoio

41
Um cuidado que se deve ter ao

wondermondo.com
utilizar a não uniformidade para
valorizar um edifício é criar uma
desfiguração do mesmo quando no
período noturno.
Note que a face da torre não
iluminada cria uma distorção na
observação do prédio, utilizamos então
a capacidade do cérebro de prever
formas e volumes para completar a
observação do edifício, mesmo não
iluminado totalmente.
No próximo capítulo, serão
abordadas questões relacionadas à luz e
suas fontes geradoras.

* Plinio Godoy é engenheiro eletricista


especializado em lighting design. É
consultor e lighting designer sênior da
CityLights.

Continua na próxima edição


Acompanhe todos os artigos deste fascículo em
www.osetoreletrico.com.br
Dúvidas, sugestões e comentários
podem ser encaminhados para
redacao@atitudeeditorial.com.br
Figura 13 – As pirâmides do Egito são outro exemplo de como utilizar a não uniformidade.
Apoio

40
Iluminação pública e urbana

Capítulo V

Fontes de luz
Por Plinio Godoy*

Neste capítulo, conversamos sobre

www.lowtechmagazine.com
as fontes de luz, que “na antiguidade”
chamávamos de lâmpadas, já que, hoje,
com o advento do Led, “nem tudo que
reluz é ouro”...
Nos diversos campos de atuação da
iluminação, algumas fontes de luz tomam
certa prioridade face às suas características
luminotécnicas, fotométricas e físicas.
Por exemplo, na aplicação comercial,
lojas e pontos de vendas, as fontes de
luz devem apresentar boa qualidade de
reproduzir as cores, devem ser pequenas e
possibilitar controle de ofuscamento, etc.
Já na aplicação voltada para a
iluminação pública, as fontes de luz
devem estabelecer uma boa relação
operacional com os processos de
manutenção. Isso porque se uma fonte de
luz apresentar uma baixa expectativa de
vida operacional ou vida útil, o sistema
de manutenção utilizado simplesmente
não aceitará este produto, pois tornará
o custo de troca excessivamente alto,
prejudicando o equilíbrio do contrato.
Então, para a área da iluminação
pública, quais as fontes de luz que
podemos considerar? A resposta a esta Figura 1 – Torres de iluminação com lâmpadas a arco voltaico. Algumas torres apresentavam 90
metros de altura.
pergunta está nas características das
fontes, na operação e na aceitação da arco”. Este tipo de lâmpada marcou os formação de um “arco voltaico” entre
população. tempos primeiros da iluminação pública, dois eletrodos de carbono, uma luz muito
No início, havia a luz proveniente sendo rapidamente sucedido pelas intensa de aparência azulada, motivo pelo
de lâmpadas que produziam luz com lâmpadas incandescentes. qual eram utilizadas em montagens altas e
a descarga de alta tensão através de Essas primeiras lâmpadas utilizavam geral.
eletrodos de carbono, as “lâmpadas a os princípios da produção de luz com a Esta solução não se mostrou
Apoio

41
interessante, pois criava um ambiente

Imgarcage.com
desagradável, porém, o que mais
inviabilizou sua utilização foram os altos
custos de troca dos eletrodos de carbono,
que apresentavam uma vida operacional
baixa, demandando constantes trocas.
Assim, a ideia não vingou pelas diversas
características contrárias, além do custo
de reposição dos eletrodos, fotometria
descontrolada, aparência da luz, resultado
da iluminação prejudicado pelas sombras
criadas pelos edifícios e outros elementos
urbanos, entre outras desvantagens.
A ideia naquele momento era criar-se
torres altas nas cidades, com uma luz
intensa que iluminaria grandes áreas.
Tentou-se ainda a utilização de
unidades de menor porte distribuídos
Figura 2 – Lâmpadas a arco voltaico.
em postes mais baixos que as torres,
no entanto, o resultado econômico era justamente na durabilidade seu grande incandescente considerada “utilizável”, ou
o mesmo, isto é, o custo operacional desafio. seja, economicamente viável.
elevado. Muitas tentativas foram desenvolvidas Assim, foram sendo desenvolvidas
Após esta tentativa de utilização, até Thomas Edson chegar na composição novas tecnologias, tentando aumentar a
surgiu a lâmpada incandescente, que teve de materiais utilizados na lâmpada vida operacional, a eficácia do sistema,
Apoio

42
Iluminação pública e urbana

Figura 3 – Evolução da iluminação elétrica.

visando a produção de luz visível.

Eliosvios.com
Interessante é perceber que muitas
das tecnologias hoje utilizadas foram
inicialmente desenvolvidas há muito
tempo, assim como as lâmpadas
fluorescentes, a vapor metálico e a vapor
de mercúrio.
Naquele momento, a produção de luz
era o que movia as pesquisas, precisavam
de fontes de luz que durassem mais e que
produzissem mais luz, diminuindo os
custos operacionais.
Era a abordagem “quantitativa” das Figura 4 – Evolução da eficiência das lâmpadas elétricas.
questões luminotécnicas que norteavam
não somente o desenvolvimento dos operacional e uma grande produção de Devemos entender que, desde as
produtos, mas também as aplicações. luz por watt consumido (Lm/W). primeiras tentativas de utilização de luz
Buscar mais luz por unidade de Porém, como vemos nas nossas no ambiente urbano, as fontes produziam
potência tornou-se a base da valorização cidades, hoje em dia, esta tecnologia luz predominantemente branca, desde as
da tecnologia, visto que tal produto produz luz visível em um espectro incandescentes até as lâmpadas a vapor de
produz mais luz por watt consumido. amarelo, deixando nossas cidades quase mercúrio em alta pressão.
Quando, nos anos 1950, foram monocromáticas. A tecnologia do Sódio (VSAP) trouxe
lançadas as lâmpadas a vapor de sódio As lâmpadas tipo vapor de mercúrio para o mundo real o resultado de luz
em alta pressão (VSAP), o mercado viu em alta pressão produziam uma luz diferente, amarelado, que inicialmente
nesta tecnologia uma solução bastante branca esverdeada, mas era entendida foi discutido, porém dada as vantagens
viável, pois apresentava uma longa vida como luz branca. econômicas e energéticas, foi superado.
Apoio

44

Energydepot.com
Esta tecnologia ficou tão difundida,
Iluminação pública e urbana

que o programa federal para economia de


energia na iluminação pública, o Procel
Reluz, desenvolveu uma verdadeira
mudança tecnológica no país.
Veja que mesmo com todo o
avanço, temos ainda uma quantidade
significativa de lâmpadas tipo vapor
de mercúrio em alta pressão, motivada
pelo custo da mudança tecnológica
para o sódio, pois muda não somente
a luminária, mas reator e inclui o
capacitor de ignição, ou “ignitor”.
A lâmpada a vapor de sódio em alta
pressão é frequentemente encontrada
nas cidades brasileiras. Vamos entender
como ela é composta na Figura 8.
Esta imagem (Figura 8) foi publicada
há oito anos, aproximadamente, e é
interessante perceber como, naquela
época, a lâmpada a vapor de sódio era
considerada a solução mais econômica
disponível, com certeza quando
Figura 5 – Gráfico mostra vida útil e eficiência luminosa das fontes de luz.
analisada pelo aspecto investimento x
Hurlbutvisuals.com

consumo energético x vida operacional.


No entanto, este panorama estava
para ser mudado radicalmente...

Led

O desenvolvimento da capacidade
de emissão de luz de um diodo
chamado “Light Emitting Diode (Led)”
Figura 6 – Iluminação com lâmpadas a vapor de sódio.
possibilitou sua utilização econômica,
ou seja, esta tecnologia mostrou-se
economicamente viável no quesito
econômico, técnico e operacional
com grandes vantagens em relação à
1995 1999 2004 2008 2012
tecnologia da lâmpada vapor de sódio
No de pontos (m) 8,8 11,3 13,4 14,7 16,1
em alta pressão.
Potência instalada (GW) 1,74 1,90 2,22 2,42 2,61
Os fabricantes do Led estão em
Consumo de energia (TWh/ano) 7,64 8,31 9,73 10,62 11,43
pleno desenvolvimento tecnológico
Vapor de mercúrio 81% 71% 47% 32% 24%
e é importante não focarmos nossa
Vapor de sódio alta pressão 7% 16% 46% 63% 71%
atenção para o chip, mas sim para o
Fonte: Eletrobrás e distribuidoras de energia elétrica – Fórum de IP – SP 21/05/2015
conjunto luminária, que é, de fato, o que
Figura 7 – Resultado do programa Procel Reluz, que promoveu a inserção maciça das lâmpadas
a vapor de sódio de alta pressão. utilizamos nos nossos projetos.
Apoio

45

http://images.slideplayer.com.br/1/281424/slides/slide_14.jpg
Figura 8 – Definição de lâmpada a vapor de sódio de alta pressão.
Apoio

46 Esta questão da produção de luz

http://www.altenergymag.com
por watt consumido é importante e vem
Iluminação pública e urbana

se desenvolvendo ao longo dos anos, e


acredito que, em pouco tempo, números
interessantes sejam apresentados no
mercado. Tomemos aqui o cuidado de
entender que como esta tecnologia está
em constante desenvolvimento, qualquer
número apresentado para o futuro será fruto
de estimativa e a realidade mostra que os
números obtidos hoje são superiores aos
números estimados anteriormente.
Porém, um ganho muito mais
importante está na fotometria da solução,
pois passando da tecnologia de fotometria
refletida, utilizada nas luminárias baseadas
em lâmpadas, para a tecnologia de fotometria
projetada, como temos nos Leds, há um
Figura 9 – Quadro evolutivo da iluminação. ganho significativo de eficiência.
Assim, para um Led que produz metade

http://www.altenergymag.com
do fluxo luminoso de uma lâmpada, temos
o mesmo resultado final, pois o sistema
projetado se mostra muito mais eficiente.
Esse é o motivo pelo qual não podemos
comparar luminárias baseadas em lâmpadas
e luminárias baseadas em Led pelo fluxo
luminoso, temos que compará-las pela
fotometria.
Então, como definir qual solução Led
substituirá uma instalação VSAP existente?

Vamos lá:

Figura 10 – Comparação entre uma lâmpada de alta pressão HID e o Led.


Levante os dados da instalação:

Figura 11 – Iluminação com lâmpadas a vapor de sódio (esquerda) e com Leds (direita).
Apoio

48
Iluminação pública e urbana

Figura 12 – Fluxo luminoso e vida útil do Led e de uma lâmpada de descarga.

• Largura da via; aproximadamente 50% menos energia ser utilizada na iluminação pública hoje e no
• Distância entre postes; quando comparamos uma boa luminária futuro, até a próxima mudança de paradigma
• Altura de montagem; a Led com as luminárias conforme norma tecnológica, que não sabemos qual será e
• Comprimento do braço; brasileira vigente para iluminação pública quanto tempo demorará.
• Inclinação; (luminárias fechadas). Sempre me perguntam qual a melhor
• Tipo da luminária utilizada; Importante salientar que este nível de solução: luminária Led, lâmpada Led,
• Tipo da lâmpada; economia não considera dimerização, ou placa de Led ou outra. Na verdade, o que
• Faça as medições conforme indicado na seja, considera que as luminárias a Led devemos entender é que a tecnologia produz
norma ABNT NBR 5101:2012; ficarão acesas 100% do tempo de utilização benefícios econômicos e técnicos, e a tomada
• Consiga a curva fotométrica da luminária na sua potência máxima. de decisão deve se dar buscando entender os
utilizada; Vamos ver no próximo capítulo que, ganhos que cada opção lhe trará.
• Faça os cálculos e defina o nível de na verdade, podemos obter reduções Eu, particularmente, acredito que
depreciação comparando os cálculos com as significativamente maiores quando para utilizar todas as vantagens das
medições (Utilize um software com a curva considerarmos a redução da potência características fotométricas, elétricas e
fotométrica da luminária). durante o período de utilização. térmicas do Led, devemos analisar a fundo
Assim, a tecnologia Led apresenta: as soluções integradas nas luminárias Led
Desenvolva uma estimativa de aplicação e não retrofit de lâmpadas de descarga
no seu software para a mesma instalação - Baixo custo operacional; com lâmpadas Led. Vamos ver isso mais
com diferentes potências de Led, chegando - Consome menos energia; detalhadamente na próxima edição deste
a um nível equivalente ao calculado e ao - Vida operacional superior; fascículo.
medido. - Curva de custo por escala decrescente;
Perceba que muitas vezes você constatará - Curva de produção de luz crescente nos * Plinio Godoy é engenheiro eletricista
que a instalação existente não atende aos especializado em lighting design. É
anos futuros;
consultor e lighting designer sênior da
valores mínimos recomendados por norma. - Facilmente controlável fotometricamente e CityLights.
Assim, você deverá realizar seus cálculos eletricamente;
Continua na próxima edição
visando ao atendimento destes requisitos - Digital.
Acompanhe todos os artigos deste fascículo em
apresentados no capítulo anterior. www.osetoreletrico.com.br
Dúvidas, sugestões e comentários
Normalmente, os resultados que você Estas razões são suficientes para o podem ser encaminhados para
redacao@atitudeeditorial.com.br
obterá mostrarão que serão necessários mercado definir o Led como a tecnologia a
Apoio

32
Iluminação pública e urbana

Capítulo VI

Led
Por Plinio Godoy*

Trabalhando no campo da iluminação, As fontes de luz na iluminação de reações eletromagnéticas, químicas, entre
percebo um momento muito interessante urbana outras, capaz de produzir radiação visível, que
que nos impede de falar somente da os olhos humanos captam e entendem.
lâmpada como fonte de luz. O mesmo Atuo no campo da iluminação desde 1983, Muitas outras formas de energia
aconteceu, há muito tempo, quando não se quando iniciei um estágio, na época, na fábrica poderiam ser consideradas luz se nossos olhos
podia mais falar do gás como forma “lógica” do pai de um amigo meu de escola. Foi neste conseguissem utilizá-las de forma útil. Seria um
de iluminar as cidades. momento que tomei contato com um mundo outro mundo para nós se conseguíssemos ver
O desenvolvimento busca novas fontes bastante específico com o qual me enamorei e o raio X, os infravermelhos ou os ultravioletas.
de luz mais econômicas, eficientes ou que decidi conviver eternamente, um verdadeiro No entanto, somos limitados e ficamos
produzam melhor luz, mas, muitas vezes, casamento que dá certo até hoje, passados mais apenas com uma estreita faixa energética que
criam-se novos mercados e a “geopolítica” de 30 anos. chamamos de luz.
do setor é completamente transformada. Esta fábrica possuía um goniofotômetro, Dentro da faixa UV, temos as UV-A, B e C
Com o advento do Led, nada mais fica fontes, lâmpadas de testes e ali comecei a sendo esta última considerada como germicida
como era antes. Até quando? Quem viver, aprender a como lidar com a luz. e a primeira utilizada para bronzeamento
verá! A luz é uma consequência de vários tipos artificial. Eu, particularmente, prefiro a praia.
Apoio

A vida dos homens ficaria bem difícil 33

http://www.ledavice.com.au
se todas as mulheres parecessem estar
pegando fogo, não? Melhor ficarmos
com nossa visão da luz como já estamos
acostumados.
Conhecendo então as partes úteis da
radiação eletromagnética conhecida como
luz visível e sua vizinhança, devemos
entender que, como já mencionado
anteriormente, muitas coisas geram luz. No
entanto, essas “coisas” devem se mostrar
economicamente viáveis para serem

http://i-cdn.phonearena.com/
consideradas como fontes de luz para nossa
utilização.

A viabilidade econômica

No campo da iluminação, as fontes


de luz que convivemos atualmente foram
fruto de ideias antigas e que foram
sendo desenvolvidas ao longo do tempo
e agregadas a outras descobertas até se
tornarem viáveis técnica e economicamente.
Para termos uma ideia disso, veja a
Apoio

34

http://cfile2.uf.tistory.com/
Iluminação pública e urbana

seguir que, em 1907, um britânico que Estas foram bem-vindas pelos produzem uma luz branca mais neutra
trabalhava no laboratório de Marconi, departamentos de iluminação, pois e com melhor reprodução de cores pela
chamado Henry Joseph Round, informou apresentavam uma vida útil maior do adição de halogenetos metálicos ao tubo
a primeira vez que conseguiu uma luz que as lâmpadas de mercúrio, alguns de descarga da lâmpada de mercúrio,
amarelada aplicando 10 V em um cristal de modelos ficaram bastante famosos, pois porém, dependendo da aplicação, ainda
Carborundum (Silício). eram híbridos, ou seja, não precisavam de apresentava baixa vida útil.
reatores específicos, depois com o tempo No teatro, as lâmpadas incandescentes
Utilizando as novidades tínhamos as claras, as foscas, as ovoides e as e as halógenas eram as mais utilizadas,
tubulares, que substituíam as lâmpadas de pois eram eventos de curta duração e
Na vida prática, muitos de nós fomos mercúrio. que utilizavam muito a capacidade de
testemunhas da evolução das fontes de luz O que se notava era que a luz produzida reprodução de cores.
no âmbito da iluminação urbana. Lembro pela lâmpada se comportava de maneira
que, ainda pequeno, morador do bairro diferente com essa substituição. Os sistemas Aspectos quantitativos da luz
de Pinheiros, em São Paulo (SP), quando óticos não eram equivalentes. Por essa
houve a troca da lâmpada incandescente razão, criaram-se as lâmpadas ovoides Considerando os aspectos operacionais,
que existia desde então, na frente do prédio foscas para substituir fotometricamente as como consumo energético e vida útil, a
que morava, por uma outra fonte de luz lâmpadas a vapor de mercúrio. lâmpada a vapor de sódio de alta pressão se
muito branca, a impressão que tive era de Foram desenvolvidas as famosas estabeleceu no Brasil como a fonte de luz a
que a noite tinha virado dia. Era a lâmpada luminárias “Cobraheads” ou “Cabeças de ser utilizada nas cidades.
a vapor de mercúrio em alta pressão, a Cobra”, inicialmente nos Estados Unidos e Programas federais, como o Procel
conhecida VM. Isso aconteceu por volta depois copiadas no mundo inteiro. Reluz, incentivaram o uso desta tecnologia
de 1970. Lembro que as pessoas saíam nas Em outras aplicações, havia a com luminárias fechadas e fotometria
ruas, de noite para ver o mundo claro e necessidade de lâmpadas que reproduzissem específica, resultando, assim, na visão geral
branco. melhor as cores, como em eventos das nossas cidades, as “cidades laranjas”.
Pensando bem, a iluminação não era esportivos. A tecnologia dos eletrodos de Vamos entender a situação:
ruim, comparando-se com a luz fraca carbono era utilizada, mas a um alto custo
da lâmpada incandescente, que também operacional, pois as lâmpadas não duravam • As normas relativas à iluminação
não era ruim. Não se reclamava da luz muito, além de serem caras, o que tornava a pública utilizam quantidade de luz como o
produzida, era uma luz branca morna operação bastante dispendiosa. principal objetivo do sistema de iluminação;
e até agradável. Ocorre que, mais tarde, Foram desenvolvidas as lâmpadas • Os luxímetros e fotômetros medem a
vieram as lâmpadas a vapor de sódio, que chamadas lâmpadas a vapor metálico, luz visível que chega no plano da via e que
produziam uma iluminação alaranjada, a que produziam luz de razoável qualidade é refletida ao observador com base em uma
qual os fabricantes chamavam de “branco- a um custo operacional menor que as curva de sensibilidade que é calibrada pela
dourada” (marketing é tudo!). lâmpadas de eletrodos. Estas lâmpadas visão diurna (fotópica);
Apoio

36 • A lâmpada a vapor de sódio de alta pressão

http://images4.fanpop.com/
produz melhores resultados que outras fontes
Iluminação pública e urbana

de luz consumindo potências menores;


• As lâmpadas a vapor de sódio de alta
pressão apresentam uma vida útil maior
e, consequentemente, custos operacionais
menores.

Então, viva as lâmpadas a vapor de sódio


de alta pressão!

Aspectos qualitativos da luz

Já foram mencionados, em capítulos


anteriores, os aspectos considerados para
a qualidade da luz, sendo que alguns deles
são bastante prejudicados pela utilização das
lâmpadas a vapor de sódio de alta pressão
(VSAP), como a capacidade de reprodução de

http://edgblogs.s3.amazonaws.com/
cores.
Somente percebemos o quanto esta
qualidade é importante quando vivenciamos
um espaço iluminado por fontes de luz que
têm maior capacidade de reprodução de
cores, pois estamos tão acostumados a usar
as cidades sob a luz amarela da lâmpada a
vapor de sódio que já estabelecemos uma
relação de expectativa.
Esta questão foi bastante observada
quando a iluminação da Avenida Paulista, em
São Paulo, foi substituída de VSAP para vapor
metálico, quando muitos acharam estranho
por estarem acostumados com a luz amarela.
Hoje, passado algum tempo, a iluminação
branca passou a ser uma referência de
qualidade para as cidades.
Atualmente, muitas cidades estão
mudando os sistemas de iluminação para a
luz branca, o que é interessante, mas, como
sempre, alguns cuidados são necessários.

A luz branca

A luz branca, em linhas gerais e de maneira


resumida, é a luz mais percebida, no período
noturno urbano, pelos olhos humanos.
Neste período, temos a “visão
mesópica”, que compreende uma faixa
definida de quantidade de luz, mostrada
http://www.ecse.rpi.edu/~schubert/Light-Emitting-Diodes-dot-org na imagem a o lado:
Apoio

37
Vejam que o regime de visão fotópica
(Photopic vision regime) percebe níveis de

www.arrivealive.co.za
iluminação superiores e como os fotômetros,
luminancímetros e luxímetros, em sua
maioria, utilizam as curvas de sensibilidade
fotópica, teremos uma leitura que não é
diretamente relacionada com a realidade.
Assim, se tivermos atendendo à
norma com uma classificação que define a
iluminância média em 30 lux, teremos, na
verdade, mais luz quando utilizamos a luz
branca do que quando utilizamos lâmpada
VSAP, por exemplo.
Esta percepção se relaciona com
o conceito de lúmens efetivos, ou seja, curva fotópica. dos cálculos, deveríamos multiplicar o
dependendo do tipo de fonte de luz e suas Estas considerações devem ser bastante fluxo luminoso apresentado no catálogo da
características espectrais, teremos nossa analisadas, pois muitas vezes os cálculos lâmpada VSAP por 0,62 e o da lâmpada a
visão mais ou menos estimulada e, por luminotécnicos podem levar a um erro, vapor metálico por 1,49, o que impactará seus
consequência, nossa percepção da claridade. considerando que podem avaliar somente a resultados definitivamente.
Uma relação que demonstra a capacidade visão fotópica, e não a mesópica, correta para É importante salientar que a aplicação
de uma fonte de luz ser percebida pelos olhos o ambiente urbano noturno. dos lúmens efetivos e sua aceitação técnica
humanos é chamada de S/P Ratio (Scotopic Veja o índice das lâmpadas VSAP e dependerá da revisão das normas brasileiras
/ Photopic) e seu valor é um multiplicador comparem com as lâmpadas a vapor metálico, respectivas de iluminação. Vemos aqui um
do fluxo luminoso medido pelo sensor com 0,62 X 1.49. Na prática, para a elaboração um exemplo prático (foto):
Apoio

38 Em suma, a utilização da luz branca,

http://image.slidesharecdn.com/ellipzlightingtechnologyoverview
quer seja com lâmpadas de descarga, quer
Iluminação pública e urbana

seja de indução ou Led, permite que seja


utilizada uma potência luminosa menor
do que com lâmpadas VSAP, por exemplo,
o que apresenta uma potência elétrica
também menor.

Led

Não vamos aqui detalhar as diversas


tecnologias de lâmpadas de descarga
utilizadas na iluminação pública e urbana,
pois bastante material está disponível junto
aos fabricantes e literatura farta pode ser
encontrada na internet. Vamos ao Led.
A tecnologia Led está em
desenvolvimento e com ela também
seus resultados, impactos na vida das
pessoas e respostas técnicas às previsões.
Sim, as previsões são necessárias porque
tudo é ainda bastante novo e muitas das
expectativas de manutenção de lúmens,
assim como durabilidade, funcionalidade
no campo, variações com a temperatura,
funcionamento com a qualidade da
corrente, fornecida ao equipamento no
campo e tantas outras variáveis, estão sendo
aferidas e constatadas ou repensadas.
graybar.com

As consequências da aparência de cor,


da fotometria, da precisão da luz na busca
pela fotometria mais eficaz começam a ser
analisadas no mundo real.
Dentre as questões que precisamos
prestar atenção ao adotar uma solução Led,
estão:

• Aparência de cor
O universo de fabricantes e produtos
Led é bastante grande e a padronização é
muito pequena, ou seja, diferentemente
das lâmpadas, que eram equivalentes entre
suas tecnologias, podemos ter grandes
variações quando falamos de luminárias
para iluminação pública com a tecnologia
Led.
A aparência de cor pode variar de 2.500
K até 6.000 K, ou seja, de uma luz branca
quente (amarelada) até uma luz branca fria
(azulada).
Apoio

40 O que isso impacta no resultado?

Fonte: cree.com
Normalmente, para assegurar o maior
Iluminação pública e urbana

conforto para os cidadãos, buscamos


utilizar nas vias mais movimentadas e mais
iluminadas fontes Led com aparência de cor
branca neutra, ou 4.000 K.
Uma diferença básica entre os Leds com
emissão de 3.000 K e os demais, com 4.000K,
5.000 K ou acima, é o fluxo luminoso por W
consumido. Um Led que produz luz branca
mais suave, 3.000 K, apresentará um fluxo
luminoso menor que um Led que produz
luz branca mais azulada.
Qual o motivo disso? A luz produzida
Exemplo de via iluminada com luminárias LED com emissão 4.000 K.
pelo Led é azulada e, para torná-la mais sutil,
com aparência mais suave, são necessários

http://cdn.trendhunterstatic.com/
depósitos de material amarelado, o que
diminui a relação Lm/W consumido.
Em ambientes como praças, vias locais
e de uso pedonal, sugerimos a utilização
de equipamentos com fontes de luz com
aparência de 3.000 K pelo fato de ser
necessário menos luz e assim tornar o
ambiente mais confortável aos usuários.

• Fotometria
A distribuição de luz produzida em
uma luminária Led é mais controlada do
que em uma luminária HID.
Assim, devemos ter cuidado na
http://www.ledsmagazine.com/

especificação do equipamento para que


sua curva fotométrica seja compatível com
as necessidades do seu projeto. Procure
utilizar sempre equipamentos que produzam
as fotometrias conforme a Comissão
Internacional de Iluminação (CIE).
Fotometrias distintas servem para
resolver problemas distintos no seu projeto:

• Ofuscamento

Além da fotometria, a potência a ser


utilizada deve estar de acordo com as
normas, porém, devem ser realizados testes
de campo para verificar o nível de conforto
ótico produzido, evitando-se o ofuscamento.
Perceba na foto a seguir que os arredores
escuros não estão sendo iluminados
pela fotometria da luminária. Percebe-se
também que a modelagem é um aspecto
Apoio

41

Philips.com
http://www.kslights.com/ São muitas variáveis, motivo pelo
qual todo cuidado é pouco na hora de
decidir a especificação para compra ou
licitação. Os resultados poderão ser os
melhores possíveis ou os piores possíveis,
dependendo do grau de profundidade do
seu projeto e especificação.
A melhor maneira de estabelecer uma
boa relação de preços e resultados é a
definição precisa dos resultados esperados,
testes e homologações e uma especificação
bem feita e desenvolvida.
Algumas instalações com Leds já estão
sendo desenvolvidas no Brasil, vamos ficar
atentos para os bons e maus resultados,
pois assim melhoramos nossa curva de
aprendizado sobre esse tal de Led.
importante na iluminação urbana. pública, todavia, é preciso ter cuidado com
No próximo capítulo, falaremos com
Luminárias Led podem ser bastante as informações coletadas, pois não lidamos
mais profundidade sobre as luminárias com
restritas na sua fotometria, isso faz com que com o Led, mas sim com um sistema
Leds.
o resultado possa não ser considerado bom. chamado luminária a Led.
Verifiquem os dados fotométricos Um mesmo Led pode ser utilizado * Plinio Godoy é engenheiro eletricista
fornecidos pelos seus fornecedores e em luminárias com projetos térmicos e especializado em lighting design. É
consultor e lighting designer sênior da
realizem testes para avaliar, no campo, o fotométricos distintos, assim, de nada CityLights.
que melhor resolve seu problema. serve dizer que determinado fabricante
Continua na próxima edição
trabalha com determinado Led. O que deve
Acompanhe todos os artigos deste fascículo em
Conclusão ser analisado é o conjunto Led + projeto www.osetoreletrico.com.br
Dúvidas, sugestões e comentários
térmico + fotometria + projeto mecânico + podem ser encaminhados para
redacao@atitudeeditorial.com.br
Muito se fala sobre o Led na iluminação controles e drivers.
Apoio

30
Iluminação pública e urbana

Capítulo VII

Luminárias com Leds Por Plinio Godoy*

Muito se fala sobre o Led, esta fonte de técnicos, físicos, luminotécnicos e estéticos. deve ser integrado ao projeto, participante
luz que se mostrou economicamente viável Atualmente, não mais entendemos uma da cena tanto diurna quanto noturna,
e, por esta razão, está substituindo, aos solução como “luminária” independente, muitas vezes fundamental para a percepção
poucos, as tecnologias tradicionais, como mas sim como um “mobiliário urbano”, que do espaço.
lâmpadas de descarga e incandescentes.
Mas uma coisa é certa, na vida real, não

http://briangoestotown.blogspot.com.br
utilizamos apenas o Led. Ele é empregado
em conjunto com soluções integradas, que
podemos chamar de luminárias.
Neste capítulo, falaremos um pouco
sobre isso, não descrevendo academicamente
os componentes de uma luminária, coisa que
podemos conseguir nos diversos fabricantes
de boa qualidade, mas abordando questões
importantes que devemos considerar
quando fazemos nossas escolhas sobre qual
luminária utilizar.

Luminárias na iluminação urbana

Quando penso na solução de luz que


desenvolvo para um ambiente urbano, não
penso especificamente em qual luminária
será utilizada inicialmente, penso na
composição visual do espaço, suas relações
volumétricas, perspectivas, pontos de vistas,
enfim, penso no espaço como um todo.
Porém, em um determinado momento,
quando da realização de uma imagem
para apresentação ao cliente, ao Prefeito,
por exemplo, o equipamento que poderia
ser utilizado entra no contexto, deve ser
entendido como um componente da
solução e analisado em seus aspectos Figura 1 – Luminária urbana instalada na cidade de Barcelona, na Espanha.
Apoio

Um exemplo de como o mobiliário 31

http://briangoestotown.blogspot.com.br
urbano é fundamental na composição do
espaço público pode ser verificado em
Barcelona, na Espanha, onde percebemos
a presença importante das unidades de
iluminação pública, mantidas como uma
identificação da cidade.
O conceito do mobiliário urbano foi
bastante desenvolvido no passado, como
podemos perceber em outro momento
da cidade de Barcelona, na Espanha,
onde foram criados locais de convívio,
possibilitando uma utilização mais humana
do espaço público, provendo possibilidades
de convívio e até centralidades. Uma
verdadeira assinatura do espaço, ajudando
a tornar o momento urbano único.

Um processo de evolução

Se analisarmos a evolução da iluminação


pública, no início, as soluções vinham do uso
de lampiões a gás, com suas características de
instalação, em topo de poste, como arandelas
ou em postes com braços. Figura 2 – Outro modelo de luminária urbana instalada na cidade de Barcelona, na Espanha.
Apoio

32 Interessante entender que naquela época

schreder.com
4-designer.com
a iluminação pública não tinha como missão
Iluminação pública e urbana

a iluminação das vias, e sim a iluminação


urbana, uma iluminação voltada para as
pessoas, para a valorização dos espaços e,
por consequência, eram desenvolvidas de
maneira a serem integradas com a cidade.
Com o desenvolvimento do mercado de
automóveis, surgiu a necessidade de uma
iluminação viária mais desenvolvida, aliada Figura 5 – Luminária com sistema reflexivo.

a uma necessidade de novas vias e o início Atualmente, este tipo de luminária


da perda dos espaços públicos. Figura 3 – Diversos modelos de luminárias ainda é comercializado, mas está em desuso
Este processo de desenvolvimento urbano urbanas antigas. diante da baixa eficiência do sistema.

agravo.blog.br | jcatibaia.com.br
trouxe muitos avanços pelo lado técnico da Os sistemas ditos “reflexivos”, ou
iluminação, porém também trouxe muitas seja, aqueles que baseiam a fotometria na
perdas de qualidade de vida e a degradação reflexão da luz em um espelho refletor,
dos espaços públicos para as pessoas. tornou-se a evolução do sistema de difração,
Felizmente, estamos vivendo, hoje, um pois apresentava um maior aproveitamento
Figura 4 – Luminárias com vidro de borosilicato.
momento de tentativa de recuperação dos da luz produzida pela lâmpada.
espaços públicos, objetivando-se, assim, às relativamente recente. Recordo que, nos Então, luminárias com novas
melhores condições de vida. anos 1980 e 1990, os modelos disponíveis possibilidades fotométricas apareceram no
utilizavam ainda a tecnologia da difração mercado, algumas seguindo o conceito de
As luminárias da luz por meio de vidro borosilicato, “cabeça de cobra”, desenvolvido nos Estados
que permite uma maior transmitância, Unidos, muitas delas seguindo o conceito de
O avanço das luminárias é um processo minimizando perdas. fotometria ajustável, alojamento integrado
Apoio

34 e outras características que facilitavam a

ge.com
manutenção, como a utilização de capô
Iluminação pública e urbana

basculante, não utilização de ferramentas


para troca de lâmpadas, etc.
Este padrão de luminárias tornou-se
bastante utilizado no Brasil, principalmente
pelo atendimento aos padrões requeridos
pelo programa Reluz, do Procel, que
exigia a utilização de luminárias fechadas
com alojamentos incorporados, o que
era também indicado pela norma técnica
brasileira vigente.
Figura 6 – Luminária fechada com alojamento incorporado.

Reflexão X projeção

Com a utilização dos Leds, muitas


soluções consideram a projeção direta da
luz produzida como forma de aumentar a
eficiência do sistema, pois temos um maior
aproveitamento da luz que é emitida pelo
Led, projetando diretamente no plano de
interesse.
Para criar as curvas fotométricas a
partir da projeção da luz produzida no Led,
são utilizadas lentes, voltando à ideia da Figura 7 – Tradicional lâmpada e lâmpada Led.

difração da luz, não mais em vidro, mas em

led-lens.com
material plástico.
Estes materiais plásticos trabalham
com limites térmicos e, em casos em que a
potência térmica do Led é superior a estes
limites, podemos encontrar luminárias
que utilizam o Led como fonte e o sistema
reflexivo como técnica fotométrica.
Ambas as tecnologias apresentam
características próprias que devem ser Figura 8 – As lentes são utilizadas para auxiliar na criação de curvas fotométricas desejadas.

analisadas para seus projetos específicos,


como distância entre postes, altura de
montagem, ângulos de montagem e
níveis de iluminação e uniformidade
desejada.
Entendo que não devemos definir em
nossas especificações um ou outro tipo, e
sim definir os resultados esperados para as
nossas situações de instalação.

Um sistema confiável

Uma luminária com Leds é composta


por sistemas que devem ser individualmente
Figura 9 – Sistemas que compõem a confiabilidade de uma luminária: mecânico, eletrônica,
analisados. ótica, Leds e refrigeração.
Apoio

36 Assim, devemos considerar cada um issue-8/features/driving-led-lamps-some-


destes sistemas no desenvolvimento da melhor simple-design-guidelines.html para mais
Iluminação pública e urbana

especificação desejada, considerando a solução informações.


ideal para seu projeto e o valor relativo dos
equipamentos, pois, normalmente, luminárias Considerando o tempo
com custos muito inferiores apresentam
alguma premissa de qualidade que deve ser Dentro de um mundo bastante plural
analisada e verificada. quanto o universo das luminárias com
Leds, temos de ter noção de que a maneira
Uma diferença importante: como fazíamos as especificações na “era”
temperatura das luminárias HID tornou-se inadequada,
ou seja, não mais podemos especificar
Na “era” das lâmpadas, a importância do um produto com base somente nas suas
estudo térmico objetivava não permitir um características de fluxo luminoso, curva
sobreaquecimento do sistema por problemas fotométrica ou resultados fotométricos.
da vida da lâmpada e dos equipamentos A questão mais importante, agora, é definir
Figura 10 – Termografia de diferentes sistemas
auxiliares. Era comum a queima precoce de precisamente os resultados esperados por meio de iluminação.
lâmpadas por problemas em soquetes causados de um projeto, identificando claramente por
por excesso de temperatura. quanto tempo estes resultados são esperados. semelhança entre os fabricantes, em uma
Porém, as lâmpadas em si trabalham muito O fator tempo passa a ser fundamental, luminária Led podemos conseguir um mesmo
quentes e quanto mais quentes elas trabalham pois, diferentemente das lâmpadas, que resultado pontual fotométrico, mas resultados
melhor para a produção de luz, fazendo com tinham em suas características uma absolutamente diferentes se considerarmos o
que os estudos térmicos chegassem a um limite

digikey.com
“quente” do sistema, ou seja, o mais quente
possível sem que a lâmpada fosse prejudicada
a ponto de “queimar” precocemente.
Com a utilização do Led, temos uma
inversão nesta questão térmica, pois este
trabalha melhor quanto mais frio for o sistema,
ou seja, as luminárias e seus estudos térmicos
objetivam um sistema o mais frio possível.
Assim, quando falamos de luminárias com
Led, estamos dando uma importância muito
maior para esta questão, pois mesmo o Led, da
mesma fábrica, utilizado em uma luminária,
pode apresentar resultados absolutamente
Figura 11 – Vida útil x temperatura de junção.
diferentes quando utilizados em luminárias
ledsmagazine.com

com diferentes estudos térmicos.


O que isso impacta no meu projeto?
Percebemos como a vida útil de um Led
específico pode ser alterada quando utilizamos
diferentes temperaturas de junção, que é
medida diretamente no Led e é diretamente
influenciada pelo projeto térmico da luminária.
Esta imagem mostra como a produção
de luzes nos Leds verdes, vermelhos e
azuis podem ser alteradas em diferentes
temperaturas de junção.
Se for de seu interesse, acesse http://www.
ledsmagazine.com/articles/print/volume-4/ Figura 12 – Gráfico mostra produção do fluxo luminoso em função da temperatura de junção.
Apoio
37

tempo que estes resultados se manterão. E esta consideração de tempo 37


modifica substancialmente o valor do equipamento.
Assim, se forem desenvolvidas concor­rências que não consideram o
tempo esperado de um determinado resultado, podemos ter a comparação
lícita de sistemas diferentes, com preços diferentes e, por consequência,
uma licitação injusta para a qualidade.

Conclusão

Muitos aspectos referentes aos sistemas de iluminação estão,


no momento, em discussão, visando a determinação de novos
padrões, análises e comparações, pois o universo do Led possibilitou
o aparecimento de soluções absolutamente diferentes, com custos
absolutamente diferentes e qualidades absolutamente diferentes.

O que isso resulta? Insegurança!

Assim, é fundamental para todo o projeto o desenvolvimento de


estudos luminotécnicos que englobem não somente o aspecto fotométrico
da solução, mas também os aspectos operacionais relacionados, o custo
da energia a ser utilizada, os custos de manutenção, de obtenção dos
sistemas, enfim, uma abordagem profunda no problema.
Não considerar estes aspectos poderá criar problemas significativos
em um futuro próximo, quando a frequência de manutenção for muito
superior à esperada, pois o Led pode durar bastante, mas o driver não
aguenta a temperatura da luminária. Além disso, a produção de luz
pode diminuir rapidamente após breve período de tempo, pois o Led
apresenta uma depreciação maior do que a esperada, enfim, quando a
realidade não for tão bela quanto as propostas apresentadas.
Lembremos que um sistema de iluminação deve apresentar
uma vida útil condizente com o serviço contratado, uma luminária
apagada pode trazer grandes prejuízos para os espaços públicos,
segurança e qualidade de vida para as pessoas.
Não adianta desenvolver uma instalação que atenda a norma
em quantidade de luz e uniformidade. O sistema deve funcionar
corretamente durante o tempo previsto e a iluminação deve ser
de qualidade, da luz, da modelagem, do ofuscamento baixo, da
distribuição da luz no espaço, enfim, o resultado depende do projeto,
da análise da solução ideal e da implementação desta solução ideal.
O próximo capítulo abordará a eletrônica na iluminação
urbana, sendo o último capítulo antes de iniciarmos a abordagem
da qualidade da iluminação nos diversos universos da iluminação
urbana.
Até lá!

* Plinio Godoy é engenheiro eletricista especializado em lighting


design. É consultor e lighting designer sênior da CityLights.

CONTINUA NA PRÓXIMA EDIÇÃO


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Dúvidas, sugestões e comentários podem ser encaminhados para
redacao@atitudeeditorial.com.br
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32
Iluminação pública e urbana

Capítulo VIII

Iluminação pública
Por Plinio Godoy*

Led pra cá, Led pra lá... muito boa essa discussão, no entanto, o serviços eram restritos à lista de contatos, Bina, em que o número
que muitas vezes deixamos de lembrar que o Led sem a eletrônica da pessoa que estava nos ligando aparecia na tela e outros poucos
não é nada. serviços.
Desde a mais simples aplicação até a mais complexa, a eletrônica Naquela época, o que se fazia com um telefone celular era “falar”
faz parte desse mundo, pois estamos falando do mundo digital. com as outras pessoas, pagando um preço alto por isso.
Neste capítulo vamos visitar as possibilidades e entender o novo Enfim, tínhamos uma tecnologia que apresentava limitações
mundo da iluminação pública. face ao sinal analógico que utilizava. Os engenheiros eletrônicos
podem dizer muito mais do que eu digo agora.
O mundo digital Quando a telefonia digital passou para a ser utilizada, como o
nome diz, passou-se da tecnologia analógica para a utilização de
Quando, há alguns anos, me perguntaram se eu acreditava que pulsos “0” e “1”, que realizou milagres!
o futuro da iluminação era o Led, meu pensamento imediatamente

http://qph.is.quoracdn.net
começou a desenvolver uma análise paralela entre este mundo da
iluminação e os demais mundos que habitamos.
Por exemplo, isso foi o que aconteceu com outras tecnologias
que utilizávamos, como a telefonia celular.
No início, os telefones celulares utilizavam a tecnologia
analógica, as telas eram de cristal líquido monocromático e os
http://www.easywaystogogreen.com

A simplificação da forma analógica para digital permitiu


a eliminação de ruídos, distorções e o processamento de mais
informações.
Um aspecto interessante é a alteração das tendências face às
novas possibilidades que surgem a partir de novas aplicações e
desenvolvimentos.
Vejam o que acontece com o tamanho dos aparelhos celulares:
www.dv8media.co.uk
Apoio

Depois desse devaneio, pensando nas tecnologias e suas 33

https://oroeco.files.wordpress.com
tendências, meu interlocutor me chamou: “Hey, e aí? O que acha
do Led como iluminação do futuro?” Eu respondi: “Se o Led utiliza
tecnologia digital, acredito que será não a iluminação do futuro,
mas a do presente para alguns mercados”.
E podemos perceber esta evolução já em nossas casas:

http://gereports.com.au
Até então, temos tecnologias que funcionam economizando
energia e durando mais, o que já é muito bom para nós, usuários.
Então, começam os desenvolvimentos tecnológicos a partir da
tecnologia digital, o que não era possível com a tecnologia analógica,
por exemplo, das lâmpadas fluorescentes compactas.

http://www.gatortec.com
A tecnologia fluorescente e a fluorescente compacta era, há
pouco tempo, a tecnologia que estava sendo apresentada como
a mais eficiente, economizava 80% de energia em relação às
lâmpadas incandescentes, duravam dez vezes mais... não era
perfeito?
A comparação entre as tecnologias analógicas e digitais, em
termos de utilização da energia para a produção de luz, mudou:
Apoio

34 As lâmpadas podem ser dimerizadas e mudar de cor, visual, a eficiência do sistema e um melhor aproveitamento da
programadas por tempo, enfim, possibilidades que somente a luz nos planos de interesse.
Iluminação pública e urbana

imaginação de quem cria os “softwares”, os programas e aplicativos, Com o advento da tecnologia das lâmpadas a vapor metálico
pode limitar. de baixa potência, conseguimos controlar a luz, produzir luz de
Esta imaginação cria novas possibilidades e utilizações: boa aparência de cor, ótimo índice de reprodução de cor, enfim,
estávamos em um momento avançado no sentido da aplicação

http://images.bidnessetc.com
das tecnologias existentes, um momento “maduro” entre a
tecnologia e a aplicação, os equipamentos e a consciência de
qualidade.

http://www.minel-schreder.rs
As lâmpadas tornam-se caixas acústicas Bluetooth...
Percebe que você pode escolher uma solução Led não mais por
causa da iluminação? Você quer agregar o ponto de luz a outros
serviços, neste caso, transformando a luminária sobre a mesa de
jantar em um ponto de som.
http://i0.wp.com

Com estas lâmpadas a vapor metálico, eram utilizados reatores


eletrônicos que permitiam algum nível de controle, dimerização,
porém, era muito pouco explorado face aos custos elevados.
Com a migração da tecnologia analógica para a digital, na
área da iluminação urbana, inicialmente foram desenvolvidas
tecnologias de algum tipo de controle e dimerização localizada, com
programação de fábrica que atendia a uma curva de dimerização.

http://www.schreder.com
A iluminação tinha uma importância ligada ao fato de ver,
com a qualidade de como vemos e as consequências da luz no ato
de ver.

Iluminação pública digital

Como já mostrado em capítulos anteriores, o início da


iluminação pública elétrica foi bastante interessante, quando a
ideia era utilizar torres altas para iluminar a maior área possível,
pois as fontes de luz a arco produziam tamanha quantidade de Este tipo de tecnologia também pode ser utilizado para controlar
luz visível que era impossível utilizá-la perto das ruas. o fluxo das luminárias, evitando-se o excesso de luz quando o
Posteriormente, com o avanço dos estudos e desenvolvimentos sistema está novo, pois, para o dimensionamento dos sistemas,
tecnológicos, as lâmpadas de descarga de potências menores utilizamos sempre um fator de depreciação, que é a diferença entre
permitiram a utilização de luminárias com melhor controle a produção de luz quando do sistema novo e quando do sistema
ótico, instaladas em postes mais baixos, melhorando o conforto depreciado.
Apoio

36

http://www.libelium.com
http://www.schreder.com
Iluminação pública e urbana

Dessa maneira, conseguimos, com a tecnologia digital,


dimerizar os Leds com facilidade e, assim, economizar energia.
Entretanto, continuamos a empregar o ponto de luz somente para
iluminação. Imagine então a possibilidade de integrar os diversos Há, também, a possibilidade de receber e enviar informações
pontos de luz por meio de uma rede digital: do sistema de iluminação por meio de uma central de telegestão,
em que há, além das funcionalidades do sistema, formas de utilizar
as informações obtidas, consumo energético real, status do sistema,
http://www.schreder.com
identificação de falhas, definição de serviços, etc.

www.philips.com
Isto poderia ser bastante útil, já que permitiria a troca de
informações entre as luminárias e o seu controle a partir de
sensores.
http://www.schreder.com

O próximo passo na integração das tecnologias digitais é o


que conhecemos (ou não) como “cidades inteligentes” ou “smart
cities”.

Assim, estamos adicionando funcionalidades ao sistema,


www.cisco.com

utilizando os pontos de luz como receptores e transmissores de


informações para as outras luminárias. Melhoramos a segurança,
economizando energia.
Muito bom, porém, perceba que a informação deste sensor
estaria sendo utilizada somente para a iluminação e que esta
informação poderia ser direcionada também para outras
funcionalidades.
Os sistemas, utilizando-se da tecnologia digital, poderiam
se comunicar entre si, utilizando informações e interagindo suas
soluções, produzindo um ambiente com possibilidades novas de
serviços.
Apoio
38

As tecnologias a serem incorporadas às cidades são tão


variadas quanto são os desenvolvimentos e a iluminação
pública tem um papel importante neste processo, pois está
instalada em muitos pontos pela cidade.

www.ibm.com
Muito provavelmente todas estas possibilidades deverão
conversar, trocar informações entre si e serem utilizadas de
maneira integrada em um Centro de Controle Operacional
(CCO).
Muitos fabricantes estão possibilitando a utilização de
alguns serviços integrados com a tecnologia da telegestão,
como provedores de sinal wifi e outras funcionalidades,
baseados na mesma banda de sinal digital, o que é um
primeiro passo em direção ao conceito das cidades
inteligentes.
O que devemos entender é que toda decisão de tecnologia
a ser utilizada nas nossas cidades, como a tecnologia Led, que
tem uma previsão de durabilidade de muitos e muitos anos,
deverá estar preparada para “conversar” com as tecnologias
que virão, através de protocolos abertos.
O que decidimos hoje impactará na facilidade de
integração amanhã e esta é a primeira etapa para a construção
das cidades inteligentes... tomar decisões inteligentes!

* Plinio Godoy é engenheiro eletricista especializado em lighting


design. É consultor e lighting designer sênior da CityLights.

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34
Iluminação pública e urbana

Capítulo IX

Iluminação urbana
Por Plinio Godoy*

Em um passado não tão longínquo, o único sistema de

http://cospowerlines.wpengine.netdna-cdn.com/wp-content
iluminação desenvolvido para as cidades era a “iluminação pública”,
que era o sistema de iluminação das vias.
Hoje, temos a “iluminação urbana”, que compõe todos os
sistemas existentes em um meio urbano, sendo a “iluminação viária”
o subsistema que cuida da iluminação específica para auxiliar a
segurança dos motoristas e sua relação com os pedestres.
Esta ampliação dos sistemas se dá em função do maior
número de elementos estudados, que devem funcionar em
harmonia, pois se passou a considerar mais as necessidades
das pessoas, até chegar ao conceito de “iluminação social”,
com o qual são desenvolvidos os planos mestres de iluminação
atualmente. Figura 1 – Nível de uniformidade irregular.

Neste capítulo, serão fornecidas algumas dicas para um melhor Nesta imagem, percebemos a utilização de luz branca
entendimento das técnicas e da norma ABNT NBR 5101:2012. provavelmente em uma via de conexão urbana com uma via de
Sugerimos a leitura completa desta norma para terem contato com conexão, deixando bastante claro para o motorista suas diferenças
outros conceitos e terminologias importantes para a compreensão pelo nível de iluminação e aparência de cor da luz.
da questão como um todo. Podemos também perceber um nível de uniformidade aquém
das expectativas, formando regiões escuras e claras, o que prejudica
A iluminação viária a segurança, pois não permite uma boa visualização, por exemplo,
de um pedestre que esteja atravessando a rua nesta região mais
O universo estudado na iluminação viária é o espaço conhecido escura.
como “leito carroçável” e seus arredores, calçadas, meio-fio e regiões Temos de lembrar que os olhos trabalham por comparação de
adjacentes. luz, ou seja, eles ajustam a capacidade de enxergar, com base na
O que dita os valores quantitativos definidos para os projetos intensidade da luz presente, comparando com as áreas mais escuras.
de iluminação viária no Brasil é a norma ABNT NBR 5101: 2012,
da qual extraímos algumas informações importantes para o Segurança noturna dos motoristas e dos
desenvolvimento dos estudos. pedestres
Um projeto de qualidade proporcionará aos cidadãos uma
qualidade superior na relação dele com a cidade, pois o sistema A necessidade de se enxergar bem durante os deslocamentos é
viário é um grande definidor do campo visual noturno urbano. um tema importante. Os motoristas devem perceber corretamente
Sistemas de iluminação podem ajudar bastante a segurança as passagens para pedestres ou os obstáculos para reduzir a
pessoal e patrimonial, a orientação, a integração e a conexão do velocidade à noite.
tecido urbano, quando bem planejados. Os pedestres devem ser capazes de utilizar diariamente
Apoio

caminhos bem iluminados e ter acesso a equipamentos públicos As iluminações provenientes do piso podem ser ofuscantes e 35
com iluminações e ambientes luminosos, que funcionam bem à perturbadoras para os pedestres. As fontes muito ofuscantes de
noite. alguns aparelhos de iluminação para pedestres criam contrastes
As grandes sombras projetadas pelas árvores alinhadas nos violentos, que podem desorientar temporariamente os
canteiros ou nas calçadas podem ser um problema agravante quando passantes, principalmente as pessoas idosas e com deficiências
dos deslocamentos noturnos. Os projetos executivos, específicos, visuais.
levantados por visitas técnicas, devem levar em conta todos estes O conjunto destas deficiências e faltas provoca uma impressão
aspectos. desagradável de desconforto noturno que pode, em seguida,
Os cidadãos estão pouco habituados a uma real visão noturna conduzir a um forte sentimento de insegurança, principalmente em
(dita escotópica) em razão da onipresença da iluminação viária na idosos e mulheres desacompanhadas que caminham à noite pelos
cidade. espaços públicos.
Quando a visão se enfraquece com a idade, a percepção noturna As propostas de iluminação devem buscar tornar as cidades
se torna ainda mais difícil, devido aos baixos níveis luminosos mais legíveis e mais visíveis.
disponíveis no espaço público.
Definindo uma solução
A falta de visibilidade noturna no espaço
público A definição de um sistema de iluminação viária, ou seja, a
melhor solução técnica que proporcione o resultado luminotécnico
As referências diurnas (edifícios, fachadas, árvores, elementos esperado para uma determinada região da cidade, deve considerar:
arquitetônicos, entradas de equipamentos), que permitem uma
compreensão do espaço na cidade e, portanto, uma melhor Classificação viária
legibilidade dos percursos, desaparecem frequentemente à noite por A tabela extraída da norma ABNT NBR 5101:2012 apresenta a
falta de uma iluminação específica. classificação viária para veículos e pedestres:
Apoio

36 Tabela 1 - Tráfego motorizado Em que “I” é a intensidade recebida pelo ponto P na direção definida
Classificação Volume de tráfego noturnoa de veículos por pelo par de ângulos (C, ϒ) e H a altura da luminária.
Iluminação pública e urbana

hora, em ambos os sentidos , em pita única


b Se o ponto P está iluminado por mais de uma fonte de luz, a
Leve (L) 150 a 500 iluminância total recebida é:
Médio (M) 501 a 1.200 n I (C , γ )
Intenso (I) Acima de 1.200 EH = Σ
i=I
i

hi2
i
•cos3 γi
a
Valor máximo das médias horárias obtidas nos períodos
compreendidos entre 18 e 21 horas. Luminância
b
Valores para velocidades regulamentadas por lei.

Ilustração do livro “Iluminação Urbana”, por PCandura e PGodoy.


NOTA - Para vias com tráfego menor do que 150 veículos por hora,
consideram-se as exigenências mínimas do grupo leve (L), e para
vias com tráfego muito intenso, superior a 2.400 veículos por hora,
consideram-se as exigências máximas do grupo de tráfego intenso (I).

Tabela 2 - Tráfego de pedestres a


Classificação Pedestres cruzando vias
com tráfego motorizado
Sem tráfego (S) Como nas vias arteriais
Leve (L) Como nas vias residenciais médias
Médio (M) Como nas vias comerciais secundárias
Intenso (I) Como nas vias comerciais principais
a
O projetista deve levar em conta esta tabela, para fins de
elaboração do projeto.

Uma vez identificada a classificação da via a ser projetada,


Figura 3 – Luminância.
procuramos os valores de referência a serem buscados no projeto:
A luminância, ao contrário, é uma medida da luz que chega aos
Requisitos de iluminância, luminância e olhos procedente dos objetos e é a responsável por excitar a retina
uniformidade do olho e que provoca a visão.
Esta luz provém do reflexo sofrido pela iluminância quando
Nesse momento, para auxiliar o entendimento dos valores incide sobre os corpos. Pode-se definir como a porção da intensidade
referenciais, fazemos uma breve explanação dos conceitos de luminosa por unidade de superfície refletida, em direção ao olho do
iluminância e luminância. observador. É expressa pela equação:

L = q (β, γ) • E
Iluminância
A iluminância indica a quantidade de luz que chega a uma superfície Em que "q" é o coeficiente de luminância no ponto P, que
e se define como o fluxo luminoso recebido por unidade de superfície: depende do ângulo de incidência ϒ e do ângulo entre o plano de
DΦ incidência e o de observação β. O efeito do ângulo de observação
E=
ds α é definido para a maioria dos condutores (motoristas com campo
Assim, ampliando este conceito: visual entre 60 e 160 metros adiante e a uma altura de 1,5 metro
sobre o solo).
Ilustração do livro “Iluminação Urbana”, por PCandura e PGodoy.

Assim, ficamos:

n I (C , γ ) • r (β , γ )
L= Σ
i=I
i i

hi2
i i

Os valores de r (β,γ) dependem das características dos


pavimentos utilizados na via.
O quesito de iluminância é medido por um equipamento
chamado “luxímetro”, cuja unidade no sistema métrico é o Lux e o
de luminância, com um equipamento chamado “luminancímetro”,
Figura 2 – Iluminância. a candela por metro quadrado (Cd/m2).
Apoio

38
Tabela 2 - Tráfego de pedestres a

http://sensing.konicaminolta.asia/products/t-10a-illuminance-meter/
Descrição da via Classe de
Iluminação pública e urbana

iluminação
Vias de trânsito rápido; vias de alta velocidade
de tráfego, com separação de pistas, sem
cruzamentos em nível e com controle de acesso;
vias de trânsito rápido em geral; Auto-estradas
Volume de tráfego intenso V1
Volume de tráfego médio V2
Vias arteriais; vias de alta velocidade de tráfego
com separaçãode pistas; vias de mão dupla, com
cruzamento e travessias de pedestres eventuais
em pontos bem definidos; vias rurais de mão
dupla com separação por canteiros ou obstáculos
Volume de tráfego intenso V1
Volume de tráfego médio V2
Vias coletoras; vias de tráfego importante; vias
radiais e urbanas de interligação entre bairros,
Figura 4 – Luxímetro. com tráfego de pedestres elevado
Volume de tráfego intenso V2
http://sensing.konicaminolta.asia/products/ls-100-luminance-meter/

Volume de tráfego médio V3


Volume de tráfego leve V4
Vias locais; vias de conexão menos importantes;
vias de acesso residencial
Volume de tráfego médio V4
Volume de tráfego leve V5

Tabela 3 – Iluminância média mínima e uniformidade para


cada classe de iluminação

Classe de Iluminância média Fator de uniformidade


Iluminação mínima Emed,min mínimo
lux U = Emed,/Emin
V1 30 0,4
V2 20 0,3
V3 15 0,2
V4 10 0,2
V5 5 0,2

Figura 5 – Luminancímetro.
Temos, da norma ABNT NBR 5101:2012, os índices reco­
mendados para luminância nas vias conforme a classificação:
“As recomendações estão entre as classes V1 a V5 para
Tabela 4 – Requisitos de luminância e uniformidade
veículos e P1 a P4 para pedestres. As classes são selecionadas
Classe de Lmed Uo UL TI SR
de acordo com a função da via, da densidade de tráfego, da
Iluminação ≥ ≤ %
complexidade do tráfego, da separação do tráfego e da existência
V1 2,00 0,40 0,70 10 0,5
de facilidades para o controle do tráfego, como os sinais de
V2 1,50 0,40 0,70 10 0,5
trânsito” – ABNT NBR 5101:2012.
V3 1,00 0,40 0,70 10 0,5
V4 0,75 0,40 0,60 15 –
Vias para tráfego de veículos V5 0,50 0,40 0,60 15 –
Lmed: Luminancia média; Uo: uniformidade global; UL: uniformidade
Encontramos na ABNT NBR 5101:2012 como identificar longitudinal; TI: incremento linear.
as vias, sua classificação (tabela 2) e os índices recomendados NOTA 1 - Os crtérios de TI e SR são orientativos, assim como as classes V4 e V5
NOTA 2 - As classes V1, V2 e V3 são obrigatórias para a luminância
(tabela 3):
Apoio

40 Lmín
Tabela 5 – Classes de iluminação para cada tipo de via
UL =
Descrição da via Classe de Lmáx
Iluminação pública e urbana

iluminação Em que:
Vias de uso noturno intenso por pedestres Lmin é igual à luminância mínima;
(por exemplo: calçadões e passeios P1 Lmax é igual à luminância máxima.
de zonas comerciais)
Vias de grande tráfego noturno de pedestres Incremento de limiar – TI
(por exemplo: passeios de avenidas, P2 Limitação do ofuscamento perturbador ou inabilitador nas
praças e áreas de lazer) vias públicas, que afeta a visibilidade dos objetos. O valor de TI%
Vias de uso noturno moderado por pedestres P3 é baseado no incremento necessário da luminância de uma via
(por exemplo: passeios e acostamentos) para tornar visível um objeto que se tornou invisível devido ao
Vias de pouco uso por pedestres P4 ofuscamento inabilitador provocado pelas luminárias.
(por exemplo: passeios de bairros residenciais) Lv
TI %= 65 x
(Lmed) 0,8
Tabela 6 – Iluminância média e fator de uniformidade mínimo para
Em que:
cada classe de iluminação
Lmed é a luminância média da via;
Classe de Iluminância horizontal Fator de uniformidade
LV é a luminância de velamento.
Iluminação média Emed,min mínimo
lux U = Emed,/Emin
Luminância média Lmed [cd/m²]
P1 20 0,3
Valor médio da luminância na área delimitada pela malha de pontos
P2 10 0,25
considerada ao nível da via.
P3 5 0,2
P4 3 0,2
Luminância de velamento – LV
Alguns termos utilizados e retirados da ABNT NBR 5101:2012: Efeito provocado pela luz que incide sobre o olho do observador
no plano perpendicular à linha de visão. Depende do ângulo entre
Fator de uniformidade da iluminância (em determinado o centro da fonte de ofuscamento e a linha de visão, bem como da
plano) – U idade do observador.
Razão entre a iluminância mínima e a iluminância média em
um plano especificado: Razão das áreas adjacentes à via – SR
Emín Relação entre a iluminância média das áreas adjacentes à via
U=
Emed (faixa com largura de até 5 m) e a iluminância média da via (faixa
Em que: com largura de até 5 m ou metade da largura da via) em ambos
Emin é igual à iluminácia mínima; os lados de suas bordas. O parâmetro SR pressupõe a existência de
Emed é igual à iluminância média. uma iluminação própria para a travessia de pedestres, levando em
consideração o posicionamento da luminária, de forma a permitir
Fator de uniformidade da luminância (uniformidade global) a percepção da silhueta do pedestre pelo motorista (contraste
– Uo negativo).
Razão entre a luminância mínima e a luminância média em um Temos, então, para a via a ser calculada, os índices
plano especificado: luminotécnicos mínimos a serem obtidos. É importante salientar
Lmín que estes índices são mínimos, ou seja, considerando a depreciação
Uo =
Lmed do sistema de iluminação.
Em que: No próximo capítulo, conheceremos o passo seguinte para
Lmin é igual à luminância mínima; estabelecer a solução a ser projetada.
Lmed é igual à luminância média.
* Plinio Godoy é engenheiro eletricista especializado em lighting
Fator de uniformidade da luminância (uniformidade design. É consultor e lighting designer sênior da CityLights.

longitudinal) – UL
Razão entre a luminância mínima e a luminância máxima ao CONTINUA NA PRÓXIMA EDIÇÃO
Acompanhe todos os artigos deste fascículo em www.osetoreletrico.com.br
longo das linhas paralelas ao eixo longitudinal da via em um plano Dúvidas, sugestões e comentários podem ser encaminhados para
especificado: redacao@atitudeeditorial.com.br
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30
Iluminação pública e urbana

Capítulo X

Iluminação urbana – Aplicação


Por Plinio Godoy*

No capítulo anterior, foi apresentada a via a ser projetada: a) Tipo I:


sua classificação viária, os requisitos luminotécnicos com base na - Quando a linha de meia intensidade máxima não ultrapassa as
norma ABNT NBR 5101:2012. Agora qual é o próximo passo? linhas LLV 1,0 AM, tanto do “lado das casas” como do “lado da
Você tem algumas variáveis para estabelecer a solução como: via”, caindo em ambos os lados da linha de referência na área dos
três tipos de distribuição vertical (curta, média e longa, conforme
- Altura de montagem; a Figura 8).
- Inclinação frontal da luminária (Tilt);
- Distância entre os postes; b) Tipo II:
- Tipo da luminária; - Quando a linha de meia intensidade máxima fica compreendida
- Fotometria da luminária; entre a LLV 1,75 AM e a linha de referência na área dos três tipos
- Tamanho do braço e inclinação; de distribuição vertical (curta, média e longa, conforme a Figura 8).
- Existência de árvores;
- Recuo e tipo de distribuição dos postes. c) Tipo III:
- Quando a linha de meia intensidade máxima ultrapassa parcial ou
Um bom começo é saber se na via a ser projetada existe já algum totalmente a LLV 1,75 AM, porém, não ultrapassa a LLV 2,75 AM
posteamento da concessionária que deve ser utilizado ou se haverá na área dos três tipos de distribuição vertical (curta, média e longa,
um sistema de postes independentes para a iluminação viária. conforme a Figura 3);
Outra questão importante é saber se há qualquer interferência
ao longo da via, como viadutos, linhas de alta tensão ou qualquer d) Tipo IV:
outra situação que mereça atenção. - Quando parte da linha de meia intensidade máxima ultrapassa
É importante a realização de uma visita técnica para conhecer parcial ou totalmente a LLV 2,75 AM (ver Figura 3).
as interferências e detalhes da via e sua utilização, localização dos
postes, entradas de veículos, pontos de ônibus, escolas, hospitais,
delegacias, edifícios públicos etc.
Com o mapa da via desenvolvido com todas estas interferências,
podemos estabelecer uma primeira solução:

- A altura de montagem da luminária deve ser próxima da largura


da via a ser iluminada.
- Distribuição transversal à via.

Figura 1 – Perspectiva de corte de uma superfície fotométrica por


Existem quatro tipos de fotometria para luminárias públicas planos verticais, situados nas direções que contêm os valores máximos
segundo a classificação na ABNT NBR 5101:2012: da intensidade luminosa.
Apoio 31

Figura 2 – Vista em planta de uma via com os diferentes tipos de


luminárias.

Figura 3 – Diagrama mostrando a relação das LTVs e LLVs na via e na


esfera imaginária, cujo centro é ocupado pela luminária.

A classificação de distribuição de intensidade luminosa


longitudinal e transversal deve ser feita na base do diagrama de
isocandela, traçada sobre um sistema retangular de coordenadas
contendo uma série de linhas longitudinais da via (LLV) em
múltiplos da altura de montagem (AM) e uma série de linhas
Apoio

32 transversais da via (LTV) também em múltiplos da altura de tipo I ou II, poderemos utilizar mais a luz produzida no plano da via.
montagem. As informações que devem aparecer nos diagramas de Porém, esta não é a condição mais comum nas cidades.
Iluminação pública e urbana

isocandelas são as seguintes: Temos, na maioria dos casos, larguras de vias e calçadas com a
configuração da FIgura 5.
a) Linhas LLV de 1,0 AM; 1,75 AM; 2,75 AM; Se compararmos a configuração desta via da Figura 5 com a
b) Linhas LTV de 1,0 AM; 2,25 AM; 3,75 AM; 6,0 AM; e 8,0 AM; Figura 7, percebemos que a melhor utilização da luz produzida
c) Posição das linhas de máxima intensidade e de meia máxima estaria entre o tipo 3 e 4.
intensidade. Seguindo, sabemos as dimensões da via, sua classificação, a
altura de montagem (aproximadamente igual à largura da via) e a
Estes diferentes tipos servem para você solucionar seu projeto distribuição desejada.
aproveitando ao máximo a luz projetada pela luminária no seu Estes dados possibilitam a escolha de algumas luminárias para
plano viário. desenvolver os cálculos iniciais visando estabelecer a solução ideal.
Observe este exemplo apresentado na Figura 4, em que temos A Figura 5 mostra um exemplo de uma determinada luminária
uma via estreita com um muro alto e um poste padrão com uma com 32 Leds, 350 mA, que apresenta duas possibilidades fotométricas:
luminária instalada em um braço longo.

Figura 6 – Luminárias com diferentes configurações fotométricas.

- A luminária #1 tem sua classificação como tipo 3;


- A luminária #2 é classificada como tipo 2.
Figura 4 – Iluminação com poste padrão e luminária instalada em braço
longo.

O que podemos analisar: Nosso estudo refere-se a uma via classificada como V3, relembrando:

Tabela 1 – Requisitos de luminância e uniformidade


- A altura de montagem é superior à necessária; Classe de Lmed Uo UL TI SR
- O braço é mais comprido do que o necessário; Iluminação ≥ ≤ %
- A fotometria padrão de uma luminária com difusor curvo; V1 2,00 0,40 0,70 10 0,5
- Haverá uma considerável projeção de luz no muro; V2 1,50 0,40 0,70 10 0,5
- Haverá uma considerável projeção de luz acima das casas. V3 1,00 0,40 0,70 10 0,5
V4 0,75 0,40 0,60 15 –
Conforme a Figura 2 (figura A.6 da ABNT NBR 5101-2012), V5 0,50 0,40 0,60 15 –
verifica-se que, se utilizarmos luminárias com projeção transversal Lmed: Luminancia média; Uo: uniformidade global; UL: uniformidade
longitudinal; TI: incremento linear.
NOTA 1 - Os crtérios de TI e SR são orientativos, assim como as classes V4 e V5
NOTA 2 - As classes V1, V2 e V3 são obrigatórias para a luminância

Tabela 2 – Iluminância média mínima e uniformidade para cada classe


de iluminação

Classe de Iluminância média Fator de uniformidade


Iluminação mínima Emed,min mínimo
lux U = Emin / Emed
V1 30 0,4
V2 20 0,3
V3 15 0,2
V4 10 0,2
V5 5 0,2
Figura 5 – Iluminação comum nas cidades.
Apoio

34 Para facilitar a apresentação, foi utilizado o software AGI32, que O conceito de Orient (orientação)
possui um módulo de estimativa de sistemas viários bastante útil.
Iluminação pública e urbana

O conceito de orientação altera a posição da luminária em


seu eixo Z. Devemos tomar cuidado com a posição da luminária
em relação à fotometria utilizada. Muitas vezes, podemos estar
calculando a solução com a luminária rotacionada a 90 graus em
relação à posição real, o que incorrerá em erro de cálculo.
A Figura 10 mostra a direção da seta interna ao bloco, indicando
que a luminária tem sua posição frontal para o lado direito da
imagem.

Figura 7 – Estudo com a luminária #1 utilizando o software AGI32.

www.agi32.com
Para a luminária #2:

Figura 10 – Conceito de Orient.

O conceito de Roll (rolagem)


Figura 8 – Estudo com a luminária #2 utilizando o software AGI32.

Note que já defini alguns valores como:


O conceito de Roll altera a posição da luminária em seu eixo
X. Este valor deve ser utilizado quando, por exemplo, estamos
- A altura de montagem = largura de via = 9,0 m;
calculando uma via em rampa com os postes na vertical, devendo a
- O recuo em relação ao leito carroçável de 0,5 m;
luminária ser posicionada normalmente em relação à pista.
- Inclinação (tilt) = 5o;
- Orientação = 0o;
- Rolagem = 0o;

www.agi32.com
- Espaçamento entre postes = 30 m (supondo espaçamento padrão
da concessionária).

O conceito de Tilt (inclinação)

O conceito do Tilt altera a posição da luminária ao redor do seu


eixo Y. O valor da inclinação da luminária normalmente é utilizado
entre zero e 10 graus e altera a projeção da luz da luminária no Figura 11 – Conceito de Roll.
sentido frontal à instalação.
www.agi32.com

Uma relação interessante que devemos saber é quantas vezes a


largura pode ser maior que a altura de montagem.
Considere o valor de três a quatro vezes a distância de
montagem em relação à altura de montagem, o que pode variar de
produto para produto.
Para luminância, a luminária #2 apresentou melhor resultado
médio, no entanto, abaixo das especificações da norma e
Figura 9 – Conceito de Tilt. uniformidade superior aos valores normativos.
Apoio

Comparando os resultados Passamos a altura para 8,0 m, em função de os valores 35


de luminância e iluminância estarem um pouco abaixo dos
requeridos.
O estudo será feito com três comprimentos de braço diferentes:
1,0 m, 2,0 m e 3,0 m.

Análise dos cálculos de iluminância

Com estas mudanças, alcançamos nosso objetivo com a


Os valores obtidos com a luminária #2 também foram opção 2, Luminária #2 com braço de comprimento = 2,0 m.
superiores, próximos aos valores de norma com uma uniformidade É importante perceber como a mudança dos valores de
acima das recomendações. instalação, a altura de montagem, a distância entre postes, o
Com a luminária #2 escolhida, vamos analisar os resultados comprimento do braço, o ângulo de inclinação, o recuo na
alterando alguns valores de montagem. calçada e outros valores podem afetar os resultados.
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36 Uma dica: Se o canteiro central é estreito, podem-se utilizar colunas


de braço duplo que dão uma boa orientação visual e têm muitas
Iluminação pública e urbana

Veja os valores de luminância e iluminância, analise os vantagens construtivas e de instalação por sua simplicidade.
resultados da uniformidade e perceba que muita uniformidade Se for muito largo, é preferível tratar as ruas de forma separada.
acima das normas significa que você está desperdiçando luz. Podem-se combinar braços duplos com a disposição alternada ou
Com a uniformidade alta, você pode abaixar a altura de aplicar a iluminação unilateral em cada uma delas.
montagem, aumentando os resultados médios, melhorando Neste último caso, recomenda-se colocar as luminárias no lado
assim o resultado geral. contrário ao canteiro central porque, desta forma, estimula-se o
A solução ideal é encontrada a partir do desenvolvimento de usuário a circular pela via da direita.
diversas possibilidades até alcançar todos os valores mínimos
mantidos e requeridos na norma.

Disposição das luminárias

Ilustração do livro “Iluminação Urbana”, por PCandura e PGodoy.


Para conseguir uma boa iluminação, não basta realizar cálculos.
Figura 14 – Disposição das luminárias em vias com mão dupla.
Deve-se proporcionar informação extra que oriente e alerte os
condutores com suficiente antecedência as características das vias. Nos trechos curvos, as regras a seguir são indicadas para
Assim, no caso de curvas em vias, é recomendável posicionar as proporcionar uma boa orientação visual e reduzir a separação entre
luminárias no lado externo da curva. luminárias, tanto menor seja o raio da curva. Se a curvatura for
Em trechos retos com uma única rua, existem três disposições grande (R > 300 metros), será considerada como trecho reto. Se a via
básicas: for pequena e a largura menor que 1,5 vez a altura das luminárias,
adota-se uma disposição unilateral pelo lado exterior da curva. Caso
contrário, se recorrerá a uma disposição bilateral frente a frente,
nunca escalonada, pois ela não informa o traçado da via.

Ilustração do livro “Iluminação Urbana”, por PCandura e PGodoy.


Ilustração do livro “Iluminação Urbana”, por PCandura e PGodoy.

Figura 12 – Disposição das luminárias em via urbana.

Também é possível suspender a luminária em um cabo


transversal (catenária), mas ele só deve ser empregado em ruas
muito estreitas ou com significativa arborização.

Ilustração do livro “Iluminação Urbana”, por PCandura e PGodoy.

Figura 13 – Suspensão transversal.

A distribuição unilateral é recomendada se a largura da rua é


menor ou igual à altura da montagem das luminárias. Figura 15 – Disposição das luminárias em vias com trechos curvos.

Já a disposição bilateral alternada das luminárias está Conclusão


compreendida entre 1 e 1,5 vez a altura da montagem, e a bilateral
frente a frente, se for maior que 1,5 vez. No campo da iluminação viária, muitas “regrinhas” foram
No caso de trechos retos de vias com duplo sentido de tráfego estabelecidas para cortar caminho entre soluções e cálculos.
separados por um canteiro central, as luminárias podem ser instaladas Algumas delas – utilizar a altura de montagem igual ou inferior à
neste canteiro ou considerar as duas vias de forma independente. largura da via; utilizar braço com comprimento menor que 1/3 da
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38

http://www.myledlightingguide.com
Iluminação pública e urbana

Figura 16 – Exemplo de iluminação com lâmpadas de descarga (à esquerda) e com Leds (à direita).

http://bloximages.newyork1.vip.townnews.com/sustainablecitynetwork.com
Figura 17 – Remodelação da iluminação com aplicação de Leds – 68% de economia de energia.

largura da via; inclinação igual a cinco graus etc. – são experiências obtidas em laboratórios certificados e creditados, softwares de
obtidas com a aplicação das tecnologias tradicionais, com base em cálculo independentes, abrangência de produtos e fornecedores
lâmpadas, fotometrias refletidas por consequência. com experiência e referências de mercado. Testes, avaliações
Hoje em dia, com a adoção do Led, estas “regrinhas” podem e homologações de produtos com variedade de possibilidades
trazer problemas, pois as fotometrias não são mais as mesmas, a fotométricas são necessários para cada caso específico a ser
projeção de luz não é igual às das lâmpadas de descarga. resolvido.
Atualmente, as luminárias com Leds são mais precisas na No mundo da iluminação viária, Led não tem mais padrão de
emissão da luz, apresentam menos luz dissipada em outras áreas que luminárias, mas sim soluções possíveis que devem ser avaliadas
não o plano viário. Isso pode acarretar em vantagens e problemas, com detalhe.
pois as vias poderão ser iluminadas de maneira diferente.
Uma preocupação que devemos considerar é a modelagem do
espaço iluminado, pois a precisão da projeção da luz pelo sistema * Plinio Godoy é engenheiro eletricista especializado em lighting
Led pode criar zonas escuras em calçadas e arredores. design. É consultor e lighting designer sênior da CityLights.

A solução? CONTINUA NA PRÓXIMA EDIÇÃO


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Analisar as possibilidades com base em fotometrias de qualidade,
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28
Iluminação pública e urbana

Capítulo XI

Iluminação de elementos externos


Por Plinio Godoy*

Este capítulo abordará o campo da iluminação de de um plano mestre de iluminação urbana, que será
áreas verdes, também conhecida como iluminação de apresentado neste e nos próximos capítulos.
paisagismo, termo que considero equivocado, pois os
elementos paisagísticos são compostos pelos elementos Elementos de paisagem
verdes e complementados por outros elementos
ornamentais. “Na noite, o que não é iluminado, desaparece”
Vamos acordar, então, que o objeto deste artigo são Esta afirmação é uma constatação pura e simples do que
as técnicas de iluminação de elementos externos que acontece com as áreas urbanas não iluminadas.
compõem a paisagem, identificando como são os processos Estas áreas urbanas podem ser privadas ou públicas, de
e as questões a serem levadas em consideração. pequeno ou grande porte, porém fazem parte, sempre, da
Entendo que a composição da paisagem noturna é, composição visual do espaço percebido.
em si, o grande objetivo do planejamento da iluminação A iluminação é uma ferramenta importante na
urbana, pois, de fato, é o que os olhos percebem. composição deste espaço, no período noturno, e deve ser
Vamos entender, assim, que a iluminação das áreas utilizada de maneira bastante equilibrada, pois novamente
verdes, dos elementos paisagísticos, é um dos componentes temos uma linha tênue entre a valorização e o exagero.
Apoio

29
Entendendo e projetando

Quando estamos desenvolvendo um projeto de iluminação


para espaços externos, como jardins, praças e parques, precisamos
entender a composição visual planejada pelo urbanista, suas
funções, momentos e principalmente, seus pontos de vistas.
Quando falo de pontos de vista, refiro-me aos pontos de melhor
visualização do espaço, pontos estes tanto internos quanto externos
ao projeto.
Assim, algumas informações devem ser buscadas no espaço a
ser projetado:

Funções
Considerações de projeto
• Público ou privado;
• Ornamental; As funções paisagísticas são decorrentes da relação entre o
• Básica; espaço, seus arredores e as pessoas nele inseridas, bem como
• Tarefa; os usos e os momentos em que as pessoas darão a ele e aos
• Acesso; seus pontos de vista no que tange às paisagens criadas. O
• Segurança. desenvolvimento da iluminação para áreas verdes privadas deve
considerar, neste contexto, as quatro premissas do ambiente:
Entender estes elementos é um primeiro passo para projetar
o espaço, pois a iluminação deve atender às expectativas dos • Layout;
usuários destas áreas. • Funções;
Apoio

30 • Usos e momentos; e Com a colocação de equipamentos em diferentes posições


• Pontos de vista, que devem ser interpretados como os pontos em relação aos elementos iluminados, obtém-se diferentes
Iluminação pública e urbana

de visualização das pessoas. resultados, como descrito nas imagens a seguir.

O layout de um projeto paisagístico é a composição dos Downlighting


volumes e elementos arbóreos, criando espaços e ambientações A iluminação em downlighting prevê a instalação de
distintas em seus volumes, cores e funções. equipamentos e fontes de luz em locais superiores e voltados
É preciso considerar como é o desenho da área externa e para o piso. Esse efeito tem como função uma iluminação de
detalhes dos elementos arbóreos, como por exemplo, se são segurança. Os equipamentos utilizados para sua obtenção podem
altos ou baixos, volumosos ou estreitos. O projeto do Arquiteto ser controlados para situações antipânico, sendo chamados de
paisagista tem que prever como os volumes vão se relacionar cercas de luz, afastando intrusos mal intencionados.
entre si e com aquele espaço.
Uma vez coletadas essas informações para o projeto, o
lighting designer tem que entender quais são as funções da área
que vai abrigar seu projeto. Quando se monta o paisagismo,
são determinadas áreas locais, ou seja, pontos ideais de onde se
pode observar aquele paisagismo.

Uplighting
Projetando a luz para regiões superiores, os equipamentos
usados para executar esse efeito de iluminação destacam elementos
arbóreos volumosos, fachadas ou superfícies verticais.
Atualmente, podem ser encontrados equipamentos com
diferentes tipos de foco e também diversidade de fontes de luz,
compondo um vasto espectro de possibilidades de cores, de
Os pontos de vistas são importantes referências que o intensidades e de angulações para criar o efeito uplighting.
espaço projetado cria para seus observadores, são normalmente
formados por muitos elementos que compõem os espaços,
criando assim uma composição visual privilegiada, de beleza
ímpar.
Cabe ao projetista da iluminação deste espaço o cuidado
superior para acompanhar estes pontos de observação,
evitando-se ofuscamentos ou posicionamentos de fontes de
luz que possibilitem leituras indesejadas ou prejudiciais aos
objetivos do espaço.

Efeitos de luz

Os efeitos de luz são a consequência do processo do projeto


e, na verdade, são os elementos que se objetiva alcançar para a
percepção correta do espaço iluminado.
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32 Grazing (textura) Crosslighting


A localização próxima dos projetores às superfícies rugosas O crosslighting é um efeito gerado a partir da projeção de
Iluminação pública e urbana

iluminadas, cujo ângulo de projeção raso valoriza as texturas um facho de luz que atravessa do ambiente externo, visando um
da superfície, caracteriza o efeito de grazing. elemento normalmente decorativo e distante.
Esse efeito pode ser bem-vindo quando propositalmente Em geral, utiliza-se este efeito com fontes de luz de foco
projetado, mas também ter percepção contrária quando resulta concentrado.
de posicionamentos equivocados de fontes de luz em paredes A aplicação do crosslighting deve ser bem estudada, para
supostamente lisas. O grazing pode estar conjugado com o que a iluminação não crie ofuscamentos indesejados em pontos
downlighting ou com o uplighting. de observação comuns.

Spotlighting
Wall washing
O spotlighting é uma variação do efeito uplighting, por
Quando o equipamento de iluminação está
angular seu foco em direção ao assunto, em geral, utilizando
consideravelmente afastado de uma superfície vertical, o
fontes de luz externas ou espetos.
resultado é uma iluminação homogênea, conhecida como wall
O recurso é frequentemente usado em circunstâncias em que o
washing ou lavagem de luz.
objeto a ser iluminado está localizado a alguma distância de onde
É muito utilizado para valorização arquitetônica, mas,
a fonte de luz será acesa, como por exemplo, próximo a beirais de
mal aplicado, resulta em um efeito intermediário entre o wall
um prédio para iluminar determinados focos ou níveis diferentes
washing e o grazing. O efeito wal washing pode estar conjugado
do piso de um caminho por onde transitam pessoas.
com o downlighting ou com o uplighting.
Apoio

Mirroring Silhueta 33
O mirroring é um dos efeitos mais bonitos, refinados e de Outro efeito que pode ser enquadrado na categoria superior de
elevada beleza da iluminação de áreas externas. refino da iluminação é a silhueta, quando se ilumina um volume,
Utiliza a consequência da iluminação de um elemento decorativo um muro ou outros elementos arbóreos e um elemento importante
ou arbóreo priorizando a observação de um determinado ponto de fica no anonimato, aparecendo como silhueta.
vista através do reflexo em um espelho ou lâmina d’água. Tamanha é a importância desta relação de luz e sombra, que
O bom resultado desse efeito é a interação harmônica entre os faz parte do processo conhecido como “Shadow light”, ou seja, a
equipamentos que jogam luz no elemento arbóreo, o elemento em si iluminação com a sombra.
e a sua observação através de um ponto de vista bem escolhido para Pode ser utilizado com o efeito wall washing, atingindo
reflexão no espelho d´água. melhores resultados, porém, com o efeito grazing, o resultado é
O elemento arbóreo no mirroring é trabalhado de maneira indireta. mais dramático e teatral.
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34 Floodlighting Moonlighting
O efeito floodlighting é um downlighting projetado para O efeito moonlighting, como o nome diz, procura representar a
Iluminação pública e urbana

iluminar áreas de maior proporção, utilizando equipamentos iluminação de uma lua cheia, criando as sombras das folhagens de
com grande abertura de facho. Normalmente utilizado para uma árvore no chão.
segurança de áreas como parques, campos de futebol e jardins, É um efeito sofisticado e difícil de ser criado, pois requer a
e pode ser extremamente estético quando utilizado como instalação de equipamentos em árvores de copa abundante, de folhas
sistema moonlighting. grandes, galhos definidos e fortes, uma vez que o equipamento deve
ser fixado nos galhos, escondido entre as folhas.

Aspectos importantes
Apoio

36 A base de um bom projeto de iluminação de áreas externas


é o entendimento perfeito dos momentos urbanísticos.
Iluminação pública e urbana

Quando o projeto não está construído, é fundamental


entender, além do posicionamento, o porte, as cores e a
densidade dos elementos arbóreos.

Fotometria

Entender a fotometria dos equipamentos e de como iluminar


os elementos é um exercício dos princípios da fotometria, abertura
de foco, intensidade, além da composição artística das cores.
Elementos altos e esguios demandam focos concentrados,
enquanto que elementos largos e baixos demandam focos
amplos.
Devemos tomar cuidado com a modelagem dos elementos,
normalmente utilizando mais de um ponto focal, evitando Em um espaço externo, os pontos de luz mal projetados

assim a distorção da percepção do elemento paisagístico. podem criar um efeito terrível chamado “ofuscamento”, que
é a projeção de luz intensa, descontrolada, que prejudica a
observação do espaço.
Este ofuscamento pode ser desconfortante ou até velador,
ou seja, impede a observação do espaço, prejudicando até a
segurança.
Devemos buscar sempre a utilização de equipamentos com
bom controle ótico, posicioná-los de maneira estratégica para
não criar estes efeitos desagradáveis e até perigosos.
A utilização dos equipamentos de iluminação em ambientes
externos pode também criar o que conhecemos como “poluição
luminosa”, que é a emissão descontrolada de luz para o céu.

Cuidados com as cores

Muitas vezes me perguntam sobre a utilização de projetores


com emissão colorida. Particularmente, prefiro muito mais
o destaque do espaço projetado do que a deturpação deste
espaço
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O projeto de iluminação deve, além de prever equipamentos com fotometria correta, evitar a emissão de luz para ambientes
superiores, o posicionamento e a focalização corretos.

Um aspecto importante nas definições dos projetos é a quantidade de luz a ser projetada no espaço projetado, pois seu reflexo
no plano reflete a luz para os espaços superiores, também causando poluição luminosa.

* Plinio Godoy é engenheiro eletricista especializado em lighting design. É consultor e lighting designer sênior da CityLights.
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Iluminação pública e urbana

Capítulo XII

Plano mestre de iluminação urbana


Por Plinio Godoy*

Chegamos ao capítulo final do nosso curso sobre iluminação Uma ferramenta poderosa: plano mestre de
pública e urbana. Quero aproveitar para contar um segredo: não iluminação urbana
existe iluminação pública. Tudo o que iluminamos em uma cidade é
iluminação urbana. Uma cidade, quando analisada de maneira imediata, é fruto de
O conceito de iluminação funcional e ambiente está ultrapassado. decisões anteriores, que se relacionaram com decisões mais antigas,
O que temos, sim, é que estudar a cidade, as pessoas que usam esta e assim sucessivamente.
cidade, como as pessoas usam esta cidade, as relações de vivência A intenção de arrumar o sistema de iluminação desta
e percepção dos espaços públicos no período noturno, para assim cidade é interessante e demonstra uma visão de coerência,
desenvolver sistemas coerentes e harmônicos não somente com as organização e, acima de tudo, planejamento, pois estamos
construções, mas sim com os momentos urbanos. lidando com um complexo sistema que acontece em um
Então, fechando esta sequência de capítulos, abordaremos esse complexo ambiente, o sistema de iluminação urbana no
assunto, a iluminação urbana. ambiente urbano.

Figura 1 – Mapa de sistemas – Plano Mestre de Iluminação de Fortaleza (CE) – Citylights.


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Figura 2 – Imagem aproximada do Plano Mestre de Iluminação de Fortaleza (CE) – Citylights.

A Figura 1 mostra o exemplo do sistema de iluminação urbana uma série de ações e investimentos que podem ser desenvolvidos
desenvolvido para a cidade de Fortaleza, em que se pode perceber em um período grande de tempo, de maneira regionalizada e
os vários sistemas entrelaçados. sistêmica, objetivando a evolução do sistema atual para o sistema
O planejamento deve ser estabelecido para dar sequência a desejado.
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30 O plano mestre é, assim, um conjunto de estudos por • Desenvolvido


assuntos e por regiões, desenvolvido de maneira a criar
Iluminação pública e urbana

as soluções não somente tecnológicas, mas também de Um espaço público desenvolvido no seu aspecto da
planejamento e caminhos para onde a iluminação da cidade iluminação é aquele que cria um ambiente produtivo, seguro,
pode ser desenvolvida, tendo, desse modo, um norte a ser que incentive a economia e o turismo, que faça com que o
buscado. cidadão se sinta cuidado e que o poder público tenha a intenção
de investir de maneira correta, visando seus moradores e
O real objetivo de um plano mestre de visitantes.
iluminação É fácil perceber uma cidade desenvolvida, quando a própria
cidade é vista, apreciada e convivida de maneira natural, quase
O resultado do plano mestre é composto por uma grande ficando a iluminação despercebida, pois quando temos os
pesquisa junto à população para entender os anseios e desejos sistemas funcionando bem, vemos a cidade, as construções, os
diante da realidade encontrada na cidade no período do espaços.
desenvolvimento do plano.
Com esta análise, são desenvolvidas propostas e soluções
para os sistemas de iluminação:

• Para transporte;
• Para pedestres;
• Para valorização;
• De conexão.

O real objetivo de um plano mestre de iluminação será


sempre o cidadão. Assim, desenvolvemos as soluções para criar
um ambiente noturno: Figura 3 – Imagem aproximada do Plano Mestre de Iluminação de
Fortaleza (CE) – Citylights.

• Seguro A iluminação é percebida quando temos problemas, mesmo


que muitas vezes não consigamos identificá-los.
Um ambiente urbano seguro é fruto de uma série de ações
do poder público, como iluminação, ações culturais, ações • Social
econômicas, segurança pública etc.
A iluminação pode auxiliar bastante na segurança, criando Trabalhamos com o conceito da “iluminação social”, ou
um ambiente interessante para o uso noturno, porém, sozinha seja, desenvolvemos as soluções buscando sempre os anseios da
não pode resolver o problema. Se muita luz fosse suficiente população.
para resolver a criminalidade, não teríamos problemas durante As informações que colhemos para este desenvolvimento são
o dia. obtidas diretamente com vários vetores da sociedade, por meio de
reuniões temáticas e coordenadas, buscando respostas às questões
• Coerente não referentes à luz da cidade, mas sim quanto à sensação das
pessoas, à necessidade de conexão, de sentimentos de segurança e
A coerência está na busca de soluções conectadas, outras muitas questões inerentes ao uso da cidade.
intermodais, que possam resolver questões múltiplas,
minimizando investimentos e complementando soluções.
Com o advento de tecnologias digitais, os sistemas de
iluminação podem participar de soluções de comunicação
digital muito importantes para alcançarmos as “cidades
inteligentes”, o que por si só é assunto para um novo curso
completo.
A base da implementação dos sistemas está na coerência
projetual, buscando minimizar intervenções e investimentos,
criando sistemas escalonáveis e “à prova de futuro”. Figura 4 – Pesquisa de iluminação social, em Vitória (ES) – Citylights.
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Figura 5 – Análise morfológica e social, em Vitória (ES) - Citylights


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32 • Ecológico São desenvolvidos, também, os estudos de migração tecnológica,


analisando o sistema existente e o potencial de redução energética:
Iluminação pública e urbana

Todas as soluções que são desenvolvidas devem obedecer a um


princípio ecológico, pois os sistemas de iluminação criam impactos Migração tecnológica
consideráveis nos ambientes urbanos, como a energia consumida, a Elaborando assim os cálculos para todas as vias selecionadas,
poluição visual, a obediência dos usos e costumes da população e a chegando a um sistema proposto estimado.
temporalidade urbana.

Figura 6 - Infografia do plano mestre de Vitória (ES) – Citylights.

Planejamento

Uma vez desenvolvidos os sistemas, um planejamento de inves­


timentos por sistemas e por região deve ser desenvolvido, dando ao
município as direções e as estimativas dos cronogramas e investimentos.

Figura 7 – Divisão regional e investimentos para o plano mestre de Vitória (ES) – Citylights.
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A aplicação de sistemas digitais pode maximizar a redução energética por meio de sistemas autônomos ou de telegestão.
Iluminação pública e urbana

Tanto a migração tecnológica quanto os sistemas digitais a serem planejados são constantes assuntos discutidos nos municípios,
principalmente nos certames que visam a implementação de Parcerias Público-Privadas (PPPs).

Migração tecnológica
Considerando sistema de Dimerização e Telegestão:

Conclusão

Figura 8 – Plano Mestre de Iluminação, em Fortaleza (CE) – Citylights


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Iluminação pública e urbana

Figura 9 – Exemplo de solução com multiplataformas. Fonte: Schréder.

Pensando um passo à frente soluções a serem adotadas.


Um exemplo de novas tecnologias e soluções são as
Quando uma cidade percebe que há a necessidade de multiplataformas, que utilizam a presença do ponto de luz
“arrumar” a iluminação, estabelecer um sistema coerente, para ampliar a sua utilização através de tecnologia digital.
planejando as ações e investimentos, quer por necessidade Estabelecer a conexão tecnológica com os processos
de assumir a coordenação da iluminação ou desenvolver um administrativos relacionados é uma questão que o
plano de ações e objetivos visando a criação de um sistema de planejamento deve considerar, pois com a multiplataforma,
valores para uma Parceria Público-Privada, temos no Plano não somente estaremos nos relacionando com a luz, mas
Mestre de Iluminação Urbana a ferramenta certa. também com outros sistemas, como segurança, serviços ao
Importante é entender que a qualidade da iluminação público e tarifações.
não está somente na quantidade de luz nas vias e calçadas. Devemos perseguir este objetivo, estabelecendo uma
A cidade é um universo mutante, em desenvolvimento relação produtiva entre o bom e o rentável, pois somente assim
constante, social e tridimensional, temporal, que é utilizada conseguiremos criar processos projetuais e de investimentos
de diferentes maneiras em diferentes momentos. sustentáveis.
A iluminação é uma ferramenta poderosa de coesão
e desenvolvimento social e deve ser assim considerada,
provendo muitos benefícios aos cidadãos.
De posse de um plano mestre, os administradores podem
estabelecer objetivos claros de sistemas, desenvolver soluções * Plinio Godoy é engenheiro eletricista especializado em lighting
técnicas relacionadas, padrões de materiais e níveis de design. É consultor e lighting designer sênior da CityLights.
investimento.
FIM
Um plano mestre não adentra o projeto executivo, que
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deve ser desenvolvido quando for a intenção de execução, Dúvidas, sugestões e comentários podem ser encaminhados para
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pois as mudanças tecnológicas podem definir as melhores

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