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CAPÍTULO 10

TRANSISTORES ESPECIAIS

INTRODUÇÃO da barra, é aplicada uma camada de silício do


tipo oposto ao do material do canal (tipo N ou
Os laboratórios das grandes fábricas de P). Neste material é feito contato ôhmico,
dispositivos semicondutores procuram formando a porta ou gatilho (gate).
continuamente melhorar as características e A figura 10-2 ilustra a constituição física
diminuir as limitações dos transistores utilizados dos transistores TECJ com canais tipo N e P e
e também descobrir novos tipos com os respectivos símbolos. Conforme o material
características diferentes que permitam do canal seja do tipo N ou P, a seta aponta
aplicações até então fora do campo dos respectivamente, para dentro ou para fora do
transistores e, de maneira geral, dos semi- transistor.
condutores. No TEC canal P, por exemplo, a seta é
Foram estão criados numerosos tipos de dirigida para fora do transistor. Com efeito, se o
transistores, muitos dos quais baseados no material do canal é do tipo N, o gatilho é
mesmo princípio de operação do transistor formado de material tipo P e, portanto, a seta
bipolar, mas, fabricados por meio de técnicas aponta para dentro.
novas ou modificações das técnicas já NOTA: Usaremos indistintamente as seguintes
conhecidas. Outros tipos de transistores nomenclaturas: porta ou gatilho (P de porta ou
baseiam-se em princípios diferentes do G de gatilho); fonte ou supridouro (S de source
transistor bipolar. São esses tipos que ou de supridouro).
estudaremos a seguir.

TRANSISTOR DE EFEITO DE CAMPO

O transistor de efeito de campo,


conhecido como TEC ou FET (Field Effect
Transistor), apresenta características elétricas
bastante interessantes que permitem sua
utilização numa gama muito grande de
aplicações práticas.
A diferença fundamental entre os
transistores de efeito de campo e os de junção
convencionais é que nos primeiros, a corrente é
dada pelo fluxo de portadores de um só tipo. Por
este motivo, os transistores de efeito de campo
são conhecidos como transistores unipolares em
contraposição aos demais que são bipolares.

Construção física

O mais comum dos transistores de efeito


de campo é o tipo de junção, também chamado
de TECJ ou JFET. A figura 10-1 ilustra uma
sequência da constituição física do TEC. Ele é
formado por uma minúscula barra de silício, que
pode ser tipo “N” ou “P”, formando o que é
conhecido com o nome de canal.
Em cada extremo da barra são feitos
contatos ôhmicos que são chamados de dreno Figura 10-1 Seqüência da constituição física do
(drain) ou fonte (source). No centro, em torno TEC canal N

10-1
Podemos observar, em A da figura 10-3,
onde a polarização é somente de 2 volts, que a
corrente através do canal do transistor é grande;
ao contrário, em B, onde temos a tensão de –6V
no gatilho, a corrente é bem menor. A diferença
entre um TEC canal N e outro de canal P é a
inversão da polaridade de todas as tensões, da
mesma forma como nos transistores comuns do
tipo PNP e NPN.

Curvas características

A figura 10-4 mostra as curvas


características de um TEC típico canal N.
Observamos que a corrente de dreno é
máxima, ou seja, a corrente de saturação (8
Figura 10-2 Constituição física e símbolos dos mA), quando a polarização entre gatilho e
transistores TEC canal tipo N e supridouro é igual a zero.
canal tipo P Quando aumentamos a polarização
inversa, a corrente no dreno diminui gradati-
Funcionamento vamente até chegar a zero. Isto acontece quando
a tensão é de –6V aproximadamente. Esta
Podemos observar, na figura 10-3, a polarização inversa, necessária para suprimir
polarização normal de funcionamento do TEC totalmente a corrente através do transistor, é
canal tipo N. chamada de tensão de corte.
O gatilho, normalmente polarizado
inversamente em relação à fonte, faz com que a
entrada tenha alta impedância. A tensão
aplicada ao gatilho tem alto poder de controle
sobre a corrente fonte-dreno, por causa do
aumento da área de depleção e redução da área
efetiva de condução.

Figura 10-3 Variação da corrente em função da Figura 10-4 Curvas características de um TEC
polarização inversa canal N

10-2
Esta tensão de corte, para a maioria dos A principal vantagem do transistor de
transistores TEC está situada entre –6 e –10V. efeito de campo diz respeito à sua impedância
Podemos também verificar, através de de entrada que, na realidade, é dada pela
curvas, que a variação de tensão do dreno acima impedância de um diodo inversamente
do joelho (5 volts) tem pouca influência sobre a polarizado, podendo atingir, dependendo do tipo
corrente de dreno (ID). do TEC, valores tão altos como centenas de
Pelo espaçamento regular que se obtém megohms. Isto possibilita aplicações
com polarizações até –2 volts nota-se que o impossíveis para os transistores bipolares.
transistor pode amplificar sinais pequenos com Finalmente devemos apresentar outro
um mínimo de distorção. tipo de transistor de efeito de campo, o chamado
A resistência interna entre dreno e fonte IGFET (Insulated Gate Field Effect Transistor),
varia conforme a polarização; assim, temos com também chamado MOSFET (Metal Oxide
zero volts no gatilho (porta) uma resistência Semiconductor Field Effect Transistor).
interna por volta de 150 ohms, enquanto que O funcionamento deste transistor é
com polarização inversa acima de –6 volts diferente do anterior no sentido de que, com
obtem-se valores superiores a 1000 megohms. tensão VGS nula, não há nenhuma condução no
O TEC, da mesma forma como os dreno.
transistores comuns, também pode ser usado em Quando aplicamos uma tensão positiva,
3 configurações, sendo que a mais usada é o por exemplo, no caso da figura 10-6, surge na
supridouro ligado à massa, que corresponde ao superfície da região N um canal tipo P,
circuito emissor à massa. correspondente ao dreno e à fonte, pos-
Como podemos observar, o circuito é sibilitando, então, o deslocamento de buracos
muito semelhante ao de um amplificador usando entre a fonte e o dreno.
válvula triodo. A vantagem deste tipo de transistor é a
A autopolarização do TEC pode ser feita elevadíssima impedância de entrada, e é com
da mesma maneira como na válvula, isto é, pelo este tipo que se consegue obter os valores mais
resistor do supridouro. Por exemplo, se elevados.
escolhermos o ponto de trabalho do transistor Outra extraordinária vantagem deste
em 5 miliampéres e verificarmos, pelas curvas último tipo de FET é que ele possibilita a fácil
características, que para isso é necessária uma fabricação de complexos arranjos integrados
polarização no gatilho de –1 volt, o resistor de com aplicações sem limites no campo digital.
supridouro (R1) deve ter um valor de:
1V
R1 = 200 ohms .
0,005 A
O resistor é normalmente escolhido em
função da frequência de trabalho. O resistor R2
corresponde à resistência de carga (RL). A fase
do sinal de saída está 180 graus invertida em
relação ao sinal de entrada.

Figura 10-6 Constituição e símbolo do


Figura 10-5 Amplificador típico com TEC MOSFET canal P

10-3
TRANSISTOR DE UNIJUNÇÃO quando IB2 for igual a zero, a curva
característica relacionando IE e VE será a de um
O transistor de junção única (TJU ou diodo comum, como podemos observar na
UJT) é um dispositivo semicondutor de três “curva 1” da figura 10-8.
terminais que tem sua principal aplicação em Devemos observar que nesta figura a
circuitos osciladores não senoidais e de corrente IE está representada no eixo das
comutação. abscissas e a tensão VE no eixo das ordenadas, o
A figura 10-7 mostra a constituição que explica o aparecimento diferente da “curva
física e o símbolo do transistor de unijunção. 1” de um diodo comum.
Ele é constituído por uma pequena barra de Além disto, devemos salientar que a
silício do tipo N, na qual são feitos contatos “curva 2” foi traçada para uma dada tensão VBB,
ôhmicos nos extremos que são denominados obtendo-se curvas com aspecto semelhante para
Base 1 (B1) e Base 2 (B2) e na parte lateral é diferentes tensões de VBB.
feita uma junção PN, na qual também é feito um
contato ôhmico, o que constitui o emissor.
Eletricamente, o TJU atua como divisor
resistivo de tensão, entre B1 e B2 e um diodo no
centro.

Figura 10-8 Curvas características de um


transistor unijunção

Partindo do ponto “A”, à medida que a


tensão VE aumenta, a corrente vai aumentando
lentamente até que seja atingido o ponto
“B”(chamado de ponto de pico), a partir do qual
a tensão diminui e a corrente aumenta. Portanto,
o trecho BC é caracterizado pelo fato,
aparentemente contraditório, de uma dimi-
nuição da tensão provocar um aumento de
corrente.
Isto é explicado se considerarmos que,
Figura 10-7 Construção física, circuito no trecho BC, o dispositivo apresenta uma
equivalente e símbolo elétrico resistência negativa, característica esta que
do TJU permite a aplicação do transistor de unijunção
em osciladores (geradores dentes-de-serra, mul-
Curvas características tivibradores, etc).
A figura 10-9 mostra as curvas
Vimos que entre as bases B1 e B2, o características de saída do transistor de
dispositivo apresenta a característica de um unijunção.
resistor comum. Quando a base B2 está aberta, Podemos observar a relação entre a
isto é, quando IB2 é igual a zero, temos apenas corrente IB2 e a tensão de saída, entre as bases,
no circuito a junção E-B1, polarizada para diferentes valores da corrente no emissor
diretamente pela bateria VEE. Isto significa que, (IE).

10-4
Figura 10-9 Curvas características de um
transistor de unijunção,
relacionando IB2, VBB e IE

Aplicação

Um exemplo simples da aplicação do


TJU é o circuito da figura 10-10 que é um
oscilador de relaxação.
Quando o interruptor é ligado, a ação
divisora de tensão, da resistência da barra de
silício do TJU, da base um e da base dois, em
série produz uma queda de 12 volts,
aproximadamente, entre a base um e o lado N
da junção do emissor. Figura 10-10 Oscilador de relaxação
Neste momento, a tensão do emissor é
zero, por causa do capacitor C1. O capacitor C1 Cada vez que o emissor se polariza
começa a adquirir carga através do resistor R1. diretamente, diminui a resistência total entre as
Quando a tensão do capacitor chega a 12 volts, bases um e dois, o que permite um aumento na
a junção do emissor se polariza diretamente e corrente que passa pelo TJU.
começará a fluir uma corrente pela base um, Como resultado, na base um aparecerá
reduzindo a resistência interna. Esta ação um pulso positivo e na base dois um pulso
descarrega a energia armazenada no capacitor, negativo, no momento em que o capacitor se
através do resistor R3. Logo, o ciclo se repete e descarrega. Assim temos no emissor uma onda
o capacitor se recarrega e volta a descarregar-se. dente-de-serra.

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