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O Lugar da Focalização
Viajantes no Tempo:
Alípio Torre
Fátima Martins
21 de Novembro de 2009
A Hipnose Ericksoniana: O lugar da Focalização
INTRODUÇÃO
A nossa vida é um percurso análogo a uma viagem. Por isso, hoje, iremos
contar-vos aquilo que sabemos sobre uma viagem particularmente interessante
às profundezas do Ser, da mente, através da hipnose. Não sabemos exactamente
quando e onde ela teve a sua génese. No entanto, sabemos que as induções
hipnóticas são tão antigas quanto a comprovação da existência de civilizações
remotas, com diferentes culturas, danças, rituais, expressões orais, forças da
natureza, entre outros. Nestas civilizações toda a feitiçaria, o xamanismo, a cura
espiritual, o ioga e quase todas as práticas primitivas religiosas e terapêuticas
conjugavam-se e evidenciavam muitas das características análogas àquilo que,
hoje em dia, se designa por hipnose (Gauld, 1992).
Sabemos também que os povos de civilizações mais antigas, como sendo
os maias, os astecas, os persas e os gregos já utilizavam a hipnose como uma
forma de cura. Curiosamente, sabe-se que através dos papiros que no Egipto
eram compilados, os Sacerdotes induziam um certo tipo de “estado hipnótico”.
Estes, também considerados como “bruxos”, provocavam aquilo que chama de
“sono mágico”, através da imposição das mãos ou da realização de rituais
caracterizados por cantos e danças com um ritmo monótono induzindo um
certo “estado de transe” (Karle, 1995).
Também na Mitologia Grega pode-se ler que Asclépios (o Esculápio dos
romanos), filho de Apolo e Coronis, aprendeu com o centauro Quíron um tipo
de “sono especial” que curava as pessoas. Muitos dormiam no templo do deus,
e durante a noite dava-se a cura. Outros sábios, como o caso do médico e
filósofo iraniano Avicena, acreditava que a imaginação era capaz de tornar
uma pessoa doente e curá-la. Também Paracelsus, pai da medicina hermética,
acreditava na influência magnética das estrelas na cura de pessoas doentes.
Confeccionava talismãs com inscrições planetárias e zodiacais (Lynn & Rhue,
1991).
São imensos os registos disponíveis sobre diversas tribos ancestrais
espalhadas por todo o mundo que espelham os “estados de transe”
conseguidos com o objectivo da cura. Nestas tribos, acredita-se no corpo como
uma entidade que pensa e que sente, por isso, é natural, por exemplo, no seio
dos ancestrais das tribos australianas, quando uma pessoa adoece ou fica ferida,
toda a tribo se reúna junto ao doente, cantando e pedindo perdão à ferida ou à
parte afectada e, curiosamente, esta começa, automaticamente a dar sinais de
melhoria podendo mesmo ocorrer curas “milagrosas”. O mesmo ocorre nas
assombrosas curas dos Kahunas ou médicos magos havaianos, que entram
numa oração directa com a parte afectada, pedindo-lhe perdão. Esse acto de
oração envolve os magos, o paciente e todas as vidas durante as quais eles
possam ter-se encontrado e envolvido com essa pessoa. E também com estes,
ocorrem curas consideradas “milagrosas” (Lynn & Rhue, 1991).
Ao longo desta viagem, encontramos estes simples exemplos, que apesar
de carecerem de uma base dita científica, mostram que os estados de hipnose
ou de transe são um legado antigo do qual não se conhece a sua génese.
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A Hipnose Ericksoniana: O lugar da Focalização
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Após a leitura da tabela anterior, verificamos que estas diferenças são mais
a nível da forma e da estrutura. A abordagem Ericksoniana pressupõe que o
terapeuta seja o catalisador entre o paciente e os seus problemas, deixando-o,
livremente na escolha das experiências que deseja ter. É dentro do paciente que
são encontrados os recursos necessários para resolver os seus problemas.
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minha voz… pode ainda sentir a brisa que vem de longe, uma brisa suave, que toca na
sua face… ternamente… suavemente… confortavelmente… ao mesmo tempo que sente
o calor dos raios do sol em todo o seu corpo… respirando… inspirando…. expirando …
muito tranquilamente…como é bom sentir toda essa harmonia e tranquilidade… à
medida que se vai concentrando na minha voz…calmamente ouvindo tudo aquilo que
tenho para lhe dizer…maravilhosamente ouvindo e sentindo…e você pode lembrar-se
desta experiência… e continuar a desfrutar dela mais tarde… sempre que
quiser…permitindo que a sua mente inconsciente se lembre dela… e faça o que tiver que
fazer… para poder continuar a sentir um conforto interior… um lugar seguro,
protegido… onde pode sempre regressar…sempre que queira… e agora, quando estiver
preparada… ouvirá a minha voz contar até três… e nesse momento, despertará muito
tranquilamente… abrindo os olhos calmamente… 1… desfrutando desta maravilhosa
dança com a natureza e com a vida… 2…sentindo-se feliz como quer ser… 3…abrindo
os olhos…
REFLECTINDO…
O presente trabalho versou sobre o lugar da focalização no transe
hipnótico, permitindo fazer uma viagem desde o inicio da hipnose até aos
nossos dias. Neste percurso, compreendemos as dificuldades inerentes a todo o
processo, nomeadamente, na construção de induções hipnóticas focalizadas no
paciente e nos seus próprios problemas, utilizando estímulos congruentes com
o seu discurso interno. Compreende-se, então, a necessidade imperiosa do
rapport e do conhecimento do paciente, como facilitador da indução e da
componente terapêutica que está a ela associada.
Por outro lado, consciencializamos que a focalização, apesar de poder ser
vista como um padrão de linguagem na hipnose Ericksoniana, o seu alcance é
bastante mais amplo e interdependente em todo o processo. Tal como Erickson
referia, o seu modelo é um modelo de hipnose focalizada, o que significa que esta
se encontra patente em todo o processo, não somente como técnica mas também
como método, que proporciona e auxilia a viagem ao interior de cada ser
humano.
Por fim, resta-nos sublinhar que a hipnose, em seu sentido ético e
deontológico, deverá ser sempre preconizada com vista ao bem-estar físico,
psicológico, social e espiritual do paciente e nunca com proveitos duvidosos ou
ganhos secundários. A hipnose informal e conversacional proposta por
Erickson poderá, assim, ser utilizada em todos os pacientes (mesmo os mais
resistentes) e adequando-a a todos os problemas. Nesta linha de pensamento,
ela não é mais do que uma deliciosa dança, na qual participam dois actores: o
terapeuta e o paciente (enquanto verdadeiro expert da sua doença). Por isso,
corroboramos da máxima Ericksoniana que nos diz que: não há pacientes
resistentes, mas hipnoterapeutas incompetentes.
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