Você está na página 1de 4

G UIA DE REACÇÕES ADVERSAS A MEDICAMENTOS Ú LTIMA A CTUALIZAÇÃO : 30/10/2012

R EACÇÕES A DVERSAS C ARDIOVASCULARES

DESEQUILÍBRIOS HIDROELETROLÍTICOS
D ESCRIÇÃO
Hiponatremia/hipovolemia- Diminuição da concentração do ião sódio no plas-
ma para níveis inferiores a 135mEq/L. A hiponatremia pode conduzir a alterações a
nível do sistema nervoso central (dor de cabeça, letargia, estupor e coma – em casos
severos), alterações a nível do trato gastrointestinal (anorexia, náusea, vómitos, cai-
bras abdominais, diarreia) e alterações a nível dos músculos esqueléticos (caibras e
fraqueza).

Hipocaliémia- Diminuição da concentração do ião potássio no plasma para níveis


inferiores a 3,5 mEq/L. Quando a concentração atinge valores inferiores a 2mEq/L
estamos perante uma hipocaliémia grave. Com a hipocaliémia ocorrem alterações
gastrointestinais (anorexia, náuseas, vómitos, distensão abdominal, ileoparalítico),
alterações neuromusculares (fraqueza, fadiga, caibras, parestesias, paralisia - hipoca-
liemia severa), alterações a nível do sistema nervoso central (irritabilidade, confusão,
depressão), e alterações cardíacas (hipotensão postural, alterações no traçado de ele-
trocardiograma-prolongamento do intervalo PR, depressão do segmento ST, achata-
mento da onda T e uma onda U proeminente- bradicardia e disritmias cardíacas).

Hipercaliémia - A concentração de ião potássio no plasma é superior a 5 mEq/L.


Podem ocorrer alterações a nível gastrointestinal (náuseas, cólicas intestinais vómitos
diarreia), alterações neuromusculares (fraqueza, tonturas, caibras, paralisia - hiperca-
liémia severa), cardiovasculares (alterações no ECG – onda P achatada, prolonga-
mento do segmento PR, ampliação do QRS, onda P pontiaguda, risco de paragem
cardíaca - hipercaliémia grave). Uma causa de falsa hipercaliémia reside na hemólise C ONTEÚDO
dos glóbulos rubros aquando da colheita de sangue.
D ESCRIÇÃO 89
Hipercalcemia- A concentração do ião cálcio no plasma é superior a 10,5 mg/dL.
M ECANISMO 90
Podem ocorrer alterações renais (poliúria, dor, sinais de insuficiência renal aguda), F ISIOPATOLÓGICO
alterações neuromusculares (diminuição da excitabilidade, fraqueza muscular, letar-
gia, alterações de personalidade, estupor, coma), alterações cardiovasculares EVOLUÇÃO 91
(hipertensão, redução do intervalo QT, bloqueio atrioventricular) e alterações gas-
trointestinais (anorexia, náuseas, vómitos, obstipação). FÁRMACOS ENVOL- 91
VIDOS
Hipomagnesémia – A concentração de magnésio no plasma é inferior a 1,8mg/
dL. Podem surgir alterações neuromusculares (alterações de personalidade, fraqueza TRATAMENTO 91
e fragilidade muscular, tétano e caibras musculares) e efeitos cardiovasculares B IBLIOGRAFIA 92
(taquicardia, hipertensão, disritmias cardíacas).

P ÁGINA 89
G UIA DE REACÇÕES ADVERSAS A MEDICAMENTOS
DESEQUILÍBRIOS HIDROELETROLÍTICOS

MECANISMOS FISIOPATOLÓGICOS
A perda de água ocorre por evaporação adrenérgicos também alteram a redistri-
pelo aparelho respiratório, pela pele buição do K+ podendo por este mecanis-
através da transpiração, pelas fezes e mo surgir hipocaliemia. A hipercaliémia
urina, e encontra-se aumentada em pode ocorrer em situações de insuficiên-
situações de febre, queimaduras, distúr- cia renal e decorre de redução da aldos-
bios gastrointestinais, redução do aporte terona a qual reduz a atividade da bomba
hídrico, entre outras. A quantidade de Na-K-ATPase, ou devido à inibição do
água excretada pelos rins depende da efeito caliurético da aldosterona
quantidade ingerida e está relacionada (trimetoprim, pentamina e diuréticos
com o balanço eletrolítico. O rim regula poupadores de potássio), pode ocorrer
a pressão arterial, retendo sódio quando por redistribuição do potássio intra/
a pressão arterial desce e elimina sódio extracelular (β-bloqueadores, manitol,
quando a pressão arterial se eleva. Este succinilcolina e digitálicos), ou por
processo é comandado pelo sistema ner- redução da excreção de K+. A redução
voso simpático e o sistema aldosterona- da excreção de K+ pode dever-se à inibi-
renina-angiotensina. ção da enzima conversora da angiotensi-
O sódio contribui 90 a 95% para a na, a antagonistas dos recetores da
“A quantidade osmolaridade do líquido extracelular. A angiotensina (provocam redução de
de água hiponatremia hipotónica pode resultar aldosterona e alteram a Taxa de Filtra-
da passagem de água do compartimento ção Glomerular, reduzindo deste modo
excretada a excreção de K+), a diuréticos poupa-
intracelular para o compartimento
pelos rins extracelular, que ocorre, entre outras dores de potássio (espironolactona,
depende da situações, com a hiperglicemia. A forma amiloride). A toxicidade cardíaca de
quantidade mais comum de hiponatremia hipotóni- alguns fármacos (ex: digoxina) pode ser
ca resulta da retenção de água, mas pode potenciada pela hipocaliémia.
ingerida e está
também ser induzida por fármacos como Os níveis de cálcio no soro são regula-
relacionada os diuréticos e fármacos que aumentam dos pela hormona paratiroideia e pela
com o balanço a libertação da hormona antidiurética ou vitamina D. A calcitonina atua ao nível
eletrolítico.” por potenciar o seu efeito renal do rim e do osso removendo o cálcio de
(carbamazepina, lamotrigina, ciclofosfa- circulação. O cálcio é filtrado no glomé-
mida, inibidores da recaptaçao da sere- rulo e reabsorvido no tubo distal através
tonina). do sistema Na+ /K+/Cl2-. A vitamina D
O potássio é o segundo ião mais estimula a reabsorção do cálcio no tubo
importante no compartimento intrace- distal. A causa mais comum de hiperca-
lular, sendo o principal eletrólito intra- liemia é o aumento da reabsorção do
celular. A concentração de potássio pode osso causado por neoplasias ou hiperpa-
estar reduzida por aumento da sua eli- ratiroidismo. A imobilização prolonga-
minação pela urina, fezes, por vómitos da, o aumento da absorção intestinal e o
ou por desvio do potássio para processos aumento de vitamina D podem originar
celulares. Fármacos diuréticos (à exce- hipercalcemia.
ção dos poupadores de K), aumentam a O uso abusivo de laxantes diminui a
eliminação renal do potássio, podendo absorção intestinal de magnésio. A
causar hipocaliemia, principalmente os perda renal de magnésio pode ser
de ação mais potente e/ou longa. A aumentada por alguns fármacos como
excreção do potássio pode estar aumen- diuréticos principalmente os diuréticos
tada por aumento da permeabilidade da de ansa, e por fármacos nefrotóxicos
membrana do tubo distal devido à liga- como aminoglicosideos, ciclosporina,
ção de fármacos (ex: anfotericina B) aos cisplatina e anfotericina B.
esteroides das membranas. A hipocalie-
mia pode resultar da passagem de potás-
sio e glicose para as células devido ao
uso de insulina. Fármacos agonistas β- P ÁGINA 90
DESEQUILÍBRIOS HIDROELETROLÍTICOS

EVOLUÇÃO
A maioria das alterações hidroeletroliti- cardíaca, diabetes, SIDA e insuficiência
cas induzidas por fármacos reverte após renal. Nalguns casos, as alterações pro-
suspensão do fármaco e suporte hidroe- vocam danos irreversíveis como por
lectrolítico. Situações de hipercaliemia exemplo a hipomagnesemia induzida
E XEMPLOS DE F ÁRM A- severa podem ser graves, principalmen- pela cisplatina.
COS E N VOL VIDOS te quando existem outras patologias
associadas como no caso de algumas
• ANTIDEPRESSIVOS
doenças concomitantes como doença
• C ARBAMAZEPINA

• L AMOTRIGINA
FÁRMACOS ENVOLVIDOS
• C ICLOFOSFAMIDA
Hiponatremia provocada por ciclosporina, citotóxicos, digitálicos
• D ESMOPRESSINA diluição- antidepressivos, carbamaze- (overdose), lítio, anti-inflamatórios não
pina, lamotrigina, ciclosfosfamida, des- esteroides, espironolactona, eplerenona,
• D IURÉTICOS
mopressina, diuréticos, imunoglobulina succinilcolina, triamtereno, trimeto-
IV, octreótido, vincristina. prim.
• M ANITOL
Hiponatremia provocada por Hipercalcemia – alquilantes, tiazidas,
• A NFOTERICINA B excreção – diuréticos, enemas e mani- vitamina D.
tol.
• C ORTICOSTEROIDES Hipermagnesemia – alquilantes, diu-
Hipocaliemia – anfotericina B, corti- réticos, anfotericina B.
• G ENTAMICINA coides, diureticos, gentamicina, insuli-
na, laxantes (abuso), diureticos osmoti-
• I NSULINA cos, agentes simpaticomimetricos, tetra-
ciclinas, teofilina, vitamina B12.
• L AXANTES
Hipercaliemia – inibidores da enzima
• V ITAMINA D conversora da angiotensina, amilorida,

TRATAMENTO
Hiponatremia/hipovolemia grave administrar por perfusão solução
salina hipertónica. Nos casos de acidose
Administração de soluções salinas por via
administrar bicarbonato de sódio por
oral ou endovenosa, dependendo da
perfusão e solução isotónica de glucose.
severidade (moderada- solução isotónica
Em situações severas com toxicidade
0,9% NaCl; Severa-Solução hipertónica
cardíaca poderá ser necessário adminis-
3,0% NaCl). Na hiponatrémia de dilui-
trar cálcio (gluconato de cálcio a 10%)
ção a terapêutica pode incluir a restrição
IV. Poderá utilizar-se resina removedora
de ingestão de água.
de catiões.
Hipocaliemia – Administração oral ou
Hipercalciemia – Uso de diuréticos
por via endovenosa de potássio em per-
para facilitar a excreção. Uso de bifosfa-
fusão lenta. Em certos casos os diuréticos
tos, calcitonina e glucocorticoides para
poupadores de potássio podem ser utili-
inibir a mobilização do cálcio dos ossos.
zados
Hipomagnesemia – Na moderada e
Hipercaliemia – Administração de
diuréticos que aumentem a excreção de severa administrar magnésio por via
potássio. Na hipercaliemia moderada e parenteral.
P ÁGINA 91
DESEQUILÍBRIOS HIDROELETROLÍTICOS

Autores
Márcia Maria M. Silva, Farmacêutica Estagiária na Unidade de Farmacovigilância do
Norte
Inês Ribeiro Vaz, Técnica de Farmacovigilância da Unidade de Farmacovigilância do
Norte
Joana Marques, Técnica de Farmacovigilância da Unidade de Farmacovigilância do Norte
Jorge Polónia, Professor na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto e
Coordenador da Unidade de Farmacovigilância do Norte

Agradecimentos
Unidade de Farmacovigilância do Sul

D ISPONÍVEL ONLINE ATRAVÉS DOS SITES:


ufn.med.up.pt
Ufs.ff.ul.pt

B IBLIOGRAFIA C ONSULTADA
1. Harrison’s. Vol 1. “Principles of internal medicine”. 13th ed.

2. Wells B, Dipiro J, Schwinghammer T, Dirpiro C. Pharmacotherapy handbook. 7th ed: McGrawHill; 2009.

3. Walker R, Edwards C. Clinical Pharmacy and Therapeutics. 3rd ed: Churchill Livingstone; 2003.

4. Prontuário Terapêutico 9. Infarmed; 2010.

P ÁGINA 92

Você também pode gostar