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Tzong Kwan

Sabedoria
Revista bimestral do templo Tzong Kwan – Novembro.14

Volume 78

“Cada segundo passado já é uma vida passada e cada segundo


que está por vir é uma vida futura. É uma outra forma de ver o
renascimento: a vida segundo a segundo, pensamento a
pensamento.”
(Mestre Pu Hsien)
Seja bem Vindo!
O Templo Tzong Kwan está aberto para visitas de:
-Segunda a sexta-feira, das 14h às 16h30.
-Sábado e domingo, das 9h30 às 15h.
*Aos sábados – Meditação das 15h às 16h para Principiantes
- Meditação das 16h às 17h50 para Iniciados
- Ensinamentos sobre o Buddhismo, das 18h às 18h30.
*Aos domingos – Recitação de Sutras (primeiro em chinês e em seguida
em português) das 9h30 às 11h30.
Endereço: Rua Rio Grande, 498. Vila Mariana.
CEP: 04018-001
São Paulo - Capital
*Horário de atendimento telefônico de segunda a domingo 14h às
16h30.
Tel: (0xx11) 5082-3160/ 5084-0363
Email: tzongkwan@gmail.com
*Endereço de acesso às traduções dos Sutras: www.dharmatranslation.org
*VIsite o site do Templo: www.tzongkwan.com.br

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Convite para Cerimônia de Luzes e Bênçãos

Aquele que faz o bem aos outros está sempre


em paz.
Aquele que cultiva a sabedoria terá sempre
uma mente mais ampla.
Se deseja paz e felicidade, faça ações benfazejas;
permaneça com a mente aberta e o pensamento
puro, faça sua parte o melhor possível e evite
julgar os demais.
Se souber ter contentamento em sua mente,
então nada lhe faltará!
A mente tranquila traz paz, a paz traz bem-
aventurança e esplendor.
Havendo contentamento, haverá felicidade e
boa fortuna!

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Propósito:
O templo trouxe as “Lamparinas da Longevidade” para que todos se

motivem a praticar e seguir o caminho espiritual com energia, irradiando

assim a luz que há no seu interior.

Requisitos:
1. Para acender uma lamparina, é necessário fazer antes um voto e se

comprometer a recitar o nome de um Buddha ou Bodhisattva 10.000 vezes

ao longo do ano de 2015. Para isso, deve-se fazer inscrição e pegar um

cartão na recepção. 2. É necessário completar a tarefa proposta no

decorrer do ano para que possa acender a lamparina na próxima

cerimônia referente ao ano de 2016. O número de lamparinas é limitado,

assim, poderão acender apenas uma com o nome de um representante

da família. São todos bem-vindos ao templo para oferecer incensos e

homenagens ao Buddha, gerando bênçãos para si, para a família e

para o mundo. Façamos votos de que a luz da compaixão e sabedoria

possa ser compartilhada com os seres de todas as partes.

Cerimônia de Luzes e Bênçãos: 28/12/2014 (domingo)


Horário: 9:30 (No mesmo dia haverá almoço vegetariano e uma
lembrança de ano novo)

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Sumário
Palestra do Venerável Mestre Pu Hsien em
08/08/2014 ................................................................. 7

A Bagagem que Carregamos .......................................22

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Palestra do Venerável Mestre Pu Hsien em 08/08/2014
Tradução: Mestre Zhi Han. Transcrição adaptada: Marco Moura.

Boa noite a todos. Ao final do dia, devem estar cansados do trabalho,


por isso vou começar com uma história para relaxar um pouco. É uma
história sobre os caminhos de vida relacionados ao trabalho, à família, às
relações humanas e à rotina da vida diária.
Em uma família humilde de baixa renda, um casal teve dois filhos
gêmeos com um minuto de diferença entre o nascimento dos dois. Os
irmãos eram muito parecidos. Eles cresceram e estudaram juntos e, no
momento de prestarem o vestibular para entrar na universidade, o irmão
primogênito foi aprovado, mas o segundo irmão não. Enfim, os pais só
tinham dinheiro para custear os estudos de um dos filhos.

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Por serem muito parecidos, com os mesmos sobrenomes e com nomes
muito parecidos, o irmão primogênito resolveu ajudar o seu irmão cedendo
a ele a sua vaga na universidade. O primogênito abriu mão da sua
oportunidade para favorecer ao seu irmão. Sem estudar e sem diploma,
foi procurar emprego e foi contratado por uma empresa fabricante de
cimentos.
Na empresa de cimentos, as condições de trabalho eram muito ruins e
envolviam riscos sérios à saúde dos empregados, como a falta de
equipamentos de segurança e o pó tóxico que inalavam. Diante dessa
situação, começou a pensar em meios de melhorar as condições desse
trabalho, não só para si mesmo, mas para todos os trabalhadores. Tomou
a iniciativa de mostrar suas ideias e planos estratégicos aos empregadores,
que gostaram muito e perceberam no rapaz várias qualidades admiráveis.
Aos poucos, foi ganhando reconhecimento, sendo promovido até chegar
a um cargo de gerência da empresa.
Quando o presidente da empresa já tinha idade avançada e tendo
como braço direito esse rapaz que era o irmão primogênito da história,
arranjou o casamento dele com sua filha, e lhe confiou a administração
da empresa.
Enquanto isso, o segundo irmão vivia de modo despreocupado. Era
alto, tinha boa aparência e vivia rodeado de garotas bonitas. Namorou
uma colega da faculdade que tinha excelentes condições financeiras e
decidiu casar-se pretendendo ficar rico às custas dela. Com isso, não se
preocupou em estudar mais ou em procurar emprego, tendo se graduado
na universidade com notas muito baixas. Em pouco tempo, sua esposa o
abandonou, pois não queria sustentar alguém que mostrava que nunca
teria êxito na vida. No fim das contas, ele ficou sem emprego, sem

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casamento e sem bens. Tentou então procurar emprego muitas vezes,
mas não se mantinha no cargo por muito tempo.
Um dia, viu o anúncio de uma empresa de cimentos oferecendo
emprego em várias áreas. Ele mandou seu currículo, que chegou ao chefe
da empresa, ou seja, ao seu irmão primogênito. Ao ver o nome de seu
irmão na lista de candidatos, o chefe da empresa disse ao gerente para
contratá-lo, sem que mencionasse o seu nome. Pediu que dissesse apenas
que o chefe da empresa queria contratá-lo inicialmente com um trabalho
básico, como ele começou: moendo pedras para transformá-las em pó.
Ouvindo isso do gerente, o irmão que se candidatou ao emprego se sentiu
depreciado, dizendo que o emprego era muito inferior à sua capacitação,
ao seu nível de escolaridade e ao seu status. Com raiva, pediu para falar
com o chefe da empresa que, segundo ele, não tinha visão.
O gerente o levou para falar com o chefe. Ao ver que era o seu irmão
primogênito, questionou: “você é meu irmão, como pôde me oferecer
uma função tão baixa de trabalho braçal?” O primogênito explicou que
havia começado dessa maneira, desenvolvendo-se e melhorando pouco
a pouco; não se pode classificar o
trabalho como superior ou inferior
- colocando o seu coração no
trabalho, ele tem muito valor. Disse
ao seu irmão que se quisesse trabalhar
lá, teria que começar assim. Revoltado
e sem entender a verdade do que o seu
irmão primogênito lhe disse, ele se foi.
Essa é uma história verdadeira que
se passou na China continental. O que quero ilustrar com essa história? Os

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irmãos eram gêmeos com apenas um minuto de diferença. Nasceram na
mesma família e, além disso, o segundo irmão teve mais facilidades por
ter ido à faculdade no lugar do irmão primogênito. Porém, o irmão
primogênito era esforçado, cultivava valores e, por seu mérito, conquistou
um bom emprego e uma boa condição de vida.

Em outras palavras, o
destino está nas mãos de
cada pessoa. O destino de
ninguém é fixo, ele
depende de cada um.

Há dois tipos de pessoas em nosso mundo: uma que pensa que o seu
destino - trabalho, família, vínculos sociais - está controlado por alguém,
ou seja, alguém está controlando e planejando o seu destino; o segundo
tipo de pessoa vê o destino como consequência da sua determinação -
suas convicções, suas ideias, seu planejamento. O que o Buddha diz a
esse respeito? Ele diz que cada
um tem que depender de si
mesmo, do Dharma verdadeiro
(lei de causa e efeito) e não
de outra coisa. Nós podemos
escolher sempre: se queremos
ser felizes ou sofredores, se
queremos êxito ou fracasso.

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Fiquei sabendo de algo curioso. Na Coréia, há um grupo onde as
pessoas mandam seus dados para que sejam combinados com um par
para se casarem. Há pessoas de outros países envolvidas, pessoas de outras
culturas. Eu me pergunto como alguém bem instruído pode depender de
outras pessoas para que digam com quem ela deve se casar.
Nessa
época, com tanta diversidade de opções, muitas pessoas
não confiam em sua própria capacidade de fazer escolhas,
então dependem de outras pessoas. Não é curioso?

Todos nós temos a


capacidade de mudar,
melhorar o nosso destino e
ter sucesso. Temos que
desenvolver as nossas vidas
e crescer. Em primeiro
lugar, através da
educação.

É preciso ler,
estudar, aprender
e entender como o
mundo funciona e
atualizar-se com
os seus
progressos.

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Para termos estabilidade econômica, é preciso implementar esse
conhecimento.

Em segundo lugar, deve-


se treinar a atenção e focar
a energia através da
meditação.

Em terceiro lugar,é
preciso desenvolver a
relação humana,
envolvendo respeito,
empatia e humildade
perante as outras pessoas.

Um filósofo russo deu uma palestra na Universidade de Harvard e disse


que o que acontece nos séculos XX e XXI é que muitas pessoas não têm
empatia pelo sofrimento dos outros. Quando uma pessoa é fria em relação
ao sofrimento alheio, ela não consegue ter uma boa relação humana.
Tenho outra história que se passou comigo aqui em São Paulo no bairro
da Liberdade. Quando cheguei aqui no começos dos anos 90, fiquei
hospedado em um hotel na Liberdade. A dona do hotel era uma senhora
viúva. Um hóspede charlatão certa vez disse a essa senhora que havia

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cinco cadáveres embaixo do hotel envolvidos em magia negra; se ela
não removesse esses corpos, haveria mais mortes em sua família além do
seu marido. Esse hóspede se ofereceu para quebrar a magia negra por
US$ 100.000,00. Depois desse trabalho, não haveria mais mortes em sua
família. A senhora veio pedir a minha opinião, sendo um monge budista.
Ela estava muito preocupada e em dúvida se pagava ou não ao rapaz.
Eu respondi:
- Eu também tenho poderes.
- E precisa de muito dinheiro para o que você precisa fazer? - perguntou
ela.
- Não, nenhum dinheiro será necessário.
- Você precisa de alguma data, de incensos ou materiais?
- Não, só necessito de cinco minutos.
- Então como pode resolver esse problema?
- Com conhecimento. Este hotel tem 20 andares, o que significa que
o seu fundamento deve ser muito profundo. Como seria possível há tanto
tempo atrás terem enterrado cadáveres aqui, onde não se poderia cavar
mais do que 3 ou 4 metros abaixo? Então o seu problema já está resolvido.
- Então não vou precisar dar nenhum dinheiro àquele rapaz?
- Não, esse rapaz ficou muito tempo no hotel, sabia da sua situação
familiar e quis se aproveitar.
A senhora ficou muito agradecida e quis me recompensar com dinheiro.
Eu agradeci e não aceitei, fiz apenas o meu trabalho como monge.

O que quero passar com essa história é que quando


alguém tem conhecimento e inteligência, não pode ser
facilmente enganado. Eu falei sobre o destino, que depende do

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esforço de cada um. Depende também da nossa visão, do nosso
entendimento de como o mundo funciona para que tenhamos uma
direção. Não é preciso recorrer a cartomantes ou magos para adivinhar o
seu futuro.

Com o conhecimento de
nós mesmos, das nossas
habilidades, podemos definir o
nosso destino.

Se uma pessoa quer ter sucesso,


ela precisa se valorizar. As pessoas
trabalhem em média 8h por dia. O
que acontece fora dessas 8h? Se a pessoa não lê livros, não estuda e não
desenvolve a sua cultura, só perde tempo em vão, como pode crescer? O
que você faz quando não está trabalhando?
Comecei dizendo que o destino está em suas mãos. Agora quero falar
sobre renascimento. Todos estão ansiosos para saber o que acontece ao
fim da vida: se há continuidade, para onde vamos, o que acontece no
período da morte até a vida seguinte.
Quando chega a morte, se
isso for o fim de tudo, não há
muito sentido na vida. Até hoje,
não sei de ninguém que tenha ido ao
céu e voltado para dizer: “hei, tudo bem
por lá, podem vir!” Também não

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conheço ninguém que tenha voltado do inferno dizendo: “ah, que sofrimento
por lá!”. Então quero fazer uma experiência com vocês para adentrarem
instantaneamente no céu e no inferno.
O Henrique está aqui. Se digo a ele que sua vida será um desastre, que
ele vai ser um mendigo e se casará com uma mulher horrível, que conseguirá
um trabalho terrível, que sua saúde será pior do que a de qualquer um… Se
digo isso, o que vai acontecer com ele emocionalmente? Ele vai se sentir
no inferno.
Na verdade, o Henrique é muito belo. Ele é nobre, inteligente, pode
aprender inglês e chinês facilmente… O seu futuro será de muita luz e de
muito sucesso! Acho que o Henrique, ao ouvir isso, certamente abrirá um
sorriso e se sentirá nos céus.

De acordo com o
budismo, a cada momento
e a cada dia, estamos
transitando entre o céu e o
inferno.

Quando vemos alguém que tem muita riqueza - um belo carro, uma
bela casa - e nos surge a inveja, a sensação é de um fogo interior nos
queimando como o inferno. Em contraste, se estamos satisfeitos com
nossa moradia, com nossa família, com nossos bens, então nos sentimos
no céu. Cada pensamento pode nos levar ao céu ou ao inferno.
Cada um tem uma aparência diferente, hábitos diferentes, famílias
diferentes, trabalhos e condições diferentes. Todas essas diferenças
provêm de onde? Do nosso karma corporal, verbal e mental. O

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nosso karma determina o nosso futuro. Essa é a teoria do karma
no budismo, que fala de renascimentos em conformidade com
o karma de cada um.
Se alguém na vida anterior manteve preceitos como não matar e não
roubar, em sua próxima vida, terá uma boa aparência. Se alguém na vida
anterior não manteve o hábito de ficar com raiva, será uma pessoa muito
bonita. Se alguém na vida anterior sempre esteve ofendendo, oprimindo e
machucando aos outros, nascerá com uma aparência desagradável. Se
uma pessoa nasce em boas condições, com inteligência, em um lar
harmonioso, o que isso significa? Que o karma cultivado nas vidas anteriores
foi investido em causas positivas para que tenha esse merecimento.
Contarei uma história sobre causa e efeito. É uma história verdadeira
que se passou em Taiwan. Um homem rico havia se casado e sua esposa
não podia ter filhos. Ele se casou com uma segunda mulher, com quem
teve dois filhos. O filho mais velho, depois de crescido, foi estudar no Japão.
Após um tempo, esse filho desapareceu e seus pais não tiveram mais
notícias sobre ele. O filho mais novo era muito estudioso e era aluno da
universidade de mais prestígio em Taiwan. Ele foi contagiado por turbeculose
e, por isso, não pôde continuar os estudos. Ele expelia sangue e fleuma
com frequência. O seu pai e suas duas esposas tiveram que cuidar desse
rapaz.
Afetado por essa doença, a família estava muito cansada. Um dia, os
pais levaram o rapaz a um templo budista para rezar. Lá, o filho começou
a estudar os livros budistas e a se engajar nas práticas de recitação do
nome do Buddha, entonação do mantra “om mani padme hum” e prática
da meditação. Um dia, ele teve uma visão e foi conversar com o seu pai.
- Pai, devido a essa doença, eu vou morrer logo.

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- Não! Eu pago o que for possível para que você vá ao melhor hospital
e possa se curar!
- Não é questão de se quero morrer ou não, é questão da força kármica.
- disse o filho e continuou: - Pai, você se lembra que quando tinha 20 anos
de idade, você teve um amigo muito bom?
- Sim, eu me lembro.
- Esse seu amigo vinha de uma família rica, ao passo que a sua família
era muito pobre. Um dia, você roubou o seu amigo e lhe deu veneno para
que morresse. Pois eu sou esse seu amigo. Vi que no momento da minha
morte, eu fiz o voto de regressar e de te causar tanto sofrimento quanto
você me causou. Tive tanta raiva que me concentrei em te fazer sofrer
nascendo na sua família e fazendo todo o possível para que pudesse te
fazer sofrer como eu sofri. Por tudo isso, nasci nesta vida como seu filho,
mas muito doente devido ao meu ódio. Com a minha doença, você tem
muitos gastos com médicos e sofre por me ver assim. Esses recursos que
você gasta, na verdade, provém do meu dinheiro na vida passada que
você roubou e está devolvendo a mim. A minha intenção foi fazer o possível
para que você terminasse mal. Agora que eu encontrei o meu caminho
por meio dos ensinamentos de Buddha sobre causa e efeito, eu te perdôo
pelo que você fez e quero dar um fim a esse ódio. Quero renascer em um
lugar melhor. - e continuou: - Através das minhas práticas espirituais, tive
novas visões. Meu irmão mais velho retornará a Taiwan em 2 meses. Quando
ele voltar, quero que vocês entreguem a ele os recursos financeiros
destinados a mim e quero pedir o favor que não prejudique ninguém nunca
mais. Quero que se sintam confortáveis porque estou indo embora tendo
te perdoado e em paz. Quero fazer a passagem de vida e gostaria que
me ajudassem virando-se de costas e recitando “om mani padme

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hum” e o nome de Buddha para me auxiliar. Após 5min, sentado, com
um sorriso no rosto e com um bom entendimento das leis da vida, de que
o ódio não leva a lugar nenhum, morreu em paz.
Para entendermos o renascimento, devemos saber que a vida
é curta e tem muito
valor. Tudo o que
dizemos, pensamos e
fazemos, nada é em
vão, tudo tem valor e
resulta em algo bom
ou ruim. O ontem já
passou e podemos
pensar no ontem
como a vida passada;
hoje como a vida
presente; amanhã,
como a próxima vida.
Da ótica budista,
cada segundo
passado já é uma vida
passada e cada
segundo que está por vir é uma vida futura. É uma outra forma
de ver o renascimento: a vida segundo a segundo, pensamento
a pensamento. Temos que entender que se uma pessoa investe em si
mesmo, trabalha, estuda, se relaciona bem com os outros, sua vida será
muito boa. Por outro lado, se a pessoa não trabalha, não se educa e não
se relaciona bem com os outros, não colherá bons resultados. Tudo o que

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uma pessoa fizer anteriormente afetará os resultados no futuro. Os efeitos
atuais são resultados de causas anteriores.
Falei primeiramente de renascimento como resultado da força kármica,
agora sobre o renascimento como resultado dos hábitos. Ilustrarei também
com uma história verdadeira.
Em um hospital de Taiwan, havia uma enfermeira que cuidava de recém
nascidos. Um dia, ela foi banhar um bebê. Tirou o seu anel e deixou ao
lado. Após lavar o bebê, foi pegar de volta o seu anel, mas não encontrou.
Ficou procurando, tirou a água da banheira para tentar achá-lo e não
encontrou. Quando estava secando o bebê, viu que ele estava segurando
com força o seu anel. O que acontece é que na vida anterior deste bebê,
ele tinha o hábito de roubar. Quando via coisas preciosas, agarrava na
hora por hábito. As enfermeiras foram pesquisar sobre a família do bebê e
descobriram que seus pais eram ladrões, que tinham o costume de roubar.
Assim, confirmaram essa hipótese.
Essa foi uma história sobre renascimento tendo como fator o hábito.
Agora, falarei sobre um terceiro fator para o renascimento: o voto.
Um exemplo disso é o Mestre Zhi Han que, para estar neste local de
culturas que falam o português e o espanhol, para prestar serviço e beneficiar
os seres, seguramente fez um voto. Ele e a Mestra Yin Tzu nasceram em
Taiwan e vieram à América do Sul para difundir o budismo. Fizeram o voto
de morrer na América do Sul e de poder voltar para cá em vidas futuras a
fim de continuar ensinando.
O quarto fator de renascimento é o último pensamento antes de morrer.
Se uma pessoa pessoa antes do falecimento fica nervosa e carrega esse
pensamento durante a morte, ela será conduzida a um renascimento sofrível,

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mas se carrega boas intenções durante a morte, será conduzida a um
renascimento afortunado.
Vou falar a respeito do pensamento, sobre um estudo científico norte-
americano de psicologia. Colheram 50 participantes com bela aparência.
Essas pessoas foram à clínica, onde foram maquiadas com uma cicatriz
grande no rosto e então pediram para que elas saíssem à rua. Mostraram
a sua imagem no espelho para causar um impacto e, antes de saírem,
fizeram um retoque que, na verdade, consistiu na remoção da cicatriz
maquiada. Saindo às ruas imaginando que ainda estavam com a cicatriz
no rosto, seguiram a instrução de prestar atenção à reação das pessoas
ao olharem para eles e relatar isso aos psicólogos ao regressarem. O relato
geral foi de que as pessoas na rua eram muito preconceituosas e que
encaravam com um olhar de desprezo.
Esse experimento psicológico nos mostra o que? Que os humanos usam
como referência uma experiência do passado como algo fixo e concreto
para ver o mundo equivocadamente.
Se o ponto de vista é equivocado e
negativo, então vai afetar a pessoa e
fazê-la atrair sofrimento.

Para não sofrer, temos que


corrigir nossos pontos de vista
equivocados para então
aprendermos a ser felizes a
cada dia.

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O Sutra Avatamsaka diz que todos os fenômenos que vemos no mundo
provêm da nossa mente, ou seja, do nosso entendimento dos fenômenos.
Assim surgem as ilusões e confusões que nos apresentam uma visão falsa
da realidade.
Por fim, quero desejar que todos tenham dias maravilhosos e vidas
maravilhosas.
Pensamento e
atitude
direcionam o
nosso destino.

Além disso, a
implementação
das nossas ideias
e a nossa
determinação vão
possibilitar o
êxito.

Ou seja, uma
ideia meramente
imaginativa não
produz nada, mas
uma ideia
aplicável que é
investida em algo
a ser cumprido por meio de ações e de trabalho,
certamenteresultará em êxito.

A hora passou rápido. Se tiverem perguntas no futuro, fiquem à vontade


para perguntar aos monges do templo.

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A Bagagem que Carregamos
por Marco Defensor de Moura

Cada um de nós tem suas preferências, o que nos confere a


individualidade. Nossos contextos de vida são diferentes, bem como o
nosso histórico e o modo como nos relacionamos com tudo isso.
Segundo o budismo, nós carregamos sementes cármicas
relacionadas aos hábitos. A
força do hábito se instala
em nossas mentes e se torna
o nosso padrão automático
de responder às situações
cotidianas.

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É muito interessante como nós criamos a nossa identidade em cima
desses padrões. Nós acreditamos que eles são fixos e usamos
frases fatalistas do tipo "eu sou assim", "isto eu não consigo",
"eu não gosto daquilo". São afirmações fixas que confirmam a crença
de que a nossa realidade está pronta e que não temos o poder de mudá-
la.
Estamos presos na ideia de continuidade. Da mesma forma que uma
sequência de imagens projetadas em uma tela dá a impressão do
movimento contínuo, o momento a momento das nossas vidas também
nos causa tal impressão - o que é uma ilusão. Podemos estar em um
caminho e, de uma hora para outra, seguirmos outra direção. Pode nos
faltar coragem e determinação, mas temos essa possibilidade.
Na verdade, nossas
possibilidades são ilimitadas,
mas insistimos em seguir o
caminho da mesmice devido à
nossa crença na linearidade.
Aquilo que chamamos de eu é uma
entidade linear.
Na linha do tempo da vida, nós
vamos carregando de momento a momento os nossos padrões
comportamentais, as nossas preferências, o nosso histórico, toda a
bagagem de crenças e conceitos. Quanto peso, não? Tudo para
sustentarmos o nosso eu que acreditamos ser o nosso veículo para
encontrarmos felicidade e realização. Linearmente, faz sentido: os meus
gostos estão no eu e, sem o eu, não posso alcançar aquilo que quero.
Mas será que esse é o verdadeiro eu ou somente um acúmulo de desejos

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e crenças? Enquanto esse eu se satisfaz ao alcançar o que deseja, ele vai
se tornando uma entidade cada vez mais consolidada e também mais
dependente, mais apegada e mais sofredora.

Não precisamos desse


acúmulo.

Podemos dar um passo


adiante sem essa bagagem
toda, um passo fora da
linearidade, um passo
totalmente livre. Você pode
abrir mão da sua bagagem
por um momento? Que tal
pelo tempo de uma
respiração? Por um minuto? Por
três, cinco, dez ou vinte
minutos? Que tal vivermos
assim e só carregarmos a
nossa bagagem quando for realmente necessária? Esse é o
treinamento da meditação .
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Um bom meditador não é aquele que se distancia do mundo e que
vive em um mundo paralelo.
Ao contrário, ele está mais presente, pois vive momento a
momento. Ele pode caminhar com passos livres enquanto as
outras pessoas dão passos pesados e arrastados devido à carga
que carregam. Carregar um eu é desgastante. Ter a possibilidade
de dar um passo desvinculado do passo anterior é uma
oportunidade para a transformação, para a realização da vida
a cada momento. Comecemos com uma respiração consciente e,
quanto nos sentirmos confortáveis, aumentemos para mais até o período
completo da meditação. Chegará o tempo em que esses períodos sem
bagagem criarão uma energia de presença tão forte que o eu poderá ser
totalmente deixado de lado e poderemos, segundo a nossa decisão e
não por hábito, carregá-lo ou não.

Que tal dar o primeiro passo?

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A Revista Tzong Kwan é uma publicação bimestral, de distribuição gratuita e sem fins

lucrativos.

Doamos mais esta edição feita com todo amor e carinho desejando que ela possa

iluminar todas as pessoas que com ela tiverem contato, fazendo com que se afastem

dos sofrimentos e se beneficiem da riqueza dos ensinamentos do Dharma alcançando a

paz, a sabedoria, a compaixão e a compreensão vasta como um mar.

Agradecemos a todos os colaboradores que doaram seu tempo, dedicação e trabalho

para viabilizar esta edição; e aos que doaram recursos para que a revista fosse impressa.

Com grande alegria,


o Templo Tzong Kwan deseja
a todos um Feliz Ano de 2015
repleto de muita felicidade, paz
e sabedoria.
Que seja bem-vindo e
abençoado, ano da Cabra!!

Namo Amitofo!!

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA, PROIBIDA SUA VENDA

DOAÇÕES podem ser

feitas á: BANCO ITAÚ - AG 0081-CONTA 66942-6

ASSOC. BUDISTA AMÉRICA do SUL TZONG KWAN

Expediente
Diagramação e Layout : Carolina Castilho
Colaboradores: Sra. Ana Maria N. Hernadez, Sr. Henrique Pires, Sr. Lu e Sr. Marco
Moura

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Quadrinhos: O Zen no dedo de Juzhi- Parte 1 1) Há pouco tempo,
Juzhi tornara-se um monge. Vivia sozinho numa cabana de sapê onde se

dedicava ao aperfeiçoamento pessoal.2) Um dia, uma monja chamada Shiji

aproximou-se da cabana, deu três voltas no chão e falou...3) Se disser apenas

uma palavra, tiro o chapéu para o senhor. 4) Sei que isso é uma espécie de

desafio zen, mas o que isso significa ? 5) Como não pode responder vou embora.

6)O que ela quis dizer?! O que representa o chapéu de palha?


2) 1)

4) 3)

6)

5)

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