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PERCEPÇÃO DOS AGENTES SOCIAIS ENVOLVIDOS NO PROCESSO DE

IMPLANTAÇÃO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE SEGURANÇA NOS GOVERNOS DE


TARSO GENRO (2011-2014) E JOSÉ IVO SARTORI (2015-2018) NO BAIRRO SANTA
TERESA (POA/RS)
Carlos Robério Garay Corrêa
Linha de pesquisa: Segurança Cidadã, Violência e Justiça

1. OBJETIVOS
1.1 Objetivo geral:
Comparar a percepção dos agentes sociais envolvidos no processo de implantação de duas políticas
públicas de segurança distintas, adotadas no bairro Santa Teresa, ao longo de dois governos: Tarso
Genro (2011-2014) e José Ivo Sartori (2015-2018).
1.2 Objetivos específicos
a) Compreender como os agentes sociais da sociedade civil e do setor público envolvidos com os
distintos projetos perceberam a implantação de políticas públicas na área de segurança pelo
Estado do Rio Grande do Sul.
b) Identificar entre os agentes sociais, elementos convergentes e divergentes no entendimento do
processo de implantação dos projetos governamentais.
c) Verificar de que forma estes agentes sociais avaliaram o desenvolvimento das políticas de
segurança pública entabuladas pelo governo estadual.
d) Mapear iniciativas de fortalecimento do tecido socioprodutivo em prol do desenvolvimento local,
e as potenciais repercussões decorrentes da implementação dos projetos em análise.
e) Compreender a conexão entre desenvolvimento local, exclusão e violência e as variações entre
indicadores desses fenômenos ao longo da implementação dos dois projetos em estudo.
f) Avaliar a efetividade das políticas públicas desenvolvidas nos dois governos em termos do
enfrentamento à violência e à criminalidade e a constituição de uma cultura de paz no bairro
Santa Teresa.

2. JUSTIFICATIVA
A ONU propõe em nível mundial, desde o final do século passado, o debate sobre “as novas
questões sociais globais”. Esta discussão ocorre em momentos tais como a Conferência Mundial
sobre Direitos Humanos realizada no ano de 1993 na Áustria, nos fóruns Sociais Mundiais e também
na I Conferência brasileira de Segurança de Segurança Pública no ano de 2009 (TAVARES DOS
SANTOS, 2014, p. 19-20). Entre essas “novas questões sociais globais”, Melissa de Mattos Pimenta
destaca “as dimensões do crime, da violência e do controle social”, ressaltando o aumento dos índices
de “homicídios, recrudescimento de conflitos étnicos, raciais e religiosos, aumento da criminalidade
nos grandes centros urbanos, escalada do narcotráfico”, assim com a difusão da “violência para outras
esferas, especialmente o espaço da cotidianidade”. (PIMENTA, 2014, p. 221).
A noção de territorialidade direciona um novo paradigma da gestão social, no qual
intersetorialidade e descentralização são fatores relevantes. Nesse novo paradigma, a gestão atua
sobre uma população específica, com identidade social e vinculação territorial. Nos diversos espaços
que compõem as cidades a atuação intersetorial se desenvolve a partir da manifestação dos problemas
locais, da vida concreta das pessoas, do tecido socioprodutivo. Assim, torna-se possível estabelecer
prioridades dentre as ações governamentais, considerando especificidades: físicas, culturais,
ambientais, econômicas, entre outras, articuladas com a estruturação da sociedade. O conceito de
território transcende a circunscrição geoespacial, passando a abranger concepções de pertencimento,
identidade, representatividade e cidadania. A territorialidade também abarca condições materiais ou
simbólicas inerentes às relações sociais, o surgimento de conflitos, atores e sistemas de poder, o
estabelecimento de redes de interação, a organização de diferentes formas de solidariedade. Por esse
prisma, refletir acerca dessas relações é essencial para o estudo proposto.
As reflexões de José Vicente Tavares dos Santos e de Melissa de Mattos Pimenta acerca da
contemporaneidade do tema da violência e da criminalidade, sua difusão para amplos espaços sociais
e do seu aumento nos grandes centros urbanos em nível mundial, tal como ocorre nas grandes cidades
brasileiras, assim como em Porto Alegre e sua região metropolitana, justificam o presente projeto de
pesquisa que busca uma contribuição para tentar entender se as políticas de segurança públicas
desenvolvidas no Rio Grande do Sul nos últimos dois governos se aproximam ou não dos anseios dos
segmentos por elas envolvidos. Portanto, o estudo das referidas políticas públicas dentro de um
contexto social de crescentes preocupações com o aumento da violência e da criminalidade no qual a
elaboração e execução de políticas públicas de segurança que procuram aliar elementos de prevenção
social com ações de repressão qualificada por parte do Estado em parcerias com a sociedade civil,
podem apontar pistas positivas e ou negativas acerca da constituição de políticas públicas na área da
segurança.

3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Segundo Carrion e Calou, “é o trabalho social em sintonia com a realidade, que monitora e
atua no território para reduzir e eliminar a presença de fatores de risco, por um conjunto de ações
fortalecedoras da cidadania” (2008, p. 15). No Brasil, mesmo que a Constituição da República de
1988 tenha previsto em seu artigo 144 a segurança pública como um dever do Estado, direito e
responsabilidade de todos e que deve ser exercida para a preservação da ordem pública e da
incolumidade das pessoas e do patrimônio, só passa a ser tratada nos marcos de uma democracia após
uma década da promulgação da chamada Constituição Cidadã (SANTOS, 2014, p.109). Embora o
país tenha passado por um processo de democratização política, com a valorização dos movimentos
sociais e do associativismo, “a transição democrática não se estendeu à segurança pública, que
corresponde a um testemunho vivo do nosso passado obscurantista e, do ponto de vista dos interesses
da cidadania, ineficiente” (SOARES, 2007, p. 86).
Podem ser distinguidos, entretanto, dois diferentes paradigmas. Moema Duarte Freire (2009,
p.53), em seu artigo Paradigmas de Segurança no Brasil: da Ditadura aos nossos dias, ao abordar as
características do paradigma de Segurança Cidadã em comparação com o de Segurança Nacional que
propunha a preservação dos interesses nacionais e interesses dos segmentos detentores do poder, e
com o paradigma da Segurança Pública que visa à preservação da ordem pública, e da
invulnerabilidade das pessoas e do patrimônio, percebe uma significativa mudança conceitual:
Na perspectiva de Segurança Cidadã, o foco é o cidadão e, nesse sentido, a violência é
percebida como os fatores que ameaçam o gozo pleno da sua cidadania. Em outras palavras,
permanece a proteção à vida e à propriedade já presentes no paradigma de Segurança Pública,
mas avança-se rumo à proteção plena da cidadania (FREIRE, 2009, p. 53).
É importante destacar, ainda, a relação entre violência e vulnerabilidade social a partir da
visão da sociologia da conflitualidade, analisando a violência “em sua dimensão física, psicológica,
simbólica e nas formas pelas quais é influenciada por questões de gênero, identidade sexual, idade e
raça” e quando procura compreender como as diferenças sociais condicionadas por relações de
dominação geram condições de vulnerabilidade social como fatores de potencialização da violência
(PIMENTA, 2014, p. 217). Nesse sentido, destaca-se o contexto da persistente desigualdade social
presente na sociedade:
A persistência da desigualdade social e econômica brasileira, as constantes necessidades de
reformas institucionais (não realizadas), os contínuos “apoderamentos” do público pelo
privado e a manutenção de mandonismos regionais são aspectos que nos remetem aos
primórdios da nossa organização social. Parece que, entre nós, os ideais de liberdade,
igualdade e solidariedade não se difundiram; como se aqui não tivessem ocorrido as duas
Revoluções que marcaram o século XVIII na Europa e que propiciaram a evolução do
capitalismo. Somos uma economia industrializada, porém, não dispomos de uma sociedade
que preze pelos ideais da Revolução Francesa (COSTA, 2007, p. 1).
Na esteira do desenvolvimento, um grande número de cidades brasileiras passa por um
processo de reforma urbana ao final do século XIX início do século XX, que Ermínia Maricato chama
de “urbanismo moderno a moda da periferia” (MARICATO, 2000, p. 22). O processo de reforma
urbana pelo qual passam as cidades relaciona-se de maneira significativa com as manifestações de
crime e violência. As cidades passam por constantes mudanças “como resultado do processo de
produção e transformação do espaço e da reprodução social”, e sua estrutura urbana tem efeitos de
natureza econômica, social e política atuando como “elemento central da desorganização social de
comunidades e espaços urbanos” constituindo-se em fator gerador de criminalidade e violência
(SILVA, MARINHO, 2014, p. 71).
Ao longo das décadas de 80 e 90, com as significativas elevações das taxas de ocorrências
criminais, o Brasil e a América Latina se defrontam com uma profunda crise na área da segurança
pública. O crime que até os anos 70 era percebido fundamentalmente como um problema de polícia,
e que nem alvo de reflexões de setores progressistas era, diante da explosão da criminalidade em nível
mundial, passa a integrar uma agenda política e social global da qual permanece até os dias atuais
(CANO, 2006, p. 137). Na área de segurança pública este movimento corresponde ao fortalecimento
do indivíduo como público alvo das políticas e não mais a preservação da soberania nacional e dos
interesses de Estado conforme paradigma anterior (FREIRE, 2009, p. 55).

4. METODOLOGIA
O trabalho consistirá em uma primeira etapa, na realização de pesquisa bibliográfica
relacionada à área de políticas públicas associadas aos temas da violência e da criminalidade sob a
perspectiva da constituição dos distintos paradigmas vigentes. Na etapa seguinte, serão realizadas
entrevistas com agentes sociais que atuaram profissionalmente ou residiam no bairro Santa Teresa,
no período compreendido entre os anos de 2011 e 2018, durante a vigência dos Governos Estaduais
contemplados na pesquisa.
Entre os entrevistados serão incluídos agentes responsáveis pela elaboração e execução das
políticas de segurança públicas desenvolvidas pelo Governo Estadual, e também agentes da sociedade
civil, compostos por moradores e integrantes de entidades associativas do bairro. As entrevistas,
associadas à pesquisa bibliográfica, deverão ser a base fundamental para a realização da análise
qualitativa das informações coletadas, com as quais se pretende compreender a visão dos diversos
agentes sociais envolvidos no processo de implantação do projeto Territórios de Paz no bairro Santa
Teresa, sobre as políticas públicas de segurança desenvolvidas pelos governos de Tarso Genro (2011-
2014) e José Ivo Sartori (2015-2018).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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democratização versus a guerra contra o crime. Sur – Revista Internacional de Direitos Humanos,
São Paulo, Vol. 3, nº 5, Dez/2006. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S1806-
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CARRION, Rosinha & CALOU, Ângela. PREFÁCIO. Pensar a gestão social em terras de “Padinho
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COSTA, Ana Monteiro. As Raízes da Desigualdade Social Brasileira: a incorporação dos ideais
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Revista de Economia da UEG, Anápolis (GO), Vol. 3, nº 2, Jul/Dez – 2007. Disponível em:
http://www.nee.ueg.br/seer/index.php/economia/article/viewFile/40/68

FREIRE, Moema Dutra. Paradigmas de Segurança no Brasil: da Ditadura aos nossos dias.
Revista Aurora, São Paulo, Vol. 3, n° 5, Dez/2009. Disponível em <
http://www.marilia.unesp.br/Home/RevistasEletronicas/Aurora/FREIRE.pdf>
MARICATO, Ermínia. Urbanismo na Periferia do Mundo Globalizado: metrópoles brasileiras.
São Paulo. São Paulo em Perspectiva, V. 14, nº 4, Out/Dez – 2000. Disponível em:
<http://dx.doi.org/10.1590/S0102-88392000000400004> acesso em 24 de mai. 2015.

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SANTOS, Mariana Chies Santiago. Avaliação por Parte dos Beneficiários do Pronasci: o caso das
Mulheres da Paz e dos Jovens do Protejo em Canoas e Porto Alegre. In: TAVARES DOS
SANTOS, José Vicente; MADEIRA, Ligia Mori (Org.). Segurança Cidadã. Porto Alegre: Tomo
Editorial, 2014.

SILVA, Bráulio; MARINHO, Frederico Couto. Urbanismo, Desorganização Social e


Criminalidade. In: LIMA, Renato Sérgio de; RATTON, José Luiz; AZEVEDO, Rodrigo
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SOARES, Luiz Eduardo. A Política Nacional de Segurança Pública: histórico, dilemas e


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