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Rafael Mayer
Fernando de Castro Fontainha
Rafael Mafei Rabelo Queiroz
Leonardo Seiichi Sasada Sato
[orgs.]
1
EDIÇÃO FGV DIREITO RIO
ISBN: 978-85-63265-43-2
CDD – 341.4191
Rafael Mayer
Fernando de Castro Fontainha
Rafael Mafei Rabelo Queiroz
Leonardo Seiichi Sasada Sato
(orgs.)
Projeto desenvolvido por FGV DIREITO RIO, FGV DIREITO SP e FGV CPDOC
Sumário
1 Apresentação 06
2 Prefácio à entrevista do ministro Rafael Mayer 08
3 Roteiro do ministro Rafael Mayer 16
Fontes 20
4 Entrevista com o ministro Rafael Mayer 24
Apresentação e origens familiares 25
Nelson Jobim
Fernando Fontainha
Esta pesquisa pretende trazer às comemorações dos
25 anos da Constituição Federal um novo discurso científico
sobre a Suprema Corte brasileira: sua história oral. Numa em-
preitada da FGV Direito Rio, em conjunto com a Direito GV
e o CPDOC, pretende se reconstruir e reinterpretar a história
recente do STF a partir de entrevistas com os magistrados que
a compuseram nestes últimos 25 anos, com recurso ao méto-
do-fonte-técnica da História Oral. A perspectiva dos atores
que compuseram a corte e a maneira como eles reinterpretam
fatos à luz de experiências vividas permitirão a construção de
uma narrativa sobre os aspectos sociais e políticos da história
recente do Supremo. Contando-nos a história da sua relação
com a instituição, nos contarão a história da instituição.
Sete etapas foram previstas para a realização da pesqui-
sa: (1) um breve programa de capacitação metodológica a ser
ministrado pelos pesquisadores aos assistentes de pesquisa e
bolsistas de iniciação científica, (2) a coleta de dados sobre o
STF no período em questão, (3) a coleta de dados específica
sobre cada um dos ministros a serem entrevistados, (4) a con-
solidação dos dados coletados e a elaboração dos roteiros de
entrevista, (5) a realização das entrevistas com os ministros,
(6) o tratamento e a análise dos dados coletados, e, finalmente,
(7) a elaboração dos produtos finais da pesquisa, entre os quais
se destaca a presente entrevista com o ministro Rafael Mayer.
O que efetivamente esta pesquisa visa produzir é uma
história oral temática, não uma história oral tradicional, no
seu sentido mais amplo. O que se pretende é a construção
de uma biografia institucional do STF com o marco tempo-
ral da vigência da Constituição Federal de 1988, sendo certo
que esta se consubstancia numa espécie de biografia coleti-
va daqueles que o integram e o integraram nesse período. O
interesse é estabelecer conexões entre a trajetória dos seus
ministros e ex-ministros – e não sua biografia ou sua história
de vida – e a corte. Note-se a existência de uma dupla pers-
RAFAEL MAYER 9
pectiva: individual e institucional. Num primeiro momento,
deve-se investigar como foram construídas trajetórias pro-
fissionais que permitiram o ingresso dos nossos colaborado-
res no STF. Em seguida, é preciso constatar como a experiên-
cia de ser um ministro daquela corte vai complementar suas
trajetórias, marcar suas vidas.
Tornar-se parte e habitar uma instituição implica um
processo longo, complexo e reflexivo. Do ponto de vista estrita-
mente formal, podemos extrair um critério básico que distin-
gue insiders e outsiders do STF, e que foi crucial para o recorte
da população de entrevistados: existe um procedimento objeti-
vo e racional de escolha, investidura e exercício das funções de
ministro. No entanto, este critério não nos leva mais longe. É
necessário ver para além dos requisitos e procedimentos legais
de admissão, bem como além dos misteres funcionais dos mi-
nistros do Supremo. Cada um dos colaboradores entrevistados
traz na sua trajetória um acúmulo de capital social ( jurídico,
político, econômico...) que sustentou seu ato de candidatura e
permitiu seu ingresso efetivo na corte, bem como autorizou ou
limitou seu repertório de ação enquanto ministro da corte.
Um dos problemas de pesquisa enfrentados foi: como se
relacionam a trajetória profissional e as interações e negocia-
ções que precedem a nomeação? Em outras palavras: como
ocorre fina e efetivamente este processo de circulação simbó-
lica do capital social acumulado previamente no momento de
uma disputa pela nomeação? A pesquisa não supôs que seria
descoberta uma “trajetória modelo” e igualmente processos
de nomeação similares. Trabalhamos com a hipótese de que
existem múltiplas maneiras de acumular capital social o mais
variado a ponto de alçar alguém à posição de “supremável”.
Portanto, além de mapear essas trajetórias, tentando até traçar
conexões e convergências entre elas, a pesquisa terá a ambição
de determinar como ocorre a determinação do turning point
entre construir num longo prazo uma trajetória elitária (no
RAFAEL MAYER 11
Desta forma, foram escolhidos dois enfoques principais
para a construção desta demonstração. Primeiramente, é ne-
cessário saber como – e se – o cotidiano do STF contribui para a
internalização de práticas institucionais relativamente unifor-
mizadoras, que se perpetuam através das gerações de ministros
pela rotinização (e não inculcação). Em outras palavras: como
se resolve a dicotomia entre a determinação individual autôno-
ma de um repertório de ação e a contextualização institucional
de um quadro fixo de condutas pertinentes. Em segundo lugar,
numa abordagem oposta, deve ser desbastada a ampla rede de
interações que acaba por construir o sentido do “extraordinário”
no seio da instituição. A maneira como cada membro distingue o
trabalho rotineiro do trabalho relevante e reconhece determina-
da tarefa como crucial, decisiva ou hierarquicamente mais im-
portante nos fornecerá pistas para determinar como um deter-
minado caso se transforma efetivamente num hard case, ou lea-
ding case, o que pode ser academicamente aproveitado na forma
de um caso gerador, conforme proposição de Paulo Freyre.
Feito isto, a pesquisa terá condições de investigar mais
detidamente como se formam os consensos, as coalizões e as
disputas em torno destes casos, diante da necessidade prática
de se julgar em colegiado, tendo em vista ainda a eventual per-
missividade institucional do julgamento monocrático.
Assim, serão quatro os momentos privilegiados na traje-
tória de nossos entrevistados a serem explorados na composi-
ção de uma história oral do STF: sua trajetória prévia, o ingres-
so, o cotidiano e o hard case.
Não podemos tratar da pertença ao STF sem o uso da no-
ção de elite. Por força de seu contexto institucional, o Supre-
mo é muito mais do que o lugar onde se reúne a elite judiciária
brasileira. Muito embora ele seja a Corte de maior hierarquia
do sistema judicial, não é – necessariamente – uma trajetória
de carreira exemplar no seio do Poder Judiciário que garante
o ingresso de um novo membro. A ruptura com a tradicional
RAFAEL MAYER 13
Como surgem consensos na separação do trabalho “ordinário”
do “relevante”?
Quais atores externos influem na construção de um hard case
(imprensa, políticos...)?
Como se compõem coalizões e se resolvem divergências no
julgamento dos hard cases?
RAFAEL MAYER 15
3
Roteiro
do ministro Rafael Mayer
RAFAEL MAYER 17
Tornou-se professor assistente da cadeira de
1961
Instituições de Direito Privado na Faculdade de
Ciências Econômicas da atual Universidade Federal
de Pernambuco e professor de Direito Administrativo
para os alunos do curso de Administração.
Integrou a comissão examinadora do concurso
1962
para oficial judiciário do Tribunal de Justiça de
Pernambuco e a banca examinadora do concurso para
juiz do trabalho, promovido pelo Tribunal Regional
do Trabalho em Recife, foi professor substituto de
Direito Civil na Faculdade de Direito da Universidade
Católica de Recife e membro do Conselho Superior do
Ministério Público de Pernambuco.
Atuou de julho a dezembro de 1963 como assessor de
1963
gabinete do ministro da Fazenda, Carlos Alberto de
Carvalho Pinto.
(1) Atuou como procurador do Conselho
1964
Administrativo de Defesa Econômica, e (2) tornou-
se assessor-chefe da Assessoria Jurídica do recém-
criado Ministério Extraordinário para Coordenação
dos Organismos Regionais (MECOR), chefiado pelo
general Osvaldo Cordeiro de Farias.
Já promovido a procurador, aposentou-se do
1966
Ministério Público.
1967-1968 Em março de 1967, quando o MECOR foi transformado
em Ministério do Interior, tornou-se consultor
jurídico do novo ministério.
1969-1973 Designado, em janeiro de 1969, procurador da
Superintendência da Zona Franca de Manaus.
Integrou o conselho federal da OAB.
1974-1977 Em abril de 1974, foi nomeado pelo presidente da
República, general Ernesto Geisel (1974-1979),
consultor-geral da República em substituição a
Romeu de Almeida Ramos.
Transmitiu o cargo de consultor-geral da República a
1978
Clóvis Ramalhete. Foi empossado como ministro do
Supremo Tribunal Federal pelo general Ernesto Geisel.
RAFAEL MAYER 19
ocasião de sua posse, foi lembrada sua atuação como
relator no julgamento de um recurso extraordinário,
proveniente do Paraná, no qual foi repelida a
interceptação de comunicação telefônica, bem
como seu uso como elemento de prova em processo
judicial. Em junho de 1987, saiu em defesa das
instituições judiciárias, quando o presidente José
Sarney responsabilizou os tribunais pelo fracasso de
sua política de reforma agrária. Na ocasião, Mayer
solicitou das turmas julgadoras do STF e do Tribunal
Federal de Recursos relatórios relativos aos processos
de desapropriação de terras, observando-se que tipos
de falhas jurídicas eram mais frequentes nesses
processos. Constatou-se que a maior parte deles
consistia de recursos contra desapropriação de áreas
produtivas e de áreas onde já se haviam realizado
assentamentos de colonos.
Segundo ele, os novos dispositivos e os novos
1988
instrumentos teriam aplicação e uso imediatos, tais
como o habeas data, que dava o direito ao cidadão
de ter conhecimento de registros e arquivos que
porventura existissem sobre sua pessoa em qualquer
repartição oficial, inclusive no Serviço Nacional
de Informações (SNI); o mandado de injunção, que
garantia a imediata aplicação de um direito individual,
já consagrado no novo texto constitucional; e a ação
direta de inconstitucionalidade. Com relação ao
habeas data, Rafael Mayer declarou, expressamente,
que sua aplicação era imediata, mesmo que um
decreto do presidente Sarney houvesse autorizado sua
entrada em vigor somente depois da regulamentação
pelo Poder Legislativo. Ainda com relação ao habeas
data, disse que nem mesmo a alegação do SNI, de que
não liberaria fichas ou prestaria informações que
fossem de encontro à segurança nacional, poderia
impedir sua aplicação caso o STF assim o decidisse.
Segundo Rafael Mayer, na nova Constituição, algumas
normas precisavam de regulamentação legislativa,
RAFAEL MAYER 21
Afastado da vida pública, passou também a atuar
1996
como consultor jurídico em Recife. Como advogado,
participou da II, III e IV conferências da OAB,
realizadas respectivamente no Rio de Janeiro, em
Recife e em São Paulo, e do I Congresso Nacional de
Direito Agrário, em Porto Alegre.
Cresce a polêmica a respeito de o ministro,
2004
juntamente com três outros ministros aposentados,
receber acima do teto salarial do funcionalismo. “Os
ministros aposentados Djaci Alves Falcão, Francisco
Manoel Xavier de Albuquerque, Luiz Rafael Mayer e
Oscar Dias Corrêa não conseguiram liminar contra
teto salarial definido administrativamente pelo
Supremo Tribunal Federal, nos termos da Emenda
Constitucional 41, relativa à reforma da Previdência”.
O décimo episódio da série “Novos olhares sobre
2013
o tempo – Memórias da Democracia” traz, esta
semana, o depoimento do ministro Luiz Rafael
Mayer, que presidiu o Tribunal Superior Eleitoral
(TSE) de dezembro de 1984 a setembro de 1985. Este
episódio vai ao na TV Justiça neste sábado (28),
às 19h. Na primeira parte do programa, o ministro
destaca o papel da Justiça Eleitoral e a atuação
dos eleitores. “A Justiça Eleitoral representa a
participação popular nos destinos do país. O eleitor
hoje está mais consciente, mais esclarecido, mais
atuante, mais participativo. Certamente me sinto
orgulhoso dessa participação,” afirma o ministro.
Rafael Mayer ainda relembra fatos que marcaram
sua vida profissional, entre eles a atuação como
consultor-geral da República no governo de Ernesto
Geisel e a experiência como prefeito de Monteiro,
na Paraíba, cidade onde nasceu. Na segunda parte
do programa, o ex-presidente do TSE conversa com
o presidente do Tribunal de Justiça de Pernambuco,
desembargador Jovaldo Nunes Gomes, que afirma
que Rafael Mayer é um exemplo para o país. “O Brasil
todo deve se espelhar no exemplo que o senhor é para
Fontes
RAFAEL MAYER 23
4
Entrevista
com o ministro Rafael Mayer
[L M] — É. Exatamente.
RAFAEL MAYER 25
[L M] — Minha mãe era de origem, mesmo, de Monteiro, da cida-
de de Monteiro, e o pai dele era um abastado comerciante, um
capitalista, ganhador de dinheiro, lá em Monteiro.
[R M] — O ramo dele era?
[L M] — O primeiro o quê?
[F F] — Jurista.
RAFAEL MAYER 27
[L M] — É. (risos) Cobra Verde.
[L M] — Armadas.
[L M] — Onze anos.
RAFAEL MAYER 29
[R M] — Foi com ela que o senhor aprendeu a ler, por exemplo.
[L M] — Na casa dela.
RAFAEL MAYER 31
[F F] — As composições eram...
[F F] — Como crônicas.
[L M] — Crônicas, é.
RAFAEL MAYER 33
[R M] —O ingresso na Faculdade de Direito, o senhor conseguiu
ingressar na primeira tentativa?
[L M] —Foi na primeira tentativa, porque eu fiz o chamado pré-
jurídico... Nesse tempo, havia o pré-jurídico na própria faculda-
de. Depois é que eu tive que sair, porque a faculdade suprimiu
esses cursos pré-jurídicos lá. Mas eu fiz o primeiro pré-jurídi-
co na própria Faculdade de Direito do Recife que é, sabe, uma
coisa de grande tradição lá em Recife, até no Brasil. O primeiro
curso jurídico do Brasil foi lá em... foi lá em Pernambuco, no
Mosteiro de São Bento de Olinda, onde funcionou o primeiro
curso jurídico do Brasil.
[R M] — Ministro, como era o ingresso no curso pré-jurídico?
RAFAEL MAYER 35
zade até hoje ou por muitos anos? Algum colega de faculdade o
marcou em particular?
[L M] —É. Tinha um colega, que era também da minha cidade,
da minha origem, que era... (falecido há pouco tempo) que era o
ministro Djaci Falcão.
[F F] — Foi seu colega de faculdade?
[L M] — Da mesma turma.
[F F] — Só na faculdade.
[F F] — O senhor lá estava?
[L M] — Estava lá.
[L M] — Não. Eu... Não, não. Isso foi antes de eu... Não. Foi depois
de eu entrar na faculdade.
[F F] — Depois que o senhor se formou.
[L M] — Certo.
RAFAEL MAYER 37
[R M] — O senhor teve participação no diretório acadêmico?
[L M] — Colegas. Exatamente.
[L M] — Sim. É, exatamente.
RAFAEL MAYER 39
madas Lurdinas. Que esse colégio ainda hoje existe lá em Mon-
teiro e é muito benéfico.
[R M] — Durante o seu período de prefeito, como foi o clima da po-
lítica local? Havia conflito? Foi um período de calmaria?
Não, conflito não havia, porque era o tempo da ditadura
[L M] —
mesmo (risos), aquilo era tudo na calma. (risos)
[F F] — Seu pai ajudou?
[L M] — Hem?
[L M] — Sim, é. Exatamente.
RAFAEL MAYER 41
mento. O senhor era, ao mesmo tempo, promotor, prefeito e
advogado do sindicato?
[L M] — Promotor...
[R M] — Prefeito também.
[L M] — Sim.
RAFAEL MAYER 43
[L M] —A mesma coisa. As atribuições... Basta dizer o seguinte.
Eu fui para Serrita, e Serrita era dominada por um chamado
coronel Chico Romão.
Chico Romão. Que é da mesma família Romão que o se-
[R M] —
nhor mencionou aqui, em algum momento da entrevista.
[L M] —Chico Romão. E o Chico Romão, então, me acolheu. Ele
era um sujeito assim muito simpático, me acolheu. Ele tinha
um olho meio fechado, que disse que, quando ele estivesse de
olho aberto, tivesse medo dele. Então, ele me acolheu. Basta di-
zer que eu fiquei lá, não tinha propriamente o que fazer. Mas,
então, ele... Houve um júri, um júri, e ele determinou (ele man-
dava em tudo) que um sujeito lá, um preso, fosse condenado
pelo júri, para poder agradar o promotor. Entendeu?
[F F] — E o promotor era o senhor.
[L M] — É, era eu (risos).
RAFAEL MAYER 45
[F F] — Em cima do caminhão, de paletó e gravata.
[L M] — De paletó e gravata.
RAFAEL MAYER 47
[R M] —Quem escolhia o procurador que iria atuar junto ao Tri-
bunal? Era o próprio Tribunal? Ou era o Ministério Público?
[L M] — Era o Ministério Público que escolhia.
[L M] — Somos amigos, é.
[F F] — No Ministério Público?
RAFAEL MAYER 49
[L M] — É, exatamente.
[L M] — Pela beleza, por tudo. Aí, você sabe [risos]. Você é do Rio
e sabe.
[F F] — E nós estamos falando do ano de 1963.
[L M] — 73.
[L M] — Não, não. Acompanhei a vida dele aqui, que ele foi um su-
jeito muito interessante, aqui em Recife. Era um homem muito
talentoso, muito competente. Marechal Cordeiro de Farias.
[R M] — No que consistia a atuação do assessor jurídico nesse mi-
nistério, no Ministério do Interior? O senhor tem lembrança da
rotina do seu trabalho?
RAFAEL MAYER 51
[L M] — Era atuação de assessor jurídico, de promotor, mesmo.
[F F] — Encontros sociais?
RAFAEL MAYER 53
[L M] — [silêncio]
RAFAEL MAYER 55
[F F] — O senhor o conheceu no Rio ou antes?
[L M] — Não. Já na maturidade.
[R e sp o n d e a f i l h a d o e n t r e v i s ta d o] — Eu nasci em 73.
Acho que vocês chegaram em 70.
[L M] — 70, não é? Está vendo? Ela nasceu lá.
RAFAEL MAYER 57
uma beleza mesmo. Quando eu fui para lá, quando fui consultor-
geral da República, eu fui morar na península dos ministros. A
península dos ministros era um negócio nobre de Brasília.
[F F] — Do que se tratava a península dos ministros?
[L M] — Hem?
[L EIDE] — É Ferraz.
RAFAEL MAYER 59
[L M] — Do próprio Geisel.
[L M] — Hem?
RAFAEL MAYER 61
[L M] — Era do Rio Grande do Sul. Era do Partido Libertador. Foi
o que o Brossard me disse. Brossard era do Partido Libertador.
Ele era do Partido Libertador. Então, ele...
[F F] — Ele chamava-se Néri da Silveira?
[L M] — Na minha posse.
[L M] — Particular.
[L M] — Quatro.
RAFAEL MAYER 63
[L M] — Cordeiro Guerra.
RAFAEL MAYER 65
[R M] — E esse debate prévio visava, então, a que o caso, quando
fosse apresentado em plenário, não fosse objeto de polêmica ex-
plícita. É isso?
[L M] — Pode-se entender assim. É. Pode-se entender assim.
RAFAEL MAYER 67
que o senhor se lembre, episódios. Que memória o senhor traz da
sua atuação?
[L M] — Olha. Na verdade, na verdade, a atuação no Supremo, a
minha atuação no Supremo foi antes da separação entre... do
Supremo e do Superior Tribunal de Justiça. Foi então que se fi-
xaram aquelas competências. Antes dessa separação, o Supre-
mo era muito mais poderoso, porque ele julgava tudo. E, com a
criação do STJ, do Superior Tribunal de Justiça, a parte relati-
va às leis foram tiradas da competência do Supremo.
[R M] — Quando essa alternativa institucional de separação
da competência do Supremo para um outro tribunal supe-
rior, que depois veio a ser o STJ, foi cogitada, como é que os
ministros que ocupavam a corte viram essa proposta? O se-
nhor foi favorável?
[L M] — Ah, sim. Eu fui favorável e lutei por isso. Mas houve cer-
ta reação, porque alguns ministros queriam que fosse mantida
essa coisa, que não fosse feita essa separação.
[R M] —Hoje, quase vinte e cinco anos após a Constituição, o se-
nhor julga que essa separação foi um acerto?
[L M] — Acerto absoluto.
[R M] — Por quê?
[I n t e r r u p ç ão d a g r avaç ão]
[L M] — Como, Leide?
RAFAEL MAYER 69
que houve, do movimento das Diretas, como é que isso se fazia
sentir no Tribunal, se é que se fazia?
É. Não. Sabe, aí é muito esforço, eu não me lembro real-
[L M] —
mente dos processos que tenha participado.
[F F] —Deixa eu lhe fazer uma pergunta um pouco mais abran-
gente sobre a sua atuação no Supremo. Qual foi o momento mais
marcante da sua atuação no Supremo Tribunal Federal? Esco-
lher um momento – esse foi o mais marcante – qual seria?
[L M] —[silêncio] Houve um momento em que... a primeira e a
segunda turmas foram presididas, simultaneamente, por mim
e pelo ministro Djaci Falcão, ambos procedentes de minha ter-
ra natal, de Monteiro.
[F F] — O senhor presidia a primeira, o ministro Djaci presidia
a segunda.
[L M] — A segunda.
RAFAEL MAYER 71
[L M] — Sim, está certo. Era realmente uma... [via] de duas mãos.
[L M] — Não. Designado.
[L M] — Acabou. Felizmente.
RAFAEL MAYER 73
[L M] — Ah, sim. É relevante. Ah, sem dúvida. Sem dúvida que
hoje a Constituição é notável documento.
[F F] — Hoje, eu, o Rafael, o Leonardo, nós fizemos faculdade de
Direito, nós aprendemos a Constituição de 88. Então, parece que
a gente já nasceu num mundo onde a Constituição de 88 já está
aí, a gente nasceu dentro do mundo da Constituição. O senhor
era ministro do Supremo quando ela passou a viger. Pergunto ao
senhor: o que mais mudou com a Constituição de 88, além dessa,
que é relevante, que é o fim dos julgamentos intramuros? Que ou-
tras mudanças o senhor testemunhou?
[L M] — Mas são essas mudanças, mesmo, que eu dei. Hoje, a
abertura, a positividade da Constituição é uma coisa extraor-
dinária e completa, plena, inteiramente.
[F F] —Do ponto de vista da dinâmica do julgamento, a maneira
de organização do Supremo, o senhor se lembra de alguma mu-
dança? Os poderes do presidente, a dinâmica dos votos, a compe-
tência do Supremo Tribunal Federal...
[L M] — É. São essas que eu já chamei atenção, que vieram com
a criação do Superior Tribunal de Justiça, dividindo as atribui-
ções. Isso aí foi a pedra de toque da nova Constituição.
Eu ia encaminhar para a conclusão. Não sei se tem mais
[R M] —
alguma coisa que você queira.
[F F] — Para a conclusão? Não. Tem. Eu gostaria de perguntar ao
senhor, ministro, dentre os casos que o senhor julgou ou dentre
os casos que o senhor foi relator, se o senhor tem algum que guar-
da especialmente na memória. Qual seria o caso mais relevante
que o senhor julgou como ministro do Supremo? Seja como rela-
tor, seja como revisor, seja como vogal. O senhor teria um caso
para dizer qual seria o mais relevante?
[R M] — Ou o que mais marcou o senhor.
[L M] — Não. É...
RAFAEL MAYER 75
[L EIDE] — A gente ainda passou vários anos em Brasília. Porque
a gente só voltou para cá quando Rafaela quis voltar para cá.
Voltar não, porque ela nasceu lá, mas...
[L M] —É, é isso mesmo. Eu me aposentei, mas, no dia seguin-
te à aposentadoria, eu fiquei atuando lá como parecerista,
como... essa coisa.
É. Ele deu, até pouco tempo, ele dava pareceres aqui.
[L EIDE] —
Mais ou menos de um ano para cá, é que ele deixou.
[L M] — É, muitos pareceres, é. É, é verdade.
[F F] — Em Brasília, não.
[L M] — É em Brasília.
[L EIDE] — Aonde?
[L M] — Brasília.
[L EIDE] — Hã?
[L EIDE] — Só aqui.
RAFAEL MAYER 77
[L M] — Sim, é.
[F F] — Até hoje.
[L M] — Até hoje.
[F F] — Ainda hoje?
[L M] — Ainda hoje.
RAFAEL MAYER 79
5
Equipe do Projeto
Coordenação Equipe Fgv Direito Sp
Nelson Jobim
Pesquisador
Fernando Fontainha
Rafael Mafei
RAFAEL MAYER 81
Este livro foi produzido pela FGV DIREITO RIO,
composto com as famílias tipográficas Corbel
e Sentinel e impresso em papel pólen bold pela
gráfica J. Sholna em 2015.
O Ministro Rafael Mayer foi entrevistado pelos
pesquisadores Fernando Fontainha, Rafael Mafei
e Leonardo Sato, em 01 de outubro de 2012,
na sua residência, no Recife.
ASSISTA AQUI AO
VÍDEO DA ENTREVISTA!