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Pequena Introducao A Filosofia - Anisio Teixeira
Pequena Introducao A Filosofia - Anisio Teixeira
NOTA DO AUTOR
...............................................................................................................................13
CAPÍTULO I
Reacionários e renovadores
mesmo ideal
.......................................................................................................................................17
CAPÍTULO II
A transformação da escola
CAPÍTULO III
Conclusão
............................................................................................................................................52
CAPÍTULO IV
A educação e a sociedade
sociedades progressivas.
escolar
................................................................................................................................................
84
CAPÍTULO V
A organização atual da vida justifica êsse êrro. Exceções: vida infantil. vida
de alguns homens.
C)
Conclusão.
O
bem
ou
felicidade
está
na
atividade
presente,
dirigida
inteligentemente......................................................................................................................
104
CAPÍTULO VI
Filosofia e educação
"interpretações" da vida.
NOTADOAUTOR
Procurei, neste pequeno livro, publicado pela primeira vez em 1934, expor
em forma
CAPÍTULO I
Valôres que se perdem. Valôres que se ganham. lnquietação de
conservadores. A
contra aquilo.
Mais do que tudo, costuma investir contra as escolas. Se há crise nas letras, se
não
urge reformá-las.
transformação por que passou a juventude atual, nos seus métodos de vida,
nos seus
singular crise de caráter. A nova geração está perdendo a forte marca antiga
de disciplina,
própria autoridade dos livros começa a ser posta em dúvida. Há, pelo menos,
uma porção de
escolas
de
subordinação dos interêsses reais da vida, - que são os dos adultos - aos das
crianças e dos
jovens, que evidentemente não podem deixar de ser caprichos e
extravagâncias.
grão de verdade que o filósofo costuma dizer existe em todos os erros, nessas
vozes de
fraquezas sensíveis de caráter? Não será que tôda essa psicologia de nos
"exprimirmos a
dissolvente?
Está ainda sob os meus olhos a caricatura de um humorista internacional. O
quadro é
o de uma sala de estar. Duas crianças, uma com um serrote e outra com um
martelo e um
Não direi que não. Pode haver, na aplicação da teoria. Não nos parece,
porém, que
menos forte, exprime tão sòmente a correção, no sentido dessa sociedade, dos
valôres em
que ela, verdadeiramente, se deve basear. Talvez, mais do que tudo, a idéia de
que educação,
experiências.
prega a necessidade de uma escola onde os alunos sejam livres na escolha das
suas
êsse meio êles ganharão o hábito do esfôrço tenaz e continuado, só por êsse
meio assumirão
a plena responsabilidade dos seus atos, só por êsse meio terão caráter e
integridade,
sacrifícios da vida.
Passar daí para o domínio da escola onde não se faz senão o que der na
veneta, onde
tudo seja prazer no sentido pejorativo e flácido dêsse têrmo, seria substituir o
regime do
pseudo-escola nova.
harmônicamente.
O que sucede, porém, com os falsos renovadores? Sucede que êles julgam
que aquêle
meio em que não homem não chegue mesmo a ocupar-se, e viva entregue aos
valvéns da sua
fortes.
Não será, porém, sem graves perigos que tais experiências se hão de
processar. E
tende a isso. E tender é inclinar-se, é ter clisposição para alguma coisa, mas
de que se pode
individual, dirigir o seu curso, corrigir os seus desvios, acelerar a sua marcha,
assistir, enfim,
fundada em tais bases não será, pois, uma escola que forme homens sem
capacidade de
desempenhadas.
O educador moderno não acredita que o pensamento ou a ação se gerem no
vácuo, ou
Só uma atitude falsa de educador, de reverência pouco lúcida para com tudo
que é
outro senão aquêle que sabe ir e vir com segurança, pensar com clareza,
querer com firmeza
e executar com tenacidade, o homem que perdeu tudo que era desordenado,
informe,
Êsse deve ser o produto da escola. Êsse o objetivo por que trabalham os que
desejam
querem a mesma coisa, têm o mesmo ideal, mas vêem faces antagônicas do
movimento que
CAPÍTULO II
A transformação da escola
se impõe.
C) Fundamentos psicológicos da transformação escolar. Nova psicologia da
e INíClO, um esclarecimento. Escola nova. Por que essa designação? Há, aí,
Por que não "escola progressiva", como já vem sendo chamada, nos Estados
Unidos?
Com efeito, o que chamamos de "escola nova" não é mais do que a escola
Nem por isso, entretanto, alguém cuida poder hoje reviver os métodos
errôneos ou
Pois existe tanto uma educação nova quanto uma nova medicina ou uma nova
educação. Renova-se nos seus meios e, por intermédio dos meios, nos
próprios fins.
Fins inexplicáveis não são fins, mas fantasias. Os fins são verdadeiramente
fins
cidades e os edifícios que se erguem pelo mundo, não podiam sequer ser
imaginados
mas de que não se têm ainda os elementos integrais para definir, em tôda a
amplitude,
que lhe serve, ao mesmo tempo, de base para sua estabilidade, como de ponto
de
B) Fundamentos sociais
da transformação escolar
anos atrás, São Paulo era uma cidadezinha sertaneja, de casinhas brancas e
solares
que nos levara até essa sala, alinham-se as "cadeirinhas" que serviam de
transporte à
sua gente fidalga.
imaginativa, o São Paulo moderno, não lhe parecerá menos que milagre a
imensa
mudança.
O "progresso" tomou conta da cidade e e fêz dela o que ela é hoje. Mas, que é
Mas é isso tudo que faz o nosso tempo tão diferente do tempo dos nossos
Por que progredimos? Que foi que se deu no mundo para que pudéssemos,
em
tão pouco tempo, mudar tanto que um romano teria menor surprêsa em se
encontrar
na côrte de Luís XV, do que teria um contemporâneo de Pedro I que surgisse
hoje no
Rio?
Mas, não foi só isso. O fato da ciência trouxe consigo uma nova mentalidade.
passou a tudo ver em função dessa mobilidade. Tudo que êle faz é um
simples
Êle constrói e reconstrói o seu ambiente. E cada vez é mais poderoso, nesse
armar e desarmar de tôda uma civilização. Nesse seu grande afã, por tudo
Com a nova civilização material, feita e governada por êle, começou a velha
porquê e a sua prova, prova e porquê que se encontram nos resultados e nas
experiência, para, à sua luz, se resolver, - por que também não subordinar o
mundo
em tôda a sua vida. Êle ensaia no mundo moral e social, senão com a mesma
audácia,
por certo sob o influxo dos mesmos princípios que lhe permitem
experimentar no
mundo material. Só um esclarecido e nítido porquê, por êle visto e por êle
sentido, lhe
pode determinar a sua ação. A velha ordem preestabelecida, seja ela religiosa
ou
problemas;
b) temos que construir a nossa escola, não como preparação para um futuro
tendências, mais ou menos fixas, que marcam as linhas gerais por onde a
nossa
Por certo não substitui êle o velho dogmatismo das "verdades eternas". Antes,
prova experimental, o que o homem pensa está certo. Um fato nôvo, uma
prova mais
civilização progressiva dos tempos de hoje, tôda feita pelo homem e para o
homem.
ordem em que vivia lhe era ditada por autoridade estranha e superior. A vida
era um
Nem sempre podemos ver com a clareza que o caso exige, como, só agora, o
Quantos de nós ainda cremos que a vida não mudará essencialmente, que a
guerra sempre estará entre nós, que o crime e a moléstia sempre flagelarão o
homem!
Entretanto, quando percebemos que só ontem começamos a progredir, que
não
conhecer, e que, ainda assim, estamos realmente iniciando uma "nova ordem
de
nos deve animar, diante da relativa celeridade com que o homem está
refazendo a
vida, para sua maior tranqüilidade, seu maior bem-estar, sua maior dignidade
e sua
maior felicidade.
Outros poderão achar que, em outros tempos, nesses outros sempre dourados
tempos do passado, o homem foi, por causa de sua maior pobreza, mais
sacrificado e
sofreram mais do que nós e, por isso, tudo lhes deve ser perdoado.
espiritual.
tempos.
para a indústria.
lar, tão decantado, não é mais do que o "lugar onde alguns indivíduos voltam,
à noite,
para dormir".
sente, assim, cada vez mais, que êle é uma simples "peça da máquina", não
havendo
lugar para pensar, nem para ter essa natural satisfação de saber o que está
fazendo e
Nessa nova vida social, o homem não só terá oportunidade para a expressão
de todos êles.
que antes a ela se opõe. Mas, democracia é, acima de tudo, um modo de vida,
uma
expressão ética da vida, e tudo leva a crer que o homem nunca se encontrará
satisfeito
são os dois pólos dessa nova formação humana que a democracia exige.
nos seus méritos e resolvidos de acôrdo com as luzes da razão de cada um.
Êsse
hoje preparar cada homem para ser um indivíduo que pense e que se dirija
por si, em
líder. Pelo menos a si, êle tem que guiar e tem que fazê-lo com mais
inteligência,
por que vamos passando para justificar a alteração profunda da velha escola
foram alterados pela nova ordem de coisas e pelo nôvo espírito de nossa
civilização.
A escola progressiva não pretende, por sua vez, apoiar-se senão nesses fatos e
prática.
religiosas. Tão bem andaram as escolas nessas funções, que Igreja e Estado,
geralmente, porfiavam por seu contrôle, certos de que êsse seria o melhor
modo de
IV - De acôrdo com essa teoria, a escola pressupôs que não tinha mais que
Assim a escola nada mais era do que uma casa onde as crianças aprendiam o
deveriam utilizar.
promoções. O aluno bom era o mais dócil a essa disciplina, aquêle que
melhor se
deveres que cabiam antes a essas duas fôrças educativas, vieram acrescer os
vivendo. Era a sua vida familiar e a sua vida social que a educavam. A escola
todo; por outro lado, essas instituições ganharam uma certa velocidade de
transformação, que não lhes permitem ser conscientes de sua ação educativa.
Não
escola para o fim de servir às novas funções que lhe dita o atual momento de
civilização.
escola deve vir a ser o lugar onde a criança venha a viver plena e
integralmente. Só
Se a escola deve, assim, mais do que informar e ensinar algumas artes úteis,
preparar a criança para ser boa, serviçal, operosa, tolerante e forte, como pode
ela
obter tudo isso pelo velho sistema de disciplina e lições? Como posso eu
marcar uma
situação real de vida pode fazer com que a criança aprenda essas atitudes
sociais
ciência fôra bastante para transformá-la - como ainda lhe cabe o dever de
aparelhar a
criança para ter uma atitude crítica de inteligência, para saber julgar e pesar
as coisas,
consciência do que vai passando sôbre ela pelo mundo afora; e ainda, para
sentir, com
o mundo.
moderno?
regime social em que cada indivíduo conta plenamente como uma pessoa.
aluno, isto é, um regime que procure dar ao mestre e aos alunos o máximo de
direção
moderno, a sua ética social, a criança deve ganhar através da escola êsse
sentido de
independência e direção, que lhe permita viver com outros com a máxima
tolerância,
nossa juventude. Tudo que podemos fazer é dar-lhe método e juízo, para lutar
com
C) Fundamentos psicológicos
da transformação escolar
Até o presente, nada mais fizemos do que insistir nas exigências novas que
uma
Como a escola deve ser uma réplica da sociedade a que ela serve, urge
presente ordem de coisas. Além disso, porém, uma visão mais aguda do ato
de
nos livros. Não bastava decorar, não bastava compreender, era ainda
necessária a
A nova psicologia veio provar não ser isso ainda suficiente. Aprender é
alguma
que se dá. Aprendemos, quando assimilamos uma coisa de tal jeito que,
chegado o
especial de reação.
Quando é que aprendemos - dois mais dois são quatro? Quando diante de
aprendemos tem assim uma fôrça de projeção que nos força a reagir daquele
modo
Ora, do mesmo modo que fixamos a resposta específica para essa situação,
do
mesmo modo aprendemos qualquer outra coisa. Uma habilidade, uma idéia,
uma
Não aprendemos uma idéia quando apenas sabemos formulá-la, mas quando
a
fizemos de tal modo nossa, que passa a fazer parte do próprio organismo e
exigir de
inclinação (“readiness”).
Pela primeira, afirma-se que aprendemos, pela prática, certas reações que
ocasionam certos efeitos e não aprendemos outras. As reações que não nos
Mas se eu quiser ensinar a urna criança a ser boa, não há meio de fazê-la
bondade.
Logo, se a escola quer ter uma função integral de educação, deve organizar-se
Propósito ou intento do aluno. - A lei do efeito nos diz que não aprendemos
tudo que praticamos, mas aquilo que nos dá prazer ou satisfação.
intento do indivíduo que vai aprender. Se eu quero aprender a fazer uma certa
o seu interêsse para usar a palavra consagrada, orienta o que vai êle aprender.
Imaginemos uma criança que aprende a escrever. Tôda a sua atividade física
colegas, para com o professor e para com a própria vida, a criança está ali
sumamente complexo.
Então vemos como a velha escola, onde as crianças iam para fazer aquilo que
aprendizagem.
*
**
pelos alunos pode fazer da vida escolar uma vida que êles sintam que vale a
pena viver.
crescer, e que saibam ainda que crescer é ganhar cada vez melhoes e mais
onde se vive.
**
Está claro que não vamos fazer a criança repetir a experiência racial tôda,
desde o princípio. Isso seria, como diz DEWEY, simplesmente estúpido,
porque
compêndios finais.
Imaginemos que algumas crianças desejam fazer uma reprêsa. Está aí uma
atividade que é delas e que representa uma situação real de vida, porque
várias vêzes
foram até êsse pequeno rio e sempre cogitaram de ter ali um reservatório de
água
Metem mãos à obra. O professor sugere estudar o assunto. Antes delas, tôda a
escolar.
Está aí como os livros podem e devem ser utilizados. Nem por isso a situação
escola que não seja, realmente, de vida, dar à criança os hábitos sociais que,
**
trabalho.
Não basta, porém, que os alunos sejam ativos. É necessário que êles
escolham
uma criança a praticar tênis. Se não tem interêsse no jôgo e não quiser
aprender tais e
determinados golpes, poderá exercitar tôda a sua vida e nada aprenderá. Os
insucessos não a aborrecem, nem lhe dão prazer os sucessos. Umas e outras
CLAPARÈDE, que as crianças não façam tudo o que quiserem, mas queiram
tudo o
que fazem.
muito fáceis - tanto maior probabilidade de sucesso haverá com todos os bons
efeitos
E, por outro lado, só em uma vida onde todos trabalham com o sentimento e
adulta.
**
Tôda educação até hoje foi autocrática! Os mestres sofriam a autocracia dos
escolas, a uns e outros tem-se que dar independência. Educar é uma arte tão
alta
últimos.
no aluno. Perca para sempre a idéia de que lhe cabe qualquer soberania sôbre
o
pensamento do seu discípulo. Dê-lhe oportunidade para pensar e julgar por si.
Os
problemas dêle só poderão ser resolvidos por êle. Êle vai viver a vida um
passo
liberdade de pensar.
Não passe pela cabeça de ninguém que isso seja completa anarquia. Tão
habituados estamos a impor nossas fórmulas, que parece que o dia em que
elas
nós.
E com a nova civilização, o que desejamos é uma vida melhor e mais ampla.
A
direi que é mais liberdade e mais felicidade. São vagos os têrmos. Mas, nem
por
isso êles deixam de ter sentido para cada um de nós. À medida que formos
mais livres,
todo êste estudo paira a convicção de que a vida é boa e que pode ser tornada
melhor.
CAPíTULO III
Diretrizes da educação
do ensino.
aluno. Conclusão.
A) A criança - centro da escola
C sp
de liberdade (1).
nunca como um meio. Êsse velho princípio caracteriza uma das diretrizes
mais
desloca para a criança. Não é mais o adulto, com os seus interêsses, a sua
ciência, a
sua sociedade, que governa a escola; mas a criança, com as suas tendências,
os seus
Visitei, por mais de uma vez, várias dessas escolas, em vários e diversos
centros de civilização.
desordem. Os alunos - tal nome não tem sequer sentido nessas escolas - por
tôda a
fazer. Nesta sala, tôda uma cidade armada no chão. Com linhas de bonde, luz
elétrica,
Quando se busca, como é inevitável, contrastar aquela infância com o que foi
a
nossa infância, as lágrimas nos vêm aos olhos. A doçura daquele espetáculo
desfaz,
muito funda nos dias melhores, que já vêm chegando, dias em que a infância
seja
Até que ponto, porém, essas escolas são possíveis no mundo? Até que ponto
situações, para servir às experiências de cada dia. A escola é tôda ela flexível,
como a
Entre êsse extremo e o outro extremo da escola tradicional, há tôda uma gama
de posições.
Nem vale a pena alguém se assustar com a perspectiva dessa liberdade sem
científicos e sociais.
das crianças para lhes dar as formas cônicas ou chatas, que os costumes
prescreviam.
Essa deformação física é bem mais inocente que a deformação mental a que
ainda
hoje nós, civilizados, submetemos os pequeninos cérebros infantis.
escola e se encontra na família. Por tôda parte a criança é mais bem tratada.
espontâneo e harmonioso.
fenômeno educativo.
organismo total da criança, pode-se de logo ver que a escola tradicional está
errada.
O organismo não pode ser treinado por partes. A sua atividade funcional de
educação
sua participação, nem o seu desejo, nem a sua atenção, e se a obra interna da
respeitável e sincera.
programa escolar.
Seja lá qual fôr o programa adotado, alguma teoria de educação está nêle
por fôrça, é que hão de governar a sua fatura, o seu método e o seu conteúdo.
GERARD, a escola visava a ensinar à criança tudo aquilo que ela, quando
adulto, não
podia ignorar.
escola.
processo educativo por que passa o homem desde que ingressa na vida. Nesse
Ao invés disso, a escola deve ser uma parte integrada da própria vida, ligando
Aprender não significa sòmente fixar na memória, nem dar expressão verbal
e
própria ao que se fixou na memória. Desde que a escola e a vida não mais se
aquisição de alguma coisa que reaja sôbre a vida e, de algum modo, lhe
enriqueça e
aperfeiçoe o sentido.
e os métodos da escola.
Está claro que não basta, para isso, aprender uma informação. Pode-se saber
Só se aprende para a vida quando não sòmente se pode fazer a coisa de outro
modo, mas também se quer fazer a coisa dêsse outro modo. Só essa
aprendizagem
suficiente para a sua aquisição. A criança tem que ser levada em conta. E,
com ela,
não se aprenda. Para que se aprenda mal e para que se aprenda bem.
que devem ser aprendidas. Sob o pretexto de preparar para o futuro, êsse
programa
disposições que lhe falsificam o caráter, lhe retiram o espírito crítico e lhe
minam a
criança e do homem. Mas, por isso mesmo, não se pode exercer senão na
matriz da
seja real e integrado à própria vida. Seja um cálculo de aritmética ou seja uma
lado, os que afirmam que o programa deve ser feito todo êle
antecipadamente, se não
organizam.
leis que a experiência humana veio descobrindo - é tão rico e abundante, que
exige e
impõe uma seleção, à vista do valor educativo dos seus diferentes elementos.
serão tão bons, que qualquer determinação externa pode vir a prejudicá-los, e
alguns
inevitàvelmente a desastre.
que vivem.
organizados.
êle devidamente planejada. As atividades devem ser tais, que levem os alunos
à
sistematização?
Primeiro: não precisamos voltar ao princípio para dizer que pode êsse meio
não
ser ainda o melhor, mas só assim a criança realmente aprende alguma coisa.
muito nos dá uma tôla e inútil erudição. Não é senão um meio-saber verbal,
que nada
cria nem produz. No melhor dos casos, fica essa erudição. Nos demais, tudo
que foi
escola.
Não tenhamos, pois, receio de que as nossas crianças vão aprender menos.
**
valôres, que se pode estabelecer, - atentos, assim, para que sempre o saldo
seja a
C) Organização psicológica
O próprio estudo das matérias escolares nos vai levar, também, aos mesmos
classificados do saber.
Por que razão julgou a escola que ensinando aquêles diferentes ramos do
saber
contemporânea.
modo desligados da sua matriz social, que nenhum alcance tinham já sôbre as
atividades reais dos homens. A tarefa dos educadores era a de prover um
meio social
de cultura do seu grupo. O seu êrro estêve em organizar esse meio pelo
estudo de
que existem entre as diferentes partes da sua estrutura lógica. São matérias de
mesmo passo, por isso que se acha em contato com outros, a criança aprende
através
das experiências alheias, que lhe são comunicadas. Aprende por intermédio
da
sistemática.
tempos à terceira fase. Como todo o material acumulado hoje nos livros é
imenso e
dividi-lo e dá-lo por doses aos alunos. A escola constitui, então, um outro
mundo,
livros.
Para isso temos que fugir da organização "lógica", que representa o seu
último
do especialista.
criança tenha sido a queda de uma pedra em seu pé, por tê-la colocado em
uma
por nenhuma outra. Aprende aí qualquer coisa. Na próxima vez, já não agirá
do
mesmo modo. Terá mais cuidado. De alguma sorte, sabe que, se a pedra não
fôr
colocada de certo modo, virá a cair. A sua primeira experiência deu-lhe certos
E R E R E R E R .........................................................................
2
2
anteriores R
+R
; mas é qualquer coisa dependente dêles e reorganizada,
vai-lhe
Teriamos:
E R E R E R ................... E
................... E
50
50
51
51
R n.
n
Nessa série, como na dos primeiros conhecimentos da criança, cada E
seria mais complexa, permitindo uma análise mais minudente das partes e
uma
É sobretudo para notar, aqui, como a concepção lógica da matéria tem assim
são pedaços isolados, sem ligações nem ordem. Quando muito, são
classificados
tôrno de sua rua, de sua cidade; os do adulto, por isso que a sua visão mental
é muito
cada momento da vida, uma determinada pessoa tem um saber próprio, com
os seus
Não pareça isso extravagante. A organização lógica não pode ser outra coisa
O saber, mesmo de uma criança, desde que seja um verdadeiro saber e que
afete a sua conduta, tem alguma organização lógica, tanto que ela o pode
aplicar. Do
série de experiências, para obter novos resultados. O seu gênio o leva utilizar-
se de
n
essência, que a da criança nos seus primeiros passos.
-,
A criança, que chegou à escola com o seu desenvolvimento em física ali pela
50
R , que lhe é impôsto à inteligência, em lições. É o mesmo que desejar dar-
lhe a
e assim por diante, sem nunca lhe mostrar a cadeira tôda. Porque, notemos
bem, na
dado. Porque não é uma simplicidade inicial; mas uma resultante de muitas,
de
sucessivas generalizações e sínteses. A simplicidade dos primeiros
conhecimentos
não deve ser, não pode ser a que se supunha existir nos princípios
fundamentais de
uma ciência feita, aos quais ela só chegou ao final do caminho percorrido de
sua
formação mas a que existe em idéias que são ensinadas globalmente por
exemplos
inadequada, mas não pode deixar de ser global. Não conseguimos tornar o
ela começa a diferenciar as partes e estas passam assim a ter uma existência
mental
mais minucioso, mais exato, mais completo e, podemos dizer, então, mais
complexo.
Do mesmo modo em física. Está claro que a criança que deixou cair a pedra
em seu pé, não teve, nesse dia, a visão total da física ou sequer das leis, dos
progredirá, até que uma ciência da física se lhe esboçará no espírito. Dêste
modo,
ciência, nunca poderá ser compreendido pelo aluno, nem como parte, nem
como todo.
O professor poderá dar uma certa unidade à lição, mas êle mesmo não a verá
como
como qualquer coisa mal arranjada, que êle não sabe a que prender ou ligar,
por isso
que ainda não conhece o todo a que pertence o trecho, a fatia que lhe dão para
aprender. Tudo que pode fazer é recorrer a palavras, para repeti-Ias quando
llie
tanto se envergonharia.
compararmos aos que se perdem pelo caminho, à grande massa dos que nada
de experiência vital e orgânica, que deram sentido aos seus estudos. E mais:
os passos sucessivos, lhes foi possível uma revisão global da matéria, revisão
que lhes
partes e das suas relações com o todo, que, nesse momento, vieram a
perceber.
Sistema, cujo sucesso esteja a depender de tais esforços e de tais riscos, será,
**
Sob tais bases, o ensino passará a ser dado por meio de projetos, em vez de
hoje é dividida a matéria, por isso que se devem organizar em harmonia com
os
determinada atividade.
que exigirão maior soma de conhecimentos, cuja necessidade ema mesma irá
sentindo. Tôda a matéria que fôr assim chamada a dar a sua contribuição,
deverá ser
projeto.
matéria, o que lhe vamos dar em substituição àquele possível valor perdido?
encontra.
escolha participou, cujo fim percebe e procura atingir, tem no propósito que o
anima a
raciocínio e para as suas pesquisas. Está tudo disposto do melhor modo para
o seu
formando e que são a tôda hora utilizáveis em sua vida, porque ela os
conquistou por
O aluno que tiver gôsto e inclinação pode chegar até lá. Os seus projetos se
que a ciência podia ser ensinada pelos seus resultados e não pelos seus
métodos. O
Êsse resultado pode perfeitamente ser atingido dentro da teoria escolar que
1) A escola deve ter por centro a criança e não os interêsses e a ciência dos
adultos;
4) A criança, na escola, é um ser que age com tôda a sua personalidade e não
uma
**
Mas, desde que os princípios estão certos, não há razão para não tentar
realizar
não acreditavam em ensinar sem o castigo físico. Seria tão absurdo propor a
êsses
súbita.
- Segundo, retirando do dia escolar uma hora ou uma meia hora, em que se
fim em vista.
adquiridos.
liberdade aos alunos para organizar a sua vida social e recreativa. Estimule-os
neste
exercício de autonomia e de responsabilidade.
As novas idéias - que já não são inéditas e já estão até bem comprovadas
CAPÍTULO IV
A educação e a sociedade
A mùtuamente se influenciam.
transformação de plano.
permanente a marcha das coisas. Vai dar-lhe, isto sim, um ritmo diverso de
certeza.
As antigas leis científicas não terão, talvez, a rijeza estável que lhes
atribuíamos, mas
**
Não há, contudo, nos diferentes estádios dessas últimas organizações outro
mental.
Nas relações entre aquêles diferentes estádios, não existe nenhum problema
especial, por isso que êles não são de natureza diversa, mas contínuos e
graduais,
em que se processam.
dessa atividade. O organismo, entretanto, não sabe ainda que tem essa
atividade. É
só no nível mental que surge essa nova qualidade: o animal, a natureza não
sòmente
sente e age, mas sente, age e sabe que sente e age ...
Êsse nôvo fato transfigura a face das coisas. Agora, as fôrças psico-físicas do
**
dos seus elementos e prevê, fazendo surgir uma nova natureza que se
subjuga, se
redirigido em seus próprios meios e fins, como que desejaríamos indicar que
não é a
mesma.
Não sobra aqui espaço para refutar esse dualismo em tôdas as suas
conseqüências.
Individual.
seio da própria natureza, podemos volver aos quadros habituais das divisões e
interessam.
particularmente.
natureza.
corrigir.
**
generalizações e das técnicas, que permeiam a vida civilizada, deve ser, por
conseguinte, assimilado pelo homem, para que se torne capaz de viver a vida
ao nível
**
educativo.
pudesse conceber.
Muitos dirão, porém, que não vai longe disso o que sucede.
Se, pelo contrário, entendermos que a inteligência é uma fôrça livre, que se
Tôdas essas filosofias são, de tal sorte, não só impotentes para a direção da
inteligência, mas prejudiciais ao seu próprio exercício, por isso que a desviam
das suas
condições reais.
veremos, a um simples golpe de vista, que ela deve agir dentro da estrutura
da
realidade que lhe é própria. Por mais variáveis e numerosos que sejam os
seus
movimentos, êles se devem conter dentro de processos naturais e orgânicos,
cujas
**
natural das realidades foi que levou o homem a tantos erros sôbre o seu
nada disso pode existir. O homem pensa em sociedade, para a sociedade, com
social.
particulares condições de êxito, por isso mesmo que é o recurso natural para
o
de direção social.
seja imposta, mas fruto da sua própria escolha ou decisão. Esta escolha ou
decisão se
fará, porém, na maioria dos casos, no sentido da instituição social ou do
costume
Até aqui nos temos referido à educação como fenômeno normal da vida do
maravilhosa.
social e moral.
Desde que, no imenso laboratório, as maiores dificuldades de comunicações e
geração.
tempos que precederam o nosso, a instituição que velava para que se não
perdessem
é preciso aprender. Mais do que isso. As mudanças são tão aceleradas que, se
a
necessário começá-la de nôvo, tão longe, tão adiante já se acharia a vida ...
Por tudo isso, a escola teve que deixar de ser a instituição isolada, tranqüila,
do
Dentro da transformação real que se vai operando ria escola, ainda não há,
grande e larga escola. Urna escola, porém, acidental, sem planos e sem
previsão.
Enquanto o que havia a aprendeir era pouco, não seria para espantar que a
quadro.
fatos naturais, que tão sòmente deverão levar o homem a se preparar ainda
mais, e
reconstruir melhor, com sentido mais amplo, mais ordenado e mais rico, a sua
própria
vida.
do aperfeiçoamento social.
A grande tarefa dos nossos dias é preparar o homem nôvo para o mundo
nôvo,
que a máquina e a ciência estão exigindo. Até agora, temos um homem ainda
antigo,
esfôrço de uma prolongada série de erros. Não que acreditemos que o homem
volte
atrás. O homem vive não tanto para ser feliz, como pelo seu instinto de viver.
O dia
O progresso não consiste nas mudanças materiais que sofre a vida, mas no
compreender.
Êsse progresso é possível por meio da educação, e só por ela, desde que nos
utilizemos da escola como uma instituição inteligentemente planejada com o
fim de
permanente progresso.
Dir-se-á que isso tem sido a escola. Não é, porém, exato. A escola, até os
transformada em realidade.
soluções nem sequer estão ainda entrevistas. Há mesmo tôda uma série de
questões
participação nessa cultura, nessa civilização e, mais do que isso, aos deveres
novos
de os preparar para guiar a sua própria renovação, - bem podemos ver como
deve ser
obtida sem uma ampla formação científica e social. Não será nos curtos anos
de uma
não é tarefa simples, nem de fácil execução. Que dizer, pois, de preparar a
escola - a
Como nos parece distante, à vista disso, a pequenina escola de outros tempos,
opostas, sentindo que a vida evolve um pouco pelo seu esfôrço próprio de
melhor agir,
É muito, dirão todos. Isso não será possível nem realizável. Em vez de
em contato com elas, que são o objetivo mais digno do amor e da dedicação
humana.
homens. Êles (os professôres e educadores) têm, pois, razões de crer, de lutar
e de
esperar.
E, mais que tudo isso, êles trabalham em um ambiente onde tudo está
CAPÍTULO V
A conduta humana
A) Moral científica e moral tradicional. Separação da moral das atualidades
organização social.
A organização atual da vida justifica êsse êrro. Exceções: vida infantil, vida
de
diretores da moral.
inteligentemente.
Essa transformação deve impregnar tôda a vida da escola, se é que lhe cabe,
conforme vimos, o papel predominante na formação do homem.
Até os dias de hoje a conduta humana não se pôde guiar por conceitos
positivos
malária que lhe mina o organismo, não é causada pelos germes com que o
infetam os
de vidas pregressas. Não há, pois, outro meio de tratar-se, senão pela oração e
penitência.
Está claro que, enquanto assim pensar, não poderão progredir, com aquêle
indiano, a biologia ou a patologia. Para todo o sempre, êle continuará a rezar,
a fazer
natureza. E como uma e outra coisa são mais ou menos impossíveis, estamos
como
pregar, em moral, uma coisa e a fazer outra. E a moral que nos devia fazer
felizes,
da felicidade do homem.
tivermos para com êle a mesma atitude experimental que temos para com os
males
Parece muito radical tal modo de ver? Mas não haverá outro meio de
progredir,
essência da moralidade.
moralidade convencional.
bom, nem ser muito mau. Mas, ser neutro. Evitar os extremos. Evitar a
uma capa em que urge revestir os atos, para a necessária aprovação social.
Frios e
ser sentimental - o que quer dizer ineficiente. Nada, pois, mais natural do que
a
a vida dêsses homens de ação são, talvez, as mesmas que espalham pelo
mundo
50% dos sofrimentos que nos atormentam. E tudo isso só é possível porque
um falso
Não há, portanto, o que admirar na sua freqüência às casas de caridade para
E assim seria, com efeito, se tudo se passasse com tamanha lucidez. Mas, a
ironia está em que êles são os primeiros iludidos. Não percebem nem de
longe a
êle mesmo não sabe calcular o alcance, é capaz, nesse dia, dos gestos mais
humana.
ininteligente.
Os grandes burgueses são, pelos menos, inteligentes. Na vida êles querem
Há, porém, um terceiro grupo. É o dos que tomam a sério a moral como
perfeição interior. Com a análise inquieta dos seus motivos de ação. Vivem a
A "vida quotidiana" é para êsses homens uma coisa atroz. A vida de ação, de
Mas, pelo menos, dir-se-ia, êsses são perfeitos e felizes, êsses vingam a
favor dos outros. Se a vida moral exige que desprezemos a própria vida,
exige que a
renunciemos - de que mais se precisa para provar que ela está errada, está
afastada
de seu objetivo?
grupo.
amor dos homens não são percebidas por êsses cavalheiros do espírito. Foi tal
sentença.
A sua ação continua, porém, viva e sutil no mundo mental. Êsse grupo ainda
essas inteligências, tal qual ela é, dá-nos direito a condenar a sua influência.
dos homens de ação que se utiliza de tudo isso para a realização dos seus
propósitos
e que defende, por essa causa, a moral cômoda que lhes permite os triunfos.
Os
Que admirar, pois, que a vida nos pareça sem sentido e a felicidade um nome
vão e irrisório?
sonhos e o da realidade.
Mas tão falso é êsse estado de coisas que todos o sabem precário e
passageiro.
e a infelicidade.
O ideal, segundo idéia tão esdrúxula, mas tão comum, seria a permanência da
infância.
Analisemos as premissas em que se funda essa moral que faz da vida de cada
2ª) Considerar a atividade humana em si, não como o bem, mas como simples
meio de
prendem a uma ordem espiritual sagrada, que se não pode modificar sem
graves
prejuízos para os homens.
e de suas conseqüências
natureza humana.
dessa enormidade.
Por certo o deísmo filosófico do século XVIII, como primeira reação, foi
com que se costumava agraciar a lei divina. Seguir a natureza era ser perfeito.
de algum modo, renovar a descrença antiga na natureza humana. Não era, por
certo, a
dessa época.
da concepção evolucionista.
ainda não havia chegado, mas chegaria ... Era questão de tempo.
Que diria SPENCER se tivesse vivido até os nossos dias? Se tivesse assistido
à
Guerra? Se conhecesse a perturbação do Após-Guerra?
então, do uso que iremos dar a essas leis. A descoberta, por exemplo, das leis
que
conhecimento das leis naturais leva, tão sòmente, à conformidade com elas,
resultaria,
causa do impaludismo.
histórico.
levará à perfeição.
conseqüências do seu ato, - cria e recria o seu ambiente. Os seus instintos têm
mil
modos de expressão. Quase nada é fixo, assim, nem em sua natureza, nem em
seu
Não há, pois, leis inflexíveis para o seu progresso. Houve-as, por certo, para a
evolução de sua natureza biológica, que talvez ainda esteja a sofrê-las. Mas,
para a
sua natureza social, não houve leis. Houve, até hoje, o acaso, o acidente,
criando
Não há nada que justifique, hoje, afirmar-se que uma lei imanente qualquer
Com o conhecimento progressivo que vamos tendo das causas e efeitos nas
ciências sociais, é que nos irá sendo possível traçar certas leis experimentais
ou,
naquele sentido.
A natureza humana não é mais que a matéria-prima, nem boa nem má, que
humano que deverá ser julgado pela maior ou menor amplitude com que
permite ao
tentado, como tudo tem sido tentado. O bom ou o mau será o que expande ou
o que
Mas, dir-se-á, não é isso o que vemos. O que vemos é a natureza humana
sempre a mesma, aqui e em tôda a parte, sempre se organizando sob os
mesmos
moldes e sempre caindo nos mesmos crimes, sob o impulso dos mesmos
instintos.
**
A segunda premissa da moral, como foi entendida pelos moralistas, e que nos
julgar-se a vida.
Dentre as muitas formas que assume, a mais popular é a que faz da vida
idéia, que define a vida como um exílio ou uma prisão, onde o homem, no
trabalho e
mesma idéia e cuja discussão tem maior importância. Não nos interessa uma
teoria
Mas, dentro das que a põem aqui, neste nosso pequenino planêta, também se
atividade.
Pretendem essas teorias que o fim, êsse fim externo a alcançar, seja o prazer
Sob o aspecto lógico, andam mais acertados os que transportam essas penas e
recompensas para uma outra vida, do que os que esperam que êsse jogo de
castigos
que resta, pois, senão dormir na ilusão de um outro mundo, onde afinal as
penas
Aí está a razão por que a idéia de uma outra vida ainda embala a consciência
Mas, na raiz de tôdas essas doutrinas estão, ao que nos parece, um êrro de
fato
e um êrro de compreensão.
O êrro de fato consiste em supor o homem um animal inativo, criado para não
tôdas essas filosofias morais reponta sempre essa idéia espantosa: um estado
de
passa a existir sòmente como meio de atingir aquêles fins. Se, por qualquer
processo,
os fins pudessem ser obtidos diretamente, sem esfôrço, estaria obtido o céu.
O homem
relação ao modo por que funciona em nossa vida o que chamamos de fins e
meios.
seu fim era reconstruir a atividade interrrompida. Tal curso de ação lhe
apareceu como
resolveu escolher dentre todos aquêles que lhe surgiram em sua análise da
situação,
é, no fundo, o meio pelo qual vai reorganizar a sua atividade. Não é qualquer
coisa
estranha que busque atingir por meio da atividade. É antes o próprio meio,
repetimos,
Os fins, pois, dos moralistas, longe de serem coisas remotas que temos de
existissem alvos, tal atividade não seria possível. Os fins existem antes da
ação
ao repouso; para evitar a sua completa degradação, haviam sido criados por
algum
O que nos interessa aqui, porém, é o modo por que o moralista dissocia e
arco e imaginou o alvo, para tornar mais significativa a sua ação de atirar.
resultados.
supremo da vida humana porque tal fim não existe. A atividade humana se
justifica por
Será que o bebê que procura o seio materno, o faz depois de balancear as
e se resolve afinal pela que lhe parece levá-lo mais diretamente ao prazer
aspirado?
Está claro que não. O seu organismo, movido pelo impulso da fome, arrastou-
o
O adulto não age de outra forma. Os seus desejos não são mais do que
constante penar, e o mais que nos pode dar a sabedoria humana é uma
diminuição
são coisas alheias que vamos comprar com essa atividade - viver é um
sacrifício
próprio gozo e essa própria alegria em que se põe o prêmio da vida, são, no
fundo,
Apenas, quem assim pensa engana-se com a organização da vida dos moços.
Também aí os conflitos entre o que é e o que devia ser, são enormes. Pelo
menos,
logo que se inicia o período escolar. Até êsse momento a vida é feliz. As
crianças,
existir mais feliz é a infância. Não existe, porém, a obrigação pela obrigação,
a
bem futuro a atingir. E isso é que torna a vida, em si, pesada e inaturável.
Mas, logo que a escola começa, começam geralmente essas torturas e, então,
Há, porém um grupo de homens para quem o trabalho é a sua própria alegria.
Sobretudo os artistas e os que dão à sua própria vida a natureza de uma obra
de arte,
prazer e de alegria? É que o trabalho vale por si mesmo, e não é uma simples
atividade que se perfaz pelo resultado externo que dela poderá advir. O
quadro, a
resumem as suas próprias vidas. O seu trabalho, o seu prazer e a sua missão,
tudo
trabalho daria a felicidade. Nesse dia, a teoria moral que defendemos estaria
partilhasse dos planos que o governam, e que lhe não déssemos sòmente uma
tarefa
a cumprir, cujos fins êle não aceitou e nem mesmo chega sequer a perceber,
Agindo,
então, sòmente por obrigação, a sua atividade se dissocia entre o que êle quer
e o que
êle faz, e, com essa dissociação lhe foge a sadia alegria de viver e de
trabalhar.
superficial e grosseiro.
tivesse que o ser para sempre. O seu êrro maior está exatamente aí. As duas
doutrinas
experiências novas e buscam emprestar, não sei por que receio, uma
significação
Tôdas elas, seja o salário, seja a divisão entre a produção e o consumo, seja o
mudar e que devem mudar, assim que o homem compreenda e veja que elas
não lhe
facilitam a felicidade.
**
morais não podem ser encontrados nessas experiências. O homem vai buscá-
los em
humano.
suprema. Tudo que era natural era bom e era santo. O assunto, entretanto, já
foi
A moral para ser eficiente e progressiva tem que se fundar, como qualquer
outra
C) Conclusão
sobretudo, fazer a crítica das doutrinas mais responsáveis por uma concepção
falsa da
moral e da vida, mas dêsse longo arrazoado decorre uma conseqüência geral
que vale
humana.
agradável e satisfatória.
A atividade não será, dêste modo, uma preparação para um bem futuro e
remoto, mas, ela mesma, êsse bem. Não vamos ser felizes no futuro. Ou
seremos
o seu ambiente, de mais incerteza se semeia a sua vida, e mais difícil se torna
viver
em segurança e em harmonia.
troca, o sentido dinâmico da nova ordem em que vive. Esteja à altura de suas
próprias
criações.
A vida é mais vasta, mais complexa, mais rápida, mais intensa e mais
trepidante, mas, por isso mesmo, pode ser mais rica, mais cheia, mais
acidentada e
mais vigorosa.
Os princípios que regulam a conduta têm de ser refeitos à luz dessa nova
timidez, nem por amor à autoridade, nem pelo desejo secreto de defender os
não desaparecerão da Terra. Nem uma, nem outra, podem, entretato, impedir
a
momentos da vida é um jôgo com o futuro. Quanto mais armado para a luta,
melhor.
Vitória e derrota, tôdas têm, porém, a sua parte de prazer. Mais do que isso.
O
verdadeiro prazer está na luta. Se bem sucedida, a luta de amanhã será mais
dos homens. O insucesso não os abate, porque contam com êle entre as
possibilidades esperadas. Se não existisse, as vitórias perderiam o melhor do
seu
sabor.
desaparecido da existência.
CAPÍTULO VI
Filosofia e educação
A) Origem da filosofia
ERIA UMA ILUSÃO julgar que o homem foi ou é, ainda hoje, um animal
friamente
físicas do seu reino material, mas entre as suas memórias e os seus símbolos.
A
viver a vida.
O fato de que o homem não recordava senão para o seu deleite, empresta a
têrmo com a mais explícita das reservas - que daí decorriam e que
governavam a vida
porque essa vida se dividia em dois reinos isolados: o da prática e o dos ritos,
A classe dos sacerdotes ou dos guardas dessa tradiçao mitológica era a classe
Isso, porém, foi obstado, sobretudo pela separação de classes entre os que
labutavam nas indústrias e os que se entregavam ao estudo e à guarda das
religiões e
dos ritos. Tal divórcio, porém, acabaria por ser sentido. A massa de
conhecimentos
das crenças, dos costumes e dos modos de viver. Não eram precisos
intelectuais
porque nas crenças e nos costumes nunca houve idéia que por absurda
deixasse de
ser aceita. Tão pouco racional é o homem, que nunca a observação mais
elementar
real.
mundo ocidental.
da humanidade.
ou de utilidade prática. Por que não se deu a destruição, que nos poderia
parecer
inevitável?
O progresso intelectual dos homens não se fêz por êsses golpes. Não há
que não chegavam a consolá-lo, mas apenas lhe permitiam viver e sofrer.
Todo o pêso das suas emoções o arrastava para a tradição. Tão grande era
êsse pêso, que homens como Sócrates, Platão e Aristóteles, não levaram a sua
Pouco importa que, històricamente, a tese de DEWEY não esteja sempre com
todo o apoio. O seu ponto de vista não é, por isso, menos interessante para
nos
Em primeiro lugar, dada essa origem da filosofia, verifica-se que lhe faltou,
de
não se iniciou para a busca pura e simples da verdade, fôsse ela qual fôsse. A
filosofia se iniciou para reconciliar produtos mentais já existentes. A sua
tarefa, a sua
final, da verdade universal, trazendo para objeto dos seus estudos uma
verdade tão
E, por outro lado, o feitio pedante, obscuro e aparatoso dos seus raciocínios e
Para provar um fato real e prático, basta produzi-lo e apontá-lo aos outros - e
Para provar, porém, "verdades de doutrinas que não podem ser aceitas senão
Decorre daí o caráter sibilino e sutil das filosofias, com especialidade das
que,
ainda depois dos gregos, foram arquitetadas na ldade Média, com a mesma
orientação
fundamentos racionais.
filosofias.
estudo.
Que evolução sofreu a filosofia nos tempos modernos, que tenha podido
método que uma matéria. O seu objeto era, em realidade, o conflito entre as
verdades
diferentes da
Daí, porém, a passar à pesquisa de uma chamada verdade superior e final era
E, então, o chamado
selvagem sabia que o atrito entre dois pedaços de pau produzia o fogo. E êsse
saber
era um saber real, prático e positivo, um saber que resultava. Entre os gregos
já
o que chegou à plenitude do ser, o que é, e nada mais. Decorria daí uma
hierarquia
de valôres. As coisas valiam mais, à medida que se aproximavam do
completo ser.
Não era, pois, senão uma corrupção intelectual querer levar o raciocínio para
a
oficina ou laboratório.
humana, que se conservou até o século XVII nessa atitude estática e não
progressiva.
"o "filósofo" a um homem cego que procura num quarto escuro um chapéu
prêto que lá
não se acha".
em sua totalidade, uma visão tão completa e coerente quanto possível. Nesse
sentido
a filosofia se distingue da ciência, que é a série de conhecimentos verificados
e
que se busca êsse conhecimento. Procura-se, aí, com efeito mais um ponto de
vista
O sentido das coisas não se confunde com a verdade, como nos habituamos a
considerá-la em ciência.
profundo.
Vai às "causas últimas" para usar a velha expressão, porquanto nos deve levar
à compreensão mais larga, mais profunda e mais cheia de sentido que fôr
possível
simples hipótese de valor, sujeito aos vaivéns da apreciaçao atual dos homens
e do
Essa noção nos leva ao conceito de WILLIAM JAMES, quando afirma que
todos
precisamos de filosofia.
C) Filosofia e educação
margem da vida, sem interêsses e sem paixões, sem amôres e sem ódios,
pode julgar
seja a vida, tal seja a civilização, tal será a filosofia. A filosofia de um grupo
que luta
"Com efeito", acrescenta êsse autor, "a não ser que uma filosofia seja
não quer se transformar em rotina e empirismo, deve permitir que os seus fins
e os
pois, senão o estudo dos problemas que se referem à formação dos melhores
hábitos
provisórias.
dos homens seja amparada e facilitada pelas formas mais lúcidas e mais
ordenadas.
Essas aspirações e êsses ideais serão, porém, uma farsa, se não os fizermos
dominar
A escola tem que dar ouvidos a todos e a todos servir. Será o teste de sua
O professor de hoje tem que usar a legenda do filósofo: “Nada que é humano
me é estranho”.
Tem de ser um estudioso dos mais embaraçosos problemas moderno, tem que
ser estudioso da civilização, tem que ser estudioso da sociedade e tem que ser