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Cumprimentos;
2. Como surgiu o interesse sobre o tema;
3. Como chegou ao problema central da pesquisa;
4. Que avanços e descobertas foram feitos;
5. Que dificuldades foram encontradas;
6. Introdução;
7. Conteúdo dos capítulos;
8. Conclusões sobre o estudo.
Resumo:
O que leva a realizar o presente estudo é o fato de que em alguns casos, algumas
calamidades a população não consegue retornar ao ambiente de origem, por muitas vezes se
tornar inabitável, sem água potável, luz, ou simplesmente por ter sido devastado, como
podemos observar, a nível internacional, as ilhas Maldivas que estão correndo risco de extinção
devido à elevação do nível do mar em virtude do derretimento das calotas polares, assim tendo
a população que buscar novo local de moradia, migrando para outros Estados. O grande
problema se encontra no fato que estes indivíduos e grupos que se movem impelidos pela
degradação ambiental não estão definidos nem protegidos em leis internacionais, podendo ser
reconhecidos como uma nova categoria, que ainda não tem nomenclatura definida, podendo
ser chamados “refugiados ambientais”, “deslocados ambientais”, “migrantes ambientais”. Será
feita uma análise das legislações vigentes para apresentar ferramentas importantes no auxílio
dos diversos atores internacionais no desafio da construção de um sistema de proteção jurídica
internacional aos “refugiados ambientais”, a partir de uma visão crítica e multifacetada do
problema, com ajuda do direito transnacional, buscar-se-á contribuir para o preenchimento
importante lacuna normativa do Direito Internacional na atualidade.
Objetivos e temas:
b) Sim, mas se faz necessária uma legislação própria que garanta especificamente
direitos mínimos de sobrevivência e dignidade;
A preservação do meio ambiente é uma questão a ser trabalhada com seriedade, visto
que a influência das alterações ambientais na atualidade estão contribuindo de sobremaneira
na atividade e sobrevivência de pessoas de determinados países. O meio ambiente está em crise,
vulnerável, e essa vulnerabilidade socioambiental acaba gerando uma vulnerabilidade social. As
mudanças climáticas estão fazendo com que as pessoas precisem migrar, atrás de terras férteis,
de locais para morar, atrás de uma mínima condição de vida digna, que já não se faz mais
possível dentro de seu país de origem. Analisar-se-á diversos documentos internacionais que
visam a proteção do meio ambiente, para tentar evitar que esse bem tão importante seja
perdido e não receba uma proteção mínima.
Conceito e definição dos termos migrante, refugiado e refugiado ambiental pelo viés de
diversos autores, estudo direcionado para enterdermos qual o alcance da expressão refugiado
ambiental e qual a sua correta utilização. Uma barreira a ser enfrentada será a inexistência de
uma definição bem consolidada a dificuldade de distinguir “migrantes ambientais” de
“migrantes econômicos”, visto que situações de condições desfavoráveis de vida e dificuldades
financeiras são consequências de desastres e degradações ambientais. Análisar-se-á a
convenção de 1951 (Estatuto do Refugiado) para observar se seria possível sua aplicação para
dar proteção a esta nova classe de refugiados que por enquanto encontra-se sem nenhum
respaldo legal que garanta seus direitos humanos.
O presente Relatório de Pesquisa se encerra com as Considerações Finais, nas quais são
apresentados aspectos destacados da Dissertação, seguidos de estimulação à continuidade dos
estudos e das reflexões sobre mudanças climáticas, direito transnacional e refugiados
ambientais.
Considerações Finais:
Além disto, as seguintes medidas que poderiam ser implementadas para responder às
preocupações de proteção relacionadas aos migrantes, iniciando a nível global, é importante
adotar a linha dos Princípios Orientadores das Nações Unidas sobre Deslocamento Interno e os
Princípios Nansen, o quadro regulamentar para aqueles que se movem internamente ou através
das fronteiras internacionais para "catástrofes naturais ou causadas pelo homem", bem como
outras diretrizes e instrumentos relacionados à proteção dos direitos humanos das pessoas
afetadas por mudanças ambientais. Ao mesmo tempo, apoiar os esforços internacionais para
identificar boas práticas para proteger pessoas afetadas por movimentos transfronteiriços.
A iniciativa Nansen foi um processo de consulta mundial que contou com a participação
de vários países (ao todo 111 Estados), com ênfase ao reforço de medidas preventivas a serem
adotadas nos países de origem e ao planejamento da relocação das pessoas em situação de
risco. Dada a diversidade de situações que envolvem os deslocados transfronteiriços externos,
sustenta-se que as soluções devem ser preferencialmente regionais.
Ocorre que a opção pela elaboração de uma simples agenda, sem caráter mandatório
ou vinculante para os Estados, sem o reconhecimento de direitos específicos e apoiada em
soluções a serem adotadas de preferência nos próprios países de origem, não basta para o
tratamento de um assunto crucial para o futuro de populações inteiras, que frequentemente se
vêm forçadas a abandonar os lugares e os países onde vivem em virtude de eventos climáticos
e ambientais para os quais não contribuíram diretamente e de que são as maiores vítimas. Tal
agenda pode, inclusive, no limite, mostrar-se refratária ao ideal de solidariedade entre os povos,
pela falta de obrigatoriedade dos compromissos assumidos e pelo caráter discricionário e
aleatório da contribuição dos Estados envolvidos.
Destaca-se que o termo "refugiado" para descrever aqueles que estão fugindo das
pressões ambientais não é reconhecido no contexto direito internacional vigente, observando
que é necessário adaptar o quadro jurídico internacional existente para garantir a assistência e
a proteção de todos os grupos de pessoas afetadas por mudanças ambientais.
Este é um tópico importante, que no passado não foi discutido eficientemente, mas
agora está, crescentemente, e felizmente, no debate público. Com foi mencionado, o processo
de alterações climáticas e os múltiplos desastres naturais delas resultantes vão,
indubitavelmente, aumentar a escala e a complexidade da mobilidade da população. Ainda
estamos concentrados principalmente nos aspectos científicos das alterações climáticas,
procurando entender os processos em causa, no entanto tem sido cada vez mais claro que
abordar os resultados das alterações climáticas pode, provavelmente, colocar problemas
humanitários e desafios enormes. Todas as evidências apontam para que as migrações
climáticas e ambientais induzidas/provocadas se tornem um dos maiores desafios políticos
deste século e a comunidade internacional está a reconhecer crescentemente que as alterações
climáticas e a degradação ambiental têm o potencial de resultar em deslocações populacionais
numa escala que, neste momento, não estamos bem preparados para prevenir ou para resolver
de forma eficaz. É, portanto, de interesse directo para as agências humanitárias, incluindo,
ACNUR, envolver-se neste debate concentrando-se na abordagem das deslocações ambientais
como resultado das alterações climáticas. Prever e antecipar movimentos, cenários, e fortalecer
respostas às consequências humanitárias vai ser da maior importância. Inclusão das COPS.
No caso dos refugiados por razões ambientais e por catástrofes naturais, ou no caso do
impacto no ambiente provocado pelos refugiados ou deslocados internos, a questão torna-se
ainda mais complexa e delicada. A degradação das condições ambientais e a consequente
escassez de recursos (água, terra arável, lenha para queimar …) é geralmente origem de conflitos
onde as populações mais vulneráveis se tornam alvo de deslocações forçadas. Estas situações
colocam em evidência a necessidade de articulação quer entre políticas públicas quer entre os
diferentes actores responsáveis pela sua implementação no terreno. Com efeito, as
organizações da sociedade civil, os Estados e as instituições internacionais devem articular-se
para que os valores em causa – os direitos humanos, a paz, a segurança, o desenvolvimento e a
sustentabilidade ambiental - sejam salvaguardados da forma mais eficaz e equilibrada. Se os
refugiados ambientais traduzem uma realidade crescente, sinal visível das alterações climáticas
na origem, a própria movimentação forçada de pessoas exerce uma pressão ambiental
desproporcionada nos locais de destino ou de fixação temporária, para além da pressão
económica, social e política intrínseca ao próprio fenómeno. Devemos, por isso, procurar as
melhores políticas públicas que permitam não só responder ao diagnóstico plural da crise
ambiental e dos seus efeitos nas movimentações humanas contemporâneas, mas mais ainda
avançar nas estratégias do seu combate e superação. Fácil de enunciar. Difícil de resolver: Como
modificar os modelos, mecanismos e processos de governação aos níveis local, regional e
nacional? Como aumentar a cooperação internacional, de modo efectivo, reconstruindo, ou
criando novas instituições de governança global que, ao garantir a transição para o
desenvolvimento sustentável, permitam, igualmente aumentar as possibilidades de paz
duradoura sem o que nenhum futuro digno desse nome será possível? As fundações, pelas suas
características de proximidade, de independência e de capacidade de intermediação entre os
diferentes sectores, podem desempenhar um papel útil na advocacia sobre a questão ambiental
e o número crescente de refugiados por razões ambientais. No espaço europeu, a European
Climate Foundation, por exemplo, constitui uma plataforma interessante a este nível,
envolvendo diferentes fundações, quer da Europa quer dos Estados Unidos, que procura
promover políticas públicas que reduzam a emissão de gases nocivos e construir uma liderança
europeia de mitigação dos efeitos das alterações climáticas. No caso da Fundação Calouste
Gulbenkian, o Programa Gulbenkian Ambiente, entre outros, lançado em 2007, procura
contribuir para uma fundamentada sensibilização dos cidadãos para as questões ambientais e
os respectivos efeitos nos mais variados aspectos da vida humana; para aumentar a
investigação, fomentando a transferência do conhecimento para tecnologias de menor impacto
ambiental e uso mais eficiente da energia e dos recursos; para permitir a demonstração de “boas
práticas” do ponto de vista ambiental, ao nível da melhor gestão de processos e organizações;
e, por último, para fortalecer a cooperação e diálogo entre os diferentes actores – públicos,
privados e sociedade civil – na formulação de políticas públicas. Para além deste Programa, a
Fundação tem colaborado activamente com o Alto Comissariado das Nações Unidas para os
Refugiados, nomeadamente através da Rede Helpin – Rede Portuguesa para a ajuda
internacional aos refugiados -, um projecto do qual a Fundação é um dos parceiros fundadores.
No quadro desta rede, é conhecido o projecto da Fundação EDP no campo de refugiados de
Kakuma, no Quénia, uma iniciativa inédita na área das energias renováveis, que visa criar uma
abordagem padrão de soluções de energia renovável que possa vir a ser replicada noutros
campos de refugiados e ainda em comunidades carenciadas. Serão pequenos contributos. Mas
perante problemas complexos, os pequenos passos podem ajudar a abrir o caminho para as
grandes soluções. Muito obrigado. Ministro da Administração Interna |Rui Pereira Senhor
Presidente da Fundação Calouste Gulbenkian, Senhor Presidente da Assembleia Geral do CPR,
Senhor Representante do ACNUR, Senhora Presidente da Direcção do CPR, Senhores Dirigentes,
Senhores Dirigentes do SEF, Ilustres Convidados, Minhas Senhoras e meus Senhores, A minha
primeira palavra é para felicitar o CPR pelo acerto e manifesta utilidade do tema que escolheu
para este debate. O cruzamento da questão dos refugiados com a questão das alterações
climáticas é, na realidade, um tema da maior utilidade para todos. Permitam-me que diga que,
como Ministro da Administração Interna, quer no plano estritamente nacional, quer no âmbito
da União Europeia, estou familiarizado por dever de cargo com ambos os temas. Na realidade,
nós debatemos frequentemente a questão dos refugiados, a questão do asilo, muitas vezes em
conjunto com a questão mais ampla das migrações, como seria de esperar. Debatemos,
também, questões relacionadas com as alterações climáticas a propósito da protecção civil. Mas
o que não é frequente é associar estes dois temas e essa associação é de uma grande felicidade.
Não podemos dizer, naturalmente, que haja uma relação de causa e efeito entre alterações
climáticas e refugiados. Não existe. Porém, é evidente a existência de mais do que uma mera
relação contingente ou acidental entre os dois temas. Essa relação é muito mais profunda e
situa-se a diversos níveis. Em primeiro lugar, podemos reconhecer que as alterações climáticas,
elas próprias, acentuam o fenómeno dos refugiados, implicam a escolha de determinadas rotas
e atingem de sobremaneira os refugiados porque eles são pessoas especialmente vulneráveis.
Por isso, tratar da questão das alterações climáticas, especificamente na perspectiva dos
refugiados e mais amplamente na perspectiva das migrações, é algo de extraordinariamente
meritório. E deixem que diga qualquer coisa, se me permitem, sobre a relação entre o fenómeno
das migrações e o fenómeno dos refugiados. Naturalmente, trata-se de realidades diversas e já
ouvi o próprio Alto-Comissário das Nações Unidas para os Refugiados, o Eng.º António Guterres,
falar dessa distinção obrigatória. É obrigatório estabelecer essa distinção para poder haver uma
política assumida em matéria de refugiados e de asilo. "Refugiados e deslocados ambientais: o
lado humano das alterações climáticas" ACTAS DO IX CONGRESSO INTERNACIONAL DO
CONSELHO PORTUGUÊS PARA OS REFUGIADOS 09 "Refugiados e deslocados ambientais: o lado
humano das alterações climáticas" ACTAS DO IX CONGRESSO INTERNACIONAL DO CONSELHO
PORTUGUÊS PARA OS REFUGIADOS 08 agências que aumente a capacidade de enfrentar os
desafios, aliviar o sofrimento e que ajude a restaurar uma medida de protecção, esperança e
humanidade a um mundo que precisa dela desesperadamente. Passo, por conseguinte, a
palavra aos outros oradores, aos outros peritos que reflectem e lidam directamente com estas
questões, desejando a todos um diálogo muito construtivo sobre este assunto tão importante
Presidente da Fundação Calouste Gulbenkian | Emílio Rui Vilar Senhor Ministro da
Administração Interna, Senhor Representante Regional do Alto Comissariado das Nações Unidas
para os Refugiados, Senhor Presidente da Assembleia-geral do Conselho Português para os
Refugiados, Senhora Presidente da Direcção do Conselho Português para os Refugiados Minhas
Senhoras e Meus Senhores, Gostaria de vos dar a boas vindas à Fundação Calouste Gulbenkian,
de saudar o Senhor Ministro da Administração Interna e de felicitar o Conselho Português para
os Refugiados, nas pessoas dos seus presidentes da Assembleia-Geral e da Direcção, pela
organização deste oportuno seminário Internacional dedicado à relação entre os movimentos
humanos forçados e a questão das alterações climáticas. Perante tão ilustre audiência e perante
os reconhecidos especialistas que irão participar no seminário ao longo do dia, o meu contributo
seria sempre modesto. Parece-me útil, no entanto, partilhar convosco a nossa experiência sobre
o papel que as organizações da sociedade civil e, em particular, as fundações, podem
desempenhar neste domínio. A questão dos refugiados enquadra-se, em geral, na mobilidade
das pessoas, que continua a ser um fenómeno global incontornável neste início de século. Para
além da situação extrema dos refugiados e deslocados no seu próprio país, as migrações
voluntárias ou forçadas não param de aumentar, em número e em diversidade e evoluem muito
rapidamente, exercendo uma pressão constante sobre as sociedades de destino e as políticas
de imigração e integração que vão sendo ensaiadas pelos respectivos países de acolhimento.
Estas políticas são sobretudo nacionais quando careceriam seguramente de uma abordagem
mais global. Ora, as migrações traduzem uma realidade internacional mais complexa que não se
compadece com regras ou políticas alicerçadas apenas nas soberanias dos Estados, ou seja,
derivadas dos limites estreitos de uma geografia de fronteiras ou de interesses puramente
nacionais. No caso dos refugiados por razões ambientais e por catástrofes naturais, ou no caso
do impacto no ambiente provocado pelos refugiados ou deslocados internos, a questão torna-
se ainda mais complexa e delicada. A degradação das condições ambientais e a consequente
escassez de recursos (água, terra arável, lenha para queimar …) é geralmente origem de conflitos
onde as populações mais vulneráveis se tornam alvo de deslocações forçadas. Estas situações
colocam em evidência a necessidade de articulação quer entre políticas públicas quer entre os
diferentes actores responsáveis pela sua implementação no terreno. Com efeito, as
organizações da sociedade civil, os Estados e as instituições internacionais devem articular-se
para que os valores em causa – os direitos humanos, a paz, a segurança, o desenvolvimento e a
sustentabilidade ambiental - sejam salvaguardados da forma mais eficaz e equilibrada. Se os
refugiados ambientais traduzem uma realidade crescente, sinal visível das alterações climáticas
na origem, a própria movimentação forçada de pessoas exerce uma pressão ambiental
desproporcionada nos locais de destino ou de fixação temporária, para além da pressão
económica, social e política intrínseca ao próprio fenómeno. Devemos, por isso, procurar as
melhores políticas públicas que permitam não só responder ao diagnóstico plural da crise
ambiental e dos seus efeitos nas movimentações humanas contemporâneas, mas mais ainda
avançar nas estratégias do seu combate e superação. Fácil de enunciar. Difícil de resolver: Como
modificar os modelos, mecanismos e processos de governação aos níveis local, regional e
nacional? Como aumentar a cooperação internacional, de modo efectivo, reconstruindo, ou
criando novas instituições de governança global que, ao garantir a transição para o
desenvolvimento sustentável, permitam, igualmente aumentar as possibilidades de paz
duradoura sem o que nenhum futuro digno desse nome será possível? As fundações, pelas suas
características de proximidade, de independência e de capacidade de intermediação entre os
diferentes sectores, podem desempenhar um papel útil na advocacia sobre a questão ambiental
e o número crescente de refugiados por razões ambientais. No espaço europeu, a European
Climate Foundation, por exemplo, constitui uma plataforma interessante a este nível,
envolvendo diferentes fundações, quer da Europa quer dos Estados Unidos, que procura
promover políticas públicas que reduzam a emissão de gases nocivos e construir uma liderança
europeia de mitigação dos efeitos das alterações climáticas. No caso da Fundação Calouste
Gulbenkian, o Programa Gulbenkian Ambiente, entre outros, lançado em 2007, procura
contribuir para uma fundamentada sensibilização dos cidadãos para as questões ambientais e
os respectivos efeitos nos mais variados aspectos da vida humana; para aumentar a
investigação, fomentando a transferência do conhecimento para tecnologias de menor impacto
ambiental e uso mais eficiente da energia e dos recursos; para permitir a demonstração de “boas
práticas” do ponto de vista ambiental, ao nível da melhor gestão de processos e organizações;
e, por último, para fortalecer a cooperação e diálogo entre os diferentes actores – públicos,
privados e sociedade civil – na formulação de políticas públicas. Para além deste Programa, a
Fundação tem colaborado activamente com o Alto Comissariado das Nações Unidas para os
Refugiados, nomeadamente através da Rede Helpin – Rede Portuguesa para a ajuda
internacional aos refugiados -, um projecto do qual a Fundação é um dos parceiros fundadores.
No quadro desta rede, é conhecido o projecto da Fundação EDP no campo de refugiados de
Kakuma, no Quénia, uma iniciativa inédita na área das energias renováveis, que visa criar uma
abordagem padrão de soluções de energia renovável que possa vir a ser replicada noutros
campos de refugiados e ainda em comunidades carenciadas. Serão pequenos contributos. Mas
perante problemas complexos, os pequenos passos podem ajudar a abrir o caminho para as
grandes soluções.
Uma primeira questão que gostava de referir é que não existe uma definição consensual,
uma definição adoptada pelas Nações Unidas, sobre aquilo que é um refugiado ambiental. A
Organização Internacional das Migrações adopta a seguinte definição de refugiados ambientais:
«pessoas ou grupo de pessoas que devido a alterações repentinas ou progressivas no meio
ambiente que afectam adversamente as suas vidas e as suas condições de vida, decidem ou são
obrigadas a deixar as suas casas, temporariamente ou permanentemente, deslocando-se para
outros locais do seu país ou para o estrangeiro». No que respeita aos refugiados climáticos,
ainda estamos, um pouco mais longe de ter uma definição operacional e consensual. O Global
Governance Project define os refugiados climáticos como, essencialmente, aquilo que referi,
mas agora caracterizando quais são as causas das deslocações, indicando quatro: a subida do
nível médio do mar, os eventos meteorológicos extremos, a seca e a escassez de água. O facto
de não haver uma definição implica que os refugiados ambientais e climáticos não são
reconhecidos pela Convenção de Genebra. Consequentemente, não têm a protecção das
organizações internacionais do âmbito das Nações Unidas, embora as Nações Unidas estejam
conscientes do problema, tenham debatido o problema e se tenham referido a este tema com
grande frequência. Não existem, pois, estatísticas oficiais das Nações Unidas sobre o número de
refugiados ambientais e climáticos. Contudo, há várias organizações que fazem estimativas
sobre esse número, que actualmente será provavelmente próximo de 25 milhões de refugiados
ambientais e que poderá duplicar nos próximos 5 anos e atingir 150 a 1000 milhões em 2050.
Há uma incerteza muito grande mas são números muito elevados. Em quatro décadas
poderemos ter 150 a 1000 milhões de pessoas deslocadas devido a razões ambientais,
sobretudo devido aos impactos negativos das alterações climáticas.
O Presidente das Maldivas,
Mohamed Nasheed, fez uma reunião do Conselho de Ministros, a primeira, provavelmente a
nível mundial, debaixo de água, para chamar a atenção para a realidade do seu país.
A subida do nível médio do mar, que referi anteriormente é, talvez, a longo prazo a
questão mais grave. Na figura, os dados do nível médio do mar mais recentes são obtidos por
meio de satélite. Os anteriores eram obtidos por meio de marégrafos.
As projecções do IPCC indicadas foram feitas anteriormente e mostram que estão de
acordo com aquilo que foi observado, mas o que foi observado está no limite superior das
projecções. As projecções foram feitas no início da década de 1990 e o que se mediu está dentro
do intervalo de incerteza das projecções. Isto significa que os modelos que utilizamos começam
a poder ser validados com as observações. As projecções obtidas com os modelos já têm tempo
suficiente para podermos validar, ou não validar, os modelos que foram utilizados.
O papel das agências humanitárias no apoio aos refugiados e deslocados ambientais:
A OIM foi criada em 1951 num contexto de pós-guerra. Foi criada um pouco depois do
ACNUR, para dar resposta a uma situação de pós-conflito e às questões humanitárias que se
colocavam na altura à Europa e aos EUA. Modificar a mentalidade de organizações que foram
criadas em pós-conflito para o contexto de alterações climáticas é um desafio relevante para
estas instituições. Desde então, tanto a OIM como o ACNUR - a OIM mais concentrada em
movimentos de populações entre os locais afectados e locais receptores, e o ACNUR mais na
vertente legal – têm trabalhado em conjunto. Também por esta longa colaboração apreciamos
este convite para aqui estar hoje. O meu colega Mário Lito Malanca, que estaria aqui para
representar a OIM, está retido no Iémen, numa operação conjunta com o ACNUR, para evacuar
2 mil migrantes etíopes, dos quais 610 já embarcaram. A OIM, no sentido de modificar conceitos
nascidos após a segunda guerra mundial para um contexto de adaptação a alterações climáticas
tem trabalhado em duas áreas distintas. Uma das áreas é política/ pesquisa5, com pessoas que
provavelmente participam com colegas como a Maria em discussões legais e tentam definir o
enquadramento para o nosso trabalho. A segunda área é a das operações. A lista de operações,
embora a OIM não esteja limitada a operações que tenham a ver com desastres naturais, inclui
algumas que são relevantes para este contexto. Recentemente no Haiti, no Paquistão, nas
Filipinas e na Indonésia a OIM tem conduzido operações de grande dimensão. No Haiti, um
contexto de desastre natural e não exactamente de alterações climáticas, a OIM emprega 700
pessoas, mais de 110 a trabalhar com a Protecção Civil. No que diz respeito à Política/ Pesquisa,
a OIM, desde há algum tempo, tentou motivar diferentes organizações para se envolverem na
discussão e enquadramento das migrações e modificações ambientais. Dessas discussões
nasceu uma publicação intitulada Migrações, Ambiente e Alterações Climáticas que tentou
colocar opiniões comuns a vários parceiros de uma forma que pudesse ser acessível a terceiros.
Adicionalmente, também temos trabalhado com a UNFCC (United Nations Framework
Convention on Climate Change) e nesse fórum conseguimos assegurar que parte de um dos
pilares da UNFCC seja a migração, ou seja, que o quad 6 ro das NU para as alterações climáticas
inclua realmente aspectos migratórios. Este Dezembro, em Cancun, vai ser apresentado um
policy briefsobre “Redução de Riscos de Desastres, Adaptação às Alterações Climáticas e
Migrações Ambientais” e esperamos que essa discussão possa, conjuntamente com os esforços
do ACNUR, trazer momentum aos aspectos migratórios. Para finalizar esta introdução, a OIM é
uma organização que trabalha o tema das migrações e que por isso, em países como Portugal,
se concentra na cooperação técnica do ponto de vista migratório, assistindo ao retorno e à
reintegração de pessoas em conjunto com o ACNUR e com o CPR, e em processos relacionados
com as migrações laborais. Em países como Portugal não estamos, normalmente, muito
envolvidos em grandes operações humanitárias. Estas são visíveis para nós através da televisão,
mas não acontecem na porta ao lado. Gostava de explicar, neste contexto, e relativamente a
apresentação que vai ser feita em Cancun, quais são os pilares defendidos em relação à inclusão
das migrações na dinâmica das alterações climáticas. Um deles é a parceria, a relação com os
actores nacionais. Na apresentação anterior, vimos que poderíamos ter desastres naturais e
pessoas deslocadas devido a eles, como poderíamos ter pessoas deslocadas depois de conflitos
ou por causa deles. A nossa relação e as parcerias que podem ser desenvolvidas com os governos
tendem a ser bastante diferentes numa situação de conflito e numa situação de desastre
natural.
Numa situação de conflito nós temos que assegurar a nossa neutralidade como actores
humanitários e não nos podemos aproximar tanto dos nossos homólogos nacionais. Numa
situação de desastres naturais nós estamos provavelmente num papel de apoio e suporte a uma
resposta que é liderada pelo governo ou por organizações nacionais. Isto, por si só, cria uma
grande distinção entre o tipo de resposta que podemos prever. Em termos de preparação, o
meu papel no Departamento de Operações da OIM é exactamente trabalhar nas respostas e na
preparação para desastres. Os desastres naturais, alguns deles, mesmo os ciclones, os furacões,
podem ser mais ou menos previsíveis. Nós sabemos, por exemplo, que o Haiti, as Caraíbas, são
países que vão ser afectados por furacões todos os anos. Nesse sentido, há trabalho que pode
ser feito antecipadamente, para melhor se lidar com as consequências humanas dos efeitos
destes desastres. Nós sabemos o trabalho que tem sido feito por vários parceiros humanitários
nessas regiões. Esse trabalho está muitas vezes relacionado com a ajuda à protecção civil e com
a melhoria das infraestruturas de maneira a que pessoas deslocadas, de antemão, possam ter
um refúgio adequado e digno. É isto que queremos dizer com “preparação”. Há outras formas
de preparação que podem e estão a ser feitas - early warnings – “avisos antecipados”. Este tipo
de sistemas, se pensarmos nos dois casos – conflitos e desastres naturais -, têm uma dimensão
muito diferente. Tentar montar um sistema de alerta precoce num país em conflito tem
implicações políticas. Tentar montar esse sistema num país que sofre, seja das consequências
de alterações climáticas ou de desastres naturais é um pouco mais fácil para nós enquanto
parceiros humanitários. Talvez a parte mais importante da preparação seja a formação, a
capacitação, tentar trabalhar com os governos, instituições e organizações ao nível nacional para
que a sua capacidade em lidar com os aspectos humanos e migratórios dos desastres naturais e
das alterações climáticas possa aumentar. Aqui vou fugir um pouco à ordem, mas quando
pensamos nas várias apresentações que tivemos durante o dia e no que temos lido e visto nos
jornais e na televisão ao longo dos últimos anos, vemos que Veneza é uma potencial vítima, e
que corre o risco de literalmente desaparecer do mapa. E talvez corra, mas quando pensamos
em Veneza, pensamos num contexto abstracto, urbano, desta forma: «uma cidade tão bonita e,
se calhar, a Praça de S. Marcos vai desaparecer do mapa». O que estamos a tentar salientar é
exactamente o aspecto da migração que vai ocorrer nesse caso. O que vai acontecer às pessoas
que ocupam o espaço que vai desaparecer? Neste sentido, e também mencionado hoje, há
preocupações em relação a segurança. Como é que estes aspectos migratórios, as alterações
climáticas e a segurança se interligam? Não estamos a falar do Sudão nem de países que todos
conhecemos como tendo dificuldades de segurança internas. Estamos a falar de Itália, e aqui
seguramente será o governo, serão as forças de segurança, que provavelmente tratarão dessa
migração e as quais poderemos melhor preparar como humanitários para lidar com essa
deslocação. Um terceiro ponto tem a ver com a forma de responder às necessidades de
populações que estão já a ser deslocadas, seja por uma vulnerabilidade que vai aumentando ao
longo dos anos com os desastres naturais mais frequentes nesses países, com uma população
que tem menos capacidade para se restabelecer e que a cada um destes desastres naturais
acaba por sair das suas casas e encontrar-se deslocada. No Paquistão, no Haiti, nas Filipinas. São
muitas pessoas. No Haiti, tenho a certeza que acompanharam pela televisão, eram 2 milhões de
pessoas inicialmente, 1.3 milhões a viver em campos, e, apesar de não ser relacionado com
alterações climáticas, as lições que temos aprendido em matéria de respostas vão,
seguramente, dar forma à evolução da nossa resposta humanitária.