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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS

Victor Lima Caribé

FICHAMENTO DO ARTIGO DE REVISTA:


UMA DISCUSSÃO SOBRE O CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO

Fichamento do artigo de revista: Uma discussão sobre o


conceito de desenvolvimento de Gilson Batista de Oliveira,
apresentado à disciplina de Elem. de Economia Brasileira para
obtenção de avaliação, sob orientação do Professor Silvio
Humberto dos P. Cunha.

FEIRA DE SANTANA – BA
2018
OLIVEIRA, Gilson Batista, Uma discussão sobre o conceito de desenvolvimento.
Revista FAE, Curitiba, v. 5, n. 2, p. 37-48, maio/ago 2002.

Uma discussão sobre o conceito de desenvolvimento


1. O sentido do desenvolvimento

O conceito de desenvolvimento levanta várias questões a seu respeito, uma


das mais recorrentes se trata da relação entre crescimento e desenvolvimento
econômico, pois constantemente ambas são empregadas como se fossem resultadas
de um mesmo processo. Crescimento econômico, necessariamente, indica
desenvolvimento? Apesar do crescimento econômico ser um fator importante para
que haja desenvolvimento e ser definido por vários autores como sua causa, sua
presença nem sempre indicará desenvolvimento. (p. 38)

Quando se trata de desenvolvimento, apenas o aumento nos indicadores de


renda não é suficiente para definir algum país como desenvolvido. O desenvolvimento
deve ser visto de forma sistêmica, sendo resultado de um conjunto de fatores
econômicos, ambientais e sociais, além de ser essencial a presença de um efetivo
controle distributivo. Exemplo disso é que muitos acham que o PIB (Produto Interno
Bruto) é um indicador de desenvolvimento. Taxa de elevação do PIB é um referencial
importante de desempenho econômico, mas não serve para medir o nível de
desenvolvimento de um país. (p. 38)

A criação da Organização das Nações Unidas (ONU) teve a intenção de


assegurar melhorias nos níveis de qualidade de vida e desenvolvimento mundial. Com
isso, diversos mecanismos foram criados para servir de apoio ao desenvolvimento de
países com problemas econômicos e sociais. Entretanto, ainda continuam sendo
usados termos como progresso, industrialização e modernização como sinônimos de
desenvolvimento. A impressão que se tem é a de que alguns países ditos
“desenvolvidos”, que tiveram um processo histórico totalmente diverso dos demais
países do mundo, é que ditam quais mecanismos são necessários para se atingir um
bom nível de desenvolvimento. Por conta disso é preciso que seja criado um modelo
de desenvolvimento que englobe todas as variáveis econômicas e sociais. (p. 39)

Vale acrescentar também que, apesar da grande importância do papel que a


ONU vem desempenhando, não podemos esquecer que a tal entidade foi criada pelos
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vencedores da segunda guerra e que eles ainda desempenham um papel de liderança
na organização. Portanto, é importante ficar atento ao que a ONU diz ser correto ou
não, pois pode haver interesses particulares dessas superpotências. (p. 39)

Para Nali de Jesus de Souza, existem duas correntes distintas sobre essa
relação de crescimento e desenvolvimento. A primeira tem bases clássicas e
neoclássicas do modelo de crescimento e o encara como sinônimo de
desenvolvimento. Já a segunda corrente está a tradição marxista que conceitua o
crescimento como uma simples variação quantitativa do produto, enquanto o
desenvolvimento abarcaria mudanças qualitativas no modo de vida das pessoas, nas
instituições e nas estruturas produtivas. Celso Furtado é um grande expoente dessa
perspectiva mais sistêmica do desenvolvimento. (p. 40)

A respeito desse mesmo pensamento, o autor do artigo traz um conceito de


desenvolvimento bastante interessante. Para ele, desenvolvimento seria a
transformação dos frutos do crescimento em meios para satisfazer as mais diversas
necessidades do ser humano, tais como: saúde, educação, habilitação, transporte,
alimentação, lazer, dentre outras. Dessa forma, percebo que esse conceito está longe
de ser parecido com o que é aplicado em alguns países “subdesenvolvidos”, isso
porque a maior parte dos frutos do crescimento desses países são direcionados para
tentar aumentar o próprio crescimento econômico, deixando de lado o segundo fator
que seria o suprimento das necessidades do ser humano e o bem-estar. (p. 40)

Ainda com base no pensamento de Nali de Souza, ele diz que o


desenvolvimento econômico requer um ritmo contínuo de crescimento econômico e
que esse deve ser superior ao crescimento populacional. Entretanto, o fator que irá
definir se o crescimento será a solução para os problemas humanos e para o
desenvolvimento estaria justamente na forma como os frutos desse crescimento seria
distribuído entre a população. Os países com o crescimento populacional maior que o
crescimento econômico são os mesmos países com uma elevada concentração de
renda e baixos níveis de condições de vida. Ou seja, o crescimento econômico e seu
direcionamento para satisfazer as necessidades humanas é de grande importância,
mas sem uma distribuição de renda eficaz não há desenvolvimento. (p. 41)

Para alguns autores, a única forma de garantir desenvolvimento seria por meio
de um crescimento contínuo e que se auto sustente, porém, como consequência
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dessa busca por um crescimento contínuo é que surge a ideia de que “bom é quando
se tem mais”, não se importando com a qualidade desse crescimento, daí vem a ideia
de que quem produz mais se torna um país desenvolvido. (p. 41)

2. Desenvolvimento e meio ambiente

A principal motivação para a conscientização ecológica é a de garantir as


mesmas condições e recursos que dispomos para as gerações futuras. Thomas R.
Malthus tentou profetizar que o crescimento da população seria tão exorbitante que
não teríamos como suprir a necessidade alimentícia mundial, porém, com as novas
transformações, podemos perceber que a falta de alimento não será um problema,
mas, sim, onde cultivá-los. Dentre outras questões ambientais, as mais preocupantes
dizem respeito a deploração dos recursos naturais não renováveis e a deterioração
do meio ambiente. Por mais que existam políticas de proteção ambiental ao redor do
mundo, infelizmente tal proteção não é do interesse das grandes corporações e
acabam ficando em segundo plano. Vale lembrar que a preocupação não é
exatamente com o nosso planeta, mas com a própria humanidade. (p. 42)

Toda essa ideia de desenvolvimento sustentável tem como foco a necessidade


de promover o desenvolvimento econômico e satisfazer os interesses da geração
presente, sem, contudo, comprometer a geração futura. Para tentar garantir tal
desenvolvimento é preciso melhorar os níveis de distribuição de renda, aumentar a
eficiência dos sistemas econômicos e sua gestão, não comprometer os recursos
naturais necessários à sobrevivência do ser humano, ter cuidado com a expansão
urbana e cuidar para que o ruralismo não acabe com ecossistemas. Além de todos
esses aspectos, também é preciso que as pessoas criem uma consciência ambiental
e saiba quais produtos habituais são nocivos ao meio ambiente. Afirma Gilson de
Oliveira que “ampliação do produto é importante, mas não traz por si só
desenvolvimento. Pensar em desenvolvimento é, antes de qualquer coisa, pensar em
distribuição de renda, saúde, educação, meio ambiente, liberdade, lazer, dentre outras
variáveis que podem afetar a qualidade de vida da sociedade”. (p. 43)

3. Industrialização e desenvolvimento

O processo de industrialização é um dos grandes responsáveis pela riqueza


dos países pioneiros no assunto. No entanto, tal processo muitas vezes é associado

3
ao desenvolvimento por ter criado uma certa crença de que a industrialização é
indispensável para se obter melhores níveis de crescimento e de qualidade de vida.
Por forte influência dos Estados Unidos e Inglaterra, outros países passaram a cobiçar
essa tão disseminada forma de produção, porém, nem todos os países conseguiram
de forma efetiva se adaptar aos moldes da industrialização. Isso aconteceu porque
em muitos países faltavam indústrias de base e desenvolvimento tecnológico. O Brasil
teve que implementar políticas que valorizassem o mercado e a produção interna para
tentar obter uma certa independência dos países desenvolvidos. (p. 44)

É importante deixar claro que o processo de industrialização não ocorreu ao


mesmo tempo em todos os lugares do mundo e esse é um dos motivos da grande
diferença de poder entre os países desenvolvidos e os demais, os países que
conseguiram se adaptar melhor ao industrialismo e tiveram capital para investir em
tecnologia, avançaram muito mais do que os países que não tinham potencial. Além
disso tudo, toda essa corrida para se adaptar aos moldes industriais ofuscou a visão
dos governantes para o que realmente importava no processo de desenvolvimento de
uma nação, se deixavam levar pela propaganda industrial e esqueciam do contexto
histórico, econômico e social dos países desenvolvidos. (p. 45)

4. Desenvolvimento humano

Após toda essa construção dos conceitos de crescimento e desenvolvimento,


fica claro que o desenvolvimento humano não existe enquanto o foco for somente no
crescimento econômico. Entretanto, segundo o autor do artigo, a sociedade vem
tentando entender como o crescimento econômico e seus meios estão afetando a vida
da população, principalmente no que diz respeito aos medidores de crescimento como
o PIB. Tais medidores acabam alienando a população que acaba por achar que, por
conta dos medidores altos, a situação econômica e social estaria melhorando ou se
continuarem a agir da mesma forma, um dia irão conquistar o bem-estar. É muito mais
importante exigir oportunidades reais, concretas que permitam o desenvolvimento das
futuras gerações do que saber qual foi a variação do PIB anterior. (p. 46)

O crescimento econômico de nada serve se não produzir um bom


desenvolvimento humano, fora isso, só irá produzir mal-estar e uma sociedade
carregada de insatisfação. Como afirma Gilson de Oliveira, o ser humano nunca
recebeu toda atenção que merece. Por isso, é preciso que haja uma visão mais ampla
4
em relação aos problemas de desenvolvimento, não é apenas questão de crescimento
ou industrialização, é uma questão de bem-estar social, uma nação não evolui sem
que sua sociedade tenha prioridade, ao menos no que diz respeito ao que é básico e
necessário para uma vida digna. Ainda me pergunto: até quando países como o Brasil
irão parar de tentar se adaptar aos moldes dos países “desenvolvidos” e passar a
investir em si mesmo, em seu povo? (p. 46-47)

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