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ACONSELHAMENTO EDUCACIONAL E FAMILIAR À VÍTIMA E AO

AGRESSOR DO BULLYING
Daiane De Oliveira Silva1
Ana Carina Stelko-Pereira2
Eliane E. S. Paroschi3

Resumo: O bullying pode ser de natureza física ou psicológica, é algo inten-



cional que fere e machuca alguém incapaz de se defender. Algumas mani-
festações do bullying envolvem colocar apelidos depreciativos, agredir fisi-
camente, levantar falso testemunho contra o próximo, constranger, fazer
ameaças físicas e emocionais. O agressor não sente remorso e culpa com
seus atos. O(s) agressor (es) vitimizam uma pessoa, sem motivo aparente
e há desigualdade de poder entre vítima e agressor. Essa tese de conclusão
de curso tem por objetivo apontar as estratégias que um Conselheiro Edu-
cacional e Familiar poderá utilizar na intervenção à vítima e ao agressor
do bullying. As principais estratégias que um conselheiro poderá utilizar
envolvem a construção de uma relação de confiança entre conselheiro e
aluno, amenizar os conflitos entre vítimas e agressores por meio de diálo-
go; trabalhar com a família e os que estão mais diretamente participantes
da situação do bullying e envolver toda a comunidade escolar em projetos

1
  Pós-graduada em Aconselhamento Familiar e Intervenção Psicossocial. E-mail: nane179@hotmail.com
2
  Doutora em Psicologia e Mestre em Educação Especial pela Unviersidade Federal de São Carlos. Graduada em Psicóloga
pela Unviersidade Federal do Paraná. E-mail: anastelko@gmail.com
3
  Mestre em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento pela Andrews University. Graduada em Pedagogia pelo Centro
Universitário Adventista de São Paulo. E-mail: eliane.paroschi@ucb.org.br
educativos. Todas essas estratégias podem promover melhores relaciona-
mentos interpessoais para que os alunos se tornam ativos, críticos e saudá-
veis.

Palavras-chave: Bullying; Intimidação por pares; Aconselhamento.

Abstract: Bullying can be physical or psychological, and the aggressor has


the purpose of hurting someone unable to defend himself. Some forms
of bullying are to call someone derogatory names, to beat, to make gos-
sips, to make physical and emotional threats. Frequently, the perpetrator
feels no remorse and guilt. The perpetrators (s) usually choose someone
for no apparent reason, and there is inequality of power between victim
and perpetrator. This dissertation aim to describe strategies that an Edu-
cational and Family Counselor may use to assist the victim and the per-
petrator of bullying. The main strategies involves the counselor to build a
trusty relationship between counselor and student, to create opportunities
of dialogue between victim and bullying, to intervene with the family and
with those that are more directly involved in the bullying situations and
to enroll the whole school in an education project. All these strategies can
promote that students became active, critical and healthy.
10
Keywords: Bullying; School violence; Counseling.

Introdução
Cotidianamente existem conflitos entre as pessoas e esses podem culminar em vio-
lência. A violência infelizmente faz parte do dia-a-dia dos indivíduos, seja porque este - está
diretamente envolvido em situações violentas, como quando é vítima ou autor, seja porque
testemunha a violência e seus efeitos. Assim as pessoas gastam tempo e recursos financeiros
se protegendo de situações violentas. De acordo com a Organização Mundial da Saúde a vio-
lência envolve:

O uso deliberado ou a ameaça de uso deliberado da força física ou do poder, da ameaça, di-
reta ou indiretamente, contra si mesmo, contra outra pessoa, contra um grupo, comunidade;
que acarreta, ou corre forte risco de acarretar, um traumatismo, uma morte, um dano moral,
uma discriminação, um mau desenvolvimento ou uma carência (BLAYA, 2006, p.21).

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Um tipo de violência que vem ganhando cada vez mais atenção dos pesquisadores é a
violência escolar. A violência escolar engloba “ameaças e agressões de alunos contra professo-
res, violência sexual entre alunos e alunas, uso de armas, consumo de drogas, roubos, furtos e
assaltos, violência contra o patrimônio” (ABRAMOVAY, 2002, p. 20). É importante também
destacar que a violência escolar pode envolver situações mais sutis de violência, como destaca
Pereira (2010, p. 10):

Compreende que a violência escolar incorpora tanto a perspectiva mais explícita da violência,
como agressão entre indivíduos, quanto a violência simbólica que ocorre por meio das regras,
normas e hábitos culturais de uma sociedade desigual.

No termo violência escolar tem o que se entende por violência simbólica, ou seja, é algo
que fica subentendido, não é um ato que está apresentável que todos compreendem, “esse ato
violento se insinua, frequentemente, como um ato natural, cuja essência passa despercebida”
(ODALIA, 2004 apud STELKO-PEREIRA; WILLIAMS, 2010, p. 48). A violência simbólica
atinge o alvo de maneira sutil, de modo que somente a vítima percebe a agressão, sem neces-
sariamente conseguir nomeá-la enquanto agressão e nem sempre compreende que o que lhe
ocorre possa causar algum dano.
Definir o conceito de violência é uma tarefa complexa, pois depende do contexto cul-
tural e de uma série de fatos que envolvem essa situação, pois a violência é algo dinâmico e
mutável, seus significados passam por modificações e adaptações à medida que a sociedade 11
se transforma conforme aponta Abramovay citado por Pereira (2005). Portanto “a partir das
investigações brasileiras, a partir de meados dos anos 1990, referem à expressão “violência
escolar” às agressões contra o patrimônio e contra a pessoa (alunos, professores, funcionários,
etc.)” (STELKO-PEREIRA; WILLIAMS, 2010, p. 46).
Muitos acreditam que a violência escolar é algo que acontece somente entre os muros
da escola, no entanto - pode ocorrer violência escolar fora do espaço escolar. A violência na
escola pode ocorrer dentro do espaço físico da escola, no trajeto casa-escola, em locais em que
se programem passeios e/ou festas escolares (FURLONG; MORISSON, 2000). Mesmo na pró-
pria residência e bairro do aluno, como em situações nas quais conflitos mal resolvidos dentro
das instituições gerem violência em outros espaços (STELKO-PEREIRA; WILLIAMS, 2010).
O espaço escolar deve ser um lugar onde crianças de diversas faixas etárias, cada uma
com seu conhecimento prévio já adquirido em suas experiências extraescolar poderão inte-
ragir com pares, para troca de ideias, aprimoramento de conhecimento, desenvolvimento e
aprendizagem significativa. Contudo toda relação interpessoal pode haver conflitos e a violên-
cia pode “ocorrer com maior frequência e intensidade quando há desigualdade de condições
de poder entre os indivíduos” (STELKO-PEREIRA; WILLIAMS, 2010, p. 49).
A violência escolar pode se manifestar de diversas formas. Conforme Stelko-Pereira; Willia-
ms (2010, p. 23) atos violentos tendem “a ter características semelhantes, eles costumam ser agru-
pados em categorias específicas a fim de que obtenham destaque pelos pesquisadores, instituições

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escolares e sociedade”, ou seja, em relação aos envolvidos, tem duração, motivos, espaço geográfi-
co ocorrido, características das ações violentas, data e horário de ocorrência e desfecho.
E dentro dessas categorias, encontra-se a do bullying na escola e do cyberbullying. O
bullying se refere a:

Situação em que uma criança ou estudante é exposto repetidamente e ao longo do tempo a


ações negativas, que podem tanto ser físicas, psicológicas ou sexuais, por parte de outra(s)
criança(s) ou aluno(s), o qual tem intenção de realizar tais ações (RUNYON et al., apud STE-
LKO-PEREIRA; WILLIAMS, 2010, p. 51).

Já o cyberbullying é a extensão do bullying, é uma maneira que o agressor encontra de


continuar a provocação fora do espaço escolar, de acordo com Silva (2010, p. 127).

Os praticantes do cyberbullying se utilizam de todas as possibilidades que os recursos da mo-


derna tecnologia lhes oferecem: e-mails, blogs, fotoblogs, MSN, Orkut, Youtube, Skype, Twiter,
MySpace, Facebook, fotoshop, torpedos... Valendo-se do anonimato, os bullies virtuais inven-
tam mentiras, espalham rumores, boatos depreciativos e insultos sobre outros estudantes.

A Plan Brasil realizou uma pesquisa em 2009 em cinco regiões do país, com o objetivo
de conhecer as situações de violência entre pares em escolas brasileiras. Esse estudo foi rea-
12 lizado por meio da coleta e análise de dados quantitativos e qualitativos. Percebeu-se como
resultados que:

A ocorrência do bullying emerge em um clima generalizado de violência no ambiente escolar,


considerando-se que 70% da amostra de estudantes responderam ter presenciado cenas de
agressões entre colegas, enquanto 30% deles declararam ter vivenciado ao menos uma situa-
ção violenta no mesmo período (PLAN, 2009, p. 103).

Essa pesquisa mostrou que “o bullying é mais comum nas regiões Sudeste e Centro-
-Oeste do País e que a incidência maior está entre os adolescentes na faixa de 11 a 15 anos de
idade e alocados na sexta série do ensino fundamental”; e cerca de 20% dos alunos já presencia
atos de violência dentro da escola com uma frequência muito alta. Concluiu-se que o bullying
era realidade nas escolas investigadas.
Pensar que essa violência e esse índice não incluem determinadas escolas é um engano, pois
esse problema está presente em diversas escolas. Seja de um modo mais ou menos significativo,
em toda escola a violência direta ou indireta faz parte do cotidiano escolar sendo que “o bullying
é um fenômeno tão antigo quanto à própria instituição denominada escola” (SILVA, 2010, p. 117).

O bullying ocorre em todas as escolas, independentemente de sua tradição, localização ou po-


der aquisitivo dos alunos. Pode-se afirmar que está presente, de forma democrática, em 100%

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das escolas em todo o mundo, públicas ou particulares. O que pode variar são os índices en-
contrados em cada realidade escolar. Isso decorre do conhecimento da situação e da postura
que cada instituição de ensino adota, ao se deparar com casos de violência entre os alunos.

Diante então do fato de ser frequente a violência escolar no Brasil, haveria profissionais
capacitados para lidar com situações de violência escolar? Quem pode dar um suporte para a
equipe pedagógica? Os professores segundo a Plan (2009, p. 63) afirmaram que não há profis-
sional na educação habilitado para essa função;

Há despreparo da maioria das escolas pesquisadas para reduzir ou eliminar a ocorrência


de situações de violência escolar, de acordo com os professores pesquisados. Isso se deve à
escassez de recursos materiais e humanos, bem como a falta de capacitação dos professores
e das equipes técnicas.

Tal contexto de despreparo demandaria a inserção de novos profissionais na escola ou


de aprimoramento por meio de cursos, formações e especializações para profissionais que já
atuam no contexto escolar. Um conhecimento que pode ser relevante se refere a realizar acon-
selhamentos adequados a alunos envolvidos no problema do bullying.
Este trabalho tem como objetivo escrever estratégias a serem utilizadas no aconselha-
mento de alunos que estão sendo vítimas ou autores do bullying no espaço escolar.
13

Metodologia
Para o estudo desse trabalho de conclusão de curso, foi realizado um estudo teórico o
qual pretende definir conceitos e estratégias relevantes para o aconselhamento de alunos ví-
timas e autores de bullying. Para definir o papel da vítima e agressor do bullying, foram feitas
revisões nas literaturas de Gabriel Chalita (2008), Isabel Fernández (2005), Catherine Blaya
(2006), e em artigos de cunho científicos referentes ao mesmo.

A função de um Conselheiro Educacional e Familiar


O Conselheiro Educacional e Familiar é um profissional da área de Ciências Humanas,
que se especializou para realizar aconselhamento formal. O conselheiro tem por objetivo cola-
borar no processo de intervenção em prevenção primária sobre a psicodinâmica educacional e
familiar ao longo do ciclo vital do desenvolvimento e sob a perspectiva teórica da resiliência e
dos valores dos Direitos Humanos, voltado principalmente para a educação e a família.
O Aconselhamento Educacional e Familiar é catalogado no Ministério da Educação
(MEC) por uma pós-graduação lato sensu, mas ainda não é uma ocupação regulamentada e

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essa prática não consta na Constituição Brasileira de Educação. Em contraste, a profissão de
Orientador Educacional é prevista no Decreto n° 72.846, de 26 de setembro de 1973 e explicita
sobre o exercício da Profissão de Orientador Educacional:

A assistência ao educando, no âmbito do ensino de 1° e 2° graus, visando o desenvolvimento


integral e harmonioso de sua personalidade, ordenando e integrando os elementos que exer-
cem influência em sua formação e preparando-o para o exercício das opções básicas.

A pessoa que se especializa em Aconselhamento Educacional e Familiar não obtém uma


remuneração adicional, faz essa função de aconselhar junto com o papel que desempenha na
instituição na qual está inserida.
Para ser um Conselheiro Educacional e Familiar (CEF) é necessário ter a compreensão e
o entendimento básico interdisciplinar de Teologia, Psicologia, Educação, de modo a compre-
ender e relacionar conceitos como aprendizagem, afetividade, personalidade, construção da
identidade, diversidade na escola, educação infantil, alfabetização em processo, adolescência
e orientação em ética. O conhecimento de diversas áreas é essencial ao CEF, pois o homem é
um ser holístico, que passa por inúmeras situações de conflitos inter e intrapessoal que fazem
parte de um contexto.
Na prática, o aconselhamento de acordo com Molochenco (2008) envolve alguém que
está à disposição de ouvir, se predispõe a auxiliar nas dificuldades pessoais e relacionais, bus-
14 cando orientar tal pessoa a um aperfeiçoamento para usufruir a sua vida da melhor maneira
possível. A ferramenta básica que o conselheiro emprega no processo do aconselhamento é
a comunicação, pois é “através do uso das palavras e dos diálogos manifestos, mediante um
relacionamento pessoal, que se pode humanizar o ser humano” (MOLOCHENCO, 2008, p.
14). Deste modo os conflitos e dilemas enfrentados pelo aconselhando poderá ser solucionado,
e deve-se ressaltar que a função do conselheiro “é ajudar o aconselhando a encontrar” (MAY,
2011, p. 25), ou seja, dar orientação e suporte para que a pessoa encontre a si mesmo, para então
viver esse si mesmo.
O conselheiro tem que ter em seus relacionamentos terapêuticos qualidades básicas, tais
como empatia, genuinidade e afetuosidade não possessiva. É esperado da pessoa que desenvol-
ve o papel do conselheiro de acordo com Molochenco (2008, p. 15):

Que saiba demonstrar, em seus relacionamentos, calor humano. Nesse processo, ele se pre-
dispõe a ajudar os que procuram a encontrar soluções e encaminhamentos para as dificulda-
des que manifestam, sejam de que ordem for.

Estudos apontam que “aconselhamento consiste em uma ação de ajuda com o intui-
to de curar, sustentar, orientar, encaminhar e reconciliar pessoas problemáticas para que
sarem de seus problemas e retornem à vida” (MOLOCHENCO, 2008, p. 22); “aconselhar é
o ato de uma pessoa com disposição de ajudar com o intuito de modificar o aconselhando”

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(MAY apud MOLOCHENCO, 2008, p. 22); “o aconselhamento é centrado no aconselhando


e que se busca para este uma realização de seu desenvolvimento benéfico. O aconselhamen-
to não atua apenas sobre uma área específica, mas sobre toda a sua pessoa” (HAMILTON
apud MOLOCHENCO, 2008, p. 23).
Conhecer o Homem é primordial para que o aconselhamento seja desenvolvido, e isso
é de extrema importância para que o CEF seja um profissional de qualidade e competente em
seus atendimentos. E o conhecer não deve ser superficial, mas profundo o necessário para
compreender, ser empático e dar um norte para quem buscou sua ajuda profissional, e afirma
Molochenco (2008, p. 108) “o ser que se apresenta para o aconselhamento é a pessoa em sua
íntegra, e o conselheiro a recebe na integralidade”.
É nesse momento em que o CEF poderá desempenhar seu papel, pois está habilitado
para lidar com situações que envolvam conflitos intrapessoal e interpessoal. Como essa espe-
cialidade é muito nova, não existe pesquisa que mostre dados específicos de como o CEF po-
derá contribuir diante de situações de violência escolar. Porém é conhecido o papel do CEF em
aprimorar relacionamentos, aconselhar e orientar através de palestras e diálogos, possibilitar
ações preventivas contra situações problemas. O CEF poderá utilizar dessas ferramentas para:

O estímulo ao diálogo, a escuta atenta e empática, a construção de vínculos afetivos fortes,


o desenvolvimento de uma reflexão crítica, o incentivo à participação familiar e escolar, a
orientação para a responsabilização por si mesmos e pelos outros, a criação e a implementa-
ção de regras e o estabelecimento precoce (desde os primeiros anos de vida) de limites muito 15
bem definidos (SILVA, 2010, p. 69).

Indubitavelmente para que atos de violências sejam amenizados nos espaços escola-
res é fundamental o trabalho conjunto de toda a equipe. Silva (2010, p.162) afirma que o
primeiro passo é reconhecer a existência da violência (bullying); o segundo é capacitar os
profissionais para a identificação, o diagnóstico, a intervenção e o encaminhamento ade-
quado; o terceiro é as instituições conduzirem o tema a uma discussão ampla, que possibi-
lite à comunidade escolar implantar as estratégias preventivas e imediatas definidas para
enfrentar a situação presente.
A fim de que o enfrentamento à violência escolar seja expressivo;

A luta antibullying deve ser iniciada desde muito cedo, já nos primeiros anos de esco-
larização. A importância da precocidade das ações educacionais se deve ao incalculá-
vel poder que as crianças possuem para propagar e difundir ideias. Elas facilmente se
transformam em agentes multiplicadores, capazes de educar, por vias alternativas, seus
familiares e funcionários domésticos, criando-se, assim, um círculo virtuoso no empe-
nho da paz (SILVA, 2010, p.173-174).

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Mas também é importante lembrar, que para que o papel de prevenção e intervenção
primária do CEF se faz necessário o apoio da família e da escola. Pois, a “família e a escola tem
sido historicamente a base da educação de crianças, adolescentes e jovens e da inserção desse
grupo” (NJAINE; MINAYO, 2003, p. 132) e tal possibilidade facilita a mediação do CEF no
campo da prevenção da violência, desse modo família, escola e conselheiro caminham juntas,
para a construção da paz.

Características do bullying, seus agressores e suas vítimas


A escola desempenha um papel de grande importân­c ia no desenvolvimento social
de crianças e adolescentes. Nesse espaço encontramos diversidades de culturas, etnia e
gêneros. Entre os alunos há os que se destacam nas línguas, esportes, oralidade ou até
mesmo no status, como os mais populares e “poderosos” da escola. A convivência em
grupos e turmas é necessária, porém tal convivência pode ser prejudicial quando ocorre
o bullying, ou seja;

Bullying é uma subcategoria do comportamento agressivo que ocorre entre os pares. Cons­
titui-se num relacionamento interpessoal caracterizado por um desequilíbrio de forças, o
que pode ocorrer de várias maneiras: o alvo da agressão pode ser fisicamente mais fraco, ou
16 pode perceber-se como sendo física ou mental­mente mais fraco que o perpetrador. Pode ain-
da existir uma diferença numérica, em que vários estudantes agem contra uma única vítima
(OLWEUS; RIGBY apud BANDEIRA; HUTZ, 2012, p. 36).

Existem papéis na situação de bullying, o agressor, a vítima, e as testemunhas. As ví-


timas, em geral, apresentam algumas características específicas. A vítima é aquela crian-
ça que sofre de agressões verbais, físicas, emocionais e sociais, e que normalmente não
reage ou não dá conta de se defender do agressor Lopes; Berge citado por Bandeira; Hutz,
(2012). Nota-se que a vítima possui poucos amigos, é retraída, leva uma vida de passivida-
de e possui baixa autoestima. De acordo com Bandeira; Hutz (2012, p. 36) pesquisas têm
mostrado a relação da “experiência de vitimização à baixa autoestima, sintomas físicos e
emocionais, ansiedade, medo, cefaleia, enurese, evasão escolar, depressão, ideias suicidas
e sui­c ídio, entre outros.
Os alunos que são “alvos” dos agressores ficam expostos de modo repetitivo e ao
longo de um determinado tempo às agressões. As ações negativas podem ser praticadas
por um grupo ou por uma pessoa (ANTUNES; ZUIN apud AIRES; FREIRE, 2012, p. 56).
O sofrimento da vítima pode ser silencioso, se tornando na maioria das vezes uma criança
frágil, tímida, com baixa autoestima e, por vezes, apática. Pode, contudo, se tornar uma
criança agressiva, provocadora, hiperativa, inquieta, dispersa e com condutas ofensivas.
(AIRES; FREIRE, 2012, p. 56).

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As consequências do bullying pode ter uma duração de curto ou longo prazo, dependen-
do da frequência e da intensidade que a vítima ficou exposta aos assédios. Veja o que Albu-
querque (2013, p. 93). Expõe:

Na esfera emocional algumas consequências do bullying listadas na literatura são: problemas ou


dificuldades sentimentais, medo, solidão e rebaixamento da autoestima. Em relação a proble-
mas psiquiátricos, tem-se observado presença de ansiedade, depressão, ideação suicida ou tenta­
tivas de suicídio. Há ainda a ocorrência de sintomas psicosso­máticos, como dores de cabeça,
dores de estômago, enurese, tonturas, problemas de sono e dores musculares. No que se refere
aos problemas em relações interpessoais, constata-se a ocorrência de sentimento de ineficácia
social e dificuldades de relacionamento interpessoal. Podem estar presentes também compor-
tamentos agressivos, homicí­dio a pares na escola, envolvimento com atividades ilícitas, como
portar arma ou utilizar drogas.

As características das pessoas que se tornam “alvo” dos autores do bullying são de acordo
com o Observatório da Infância

Podem ser considerados tanto como bons alunos quanto, possuidores de alguma dificuldade
de aprender, de impor-se ao grupo, dificuldade motora, de visão ou de audição. Com relação
às demandas, com frequência falam com sotaque diferente, têm a pele de outra cor, vestem-
-se de modo pouco usual, estão acima do peso ou muito abaixo, entre outras características. 17
De modo geral, são considerados pelos demais como pertencentes a um status social inferior
e são transformados em objeto de diversão e prazer por meio de “brincadeiras” maldosas e
intimidadoras realizadas por um indivíduo ou grupo (SCHULTZ, 2008, p. 12).

As vítimas podem ser reconhecidas por apresentar em alta frequência, desculpas para
não ir à escola, ou a qualquer lugar onde esteja o agressor ou um grupo que a agride. Em
horários que antecede a ida para a escola, a vítima pode apresentar indisposições como: dor
de cabeça ou de estômago, diarreia, vômito, febre e náuseas. O aluno alvo pode também
solicitar aos pais para mudança da sala ou até mesmo da escola, sem apresentar um motivo
plausível. O rendimento escolar diminui, apresenta desmotivação para com os estudos e
o comportamento na sala de aula é de dificuldades de concentração e de aprendizagem. O
regresso para casa é com o humor alterado, irritadiço ou triste. O aluno pode apresentar
pequenos machucados, roupas ou materiais escolares sujos ou danificados. Apresenta ainda
expressão contrariada, deprimida e aflita ou medo de voltar sozinho da escola. Há dificul-
dade de relacionamento com os colegas, se isola, sem querer contato com outras pessoas que
não sejam os familiares (SCHULTZ, 2008).
Deve-se ressaltar que esta somatizando as dores e aflições que passa no cotidiano escolar
e tem medo de falar para as pessoas responsáveis. As vítimas de bullying possuem até três vezes
mais chances de sofrer com dores de cabeça e abdominais, até cinco vezes mais chances de ter

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insônia e até duas vezes e meia mais chances de experimentar enurese noturna, quando compa-
radas às crianças que não são vítimas (ROLIM apud BANDEIRA C; HUTZ, 2010, p. 120).
O autor do bullying é aquele que age de modo agressivo contra um colega que é su-
postamente inferior ou mais fraco, age com a intenção de machucar, prejudicar, sem ter
acontecido à provocação por parte da vítima (BERGER apud BANDEIRA; HUTZ, 2010, p.
132). O agressor, normalmente, enxerga sua agressividade como qualidade. Ele sente prazer
e satisfação em ter o domínio sobre suas mãos, tem orgulho de controlar e causar dano
aos outros, humilhar é divertido; e geralmente é mais forte que a sua vítima (LOPES apud
BANDEIRA: HUTZ, 2005, p. 132). Essas atitudes do agressor têm sido consideradas, a bus-
ca pelo poder e liderança dentro do grupo de iguais, pois como não encontra outro modo
de adquirir esse “poder” o agressor usa o abuso da força para alcançar seu objetivo, seja por
meio de agressões físicas ou psicológicas.
Fernández (2005) afirma que “o agressor goza de maior popularidade entre seus colegas,
mas com sentimentos ambíguos: ele impõe a muitos o respeito ou o medo. Ele acredita que pode
exercer o abuso do poder por meio da agressão”. O agressor não sente culpa quando provoca um
ato injusto, pois o mesmo não sabe se colocar no lugar do outro, também apresenta dificuldade
nas habilidades sociais relativas à comunicação e à expressão /negociação de seus desejos.
Um estudo realizado em famílias americanas, concluiu que os agressores vêm de fa-
mílias que a violência física ou psicológica esta presente no dia-a-dia, deste modo à criança
reproduz o que vive em casa por meio do seu comportamento (FERNÁNDEZ, 2005, p. 54). No
18 entanto essas crianças não sofrem somente esse tipo de negligência conforme Chalita (2008,
p.86-87) “pertencem a famílias nas quais o afeto é escasso, os pais não acompanham os filhos,
deixando-os agir sem orientação ou supervisão. Diante dos conflitos, esses pais oferecem, em
geral, como modelo, comportamento agressivo ou explosivo”.
Os autores de bullying muitas vezes se envolvem em situações em que se aparecem como
valentões, envolvem-se em situações de riscos e antissociais, em que drogas, álcool, tabaco e
brigas se fazem presentes. Os bullies, sem motivos aparentes, insultam, humilham, agridem,
ofendem suas vítimas, podendo até destruir objetos pessoais, ou até mesmo espalhar rumores
ou boatos que não condizem com a realidade. Colocar a vítima em alguma situação constran-
gedora, depreciar alguém da família da vítima com palavras de baixo escalão ou comentários
maldosos, chantagear, ameaçar, usar páginas na web para atingir a vítima e muitos outros
modos para atingir a vítima (CHALITA, 2008).
Uma visão equivocada de muitas pessoas pode ser de que acreditar que os agressores
sejam somente do sexo masculino, uma vez que os autores podem ser de ambos os sexos.
Silva (2010) ressalta que os agressores que desde muito cedo tem aversão a regras e normas;
não aceitam serem contrariados ou sofrerem frustação, normalmente estão envolvidos em
pequenos delitos, como furtos, roubos ou vandalismo, como destruição do patrimônio
público ou privado. Quando observado o desempenho acadêmico se nota que costuma
ser regular ou deficitário; no entanto, isso não necessariamente envolve uma deficiência
intelectual ou de aprendizagem.

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Como o Conselheiro Educacional e Familiar pode realizar aconselhamento
de alunos vítimas e autores de bullying
Tomando como norte as Diretrizes Curriculares Nacionais Art.58, que indica os obje-
tivos do Ensino Fundamental, o CEF irá fundamentar o aconselhamento nos seguintes prin-
cípios:

Os princípios éticos: necessários para o desenvolvimento de atitudes autônomas, responsá-


veis, solidárias e de respeito pelo outro e pelo bem comum. Os princípios estéticos: funda-
mentais para o desenvolvimento das sensibilidades, da criatividade, do respeito à diversi-
dade. Princípio que amplia o universo cultural e artístico, que revela talentos e que agrega
o diferente. Os princípios políticos: essenciais para a percepção dos direitos e dos deveres,
imprescindíveis para o exercício da cidadania, para o desenvolvimento do olhar crítico, para
o respeito à ordem democrática e, principalmente, para despertá-lo do sentimento de perten-
cimento por meio da participação ativa e responsável (CHALITA, 2008, p. 193).

Há muito a ser feito em relação às vítimas e autores de bullying. No entanto, primeira-


mente, se faz necessário conhecer detalhadamente a situação problema para que o CEF tenha
uma atuação ampla e contextualizada. Fernández (2005, p. 72) afirma que “entendemos que a
escola é um sistema e que a intervenção há de ser de múltiplas facetas, da mesma forma que é
o próprio incidente”. O conselheiro tendo observado o papel da vítima, do autor e dos outros
indivíduos do grupo terá maior facilidade em desenvolver projetos que envolvam aconselha-
mentos que amenizem a violência entre os alunos.
O trabalho com o grupo deve ser algo que transforme profundamente o meio e que haja
um amadurecimento adequado no jovem. Silva (2010, p. 69) aborda que os adultos devem in-
tervir nessa fase de transição com:

o estímulo ao diálogo, a escuta atenta e empática, a construção de vínculos afetivos fortes,


o desenvolvimento de uma reflexão crítica, o incentivo à participação familiar e escolar, a
orientação para a responsabilização por si mesmo e pelos outros, a criação e a implemen-
tação de regras e o estabelecimento precoce (desde os primeiros anos de vida) de limites
muito bem definidos.

A intervenção terapêutica para com a vítima será de empatia, de escuta, ouvir, aceitação
da pessoa, intervenção para a reconstrução do self, e essa reconstrução será por meio das for-
mas de fortalecer os valores, ampliar o conceito de amor, auto aceitação, apontar que ainda
tem suas qualidades; levar a vítima a refletir sobre os comportamentos que ela apresentou; su-
gerir caminhos, e construir juntamente opções de escolha para modificar seus comportamen-
tos em relação a suas atitudes. “E a vítima precisará ajudar-se, aprender a se defender sozinha
apoiada pelo contexto escolar que deve favorecer a sua inserção no grupo da classe com uma
margem de normalidade” (FERNÁNDEZ, 2005, p. 134).
Deve se ressaltar que o CEF desempenha uma intervenção primária, se ocorrer conse-
quências psicológicas importantes, como as mencionadas por Silva (2010), tais como sinto-
mas psicossomáticos, Transtorno do Pânico, Fobia Escolar, Transtorno de Ansiedade Social,
Transtorno de Ansiedade Generalizada, Depressão, Anorexia, Bulimia, Transtorno Obses-
sivo-Compulsivo, Transtorno do Estresse Pós-Traumático, o aluno deverá ser encaminhado
para avaliação e tratamento junto a especialistas como psicólogos e psiquiatras, pois o CEF
não é habilitado para fazer sessões de terapia.
A intervenção com o agressor também é bastante complexa, no entanto não quer dizer
que o mesmo não esteja sofrendo. De acordo com Chalita (2008) esses valentões fazem parte
de famílias com perfil que normalmente o afeto é escasso e os responsáveis não supervisionam
adequadamente os filhos, deixando os alunos sem orientação ou supervisão. Uma das caracte-
rísticas bem marcantes no agressor é a falta de empatia para com a vítima, é um dos principais
focos que o CEF terá que trabalhar no aconselhamento, além da falta de controle da raiva, falta
de sentimento de culpa e o alto nível de tendência à hostilidade (FERNÁNDEZ, 2008, p. 134).
Com o agressor pode-se trabalhar a Teoria Diretiva, ou seja, aquela em que se busca
conhecer a realidade através de uma ampliação de informações com colegas, irmãos, pais e
outras pessoas envolvidas no caso, tendo como objetivo ampliar a perspectiva do aluno sobre
a realidade. Quando a Teoria Diretiva é utilizada com o agressor poderá criar um seu diag-
nóstico que seja correto, para que a busca e o processo do aconselhamento tenha sucesso (MO-
LOCHENCO, 2008, p.64). É preciso conversar com o agressor, esclarecer quais são as regras
da escola e aconselhar sobre que não é permitido abuso entre semelhantes intra e extramuros
escolares. E chamar familiares/responsáveis para explicar o que ocorreu, para proporem um
plano conjunto entre família e escola para auxiliar o aluno.
Após a intervenção individualizada será de grande importância uma proposta em grupo,
conforme Fernández (2008); um grupo para que as vítimas e os agressores sintam a necessida-
de de ajuda e de colaboração. O tratamento individualizado é necessário sempre no primeiro
momento assim que o Bullying é detectado pela coordenação, pela equipe educacional e de-
nunciado pela vítima ou por algum espectador, no entanto já no segundo momento a inter-
venção deverá ser no grupo.
Deve-se destacar que o principal caminho deverá desenvolver vínculos entre conselhei-
ro e aconselhando, como uma atitude de proteção, como aborda Chalita (2008) não uma pro-
teção que irá aprisionar o aluno, mas, uma proteção que irá acolher, que cuidará, que ajudará
para o desenvolvimento da autonomia e do sonho. Pois tanto a vítima e o agressor sentem
medo, e esses medos perturbam, eles não sabem como expor através de palavras os seus ver-
dadeiros sentimentos, então somente na base da confiança, do vínculo e do afeto que poderão
ser orientados, e colocar em prática os aconselhamentos.
O vínculo protege, pois é uma forma de amizade que compreende (CHALITA, 2008,
p. 45), a amizade é algo grandioso, é a aceitação da pessoa, e a vítima do bullying quando se
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depara com essa situação de ser aceita pelas suas qualidades e habilidades, seu self é reconstru-
ído, e esse papel o CEF tem que desempenhar com muita habilidade.
O conselheiro não esquecerá o primeiro princípio da Declaração Universal do Direito da
Criança Princípio I - À igualdade, sem distinção de raça, religião ou nacionalidade.

A criança desfrutará de todos os direitos enunciados nesta Declaração. Estes direitos serão
outorgados a todas as crianças, sem qualquer exceção, distinção ou discriminação por moti-
vos de raça, cor, sexo, idioma, religião, opiniões políticas ou de outra natureza, nacionalidade
ou origem social, posição econômica, nascimento ou outra condição, seja inerente à própria
criança ou à sua família (UNICEF, 1959).

Portanto, para isso o trabalho do aconselhamento é em parceria com a direção e coor-


denação pedagógica. O CEF juntamente com o corpo docente e os alunos irão criar as novas
regras, não somente para os agressores mas para toda a escola. Toda escola deverá incorporar
os princípios de convivência que são elas normas gerais, normas de uso e de segurança, nor-
mas de classe conforme Fernández (2005).
A diferença entre somente trabalhar com a vítima e com o agressor é que no momento
que ambos voltarem para a realidade no espaço escolar, os alunos que eram espectadores es-
tarão reconstruindo novos conceitos e atitude, novas regras e princípios. No entanto para que
esses princípios sejam potencializados se faz necessários investimentos em encontros, pales-
tras para pais e filhos ou até mesmo trabalhos que desenvolvam a transversalidade para que os 21
alunos interajam sobre o tema bullying e respeito ao outro em várias áreas de conhecimento e
possam refletir sobre suas percepções do mundo (FERNÁNDEZ, 2005).
Na prática do bullying o primeiro princípio da Declaração Universal da Criança é viola-
do, pois o agressor pensa ser melhor que a vítima, e o agressor, em geral, é um agressor, porque
muito dos seus direitos foram violados. O processo de reconstrução é difícil e demorado, mas
vale passar por esse sistema de aconselhamento. Quando declarado que é uma reconstrução
de valores e princípios, deve-se retratar que a reconstrução deve ser também física, no prédio
escolar, aborda Fernández (2005). O ambiente escolar é um dos aspectos mais influentes na
criação de um clima positivo para o aprendizado e este ambiente começa no pátio da escola,
pois quando uma escola esta bem arrumada isso favorecerá a aquisição de hábitos ordenados
e facilitará a aprendizagem do respeito ao espaço do outro. Sanches (1999) discorre que pro-
mover condições para que os alunos assumam seus atos e conquistem amigos, favorecendo
a relação afetiva, ensinando-lhes a responsabilidade de serem presentes ao grupo e estarem
atentos às suas obrigações, é ações do trabalho do Orientador Educacional, ou seja, que o CEF
também irá desempenhar.
Saber como atuar e os níveis de abordagem é de extrema importância para que o aconse-
lhamento tenha resultado. Haverão momentos em que o CEF será ouvinte, ouvinte-porta voz,
ouvinte- facilitador dos conflitos nas situações dos bullies. Chalita (2008) orienta que o pri-
meiro passo é organizar o trabalho coletivo, envolvendo tanto os educadores quanto os demais

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profissionais inseridos no espaço escolar, estabelecendo uma estratégia de ação focada em três
objetivos principais: neutralizar os agressores; auxiliar e proteger as vítimas; e transformar os
espectadores em aliados para promover a paz social.
Molochenco (2008) apresenta caminhos que o CEF poderá percorrer no processo do
aconselhamento, essas dicas são fundamentais para que o aconselhar ocorra. O primeiro pas-
so é levar o aconselhando a reconhecer seu estado de carência, ou seja, o CEF será o facilitador
no processo de descoberta tanto da vítima como do agressor, para saber quais são suas difi-
culdades. O CEF ajudará os aconselhandos com suas limitações, e trabalhará com soluções
para os conflitos. No segundo momento é reconhecer sua maior necessidade, a necessidade de
mudança, e isso acontecerá através de muito diálogo. Molochenco (2008, p.80) apresenta um
modelo geral a seguir nos aconselhamentos, no entanto deve-se lembrar que cada caso é um
caso, vejamos;

Início de conversação, observação, análise dos dados, pré-diagnóstico, averiguação de pré-


-diagnóstico, diagnóstico, averiguação do pré-diagnóstico, diagnóstico, averiguação do diag-
nóstico, prognóstico, descoberta das soluções, apontando saída, confrontação, verificação da
assimilação, averiguação da solução através da expressão teórica e/ou doutrinária, aplicação
da solução, averiguações, término do aconselhamento (MOLOCHENCO, 2008, p. 80).

Pondera-se que o CEF dever desenvolver trocas afetivas saudáveis, ou seja, conforme
22 Tiba (2010) são trocas onde todos ganham e se sentem bem com elas. É fundamental que se
aplique o princípio educacional da coerência, constância e consequência de modo que se de-
senvolve um amor que ensina. Chalita (2001, p. 11) destaca que,

o ato de educar não pode ser visto apenas como depositar informações nem transmitir co-
nhecimentos. Há muitas formas de transmissão de conhecimento, mas o ato de educar só se
dá com afeto, só se completa com amor.

O CEF é mais um agente para auxiliar na formação de alunos para que sejam criativos,
refletivos-ativos, transformando a sociedade, desvendando novos caminhos e acreditando que
é possível serem seres humanos felizes e equilibrados, Chalita (2001), ajudando tantos os agres-
sores e quanto as vítimas a atuar de modo cidadão tanto na família quanto na comunidade.

Conclusão
Após o estudo e a tentativa da definição do papel do CEF, e as análises sobre as caracte-
rísticas do bullying, seus agressores e suas vítimas, e o apontamento como o CEF pode realizar
aconselhamento de alunos vítimas e autores de bullying, conclui-se que o processo mais eficaz
será o do afeto, empatia, saber colocar-se no lugar do outro e desenvolver estratégias para com

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ACONSELHAMENTO EDUCACIONAL E FAMILIAR À VÍTIMA E AO AGRESSOR DO BULLYING

os alunos, para com os alunos e suas famílias e estratégias a todos da escola (funcionários,
alunos testemunha etc.).
Ao transmitir o calor humano nas conversações e diálogos entre o aconselhando e acon-
selhado, se desenvolverá um vínculo de segurança e confiança entre ambos, dando a opção de
traçarem caminhos para a solução dos conflitos existentes nos relacionamentos interpessoal e
intrapessoal dos aconselhados. O criar vínculos é essencial para que o aconselhamento ocorra
com qualidade e excelência. O CEF não poderá atuar se não criar vínculos e não ter empatia
para com seus aconselhados, pois são habilidades fundamentais que fazem parte da estratégia
a ser utilizada pelo conselheiro.
A vítima do bullying tem suas características peculiares aos quais podemos destacar,
conforme Lopes (2005) aquela criança que sofre calada com a agressão física, verbal, emocio-
nal e não dá conta de reagir para se defender, sendo constante essa violência. Já o agressor tem
o perfil de ser valentão, não sentir culpa nem remorso, impõe muito respeito ou medo e é po-
pular. Quando observado os motivos dessas agressões são motivos aparentemente superficiais,
que sugerem falta de habilidades para identificar os próprios sentimentos e o dos outros, para
comunicar dificuldades, problemas, necessidades e elaborar soluções pacíficas dos conflitos.
O CEF auxiliará para que os aconselhados descubram quais são suas qualidades e quais são
suas maiores necessidades, de acordo com Molochenco (2008), esse é o papel do conselheiro.
Mediante os estudos realizados, pode-se ver que o CFE utilizará no primeiro momento
estratégias com fundamentos afetivos para amenizar as situações de conflitos e orientar os
alunos, vítimas ou agressores do bullying, que na sua maioria não tem habilidades para criar e 23
manter relacionamentos saudáveis. No segundo momento se trabalhará com a família de modo
a se verificar as potencialidades da mesma, os pontos fortes os quais podem se tornar mais evi-
dentes com a ajuda do CEF de modo a melhorar a relação entre pais e filhos, ajudando vítimas
e autores a saírem da condição de envolvidos no bullying. No terceiro momento o CFE estará
envolvendo toda a escola, alunos, pais, professores e funcionários, é claro, o trabalho com toda
comunidade escolar, deverá ser realizado através de projetos educativos e pedagógicos.
Desta forma o CFE dará um respaldo com competência profissional e segura tanto no
âmbito escolar e familiar, cooperando para uma educação mais justa e solidária entre os pró-
prios educandos, sem prejuízos psicológicos e afetivos, contribuindo para formação de cida-
dãos mais saudáveis e seguros.

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