Você está na página 1de 9

PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2018.0000377770

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação / Reexame Necessário nº


1014042-19.2016.8.26.0053, da Comarca de São Paulo, em que é apelante ESTADO DE
SÃO PAULO e Recorrente JUIZO EX OFFÍCIO, são apelados CARLOS EDUARDO
OLIVEIRA, DOUGLAS MARTINS DE GODOI e EDSON ROBERTO.

ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 5ª Câmara de Direito Público do


Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Acórdão da apelação
mantido, sem juízo de retratação, por ser plenamente compatível com o Tema 905 do
Superior Tribunal de Justiça Devolução dos autos à Presidência da Seção de Direito
Público. V.U., de conformidade com o voto do relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Desembargadores MARIA LAURA


TAVARES (Presidente), FERMINO MAGNANI FILHO E FRANCISCO BIANCO.

São Paulo, 22 de maio de 2018.

Maria Laura Tavares


Relator
Assinatura Eletrônica
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

VOTO Nº 24019
APELAÇÃO CÍVEL N° 1014042-19.2016.8.26.0053
COMARCA: SÃO PAULO
APELANTE: FAZENDA DO ESTADO DE SÃO PAULO
APELADA: CARLOS EDUARDO OLIVEIRA E OUTROS
Juiz(a) de 1ª Instância: Maria Gabriella Pavlópoulos Spaolonzi

APELAÇÃO CÍVEL DEVOLUÇÃO DOS AUTOS PARA


JUÍZO DE RETRATAÇÃO CPC, ART. 1.030, II
JULGAMENTO DO REsp 1.495.146/MG (TEMA 905)
CORREÇÃO MONETÁRIA Tese fixada pelo STJ “O art. 1º-
F da Lei 9.494/97 (com redação dada pela Lei 11.960/2009), para
fins de correção monetária, não é aplicável nas condenações
judiciais impostas à Fazenda Pública, independentemente de sua
natureza” Correção monetária pelo IPCA JUROS
MORATÓRIOS Tese fixada pelo STJ “O art. 1º-F da Lei
9.494/97 (com redação dada pela Lei 11.960/2009), na parte em
que estabelece a incidência de juros de mora nos débitos da
Fazenda Pública com base no índice oficial de remuneração da
caderneta de poupança, aplica-se às condenações impostas à
Fazenda Pública, excepcionadas as condenações oriundas de
relação jurídico-tributária.” Juros de mora nos termos da Lei
nº 11.960/2009, a partir de sua vigência Acórdão da apelação
mantido, sem juízo de retratação, por ser plenamente compatível
com o Tema 905 do Superior Tribunal de Justiça Devolução
dos autos à Presidência da Seção de Direito Público.

Trata-se de devolução dos autos pela Presidência da


Seção de Direito Público deste E. Tribunal (fls. 108/111) para reapreciação da
questão relacionada ao Tema 905 do Superior Tribunal de Justiça, decorrente
do julgamento do mérito do REsp 1.495.146/MG.

O v. acórdão de fls. 75/88 determinou a incidência


do IPCA como índice de correção monetária do débito e a aplicação da Lei
11.960/09 apenas para fins de juros moratórios.
A Fazenda Estadual interpôs recurso especial às fls.
91/98 e recurso extraordinário às fls. 100/104, sem resposta (fls. 106).

Apelação / Reexame Necessário nº 1014042-19.2016.8.26.0053 -Voto nº 24019 2


PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

A Presidência da Seção de Direito Público deste E.


Tribunal, às fls. 108/111, determinou o encaminhamento dos autos à Turma
Julgadora para reapreciação da questão da incidência de juros moratórios e
correção monetária, nos termos do inciso II do art. 1.030, do Código de
Processo Civil, considerando o julgamento do REsp 1.495.146/MG (Tema
905).

É o relatório do necessário.

Não é o caso de realizar juízo de retratação


amparado no artigo 1.030, II, do Código de Processo Civil, já que as teses
fixadas pelo Superior Tribunal de Justiça no julgamento do REsp
1.495.146/MG (Tema 905) são plenamente compatíveis com as decisões
proferidas por esta C. Turma Julgadora, impondo-se a manutenção do IPCA
como índice de correção monetária do débito e dos juros de poupança da Lei
11.960/09 como parâmetro dos juros moratórios.

A despeito das divergências inicialmente existentes e


da posição anteriormente adotada por esta magistrada, é certo que o C.
Superior Tribunal de Justiça consolidou o entendimento de que a Lei
11.960/09 tem natureza processual e deve ser aplicada imediatamente aos
processos em tramitação (EREsp n° 1.207.197), mas não de forma retroativa
(REsp 1.205.946).

Assim, no atual estágio de evolução da


jurisprudência dos Tribunais Superiores, o entendimento que deve prevalecer
é o de que as normas que disponham sobre juros moratórios e correção
monetária possuem aplicabilidade imediata, por possuírem natureza
eminentemente processual.
Com relação aos critérios de correção monetária do
débito, descabida a pretensão de incidência da Taxa Referencial (TR) para este
fim.

Apelação / Reexame Necessário nº 1014042-19.2016.8.26.0053 -Voto nº 24019 3


PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

O C. Supremo Tribunal Federal, quando do


julgamento das ADIs 4.357 e 4.425 e do Tema 810 de repercussão geral,
reconheceu a parcial inconstitucionalidade do artigo 5º da Lei nº 11.960/09,
vedando a correção monetária dos débitos impostos à Fazenda Pública com
base nos índices oficiais de remuneração básica aplicados à caderneta de
poupança (Taxa Referencial - TR), por não representarem a verdadeira
depreciação do valor da moeda e inflação do período.

A declaração superveniente de inconstitucionalidade,


que possui eficácia imediata, impede a aplicação do critério de correção
monetária estipulado pela Lei 11.960/09.

É o que também restou decidido pelo C. Superior


Tribunal de Justiça quando do julgamento do Recurso Especial Representativo
de Controvérsia n° 1.270.439, em 26/06/2013, posteriormente ao julgamento
das ADI's pelo Colendo Supremo Tribunal Federal:

RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE


CONTROVÉRSIA. ART. 543-C DO CPC E RESOLUÇÃO
STJ N.º 08/2008. (...) VERBAS REMUNERATÓRIAS.
CORREÇÃO MONETÁRIA E JUROS DEVIDOS PELA
FAZENDA PÚBLICA. LEI 11.960/09, QUE ALTEROU O
ARTIGO 1º-F DA LEI 9.494/97. DECLARAÇÃO DE
INCONSTITUCIONALIDADE PARCIAL POR
ARRASTAMENTO (ADIN 4.357/DF).
12. O art. 1º-F da Lei 9.494/97, com redação
conferida pela Lei 11.960/2009, que trouxe novo
regramento para a atualização monetária e juros
devidos pela Fazenda Pública, deve ser aplicado, de
imediato, aos processos em andamento, sem,
contudo, retroagir a período anterior a sua vigência.
13. Assim, os valores resultantes de condenações
proferidas contra a Fazenda Pública após a entrada
em vigor da Lei 11.960/09 devem observar os
critérios de atualização (correção monetária e juros)
nela disciplinados, enquanto vigorarem. Por outro
lado, no período anterior, tais acessórios deverão
seguir os parâmetros definidos pela legislação então
vigente (REsp 1.205.946/SP, Rel. Min. Benedito
Gonçalves, Corte Especial, DJe 2.2.12).
14. O Supremo Tribunal Federal declarou a
inconstitucionalidade parcial, por arrastamento, do
art. 5º da Lei 11.960/09, que deu nova redação ao
art. 1º-F da Lei 9.494/97, ao examinar a ADIn
Apelação / Reexame Necessário nº 1014042-19.2016.8.26.0053 -Voto nº 24019 4
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

4.357/DF, Rel. Min. Ayres Britto.


15. A Suprema Corte declarou inconstitucional a
expressão índice oficial de remuneração básica da
caderneta de poupança contida no § 12 do art. 100
da CF/88. Assim entendeu porque a taxa básica de
remuneração da poupança não mede a inflação
acumulada do período e, portanto, não pode servir
de parâmetro para a correção monetária a ser
aplicada aos débitos da Fazenda Pública.
16. Igualmente reconheceu a inconstitucionalidade
da expressão independentemente de sua natureza
quando os débitos fazendários ostentarem natureza
tributária. Isso porque, quando credora a Fazenda
de dívida de natureza tributária, incidem os juros
pela taxa SELIC como compensação pela mora,
devendo esse mesmo índice, por força do princípio
da equidade, ser aplicado quando for ela devedora
nas repetições de indébito tributário.
17. Como o art. 1º-F da Lei 9.494/97, com redação
da Lei 11.960/09, praticamente reproduz a norma
do § 12 do art. 100 da CF/88, o Supremo declarou a
inconstitucionalidade parcial, por arrastamento,
desse dispositivo legal.
18. Em virtude da declaração de
inconstitucionalidade parcial do art. 5º da Lei
11.960/09: (a) a correção monetária das dívidas
fazendárias deve observar índices que reflitam a
inflação acumulada do período, a ela não se
aplicando os índices de remuneração básica da
caderneta de poupança; e (b) os juros moratórios
serão equivalentes aos índices oficiais de
remuneração básica e juros aplicáveis à caderneta
de poupança, exceto quando a dívida ostentar
natureza tributária, para as quais prevalecerão as
regras específicas.
19. O Relator da ADIn no Supremo, Min. Ayres Britto,
não especificou qual deveria ser o índice de correção
monetária adotado. Todavia, há importante
referência no voto vista do Min. Luiz Fux, quando
Sua Excelência aponta para o IPCA (Índice de Preços
ao Consumidor Amplo), do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística, que ora se adota.
20. No caso concreto, como a condenação imposta à
Fazenda não é de natureza tributária - o crédito
reclamado tem origem na incorporação de quintos
pelo exercício de função de confiança entre abril de
1998 e setembro de 2001 -, os juros moratórios
devem ser calculados com base no índice oficial de
remuneração básica e juros aplicados à caderneta de
poupança, nos termos da regra do art. 1º-F da Lei
9.494/97, com redação da Lei 11.960/09. Já a
correção monetária, por força da declaração de
inconstitucionalidade parcial do art. 5º da Lei
11.960/09, deverá ser calculada com base no IPCA,
índice que melhor reflete a inflação acumulada do

Apelação / Reexame Necessário nº 1014042-19.2016.8.26.0053 -Voto nº 24019 5


PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

período.
21. Recurso especial provido em parte. Acórdão
sujeito à sistemática do art. 543-C do CPC e da
Resolução STJ n.º 08/2008. (Rel. Min. Castro Meira,
j. 26/06/2013).

Nem mesmo a modulação de efeitos das ADI's 4.357


e 4.425 altera esse entendimento, pois a modulação em questão se aplica
apenas para os processos em que os precatórios foram expedidos ou pagos
até 25.3.2015, conforme se depreende do julgamento das Questões de Ordem
nas ADI's 4.357 e 4.425:

Concluindo o julgamento, o Tribunal, por maioria e


nos termos do voto, ora reajustado, do Ministro Luiz
Fux (Relator), resolveu a questão de ordem nos
seguintes termos: (...) 2) - conferir eficácia
prospectiva à declaração de inconstitucionalidade
dos seguintes aspectos da ADI, fixando como marco
inicial a data de conclusão do julgamento da
presente questão de ordem (25.03.2015) e
mantendo-se válidos os precatórios expedidos ou
pagos até esta data, a saber (...).

A modulação de efeitos teve o claro objetivo de


convalidar a aplicação da Taxa Referencial (TR) somente para processos em
que os precatórios já haviam sido expedidos ou que já haviam sido pagos.

No presente caso, sequer ofício requisitório ou


precatório foram expedidos, o que, por lógica, impede a aplicação automática
da modulação de efeitos e ainda permite discussão sobre os critérios de
correção monetária, ante a declaração de inconstitucionalidade proferida.

Assim, independentemente do teor da modulação de


efeitos do julgamento das ADI's 4.357 e 4.425, é certo que não pode
prevalecer índice já reconhecido como inconstitucional, tal como pretende a
Fazenda Estadual.

Esse entendimento também foi confirmado pelo


recente julgamento do Tema 810 de repercussão geral pelo Supremo Tribunal

Apelação / Reexame Necessário nº 1014042-19.2016.8.26.0053 -Voto nº 24019 6


PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Federal, no qual se fixou a seguinte tese:

“2) O art. 1º-F da Lei nº 9.494/97, com a redação


dada pela Lei nº 11.960/09, na parte em que
disciplina a atualização monetária das condenações
impostas à Fazenda Pública segundo a remuneração
oficial da caderneta de poupança, revela-se
inconstitucional ao impor restrição desproporcional
ao direito de propriedade (CRFB, art. 5º, XXII), uma
vez que não se qualifica como medida adequada a
capturar a variação de preços da economia, sendo
inidônea a promover os fins a que se destina.”

No mesmo sentido também foi a tese fixada pelo


Superior Tribunal de Justiça no seu Tema 905:

“1. Correção monetária: o art. 1º-F da Lei 9.494/97


(com redação dada pela Lei 11.960/2009), para fins
de correção monetária, não é aplicável nas
condenações judiciais impostas à Fazenda Pública,
independentemente de sua natureza.
1.1 Impossibilidade de fixação apriorística da taxa
de correção monetária.
No presente julgamento, o estabelecimento de
índices que devem ser aplicados a título de correção
monetária não implica pré-fixação (ou fixação
apriorística) de taxa de atualização monetária. Do
contrário, a decisão baseia-se em índices que,
atualmente, refletem a correção monetária ocorrida
no período correspondente. Nesse contexto, em
relação às situações futuras, a aplicação dos índices
em comento, sobretudo o INPC e o IPCA-E, é
legítima enquanto tais índices sejam capazes de
captar o fenômeno inflacionário.”

Dessa forma, em razão da declaração de


inconstitucionalidade parcial do artigo 5º da Lei n° 11.960/09, o diploma legal
é inaplicável ao caso para fins de correção monetária, devendo o débito ser
corrigido pelo IPCA, conforme entendimento já sedimentado nesta C. 5ª
Câmara de Direito Público.

Quanto aos juros moratórios, são de fato aplicáveis


as disposições da Lei n° 11.960/09 a partir de sua vigência, uma vez que não
invalidadas nesse ponto para as condenações comuns (não tributárias), como

Apelação / Reexame Necessário nº 1014042-19.2016.8.26.0053 -Voto nº 24019 7


PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

no caso em exame.

É o que também restou decidido no Tema 810 de


repercussão geral:

“1) O art. 1º-F da Lei nº 9.494/97, com a redação


dada pela Lei nº 11.960/09, na parte em que
disciplina os juros moratórios aplicáveis a
condenações da Fazenda Pública, é inconstitucional
ao incidir sobre débitos oriundos de relação jurídico-
tributária, aos quais devem ser aplicados os mesmos
juros de mora pelos quais a Fazenda Pública
remunera seu crédito tributário, em respeito ao
princípio constitucional da isonomia (CRFB, art. 5º,
caput); quanto às condenações oriundas de relação
jurídica não-tributária, a fixação dos juros
moratórios segundo o índice de remuneração da
caderneta de poupança é constitucional,
permanecendo hígido, nesta extensão, o disposto no
art. 1º-F da Lei nº 9.494/97 com a redação dada
pela Lei nº 11.960/09.”

No mesmo sentido também foi a tese fixada pelo


Superior Tribunal de Justiça no seu Tema 905:

“2. Juros de mora: o art. 1º-F da Lei 9.494/97 (com


redação dada pela Lei 11.960/2009), na parte em
que estabelece a incidência de juros de mora nos
débitos da Fazenda Pública com base no índice
oficial de remuneração da caderneta de poupança,
aplica-se às condenações impostas à Fazenda
Pública, excepcionadas as condenações oriundas de
relação jurídico-tributária.”

Dessa forma, os juros moratórios a incidirem sobre o


débito deverão seguir a sistemática dos juros de poupança, a partir do
advento da Lei 11.960/09, bem como a redação original do artigo 1º-F da Lei
9.494/97 para o período anterior ao advento daquela lei.

Pelo exposto, pelo meu voto, mantém-se o v.


acórdão proferido por esta C. Câmara julgadora, determinando-se o retorno
dos autos à Presidência da Seção de Direito Público.

Apelação / Reexame Necessário nº 1014042-19.2016.8.26.0053 -Voto nº 24019 8


PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Eventuais recursos interpostos contra este julgado


estarão sujeitos a julgamento virtual, devendo ser manifestada a discordância
quanto a essa forma de julgamento no momento da interposição.

Maria Laura de Assis Moura Tavares


Relatora

Apelação / Reexame Necessário nº 1014042-19.2016.8.26.0053 -Voto nº 24019 9

Você também pode gostar