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INTRODUÇÃO

A Defesa Najdorf, uma variação da Siciliana, é uma das opções mais agudas e complexas
disponíveis contra o peão rei. As posições resultantes desta abertura requerem máxima precisão
de ambos os jogadores. Muito além de um conhecimento teórico adequado, certamente
necessário, talvez mais do que em outras defesas, é necessária uma atitude mental correta para
se obter bons resultados na Najdorf, pois, em geral, aquele que ceder primeiro cairá em uma
posição inferior. Desde os meus primeiros anos como enxadrista a Najdorf fez parte do meu
arsenal de abertura. Esta defesa esteve presente nas minhas principais conquistas. Ao longo dos
anos, adquiri considerável experiência nos seus prós e contras e creio que obtive um bom
conhecimento dos seus temas. Neste material didático o leitor encontrará exemplos importantes
das minhas partidas e das de outros grandes-mestres, com comentários detalhados sobre os
temas típicos resultantes da abertura, meio jogo e final. Mas antes, devo aconselhar: leitura
passiva é insuficiente para o aprendizado no xadrez. Toda vez que estudamos um livro devemos
ser críticos, pensar de forma original, entender realmente o que o autor quer dizer. Para facilitar
sua tarefa, este material está repleto de exercícios a serem resolvidos, o que ajudará a fixar as
idéias apresentadas.
As defesas podem em geral ser catalogadas de acordo com seu espírito. Assim, temos
aquelas sólidas, em que se luta pelo controle do centro desde o início. Um exemplo clássico contra
o peão rei seria 1...e5. O jogador das pretas está satisfeito com a igualdade após a abertura,
pretendendo gradualmente, se possível, melhorar o status de sua posição, saindo da igualdade
para leve vantagem e assim sucessivamente, até, no caso de um final feliz, sair com um ponto
inteiro. Em outras defesas, o preto, de forma quase anárquica, cede o centro para o branco,
tentando explorar o jogo de peças para destruir um sólido centro de peões. Exemplos clássicos
deste estilo são a Defesa Pirc ou a Índia do Rei. A defesa Najdorf é um meio termo entre estas
duas escolas. O preto não luta pelo centro tão classicamente como no primeiro caso, mas também
não dá liberdade para as brancas como no segundo. O plano baseia-se em um ativo jogo de
peças, no contra-ataque e, tema interessante, em muitos casos ocorre uma mudança brusca na
avaliação da posição. Um erro pode ser fatal para ambos os lados, o que é um caso extremamente
raro em uma variante como a Ruy Lopez, por exemplo.
Que fique bem claro desde já: a Najdorf não é para todos os estilos. Se você é um jogador
muito seguro, que não gosta de calcular variantes e correr riscos, então escolha outra variante. As
qualidades essenciais para quem quer utilizar esta defesa são, ao meu ver, bom conhecimento
teórico, cálculo de variantes preciso e a atitude mental correta. Neste material, embora vejamos
muitos exemplos e consideremos algumas das variantes mais críticas, meu objetivo não é oferecer
ao leitor um número extensivo de variantes a decorar. Reitero que em alguns casos é necessário
saber as variantes de memória, mas este trabalho o leitor poderá realizar através do estudo de

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outro tipo de material, como livros puramente teóricos ou bases de dados. Meu principal objetivo é
guiá-lo nos temas mais freqüentes desta defesa, aumentando seu conhecimento geral, o que será
mais importante que todas as variantes decoradas. Mesmo com o conhecimento de todos estes
temas, você terá que ser capaz de calcular variantes corretamente, de forma a aplicá-los a
diferentes situações, especialmente na defesa de ataques de mate, algo que você ficará
acostumado depois de alguns torneios utilizando a Najdorf. No presente material, em muitos
momentos ofereço posições no formato de exercício, para que o leitor possa praticar o cálculo, tão
necessário não só nesta defesa, mas também em tantas outras. De qualquer forma, para um maior
aperfeiçoamento nesta área, sugiro o estudo de apostilas específicas, que podem ser adquiridas
no site www.academiarafaelleitao.com.
A atitude mental correta é fundamentalmente importante. Você deve estar preparado para
lutar pela iniciativa desde o início. Lances passivos são a receita para o fracasso. Lembre-se: a
Najdorf é sinônimo de atividade. Veremos muitos exemplos em que um dos jogadores fica no meio
termo entre lançar-se ao ataque ou ficar seguro, e o resultado desta estratégia é, na maioria dos
casos, a derrota. Esteja pronto para embarcar em uma batalha de vida ou morte, de ataques em
lados opostos, onde você deverá estar frio, atento e concentrado, pronto para encontrar recursos
escondidos de ataque e defesa. A Najdorf não é para medrosos. Se ocorrer do ataque do seu
adversário chegar antes, bom, assim é a vida, mas que não seja por falta de contra-ataque. Da
minha experiência posso adiantar: é preciso um jogador muito forte para conduzir um ataque com
precisão. Na grande maioria dos casos, com a atitude mental correta e encontrando bons lances
de contra-ataque, os recursos das pretas prevalecerão.
Minha carreira enxadrística começou aos seis anos de idade. Desde as minhas primeiras
experiências em torneios a Najdorf fez parte do meu repertório. Na grande maioria das vezes
defendi seus valores, mas em alguns casos estive do lado contrário, tratando de enfrentá-la,
algumas vezes com sucesso, mas muitas vezes recebendo uma dose do meu próprio veneno.
Nesta apostila analisaremos as minhas melhores partidas na Najdorf, assim com exemplos
clássicos e recentes de grandes-mestres renomados. Espero que ao final do seu estudo, o leitor
entenda como um grande-mestre utiliza seu conhecimento teórico e temático para encontrar a
solução correta durante a partida.
O material está dividido da seguinte forma:

1 Como Estudar Uma Abertura?

Aqui trataremos de algumas idéias genéricas sobre como estudar uma nova abertura. As
idéias sugeridas não se referem ao nível de grande-mestre, mas para aqueles que pretendem
conseguir um bom nível de maestria em determinada variante, sem ter que decorar livros e
livros para isso.

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2 Temas Posicionais

Neste capítulo investigaremos os temas posicionais recorrentes na Defesa Najdorf,


transmitindo ao leitor o fundamento estratégico que o guiará ao estudar as variantes mais
complicadas. É sabido que a tática complementa a estratégia. Para ser capaz de entender as
idéias por trás dos lances, o que o ajudará a calcular e avaliar as posições corretamente,
precisamos entender as idéias básicas da Najdorf.

3 Temas Táticos

Para vencer na Najdorf é preciso dominar os principais temas táticos e calculá-los


corretamente. Seja atacando ou defendendo, você deve conhecer os sacrifícios freqüentes,
aprendendo quando utilizá-los e reconhecendo os recursos defensivos existentes. Neste
capítulo, resolveremos diversas posições relacionadas a esses temas táticos. O leitor terá a
oportunidade de testar seus conhecimentos em diversos exercícios.

4 Defendendo e Contra-Atacando

Qualquer aspirante a defensor da Najdorf deve saber de antemão que está sujeito a
ataques de mate assustadores. É necessário sangue-frio e atenção aos recursos de defesa e
contra-ataque. Neste capítulo, analisaremos exemplos em que as pretas devem defender
ataques perigosos. Solucionando os exercícios deste capítulo, o leitor terá uma boa idéia do
que é necessário para sobreviver a estas investidas.

5 Ganhando no Piloto Automático

O título deste capítulo pode soar estranho, mas a verdade é que após compreender os
temas de uma variante e adquirir certa experiência, muitas vezes vencemos partidas apenas
utilizando o conhecimento temático, bastando uma certa atenção na hora de calcular. Veremos
como a posição branca pode deteriorar rapidamente se seu jogo não for preciso, permitindo ao
condutor das pretas, muitas vezes, vencer sem ter que criar qualquer idéia nova. Da mesma
forma, veremos como as pretas podem ser castigadas se não conhecerem bem esta defesa.

6 Finais Típicos

Com certeza gostaríamos que nossas partidas terminassem logo na abertura ou no meio-
jogo, de preferência com um ponto inteiro na planilha. Mas não podemos negligenciar o estudo
dos finais típicos da Defesa Najdorf, em alguns casos comum também a outras Sicilianas.

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7- Conclusões

Aqui faremos uma breve lembrança dos principais conhecimentos adquiridos neste
material didático.

Não existe uma fórmula científica para o sucesso. Mas certamente o estudo disciplinado
pode ajudá-lo. O leitor tem em mãos um bom material para começar suas investigações de
uma das defesas mais complexas do xadrez moderno.

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I- Como Estudar Uma Abertura?

Iniciaremos nosso estudo com algumas idéias genéricas sobre como trabalhar uma
abertura. A grande maioria dos enxadristas não sabe como montar um repertório, perdendo-se em
meio a tópicos como quanto tempo dedicar a abertura, como estudá-las, etc. Da minha experiência
como treinador, adianto que para um nível intermediário o ideal é montar um repertório de
aberturas e segui-lo fielmente por algum tempo, aproveitando para solucionar outros defeitos do
jogo, como o cálculo e a estratégia. Mas, ainda assim, é necessário desprender algum tempo no
estudo e atualização de suas aberturas. À medida que seu nível de compreensão e resultados vão
melhorando, é necessário aumentar o tempo dedicado a este trabalho. No nível de grande-mestre,
o estudo da fase inicial do jogo consome aproximadamente 80% do tempo reservado ao
treinamento. Neste capítulo inicial, ofereço um guia para o estudo das aberturas, que pode servir
para diferentes níveis de jogo. Trate de avaliar sua força enxadrística e a de seus adversários
freqüentes e tente seguir os modelos mais adeqüados. Não adianta dedicar a maior parte do seu
tempo às aberturas se você for um jogador de 2200 de rating. Da mesma forma, você não pode ser
um mestre internacional e dedicar apenas 10% do tempo ao seu repertório. Seja honesto com você
mesmo e descubra se precisa e o que precisa melhorar em seu estudo de aberturas.

Erros Freqüentes

1) Montar um repertório inadequado: Muitos enxadristas preparam um repertório fora


de sintonia com o seu estilo de jogo. Se você é um jogador posicional e gosta de um
jogo de manobras, então tente montar um repertório com posições mais sólidas, da
mesma forma que se você for um jogador mais tático, deve visar posições mais
abertas. Obviamente, nem sempre conseguiremos uma posição que agrade nosso
estilo de jogo e todo enxadrista deve tentar ser completo, lidando bem com todos os
tipos de posições. Mas faz bastante sentido montar um repertório de acordo com
nossas predileções. Isto posto, devo ressaltar que recomendo para jogadores até um
nível intermediário escolherem aberturas bem agressivas, de preferência com o centro
aberto. A habilidade mais importante para se dominar é o cálculo de variantes, portanto
devemos acostumar-nos desde cedo a praticar esse tipo de posição. A partir de um
nível mais elevado e com uma maior experiência acumulada, podemos avaliar melhor
nosso estilo de jogo e escolher aberturas convenientes.

2) Não pensar criticamente: Este é um erro comum a todos os níveis de jogo e todas as
fases da partida. Não devemos acreditar piamente em tudo o que lemos ou em todas
as variantes que nos são apresentadas. Devemos sempre pensar com nossa própria

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cabeça e comparar nossas análises e idéias com as do autor. Este erro é
especialmente grave no preparo das aberturas. Muitos se preocupam apenas em
decorar variantes e ficam atentos às últimas novidades do Informador ou as análises
da Enciclopédia, sem sequer saber a idéia das variantes que está vendo. Se você se
identifica com este modelo de enxadrista, então saiba que está estudando de forma
totalmente equivocada e que lhe custará muitos pontos. Xadrez não se decora, xadrez
se entende. A única exceção para esta regra é o final de jogo, onde devemos conhecer
algumas posições de memória. Mas na abertura vale mais pensar de forma
independente e entender as idéias por trás das variantes. Este equívoco é semelhante
ao que veremos a seguir.

3) Passar partidas rapidamente na base como preparação: Este é um erro decorrente


da era da informática. Muitos enxadristas, especialmente aqueles que não possuem
um repertório pronto e não sabem o que vão jogar, preparam-se vendo partidas
rapidamente na base de dados. Devo confessar que eu mesmo já cometi esse deslize
várias vezes, geralmente com maus resultados. Ao final não teremos aprendido
qualquer variante específica e as idéias ficarão embaralhadas em nossa memória.
Além do mais, esse estudo é extremamente superficial e ficaremos vulneráveis a uma
jogada imprevista. Como decorrência do erro anterior, muitos jogadores passam essas
partidas rapidamente e acreditam nas análises que encontram, ou até mesmo, nos
piores casos, acreditam cegamente que o resultado da partida foi normal, de acordo
com a posição da abertura. O seguinte exemplo é bem ilustrativo deste tipo de
pensamento. Não se espante pelo fato da seguinte partida ser de uma Ruy Lopez.
Estamos tratando neste capítulo de idéias gerais de abertura, não de uma
especificamente.

Leitão − Santos,MV
São Paulo, 2002

1.e4 e5 2.¤f3 ¤c6 3.¥b5 a6 4.¥a4 ¤f6 5.0-0 ¥e7 6.¦e1 b5 7.¥b3 0-0 8.a4 ¥b7 9.d3 À
época, iniciava minhas partidas quase exclusivamente com 1.e4, e o anti−Marshall era minha
escolha na Ruy Lopez. Marcus Vinícius "Ovelha" Santos sabia disso e quando jogou sua próxima
jogada rapidamente, desconfiei que tinha preparado algo especialmente contra mim. 9...d5?!

XII

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XIIIIIIIIY
9r+-wq-trk+0
9+lzp-vlpzpp0
9p+n+-sn-+0
9+p+pzp-+-0
9P+-+P+-+0
9+L+P+N+-0
9-zPP+-zPPzP0
9tRNvLQtR-mK-0
xiiiiiiiiy
Jogam as brancas

Um sacrifício de peão. O próximo lance das brancas é óbvio, a única alternativa seria
começar com a captura 10.axb5. 10.exd5 ¤d4 Jogado instantaneamente. Esta é a idéia das
pretas. Aqui pensei por bastante tempo e fiz uma jogada fraca. 11.¥a2?! Surpreendido pela
abertura, decidi acreditar nas análises do meu adversário e levar a posição para terrenos
desconhecidos. Após 11...¤xd5 as pretas conseguiram uma boa posição, mas acabei vencendo.
O lance mais forte seria 11.c4! conservando o peão a mais. Após a partida, Marcus Vinícius disse−
me que havia um exemplo com este lance em uma partida do Tal, mas que as pretas haviam
empatado com facilidade. Curioso, ao chegar em casa resolvi checar esta partida em minha base
de dados. Ela prosseguiu: 11...¤xb3 12.£xb3 ¦b8 13.axb5 axb5 14.£d1 Tal,M−Kuzmin,G, Baku
1972. De fato, as pretas conseguiram empatar essa partida mais tarde. Entretanto, a avaliação
correta desta posição é algo entre grande vantagem e vantagem decisiva das brancas. A avaliação
do meu adversário sobre a idéia das pretas foi baseada apenas no resultado final da partida, que
nada tem a ver com a situação após a abertura. Que lições podemos tirar deste exemplo?

- Não acredite nas partidas que você estuda na base de dados. Você precisa analisar os
momentos críticos, checá−los com os programas de análise, etc. Você precisa de
tempo para fazer tudo isso. Se você não tiver tempo, mas quiser apenas checar o que
a teoria diz de uma determinada posição, tudo bem, desde que utilize este
conhecimento de forma adequada. Particularmente, meu conselho é: se você não tiver
tempo para preparar−se adequadamente para uma partida, mais vale saber o que o
seu adversário joga, decidir que variante vai jogar e parar por aí. Aproveite seu tempo
livre para relaxar e preparar−se emocionalmente para a partida, pois ela certamente

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não será decidida na abertura.
- Tampouco acredite cegamente no seu adversário. Este foi o meu erro. Esta é uma
barreira psicológica difícil de ser superada, mas tente jogar contra as peças e não
contra as ações do seu adversário. Estamos jogando xadrez, não pôquer!

4) Exagerar no estudo das aberturas: Já frisei por diversas vezes que a abertura não é a
fase mais importante de uma partida de xadrez. Mas muitos jogadores médios teimam em
estudar apenas abertura, ou reservar um tempo desproporcional para o estudo de
variantes teóricas. Não cometa este equívoco. Monte seu programa de treinamento de
forma adequada, escolha um repertório de aberturas equilibrado, reserve um tempo para
seu estudo e atualização, mas não esqueça das outras fases da partida.

Entenda Sua Abertura

Para melhorar seus resultados em determinada variante é preciso entendê-la, o que nem
sempre significa dizer que devemos saber lances específicos, mas devemos compreender o
caráter da abertura, seus objetivos, planos típicos, etc. Você pode seguir o seguinte modelo de
perguntas: 1) Qual o caráter das posições típicas desta variante? São em sua maioria posições de
centro aberto, fechado, de cálculo, de estratégia? 2) Este tipo de posição está de acordo com o
meu estilo de jogo? Como expliquei anteriormente, tente escolher aberturas adequadas às
posições que você se sente confortável. 3) Nesta abertura devo saber lances precisos ou basta ter
uma boa noção dos temas mais freqüentes? Algumas posições demandam extrema precisão na
ordem de lances (Ex: Najdorf 6. ¥g5), enquanto em outras basta entender os principais planos (Ex:
Índia da Dama). Entenda qual o grau de conhecimento teórico necessário para a sua abertura e
prepare-se de acordo com essa informação. 4) Quais os temas típicos desta abertura? Sejam eles
táticos ou posicionais, toda a abertura tem alguma temática que pode ser aprendida. Um bom livro
ou uma boa seleção de partidas é fundamental para essa tarefa.

Selecionando as Partidas - Modelo

A partir de agora darei alguns conselhos mais específicos sobre como manejar seu
repertório de aberturas na era da informática. É fundamental contar com um software para
armazenamento de partidas. Eu utilizo o ChessBase, portanto meus conselhos serão utilizados
para seus usuários. Tenha uma base de dados com muitas partidas e atualize-a constantemente.
Semanalmente é possível baixar partidas em diversos sites. Uma opção é o conhecido The Week
in Chess (http://www.chesscenter.com/twic/twic.html). Também é bastante útil contar com uma
base de dados com partidas comentadas. O ideal seria uma base com todas as partidas dos

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Informadores. Se você já tem tudo isso, ótimo, tem o material adequado para selecionar as
partidas relevantes de sua abertura. Agora é preciso detalhar exatamente que tipo de posição você
quer procurar. É preciso ser um pouco específico aqui. Se você procurar, por exemplo, todas as
partidas da Najdorf, encontrará milhares de exemplos na base. Então, digamos, você quer
aprofundar-se em posições do ataque inglês, resultantes após 6. ¥e3 e5 7.¤b3 ¥e6. Ainda assim
você encontrará muitas partidas, mas já é possível começar o trabalho de seleção. Monte uma
base de dados onde colocará as partidas selecionadas. Sugiro selecionar apenas partidas de
jogadores conhecidos ou com média de rating alta. Coloque as partidas relevantes na sua recém-
criada base de dados. Em seguida, procure a mesma posição na base dos informadores. Coloque-
as na base de dados e, ao final, utilize a opção para remover as partidas duplicadas. Pronto, você
tem uma base inicial para começar a sua pesquisa. À medida que for se aprofundando nessa base,
poderá acrescentar comentários, remover partidas que não são importantes e marcar aquelas que
considera modelos. Após este longo e trabalhoso processo, teremos uma base de dados
compacta, com alguns comentários e com as partidas mais importantes facilmente reconhecíveis.

As Posições Críticas

Selecionar as posições críticas de um determinado sistema de abertura é fundamental.


Bastante atenção a este conceito, pois ele pode ser um dos principais conselhos para você.
Aprenda a selecionar as posições críticas de sua base de dados, aquelas em que você precisará
aprofundar mais, analisar com softwares, criar novidades. Esta seleção de posições críticas pode
ser feita de duas formas. O ideal seria estudar todas as partidas da base de dados. Naturalmente,
após este estudo você teria uma boa idéia das posições que precisarão ser revistas. Outro sistema
possível, caso você disponha de pouco tempo, é utilizar a opção de árvore de variantes. Assim
você saberá quais são as posições mais jogadas, assim como suas estatísticas. Com um ou outro
método, o importante é reconhecer a importância da seleção de posições críticas. Depois de
selecionadas, passaremos ao aprofundamento destas posições, analisando-as com engines, como
Fritz, Rybka, etc. Digamos que você tenha selecionado 5 posições em um determinado sistema da
Najdorf e disponibilizado 3 sessões de 3 horas para o estudo de cada uma delas (mais ou menos
assim deve ser feito o aprofundamento, as análises não podem ser superficiais). Provavelmente
após este trabalho você terá uma excelente percepção da posição, com bom entendimento dos
planos de cada lado e talvez até mesmo algumas novidades. Este é o processo que o tornará não
só um bom jogador de aberturas, mas também um melhor enxadrista como um todo. Analisar as
posições críticas independentemente é um dos segredos para o sucesso.

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Atualizando o Repertório

Atualizar o repertório periodicamente é fundamental para não ser surpreendido na


abertura, especialmente em uma variante tão jogada e cheia de posições críticas quanto a Najdorf.
Felizmente este trabalho é bastante facilitado hoje em dia por programas como o ChessBase. A
seguir alguns conselhos específicos sobre como atualizar seu repertório de aberturas.
Inicialmente, crie uma base específica para todas as variantes do seu repertório.
Chamaremos esta base de “Repertório”. No ícone correspondente a esta base, clique com o botão
direito do mouse e escolha a opção “Properties” e deixe marcado a caixa de “Repertoire
Database”. O ChessBase agora reconhecerá esta como sua base principal de abertura. Coloque lá
todas as variantes escolhidas, por exemplo, digamos que na Najdorf com 6. ¥g5 (o lance mais
agressivo das brancas), você se decidiu pelo sistema com 6...e6 7.f4 £c7 (meu lance predileto).
Então coloque estes lances iniciais na recém-criada base Repertório, clique com o botão direito na
jogada £c7 e escolha a opção “Special Annotation” e em seguida “Critical Opening Position”. Com
esta operação, o ChessBase reconhecerá que sua variante escolhida é a com 7... £c7. Não se
esqueça de salvar esta posição, de preferência escolhendo um nome fácil de ser
reconhecido.Repita este processo para todas as aberturas de seu repertório, tanto de brancas
como de pretas, sempre selecionando a posição inicial de sua variante escolhida como “Critical
Opening Position”. Após este processo, você terá uma base de repertório completamente pronta e
fácil de ser atualizada.
O segundo passo é baixar semanalmente uma base de partidas atualizada. Minha
recomendação é a base disponível no site The Week in Chess. Para ver se existe alguma partida
de interesse teórico nesta base, basta selecionar seu ícone correspondente e escolher a opção
“File-New-Generate Repertoire”. O ChessBase pesquisará se existe uma relação entre as partidas
desta base de dados com as posições que estão em sua base Repertório, listando as partidas
encontradas. Em seguida, você deve selecionar aquelas que são de interesse – as que tem um
rating médio alto, que não foram empate rápido e outros critérios à sua escolha – e transportá-las
para a base específica referente a cada abertura, digamos base “Najdorf Bg5”. Com este método
você terá uma boa idéia de que variantes tem sido mais jogadas, ajudando-o a selecionar as
posições críticas para análises posteriores.

Preparando Novidades

Finalmente, após todo este trabalhoso processo, precisamos fazer algumas análises
próprias, de preferência criando novidades. Note que se o seu nível de jogo ainda for iniciante, este

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último passo não é tão importante, basta você conhecer as partidas-modelo. Como disse acima,
seja honesto consigo mesmo e saiba reconhecer suas prioridades. Entretanto, se você já é um
jogador de alguma experiência e tem uma força de jogo, digamos, de candidato a mestre, vale a
pena começar o trabalho de análise independente.
Este é o tipo de estudo que mais me agrada, pois realmente mostra um lado criativo e
científico de uma partida de xadrez. É muito estimulante criar suas próprias análises, descobrir
planos novos e testá-los na prática dos torneios. Mesmo que eventualmente seu adversário
consiga refutá-lo, encontrando algum recurso imprevisto, saiba que você fez o que os melhores
enxadristas fazem: analisou independentemente e colocou suas idéias à prova.
Mas qual é exatamente o processo de criação de uma novidade? Dentro do padrão de
estudo aqui indicado, novas idéias normalmente aparecerão durante o estudo aprofundado das
posições críticas. Mas é claro que idéias podem surgir de outras formas variadas, assim como tudo
que depende de inspiração. Uma teoria interessante, sugerida pelo GM Lev Polugaevsky, várias
vezes campeão soviético, é a de selecionar variantes consideradas inferiores pela teoria e
encontrar idéias para ressuscitá-las. Este trabalho é bastante interessante, intelectualmente
estimulante e pode resultar em muitas vitórias. Não é à toa que, graças a esse tipo de trabalho
analítico, Polugaeevsky é considerado um dos maiores especialistas em aberturas de todos os
tempos, tendo inclusive seu nome em uma das variações da Najdorf.
Às vezes, entretanto, idéias de novidades na abertura aparecem de forma totalmente
casual. Vejamos o seguinte exemplo:

Leitão,R − Mekhitarian,K
Serra Negra, 2003
1.e4 c5 2.¤f3 d6 3.d4 cxd4 4.¤xd4 ¤f6 5.¤c3 a6 6.¥c4 e6 7.¥b3 b5 8.¥g5 ¥e7 9.£f3!?
Em 2003 esta jogada estava começando a entrar na moda. Eu havia analisado um bom número de
variantes neste sistema, que é extremamente complicado e demanda muita precisão de ambos os
jogadores. Sempre acreditei que as jogadas ¥c4 e ¥g5 de certa forma não "combinavam", na
Najdorf, e que você deveria escolher ou uma ou outra. Acho que este conceito está correto e que
as pretas não tem grandes problemas por aqui, mas provar isso sem conhecer a posição e com o
relógio correndo é outra história... 9...£b6 A alternativa é 9...£c7, com muitas complicações. 10.0-
0-0 £b7? O melhor para as pretas seria 10...¤bd7. A Najdorf é conhecida por garantir um jogo
cheio de possibilidades táticas para ambos os lados. Naturalmente, caminhar neste terreno
espinhoso exige muita precisão nas jogadas iniciais, o que só é possível com boa preparação.
Curiosamente, eu havia cometido este mesmo erro, mas jogando uma partida de blitz (na verdade
de 3 minutos para cada jogador) no Internet Chess Club. Meu adversário, um grande−mestre que
jogava incógnito, disparou a seguinte combinação rapidamente. Após a sessão de divertimento,
resolvi checar estas complicações com o Fritz. O computador me surpreendeu com uma seqüência

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tática brilhante, provando a vantagem das brancas. Guardei esta possibilidade na gaveta e fiquei
aguardando a chance de utilizá−la, o que não demorou a acontecer. Devo agradecer ao anônimo
GM e, principalmente, ao Fritz, por terem me mostrado a luz. Meu mérito apenas foi o de divulgar
este achado. 11.¥xf6!N [11.¤f5!? Também seria possível: 11...exf5 12.¥xf6 gxf6 (12...¥xf6
transpõe para a partida.) 13.¥d5 ¤c6 14.exf5 ¥d7 15.¦he1 e as brancas têm boa compensação
pelo material sacrificado.] 11...¥xf6

XIIIIIIIIY
9rsnl+k+-tr0
9+q+-+pzpp0
9p+-zppvl-+0
9+p+-+-+-0
9-+-sNP+-+0
9+LsN-+Q+-0
9PzPP+-zPPzP0
9+-mKR+-+R0
xiiiiiiiiy
Jogam as brancas. Qual o melhor lance?

12.¤f5! Esta é a real idéia por trás da jogada 11.¥xf6. As brancas "sacrificam" uma peça,
mas recebem o seu valor com juros. 12...exf5 Após 12...0-0 13.¤xd6± as pretas não têm qualquer
compensação pelo peão. 13.¥d5 ¤c6 14.e5! [14.exf5? ¥d7] 14...¥g5+ 15.¢b1 ¥d7 Após
15...¤xe5 As brancas teriam uma agradável escolha entre 16.¥xb7 16...¤xf3 17.¥xa8 ¤d2+
18.¢a1± ou (16.£h5 £e7 17.¥xa8± , com grande vantagem em ambos os casos.) 16...¤xf3
17.¥xa8 ¤d2+ 18.¢a1±]

XIIIIIIIIY
9r+-+k+-tr0
9+q+l+pzpp0
9p+nzp-+-+0
9+p+LzPpvl-0
9-+-+-+-+0
9+-sN-+Q+-0
9PzPP+-zPPzP0
9+K+R+-+R0
xiiiiiiiiy

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Jogam as brancas. Qual o melhor lance?

A posição crítica. Aparentemente as pretas se defendem, mas... 16.¤e4!! Esta bela jogada
foi descoberta pelo Fritz em minhas análises caseiras. Esta partida é um perfeito exemplo da
utilização correta de um software de análise para conseguir resultados. O computador está em seu
elemento neste tipo de posição, sendo capaz de encontrar recursos que nem são imaginados por
grandes−mestres. Um erro seria o óbvio 16.£h5? 0-0 17.£xg5 dxe5 e o ataque branco
desaparece. 16...fxe4 [16...¥e7 17.exd6 e as brancas ganham: 17...¥f6 18.¤c5 £c8 19.¦he1++−;
Ainda pior seria 16...0-0 por 17.¤xg5 dxe5 (17...h6 18.¤xf7 ¦xf7 19.e6+−) 18.£h5+−] 17.£xf7+
¢d8 18.£xg7 ¢c7 [Um pouco mais preciso seria 18...¦e8 ] 19.exd6+ ¢b6 20.£xg5± Com 4
peões pela peça (possivelmente 5, pois o § de e4 está condenado) e a posição insegura do rei
preto, as brancas têm uma vantagem decisiva.
Como se vê, a descoberta tática que me levou a vencer esta partida ocorreu totalmente por
acaso e meu mérito foi apenas trabalhar as variantes, que são relativamente matemáticas. O
importante é aproveitar qualquer brecha para motivar-se no árduo trabalho de análise. Tive sorte
de poder colher os frutos deste estudo rapidamente, mas não pense apenas em resultados
imediatos. O exercício de análise contribuirá para torná-lo um enxadrista melhor.
As sugestões deste capítulo induzem a um trabalho árduo, envolvendo disciplina,
conhecimento dos softwares de xadrez e, tema mais importante, análise enxadrística
independente. Utilize o método aqui sugerido e o resultado não tardará em aparecer, tornando-o
mais capaz de enfrentar os problemas da fase inicial da partida.

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II- TEMAS POSICIONAIS

Ao iniciar um trabalho de aberturas, o mais importante é entender os seus fundamentos e


idéias temáticas. Neste capítulo, trataremos de explicar a base teórica necessária para o
aprofundamento das variantes específicas da Najdorf. É preciso entender a própria razão do lance
5...a6, saber que tipo de jogo temos pela frente, quais as estruturas típicas e planos recorrentes.
Não temos aqui o espaço necessário para toda a complexidade de uma variante tão testada, mas
concentrei os temas que julgo essenciais para uma melhor compreensão desta abertura.
O defensor da Najdorf deve estar pronto para a batalha em diversas formas. Nas posições
resultantes o jogo preto é baseado em um contra-jogo rápido e concreto. O cálculo preciso de
variantes será uma habilidade fundamental para o sucesso. Obviamente, algumas posições são
mais arriscadas que outras, mas em geral fica a critério das brancas, na escolha do seu sexto
movimento, escolher o caráter geral da partida. Mas antes de avaliarmos especificamente a que
tipo de jogo (posicional, tático ou ambos) cada sub-variante da Najdorf nos remete, convém
refletirmos sobre alguns dos fundamentos desta defesa.

Refletindo sobre a Najdorf

Afinal, qual o sentido da jogada 5...a6?

XIIIIIIIIY
9rsnlwqkvl-tr0
9+p+-zppzpp0
9p+-zp-sn-+0
9+-+-+-+-0
9-+-sNP+-+0
9+-sN-+-+-0
9PzPP+-zPPzP0
9tR-vLQmKL+R0
xiiiiiiiiy
Defesa Najdorf

Muitos praticantes desta defesa sequer sabem a resposta a esta pergunta. Aliás, verdade
seja dita, esta indagação é um pouco mais complexa do que parece à primeira vista. Vejamos. A

14
resposta clássica, e ao menos essa a grande maioria dos jogadores sabe, é que a jogada 5...a6
serve como preparação para o avanço central e7-e5. Ocorre que, conforme comprovado por
alguns exemplos importantes, a jogada 5...e5 é imprecisa, pois as brancas têm a forte réplica 6.
¥b5+!. Neste caso 6... ¥d7 não serve, pois a troca dos bispos de casas brancas compromete o
complexo de casas centrais debilitadas com a jogada e7-e5, especificamente d5 e f5. No caso de
uma jogada como 6... ¤bd7, então o cavalo branco está pronto para pular a f5, de onde exercerá
desagradável pressão, além poder rumar a d5 via e3 (Cf5-e3-d5). De sorte que, resumindo, a
jogada 5...e7-e5 é fraca devido a 6. ¥b5+! e a jogada 5...a6 prepara ...e7-e5, pois evita esse
xeque. Assim, a Najdorf propriamente dita, na mais pura de suas formas, está intimamente
relacionada com a jogada e7-e5. Jogar com este avanço era a predileção de Bobby Fischer.
Entretanto, alguns leitores atentos perguntarão, se a jogada e7-e5 é assim tão boa, por
que Kasparov, para muitos o melhor enxadrista de todos os tempos, preferia jogar com e7-e6 e
quase nunca com e7-e5? Afinal, a7-a6 não é simplesmente uma preparação para e7-e5? Parece
que para Kasparov essa não é a idéia da Najdorf, não é mesmo? Calma, leitor atento. Ocorre que
outra das vantagens da jogada 5...a6, esta sim um pouco mais abstrata, é que ela é uma jogada de
espera bastante flexível. Jogada de espera? Na abertura? Isso mesmo. O lance a6 é útil na grande
maioria das variantes da Defesa Siciliana. Serve para evitar Bb5+, como vimos acima, mas na
maioria das vezes o preto está mais preocupado com um salto do cavalo de d4 a essa casa, o que
agora também já está impedido. Além do mais, uma expansão fundamental ocorre com a
jogada...b7-b5, que está agora engatilhada. Mas, principalmente, as pretas mantêm uma enorme
flexibilidade em relação à sua estrutura de peões e conseqüente desenvolvimento de peças.
Podemos utilizar a Najdorf clássica com e7-e5, uma estrutura tipo Scheveningen, com a jogada e7-
e6, ou até mesmo um esquema a la Dragão, com g7-g6. Todas estas opções estão disponíveis,
dependendo de como as brancas reagirão com seu sexto lance. Kasparov particularmente gostava
da estrutura Scheveningen, principalmente por evitar o ataque Keres, que é uma reação muito
temida contra a ordem de lances clássica desta defesa: 5...e6 6.g4!. Fischer preferia jogar
com...e7-e5 (esta também é minha forma predileta de jogar). O mais importante é saber guiar-se
nestas diferentes estruturas para desfrutar ao máximo da flexibilidade inerente à Najdorf.
Vejamos aqui um breve esquema das principais opções de sexto lance das brancas e que
tipo de posição podemos esperar:

A) 6. ¥g5 - Outrora a variante principal, tida como a melhor chance de refutar esta
defesa, algo que o tempo demonstrou ser impossível. As posições resultantes são extremamente
complicadas e concretas, com o branco atacando furiosamente. É preciso saber muitas variantes
de memória, ter análises feitas com o computador, calcular precisamente e ter muito sangue-frio
para buscar recursos defensivos. Ao iniciar o estudo das variantes especificas, você deve começar
por 6. ¥g5.

15
B) 6. ¥e3 (Ataque Inglês) - Atualmente esta é a variante mais em moda. As
brancas planejam um ataque de peões no flanco rei, agindo bem esquematicamente, com ¥e3,f3,
£d2,g4-0-0-0, etc. A ordem de lances pode começar com 6.f3. Estas variantes também têm uma
temática de ataque/contra-ataque, com roques em lados opostos, mas a necessidade de um
conhecimento teórico específico é um pouco menor que na linha com 6. ¥g5. Aqui o conhecimento
dos planos e idéias gerais de ataque e defesa são mais importantes. Após estudar 6. ¥g5,
continue seus estudos por esta variante.

C) 6. ¥e2 - Mais posicional. Esta era a escolha de Anatoly Karpov, nos seus
tempos de jogador de Peão Rei. As brancas vão jogar com roque pequeno e pretendem parar o
contra-jogo preto no flanco dama e iniciar seu próprio avanço no flanco rei, com f4-f5, etc.
Conhecimento de variantes teóricas especificas não é de grande importância em um primeiro
momento, pois as posições são bem temáticas e você pode jogá-las se tiver uma boa idéia dos
planos gerais.

D) 6. ¥c4 - Uma variante bastante aguda, dá origem a posições de cálculo


concreto. Este é um dos casos, juntamente, com 6.Bg5, em que as pretas estão impedidas de
jogar e7-e5, por motivos óbvios. Ainda que esta posição seja bem complicada, os últimos exemplos
demonstram que as pretas não têm o que temer.

E) Outras variantes. As brancas ainda têm outras diversas opções de sexto lance,
mas elas não são tão importantes por enquanto. Concentre-se nos 4 lances anteriores e já terá
uma boa idéia de como se virar também em linhas mais raras. Dentre estas, podemos destacar
6.f4, 6.g3 e 6.a4. O caráter destas variantes é de jogo posicional.

Estruturas Típicas

A estrutura de peões é o esqueleto de uma posição. É com base nela que


formulamos planos e traçamos idéias gerais sobre como devemos jogar. Portanto, não é surpresa
que o estudo de estruturas típicas seja fundamental também no trabalho de aberturas. Ao analisar
as principais formações de uma determinada variante, obtemos o conhecimento necessário para
guiar-nos mesmo quando não soubermos as jogadas recomendadas pela teoria.
Este tipo de conhecimento posicional é especialmente importante em variantes
mais lentas como 6.Be2. Entretanto, ele também será útil para encontrar soluções mesmo em
posições tão concretas como o Ataque Inglês. Vejamos agora as principais estruturas de peões
provenientes da Defesa Najdorf:

16
A) Após e7-e5

XIIIIIIIIY
9-+-+k+-+0
9+p+-+pzpp0
9p+-zp-+-+0
9+-+-zp-+-0
9-+-+P+-+0
9+-+-+-+-0
9PzPP+-zPPzP0
9+-+-mK-+-0
xiiiiiiiiy
Estrutura após e7-e5

Conforme já explicado, esta é a estrutura clássica da Najdorf. Com este avanço, as pretas
ganham um tempo para o desenvolvimento das peças e ocupam o centro com um peão, ganhando
mais espaço. Entretanto, algumas desvantagens estruturais também são visíveis, pois as pretas
ficam com um peão atrasado em d6 e, principalmente, com uma crônica debilidade em d5. Ao
longo de muitos anos, debates têm sido travados nos tabuleiros do mundo entre os defensores da
liberdade das pretas e seus rígidos opositores, que acreditam em uma vantagem estrutural pura
para as brancas. O resultado destes debates comprovou a viabilidade da posição preta.

O PERIGO - O grande perigo da posição preta, que já levou muitos jogadores a pesadelos
noturnos, e que você deve evitar a qualquer custo, é que as brancas consigam um forte domínio
sobre a casa d5, sem que o preto tenha qualquer contra-jogo. Muitos destes medos tornaram-se
reais no seguinte exemplo, um clássico de como conduzir uma vantagem posicional do inicio ao
fim.

Geller,E − Najdorf,M
Zurich 1953

1.e4 c5 2.¤f3 d6 3.d4 cxd4 4.¤xd4 ¤f6 5.¤c3 a6 6.¥e2 e5 7.¤b3 ¥e6 8.0-0 ¤bd7 9.f4
Ruptura típica. As brancas preparam a expansão no flanco rei, com f4−f5, g2−g4, etc. 9...£c7
9...exf4 é sempre uma opção a se considerar, mudando a estrutura. Neste caso, entretanto, a
vantagem de desenvolvimento das brancas lhe garantiria certa vantagem. 10.f5 ¥c4 11.a4!

17
Profilaxia. As brancas evitam o avanço b7−b5. 11...¦c8 12.¥e3 ¥e7 13.a5 h5?! 14.¥xc4 £xc4
15.¦a4 £c7 16.h3 h4 17.¦f2 b5 18.axb6 ¤xb6

XIIIIIIIIY
9-+r+k+-tr0
9+-wq-vlpzp-0
9psn-zp-sn-+0
9+-+-zpP+-0
9R+-+P+-zp0
9+NsN-vL-+P0
9-zPP+-tRP+0
9+-+Q+-mK-0
xiiiiiiiiy
Que lance você jogaria?

19.¥xb6! As brancas eliminam o perigoso cavalo preto, evitando o contra−jogo, ao mesmo


tempo enfraquecendo a casa d5. O ganancioso 19.¦xa6 seria duvidoso, pois as pretas teriam a
iniciativa após ¤c4. 19...£xb6 20.£e2 ¦a8 21.¢h2! O plano é simples: trazer a torre de f2 para o
flanco dama e melhorar o cavalo de b3, de forma a aumentar o controle sobre a casa d5. 21...0-0
22.¦f1 ¦a7 23.¦fa1 ¦fa8 24.¦1a2! ¥d8 25.¤a5 ¦c8 26.¤c4 £c6 27.¤e3 a5 28.¦c4 £a6 29.b3
¥b6 30.¦xc8+ £xc8 31.¤ed5 ¤xd5 32.¤xd5 (VER DIAGRAMA SEGUINTE) A posição dos
sonhos para as brancas. Domínio total da casa d5. A posição é estrategicamente ganha. 32...£c5
33.¦a1 £f2 34.£xf2 ¥xf2 35.¦f1 ¥d4 36.c3 ¥c5 37.g4 hxg3+ 38.¢xg3 ¦b7 39.¦b1 f6 40.¢f3
¢f7 41.¢e2 ¦b8 42.b4 g6 43.¢d3 gxf5 44.exf5 axb4 45.cxb4 ¥d4 46.¦c1 ¢g7 47.¦c7+ ¢h6
48.¢e4 ¢g5 49.¦h7 ¥f2 50.¦g7+ ¢h4 51.¢f3 ¥e1 52.¢g2 ¦f8 53.b5 ¥a5 54.b6 ¥xb6 55.¤xb6
¦b8 56.¦g4+ ¢h5 57.¤d5 1-0

XIIIIIIIIY
9-+q+-+k+0
9tr-+-+pzp-0
9-vl-zp-+-+0
9zp-+NzpP+-0
9-+-+P+-zp0
9+P+-+-+P0
9R+P+Q+PmK0
9+-+-+-+-0

18
xiiiiiiiiy
Posição branca dos sonhos
O mesmo cenário de pesadelo ocorreu na seguinte partida:

Jansa,V − Lazic,D
Kragujevac , 1984
XIIIIIIIIY
9r+r+-+k+0
9+-vl-+pzp-0
9p+qzp-+-zp0
9+-+RzpP+-0
9-+N+P+-zP0
9+P+Q+-zP-0
9-+P+-+-+0
9tR-+-+-+K0
xiiiiiiiiy
Outra posição de sonho para as brancas

Acho que esta nem precisa comentários...

É importante entender, entretanto, que mesmo quando as brancas obtêm controle sobre
d5, a posição preta é jogável, dependendo do seu contra-jogo no flanco dama.
Vejamos outro exemplo clássico, em que o domínio da casa d5 não foi suficiente para
salvar o primeiro jogador da derrota.

Unzicker,W− Fischer,R
Varna ol 1962

1.e4 c5 2.¤f3 d6 3.d4 cxd4 4.¤xd4 ¤f6 5.¤c3 a6 6.¥e2 e5 7.¤b3 ¥e6 8.0-0 ¤bd7 9.f4
£c7 10.f5 ¥c4 11.a4 ¥e7 12.¥e3 0-0 13.a5 b5! Nesse tipo de posição é importante obter contra−
jogo nas colunas abertas na ala da dama para compensar o domínio das brancas sobre d5.
14.axb6 ¤xb6 15.¥xb6? Mais tarde Geller descobriu o caminho correto, 15.¢h1! 15...£xb6+
16.¢h1 ¥b5! Uma excelente manobra. Fischer pretende colocar seu bispo em c6, protegendo d5 e
atacando o § de e4. Unzicker sentiu−se obrigado a trocar esta peça. 17.¥xb5 [17.¤xb5 seria
melhor, mas após 17...axb5 18.£d3 ¦a4! as pretas não teriam problemas.] 17...axb5 18.¤d5
¤xd5 19.£xd5

19
XIIIIIIIIY
9r+-+-trk+0
9+-+-vlpzpp0
9-wq-zp-+-+0
9+p+QzpP+-0
9-+-+P+-+0
9+N+-+-+-0
9-zPP+-+PzP0
9tR-+-+R+K0
xiiiiiiiiy
Como você avalia esta posição? Qual o melhor lance para as pretas?

19...¦a4! Aparentemente as brancas têm vantagem, devido ao seu controle de d5. Isto
certamente seria verdade se as pretas tivessem que ceder a coluna "a", mas o lance de Fischer
vira a mesa. As brancas, na verdade, não têm um plano construtivo, enquanto as pretas têm
excelente contra−jogo no flanco dama. É fundamental notar que o grande problema branco é que
seu cavalo não consegue chegar a d5. 20.c3 £a6 21.h3 [21.¦ad1 ¦c8 22.¤c1 b4! e as brancas
tiveram sorte de conseguir o empate em Tal − Fischer, Curacao 1962.] 21...¦c8 22.¦fe1 h6!
23.¢h2 ¥g5 24.g3? [24.¦ad1 seria melhor, mas as pretas continuariam com seu ataque da
minoria: 24...b4! 25.£xd6 £xd6 26.¦xd6 bxc3 27.bxc3 ¦xc3 com clara vantagem no final.]
24...£a7! 25.¢g2 ¦a2! 26.¢f1 [26.¦xa2 £xa2 27.¦e2 ¦xc3!]

XIIIIIIIIY
9-+r+-+k+0
9wq-+-+pzp-0
9-+-zp-+-zp0
9+p+QzpPvl-0
9-+-+P+-+0
9+NzP-+-zPP0
9rzP-+-+-+0
9tR-+-tRK+-0
xiiiiiiiiy
Jogam as pretas e ganham

20
26...¦xc3! [26...¦xc3 27.¦xa2 (27.bxc3? £f2#) 27...¦f3+ 28.¢e2 ¦f2+ 29.¢d3 £xa2
30.¦a1 £xb2-+] 0-1
Planos Típicos na Estrutura e7-e5

A batalha estrutural é mais ou menos clara: o branco lutará pelo controle da casa d5 e
tentará ganhar espaço no flanco rei, com a jogada f4, talvez posteriormente f5-g4, etc. Outra opção
é mudar a estrutura com a jogada Cc3-d5, forçando uma troca (tanto pelo bispo em e6 ou b7,
quanto pelo cavalo em f6). Após e4xd5 as brancas ganham uma maioria no flanco dama, mas as
pretas obtêm um peão a mais no centro. Se ambos tiverem feito o roque pequeno, o sucesso
estará com quem conseguir avançar mais rapidamente sua maioria. Se os reis estiverem em lados
opostos, prevalece a tradicional corrida de peões para abrir linhas de ataque. Outro plano, bastante
utilizado recentemente, é o Ataque Inglês, com Be3-f3-Dd2, g4, etc. Enquanto o branco prepara
essa metódica investida o preto tentará uma expansão no flanco dama, com b7-b5, assim como a
ruptura central d6-d5.
Essa estrutura se desdobra em outras duas de grande importância, após a jogada f2-f4.
Inicialmente, vejamos o que acontece quando ha uma troca entre o peão de "f" das brancas pelo
peão de "e" das pretas:

B) Estrutura após...exf4

XIIIIIIIIY
9-+-+k+-+0
9+p+-+pzpp0
9p+-zp-+-+0
9+-+-+-+-0
9-+-+P+-+0
9+-+-+-+-0
9PzPP+-+PzP0
9+-+-mK-+-0
xiiiiiiiiy
Estrutura Típica após ...exf4

Esta estrutura ocorre freqüentemente. Geralmente uma maneira confiável e pouco


arriscada das pretas jogarem contra f2-f4 é simplesmente capturar o peão. Eu particularmente
gosto desta opção, pois as posições resultantes são bem posicionais e o jogador com melhor
compreensão dos temas costuma ser o vencedor. O preto ganha um posto importante para o seu

21
cavalo em e5, enquanto as brancas seguem com vantagem de espaço, além de continuarem
controlando d5. Karpov manejava especialmente bem esse tipo de posição e eu recomendo o
estudo do seu match contra Polugaevsky, em 1974, para um melhor entendimento dessa estrutura.
Devo adiantar que o escore desfavorável para as pretas nessa posição temática não teve como
causa a abertura, mas sim o jogo implacável do então candidato ao título mundial. Vejamos um
exemplo:

Karpov,A − Polugaevsky,L
Moscow (4), 1974

1.e4 c5 2.¤f3 d6 3.d4 cxd4 4.¤xd4 ¤f6 5.¤c3 a6 6.¥e2 e5 7.¤b3 ¥e7 8.0-0 ¥e6 9.f4
£c7 10.a4 ¤bd7 11.¢h1 0-0 12.¥e3 exf4 13.¦xf4 ¤e5! 14.¤d4 [14.a5!] 14...¦ad8! 15.£g1?!
[15.a5!? ¦d7÷] 15...¦d7 16.¦d1 ¦e8 17.¤f5?! ¥d8!³ 18.¤d4 [18.¥d4 d5!∓] 18...¤g6 [18...¥c4!?³]
19.¦ff1 ¤e5 20.¥f4?! [20.h3!] 20...£c5 [20...£a5! ∆ 21... £b4, 21... ¥b6∓] 21.¤xe6 £xg1+
22.¦xg1 ¦xe6 23.¥f3 ¤eg4 24.¦gf1 ¥b6 25.¦d2 ¥e3 26.¥xe3? [26.¥xg4!] 26...¤xe3∓ 27.¦b1
¢f8 [27...g5!?∓] 28.¢g1 ¦c7 29.¢f2 [29.¦e2! ¤c4 30.¤d1³] 29...¤c4 30.¦d3

XIIIIIIIIY
9-+-+-mk-+0
9+ptr-+pzpp0
9p+-zprsn-+0
9+-+-+-+-0
9P+n+P+-+0
9+-sNR+L+-0
9-zPP+-mKPzP0
9+R+-+-+-0
xiiiiiiiiy
Qual o melhor lance para as pretas?

Uma posição tipicamente boa para as pretas. Suas peças estão bem ativas e o bispo
branco tem pouca mobilidade. 30...g5! Um enérgico avanço, ganhando espaço no flanco rei e
restringindo ainda mais a posição branca. O treinador russo Mark Dvoretsky é um grande
admirador deste tipo de jogada. Botvinnik sugere 30...¦e5 31.b3 ¤a3 32.¦b2 ¦ec5 33.¤e2 ¤xc2
34.¦xd6 ¢e7, mas aqui a vantagem preta provavelmente não é suficiente para a vitória. 31.h3 h5
32.¤d5 ¤xd5? Um grave erro, que estraga todo o trabalho das pretas nesta partida. A posição
branca seria dificílima após 32...¦c5!, por exemplo: 33.¤xf6 (33.b4 ¦c8 e as brancas tem muitas
debilidades) 33...¦xf6 34.¢e2 (34.¢g3 h4+ 35.¢f2 ¤b6-+) 34...¤e5 ∆ g4, com uma posição

22
ganha.] 33.¦xd5 ¤e5 34.c3 Agora as brancas conseguiram estabilizar sua posição e igualar o
jogo. h4?! [34...¦f6=] 35.¦bd1 ¢e7 36.¦1d4 f6 37.a5! Karpov conseguiu mudar o rumo da
posição nas últimas jogadas e já possui vantagem. Apesar do ótimo ¤ em e5, o problema da
posição preta é a falta de plano. O que aconteceu com a iniciativa na ala da dama? 37...¦c6
38.¥e2 ¢d8? O erro decisivo. As pretas precisavam agir rapidamente para evitar o avanço dos
peões brancos. [38...¤g6! 39.¦b4 ¦c7 com chances de empate.] 39.c4 ¢c7 40.b4 ¤g6 41.b5+−
Agora não há defesa. 41...axb5 42.cxb5 ¦c2 43.b6+ ¢d7 44.¦d2 ¦xd2 45.¦xd2 ¦e5 46.a6 ¢c6
47.¦b2 ¤f4 48.a7 ¦a5 49.¥c4 1-0

Um dos cenários ideais para as pretas ocorre justamente nesta luta entre o cavalo de e5
contra o bispo branco de e2. Apenas tome o cuidado de aumentar a pressão no flanco dama e não
cair em passividade, como ocorreu no exemplo acima.
Na maioria dos casos, porém, o preto não consegue essa vantagem posicional pura. A
partida requer algumas manobras lentas e gira ao redor das casas e5 e d5.

Lengyel,B − Malisauskas,V
Budapeste, 1992

1.e4 c5 2.¤f3 d6 3.d4 cxd4 4.¤xd4 ¤f6 5.¤c3 a6 6.¥e2 e5 7.¤b3 ¥e7 8.0-0 0-0 9.a4
¥e6 10.f4 exf4! Eu prefiro o tipo de posição resultante desta captura do que a clássica alternativa
10...£c7. 11.¥xf4 ¤c6! O cavalo está melhor desenvolvido aqui do que em d7. 12.¢h1 Uma
precaução útil. 12...¦c8 Um bom lance. As pretas preparam contra−jogo na coluna "c". Entretanto,
se as pretas pretendem igualar a partida, então a temática ruptura 12...d6−d5! é suficiente,
conforme amplamente demonstrado pela teoria. 13.¤d4?! ¤xd4 14.£xd4 (VER DIAGRAMA
SEGUINTE) Como você jogaria com as pretas? 14...¤e8! Uma excelente idéia. O cavalo
gentilmente retrocede para abrir o caminho para o bispo ir a f6, de onde exercerá uma pressão
desagradável na posição branca. Além de simplesmente liberar o caminho, o cavalo defenderá o §
de d6 assim que o bispo se mover. Uma idéia semelhante foi tentada na partida Sznapik,A −
Spassov,V Varsovia 1993: 14...¦c6!? 15.a5 ¤d7 16.¦fd1 £c7 17.¤d5 ¥xd5 18.exd5 ¥f6, com jogo
complicado. 15.¦ad1 £a5 16.£d2?! As brancas não percebem o perigo. Uma alternativa mais
sensata seria forçar a igualdade com 16.e5 dxe5 17.¥xe5 ¥f6 18.¥xf6 ¤xf6=] 16...£c7?! Não
havia necessidade para este lance. [16...¥f6! E as pretas conseguiriam vantagem. 17.¤d5 £xd2
18.¦xd2 (18.¤xf6+ ¤xf6 19.¦xd2 ¤xe4) 18...¥xd5 19.exd5 ¥xb2 Com um peão a mais.]

23
XIIIIIIIIY
9-+rwq-trk+0
9+p+-vlpzpp0
9p+-zplsn-+0
9+-+-+-+-0
9P+-wQPvL-+0
9+-sN-+-+-0
9-zPP+L+PzP0
9tR-+-+R+K0
xiiiiiiiiy
Como você jogaria com as pretas?

17.£e3 ¥f6! 18.£g3 £b6!? As pretas poderiam ganhar um peão imediatamente com
[18...¥xc3 19.bxc3 £xc3 ainda que as brancas teriam alguma compensação após 20.¥d3] 19.¤d5
[19.¦b1 £b4! atacando e4,c3 e a4.] 19...¥xd5 20.¦xd5 £xb2 [20...¦xc2 21.¥d3 ¦c6 também era
possível, com vantagem.] 21.¥d3 ¦c6! As brancas têm certa compensação pelo peão perdido,
mas as pretas defenderam−se sem problemas na partida. 22.c4 g6 23.h4 ¥g7 24.h5 ¤f6 25.h6
¥h8 26.¦f5 £d4 27.£f3 gxf5 28.£g3+ ¤g4 29.exf5 ¥f6 30.£xg4+ ¢h8 31.¦f3 d5 32.¦g3 dxc4
33.¥c2 ¦cc8 34.¢h2 ¦g8 0-1

C) Estrutura após f4-f5

XIIIIIIIIY
9-+-+k+-+0
9+p+-+pzpp0
9p+-zp-+-+0
9+-+-zpP+-0
9-+-+P+-+0
9+-+-+-+-0
9PzPP+-+PzP0
9+-+-mK-+-0
xiiiiiiiiy
Estrutura após f4-f5

24
As pretas podem reagir ao avanço f2-f4 simplesmente ignorando-o. Neste caso, a troca
f4xe5 em geral é desfavorável às brancas, pois dá maior liberdade ao bispo de e7, elimina o peão
atrasado preto em d6 e deixa o branco com um peão isolado em e4. A verdadeira opção disponível
para o primeiro jogador é o lance f4-f5, ganhando espaço no flanco rei e preparando g4-g5. A
partida toma então um caráter concreto, sendo necessário um cálculo preciso para avaliar se o
ataque branco chega antes ou o contra-jogo preto, em muitos casos baseado na ruptura d6-d5 ou
no sacrifício de qualidade ¦xc3, é mais rápido.

Nisipeanu,L._D− Leitão,R
Las Vegas (m/2), 1999

1.e4 c5 2.¤f3 d6 3.d4 cxd4 4.¤xd4 ¤f6 5.¤c3 a6 6.¥e2 e5 7.¤b3 ¥e7 8.0-0 0-0 9.¢h1
¥e6 Atualmente os lances mais jogados são 9...b6 e 9...¤c6. Curiosamente, depois deste match
passei a utilizar com as brancas esta linha com 9.¢h1. Minha vitória contra Maki−Uuro pode ser
encontrada no capítulo 5. Naquela ocasião, meu adversário escolheu a duvidosa jogada 9...b5.
10.f4 £c7 A variante que implementei nesta partida não é a forma mais confiável de jogar com as
pretas. [10...exf4 É possível, levando a uma posição mais tranqüila, onde as brancas têm uma
pequena vantagem.] 11.f5 ¥c4 12.g4!

XIIIIIIIIY
9rsn-+-trk+0
9+pwq-vlpzpp0
9p+-zp-sn-+0
9+-+-zpP+-0
9-+l+P+P+0
9+NsN-+-+-0
9PzPP+L+-zP0
9tR-vLQ+R+K0
xiiiiiiiiy
Qual o melhor lance das pretas?

As brancas seguem com o ataque temático, que leva à vitória de uma maneira bem direta,
se as pretas não o confrontarem imediatamente. 12...d5! A ruptura central é a melhor
chance.[12...h6 levou a um forte ataque das brancas após 13.g5 hxg5 14.¥xg5 ¤bd7 15.¦g1 em

25
Short − Gelfand, Amsterdam 1996.] 13.g5! [13.exd5 também é possível, mas o lance do texto é
mais preciso. Grandes complicações ocorrem após 13...¦d8 (13...¥b4 14.g5? ¥xc3 15.gxf6±)
14.¥xc4 £xc4 15.¥g5 ¤bd7. Sem uma análise mais profunda é difícil dizer se a compensação
preta é suficiente. Em uma partida de xadrez, muitas vezes temos que tomar decisões baseadas
na intuição, pois o cálculo matemático nem sempre é possível. É importante perceber que após
12.g4 é necessário complicar o jogo, mesmo que a posição siga inferior. É preciso ser prático e
não gastar muito tempo calculando as ramificações de lances como 12...d5. Poupe o tempo para
as outras difíceis decisões que certamente ainda virão.] 13...¤xe4 14.¤xd5? Aqui meu adversário
se desvia do caminho correto. Após [14.¤xe4! dxe4 15.f6 a prática demonstrou ser muito difícil
defender a posição preta.] 14...¥xd5 15.£xd5 £xc2! Um contra−ataque bem calculado. [15...¤xg5
16.h4 ¤h3 17.f6! ¥xf6 18.¦xf6 gxf6 19.£g2+ ¢h8 20.£xh3 £xc2 21.¥d2 levaria a uma posição
totalmente confusa.] 16.¥d3 ¤f2+ 17.¦xf2 £xf2 18.£e4 Nisipeanu acreditava em um forte ataque
como compensação pelo material, mas consegui refutá−lo. 18...g6 19.f6 ¥c5 20.¥d2 ¥a7!
21.£xb7 ¤d7 22.¦f1

XIIIIIIIIY
9r+-+-trk+0
9vlQ+n+p+p0
9p+-+-zPp+0
9+-+-zp-zP-0
9-+-+-+-+0
9+N+L+-+-0
9PzP-vL-wq-zP0
9+-+-+R+K0
xiiiiiiiiy
Como você jogaria com as pretas?

22...¤c5! O lance−chave. As pretas agora conseguem manter sua vantagem material.


23.¦xf2 ¤xb7 Minha posição é praticamente ganha neste momento. Infelizmente meu adversário
conseguiu defender e salvar meio ponto, eliminando−me posteriormente do Mundial no tie−break.
Nisipeanu prosseguiu até as semifinais desta competição, tornando−se uma das maiores
surpresas dos campeonatos mundiais de xadrez.

26
D) Estrutura após e4xd5

XIIIIIIIIY
9-+-+k+-+0
9+p+-+pzpp0
9p+-zp-+-+0
9+-+Pzp-+-0
9-+-+-+-+0
9+-+-+-+-0
9PzPP+-zPPzP0
9+-+-mK-+-0
xiiiiiiiiy
Estrutura apos exd5

Outra estrutura de grande importância para o entendimento da Najdorf. Ela ocorre sempre
que as brancas se decidem pela jogada ¤c3-d5, que força as pretas a eliminarem o invasor,
trocando-o por um bispo ou por um cavalo. O plano de ambos os jogadores dependerá de onde os
reis estiverem situados. No caso em que ambos tenham rocado pequeno, o plano é claro,
baseando-se no avanço das respectivas maiorias de peões. Se os reis estiverem em lados
opostos, então ocorrera a tradicional corrida para ver qual ataque chega primeiro. Como sempre,
para ter sucesso é necessário também adotar medidas profiláticas, como veremos no próximo
exemplo.

Milos,G − Limp,E
Santos, 2001

1.e4 c5 2.¤f3 d6 3.d4 cxd4 4.¤xd4 ¤f6 5.¤c3 a6 6.¥e2 e5 7.¤b3 ¥e7 8.¥e3 ¥e6 9.¤d5
Esta é a variante favorita de Milos contra a Najdorf. 9...¤xd5 [9...¤bd7! é considerado o lance
mais preciso pela teoria.] 10.exd5 ¥f5 11.£d2 (VER DIAGRAMA SEGUINTE). Em uma batalha
posicional complexa, é fundamental levar em conta o plano do adversário, o que chamamos de
profilaxia. Esta é uma posição aparentemente normal, onde parece que qualquer lance serve para
as pretas. Mas existe uma sutileza que não foi percebida por Limp. 11...¤d7?!

27
XIIIIIIIIY
9rsn-wqk+-tr0
9+p+-vlpzpp0
9p+-zp-+-+0
9+-+Pzpl+-0
9-+-+-+-+0
9+N+-vL-+-0
9PzPPwQLzPPzP0
9tR-+-mK-+R0
xiiiiiiiiy
Como você jogaria de pretas?

Este é um erro clássico, pois a resposta branca a este desenvolvimento natural é


absolutamente temática. 11...a5!, evitando o salto do cavalo e ganhando espaço no flanco dama,
era necessário. Este lance tornou−se automático nesse tipo de posição, que ocorre
freqüentemente. Em minha partida contra o primeiro tabuleiro da Escócia, na Olimpíada de
Istambul, em 2000, meu adversário efetuou a jogada correta, em posição bem semelhante: 1.e4 c5
2.¤f3 d6 3.d4 ¤f6 4.¤c3 cxd4 5.¤xd4 a6 6.¥e2 e5 7.¤b3 ¥e7 8.¥e3 ¥e6 9.¤d5 ¤xd5 10.exd5
¥f5 11.0-0 ¤d7 12.£d2 a5! e a partida terminou em empate alguns lances mais tarde: 13.c4 a4
14.¤c1 0-0 15.¤d3 ¥f6 16.¦ac1 ¦e8 17.¤b4 h6 ½-½ Leitão,R Rowson,J, Istambul (ol) 2000.
12.¤a5! Com este salto de cavalo as brancas abrem caminho para o avanço da sua maioria no
flanco dama. Alem do mais, o cavalo em sua posição avançada é bastante incômodo para as
pretas, que não podem expulsá−lo com o natural ...b7−b6, em razão da debilidade em c6.
12...£c7 13.c4 e4?! 14.¥d4 [Segundo Milos, era melhor 14.0-0 ¤e5 15.b4 b6 16.¤b3 0-0
(16...¤xc4? 17.£c3) 17.¦ac1 com vantagem] 14...¥f6 [14...¤e5? 15.¥xe5 dxe5 16.b4±] 15.¥xf6
¤xf6 16.0-0 0-0 17.b4 b6? [17...¥d7! reduziria a desvantagem preta: 18.¦ac1 b6 19.¤b3 a5 20.a3
axb4 21.axb4²] 18.¤c6 ¥d7 19.¦fd1 ¦fe8 20.b5! Com grande vantagem para as brancas, devido
ao demolidor cavalo em c6. 20...a5 21.£f4 [21.£e3 ¥f5] 21...¥c8? [21...¥xc6 22.dxc6 ¦e6
23.¦d4±; 21...e3! 22.¥d3 (22.¦d4 exf2+ 23.£xf2²) 22...exf2+ 23.£xf2 ¤g4 24.£h4 h6] 22.¦d4!±
¥b7 23.¦e1 e3! [23...h6 24.¥d1 a4 25.¥c2] 24.fxe3 ¤d7 25.¥d3 ¤e5 26.£f5 g6 27.£f6 ¤d7
28.£g5 f6 [28...¦e5!±] 29.£h4 ¢g7 30.¦f4 ¦f8 31.¤d4 ¤c5 32.¦f3 ¦ae8? [32...£e7? 33.¥xg6!
hxg6 34.¤f5+; 32...¢g8 33.¥c2 £e7 34.¦ef1+−] 33.¦h3 1-0

28
E) Estrutura Scheveningen

XIIIIIIIIY
9-+-+k+-+0
9+p+-+pzpp0
9p+-zpp+-+0
9+-+-+-+-0
9-+-+P+-+0
9+-+-+-+-0
9PzPP+-zPPzP0
9+-+-mK-+-0
xiiiiiiiiy
Estrutura Scheveningen

Esta estrutura foge um pouco do padrão rigorosamente "Najdorfiano", a não ser quando o
branco praticamente força o lance e6 (com 6.Bg5 ou 6.Bc4). O primeiro jogador geralmente
escolhe entre o Ataque Inglês ou um ataque à baioneta (f4-g4-g5 etc). Neste último caso, o branco
pode optar entre rocar pequeno ou grande. No caso da variante 6.Bg5, muitas outras opções de
ataque aparecem. Na verdade, falar de planos gerais nesta linha é algo muito difícil, pois as
variantes são bem diretas e com sacrifícios, com a tática predominando em sua forma mais pura. O
plano geral das pretas novamente envolve expansão no flanco dama com b5, ruptura central com
d5 (e também e5) e possíveis sacrifícios de qualidade em c3.

F) Estrutura após ¥xf6 gxf6

XIIIIIIIIY
9-+-+k+-+0
9+p+-+p+p0
9p+-zppzp-+0
9+-+-+-+-0
9-+-+P+-+0
9+-+-+-+-0
9PzPP+-zPPzP0
9+-+-mK-+-0

29
xiiiiiiiiy
Estrutura após ¥xf6 gxf6

Em muitos casos, não só na Najdorf, mas também em outras Sicilianas (como a 4


Cavalos), as brancas tem a opção de forçar a debilitação da estrutura preta em troca do par de
bispos, com a jogada ... ¥xf6. As posições resultantes são difíceis de jogar e avaliar. É preciso
conduzir a partida de forma dinâmica, especialmente com as pretas, já que a as brancas têm um
plano mais fácil, com o avanço f4−f5 e a pressão no ponto e6, tentando provocar as pretas a
avançarem com e6−e5, o que acarretaria uma grave debilidade em d5. As pretas precisam ativar
seu bispo de casas pretas e isso ocorre freqüentemente através das jogadas f6−f5 ou d6−d5, que
por serem estruturalmente comprometedoras, demandam um cálculo preciso. Esee tipo de
posição, por uma questão de estilo de jogo, sempre me agradou para jogar com as brancas, mas a
posição preta tem muitos recursos, como muitas vezes demonstrado por jogadores da classe de
Botvinnik e Kasparov. No seguinte exemplo as brancas conseguiram demonstrar a força do seu
plano de pressão nas debilidades estruturais das pretas:

Topalov,V − Anand,V
Dortmund, 1997

1.e4 c5 2.¤f3 d6 3.d4 cxd4 4.¤xd4 ¤f6 5.¤c3 a6 6.¥g5 e6 7.f4 £c7 Minha variante
predileta contra 6.¥g5. Nunca fui grande fã da antiga linha principal com 6...Be7, muito menos da
variante com peão envenenado, 6...£b6. Após 7...£c7, se o branco pretende continuar o ataque
clássico com 8.f4, deve conhecer a teoria com muita precisão, o que normalmente não acontece.
8.¥xf6 Esta é a alternativa posicional e é o lance que mais me desagrada neste sistema. 8... gxf6
9.£d2 ¤c6 10.0-0-0 ¥d7 11.¢b1 h5 Um lance útil, não só para ganhar espaço no flanco rei, mas
também controlando a casa h5, que muitas vezes é explorada pelo branco com uma manobra
como ¥e2−h5, por exemplo. 12.¥c4 Topalov posiciona seu bispo da forma mais ativa possível,
visando o ponto e6. A alternativa era 12.¥e2. 0-0-0 13.¤xc6! [Um lance preciso. Após o imediato
13.¥b3 as pretas poderiam eliminar o perigoso bispo com 13...¤a5!] 13...£xc6 14.¥b3 ¢b8
15.¦hf1 £c5 16.£d3 h4? [Um erro sério. Não havia necessidade para este avanço. As pretas
curiosamente poderiam se utilizar da casa g4, para lutar contra o plano branco, conforme sugestão
de Peter Leko: 16...¥e7 17.f5 ¦dg8 18.£h3 ¦g4!, cortando o ataque da dama sobre e6 e
pressionando em e4, com contra−jogo satisfatório.] 17.£h3 ¥e7 18.f5 £e5 19.¦de1! Um lance
fino, preparando a manobra que segue. 19...¦de8

30
XIIIIIIIIY
9-mk-+r+-tr0
9+p+lvlp+-0
9p+-zppzp-+0
9+-+-wqP+-0
9-+-+P+-zp0
9+LsN-+-+Q0
9PzPP+-+PzP0
9+K+-tRR+-0
xiiiiiiiiy
Como jogar com as brancas?

O branco precisa reforçar o ataque ao ponto e6, paralisando as pecas adversárias.


20.¤e2! O cavalo ruma a f4, exercendo considerável pressão. 20...¥f8 21.¤f4 ¦h6 22.a3 ¥b5
[Talvez fosse melhor continuar com uma defesa passiva, mas a posição seria muita desagradável.]
23.¤d3 ¥xd3 24.cxd3 ¦h8 25.fxe6 fxe6 26.d4! £xd4 27.¥xe6 e com o total domínio das casas
brancas, Topalov conseguiu uma vantagem posicional decisiva, que mais tarde foi convertida em
uma bela vitória.
É importante que as pretas saibam aproveitar o momento certo para ativar suas pecas, que
foi justamente o que o Anand não conseguiu na partida acima. A seguir um fragmento onde o leitor
poderá testar se encontra o caminho correto para a atividade:

Savon,V − Yudasin,L
Podolsk, 1991

(VER DIAGRAMA SEGUINTE)

Com a manobra típica ¦f3−h3, o branco começou o ataque ao peão de ´h´ das pretas. É
preciso responder ativamente. 18...d5! O temático avanço equilibra a partida. 19.exd5 [19.¦xh4?
dxe4 20.¤xe4 ¥c6 e a atividade das pecas pretas atingiria o máximo.] 19...£xf4. A partida segue
complicada, mas as pretas conseguiram ativar suas pecas e mudar o caráter da posição. Após
uma árdua batalha, a partida terminou em empate.

31
XIIIIIIIIY
9-mk-tr-+-tr0
9+pwqlvlp+-0
9p+-zppzp-+0
9+-+-+-+-0
9-+-+PzP-zp0
9+PsN-+-+R0
9-zPP+L+PzP0
9+K+RwQ-+-0
xiiiiiiiiy
Qual o melhor lance para as pretas?

A Ruptura d6-d5

Uma das jogadas mais importantes para o preto, nas diversas estruturas da Najdorf, é a
ruptura central d6-d5. Com ela é possível lutar pelo centro e mobilizar as peças. Em regra, quando
o preto consegue este avanço impunemente, sua posição não apresenta qualquer problema.
Portanto, mantenha sempre os olhos abertos para esta possibilidade.
A famosa regra "contra um ataque no flanco, contra-ataque no centro" é conhecida por
quase todos os enxadristas. É fácil perceber, portanto, como devemos reagir contra muitas das
investidas brancas nessa defesa. Minha partida com Nisipeanu foi um exemplo. Vejamos outro,
desta vez em uma estrutura Scheveningen e com o autor desta apostila defendendo as peças
brancas.

Leitão,R − Valerga,D
Villa Martelli, 2005

(VER DIAGRAMA SEGUINTE)

X13...¥c8, liberando a casa d7 para o cavalo, é o lance comum. De fato, era isso que eu
esperava. O mestre internacional argentino, entretanto, percebeu as sutilezas da posição e utilizou

32
a ruptura central para dar vida às suas peças. . 13...d5! 14.e5 [14.exd5 seria arriscado. 14...¤b4!
(14...¤xd5 15.¤xd5 exd5 também é possível, com jogo equilibrado.) 15.dxe6 ¥xe6 16.¤d4 ¦ad8 E

as pretas têm uma perigosa iniciativa. Ao custo de um peão, suas peças tornaram−se muito ativas.
Em uma posição aberta, as debilidade criadas com o avanço g2−g4 ficam expostas. Por essas
razões, preferi manter o centro fechado.]

XIIIIIIIIY
9r+-+-trk+0
9+-wqlvlpzpp0
9pzpnzppsn-+0
9+-+-+-+-0
9P+-+PzPP+0
9+NsN-vL-+-0
9-zPP+L+-zP0
9tR-+Q+R+K0
xiiiiiiiiy
Como você jogaria com as pretas?

14...¤e4 15.¤xe4 dxe4 E as pretas conseguiram ativar suas peças, com ótimo contra−
jogo. A continuação foi: 16.c3 ¦fd8 17.£e1 ¤a5 18.¤d2 ¥c8 19.¤xe4 ¥b7 20.¥f3 ¤c4 21.£e2
¤xe3 22.£xe3 ¦d7© 23.¦ad1 ¦ad8 24.¦xd7 ½-½
Às vezes um pequeno detalhe tático garante a correção do nosso avanço predileto, como
nos dois exemplos seguintes:

Lopez,H − Leitão,R
Santiago, 2005

1.e4 c5 2.¤f3 d6 3.d4 cxd4 4.¤xd4 ¤f6 5.¤c3 a6 6.¥e3 e5 7.¤b3 ¥e6 8.f3 ¤bd7 9.g4
¤b6 10.g5 ¤h5 11.£d2 ¥e7 12.0-0-0 ¦c8 13.¦g1 0-0 14.¤a5?! £c7 15.¢b1? (VER DIAGRAMA
SEGUINTE) Com suas duas ultimas jogadas meu adversário, um MI chileno, criou uma certa
desarmonia entre suas pecas, que é possível aproveitar através da tática. 15...d5! 16.exd5
[16.¥xb6 £xb6 17.exd5 ¥d7 e as pretas ganham material devido ao ataque duplo no cavalo de a5
e na torre de g1. 18.d6 ¥d8-+] 16...¤xd5 17.¤xd5 ¥xd5 Agora fica claro que as brancas não

33
podem capturar o bispo devido a 18...¦fd8. As pretas conseguiram ativar todas as suas pecas, com
grande vantagem. Depois de algumas aventuras, consegui converter minha vantagem.

XIIIIIIIIY
9-+r+-trk+0
9+pwq-vlpzpp0
9psn-zpl+-+0
9sN-+-zp-zPn0
9-+-+P+-+0
9+-sN-vLP+-0
9PzPPwQ-+-zP0
9+K+R+LtR-0
xiiiiiiiiy
Qual o melhor lance das pretas?

Geller,E − Ivkov,B
Palma de Mallorca, 1970

1.e4 c5 2.¤f3 d6 3.d4 cxd4 4.¤xd4 ¤f6 5.¤c3 a6 6.¥e2 e5 7.¤b3 ¥e6 8.0-0 ¤bd7 9.a4
¥e7 10.a5 0-0 11.¥e3 ¦c8! 12.f3 £c7 13.£d2 ¦fd8 14.¦fd1

XIIIIIIIIY
9-+rtr-+k+0
9+pwqnvlpzpp0
9p+-zplsn-+0
9zP-+-zp-+-0
9-+-+P+-+0
9+NsN-vLP+-0
9-zPPwQL+PzP0
9tR-+R+-mK-0
xiiiiiiiiy
Jogam as pretas

34
Desta vez as pretas aproveitam um recurso tático para igualar a partida:14...d5!= 15.exd5
¤xd5 16.¤xd5 ¥xd5 17.£xd5 ¤f6 e as brancas não tem nada melhor que devolver o material,
levando a um final igualado. 18.£c4 ¦xd1+! 19.¦xd1 £xc4 20.¥xc4 ¦xc4 21.c3 ¢f8 22.¢f2 ¢e8
23.¢e2 ¦c7 24.¦d3 ¦d7 25.¥c5 ¦c7 26.¥a7 ¦c6 27.¢d2 ½-½

Sacrifício de qualidade em c3
Este tema é extremamente importante, pois é comum a diversos tipos de Siciliana. O
sacrifício de qualidade pode ser utilizado tanto para um ataque imediato, caso o rei branco esteja
no flanco dama, ou para um contra-jogo central.

Rohl,J− Leitão,R
San Felipe, 1998

1.e4 c5 2.¤f3 d6 3.d4 cxd4 4.¤xd4 ¤f6 5.¤c3 a6 6.¥e2 e5 7.¤b3 ¥e7 8.0-0 0-0 9.¢h1
¤bd7 10.a4 b6 11.¥e3 ¥b7 12.f3 ¦c8 13.¦f2! Uma excelente manobra, já utilizada em outros
exemplos nesta posição. O plano branco é reforçar o controle sobre a casa d5, com ¥f1-¦d2. Se
as pretas estiverem impedidas de jogar d6−d5 e b6−b5, qual será seu plano? Em um mundo
perfeito, as brancas continuam então com ¤c1-a2,b4−d5, com um domínio total. As pretas deverão
procurar alguma forma de lutar contra este plano. 13...¦c7!? Meu primeiro mini−plano (mais sobre
o assunto na apostila de jogo posicional) é levar a £ até a8 e dobrar as torres em "c". Assim
estarei de olho na casa d5, além de preparar um sacrifício de qualidade em c3. 14.¥f1 £a8 15.¦d2
h6! Este é um lance bastante típico na estrutura com e7−e5. Assim a possibilidade de ¥g5,
eliminando um dos defensores de d5, é impedida para sempre. Além do mais, sempre é bom dar
um ar para o rei. 16.¤c1 As brancas seguem seu plano. Agora o preto deve entrar em "modo de
alerta".

XIIIIIIIIY
9q+-+-trk+0
9+ltrnvlpzp-0
9pzp-zp-sn-zp0
9+-+-zp-+-0
9P+-+P+-+0
9+-sN-vLP+-0
9-zPPtR-+PzP0
9tR-sNQ+L+K0
xiiiiiiiiy
Como você jogaria com as pretas?

35
16...¦xc3! Resolvi tomar uma medida drástica para evitar uma posição estrategicamente
difícil. Lembre−se: na Najdorf sempre lute pela atividade de suas peças, recuse−se a ser
posicionalmente dominado! 17.bxc3 d5! As pretas utilizam as duas manobras temáticas: o
sacrifício em c3 e a ruptura em d5. Agora o caráter da posição muda completamente. De uma lenta
posição de manobras a partida torna−se extremamente tática. 18.c4 Aproveitando o raio x no
cavalo de d7. 18...dxe4!? Definitivamente explodindo a posição. [18...d4 Seria a opção mais sólida,
mas não é fácil provar a compensação preta após 19.¥f2 ¥b4 20.¦e2] 19.¦xd7 ¤xd7 20.£xd7
exf3 A posição é bem complexa, mas objetivamente as pretas estão bem. Consegui vencer meu
adversário na luta seguinte. 21.¢g1! [21.gxf3? ¥xf3+ 22.¢g1 £e4 com ataque decisivo.] 21...fxg2
22.¥e2 ¥f6 23.£g4 [23.¦b1!] 23...¥e7 24.£d7 ¥f6 25.£g4 ¥e7 26.£d7 ¥h4 Recusando a tácita
oferta de empate. 27.£g4? [27.¤d3! Com jogo complicado.] 27...£d8! Agora a posição branca é
muito difícil. 28.¥xh6? O erro decisivo.

XIIIIIIIIY
9-+-wq-trk+0
9+l+-+pzp-0
9pzp-+-+-vL0
9+-+-zp-+-0
9P+P+-+Qvl0
9+-+-+-+-0
9-+P+L+pzP0
9tR-sN-+-mK-0
xiiiiiiiiy
Jogam as pretas e ganham

28...g5!! Cortando a comunicação do bispo com a defesa do rei, as pretas conseguem um


ataque de mate. 29.¥f3 [29.¥xf8 £d2-+ (29...f5-+) ; 29.¤b3 £f6-+] 29...f5 30.¥xg5 [30.£xg2
£d4+-+] 30...fxg4 31.¥xd8 ¦xf3 0-1

Agora veremos um dos exemplos mais profundos que conheço neste tema.

Movsesian,S − Kasparov,G
Sarajevo, 2000

1.e4 c5 2.¤f3 d6 3.d4 cxd4 4.¤xd4 ¤f6 5.¤c3 a6 6.¥e3 e6 7.f3 b5 8.£d2 ¤bd7 9.0-0-0
¥b7 10.g4 ¤b6 11.£f2 ¤fd7 12.¢b1 ¦c8 13.¥d3

36
XIIIIIIIIY
9-+rwqkvl-tr0
9+l+n+pzpp0
9psn-zpp+-+0
9+p+-+-+-0
9-+-sNP+P+0
9+-sNLvLP+-0
9PzPP+-wQ-zP0
9+K+R+-+R0
xiiiiiiiiy
Qual o melhor lance para as pretas?

13...¦xc3!! Um sacrifício posicional de qualidade absolutamente brilhante, que mostra o


entendimento superior do Kasparov. As pretas não têm qualquer ataque direto, simplesmente
debilitam a estrutura branca e lentamente preparam seu contra−jogo. Comentários do Kasparov:
"Após a partida, Movsesian disse que havia jogado essa variante contra o Van Wely no ICC várias
vezes. Francamente, permitir o sacrifício ¦xc3 nessa linha contradiz o meu conhecimento geral do
xadrez. Não posso dizer − após ¦xc3 as brancas jogam isso, as pretas jogam aquilo, mostrando
quilos de variantes com "as pretas estão melhores" no fim. As pretas simplesmente têm vantagem,
o rei branco ficará em perigo. Mas sem provas. 14.bxc3 £c7 15.¤e2 ¥e7 16.g5 0-0 As pretas
terminaram o desenvolvimento e estão prontas para começar a ofensiva contra o rei branco. 17.h4
¤a4 18.¥c1 ¤e5 19.h5 [19.f4 ¤xd3 20.cxd3 d5 21.e5 d4 destrói a posição branca]

XIIIIIIIIY
9-+-+-trk+0
9+lwq-vlpzpp0
9p+-zpp+-+0
9+p+-sn-zPP0
9n+-+P+-+0
9+-zPL+P+-0
9P+P+NwQ-+0
9+KvLR+-+R0
xiiiiiiiiy
Como você jogaria com as pretas?

37
19...d5! Mais uma vez este avanço aparece para liberar as pecas pretas. Kasparov
também está de olho na jogada b5−b4, que tem um potencial devastador. 20.£h2 ¥d6 21.£h3?!
[Melhor seria 21.¥f4 b4! 22.cxb4 ¦c8 23.¦c1 d4 com forte ataque, segundo as análises do
Kasparov.] 21...¤xd3 22.cxd3 b4! 23.cxb4 ¦c8 O ataque preto é decisivo. 24.¢a1 dxe4 [Mais
preciso seria 24...¥xb4 25.£h2 £c2!-+] 25.fxe4 ¥xe4 26.g6 [Única jogada. Perderia
imediatamente: 26.dxe4 ¥e5+ 27.¤d4 ¥xd4+ 28.¦xd4 £xc1+ 29.¦xc1 ¦xc1#; ou 26.¦hf1 £c2-+]
26...¥xh1 27.£xh1 ¥xb4 28.gxf7+ ¢f8 29.£g2 ¦b8 30.¥b2 ¤xb2 31.¤d4 ¤xd1 32.¤xe6+ ¢xf7
0-1

Uma partida absolutamente brilhante. O que o leitor provavelmente ainda não sabe é que
todos os seus principais temas, incluindo o sacrifício em c3, o avanço em d5 e a ruptura em b4, já
tinham sido demonstrados em uma partida "gêmea", provavelmente muito bem conhecida pelo
Kasparov...

Campora,D − Yudasin,L
Moscou, 1989

1.e4 c5 2.¤f3 d6 3.d4 cxd4 4.¤xd4 ¤f6 5.¤c3 a6 6.¥e3 e6 7.£d2 b5 8.f3 ¥b7 9.0-0-0
¤bd7 10.g4 ¤b6 11.£f2 ¤fd7 12.¥d3 ¦c8 13.h4

XIIIIIIIIY
9-+rwqkvl-tr0
9+l+n+pzpp0
9psn-zpp+-+0
9+p+-+-+-0
9-+-sNP+PzP0
9+-sNLvLP+-0
9PzPP+-wQ-+0
9+-mKR+-+R0
xiiiiiiiiy
Jogam as pretas

13...¦xc3! 14.bxc3 £c7 15.¤e2 d5 A opção era continuar calmamente o desenvolvimento


antes de começar as ações no flanco dama, com 15...¥e7 16.e5 Campora decide, corretamente,
manter a posição fechada. Após 16.exd5, as pretas teriam forte compensação tanto com 16... ¥xd5

38
quanto com 16...¤xd5 16...¤a4 [16...¤c4!?©] 17.f4 b4! 18.cxb4 18...¥xb4 com excelente
compensação pela qualidade.
Sempre inclua o sacrifício em c3 na lista de seus lances candidatos. Em muitos casos este
é o caminho correto para conseguir contra-jogo. Ao meu ver, a ruptura d6-d5 e o sacrifício de
qualidade em c3 são os dois temas mais importantes para o condutor das pretas na Najdorf.

Exercícios
Hora de praticar seus conhecimentos! Os exercícios seguintes envolvem temas estudados
neste capítulo. Tente se esforçar ao máximo no trabalho de avaliação e análise antes de checar as
respostas.
1
XIIIIIIIIY
9r+-+-trk+0
9+p+-vlpzpp0
9p+-zp-sn-+0
9zP-+-zpP+-0
9-+q+P+-+0
9+-sN-+-+-0
9-zPP+-+PzP0
9tR-vLQ+R+K0
xiiiiiiiiy
Qual o melhor lance para as brancas?
2
XIIIIIIIIY
9r+r+-+k+0
9+pwqnvlpzpp0
9p+-zp-sn-+0
9zP-+-zpP+-0
9-+-+P+-+0
9+NsN-vL-+-0
9-zPP+Q+PzP0
9tR-+-+R+K0
xiiiiiiiiy
Jogam as pretas

39
3
XIIIIIIIIY
9r+-tr-+k+0
9+pwqnvlpzpp0
9p+-zp-sn-+0
9zP-+-zpPvL-0
9-+l+P+-+0
9+NsN-+-+-0
9-zPP+LtRPzP0
9tR-+Q+-mK-0
xiiiiiiiiy
Jogam as pretas

4
XIIIIIIIIY
9-+-tr-+k+0
9+lwq-+pzpp0
9pzprzp-vl-+0
9+-+-zp-+-0
9Psn-+P+L+0
9+-sNN+-+-0
9-zPP+QzPPzP0
9+-+R+R+K0
xiiiiiiiiy
Jogam as pretas

40
5

XIIIIIIIIY
9q+r+-+k+0
9+ltrnvlpzpp0
9pzp-zp-sn-+0
9+-+-zp-+-0
9P+-+P+-+0
9+NsN-+-zP-0
9-zPP+RzPLzP0
9tR-+QvL-mK-0
xiiiiiiiiy
Jogam as pretas

Soluções:

1) Spassky,B − Byrne,R San Juan (m/2), 1974: 16.¥g5! O controle sobre a casa d5 é
essencial nessa estrutura. As brancas se aproveitam da cravada para defender indiretamente o
peão de e4 e preparar a invasão em d5. 16...¦fd8 e agora as brancas poderiam ter conseguido
grande vantagem com 17.¥xf6! ¥xf6 18.¦a4 £c6 19.¦b4 ¦ac8 20.¦b6 £c5 21.¦xb7 £xa5
(21...¦b8 22.¦xb8 ¦xb8 23.£d3 £xa5 (23...¦xb2? 24.¤a4) 24.b3±) 22.¤d5. Na partida, Spassky
escolheu 17.¦e1, que não é tão forte, mas acabou vencendo.

2) Sigurjonsson,G − Portisch,L Buenos Aires (ol), 1978: 1.e4 c5 2.¤f3 d6 3.d4 cxd4
4.¤xd4 ¤f6 5.¤c3 a6 6.¥e2 e5 7.¤b3 ¥e7 8.0-0 ¥e6 9.f4 £c7 10.a4 ¤bd7 11.¥e3 0-0 12.f5 ¥c4
13.a5 ¦fc8 14.¢h1 ¥xe2 15.£xe2 − 15...d5! 16.exd5 [16.¤xd5 ¤xd5 17.exd5 £xc2] 16...¥b4
17.¥d2 [17.¤a2 ¤xd5 (17...¥d6 forca o empate: 18.¤c3 ¥b4=) 18.¤xb4 ¤xb4 19.c3 (19.£d2
£c4!? (19...¤c6) 20.£xd7 ¤xc2„) 19...¤d5=] 17...¥xc3 18.¥xc3 ¤xd5 e as pretas tem pequena
vantagem. A partida continuou: 19.¦f3 ¦e8! 20.¦a4 ¤7f6 21.¤d2 £d7 22.¦h4 ¤xc3 23.bxc3 e4
24.¦f1 £c6 25.h3 e3 26.¤c4 ¦e7 27.¦f3 ¦ae8 28.¦d4 ¤d5 29.f6 ¦e4 30.¦g3 g6 31.¦g4 ¦xg4
32.hxg4 ¤xc3 0-1

3) Van der Sterren,P − Mecking,H Wijk aan Zee, 1978: 1.e4 c5 2.¤f3 d6 3.d4 cxd4
4.¤xd4 ¤f6 5.¤c3 a6 6.¥e2 e5 7.¤b3 ¥e7 8.0-0 ¥e6 9.f4 £c7 10.a4 0-0 11.f5 ¥c4 12.¥g5 ¤bd7
13.a5 ¦fd8 14.¦f2? − 14...d5! 15.exd5 ¥xb3 16.cxb3 ¥c5 e o GM brasileiro ganhou a qualidade,

41
vencendo a partida mais tarde: 17.£e1 h6 18.¥h4 ¦e8! 19.¢h1 ¥xf2 20.¥xf2 e4 21.¥e3 £e5
22.£f2 ¤xd5 23.¤xd5 £xd5 24.¦d1 £c6 25.¦c1 £f6 26.¦c7 ¤e5 27.¦xb7 ¤d3 28.£f1 ¦ab8
29.¦xb8 ¦xb8 30.¥xd3 exd3 31.£xd3 ¦d8! 32.£c2 ¦d5!-+ 33.h3 ¦xf5 34.b4 ¦f1+ 35.¥g1 g6!
36.£e2 ¦b1 37.b5 £d4 0-1

4) Balashov,Y − Sunye,J Rio de Janeiro (izt), 1979: 1.e4 c5 2.¤f3 d6 3.d4 cxd4 4.¤xd4
¤f6 5.¤c3 a6 6.¥e2 e5 7.¤b3 ¥e7 8.0-0 0-0 9.a4 ¤c6 10.¢h1 b6 11.¥g5?! ¤b4 12.£d2 ¥b7
13.¦ad1 ¦c8 14.¥xf6?! ¥xf6 15.¥g4 ¦c6 16.£e2 £c7 17.¤c1 ¦d8 18.¤d3 − 18...¦xc3! Sunye, no
auge de sua forma, era um grande especialista na Najdorf. O sacrifício de qualidade em c3 era um
dos seus temas prediletos. 19.bxc3? [Muito ganancioso. Era necessário sacrificar um peão para
buscar o empate: 19.¤xb4 ¦c4 20.¤d5 ¥xd5 21.¦xd5³. As pretas tem a opção de capturar em c2
ou em a4, mas as brancas têm chances de empate em ambos os casos.] 19...¤a2! Provavelmente
o GM russo não viu este lance. 20.¦a1 ¤xc3 21.£e3 ¥xe4 e as pretas conseguiram vantagem
decisiva. 22.f4 ¥b7 23.fxe5 dxe5 24.¦ae1 £c6 25.£g3 ¤e4 26.¦xe4 £xe4 27.¦xf6 £xg2+!
28.£xg2 ¥xg2+ 29.¢xg2 gxf6 30.¥e2 ¦d4 31.¤b2 ¦d2 32.¢f2 ¦xc2 33.¤c4 b5 34.axb5 axb5
35.¤a3 ¦a2 36.¤xb5 ¢g7 37.¤d6 ¢g6 38.¤c4 e4 39.¢e3 f5 40.¥f1 ¦xh2 41.¤d6 ¦a2 0-1

5) Campora,D − Sunye,J São Paulo, 1989: 1.e4 c5 2.¤f3 d6 3.d4 cxd4 4.¤xd4 ¤f6 5.¤c3
a6 6.¥e2 e5 7.¤b3 ¥e7 8.0-0 0-0 9.¦e1 ¤bd7 10.a4 b6 11.¥f1 ¥b7 12.g3 ¦c8 13.¥g2 ¦c7 14.¦e2
£a8 15.¥d2 ¦fc8 16.¥e1 − 16...¦xc3! 17.¥xc3 ¤xe4 18.¥xe4 ¥xe4 19.¤d2 ¥f5! 20.f3 ¤f6 e as
pretas obtiveram grande vantagem.

42
III- TEMAS TÁTICOS

A tática costuma complementar a estratégia. Por esse motivo, decidi colocar um capitulo
sobre Temas Táticos logo em seguido ao estudo dos principais recursos posicionais. Algumas
variantes da Najdorf levam a um jogo extremamente agudo e concreto, repleto de sacrifícios para o
branco. Muitos destes sacrifícios são absolutamente temáticos, fazendo com que um jogador
experiente encontre-os rapidamente. Para o defensor, é extremamente importante perceber o
perigo a tempo, para armar um contra-ataque efetivo. O objetivo deste capítulo é guiar o leitor por
estes caminhos táticos mais freqüentes, para que você também seja capaz de encontrar a solução
correta no calor da partida, seja atacando ou defendendo. Para tanto, escolhi diversos exemplos
mostrando a importância do conhecimento dos temas táticos, estimulando o leitor a analisar
independentemente cada exemplo. Após o estudo detalhado deste e do capítulo anterior, o leitor
terá aprendido os principais motivos estratégicos e táticos da Najdorf.
As posições que veremos aqui se referem exclusivamente a sacrifícios possíveis para o
branco. Nas posições da Najdorf, na grande maioria dos casos é o primeiro jogador que tem a
opção de iniciar uma complicação tática. Aliás, em muitos casos ele está obrigado a tal decisão,
para não perder a iniciativa. O condutor das pretas deve estar atento às possibilidades
combinatórias e preparar uma defesa com antecedência. Caro leitor, se você é um ferrenho
defensor da posição preta, não desanime se encontrar muitas vitórias das brancas neste capítulo.
Meu objetivo é ensiná-lo a reconhecer o perigo. No capítulo seguinte, veremos que, com uma
defesa adequada, o preto pode defender-se mesmo das investidas mais assustadoras.

Sacrifício em d5

Um dos motivos mais freqüentes não apenas na Najdorf, mas em diversas sicilianas. O
sacrifício ¤c3-d5, para abrir linhas e atacar o rei preto inseguro, é um clássico e você deve sempre
considerá-lo quando o branco estiver bem desenvolvido. Muitas vezes a jogada ¤d5 representa
um sacrifício puro, sem recompensa imediata a não ser um forte ataque. Portanto, o branco
precisará empenhar seus esforços para conduzir sua iniciativa com energia.
Começaremos nosso estudo com um exemplo clássico, que além de ser perfeito para o
tema explicado, mostra a importância da preparação teórica caseira.

Chiburdanidze,M− Dvoirys,S
Tallinn, 1980

1.e4 c5 2.¤f3 d6 3.d4 cxd4 4.¤xd4 ¤f6 5.¤c3 a6 6.¥g5 e6 7.f4 ¤bd7 8.£f3 £c7 9.0-0-0

43
b5 10.¥d3 ¥b7 11.¦he1 £b6!? Uma jogada introduzida pelo grande Polugaevsky em uma partida
contra Geller, em 1973. Como costuma acontecer com as novidades do GM russo, até hoje ela
continua sendo jogada por enxadristas da elite. Para o presente encontro, a campeã mundial havia
preparado, juntamente com seus treinadores, uma novidade diabólica, que por muito tempo foi
considerada a refutação desse sistema.

XIIIIIIIIY
9r+-+kvl-tr0
9+l+n+pzpp0
9pwq-zppsn-+0
9+p+-+-vL-0
9-+-sNPzP-+0
9+-sNL+Q+-0
9PzPP+-+PzP0
9+-mKRtR-+-0
xiiiiiiiiy
Qual a melhor jogada para as brancas?

12.¤d5! As brancas não só ignoram o cavalo atacado em d4, mas oferecem uma segunda
opção de captura ao preto! Como lidar com estas surpresas na abertura? Essa é uma pergunta
difícil de responder, mas no próximo capitulo tratarei das qualidades necessárias para sobreviver
nessas ocasiões. Mas sejamos francos: no caso de uma novidade deste calibre, é quase
impossível defender−se, devido à pressão do torneio e o tempo limitado. 12...exd5? Dvoirys
comete um erro decisivo já em sua primeira decisão. Mais tarde descobriu−se o caminho correto
para as pretas:12...£xd4! 13.¥xf6 gxf6 14.¥xb5 £c5, com jogo muito complicado, mas conforme
demonstrado por Gelfand, a posição preta é jogável. 13.¤c6!! Considero esta jogada a verdadeira
jóia da partida. Certamente Dvoirys esperava o óbvio 13.exd5+, com posição complicada, mas
Chiburdanidze havia preparado uma jogada brilhante. Muitos jogariam automaticamente a
recaptura, deixando escapar a jogada do texto, por isso que insisto tanto em fazer uma lista dos
lances candidatos antes de aprofundar−se nas análises. 13...¥xc6 [13...dxe4 14.¥xe4 levaria a
uma abertura mortal da coluna "e"; 13...d4 seria uma tentativa de conservar a posição fechada,
mas o ataque branco seria decisivo apos 14.e5 dxe5 15.fxe5] 14.exd5+ ¥e7 15.dxc6 ¤c5 16.¥xf6
gxf6 17.¥f5± No momento, as brancas têm apenas um peão pela peça sacrificada. Por essa razão
digo que a jogada ¤c3−d5 geralmente envolve um sacrifício puro. Mas não é difícil visualizar a
enorme compensação branca. O rei preto esta em frangalhos. £c7 18.b4 [18.¦e3± seria uma
opção igualmente boa.] 18...¤e6 19.£h5! ¤g7 20.¥d7+ ¢f8 21.£h6 d5 22.¦xe7 ¢xe7 23.¦e1+

44
¢f8 24.£xf6 ¢g8 25.¦e7 ¦f8 26.¥e6 £xe7 27.£xe7 fxe6 [27...¤xe6 28.f5+−] 28.c7 h5 29.£xf8+
¢xf8 30.c8£+ ¢f7 31.£xh8 1-0 Este exemplo tem grande importância histórica, não apenas pela
brilhante novidade no lance 12, mas por ter sido uma das derrotas mais contundentes já impostas
a um grande−mestre na Najdorf.

O lance...¤d5 sempre foi temático, mas a grande repercussão da partida acima foi de certa
forma "maléfica" para os jogadores das pretas, pois mostrou a todos a força deste sacrifício,
fazendo com que cada vez mais jogadores o considerassem em suas análises. As posições e as
variantes às vezes mudam, mas o salto de cavalo continua aterrador. No próximo exemplo o
sacrifício não parecia tão ameaçador, mas mesmo assim um grande−mestre de elite não
conseguiu defender−se corretamente.

Timman,J − Van Wely,L


Wijk aan Zee, 2000

1.e4 c5 2.¤f3 d6 3.d4 cxd4 4.¤xd4 ¤f6 5.¤c3 a6 6.¥e3 e6 7.f3 b5 8.£d2 ¤bd7 9.g4 h6
10.0-0-0 ¥b7 11.¥d3 ¤e5 12.¦he1 ¦c8 13.¢b1 ¤fd7 14.f4 ¤c4 15.£e2 ¤xe3 16.£xe3 £b6

XIIIIIIIIY
9-+r+kvl-tr0
9+l+n+pzp-0
9pwq-zpp+-zp0
9+p+-+-+-0
9-+-sNPzPP+0
9+-sNLwQ-+-0
9PzPP+-+-zP0
9+K+RtR-+-0
xiiiiiiiiy
Jogam as brancas

Em geral a troca do cavalo de c4 pelo bispo de e3 favorece as pretas. Portanto, o branco


precisa ser rápido para explorar sua vantagem de desenvolvimento. 17.¤d5! exd5? Van Wely
decide aceitar o duelo oferecido por seu compatriota, mas esse ato de bravura é um erro grave. As
pretas não estavam obrigadas a capturar o cavalo e poderiam escolher entre duas movidas de
dama que parece ser satisfatórias: 17...£a7 ou 17...£c5. O cavalo certamente prejudica o
desenvolvimento normal das peças pretas, mas um possível plano seria jogar ...e6−e5 e trocar as
damas, aliviando a posição. Após a humilde retirada de dama, a posição permaneceria incerta,

45
com chances para ambos os lados. 18.exd5+ ¢d8 19.¥xb5 Este lance surpreendente mereceu
um signo de exclamação nas análises do Timman, que avalia a alternativa 19.£e8+ ¢c7 20.£xf7
£xd4 21.¥f5 £xf4, como grande vantagem das pretas. Entretanto, acredito que após 22.¦f1! as
brancas teriam um ataque ainda mais forte que o demonstrado na partida. 22...£g5 23.¥xd7 ¦d8
(23...¦b8 24.¦de1 com forte ataque (24.¥c6+ ¢b6 25.£f2+ ¢c7 26.£f7+= (26.¦de1ƒ) ) ) 24.¥c6+!
(24.¥xb5+ £e7 e as pretas defendem.) 24...¥e7 (24...£e7? 25.¦de1!+−) 25.¦de1 ¥xc6 26.dxc6
¦de8 27.¦f5 £h4 (27...£xg4 28.£e6! (28.¦xe7+ ¦xe7 29.£xe7+ ¢xc6 30.¦f1©) 28...¥h4 (28...¥d8
29.£d7+ ¢b6 30.¦c1‚) 29.£d7+ ¢b6 30.¦ef1±) 28.£e6 ¢xc6 29.c4 com ataque decisivo.]
19...axb5 [19...¢c7 20.¥c6±] 20.£e8+ ¢c7 21.£xf7 Um grande desequilíbrio material apresenta−
se no tabuleiro. As brancas sacrificaram 2 peças, mas em troca tem 3 peões e um forte ataque ao
rei desprotegido das pretas. Além do mais, a ameaça ¤e6 garante que mais material será
recuperado. 21... g5!? Certamente uma jogada engenhosa, que busca criar complicações em uma
posição que não caminha bem para o preto. Timman considera esta jogada forçada (!), o que me
parece totalmente contrário à natureza do xadrez. Não, caro leitor: jogadas como 21...g5 podem
ser boas, brilhantes e demais adjetivos, mas não são forçadas. Analisei duas alternativas: 21...¢b8
22.£xd7 ¥xd5 23.¦e8 £b7 (23...¦xe8? 24.£xe8+ ¢b7 25.¤xb5±) 24.¦xc8+ £xc8 25.£xb5+ £b7
as brancas teriam clara vantagem, mas ainda haveria muita luta.; 21...¦d8 oferecendo a qualidade,
não seria bom: 22.¤e6+ ¢c8 23.¤xd8 ¢xd8 24.b4! dominando o cavalo e preparando a mortífera
passagem da torre pela terceira, com ¦d3. As pretas estariam em apuros aqui.] 22.¤e6+! [ Após
22.f5 as pretas poderiam utilizar a mesma idéia que vimos na análise anterior: ¢b8 23.£xd7 ¥xd5
24.¦e8 £b7 mas com vantagem que o bispo de f8 estaria pronto para sair ao jogo.] 22...¢b8
23.£xd7 gxf4 24.¦f1 f3! 25.a3 [25.¦xf3? ¥xd5; 25.¦d4! seria o melhor lance. Aqui Timman faz
uma análise curiosa: 25...f2! ∆26.¦xf2 ¥xd5. Não entendo o que ele quis dizer, pois apos 27.¦xd5
as pretas poderiam abandonar. ] 25...£e3 26.¦fe1 [26.¦d3? £e2 27.¦dxf3 ¥xd5!∓; 26.£xb5 £e2²]
26...£b6 27.¦f1 £e3 28.¦fe1 £b6 29.¦e4 Um momento crítico. A partida será decidida nos
próximos lances. 29...¦c4? [29...f2! e as pretas teriam boas chances de defesa. Após o natural
30.¦f4 o recurso 30...¦c4! salvaria a partida. 31.¦xc4 bxc4 32.£e8+ ¢a7 33.¤xf8 c3 34.b3 £a6
35.£e3+ ¢a8 36.£e8+ com xeque perpétuo. Esta é mais uma demonstração de que, com
sangue−frio e atenção aos recursos defensivos, é possível salvar mesmo as posições mais
perigosas.] 30.¤d4? [Devolvendo o favor. As brancas ganhariam imediatamente após 30.¦xc4
bxc4 31.£e8+ ¢a7 32.¤xf8 c3 33.b3 £a6 34.£e3+] 30...¦c5? [30...f2! Novamente o avanço do
peão passado daria chances de defesa: 31.¤c6+ (31.¦e8+ ¢a7 32.¤xb5+ ¢a6÷) 31...¦xc6
32.dxc6 £xc6 33.£xc6 (33.¦e8+ ¢a7 34.£f7 £g2! (34...¥g7 RDL 35.¦xh8 ¥xh8 36.£xf2+²)
∆35.¦xf8 ¦xf8 36.£xf8 £g1= 37.¢c1 (37.¦c1 £e1) 37...£e1!) 33...¥xc6 34.¦f4²] 31.¦e8+?!
[31.¤c6+ venceria imediatamente ¦xc6 32.dxc6 £xc6 33.¦e8+ ¢a7 34.£d8] 31...¢a7 32.¤c6+
¦xc6?! [32...¢a6 33.¦b8±] 33.dxc6 £xc6 34.£d8 £c4 35.£b8+!+− ¢a6 36.¦xf8 ¦xf8 37.£xf8 1−
0

46
Uma partida interessante, com algumas imprecisões, mas é muito difícil calcular
corretamente em posições tão complicadas como a que vimos.
Em muitos casos o sacrifício em d5 é praticamente automático após a jogada ...b5−b4,
como veremos nos dois próximos exemplos. Muito cuidado para não cutucar a onça com vara
curta!

Nunn,J − Marin,M
Szirak (izt), 1987

1.e4 c5 2.¤f3 d6 3.d4 cxd4 4.¤xd4 ¤f6 5.¤c3 a6 6.¥e3 e6 7.£d2 b5 8.f3 ¤bd7 9.g4 h6
10.0-0-0 ¥b7 11.¥d3 ¤e5 12.¦he1 ¤fd7!? 13.f4! [13.£e2 ¤c5³] 13...b4 [13...¤xg4 14.¥g1©]

XIIIIIIIIY
9r+-wqkvl-tr0
9+l+n+pzp-0
9p+-zpp+-zp0
9+-+-sn-+-0
9-zp-sNPzPP+0
9+-sNLvL-+-0
9PzPPwQ-+-zP0
9+-mKRtR-+-0
xiiiiiiiiy
Qual o melhor lance das brancas?

14.¤d5! Esta jogada é automática nesta posição. É importante reconhecer isso e jogá−la
rapidamente, sem calcular longas variantes. Poupe seu tempo e energia para decisões mais
difíceis que ainda estão por vir. [14.fxe5 bxc3 15.£xc3 ¤xe5³; 14.¤a4 ¤xg4 15.£xb4 ¤xe3
16.¦xe3 ¦b8³] 14...¤xd3+ [14...exd5 15.fxe5 dxe4 16.exd6 ¥xd6 17.¤f5±; 14...¤xg4 15.£xb4 ¦b8
16.£a4±] 15.£xd3 exd5 16.exd5 Não é preciso analisar muito mais do que até aqui para se
decidir por 14.¤d5. Basta ver que contra o natural 16...¥e7 a iniciativa continua com 17.¤c6.
16...¥e7 [16...¤c5 17.£c4 ¢d7 (17...¥e7? 18.¤f5+−) 18.£xb4 Com dois peões e forte ataque em
retorno pela peça. (18.¤c6? £b6÷) 18...£c7 (18...¥e7? 19.¤c6+−) 19.¤c6± ∆¥xc6? 20.dxc6+
¢xc6 21.¥xc5 dxc5 22.£e4++−] 17.¤c6! [17.¤f5 0-0 18.g5! seria uma forma menos direta de
atacar, mas também muito perigosa para as pretas. A idéia é que 18...hxg5? perde para
19.¥b6!+−] 17...¥xc6 18.dxc6 ¤f6? Este é um momento interessante da partida. Muitas vezes nos
encontramos em uma posição de defesa em que a força do ataque adversário está clara. Nestas

47
ocasiões, um recurso típico é devolver material para aliviar a posição, mesmo ao custo de uma
desvantagem posicional. [18...¤f8? 19.f5! (∆ 20. ¥b6 £b6 21. ¦e7+−); 18...0-0 Marin deveria ter
escolhido este lance. Sua posição continuaria difícil, mas seria possível lutar pelo empate. 19.cxd7
£xd7±]

XIIIIIIIIY
9r+-wqk+-tr0
9+-+-vlpzp-0
9p+Pzp-sn-zp0
9+-+-+-+-0
9-zp-+-zPP+0
9+-+QvL-+-0
9PzPP+-+-zP0
9+-mKRtR-+-0
xiiiiiiiiy
Como voce jogaria com as brancas?

19.¥b6! Nunn aproveita a chance para arrematar a partida. 19...£xb6 [19...£b8 20.£d4+−
∆ c7, ¦e7] 20.¦xe7+ ¢f8 21.£xd6 ¢g8 22.g5 hxg5 23.fxg5 As peças pretas estão
descoordenadas e o ataque desenvolve−se naturalmente. A partir de agora, varias soluções
alternativas seriam possíveis para decidir a partida. 23...¦c8 [23...£f2 24.c7 ¦xh2 25.£d8+ ¢h7
26.£d3+ ¢g8 27.gxf6+−; 23...¤g4 24.£d5 ¦f8 25.g6+−] 24.c7 [24.gxf6?! £xc6 25.£xc6 ¦xc6±;
24.g6 Também seria muito forte. ∆24...fxg6 25.£e6+ ¢h7 26.£xf6+−] 24...£xd6 25.¦xd6 ¤g4
[25...¢f8 26.gxf6 gxf6 27.¦dd7 ¦h7 28.¦e3 ¢g7 29.¦g3+ ¢h6 30.¦d4 ¢h5 31.¦d8 ¦xc7 32.¦h3+
¢g6 33.¦g8+] 26.¦d8+ [26.¦e8+? ¦xe8 27.¦d8 ¢h7÷] 26...¢h7 27.¦ed7! As pretas não têm
defesa contra a ameaça de 28.¦xh8 seguido de 29.¦d8. Um belo final para uma excelente partida
do grande−mestre inglês. 1-0

De forma semelhante tive que sacrificar em minha partida contra Vitório Chemin, em 2000.
Minha posição não era nem de longe tão boa quanto à do Nunn, mas as complicações tiveram um
resultado favorável...

48
Leitao,R − Chemin,V
Sao Paulo, 2000

XIIIIIIIIY
9r+l+kvl-tr0
9+-wq-+pzpp0
9p+-zpp+-+0
9sn-sn-+-zP-0
9-zp-sNP+-+0
9+LsN-vL-+-0
9PzPP+QzP-zP0
9+-mKRtR-+-0
xiiiiiiiiy
Jogam as brancas

Eu vinha de uma derrota extremamente dolorosa na rodada anterior, em um final ganho


contra o MI peruano Oblitas. Por essas e outras, decidi jogar ativamente na rodada seguinte, sem
me preocupar com o resultado. Em geral esta é uma receita para o fracasso! Acabei jogando uma
variante que não conhecia bem, e após alguns lances indiferentes fui forçado a partir para grandes
complicações. 14.¤d5™ Espero que o leitor não tenha sequer titubeado por 10 segundos nesta
jogada! Neste caso ela é absolutamente forçada. [14.¤a4 Esta seria uma jogada triste. Após
14...¥d7!-+ as brancas estariam perdidas.] 14...¤axb3+? Chemin comete um grave erro logo no
início das complicações. Como veremos, era fundamental manter o controle sobre a casa c6.
[14...exd5 15.exd5 ¥e7 seria o critico. Minha compensação não seria clara neste caso, ainda que
seria possível criar muitas complicações. Eu poderia continuar com 16.¥f4 ou 16.¥d2. 16.¥f4
Praticamente forçaria as pretas a moverem o rei. (16.¥d2 ¦b8 17.f4 ¦b7 18.f5. O ataque com os
peões seria uma opção e daria chances práticas, mas as pretas têm vantagem após 18...0-0)
16...¢f8 E as brancas conservariam certa iniciativa, mas o preto deveria ser capaz de fazer valer
sua vantagem material.(16...¦a7?! seria perigoso, ainda que apos 17.£xe7+ £xe7 18.¥xd6
¤cxb3+ 19.axb3 ¦b7! (19...£xe1? 20.¦xe1+ ¢d8 21.¥xb4±) 20.¦xe7+ ¦xe7 21.¥xb4 ¤b7
22.¥xe7 ¢xe7 as pretas nao tem problemas.) ] 15.axb3 exd5? Esta captura leva a derrota. Assim
como no exemplo Timman − Van Wely, a melhor defesa seria ignorar o cavalo invasor com
[15...£b7, apesar de que as brancas já contam com a iniciativa.] 16.exd5 ¥e7 17.¥f4! Mais preciso
que a alternativa 17.¤c6. Este é mais um exemplo em que a ameaça é mais forte que a execução.
[Após 17.¤c6 as pretas teriam que devolver o material, mas em circunstâncias melhores do que na

49
partida. 17...0-0 18.¥xc5 ¥xg5+ 19.¥e3²] 17...¦a7 Não havia defesa contra ¤c6. 18.¤c6 ¤e6
19.¤xe7 [19.£e3+− Seria mais contundente.] 19...¤xf4 20.£e3 £xe7 21.£xf4 ¥e6 22.dxe6 0-0
23.exf7+ £xf7 24.£xb4 £xf2 25.£xd6+− a5 26.£d4 ¦c7 27.£xf2 ¦xf2 28.¦d2 ¦f5 29.h4 ¦f4
30.h5 a4 31.bxa4 ¦xa4 32.¦d8+ ¢f7 33.¦f1+ ¢e7 34.¦df8 ¦c5 4 35.¦1f7+ ¢e6 36.¦xg7 ¦a1+
37.¢d2 ¦h1 38.¦f6+ ¢e5 39.¦e7+ 1-0

Terminaremos esta seção com um exemplo recente de um gênio do xadrez, o ucraniano


Vassily Ivanchuk.

Ivanchuk,V − Van Wely,L


Monaco (blindfold), 2006

XIIIIIIIIY
9-+-+r+k+0
9+lwq-vlpzpp0
9p+-zpp+-+0
9+p+-+-zPP0
9-+rvLP+-+0
9zP-sN-wQP+-0
9-zPP+-+-+0
9+K+R+-tR-0
xiiiiiiiiy
Como você jogaria de brancas?

20.b3! Preparando o arremate. 20...¦c6 21.¤d5!! Com o sacrifício típico, Ivanchuk dá


mobilidade a sua dama e expõe ainda mais o rei preto, que estará indefeso contra o ataque de
todas as pecas brancas. 21...exd5 [21...£d8 22.¤f6+] 22.exd5 ¦xc2 [22...¦c5 23.g6+−] 23.g6
Agora o ataque é devastador. 23...hxg6 [23...fxg6 24.£e6+ ¢f8 25.hxg6 ¥f6 26.gxh7 vencendo.]
24.hxg6 ¦f8 25.gxf7+ ¦xf7

50
XIIIIIIIIY
9-+-+-+k+0
9+lwq-vlrzp-0
9p+-zp-+-+0
9+p+P+-+-0
9-+-vL-+-+0
9zPP+-wQP+-0
9-+r+-+-+0
9+K+R+-tR-0
xiiiiiiiiy
Jogam as brancas e ganham

26.¥xg7! ¦xg7 27.£e6+ ¢h8 28.¦xg7 ¢xg7 29.¦g1+ 1-0

E pensar que Ivanchuk fez tudo isso em uma partida às cegas!

Sacrifício em b5

Outro recurso de ataque bastante utilizado é o sacrifício de uma peça em b5. Esta peça
pode ser tanto o bispo de f1 como os cavalos de d4 ou c3. Em diversas linhas teóricas este tema
está disponível, mas aqui não aprofundarei, como é o espírito deste material, em variantes de puro
interesse teórico. Meu objetivo é alertar o leitor sobre a possibilidade deste sacrifício e oferecer
alguns exemplos para fixar seu aprendizado.
A peça pode ser sacrificada simplesmente para acelerar o desenvolvimento e fragilizar o
rei preto, mas em alguns outros casos o branco obtém até 3 peões como recompensa pelo material
investido. Avaliar o que deve prevalecer - a peça ou os peões - depende de alguns fatores
concretos, mas já adianto que posições de desequilíbrio material estão entre as mais difíceis no
xadrez...

Bronstein,D − Najdorf,M
Buenos Aires, 1954

1.e4 c5 2.¤f3 d6 3.d4 cxd4 4.¤xd4 ¤f6 5.¤c3 a6 6.¥g5 e6 7.£f3 ¤bd7 8.0-0-0 £c7
9.£g3 b5

51
XIIIIIIIIY
9r+l+kvl-tr0
9+-wqn+pzpp0
9p+-zppsn-+0
9+p+-+-vL-0
9-+-sNP+-+0
9+-sN-+-wQ-0
9PzPP+-zPPzP0
9+-mKR+L+R0
xiiiiiiiiy
Jogam as brancas

10.¥xb5!? O brilhante David Bronstein, falecido recentemente, foi um dos jogadores mais
criativos da história do xadrez e dificilmente deixava de jogar os lances mais interessantes da
posição. Com esta jogada, inicia−se um duelo de peça x 3 peões, duelo este que até os dias de
hoje não tem um vencedor, pois não está bem claro a quem esse tipo de posição favorece.
10...axb5 11.¤dxb5 Aqui as pretas devem escolher para que casa retirar a dama. A jogada do
texto implica um final, que, a julgar pela partida do texto, é favorável ao branco, ainda que o jogo
das pretas certamente pode ser melhorado. Uma alternativa que me parece crítica é 11...£a5!?
evitando o final. Na partida Grankin − Gutkin, URSS, 1968, publicada no Informador #6, o branco
tentou demonstrar uma refutação com 12.¥xf6 (12.¤xd6+ ¥xd6 13.¦xd6 0-0 seria a posição
crítica. É preciso avaliar a quem favorece conservar as damas, mas ao meu ver isso é bom para as
pretas, que ficam com linhas abertas para atacar no flanco dama.) 12...¤xf6 13.¦xd6 ¤xe4!
14.¤c7+ £xc7 15.¦xe6+ aparentemente com ataque decisivo, mas na partida as pretas poderiam
ter entregado a dama em troca da iniciativa: 15...¥xe6! (15...¢d7? 16.¦d1+ ¤d6 17.¦exd6+ £xd6
(17...¥xd6 18.¤b5‚) 18.¤b5 £xd1+ 19.¢xd1+−) 16.£xc7 ¦c8, com vantagem. Como se vê, não é
muito difícil encontrar melhoras nas análises do Informador, especialmente nas partidas antigas...]
11...£b8 12.¤xd6+ ¥xd6 13.£xd6 £xd6 14.¦xd6 h6 15.¥d2 ¥b7 16.f3 0-0 Duros comentários
foram feitos a esta jogada, sendo sugerido roque grande em seu lugar. A idéia é conservar o rei
preto perto dos peões passados brancos, facilitando a defesa no final. Considerações posicionais,
entretanto, sempre devem ser seguidas de verificação tática. Neste caso, as brancas têm a forte
réplica 16...0-0-0 17.¤b5!, e o rei preto está inseguro no flanco dama. 17.b3! O início de um mini−
plano melhorando o rei e preparando o avanço dos peões. Najdorf não conseguiu impedir o plano
do seu adversário e acabou sofrendo uma dura derrota. 17...¦fc8 18.¢b2 ¤c5 19.¥e3 e5 20.¦hd1
¤e6 21.¦b6 ¥c6 22.¤d5 ¥xd5 23.exd5 ¤c5 24.¦b5 ¤fd7 25.c4 e4 26.¥xc5 ¤xc5 27.fxe4 ¤xe4

52
28.d6 ¦xa2+ 29.¢xa2 ¤c3+ 30.¢a3 ¤xd1 31.c5 ¤c3 32.¦a5 ¤d5 33.c6 ¤f6 34.¦a6 ¢f8 35.b4
¢e8 36.b5 ¤d7 37.¦a7 ¦b8 38.¦xd7 ¦xb5 39.¦a7 ¦b8 40.d7+ ¢e7 41.d8£+ ¢xd8 42.c7+ 1-0

Philiddor sempre ressaltou a força dos peões, mas uma peca é uma peca! É difícil de
acreditar que as brancas possam vencer esse final com tanta facilidade. No exemplo seguinte, a
partida também resolveu−se tranqüilamente, apenas que desta vez as pretas levaram a melhor.

Svidler,P − Georgiev,Ki
Istanbul (ol), 2000

1.e4 c5 2.¤f3 d6 3.d4 cxd4 4.¤xd4 ¤f6 5.¤c3 a6 6.¥e3 e6 7.f3 b5 8.g4 ¤fd7 9.£d2 ¤b6 10.0-
0-0 ¤8d7 11.¥g5 £c7 12.¢b1 ¥b7

XIIIIIIIIY
9r+-+kvl-tr0
9+lwqn+pzpp0
9psn-zpp+-+0
9+p+-+-vL-0
9-+-sNP+P+0
9+-sN-+P+-0
9PzPPwQ-+-zP0
9+K+R+L+R0
xiiiiiiiiy
Jogam as brancas

13.¤dxb5!? Svidler decide−se pelo tradicional sacrifício, mas desta vez o cavalo de d4 é o
escolhido para a tarefa. 13...axb5 14.¤xb5 £c5! Um lance preciso. Depois de [14...£c6 15.¤xd6+
¥xd6 16.£xd6 £xd6 17.¦xd6 As brancas teriam os três peões e a estrutura intacta. A ameaça de
¥b5 seria muito desagradável.] 15.b4 [15.¥e3 ¤c4! Esta é a justificativa tática da jogada 14...£c5.
(15...£c6 16.¤xd6+±) 16.¥xc5 ¤xd2+ 17.¦xd2 ¤xc5 18.¤c7+ (18.¤xd6+?! ¥xd6 19.¦xd6 ¢e7³)
18...¢d8 19.¤xa8 ¥xa8 e agora temos um outro tipo de desequilíbrio material, novamente sendo
difícil avaliar quem tem vantagem. Os peões passados brancos parecem imponentes, mas não
existem muitas colunas para as torres e o bispo de casas pretas é muito forte. Portanto, fechamos
com "posição balanceada", esse típico truque de comentaristas que não sabem como avaliar uma
dada posição!] 15...£c6 16.¤xd6+ ¥xd6 17.£xd6 £xd6 18.¦xd6 As brancas conseguiram o
terceiro peão pela peça, mas tiveram que debilitar sua estrutura para tanto, o que é imediatamente

53
explorado por Georgiev. 18...¤a4!„ As pretas evitam ¥b5 e iniciam um contra−jogo. 19.¢c1
[19.a3 h6 20.¥h4 g5 21.¥g3 ¢e7÷] 19...¥c8! Uma excelente jogada profilática. As pretas
previnem−se contra ¥b5. [19...¤c3? 20.¢b2± e as brancas levariam o rei a b3, onde ele estaria
muito bem colocado.] 20.¥b5?! A partir de agora as brancas perdem o controle da partida e
rapidamente ficam perdidas. A partida estaria incerta após 20.a3 ou 20.¥c4 20...¤c3 21.¥xd7+?
Os livros costumam dizer que um erro dificilmente vem sozinho. E a prática costuma corroborar
isso. [21.¥c6 ¦xa2 22.¢d2 ¤a4 23.f4!³ E as brancas ainda teriam chances.] 21...¥xd7 22.¢b2
¦c8 23.¥d2 ¤a4+ 24.¢b3 ¥b5 Agora as brancas estão perdidas. Os peões estão imóveis e as
peças pretas se ativaram. 25.¦d4 ¤b6! [25...e5?! 26.¦d5 ¥c4+ 27.¢xa4 ¥xd5 28.exd5 ¦xc2³]
26.¦c1 e5-+ 27.¦d6 ¥c4+ 28.¢b2 ¤a4+ 29.¢a3 ¢e7 30.¦d5 ¥xd5 31.exd5 ¤c3 0-1

O leitor percebeu que em ambas as partidas a posição logo após o sacrifício apresentava
certo equilíbrio. Os jogadores das pretas por muitos anos temeram o final de três peões por peça,
principalmente devido ao exemplo do Bronstein. A prática moderna, entretanto, vem mostrando
que as pretas não têm muito o que temer.
O próximo exemplo ilustra o sacrifício em b5 como ferramenta para um ataque imediato.

Dueball,J − Minic,D
Mannheim, 1975

1.e4 c5 2.¤f3 d6 3.d4 cxd4 4.¤xd4 ¤f6 5.¤c3 a6 6.¥e3 e6 7.f4 ¥e7 8.£f3 £c7 9.0-0-0
b5?! Na época desta partida os perigos da Najdorf ainda não eram tão bem conhecidos. Hoje em
dia, jogadores experientes pensam duas vezes antes de se exporem aos temas resultantes de
uma jogada como essa, a não ser que tenham a posição preparada em seu laboratório caseiro.
10.e5 Temático, ainda que a resposta das pretas costume ser suficiente. 10...¥b7 Agora as
brancas precisam continuar com energia para manter a iniciativa.

XIIIIIIIIY
9rsn-+k+-tr0
9+lwq-vlpzpp0
9p+-zppsn-+0
9+p+-zP-+-0
9-+-sN-zP-+0
9+-sN-vLQ+-0
9PzPP+-+PzP0
9+-mKR+L+R0
xiiiiiiiiy

54
Como jogar com as brancas?

11.¥xb5+! [11.£g3 seria insuficiente, já que o ataque não é claro após 11...dxe5 12.fxe5
¤h5] 11...axb5 12.¤dxb5 £c8 Forçado. Quando se defende uma posição como essa, é
importante fazer a lista dos lances candidatos e saber usar o método da exclusão. Se um dos
lances é facilmente refutado, então você deve escolher o outro, mesmo sem grandes análises. É
importante ser prático. [12...£xc3 é um recurso tático que não daria certo, mas que precisaria ser
analisado. 13.£xb7! £xe3+ 14.¢b1 ¤d5 (14...0-0 15.exf6+−) 15.¦xd5! E as brancas venceriam.
∆15...exd5 16.£c8+ ¥d8 17.¤xd6+ ¢e7 18.¤f5++−] 13.£g3 dxe5 14.fxe5 ¤h5 15.£h3 g6
16.¥h6© Hora de parar para refletir sobre o sacrifício branco. A compensação se materializa em
dois peões e forte ataque ao rei preto, que agora não pode roçar. Resultado mais que satisfatório!
16...¥c6 17.¦hf1 £b7 [17...¥xb5 18.¤xb5 ¦xa2 Não funcionaria. 19.¢b1 seguido de £f3, com
ataque decisivo.] 18.£d3 ¤d7 [18...¥xb5 19.£xb5+! £xb5 20.¤xb5 ¤a6 21.g4+−] 19.g4?!
[19.¤d6+! seria muito mais forte. A debilidade das casas pretas provaria ser fatal após 19...¥xd6
20.£xd6 ¤b6

XIIIIIIIIY
9r+-+k+-tr0
9+q+-+p+p0
9-snlwQp+pvL0
9+-+-zP-+n0
9-+-+-+-+0
9+-sN-+-+-0
9PzPP+-+PzP0
9+-mKR+R+-0
xiiiiiiiiy
Jogam as brancas e ganham

21.¦xf7!! ¢xf7 22.¦f1+ ¢e8 23.£xe6+ ¢d8 24.¥g5++−] 19...¤xe5 20.£d4 f6 21.¤d6+ ¥xd6
22.£xd6 ¥d7 [22...£e7 23.gxh5±] 23.¦xf6 [23.gxh5? ¤c4 24.£xd7+ £xd7 25.¦xd7 ¢xd7 26.¦xf6
gxh5³] O momento crítico. As pretas ainda teriam boas chances de se salvarem, se tivessem
encontrado a solução correta aqui. Analisaremos muitas posições de defesa no próximo capitulo,
mas não custa adiantarmos o treinamento! Vou escrever até cansar, assim o leitor se lembrará dos
conselhos durante uma partida importante. Se você mantiver a calma e acreditar nos recursos de
sua posição, muitas vezes será capaz de encontrar lances escondidos e salvar−se mesmo nas
situações mais desesperadoras!

55
XIIIIIIIIY
9r+-+k+-tr0
9+q+l+-+p0
9-+-wQptRpvL0
9+-+-sn-+n0
9-+-+-+P+0
9+-sN-+-+-0
9PzPP+-+-zP0
9+-mKR+-+-0
xiiiiiiiiy
Qual o melhor lance para as pretas?

23...¤xf6? [23...£xb2+! Este golpe tático levaria a um final com esperanças para o preto.
24.¢xb2 ¤c4+ 25.¢c1 ¤xd6 26.gxh5 ¤f5 27.hxg6 hxg6 (27...¤xh6 28.g7²) 28.¥f4² (28.¦f8+ ¦xf8
29.¥xf8² também é possível.) As brancas têm um peão a mais e uma clara vantagem, mas o
material reduzido tornaria difícil convertê−la. Além do mais, o preto não precisaria mais pensar em
escapar do mate! ] 24.£xe5+− As pretas não têm como defender o cavalo atacado e sofrerão um
ataque devastador. 24...0-0-0 25.£xf6 ¦he8 26.¥g5 ¦f8 27.£e5 ¦de8 28.¤e4 £c7 29.¤d6+ ¢b8
30.£d4 £a5 31.¥d2 £xa2 32.£b6+ 1-0

Sacrifício em e6

Encerrando este capitulo, veremos algumas posições com sacrifício de peca em e6, não
tão comum quanto os outros dois vistos anteriormente, mas ainda assim um tema a ser
considerado. Em algumas situações, ele pode desmoronar a posição das pretas e decidir a partida
imediatamente. Até mesmo o grande Kasparov - tudo bem que ele ainda era novo na época! -
sucumbiu ante a força deste sacrifício:

Georgiev,Kr − Kasparov,G
Malta (ol), 1980

1.e4 c5 2.¤f3 d6 3.d4 cxd4 4.¤xd4 ¤f6 5.¤c3 a6 6.¥g5 e6 7.f4 £c7 8.£f3 b5 9.0-0-0
b4 10.e5 ¥b7 11.¤cb5 axb5 12.¥xb5+ ¤fd7? [12...¤bd7 é o lance correto. 13.£h3 b3! Um
importante lance de contra−ataque. As pretas defendem, conforme comprovado pela prática

56
magistral.]

XIIIIIIIIY
9rsn-+kvl-tr0
9+lwqn+pzpp0
9-+-zpp+-+0
9+L+-zP-vL-0
9-zp-sN-zP-+0
9+-+-+Q+-0
9PzPP+-+PzP0
9+-mKR+-+R0
xiiiiiiiiy
Como jogar com as brancas?

13.¤xe6! Um lance devastador. Uma característica das posições mais agudas da Najdorf
é que um lance pode decidir a partida. Por esse motivo, especialmente na variante com 6.¥g5, é
fundamental estar muito bem preparado. 13...fxe6 14.£h3 ¢f7 Forcado. [14...¥d5 15.¦xd5 ¢f7
16.exd6 ¥xd6 17.¦e1+−] 15.f5 Todas as peças brancas participarão do ataque, enquanto as pretas
têm o rei exposto e problemas de desenvolvimento. 15...¥e4 Outros lances também não ajudam,
por exemplo: [15...¤xe5 16.fxe6+ ¢g8 (16...¢g6 17.£g3+−) 17.e7 ¥xe7 18.£e6+ ¤f7 19.¥xe7
com grande vantagem, como as variantes a seguir demonstram. 19...¤c6 a) 19...¥c8 20.£c4 £xc4
(20...£xe7?! 21.£xc8+ £d8 22.£b7+−) 21.¥xc4 ¥a6 22.¥d5 ¥b7!? (22...¦a7 23.¥xd6±) 23.¥e6!±
(23.¥xb7? ¦a7) ; b) 19...£c8 20.¥c4±; 20.¥xd6 £c8 21.£c4±; 15...b3 16.fxe6+ ¢g8 17.£xb3 ¤c5
18.£c4 d5 19.¦xd5+− ¤xe6 20.¦d7 £xe5 21.¦xb7 £xg5+ 22.¢b1+−; 15...¥d5 16.fxe6+ ¥xe6
17.¦hf1+ ¤f6 18.¥e8+!+−] 16.fxe6+ ¢g8 [16...¢g6 17.¥d3+−] 17.£b3 ¥xc2 [17...¤c5 18.£c4 d5
19.¦xd5 ¤xe6 20.£xe4 ¦xa2 (20...¤xg5 21.£c4+−) 21.¥c4 ¦a1+ 22.¢d2 ¦xh1 23.¦d6 ¦f1
(23...¥xd6 24.¥xe6+ ¢f8 25.£f5+ ¢e8 26.¥f7+! £xf7 27.£c8#) 24.¥xe6+ ¦f7 e agora as brancas
tem inúmeras formas de vencer.Vou citar apenas uma delas. 25.¥d8 £a7 26.¦b6+−] 18.£xc2
[18.£c4+− Seria até mais fácil. 18...£xc4 19.¥xc4 ¤xe5 20.e7+ ¤xc4 21.e8£ ¥g6 22.£b5+−]
18...£xc2+ 19.¢xc2 ¤xe5 20.e7 ¥xe7 21.¥xe7+− E as brancas não tiveram problemas para
vencer. 1-0

Na partida seguinte, um grande jogador de ataque utiliza o mesmo tema para obter um
ataque decisivo.

57
Shirov,A − Polgar,J
Tilburg, 1996

1.e4 c5 2.¤f3 d6 3.d4 cxd4 4.¤xd4 ¤f6 5.¤c3 a6 6.¥e2 e6 7.0-0 ¥e7 8.f4 0-0 9.¥e3 £c7
10.g4 ¦e8 11.f5!?N ¥f8?! 12.g5 ¤fd7

XIIIIIIIIY
9rsnl+rvlk+0
9+pwqn+pzpp0
9p+-zpp+-+0
9+-+-+PzP-0
9-+-sNP+-+0
9+-sN-vL-+-0
9PzPP+L+-zP0
9tR-+Q+RmK-0
xiiiiiiiiy
Qual o melhor lance para as brancas?

13.¤xe6! Uma solução matemática, que dá às brancas um ataque decisivo. 13...fxe6


14.¥h5+− Com as peças da ala da dama sem desenvolvimento, as pretas não tem como proteger
seu rei. 14...g6 As alternativas também não funcionavam. [14...£d8 15.fxe6 ¤c5 (15...¤e5 16.¥f7+
¢h8 17.¥xe8 £xe8 18.¤d5+−) 16.¥f7+ ¢h8 17.¥xe8 £xe8 18.¥xc5 dxc5 19.¤d5+−; 14...¦e7
15.fxe6 ¤b6 16.£f3 £d8 17.¥xb6 £xb6+ 18.¦f2+−; 14...¦d8 15.fxe6+−] 15.fxg6 ¦e7 16.¤d5! O
segundo sacrifício destrói de vez a posição preta. [16.gxh7+± seria outra forma de continuar o
ataque, mas o lance do texto é mais incisivo.] 16...exd5 17.£xd5+ ¢h8 18.gxh7! ¦xh7 Agora a
questão é como arrematar a partida com maior precisão. Em alguns momentos Shirov poderia ter
ganho mais rapidamente, mas seus lances foram suficientemente bons. [18...¢xh7 19.¦f7++−]
19.¥g6!? [19.g6! ¦g7 20.¥g4 ¦xg6 21.¥d4+ ¤f6 (21...¤e5 22.¦xf8+ ¢h7 23.¥xe5 ¦xg4+ 24.¢h1
dxe5 25.¦f7+ ¦g7 26.¦xc7 ¦xc7 27.£xe5+−) 22.¦xf6 ¦xf6 23.¥xf6+ ¥g7 24.£h5+ ¢g8 25.£e8+
¢h7 26.¥xc8 ¥xf6 27.¥f5++−] 19...¥g7 [19...£c6 20.¦xf8+ ¤xf8 21.¥d4+ ¦g7 22.¥xg7+ ¢xg7
23.£f7+ ¢h8 24.£xf8#; 19...¦g7 20.¥d4 ¤c6 21.¦f4+−; 19...¦e7 20.¦f4+−] 20.¥xh7 £d8
[20...¢xh7 21.g6+ ¢xg6 22.£f5#] 21.¥f5 [21.£f7! ¢xh7 (21...¤e5 22.£h5 ¥g4 23.£h4) 22.£h5+
¢g8 23.g6 ¤f6 (23...¤f8 24.¦xf8+ ¢xf8 25.¦f1+ ¢e8 26.£d5 £e7 27.£g8+ ¢d7 28.¦f7) 24.¦xf6
£xf6 25.¦f1+−] 21...¤e5 22.£d1 ¥xf5 [22...£e8 23.g6; 22...¢g8 23.£h5 ¥xf5 24.exf5] 23.exf5
£e8 24.g6 ¤g4 [24...¤xg6 25.£h5+ ¢g8 26.¦ae1] 25.¥d4 £e4 26.f6 ¤c6 [26...¤xf6 27.£h5+!
¢g8 (27...¤xh5 28.¦f8#) 28.¥xf6 £e3+ 29.¦f2; 26...¥xf6 27.¥xf6+ ¤xf6 28.¦xf6] 27.fxg7+ ¢g8

58
28.¦f8+ ¦xf8 29.gxf8£+ ¢xf8 30.£f1+ Um ótimo exemplo não só de sacrifícios temáticos, mas de
como conduzir a iniciativa. 1-0

Nem sempre o ataque é tão cristalino como nos exemplos que vimos. Às vezes é preciso
sacrificar mesmo que as conseqüências não sejam tão claras, para não ceder a iniciativa.

Anand,V − Khalifman,A
Shenyang, 2000

1.e4 c5 2.¤f3 d6 3.d4 cxd4 4.¤xd4 ¤f6 5.¤c3 a6 6.¥e3 e6 7.f3 b5 8.g4 h6 9.£d2 ¤bd7
10.0-0-0 ¥b7 11.h4 b4 12.¤a4 £a5 13.b3 ¤c5 14.a3 Uma variante extremamente popular à
época desta partida. 14...¦c8 15.£xb4 £c7 16.¢b1 Uma novidade preparada por Anand.
16...¤cd7 [16...d5 Também era possível.] 17.£d2 d5 18.¥h3 dxe4 19.g5 hxg5 20.hxg5 ¤d5
21.fxe4?! [21.¥xe6! Daria um forte ataque às brancas. 21...¦xh1 22.¥xd7+ £xd7 23.¦xh1 exf3
24.¥f2±] 21...¤xe3 22.£xe3 ¤e5 23.¦hf1 ¥xa3

XIIIIIIIIY
9-+r+k+-tr0
9+lwq-+pzp-0
9p+-+p+-+0
9+-+-sn-zP-0
9N+-sNP+-+0
9vlP+-wQ-+L0
9-+P+-+-+0
9+K+R+R+-0
xiiiiiiiiy
Jogam as brancas

24.g6! Gosto deste lance, um mini−sacrifício que serve de prelúdio para um sacrifício
maior. Primeiro Anand piora as peças pretas, para em seguida explodir a posição. 24...¤xg6
25.¥xe6! fxe6 26.¤xe6 Agora as pretas encontram−se em um dilema e devem manejar as
complicações com extrema precisão. Antes de estudar as análises que seguem, pense, calcule
variantes e decida qual lance faria nessa posição.

59
XIIIIIIIIY
9-+r+k+-tr0
9+lwq-+-zp-0
9p+-+N+n+0
9+-+-+-+-0
9N+-+P+-+0
9vlP+-wQ-+-0
9-+P+-+-+0
9+K+R+R+-0
xiiiiiiiiy
Qual a melhor defesa para as pretas?

26...£e7? Lance perdedor. [26...£xc2+?? deixaria a dama fora da defesa e as pretas


ficariam perdidas. 27.¢a1+− com ataque decisivo.; 26...£e5! Este era o lance correto e levaria ao
empate. Mais uma vez temos um exemplo da importância da centralização das peças! 27.£b6
¥xe4 28.¦d8+ (28.¤xg7+ ¢e7!) 28...¢e7 Até aqui tudo desenvolve−se de forma relativamente
forçada. Quais os lances candidatos para as brancas? 29.£a7+ Prosaico e correto. (29.¤f8? É um
recurso brilhante, sendo considerada a variante principal por Anand em suas análises para o
Informador, merecendo dois signos de exclamação. Entretanto, descobri duas refutações
diferentes para estas análises. Por isso sempre reitero a importância do estudo independente.
Mesmo as análises de um dos melhores enxadristas da história não estão livres de furos...
29...¥xc2+ a) 29...¦xd8? 30.£a7+ ¢d6 31.¦d1++−; b) 29...¦xf8 30.¦fxf8 ¤xf8 31.¦xc8 ¤e6
32.£xa6³ com posição complicada, mas prefiro as pretas.; c) 29...¤xf8 Este lance não é
considerado por Anand, mas já é uma refutação convincente para 20.¤f8. 30.¦xc8 ¤d7! 31.£xa6
¦xc8 (31...¦h2 também é possível.) 32.£xc8 £b5! 33.£c4 £xc4 34.bxc4 ¥c6 com ótimas chances
de vitória para as pretas.; 30.¢a2 ¤xf8 (30...¦xf8 31.¦fxf8±; 30...¦xd8 31.£b7+ ¢d6 32.£xa6+=)
31.¦xc8 ¤d7 32.£xa6 ¥xb3+! Anand omitiu este lance. Suas analises seguem: (32...¦xc8 33.£xc8
¥xb3+ 34.¢xb3 £b5+ 35.¢xa3 £xf1 36.¤c3= com empate.) 33.¢xb3 (33.¢xa3 ¦h3!-+) 33...¦h3+
34.¢a2 ¥d6! com ataque decisivo.) 29...¦c7 30.¤xc7 ¢xd8 (30...¦xd8? 31.¤d5+ ¢e6 32.£f7+
¢d6 33.£c7+ ¢xd5 (33...¢e6 34.£c6+ £d6 35.¤c7+ ¢e7 36.£xe4+ ¤e5 37.¦f5+−) 34.¤b6+
¢d4 35.£xd8++−) 31.¦d1+ ¥d6 32.¤c5! e as brancas conseguem o empate: 32...¥xc2+ 33.¢a2
¥xb3+ (33...¥f5 34.¦xd6+ £xd6 35.¤b7+ ¢xc7 36.¤xd6+ ¢xd6 37.£xg7=; 33...¥xd1 34.¤7e6+
£xe6 35.¤xe6+ ¢c8 36.¤d4=) 34.¢xb3 ¦h3+ 35.¢a4 ¦h4+ 36.¢b3=] 27.£b6! ¤f8 [27...¦h6
28.¦d8+ ¦xd8 29.¤c7+ £xc7 30.£xc7 ¦d7 31.£b8+ ¢e7 32.£g8+−; 27...¥xe4 28.¤xg7+!+−]

60
XIIIIIIIIY
9-+r+ksn-tr0
9+l+-wq-zp-0
9pwQ-+N+-+0
9+-+-+-+-0
9N+-+P+-+0
9vlP+-+-+-0
9-+P+-+-+0
9+K+R+R+-0
xiiiiiiiiy
Jogam as brancas e ganham

28.¦d8+! Provavelmente Khalifman não viu esse recurso ao analisar 26..£e7. 28...¦xd8
29.¤c7+ £xc7 [29...¢d7 30.£xb7+−] 30.£xc7 ¦d7 31.£b8+ ¢e7 32.£e5+ ¤e6 33.¦g1+− O rei
preto está muito exposto ao ataque combinado das peças brancas. 33...¢f7 34.¤b6 ¦hd8 35.¢a2
¥f8 36.¤xd7 [36.£f5+ ¢e7 37.¦f1+−] 36...¦xd7 37.£f5+ [37.¦f1+ ¢e7 38.¦xf8 ¢xf8 39.£xe6+−]
37...¢e7 38.¦f1 ¥c8 39.£f7+ ¢d6 40.e5+ [40.e5+ ¢d5 41.¦d1+; 40.¦d1+ ¢c7 41.£xe6 ¦xd1
42.£f7+] 1-0
Os temas táticos que vimos são os mais importantes na Najdorf, mas estão longe de serem
os únicos. O estudo mais profundo da variante mostrará ao leitor outros temas que podem ser
explorados. Mas ao menos para os sacrifícios em d5, b5 e e6 estou seguro que você estará alerta!
Exercícios

1
XIIIIIIIIY
9r+l+-trk+0
9+-wq-vl-zp-0
9p+-zpp+-zp0
9+psn-+-+-0
9-+-+P+-+0
9+LsN-+N+-0
9PzPPwQ-+PzP0
9+K+RtR-+-0
xiiiiiiiiy

61
Jogam as brancas

2
XIIIIIIIIY
9r+l+kvl-tr0
9+-wq-+pzpp0
9p+nzppsn-+0
9+p+-+-vL-0
9-+-sNPzP-+0
9+-sN-+-+-0
9PzPP+Q+PzP0
9+-mKR+L+R0
xiiiiiiiiy
Jogam as brancas

XIIIIIIIIY
9r+l+kvl-tr0
9+-wq-+p+p0
9p+-zppzP-+0
9+-sn-+-+Q0
9-zp-sNP+-+0
9+-sN-+-+-0
9PzPP+-+-zP0
9+-mKR+L+R0
xiiiiiiiiy
Jogam as brancas

62
4
XIIIIIIIIY
9r+l+-trk+0
9+-+-vlpzpp0
9p+qzppsn-+0
9+p+-+-vL-0
9-+-+P+-+0
9+LsN-+Q+-0
9PzPP+-zPPzP0
9tR-+-tR-mK-0
xiiiiiiiiy
Jogam as brancas

5
XIIIIIIIIY
9-mk-+-+r+0
9+-wqlvlp+-0
9p+nzpp+-+0
9+p+-+p+r0
9-+-+PzP-zp0
9zPNsN-+R+-0
9-zPP+-wQPzP0
9+K+R+L+-0
xiiiiiiiiy
Jogam as brancas

63
6
XIIIIIIIIY
9r+-+kvl-+0
9+l+n+p+-0
9p+-+p+-+0
9wq-+n+-vL-0
9Nzp-sNRzP-+0
9+-+-+-+-0
9PzPPwQ-+Ltr0
9+-mKR+-+-0
xiiiiiiiiy
Jogam as brancas

7
XIIIIIIIIY
9r+-+k+-tr0
9+lwqnvlpzpp0
9p+-zppsn-+0
9+-+-+-+-0
9-+-sNP+-+0
9+LsN-vLP+-0
9PzP-wQ-+PzP0
9tR-+-mK-+R0
xiiiiiiiiy
Jogam as brancas

Soluções:

1) Mekhitarian,K − Vera,R Buenos Aires, 2005: 1.e4 c5 2.¤f3 d6 3.d4 cxd4 4.¤xd4 ¤f6

64
5.¤c3 a6 6.¥c4 e6 7.¥b3 ¤bd7 8.¥g5 £a5 9.£d2 ¥e7 10.0-0-0 ¤c5 11.¦he1 0-0! 12.¢b1 £c7
13.f4 h6! 14.¥xf6 14...¥xf6 15.¤f3 ¥e7 16.f5 b5? 17.fxe6 fxe6

18.¤d5! o jovem MI brasileiro não desperdiça a chance tática que lhe é oferecida e conduz
a iniciativa de forma impecável. 18...exd5 [18...¤xb3? 19.axb3 exd5 20.£xd5+ ¢h8 21.£xa8 ¥b7
(21...¥e6 22.£xa6+−) 22.£a7+−] 19.¥xd5+ ¥e6 20.¥xe6+! Um detalhe importante. [20.b4? Daria
chances de contra−ataque para as pretas. 20...¥xd5 (20...¤a4!? também é possível. 21.¥xe6+
¢h8„) 21.£xd5+ ¢h7 22.bxc5 dxc5 23.£d7 ¦a7÷] 20...¤xe6 21.£d5 £c4 [21...£c8 22.¤d4 ¦f2
(22...¦f6 23.e5 dxe5 24.¤xe6± ¦xe6 25.¦xe5 ¢f7 26.¦de1+−) 23.¦f1! ¦xg2 24.e5 ¦g5 25.¦de1
¦xe5 26.¦xe5 dxe5 27.¤xe6±] 22.b3!! £xd5 [22...£c8 23.¤d4 ¦f2 (23...¦f6 24.e5) 24.¦f1! ¦xg2
25.e5 ¦g5 (25...¦xh2 26.exd6 ¥xd6 27.£xd6 ¤xd4 28.£xh2±) 26.¦de1 ¦xe5 27.¦xe5 dxe5
28.¤xe6 ¢h8 29.¤xg7±] 23.exd5 ¤f4 [23...¤g5!? seria uma defesa melhor. 24.¦xe7 ¤xf3 25.gxf3
¦xf3 26.¦g1 g5 com chances de empate.] 24.¦xe7 ¦ae8 [24...¤xg2! 25.¦g1 ¦xf3 26.¦xg2 ¦f7
27.¦e6 ¦d8 28.¦xh6 ¦f5 29.¦hg6 ¦d7 30.¦6g5±] 25.¦xe8 ¦xe8 [¦ 9/h] 26.g3 ¤e2 [26...¦e3
27.¤h4 ¤e2 28.¢b2] 27.¢b2± Krikor tem agora um peão limpo a mais. A partida seguiu: 27...¦c8
[27...b4 28.a3] 28.a3 ¤c3 29.¦d3 ¤e4 30.¦d4 ¤c5 31.¤h4 [31.¦f4 ¦e8 32.¤d4 ¦e5 33.¦f5±]
31...¦f8 32.¦f4 ¦xf4 33.gxf4 [¤¥ 2/e] 33...¤e4 34.c4 bxc4 35.bxc4 ¢f7 36.¢c2 ¢f6 [36...g5]
37.¢d3 ¤c5+ 38.¢e3 g5 39.fxg5+ hxg5 40.¤f3 g4 41.¤e1 ¢f5 42.¤d3 ¤b3 43.¤b4 a5?!
[43...¤c5] 44.¤c6 ¢g6? [44...a4!? 45.¤d8± (a) 45.¤d4+ ¢e5 46.¤e6± (46.¤xb3? axb3 47.¢d3
b2! 48.¢c2 ¢d4 49.¢xb2 ¢xc4 50.¢c2 ¢xd5 51.¢d3 ¢c5=) ) ] 45.¤d4 ¤c5 46.¤b5 ¤b7
47.¢f4+− ¢h5 48.¤xd6 ¤xd6 49.c5 ¤f7 50.¢f5 [50.c6 ¤d6 51.¢e5] 50...¢h4 51.¢f6 ¤g5 52.c6
¤e4+ 53.¢e5 1-0

2) Murey,Y − Korzin,V USSR, 1970: 1.e4 c5 2.¤f3 d6 3.d4 cxd4 4.¤xd4 ¤f6 5.¤c3 a6
6.¥g5 e6 7.f4 b5 8.£e2 £c7 9.0-0-0 ¤c6?

10.¥xf6! [10.¤d5 ¤xd5 11.exd5 ¤xd4 12.¦xd4 f6 13.¥h4 e5„] 10...gxf6 11.¤d5! exd5
12.¤xc6+− ¥g4 13.£xg4 £xc6 14.exd5 £d7 15.¦e1+ ¢d8 16.£h5 ¦g8 17.g3 1-0

3) Scholl,E − Donner,J Amsterdam, 1970: 1.e4 c5 2.¤f3 d6 3.d4 cxd4 4.¤xd4 ¤f6 5.¤c3
a6 6.¥g5 e6 7.f4 ¥e7 8.£f3 £c7 9.0-0-0 ¤bd7 10.g4 b5 11.¥xf6 ¤xf6 12.g5 ¤d7 13.f5 ¤c5 14.f6
gxf6 15.gxf6 ¥f8 16.£h5 b4?

17.¤d5! exd5 18.exd5 E as brancas conseguiram um forte ataque. 18...¥d7?! [18...¤d7!]


19.¦e1+ ¢d8 20.£xf7 [20.¢b1!] 20...¢c8 [20...¥h6+ 21.¢b1 ¥e8! 22.£xc7+ ¢xc7 23.f7 ¥d7
(23...¥xf7!? 24.¦e7+ ¢b6 25.¦xf7²) 24.¤e6+ ¢b6 25.¦g1©] 21.¦g1 [21.¢b1] 21...¢b7 [21...¥h6+

65
22.¢b1 ¦f8 23.£xh7 ¦xf6 24.¥h3!‚ ∆¥xh3 25.£h8++−] 22.¤e6! £c8? [22...¥xe6 23.£xc7+ ¢xc7
24.dxe6+− ¥h6+ 25.¢b1 ¦hf8 26.f7 (26.e7 ¦ae8! 27.¥e2! ¦xf6 28.¥h5 ¦g6 29.¦xg6 (29.¥xg6 hxg6
30.¦xg6 ¥f4) 29...hxg6 30.¥xg6 ¢d7 31.¥xe8+ ¢xe8 32.h4±) 26...¥d2! 27.¦e2 ¤xe6 28.¦xd2
(28.¦xe6 ¦xf7=) 28...¦xf7 29.¥c4 ¦f6 30.¦e2±] 23.¤xc5+ dxc5 24.¥h3 ¢c7 25.¦e6! £b7
[25...¥d6 26.¦xd6 ¢xd6 27.£e7+ ¢c7 28.¦g7 ¦d8 29.£xc5+ ¢b7 30.£xb4+ ¢a7 31.£d6+−]
26.£xd7+! ¢xd7 27.¦e7+ ¢d6 28.¦xb7+− ¢xd5 29.¦e1 ¥h6+ 30.¢b1 ¦he8 31.¦be7 1-0

4) Sutovsky,E − Aronian,L Silivri, 2003: 1.e4 c5 2.¤c3 a6 3.¤f3 d6 4.d4 cxd4 5.¤xd4
¤f6 6.¥c4 e6 7.¥b3 b5 8.0-0 ¥e7 9.£f3 £c7 10.¦e1 ¤c6 11.¤xc6 £xc6 12.¥g5! 0-0

13.¤d5! exd5 14.¥xd5 [14.¥xf6? dxe4] 14...¤xd5™ [14...£xc2 15.¥xf6 ¥xf6 16.¦e2 £c5
17.¥xa8+−] 15.exd5 £xc2 16.¥xe7 ¦e8 17.¥xd6 [17.£g3 £g6 18.¦ad1 ¥b7=] 17...¥b7™ 18.¥e7
[18.¥e5 £g6! (18...f6) 19.¥c3 £g5 20.¦xe8+ ¦xe8 21.¦d1 ¦d8 22.h4 £xh4 23.£f5 £e7=]
18...£c7! 19.d6 £xe7 20.¦xe7 ¥xf3 21.¦xe8+ [21.gxf3 ¦xe7 22.dxe7 f6=] 21...¦xe8 22.gxf3 com
vantagem branca no final, mas Aronian conseguiu empatar.

5) Pavlovic,M − Pelletier,Y Plovdiv, 2003: 1.e4 c5 2.¤f3 d6 3.d4 cxd4 4.¤xd4 ¤f6 5.¤c3
a6 6.¥g5 e6 7.f4 £b6 8.£d2 ¤c6 9.¥xf6 gxf6 10.¤b3 ¥d7 11.0-0-0 h5 12.¢b1 0-0-0 13.¥e2 ¢b8
14.¦hf1 ¥e7 15.¦f3 ¦dg8 16.¥f1 h4 17.a3 ¦h5!? 18.¤a4 £c7 19.£f2ƒ 20.¤c3 f5

21.e5! Assim como em Anand−Khalifman, temos aqui mais um exemplo do "prelúdio".


21...dxe5 22.¥xb5! O verdadeiro sacrifico. A torre na terceira fila agora sai a vida e terá um papel
principal no ataque. 22...axb5 [22...e4 seria refutado por 23.¥xa6! , por exemplo: ∆23...exf3
(23...¤a7 24.¦h3±) 24.¤b5 ¦xg2 (24...£d8 25.¦xd7) 25.¦xd7+−] 23.¤xb5 £b7 24.¤c5! ¥xc5
25.£xc5± As brancas tem um ataque decisivo. 25...¢a8! 26.¦b3 ¦c8™ 27.¤d6 [27.£c3!? ¤a7
28.¤d6 ¦xc3 29.¦xb7+−] 27...£a7 28.¦b6 [28.£c3!? ¦b8 29.¤b5! £b7 30.¦d6!!+− ∆ ¦c6]
28...¤e7™ 29.£b4? Este erro deixa as pretas escaparem definitivamente. [29.¤xc8 ¤xc8 30.¦b5
£xc5 31.¦xc5+−] 29...¤d5! 30.¦xd5 exd5 31.¦b7 £a4! 32.£b6 ¦h6! 33.¦xd7 £xd7 34.£a6+
¢b8 35.£b6+ ¢a8 [35...¢a8 36.£a6+= (36.¤xc8? ¦c6! 37.£a5+ ¢b8 38.¤b6 £a7 39.£xa7+
¢xa7 40.¤xd5 ¦g6-+) ] ½-½

6) Kasparov,G − Van Wely,L Wijk aan Zee, 2000:

20.¤xe6! fxe6 21.¦xe6+ ¢f7 22.£d3! ¥g7 [22...¢xe6 23.¥xd5++−] 23.£f5+ [23.¥xd5
¥xd5 24.¦e7+ ¢g8 25.£g6 ¦h7 26.¥h6+−] 23...¢g8 24.¦xd5 £xa4 [24...¥xd5 25.£xd5+−] 25.¦e7
1-0

66
7) Leko,P − Gelfand,B Dortmund, 2006: 1.e4 c5 2.¤f3 d6 3.d4 cxd4 4.¤xd4 ¤f6 5.¤c3
a6 6.f3 e6 7.¥e3 b5 8.£d2 b4 9.¤a4 ¤bd7 10.¥c4!? £c7?! 11.¥b3 ¥b7 12.c3! bxc3 13.¤xc3 ¥e7?

14.0-0? [ 14.¥xe6! É incrível que um jogador da força do Leko tenha deixado de jogar um
lance tão óbvio. Sabe−se há muito tempo que as posições resultantes, quando o branco consegue
3 peões pela peça, produzem um ataque irresistível. 14...fxe6 15.¤xe6 £c4 16.¤xg7+ ¢f7 17.b3!?
(a) 17.¤f5 ¤e5 (17...d5 18.b3 £c6 19.0-0!±) 18.¦d1! (18.0-0-0!?) 18...£e6 19.¥d4 ¥f8 20.0-0 ¦g8
21.¤e2!± ∆ ¤f4) 17...£c6 (17...£b4 18.¤f5 ¦ac8 19.¥d4±) 18.¤f5 d5 19.0-0 ¦he8 20.¦ac1 £e6
21.¥d4±] 14...0-0 15.¦ac1 £b8 16.¦c2 ¦c8 17.¦fc1 ¥d8! e as pretas chegaram a igualdade. A
partida terminou em empate mais tarde.

67
IV- DEFENDENDO E CONTRA-ATACANDO

Para jogar a Najdorf, você deve aprender a viver perigosamente. Muitos dos seus
adversários, inspirados pelas partidas de Tal, Fischer, Anand, Kasparov e companhia, tentarão
imortalizá-lo, atirarão as peças em cima do seu rei, sacrificando algumas delas ao longo do
caminho. Mas fique tranqüilo, tenho boas notícias. Nenhum deles joga como os gênios citados
acima. Portanto, a chance de sucesso desse ataque é bem menor... Ainda assim, cuidado! Para
sobreviver a esse tipo de investida, cálculo preciso é necessário. Em muitos casos, o limite entre a
vitória e a derrota encontra-se na exatidão de sua análise; se, de fato, aquele lance salvador que
você visualizou três jogadas antes funciona ou não. E, para você ter confiança no cálculo e
encontrar o caminho em uma floresta de árvores de análise cheias de ramos, é preciso muito,
muito treino. A repetição é proposital. Em todas as minhas apostilas, não me canso de estressar a
importância de praticar o cálculo. Reserve em sua programação diária ao menos uma hora para a
resolução de combinações, problemas etc. Você vai subir pontos de rating e melhorar
especialmente seus resultados nas posições mais agudas da Najdorf.
As variantes mais perigosas para as pretas, e aqui perigosas no sentido de que você
sofrerá um ataque de mate (em variantes como 6. ¥e2, o maior pesadelo é seu adversário dominar
firmemente a casa d5 e torturá-lo 80 lances, o que não é muito mais divertido que tomar mate
logo), são 6. ¥g5, 6. ¥e3 e 6. ¥c4. Especialmente na primeira destas linhas, o preto deve aprender
a não ter medo de sacrifícios. Com 6. ¥e3 e 6. ¥c4 existe também certo caráter posicional, algo
quase inexistente com 6.Bg5.
Portanto, não tenha medo de sacrifícios! Muitos dos seus pontos virão daquelas partidas
em que seu adversário fará uma combinação especulativa, pois é assim que a maioria dos
aficionados gosta de jogar, buscando a imortalidade, uma partida que ele possa mostrar aos filhos
e netos, tudo isso às suas custas. Mas ele estará errado em 99% dos casos, ainda que caberá a
você, através de sua habilidade de cálculo, provar que o xadrez é feito de algo mais profundo que
um sacrifício primitivo; que, para ganhar partidas, é preciso mergulhar de cabeça nas posições.
Prepare-se!
Apesar de todo esse belo discurso sobre a importância do cálculo e como um jogador bem
treinado vence partidas apenas com esse recurso, arrisco-me a um conselho: conheça os lances
teóricos nas variantes críticas, especialmente 6. ¥g5. Escolha uma das várias ramificações
possíveis, selecione partidas e conheça a avaliação dos especialistas. Seu poder de cálculo fará o
restante.

68
Mantenha o Sangue Frio

Enxadristas bem sucedidos têm uma incrível vontade de vencer e são emocionalmente
estáveis durante toda a partida. É quase impossível prever todas as jogadas do seu adversário.
Como você reage nos momentos em que uma jogada inesperada aparece no tabuleiro representa
uma boa parcela do seu sucesso ou infortúnio. Às vezes é difícil não ruborecer ou mostrar um
visível sinal de surpresa, mas é preciso manter os nervos no lugar e desprender seus esforços na
busca da melhor defesa. Acredite em seus recursos e lembre-se: em geral, uma defesa bem
calculada segura um ataque especulativo.
O falecido GM Lev Polugaevsky sempre foi meu ideal de jogador de Najdorf. Bem
preparado e com uma fé incrível em sua defesa predileta, ele estava acostumado a empregá-la no
que considero sua forma mais arriscada, uma variação que leva o seu nome (Defesa Polugaevsky)
e que ocorre após: 1.e4 c5 2.¤f3 d6 3.d4 cxd4 4.¤xd4 ¤f6 5.¤c3 a6 6.¥g5 e6 7.f4 b5!?

XIIIIIIIIY
9rsnlwqkvl-tr0
9+-+-+pzpp0
9p+-zppsn-+0
9+p+-+-vL-0
9-+-sNPzP-+0
9+-sN-+-+-0
9PzPP+-+PzP0
9tR-+QmKL+R0
xiiiiiiiiy
Defesa Polugaevsky

Nesta posição, “Poluga” defendeu a correção de sua idéia contra alguns dos melhores
enxadristas do mundo, com uma boa dose de sucesso. E ele não tinha medo de novidades
preparadas, sempre com a crença de que seu conhecimento da posição o ajudaria a encontrar o
caminho correto. Este processo de amor e descoberta por sua variante, assim como o árduo
trabalho analítico envolvido para descobrir novas idéias, está maravilhosamente descrito em seu
livro “Grandmaster Preparation”, um clássico que teve uma profunda influência na forma com que
vejo o xadrez. Aproveitando a brecha, ofereço uma sugestão de treinamento para aqueles que
pretendem aprimorar-se na solução de problemas quando confrontados com uma novidade na
abertura. Se você estuda xadrez com alguém, seja amigo ou treinador, escolha uma abertura, peça

69
para que ele passe uma tarde estudando-a, para isso utilizando bases de dados, livros e
programas de análise, preparando assim uma ou outra idéia para aplicar. Em seguida, joguem
algumas partidas temáticas, de preferência de 30 minutos, em que você terá de lidar com essas
desagradáveis surpresas na abertura. Crie um ambiente de torneio, uma rivalidade, assim você
estará bem preparado para quando esta situação ocorrer no "mundo real".
Voltando às partidas do Polugaevsky, acredito que seus exemplos figurem entre o melhor
disponível para os estudantes da Najdorf, principalmente no tema de defesa contra ataques de
mate. Vejamos um exemplo contra nada mais nada menos que o “Mago de Riga”, Mikhail Tal.

Tal,M − Polugaevsky,L
Alma_Ata (m/2), 1980

1.e4 c5 2.¤f3 d6 3.d4 cxd4 4.¤xd4 ¤f6 5.¤c3 a6 6.¥g5 e6 7.f4 b5 8.e5 dxe5 9.fxe5
£c7 10.¥xb5+?! Uma vez mais vemos o sacrifício em b5. Desta vez uma novidade preparada por
Tal e seus analistas, especialmente para o match contra Polugaevsky, visando demolir sua
variante predileta. Muitos estariam totalmente aterrorizados nesse momento. De pretas, tendo que
se defender contra uma novidade preparada em casa, em uma posição de cálculo, contra Tal, o
maior gênio das combinações na história do xadrez. Mas é preciso não se desesperar. Do
contrário, a partida pode ser perdida rapidamente. Mantenha o sangue−frio, respire
profundamente, acredite no seu potencial (e no da sua posição!) e comece o trabalho analítico. É
especialmente importante em situações como essa jogar os lances forçados rapidamente. Você
precisa concentrar seus esforços nos verdadeiros pontos críticos. Se começar agora a calcular
uma posição forçada daqui a três lances, o resultado será uma análise incorreta, além de um
provável apuro de tempo. Comece capturando esse bispo e veja o que o mago de Riga pretende!
Veremos agora como Polugaevsky, verdadeiro mito da Defesa Najdorf, mostrou toda sua técnica
defensiva para sobreviver ao ataque. 10...axb5 11.exf6 £e5+ 12.£e2 £xg5 13.¤dxb5.

XIIIIIIIIY
9rsnl+kvl-tr0
9+-+-+pzpp0
9-+-+pzP-+0
9+N+-+-wq-0
9-+-+-+-+0
9+-sN-+-+-0
9PzPP+Q+PzP0
9tR-+-mK-+R0
xiiiiiiiiy

70
Como jogar? Os lances das pretas após a novidade foram forçados até aqui, assim como
os das brancas. Portanto, sua primeira tarefa seria jogá−los rapidamente (após uma pausa para
acalmar−se). Agora vem o primeiro momento realmente delicado. Que lance fazer nessa posição?
13...¦a5! Um brilhante lance defensivo. As pretas minimizam os males de ¤b5−c7+, e o ataque ao
cavalo de b5 evita, por enquanto, a investida ¤c3−e4, que é fundamental para o ataque branco.
Chequei essa partida detalhadamente com programas de computador. Todos eles foram unânimes
ao considerar 13...¦a5! a melhor jogada. Os grande−mestres de outrora também eram muito
competentes... [13...¤a6? Defenderia o xeque em c7, mas as brancas conseguiriam um forte
ataque neste caso: 14.¤e4 O lance da partida evita esse recurso. 14...£e5 15.0-0-0 gxf6 16.£f3! E
as pretas têm grandes dificuldades, por exemplo: (16.¦hf1 ¢e7÷) 16...£xb5 a) 16...¥h6+ 17.¢b1
0-0 18.¤xf6+ ¢g7 19.¤g4 £f5 20.£xa8 £xg4 (20...£xb5 21.¤xh6 ¥b7 22.£a7 ¢xh6 23.£d4±)
21.¤d6±; b) 16...¦b8 17.¤xf6+ ¢e7 18.¦hf1+−; 17.¤xf6+ (17.£xf6 ¥b7!) 17...¢e7 18.¦hf1±]
14.fxg7 [14.0-0?! foi tentado em Van der Wiel,J − Van Wely,L Leeuwarden 1992. As brancas
venceram esta partida, mas apenas devido ao jogo incorreto das pretas. Ao meu ver o lance do Tal
é bem mais forte.] 14...¥xg7 Poluga tinha que escolher entre dois males. Se capturasse em g7
com a dama, então permitiria o roque grande para as brancas. No caso da captura com o bispo, as
brancas utilizam a tática para passar o cavalo de c3 para o ataque. [14...£xg7 15.0-0-0÷] 15.¤e4
£e5 [15...¦xb5? tentando aliviar a posição seria um erro, pois a posição resultante após 16.¤xg5
¦xg5 é favorável às brancas.] 16.¤bd6+ ¢e7 17.0-0 f5 [17...f6 Seria pouco incisivo. Nessas
posições de defesa é fundamental contra−atacar e não dar tempo para que o atacante melhore
suas peças. 18.¦ad1ƒ Com iniciativa.(18.£g4 seria uma opção. 18...f5 19.£g5+ ¥f6 20.¤xf6 £xf6
21.£f4 ¤c6 22.¦ad1÷) ] 18.¦ad1!

XIIIIIIIIY
9-snl+-+-tr0
9+-+-mk-vlp0
9-+-sNp+-+0
9tr-+-wqp+-0
9-+-+N+-+0
9+-+-+-+-0
9PzPP+Q+PzP0
9+-+R+RmK-0
xiiiiiiiiy
Como jogar com as pretas?

71
Tal conseguiu mobilizar todas as suas peças para o ataque. 18...¦d5! Preparando−se para
aliviar a posição com trocas e, principalmente, disputando a coluna "d", que proporciona diversos
temas para as brancas. [18...fxe4? Não merece sequer consideração durante a partida. 19.¦f7+
¢d8 20.¤c4+; 18...¤c6 19.£h5ƒ; 18...¥d7!? Essa é uma jogada interessante, que descobri nas
minhas análises. A partida então poderia terminar em uma bonita linha de empate após: 19.£h5
fxe4 20.¦f7+ ¢d8 21.¦xd7+ ¢xd7 22.£f7+ ¢d8. Incrivelmente as brancas não têm nada mais que
xeque perpétuo. 23.¤b7+ ¢c8 24.¤d6+=] 19.£c4 Outro momento importante. Acredito que aqui o
jogo das pretas poderia ser melhorado. Atenção: na era dos supercomputadores e programas de
análise, somente agora encontrei um lance superior ao jogado por Polugaevsky na partida, em
meio à grande tensão, com tempo limitado e sem qualquer computador para auxiliá−lo! 19...¦xd1
[19...¥d7? 20.£b4; 19...¥a6! seria uma defesa melhor. Mas, convenhamos, este é um típico lance
de computador, que ignora o que a "olho nu" parece devastador. 20.£b4 (20.£c7+? ¤d7 e não
haveria continuação para o ataque.; 20.¦xd5? £xd6!∓ também seria ruim para as brancas.)
20...¢d7. Vemos agora como a torre em d5 é importante! 21.c4 (21.¤c5+ ¢c6 22.¤xa6 ¤xa6∓)
21...¤c6 22.£a3 (22.£a4 ¦a5∓; 22.£b6? £d4+-+) 22...¦a5 e apesar de todos os xeques
descobertos possíveis o branco não tem uma continuação eficiente de ataque. Ainda existem
muitos recursos, mas a posição preta é vantajosa.] 20.¦xd1 fxe4 21.¤xc8+ ¢f7 22.¤d6+ ¢g6
23.¤xe4² Objetivamente a posição branca é levemente superior. Mas com jogo preciso as pretas
conseguem neutralizar essa vantagem nos próximos lances. 23...¤a6! 24.¤f2 [24.¦d6? ¤c5!]
24...¤c5 25.b4 ¤a4 26.¤g4 £f5 27.¤e3

XIIIIIIIIY
9-+-+-+-tr0
9+-+-+-vlp0
9-+-+p+k+0
9+-+-+q+-0
9nzPQ+-+-+0
9+-+-sN-+-0
9P+P+-+PzP0
9+-+R+-mK-0
xiiiiiiiiy
Jogam as pretas

27...¤b2! Recurso preparado com antecedência. Do contrário a posição preta seria


perdida. [27...£e5? 28.£g4+ ¢h6 29.¦d3‚] 28.£h4 £e5 29.£g4+ ¢h6 30.¦e1?! Otimista. As
brancas deveriam ter aceitado o empate após [30.£h4+ ¢g6 (30...£h5? 31.¤f5+!±) 31.£g4+
¢h6=] 30...¥f6 31.b5 ¦f8 32.b6? ¥g5!∓ As pretas já têm clara vantagem. 33.£g3™ £xg3 34.hxg3

72
¢g7?“ Erro gerado pelo apuro de tempo. [34...¦b8 35.¤g4+ ¢h5 36.¤e5 ¦xb6 37.¢f2 ¢h6-+]
35.¤g4 ¤c4 36.¦xe6 ¦b8 37.¦c6 ¤xb6³ As pretas simplificaram a partida e agora podem
explorar sua peça a mais. A fase técnica ainda é extremamente complicada, pois restam poucos
peões para as pretas, que apesar disso venceram na jogada 70.

Esta não foi a primeira nem a última vez que Poluga teve que demonstrar cálculo e
compreensão brilhantes para escapar em sua defesa favorita. O seguinte exemplo também é
bastante didático.

Gruenfeld,Y − Polugaevsky,L
Riga (izt), 1979

1.e4 c5 2.¤f3 d6 3.d4 cxd4 4.¤xd4 ¤f6 5.¤c3 a6 6.¥g5 e6 7.f4 b5 8.e5 dxe5 9.fxe5
£c7 10.£e2 ¤fd7 11.0-0-0 ¤c6 12.¤xc6 £xc6 13.£d3 h6! Uma novidade preparada por
Polugaevsky antes do Interzonal. Alguns detalhes desta posição foram trabalhados especialmente
para esta partida, nas análises noturnas com seu treinador, Oleg Averkin. 14.¥h4 As brancas
tinham outras duas opções de interesse: [14.¥f4 ou; 14.¥e2 hxg5!? 15.¥f3 £c7 16.¥xa8 ¤xe5©]
14...¥b7 15.¥e2 £c7 16.¦he1?! Tentando defender indiretamente o § de e5. Esse lance não me
parece bom, pois só é útil no improvável caso em que as pretas se arrisquem a capturar o peão de
e5. Um ataque direto ao ponto f7 parecia mais interessante. Uma continuação possível seria
[16.¥h5 ¤xe5 17.£h3 ¥e7 18.£xe6 g6 19.£xe7+ £xe7 20.¥xe7 ¢xe7 21.¦he1 f6 22.¥xg6 ¥xg2
23.¥e4 ¥xe4 24.¦xe4 ¦ad8, com igualdade no final.] 16...¤c5 Capturar o peão de e5 apenas
justificaria a jogada anterior das brancas, por exemplo: [16...b4 17.¤e4 ¤xe5 18.£d4© com boa
compensação.; 16...¤xe5? seria bem pior. 17.£d4! Mais preciso que (17.£g3 g5 18.¥xb5+ axb5
19.¤xb5 £b8 20.¦xe5 ¥e7) 17...¥c5 (17...¥e7 18.¥g3 ¥f6 19.¥h5+−) 18.¤xb5! axb5 19.£xe5
£xe5 20.¥xb5+ ¢f8 21.¦xe5 com grande vantagem branca.] 17.£h3 b4?! Um pouco otimista. As
pretas se lançam em uma longa variante forçada, mas não havia necessidade de forçar as ações.
Mais prudente seria [17...¦c8! e as pretas teriam vantagem, pois seu contra−ataque está armado e
seu rei está relativamente seguro.] 18.¤b5! Naturalmente. Como já disse várias vezes nessa
apostila, é preciso agir com coragem na Najdorf. Claro que esse lance não foi uma surpresa para
Polugaevsky, que havia preparado seu contragolpe com antecedência. 18...axb5 [18...£a5 seria
uma alternativa interessante, ameaçando capturar em b5 ou em a2. Entretanto, as brancas teriam
uma resposta brilhante: 19.a4!! e incrivelmente nenhuma das peças brancas pode ser capturada.
Uma variante ilustrativa é: 19...¤xa4?? 20.£xe6+ fxe6 21.¥h5+ g6 22.¥xg6#] 19.¥xb5+ ¥c6
20.£f3! Esta era a posição visualizada pelo branco após seu sacrifício no lance 18. Aparentemente
as pretas não têm defesa. Suponha que você não tenha visto este recurso para as brancas. Como
proceder? Primeiro acalme−se. Gaste alguns minutos regulando sua respiração e preparando−se
para o trabalho de análise. Em seguida, quando o choque inicial houver passado, trate de

73
concentrar todos os seus esforços na busca da defesa. Ás vezes ela não existirá, mas isso faz
parte do xadrez. Ao menos você tentou o seu melhor, aprenda a lição com a derrota e da próxima
vez tente visualizar os recursos adversários. Mas muitas vezes ainda haverá esperança. Nesses
casos é fundamental não se desesperar e colocar toda a dificuldade possível para seu oponente.

XIIIIIIIIY
9r+-+kvl-tr0
9+-wq-+pzp-0
9-+l+p+-zp0
9+Lsn-zP-+-0
9-zp-+-+-vL0
9+-+-+Q+-0
9PzPP+-+PzP0
9+-mKRtR-+-0
xiiiiiiiiy
Como jogar com as pretas?

20...¤b3+!! Esta brilhante jogada havia sido preparada pelas pretas ao jogarem 17...b4.
Apenas um jogador muito bem treinado no cálculo poderia visualizar uma jogada como essa de
antemão! Agora a bola está na quadra das brancas... Como reagir? 21.¢b1? Imediatamente
Gruenfeld comete um erro decisivo. Era preciso ver que após o lance do texto as brancas não têm
qualquer compensação pela peça, utilizando o método da exclusão para escolher a única
alternativa possível: 21.axb3!. Após essa jogada, interessantes complicações surgiriam. Os lances
iniciais são forçados. 21...¦a1+ 22.¢d2 £d7+ 23.¢e3 ¥c5+ 24.¢f4 g5+ 25.¢g3 (25.¥xg5 Não
levaria a qualquer vantagem branca. 25...hxg5+ 26.¢g3 ¦xd1 27.£xc6 0-0! (27...£xc6?! 28.¥xc6+
¦d7 29.¦d1) 28.£xd7 ¦xe1„ E as pretas têm bom contra−jogo.) 25...¦xd1! Preciso. Agora as
brancas devem escolher entre as duas capturas possíveis em c6. (25...gxh4+? seria um grave erro.
26.¢h3! ¦xd1 27.¥xc6 ¦xe1 28.¥xd7+ ¢f8 (28...¢xd7 29.£b7++−) 29.£f6 ¦h7 30.£d8+ (30.¥xe6)
30...¢g7 31.£c7+−) 26.¥xc6 (26.¦xd1? gxh4+ 27.¢h3 ¥xf3 28.¦xd7 ¥e2! 29.¦b7+ ¥xb5 30.¦b8+
¢e7 31.¦xh8 ¥d4∓; 26.£xc6 ¦d3+! 27.cxd3 gxh4+ 28.¢xh4 £xc6 29.¥xc6+ ¢e7² As brancas
teriam dois peões a mais, mas com a estrutura de peões arruinada e bispos de cores opostas no
tabuleiro, o preto não teria dificuldades para empatar.) 26...¦xe1 27.¥xd7+ ¢f8 28.£f6! ¦e3+
29.¢g4 ¦e4+! (29...h5+? 30.¢xg5! ¥e7 31.¢f4!±) 30.¢h3 ¦xh4+ 31.¢g3 ¦h7 Polugaevsky em
suas análises considera essa posição como empate, mas ao meu ver as brancas ainda poderiam
lutar. 32.£d8+ (32.¥xe6 ¦f4 33.£d8+ ¢g7 34.¢h3! (34.¥g4? ¦h8 35.£c7 ¥f2+ 36.¢h3 h5-+)
34...¦h4+ 35.¢g3 ¦f4=) 32...¢g7 33.£c7! ¥g1 34.¥xe6 ¦f4 (34...¥xh2+?! 35.¢f3 ¦f4+ 36.¢e2±)

74
35.h4 ¦h8 com uma posição extremamente complicada e difícil de avaliar.(35...¥f2+?! 36.¢h2
¦xh4+ 37.¥h3+−) ] 21...¤a5-+ Agora o cavalo volta à defesa e as brancas não têm mais ataque.
22.¦d4 ¦c8 [22...¥c5 seria suficiente. 23.¦c4 £b6 24.¥xc6+ ¤xc6-+] 23.¦ed1 g5 24.¥xc6+
[24.¦d7 £xd7 25.¦xd7 ¥xf3 26.¦c7+ ¥c6-+] 24...£xc6 25.£d3 ¥e7 26.¥e1 0-0 27.¥xb4 ¥xb4
28.¦xb4 ¤c4 29.b3 ¤xe5-+ E as pretas obtiveram uma posição ganha. O arremate não foi tão
preciso, principalmente devido ao apuro de tempo, mas nada que impedisse a partida de terminar
com o resultado normal. A continuação foi: 30.£e2 £c3 31.¦e4 ¤c6 32.¦d3 £a5 33.¦h3 ¤b4
34.c4 ¦fd8 35.a4 £f5 36.¦f3 £g6 37.¢b2 £g7+ 38.¢b1 ¦c6 [38...¦c7! ∆ ¦cd7] 39.c5 ¤d5
40.¦c4 ¤f4 41.£b2 ¦d1+ [41...£xb2+ 42.¢xb2 ¤d3+] 42.¢a2 £f8! 43.¦fc3 £d8 44.¦c2 ¤d3
45.£c3 £d5 46.¢a3 ¤e5 47.¦b4 ¦d3 48.¦b8+ ¢g7 49.£b4 ¦d1 50.¢a2 ¦a6! 51.¦b6 ¦d4!
52.£xd4 £xd4 53.¦xa6 £d3 0-1

Como vimos, é muito importante respirar fundo e concentrar-se para encontrar recursos e
defender esses ataques. Em minha carreira passei por muitas situações como essa, em geral com
sucesso. Nada comparado à classe de Polugaevsky, isso está bem claro, mas ainda assim
recolhendo alguns pontinhos...

Lino,B - Leitão,R
Ribeirão Preto, 2002

1.e4 c5 2.¤f3 d6 3.d4 cxd4 4.¤xd4 ¤f6 5.¤c3 a6 6.¥g5 e6 7.f4 £c7 Uma das minhas
sub−variantes prediletas. A única coisa que não gosto no lance do texto é que ele permite a
captura em f6. 8.£f3 Felizmente meu adversário opta por uma continuação mais agressiva. 8...b5
9.0-0-0 b4 10.¤ce2?! Um lance que vai contra o espírito da Najdorf. O primeiro que retrocede
geralmente cai em inferioridade. Para o branco, é preciso sacrificar. Se os sacrifícios teóricos aqui
possíveis não funcionarem, então ouso dizer que não há vantagem para as brancas nesse
sistema. As opções são 10.¤d5 ou 10.e5, ainda que atualmente a teoria considere as
complicações satisfatórias para as pretas. 10...¤bd7 11.g4 ¥b7 12.¥xf6 ¤xf6 13.¤g3 ¥e7?!
Impreciso. Não era necessário desenvolver o bispo imediatamente, já que ele também pode ser
fianquetado. De fato, [13...¦c8 14.¥d3 g6!?³ é uma continuação comum, que já foi jogada em
algumas partidas importantes, sempre com bons resultados para as pretas. A última foi Naiditsch,A
− Vachier Lagrave,M Moscou 2006, que terminou com a vitória preta.] 14.g5 ¤d7 15.f5!? Meu
jovem adversário escolhe a continuação mais agressiva possível. [15.h4; 15.¢b1] 15...¥xg5+ É
preciso aceitar a oferta. [15...e5? Seria um erro. 16.f6! exd4 17.fxe7 ¤e5 18.£f2 Com a iniciativa. A
partida poderia seguir: 18...£xe7 (18...g6 19.£f6 ¦g8 20.¦xd4 ¦c8 21.¦d2 (21.£f2? £c5!)
21...£xe7 22.¦xd6±) 19.¤f5 £xg5+ 20.¢b1 £f6 21.£xd4 0-0 22.¦g1 g6 23.£xb4 ¥c6 24.¦xd6
¦fd8! 25.¥e2 ¦xd6 26.£xd6 £xd6 27.¤xd6±] 16.¢b1

75
XIIIIIIIIY
9r+-+k+-tr0
9+lwqn+pzpp0
9p+-zpp+-+0
9+-+-+Pvl-0
9-zp-sNP+-+0
9+-+-+QsN-0
9PzPP+-+-zP0
9+K+R+L+R0
xiiiiiiiiy
Jogam as pretas

O primeiro momento crítico da partida. 16...exf5?! Um erro. Os cavalos brancos tornam−se


ameaçadores. [16...e5 é a continuação de computador. Recusei essa posição pois a seguinte
variante não me parecia clara: 17.¤e6! fxe6 18.£h5+ g6 19.£xg5 (19.fxg6 não assusta. As pretas
têm vantagem após 19...0-0-0³) 19...exf5 20.exf5 ¥xh1 21.fxg6 A máquina considera esta posição
vantajosa para as pretas, mas ainda assim não tive coragem de jogá−la. Meu rei me parecia muito
exposto. Talvez objetivamente a posição seja superior para as pretas, mas o branco tem chances
práticas consideráveis. Deixo para o leitor diligente o trabalho de análise nessa posição.; 16...0-0
seria a opção mais sólida. A defesa preta baseia−se nas casa pretas e no cavalo bem plantado em
e5. É difícil de imaginar que o branco possa criar qualquer ameaça. 17.fxe6 ¤e5„] 17.£h5?! À
primeira vista este lance é demolidor, mas na verdade ele é errôneo. Gastei bastante tempo para
analisar o que aconteceria após a normal captura em f5 com o cavalo. Confesso que nem imaginei
o lance do texto. Que fazer? Durante os primeiros minutos não consegui calcular qualquer variante.
Então tratei de me acalmar e procurar os recursos defensivos, até que finalmente encontrei a
solução. [17.¤dxf5. Haveria um equilíbrio dinâmico nesse caso. Os recursos defensivos pretos
seriam suficientes para garantir a igualdade. 17...0-0 18.¤h5 g6 19.h4 ¥d8 (19...¤e5?? Sempre
esteja atento aos recursos do adversário! 20.hxg5! ¤xf3 21.¤f6+ ¢h8 22.¦xh7#) 20.£f4ƒ com
posição bastante complicada.(20.¤xd6 ¥e7³; 20.¤h6+ ¢h8 21.¤xf7+ ¢g8 22.¤h6+=) ] 17...¥f6™
Forçado, mas é preciso prever a próxima jogada branca... 18.¤e6? ...que é um erro fatal. Meu
adversário não resistiu à tentação, mas esse pulo de cavalo perde uma peça. [18.¤dxf5. Essa
captura era necessária. 18...0-0³ com vantagem preta.(18...g6?!. Aparentemente esse lance
ganha, mas as brancas têm um surpreendente recurso. 19.¤xd6+ £xd6 20.¦xd6 gxh5 21.¥h3!
garantindo a igualdade.) ; 18.¤gxf5? g6] 18...£b6 19.¤xf5 g6-+ Meu adversário omitiu o fato de
que, apesar de toda a imponência dos seus cavalos, não existe uma forma de continuar o ataque.

76
20.¤eg7+ ¢d8 21.£h6 gxf5 22.¤xf5 ¥e5 23.¤xd6 ¢c7

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9r+-+-+-tr0
9+lmkn+p+p0
9pwq-sN-+-wQ0
9+-+-vl-+-0
9-zp-+P+-+0
9+-+-+-+-0
9PzPP+-+-zP0
9+K+R+L+R0
xiiiiiiiiy
Jogam as brancas

24.¤e8+!? Uma jogada criativa que é a última chance das brancas. Felizmente eu já tinha
visto uma defesa. 24...¢b8! [24...¦hxe8?? 25.¦xd7+ ¢xd7 26.£xb6+−] 0-1

Também já defendi o ponto de vista das brancas em algumas partidas importantes. O


seguinte exemplo, contra uma lenda viva do xadrez brasileiro, é um caso em que ataque e defesa
equipararam-se até o final.

Leitão,R − Mecking,H
Sao Paulo, 2003

1.e4 c5 2.¤f3 d6 3.d4 cxd4 4.¤xd4 ¤f6 5.¤c3 a6 6.¥e3 e5 7.¤b3 ¥e6 8.f3 ¤bd7 9.g4
b5 10.g5 b4 11.¤e2 ¤h5 12.£d2 a5 13.¤g3 ¤xg3 14.hxg3 a4 15.¤c1 £a5 16.¤d3 d5 17.exd5
£xd5 18.¥g2 £b5 19.f4!? Uma novidade que eu havia preparado no ano anterior, tentando
melhorar em relação à partida Anand − Kasparov, Linares 2002, que havia seguido com 19.¥h3.
19...¦d8!? [19...¦c8 seria mais normal e foi tentado na primeira partida em que experimentei 19.f4.
Após 20.0-0 ¥e7 21.f5 ¥c4 22.b3 axb3 23.axb3 ¥xd3 24.£xd3 £xd3 25.cxd3 consegui uma
pequena vantagem no final. Leitão,R − Chumfwa,S Bled (ol) 2002.] 20.¥e4 g6! Evitando f4−f5.
[20...¤c5 seria a opção, mas prefiro as brancas após 21.¥xc5 ¥xc5 22.£g2! £c4 23.f5 ¥d5 24.¦h4
¥d4 25.¦d1 ainda que a posição seja confusa.] 21.£g2 A bateria ¥e4−£g2 é um plano presente
em diversas variantes dessa posição, revelando um pequeno defeito da torre em d8. 21...¦c8
22.0−0

77
XIIIIIIIIY
9-+r+kvl-tr0
9+-+n+p+p0
9-+-+l+p+0
9+q+-zp-zP-0
9pzp-+LzP-+0
9+-+NvL-zP-0
9PzPP+-+Q+0
9tR-+-+RmK-0
xiiiiiiiiy
Qual o melhor lance para as pretas?

22...¥g7?! [22...h6! Não vejo uma maneira de continuar o ataque após essa ótima jogada.
A posição varia entre a igualdade e uma leve vantagem preta. 23.fxe5 (23.gxh6?! f5!∓; 23.f5 gxf5
24.¥xf5 ¥xf5 25.¦xf5 hxg5„; 23.¤xe5 ¤xe5 24.fxe5 hxg5³) 23...hxg5³] 23.f5 gxf5 24.¦xf5!
Quando analisei a posição e preparei minha novidade, estudei diversas variantes em que este
sacrifício era a forma correta de atacar. Veja a importância de analisar posições
independentemente. Alguns temas serão mais claros para você do que para seu adversário. Não
tive qualquer dificuldade em efetuar a jogada do texto, que é a melhor continuação de ataque.
Após 24.¥xf5 ¥xf5 25.¦xf5 0-0 as pretas não teriam problemas. 24...h6! Méritos para Mequinho,
que encarando uma posição complexa e desconhecida, encontra a melhor jogada de defesa.
[24...¥xf5 25.¥xf5 e as brancas teriam excelente compensação, pois o rei preto não tem onde
esconder−se.] 25.g6! Temático. O rei preto ficará exposto de todas as formas. 25...¥xf5 25...fxg6
seria suicida e nem vale a pena analisar. Ao custo de apenas um peão as brancas teriam um
poderoso ataque. Se as pretas devem sofrer então que seja ao menos com uma qualidade a mais!
26.gxf7+ ¢xf7 27.¥xf5 As brancas tinham duas outras possibilidades de interesse, 27.¦f1 e
27.£f3. [27.¦f1 ¦hf8 (27...¢e7 28.¥xf5©) 28.¥xf5 (28.¦xf5+ ¢g8÷) 28...¢g8 29.£h3 (29.¥e6+
¢h8 30.¦xf8+ ¦xf8 31.£h3 ¤f6 32.¥xh6 ¥xh6 33.£xh6+ ¤h7 34.£e3 ¦f6³; 29.g4!?) 29...¦c7
(29...¦xc2 30.¤xb4!) 30.¥e6+ (30.¥xh6?? £b6+) 30...¢h7 31.¥f5+=; 27.£f3!? ¦hf8 (27...¤f6
28.£xf5 ¦he8 29.£g6+ ¢g8 30.¦f1 ¦f8 31.¥xh6±) 28.£xf5+ ¢e7÷] 27...¤f6!? Um método
defensivo típico é devolver o material a mais para reduzir o potencial do ataque. 27...¦c7 seria
possível. Em geral as posições conservam um equilíbrio dinâmico e não é de surpreender que a
grande maioria das variantes termina em igualdade. [27...¦c7. Uma seqüência interessante seria:
28.£e4 (28.¥d2 ¤f6 29.¤xb4 ¦d8„; 28.¦f1 poderia transpor para a partida.) 28...¦c4 29.£f3 ¤f6
(29...¢e7 30.b3!?©) 30.¥d7 £d5 31.£f5 ¢e7 (31...¦e4? 32.¤c5) 32.¥xa4 ¦g4 33.¥c5+ ¢d8

78
34.¥b6+ (34.£xe5 £xe5 35.¤xe5 ¦xg3+ 36.¢h2 ¤e4! 37.¤f7+ ¢c7 38.¤xh8 ¥xh8 39.¦e1 ¦g4
(39...¤xc5 40.¢xg3 ¤xa4 41.¦e4=) 40.¥e3=) 34...¢e7 com xeque perpétuo.] 28.¦f1!? Recusei a
oferta do meu adversário, pois queria conservar o bispo e criar um ataque pelas casas brancas. A
partida terminaria em empate após [28.¥xc8 ¦xc8 29.¦f1 , de duas formas diferentes: 29...b3
(29...¢g8 30.£h3 (30.¥xh6? £b6+) 30...¦xc2 31.£e6+ ¢h7 32.£f5+= (32.¤xe5 £e2 33.£f5+=) )
30.axb3 axb3 31.£e4 bxc2 32.¤xe5+ ¢g8 33.¦xf6! c1£+ 34.¥xc1 ¦xc1+ 35.¢g2 £xb2+ 36.¢h3
¥xf6 37.£g6+=] 28...¦c7

XIIIIIIIIY
9-+-+-+-tr0
9+-tr-+kvl-0
9-+-+-sn-zp0
9+q+-zpL+-0
9pzp-+-+-+0
9+-+NvL-zP-0
9PzPP+-+Q+0
9+-+-+RmK-0
xiiiiiiiiy
Como você jogaria de brancas?

29.g4! É preciso levar mais peças ao ataque. O lance da partida dá vida à dama branca,
que até então não participava da batalha. 29...¦e8 30.g5 hxg5 31.£xg5 ¢g8 32.¦f2!© Tenho boa
compensação. Minha idéia é passar a torre para g2 e então tentar reforçar o ataque de alguma
forma. Em termos práticos minha posição é mais fácil de jogar, mas objetivamente as pretas não
podem ter desvantagem, afinal uma qualidade é uma qualidade. Tudo somado e subtraído,
igualdade é a avaliação correta. 32...b3 Observe como Mequinho em nenhum momento joga a
posição de forma passiva. Para defender−se é preciso contra−atacar! 33.axb3 axb3 34.¦g2 £d5!
Utilizando um recurso tático para defender a ameaça 35.£xf6. [34...¤d5? Seria um grave erro.
35.c4! £xc4 36.£g6‚] 35.cxb3 As brancas tinham alternativas interessantes. Vale notar que em
todas as linhas aparece uma variante de empate, mostrando como posições com desequilíbrio
material podem ser niveladas! [35.¤c5 £d1+ 36.¢h2 £h5+ (36...bxc2 37.£xf6 (37.¥xc2 £h5+
38.£xh5 ¤xh5 39.¥g6=) 37...£h5+ 38.¢g1 ¢h8 39.£g6 £xg6 40.¥xg6 ¦xc5 41.¥xe8 c1£+
42.¥xc1 ¦xc1+=) 37.£xh5 ¤xh5 38.¥g6 ¤f4 (38...bxc2=) 39.¥xf4 exf4 40.¥xe8 ¦xc5=; 35.£xf6??
£xg2+-+; 35.c4!? £f3 36.¤c5 (36.¤f2!? Esta seria a posição mais complicada possível. Não sei
bem como avaliar, mas suponho que também haja equilíbrio por aqui. 36...£c6÷) 36...£d1+
37.¢h2 £h5+ 38.£xh5 ¤xh5 39.¥g6=] 35...¦ee7 36.¤f2 [36.b4 ¤e4 37.£h4 £xd3 38.£xe4=]

79
36...¦a7?! O primeiro erro por parte das pretas. O lance correto levava ao empate. Com o material
igual as brancas podem conservar a iniciativa. [36...£xb3 37.£xf6 £xe3 38.¥e6+ ¦xe6 39.£xe6+
¦f7 40.£e8+ ¦f8=] 37.¥xa7 ¦xa7 38.¤g4?! Retribuindo o erro. As brancas tinham duas opções
para continuar o ataque, com vantagem em ambos os casos. Após o lance do texto ocorrem trocas
generalizadas, levando a um final de empate morto. [38.£c1!²; 38.¦g3!?] 38...£d4+ 39.¢h2
¤xg4+ 40.¥xg4 £f4+ 41.£xf4 exf4 42.¦d2 Uma partida muito bem jogada de ataque e contra−
ataque. ½-½

Pense em Lances Candidatos

Não me canso de reiterar a importância do uso de lances candidatos para obter uma
análise precisa. O tema merece destaque especial em minha apostila sobre cálculo. Volto a
comentá-lo aqui, adicionando alguns exemplos desta abertura, especialmente para os leitores que
ainda não estudaram o material específico para cálculo.
É muito importante antes de aprofundar no cálculo de variantes formular uma lista dos
lances candidatos e ir repetindo este processo, tanto para suas opções quanto para as do
adversário. Utilizando este método, muitas vezes você encontrará recursos que estavam
escondidos, surpreendendo seu oponente ou defendendo-se contra suas ameaças. Especialmente
em algumas posições complicadas da Najdorf, que demandam muita imaginação e organização no
cálculo, o uso dos lances candidatos é de extrema importância. Nestas posições, para obter
sucesso você precisará ver um lance a mais ou um lance diferente do que o adversário calculou.
Utilizando os lances candidatos disciplinadamente, você conseguirá isso com mais facilidade.
Entretanto, antes de utilizar este método durante uma partida, você deverá praticá-lo bastante em
seu treinamento caseiro. Tratamos aqui de uma mudança de atitude mental, algo que leva um
certo tempo, além de muita prática. Portanto, reserve duas semanas de treinamento específico
para a aplicação dos Lances Candidatos. Ao final deste período, você será capaz de organizar o
cálculo de forma quase automática.
Vejamos, então, um brilhante exemplo de ataque, contra-ataque e cálculo preciso. Nos
exercícios sugeridos, tente organizar seu cálculo conforme a sugestão acima, não se esquecendo
dos lances candidatos.

Short,N − Kasparov,G
Novgorod ,1997

1.e4 c5 2.¤f3 d6 3.d4 cxd4 4.¤xd4 ¤f6 5.¤c3 a6 6.¥c4 Este sistema para enfrentar a
Najdorf foi a principal arma de Nigel Short em seu match pelo campeonato mundial da PCA,

80
disputado contra o próprio Kasparov. 6...e6 7.0-0 ¥e7 8.¥b3 0-0 9.f4 b5 10.e5 dxe5 11.fxe5 ¤fd7
[Outro lance teórico é 11...¥c5 ] 12.¥e3 [12.£h5] 12...¤xe5 13.£h5 ¤bc6 [13...¤c4÷] 14.¤xc6
¤xc6 15.¦f3 b4 Certamente ambos os jogadores conheciam muito bem esta posição. As outras
opções seriam [15...g6?!; 15...£d6] 16.¦h3 h6 17.¦d1?! As brancas tinham duas outras
continuações. 17.¤e4 levaria a uma posição muito confusa, mas acredito que 17.¥xh6! seria o
lance correto, garantindo vantagem às brancas. [17.¥xh6! g6 (17...gxh6?

XIIIIIIIIY
9r+lwq-trk+0
9+-+-vlp+-0
9p+n+p+-zp0
9+-+-+-+Q0
9-zp-+-+-+0
9+LsN-+-+R0
9PzPP+-+PzP0
9tR-+-+-mK-0
xiiiiiiiiy
Qual o melhor lance para as brancas?

18.¦d1!! Lances candidatos! À primeira vista 18.£xh6 é automático, mas nesse caso a
dama preta auxilia na defesa. Com o uso disciplinado dos lances candidatos é possível encontrar a
melhor jogada branca. (18.£xh6 £d4+ 19.¢h1 £g7 20.¦g3 £xg3 21.hxg3 bxc3÷; 18.¤e4?!
Durante um treinamento ministrado em fevereiro de 2007 para alguns talentosos enxadristas, este
lance foi sugerido, e também nos pareceu muito forte. Entretanto, mais uma vez podemos ver a
importância dos lances candidatos. 18...£d4+ 19.¢h1 £h8!! Um lance incrível que escapou das
nossas análises. Agora as pretas têm boas chances de defesa.(19...£xe4? perderia para
20.£xh6+−)) 18...£b6+ 19.¢h1. Agora a dama preta fica afastada da defesa. 19...¥g5 20.¤e4
com um ataque decisivo.) 18.£f3 bxc3 19.£xc6 cxb2 20.¦f1! ¥d7 21.£c3 ¥f6 22.¦xf6 b1£+ 23.¦f1
£b6+ 24.¦e3 £xf1+ 25.¢xf1 f6. As pretas não estão perdidas, mas está claro que sua posição é
difícil. As brancas podem recapturar o material sacrificado e continuar seu ataque sem risco.
26.¥xf8 ¦xf8 27.£d3 com vantagem; 17.¦g3? bxc3 18.¦xg7+ ¢xg7 19.¥xh6+ ¢g8! 20.£g4+ ¥g5
21.¥xg5 £d4+-+; 17.¤e4 seria interessante e daria compensação após 17...£a5 18.¤c5©]
17...£a5 18.¤d5! É preciso evitar a troca de damas de qualquer maneira. 18...exd5 19.¦g3 [ Se
19.¦xd5 as pretas poderiam escolher uma linha de empate ou tentar forçar a partida. 19...¥xh3!?
(19...£c7 20.¥xh6 (20.¦g3 ¥f6 21.¥xh6 ¤e7) 20...¥xh3 21.¥xg7! ¢xg7 22.¦g5+=) 20.¦xa5 ¤xa5

81
21.£xa5 ¥e6= /³] Após o lance do texto as pretas têm uma decisão critica. O ataque branco é
extremamente perigoso. O fato de a posição ser bem matemática reduz a lista dos lances
candidatos disponíveis.

9r+l+-trk+0
9+-+-vlpzp-0
9p+n+-+-zp0
9wq-+p+-+Q0
9-zp-+-+-+0
9+L+-vL-tR-0
9PzPP+-+PzP0
9+-+R+-mK-0
xiiiiiiiiy
Qual o melhor lance para as pretas?

19...d4?! Quando defendemos essas posições, geralmente faz sentido começar a análise
pelos lances mais concretos, que forcem trocas ou definições. Kasparov acaba decidindo−se por
uma dessas opções. Ele omitiu uma defesa melhor, que lhe daria vantagem. Lembremos,
entretanto, que em 97 ainda não se usava tanto os programas de análise. Supondo que a posição
ainda fosse conhecida por Kasparov (uma suposição bastante lógica). Iso pode explicar o erro em
suas análises caseiras. [19...¥g5 seria outra jogada bem concreta. A partida terminaria em empate.
20.¥xg5 hxg5 21.£xg5 g6 22.£f6 a) 22.¥xd5? ¥e6!; b) 22.¦xd5? £b6+ 23.¦c5 ¤d4 (23...¢g7!?
24.¥xf7 ¤e7!∓) 24.£xg6+ £xg6 25.¦xg6+ ¢h7∓; 22...£c5+ 23.¢h1 ¤e7 24.¦xd5! ¤xd5
25.¦xg6+=; 19...¥f6! Esta é a resposta correta para a pergunta do diagrama. Com este lance as
pretas defenderiam o ataque e conservariam sua vantagem material. Claro, para fazer um lance
calmo como esse em meio a esse ataque, é preciso muito sangue−frio e de preferência um bom
computador... 20.¦xd5 a) 20.¥xd5 ¥e6 (20...£c7 Também é possível. 21.¥xh6 (21.£xh6? £xg3)
21...¤e7!? (21...¥e6 22.¥xg7 ¥xg7 23.¦xg7+ ¢xg7 24.£g5+=) 22.¥xa8 ¤f5!„) 21.£xh6 a1)
21.£f3 ¥e5! 22.¥xc6 ¦ad8-+; a2) 21.¥xh6 ¦fd8-+ (21...¤e7-+) ; 21...¥e5! 22.¥e4 (22.¥xe6 ¥xg3-
+) 22...¦fd8! 23.£h7+ ¢f8-+; b) 20.£xh6 £c7!-+ ∆21.£xf6 £xg3; c) 20.¥xh6 ¤e7-+; 20...£c7
21.¥xh6 (21.£xh6?? £xg3) 21...¤e7 E as pretas defendem, por exemplo. (21...£e7) 22.¥xg7
£b6+ 23.¢h1 ¥xg7 24.¦dg5 ¤f5 25.¦h3 (25.¦xg7+ ¤xg7 26.£g5 £d4™-+ Único e bom.) 25...£h6
26.£xh6 ¤xh6 27.¦xh6 ¦e8-+] 20.¥d5 Outro momento importante. As brancas tinham duas
continuações de interesse: [20.£xh6 £e5 21.¥f4 £f6 22.¦g6 ¥e6 23.¥xe6 (23.¦xf6? gxh6-+)
23...fxe6 24.¦d3! a) 24.¦f1 e5 25.¦xf6 (25.£h5 £f7-+) 25...gxh6-+; b) 24.¥g3 £f7-+; 24...¤e5

82
25.¦xg7+ £xg7 26.¦g3 £xg3 27.£xe6+ ¤f7 28.¥xg3 ¦fe8, com pequena vantagem preta.
20.¦xg7+!? forçaria as pretas a encontrar uma defesa forçada. 20...¢xg7 21.¥xh6+ (21.£xh6+
¢g8 22.£g6+=) 21...¢h7 22.¥d5?! Criando ameaças de mate e recusando o empate.

XIIIIIIIIY
9r+l+-tr-+0
9+-+-vlp+k0
9p+n+-+-vL0
9wq-+L+-+Q0
9-zp-zp-+-+0
9+-+-+-+-0
9PzPP+-+PzP0
9+-+R+-mK-0
xiiiiiiiiy
Como você defenderia?

22...£xd5! Um tema muito importante no cálculo de variantes (derivado dos lances


candidatos) é o "método da eliminação". Trata−se do seguinte: primeiro escolhemos corretamente
a lista dos lances candidatos (algo que não é difícil em uma posição cheia de ameaças como
essa). Depois, ao começarmos a análise de cada lance, vamos descartando aqueles em que
vemos alguma refutação. Se ao final desse processo sobrar apenas um lance que não é refutado
imediatamente, então devemos escolhê−lo, sem necessidade de aprofundarmos mais. No xadrez
moderno é extremamente importante ser prático e saber economizar tempo e energia. Vejamos
como esse trabalho funciona na posição do diagrama. Quais os lances candidatos para as pretas?
22...£xd5 (típico método defensivo, devolvendo parte do material) ou 22...¥g4. 22...¥e6 é
analisado aqui mais por motivos "científicos", pois durante a partida você nem precisa considerá−
lo. Se sua análise foi perfeita, você concluiu que 22...¥g4 levaria a um ataque muito perigoso para
as brancas, enquanto 22...£xd5 acaba com o ataque e leva a uma posição sem riscos. a)
22...¥g4?! 23.£xg4 ¢xh6 24.¦d3 A posição é assustadora, mas as pretas ainda têm recursos.
24...¥g5™ 25.¦h3+ ¢g6 26.£h5+ ¢f6 27.¦f3+ ¢e7 28.£xg5+ f6 29.£f5 com forte ataque. Uma
continuação possível seria: 29...¢d8 30.£e6 £c5 31.¥xc6 ¦a7 32.¦f5 ¦e7 33.¦d5+ ¢c7 34.£f5!
£xc6 35.¦c5 com clara vantagem.; b) 22...¥e6? 23.¥f4+ ¢g7 (23...¢g8 24.¦d3+−) 24.£h6+ ¢g8
25.¦d3+−; 23.£xd5 ¢xh6 24.£xc6+ ¥e6 e as pretas têm vantagem. Após o lance da partida,
20.¥d5, novamente as pretas precisam defender com maestria.

83
XIIIIIIIIY
9r+l+-trk+0
9+-+-vlpzp-0
9p+n+-+-zp0
9wq-+L+-+Q0
9-zp-zp-+-+0
9+-+-vL-tR-0
9PzPP+-+PzP0
9+-+R+-mK-0
xiiiiiiiiy
Analise esta posição e conclua como a partida deve proceder

20...¥g5! Uma excelente jogada defensiva. A dama em a5, aparentemente longe da luta,
tem importância fundamental na defesa! Havia uma forma mais complicada de empatar: [20...dxe3
21.£xh6 g5!! Este lance pode ser descoberto pelo método da eliminação. As brancas não têm
nada melhor que o empate. 22.£g6+=] 21.¥xg5! Por sua vez Short encontra uma bonita
seqüência, que conclui essa magnífica partida com um resultado justo. 21...£xd5 22.¥f6 £xh5
23.¦xg7+ ¢h8 24.¦g6+ ¢h7 25.¦g7+ ½-½

Espero que o leitor não tenha fundido a cuca após tantos exercícios de análise!

Exercícios

Agora ofereço ao leitor alguns exercícios de cálculo extraídos de posições da Najdorf. É o


momento de praticar o cálculo organizado e utilizar os lances candidatos. Mas não se limite apenas
a esta pequena coleção de exemplos. Treine o cálculo diariamente e você não tardará a colher os
frutos deste trabalho.

84
1

XIIIIIIIIY
9rsn-+-mk-tr0
9+l+n+-+-0
9p+-+p+Lvl0
9+p+-wq-wQp0
9-+-+-+-vL0
9+-sN-+-+-0
9PzPP+-+PzP0
9+-mKR+R+-0
xiiiiiiiiy
Jogam as pretas

2
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9-snl+-trk+0
9tr-wq-+p+p0
9p+-+-wQp+0
9+pvlNzp-+L0
9-+-+-+-+0
9+-+-+-+-0
9PzPPsN-+PzP0
9+-mKR+R+-0
xiiiiiiiiy
Jogam as pretas

85
3

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9r+-+kvlr+0
9+l+n+p+-0
9pwq-+N+-+0
9+p+-sn-zpL0
9-+-+-+-+0
9+-sN-+-+Q0
9PzPP+-+PzP0
9+-mKRtR-+-0
xiiiiiiiiy
Jogam as pretas

4
XIIIIIIIIY
9r+-+-mk-tr0
9+l+Rvl-sN-0
9pwq-+-snpzp0
9+-+-+-+-0
9-zp-+-wQP+0
9+-+-+P+-0
9PzPP+-+-zP0
9+K+-tR-+-0
xiiiiiiiiy
Jogam as pretas

86
5

XIIIIIIIIY
9r+-+kvl-tr0
9+l+-+pzp-0
9p+-+p+-zp0
9wq-+nsn-+-0
9-zp-sN-sNP+0
9+-+LvLP+-0
9PzPPwQ-+-zP0
9+K+RtR-+-0
xiiiiiiiiy
Jogam as pretas

Soluções:

1) Dueball,J − Kerr,B Skopje ol 1972: 1.e4 c5 2.¤f3 d6 3.d4 cxd4 4.¤xd4 ¤f6 5.¤c3 a6 6.¥g5 e6
7.f4 b5 8.e5 dxe5 9.fxe5 £c7 10.£e2 ¤fd7 11.0-0-0 ¥b7 12.£g4 £xe5 13.¥d3 h6 14.¥h4 g5
15.¤xe6 [15.¥g3÷] 15...h5! 16.£xg5 ¥h6 17.¦he1 fxe6! 18.¥g6+ ¢f8 19.¦f1+

Um exemplo bem didático sobre o método da exclusão. As pretas têm 4 lances possíveis.
Com cálculo preciso, você poderá ver que dois deles perdem, um empata e o outro vence. O
condutor das pretas não encontrou a solução correta para o problema. 19...¢g8?! [19...£f6!!
20.¦xf6+ ¤xf6 21.¦d8+ (21.¦f1 ¤bd7) 21...¢g7 22.¦xh8 ¥xg5+ 23.¥xg5 ¢xg6-+; 19...¤f6?
20.£xh6+! ¦xh6 21.¥xf6 £e3+ 22.¢b1±; 19...¢g7? 20.¦f7+ ¢g8 21.¥h7+! ¢xf7 22.¦f1+ ¤f6
23.£xh6+−] 20.¥f7+ [20.¥h7+? ¢xh7 21.¦f7+ ¥g7] 20...¢h7 21.¥g6+ ¢g8 22.¥f7+ ¢h7 23.¥g6+
½-½

2) Gheorghiu,F − Ljubojevic,L Amsterdã, 1975: 1.e4 c5 2.¤f3 d6 3.d4 cxd4 4.¤xd4 ¤f6 5.¤c3 a6
6.¥g5 e6 7.f4 b5 8.e5 dxe5 9.fxe5 £c7 10.exf6 £e5+ 11.¥e2 £xg5 12.£d3 £xf6 13.¦f1 £e5 14.0-
0-0 ¦a7 15.¤f3 £f4+ 16.¤d2 £c7 17.¥h5 g6 18.£d4 e5 19.£f2 [19.£e3!?÷] 19...¥c5 20.£f6 0-0
21.¤d5

87
21...¥e7! Tente começar suas análises pelos lances mais diretos. Com esta jogada precisa
é possível forçar simplificações. [21...¤d7?! 22.£g5 £d8 23.£h6÷; 21...£d6? 22.¤e4 £xf6
23.¤dxf6+ ¢h8 24.¤xc5 gxh5 25.¦fe1±] 22.£f3 [22.£f2 £c5!∓] 22...¥b7! 23.¤xe7+ £xe7 24.£f2
¥d5∓ 25.¥f3 ¥xa2 26.¤e4 ¦c7 27.£b6 ¦fc8 28.¤f6+ £xf6 0-1

3) Kavalek,L − Polugaevsky,L Manila, 1975: 1.e4 c5 2.¤f3 d6 3.d4 cxd4 4.¤xd4 ¤f6 5.¤c3 a6
6.¥g5 e6 7.f4 b5 8.e5 dxe5 9.fxe5 £c7 10.£e2 ¤fd7 11.0-0-0 ¥b7 12.£g4 £b6 13.¥e2 ¤xe5
14.£h3 ¤bd7 15.¦he1 h6 16.¥h4 g5?! [16...h5!?; 16...g6!?] 17.¥xg5 [17.¤xe6! gxh4 (17...£xe6
18.¥g4+−; 17...fxe6 18.¥f2!!) 18.¥h5 ¥d6 19.£f5±] 17...¦g8 18.¤xe6 hxg5 19.¥h5?!

19...¥d6? [19...g4! Em posições defensivas, comece suas análises pelo lance mais
concreto. 20.¥xf7+ ¢xf7 21.£h7+ ¦g7!∓ Preciso. As pretas conseguem repelir o ataque, por
exemplo: 22.¦xd7+ (22.¤xg7 ¥xg7 23.¦f1+ ¤f6∓) 22...¤xd7 23.¤g5+ ¢f6 24.¤ce4+ ¢e7]
20.£f5!ƒ ¦h8 21.¥xf7+ ¢e7 22.¤xg5 As brancas têm um fortíssimo ataque, mas Polugaevsky
conseguiu o empate. 22...¦h6 23.¥g6 ¢d8 24.¦xe5 ¤xe5 25.£f8+ ¢c7 26.¤e6+ ¢d7 27.£xh6
¤xg6 28.£g7+ ¤e7 29.¤d4 ¦g8 30.£f7 £c5 31.£e6+ ¢e8 32.¤e4 ¥xe4 33.£xe4 £g5+ 34.¢b1
£xg2 35.£d3 £d5 36.a4 bxa4 37.£xa6 a3 38.£b5+ £xb5 39.¤xb5 ¥xh2 40.¤xa3 ¦g4 41.c3
¢f7 42.b4 ¥e5 43.¢c2 ¢e6 44.¦d3 ¤d5 45.¤b5 ¦g2+ 46.¢b3 ¥f6 47.¤d4+ ¢e5 48.¤c2 ¤f4
49.¦e3+ ¢d6 50.¤d4 ¤d5 51.¤b5+ ¢d7 52.¦d3 ¢e6 53.¤d4+ ½-½

4) Adams,M − Comas Fabrego,L Adelaide, 1988: 1.e4 c5 2.¤f3 d6 3.d4 cxd4 4.¤xd4 ¤f6 5.¤c3
a6 6.¥e3 e6 7.£d2 b5 8.f3 ¥b7 9.g4 h6 10.0-0-0 ¤bd7 11.¥d3 b4 12.¤ce2 d5 13.exd5 ¤xd5
14.¤f4 £a5 15.¢b1 ¤xe3 16.£xe3 £e5! 17.£c1 [17.£xe5 ¤xe5∓; 17.¦he1 £xe3 18.¦xe3 ¥c5∓]
17...£xd4 18.¤xe6 [18.¥b5 £xd1 19.¦xd1 axb5∓] 18...£b6 19.¥g6! fxg6?! [19...¤c5! 20.£f4 £xe6
21.¦he1 fxg6 22.¦xe6+ ¤xe6 23.£c4 ¤c5 24.£e2+ (24.¦e1+? ¢d7!+−) 24...¥e7 (24...¢f7
25.£c4+) 25.¦e1 0-0!? (25...¤e4) 26.£xe7 ¦ae8 27.£xe8 ¦xe8 28.¦xe8+ ¢f7 29.¦e3 g5!∓ ¬]
20.¦he1 ¤f6 21.£f4 ¥e7 22.¤xg7+ [22.£c4!©] 22...¢f8 23.¦d7

23...¦h7? As pretas defenderam bem até o momento, mas de agora em diante perdem o
controle. [23...¥e4! acabaria com o ataque. 24.fxe4 ¦d8-+] 24.¦dxe7 ¦xg7? Mais um erro, agora
decisivo. As pretas ainda não estavam perdidas. [24...¢g8! As brancas poderiam escolher agora
entre uma linha de empate ou uma que manteria a tensão. 25.¦7e6 (25.¦1e6 £g1+ 26.¦e1 £b6)
25...£c5 26.¤h5 gxh5 (26...¤xh5 27.gxh5ƒ) 27.£xf6÷ com posição complicada.] 25.£xh6+− Agora
as brancas ganham. 25...¤e8 26.£h8+ ¦g8 27.£e5!! ¤g7 28.¦f7+ 1-0

88
5) Degraeve,J._M − Ftacnik,L Luxemburgo, 1993: 1.e4 c5 2.¤f3 d6 3.d4 cxd4 4.¤xd4 ¤f6 5.¤c3
a6 6.¥e3 e6 7.£d2 b5 8.f3 ¤bd7 9.g4 h6 10.0-0-0 ¥b7 11.¥d3 ¤e5 12.¦he1 b4 13.¤ce2 d5
14.exd5 ¤xd5 15.¤f4 £a5 16.¢b1

16...¤xf3!! Um lance muito fácil de escapar nas análises, mas não se você estiver bem
treinado na técnica de lances candidatos! É preciso desviar o cavalo branco antes da combinação
principal. [16...¤c3+? 17.bxc3 bxc3 18.£f2 e o cavalo está pronto para voltar a b3, defendendo o
rei.] 17.¤xf3 ¤c3+ 18.bxc3 bxc3 19.£c1 ¥xf3?! [19...¥a3 Seria mais simples. 20.¤d4 ¥xc1
21.¥xc1 0-0-+] 20.¤xe6! ¥a3?! [20...fxe6 21.¥g6+ ¢e7∓] 21.¤d4? [21.¥c5!! Seria um recurso
espetacular e daria vida à posição branca. As pretas teriam que jogar com grande precisão.
21...¦b8+ 22.¢a1 ¥b2+ 23.¢b1 ¥xc1+ 24.¢xc1 ¢d7! 25.¥f5+ ¢c6 (25...¥xd1? 26.¤d4+)
26.¤d4+ ¢xc5 27.¤b3+! ¦xb3 28.¦e5+ ¢c6 (28...¢b6 29.¦d6+ ¥c6 30.¦xa5 ¦b4³) 29.¦xa5 ¦b4
30.¦d3 com boas chances de empate.] 21...0-0-+ 22.¤b3 ¦ab8 23.¥f4 [23.£b2 £b4 24.£a1
(24.¥c5 £xc5-+) 24...¥b2-+; 23.¥b6 ¦xb6 24.£f4 ¥xd1-+] 23...¥xc1 24.¥xb8 £a3 0-1

89
V- GANHANDO NO PILOTO AUTOMÁTICO

O título deste capítulo pode soar um pouco estranho e, de fato, trata sobre algo pouco
mencionado na literatura enxadrística. Mas muitas partidas são ganhas no "piloto automático". O
termo serve para identificar aquelas partidas que são vencidas sem necessidade de grande
originalidade, com a simples adaptação de temas já conhecidos. Como exemplo, posso citar uma
partida ganha com a utilização do ataque da minoria contra a Defesa Ortodoxa, sem que o
adversário consiga criar qualquer dificuldade. Simplesmente aproveitamos o legado adquirido,
tanto por nossa prática quanto pelo estudo de partidas-modelo, para vencer a partida sem grandes
novidades. Na Najdorf, esse tipo de vitória ocorre com freqüência, pois os planos das pretas são
bem temáticos e precisam ser repelidos de forma enérgica pelo condutor das brancas. Se ele não
estiver pronto para esse tipo de batalha e começar a retroceder, então é possível vencê-lo de
forma bastante esquemática. Uma outra forma de vitória automática, também bastante comum em
variantes agudas e muito teóricas como a Najdorf, se dá com o uso de análises caseiras.
Uma palavra de aviso, entretanto. Para conseguir esta proeza - e quem não sonha em
vencer partidas sem grande esforço - é preciso um excelente conhecimento da posição, muito além
dos temas superficiais. Não basta ter visto uma partida-modelo, mas sim dezenas, pensando nos
momentos críticos e anotando as conclusões. Não me canso de repetir, para obter sucesso nas
diversas fases de uma partida, é preciso muito trabalho. Mas você será recompensado, não
apenas com preciosos pontos, mas também economizando energia, o que é de enorme
importância durante torneios estressantes e com rodadas duplas, como são a maioria dos abertos
jogados no Brasil.
Finalizando esta introdução: muito cuidado para não estar do lado “passivo” do piloto
automático! Muitos dos sacrifícios e idéias gerais das brancas são vastamente conhecidos,
portanto esteja alerta. Lembre-se da profilaxia e saiba o que o seu adversário quer, pois só assim
você poderá confrontá-lo.

Conhecendo Melhor a Posição

O estudo dos exemplos mais importantes de uma determinada abertura, assim como uma
análise independente das posições críticas, oferece benefícios maiores que a simples descoberta
de um lance em dada posição. Para começar, você se tornará um enxadrista melhor, mais
acostumado ao trabalho analítico, fundamental para quem quer melhorar (esse trabalho é
totalmente renegado pela grande maioria dos enxadristas). Você ganhará confiança, pois estará
acostumado a jogar suas próprias idéias. Outra vantagem é que você conhecerá os temas de uma
posição mais a fundo que seu oponente. Não me refiro aqui a um lance devastador, mas você

90
saberá que sacrifícios devem ser feitos, onde colocar suas peças, quais planos escolher. E o
resultado geralmente será uma vitória tranqüila.

Koscielski,J - Leitão,R
Dortmund,1998

1.e4 c5 2.¤f3 d6 3.d4 cxd4 4.¤xd4 ¤f6 5.¤c3 a6 6.¥e3 e5 7.¤b3 ¥e6 8.f3 ¤bd7 9.£d2
b5 10.a4 b4 11.¤d5 ¥xd5 12.exd5 ¤b6 13.¥xb6 £xb6 14.a5 £b7 15.¥c4 Uma variante bem
teórica, que sempre gostei de jogar com as pretas. 15...¥e7 Mais tarde Kasparov implementou um
lance mais forte que o natural desenvolvimento por e7: 15...g6! 16.¦a4 ¦b8 17.£d3 17.¤c1 é o
lance principal. Após a jogada da partida, a partida geralmente continua 17...¦a8 18.£d2, com
repetição de lances e empate. Mas eu precisava vencer de qualquer forma. Lembrei−me das
partidas que já havia visto na posição, seus principais temas. Mesmo sem conhecer a teoria
precisamente, sabia que seria possível sacrificar o peão de a6 em prol da iniciativa. Arriscado,
certamente, mas é preciso tomar riscos em torneios abertos. 17...£a7!? Outras formas de
sacrificar seriam [17...0-0 conforme veremos na partida seguinte, ou até mesmo 17...e4.] 18.¥xa6
0-0 Como compensação, as pretas têm o rei mais seguro e peças bem coordenadas. A presença
de bispos de cores opostas também é um fator importante, pois ajuda o jogador que ataca. As
brancas precisam agora jogar com precisão. 19.¥c4? Um lance indiferente. No xadrez é preciso
ser concreto, analisar variantes e formular planos. Qual a idéia da jogada do texto? Sim, é preciso
tirar o bispo de a6, mas não para essa casa... [19.¥b5! Este seria o lance correto, extremamente
desagradável para as pretas. O peão de b4 fica ameaçado e o bispo pode ir a c6, onde dará o
suporte ao peão de a6. É provável que essa jogada refute o sacrifício preto, mas a partida ainda
não estaria terminada. Contra o temático 19...e4 as brancas responderiam 20.£d4! £c7 21.¥c6
exf3 22.0-0 com vantagem.]

XIIIIIIIIY
9-tr-+-trk+0
9wq-+-vlpzpp0
9-+-zp-sn-+0
9zP-+Pzp-+-0
9RzpL+-+-+0
9+N+Q+P+-0
9-zPP+-+PzP0
9+-+-mK-+R0
xiiiiiiiiy
Como você jogaria com as pretas?

91
19...e4! Um lance absolutamente natural para quem conhece bem essa posição. Digo
mais, esse lance deve ser o primeiro a ser considerado. O computador sugere outra forma de
seguir com iniciativa, 19...¦fc8, mas o lance do texto é mais incisivo.] 20.fxe4?! Outra imprecisão.
Agora o ataque preto é muito forte. Era necessário jogar [20.£d4! £d7 21.¦a1 exf3 22.0-0!
(22.gxf3 £h3©) 22...fxg2 23.¢xg2 ¤g4, com jogo complicado.] 20...¤g4 O cavalo e o bispo vêm à
vida. Com o rei ainda no centro e a torre fora de jogo em a4, o branco não tem recursos defensivos
suficientes. 21.£d4 £d7! 22.¦a2 Triste, mas é preciso defender b2. [22.¦a1 ¥f6∓] 22...¥g5!
23.£d3

XIIIIIIIIY
9-tr-+-trk+0
9+-+q+pzpp0
9-+-zp-+-+0
9zP-+P+-vl-0
9-zpL+P+n+0
9+N+Q+-+-0
9RzPP+-+PzP0
9+-+-mK-+R0
xiiiiiiiiy
Como arrematar a posição?

23...f5!-+ O toque final, demolindo a posição branca. 24.0-0 fxe4 25.£e2 £a7+ 26.¢h1
¦xf1+ 27.£xf1 ¦f8 0−1
Vimos que nessa partida a minha única decisão difícil foi sacrificar o peão de a6. Meus
lances restantes foram automáticos e jogados quase instantaneamente, graças ao meu
conhecimento da posição.
O exemplo seguinte, que teve os mesmos 17 lances iniciais, foi bem mais complexo, mas
ainda assim consegui vencer graças ao melhor conhecimento da posição.

Crosa,M - Leitão,R
Santos, 2003

1.e4 c5 2.¤f3 d6 3.d4 cxd4 4.¤xd4 ¤f6 5.¤c3 a6 6.¥e3 e5 7.¤b3 ¥e6 8.f3 ¤bd7 9.£d2
b5 10.a4 b4 11.¤d5 ¥xd5 12.exd5 ¤b6 13.¥xb6 £xb6 14.a5 £b7 15.¥c4 ¥e7 16.¦a4 ¦b8
17.£d3 0-0 Dessa vez escolhi outra forma de recusar o empate. Agora contra 18.¥xa6, que é o
melhor lance para as brancas, eu teria a opção de capturar em d5, além de retirar a dama para
outra casa que não a7. Ainda não sabia qual opção escolher, mas sempre é bom ter flexibilidade.

92
18.0-0 Não gosto deste lance, pois agora posso defender meu peão sem ter que aceitar o empate.
18...¦a8 Após longa reflexão, decidi−me pelo simples. Nessas posições as primeiras variantes que
analiso envolvem o sacrifício de peão em e4, mas as complicações não me eram claras. Então
escolhi uma alternativa mais posicional. [18...£a7+ 19.¢h1 e4 20.fxe4 (20.£d4 £d7 21.¦aa1÷)
20...¤g4 21.£e2÷; 18...e4 19.fxe4 ¤g4 20.£e2÷] 19.£d2 ¦fb8! O detalhe. Agora posso trazer a
outra torre. Meu problema é que minhas peças estão um pouco congestionadas, mas o plano é
simples: ¤d7−f5−¥f6, etc. Depois de melhorar minha posição no flanco rei, posso trazer minhas
peças pesadas para o centro, mesmo que seja sacrificando o flanco dama. 20.¦e1 ¤d7 21.¢h1 h6
Um lance útil, dando ar para o rei e suporte para o bispo em g5. 22.f4 Crosa decide jogar no
centro, mas agora o potencial do meu bispo aumenta. 22...¥f6 23.f5 e4! 24.¦a2 ¦e8 Minha
vantagem é clara. Adoro meu bispo nesta variante. Observe sua função decisiva em ambas as
partidas. 25.¤d4

XIIIIIIIIY
9r+-+r+k+0
9+q+n+pzp-0
9p+-zp-vl-zp0
9zP-+P+P+-0
9-zpLsNp+-+0
9+-+-+-+-0
9RzPPwQ-+PzP0
9+-+-tR-+K0
xiiiiiiiiy
Como jogar com as pretas?

Um momento instrutivo. É sempre difícil quando temos que mudar nossa mentalidade
durante a partida. Até agora todos os meus lances foram posicionais, melhorando minha posição.
Mas sempre haverá um momento em que é preciso calcular, às vezes transformando sua
vantagem posicional em uma iniciativa tática. E chegou esse momento. Calculei diversas variantes
aqui e escolhi um sacrifício interessante, que me parece correto. Outras variantes também eram
atrativas, mas creio que o lance do texto é o melhor. Com bispos de cores opostas estou sempre
disposto a sacrificar material por ataque. 25...e3! [25...¥xd4 26.£xd4 ¤f6 (26...¤c5 27.f6!) 27.£b6!
Seria insuficiente.; 25...£c8 Seria uma opção de interesse. 26.¤c6 ¤b8 27.£xb4 ¤xc6 28.dxc6
£xc6, com vantagem.] 26.¦xe3 ¥g5 27.¦xe8+ ¦xe8 Graças ao sacrifício do peão de "e", a torre
preta ganhou uma coluna aberta. Note que também nessa partida a torre branca ficou muito
afastada da luta, enquanto as peças pretas vão se concentrando no ataque. 28.£d1 ¤f6 [28...¦e4

93
também era possível, com excelente compensação.] 29.¦a1 É preciso trazer a torre para a defesa
antes que seja tarde demais. 29...¥e3 30.¤c6 ¤e4 31.£e2? O erro decisivo, mas mesmo após a
defesa correta a vantagem das pretas seria grande. [31.£f3 ¤f2+ 32.¢g1 ¥c5 33.¦f1 (33.¢f1 ¤e4
34.¦d1 (34.£d3 £d7∓) 34...¤g5ƒ) 33...¤e4+ a) 33...¦e3 34.£xf2 (34.¢xf2 ¦xf3+ 35.¢xf3)
34...¦e4 35.£xc5 dxc5 36.b3©; b) 33...¦e4 34.b3; 34.¢h1 ¤d2 35.£d3 ¤xf1 36.£xf1 ¦e3!∓ O
plano preto é £d7−e8, com um ataque muito forte.] 31...¤f2+ 32.¢g1 £d7! Agora consigo um
tempo decisivo para trazer a dama para o ataque. 33.£f3 [33.¦f1 ¥c5 34.£f3 ¤e4+ (34...¦e3
35.£xf2 ¦e4 36.£xc5 dxc5 37.b3©) 35.¢h1 ¤d2 36.£d3 ¤xf1 37.£xf1 ¦e3-+; 33.£h5 ¥c5 34.h3
¤g4+ 35.¢h1 ¤f6 36.£f3 ¦e3 37.£f1 £e8 38.¥xa6 £e4 39.¢h2 £h4-+ (39...¤g4+ 40.hxg4 £xg4-
+) ] 33...¥c5! Todas as peças participam do ataque. 34.¥xa6 [34.¦f1 ¤e4+ 35.¢h1 ¤d2 36.£d3
¤xf1 37.£xf1 ¦e3-+]

XIIIIIIIIY
9-+-+r+k+0
9+-+q+pzp-0
9L+Nzp-+-zp0
9zP-vlP+P+-0
9-zp-+-+-+0
9+-+-+Q+-0
9-zPP+-snPzP0
9tR-+-+-mK-0
xiiiiiiiiy
Como arrematar a partida?

34...¤d1+! 35.¢h1 ¦e1+ 36.£f1 ¦xf1+ 37.¥xf1 ¤f2+ 0-1

É importante aprender com suas derrotas. Quando Nisipeanu me eliminou do Mundial em


Las Vegas, 1999, decidi estudar o sistema que ele havia empregado contra a Najdorf. Como
resultado dessa preparação, comecei a jogar a variante com as brancas.

Leitão,R − Maki−Uuro,M
Nova Iorque, 2000

1.e4 c5 2.¤f3 d6 3.d4 cxd4 4.¤xd4 ¤f6 5.¤c3 a6 6.¥e2 e5 7.¤b3 ¥e7 8.0-0 0-0 9.¢h1
b5?! Este lance temático não é o mais preciso nessa posição. Após o meu match com Nisipeanu,
estudei esta variante para jogá−la com ambas as cores. Mas devo fazer uma confissão: tenho
péssima memória para guardar minhas análises. As conclusões, entretanto, não são difíceis de

94
guardar, e já servem como guia durante a partida. Nesse momento, recordava−me de que o lance
do texto não era o mais preciso e tinha uma vaga idéia de como deveria jogar, mas graças ao
estudo da variante aprendi seus temas principais, o que torna a tarefa de descobrir os melhores
lances bem mais fácil. 10.a4! Aqui está o problema da jogada 9...b5. As brancas começam uma
operação no flanco dama, garantindo uma pequena vantagem. 10...¥b7 [10...b4 11.¤d5 ¤xd5?!
(11...¥b7) 12.£xd5 ¦a7 13.¥e3 Com incômoda pressão no flanco dama.] 11.¤d5 ¤xe4? Aqui
acabou minha preparação. Nunca havia analisado este lance. Mas desconfiava que ele não era
correto. Para começar: havia visto diversos exemplos e nenhum deles seguiu com a captura do
peão de e4. Se estudarmos melhor os elementos estratégicos da posição, veremos que a jogada
da partida é extremamente perigosa para as pretas. O cavalo em d5 está impune, a diagonal h1-a8
fica aberta, existem temas com...axb5. Tudo isso me deu a confiança necessária para começar o
trabalho analítico, sabendo que deveria haver uma solução vantajosa para as brancas. [11...b4!
Este seria o melhor lance, reduzindo a vantagem branca.; 11...¤xd5?! 12.exd5 e as pretas teriam
problemas na ala da dama. 12...b4 13.a5!±] 12.¥f3 O lance natural. Acredito, porém, que o recurso
tático que utilizei mais tarde já poderia ser jogado aqui. [12.¤a5! seria a jogada mais precisa. As
brancas teriam clara vantagem. 12...£xa5 (12...¥xd5 13.£xd5 ¤d7 14.¤c6 ¤df6 15.£a2±)
13.¤xe7+ ¢h8 14.f3±] 12...f5 [12...bxa4!? é uma sugestão interessante do computador. Não vi
esse lance da partida. Para um humano é bem difícil não só considerar esta jogada, mas também
avaliar que as pretas se salvam de uma grande inferioridade nas jogadas seguintes. 13.¥xe4
(13.¦xa4 ¤c5²) 13...axb3 14.c3 a) 14.£f3 ¤c6! As pretas se salvam graças a um bonito recurso
tático. 15.£xb3 (15.¤xe7+ £xe7 16.¥xc6?! e4!) 15...¦b8; b) 14.c4 ¤c6 15.£xb3 ¦b8 E o cavalo
preto ganha a casa d4; 14...¤c6 15.£xb3 ¦b8 16.f4² Com vantagem posicional branca.; 12...¤c5
13.¤xc5 dxc5 14.axb5±] 13.¥xe4 fxe4

XIIIIIIIIY
9rsn-wq-trk+0
9+l+-vl-zpp0
9p+-zp-+-+0
9+p+Nzp-+-0
9P+-+p+-+0
9+N+-+-+-0
9-zPP+-zPPzP0
9tR-vLQ+R+K0
xiiiiiiiiy
Qual o melhor lance para as brancas?

95
14.¤a5! Levando a uma variante forçada de vantagem branca. Mas a situação ainda não é
crítica para meu adversário. 14...£xa5 15.¤xe7+ ¢h8 16.£xd6 ¦f6? Este sim é o verdadeiro erro.
Com o lance correto a posição preta seria defensável. [16...£d8! E seria muito difícil converter a
vantagem branca. 17.£xd8 a) 17.£xe5 ¤d7„ (17...¦xf2? 18.¥h6!+−) ; b) 17.¦d1 ¤c6!²;
17...¦xd8²]

XIIIIIIIIY
9rsn-+-+-mk0
9+l+-sN-zpp0
9p+-wQ-tr-+0
9wqp+-zp-+-0
9P+-+p+-+0
9+-+-+-+-0
9-zPP+-zPPzP0
9tR-vL-+R+K0
xiiiiiiiiy
Como você jogaria com as brancas?

17.axb5! Provavelmente meu adversário omitiu este lance. Começa agora uma longa
operação tática, na qual as brancas ganham um peão. [17.£d1 Também daria vantagem.]
17...¦xd6 18.¦xa5 axb5 19.¦xb5 ¥a6 20.¦a5 ¦a7 93 21.¤f5 ¦f6 O detalhe é que após [21...¥xf1
22.¦xa7 ¦d1 23.h3!+− As brancas vencem, graças à debilidade da oitava fila. Tive que calcular
toda essa variante ao jogar 17.axb5.] 22.¦d1 [22.¦xe5+−] 22...¤c6 23.¦xe5! h6 24.¦c5 ¤b4
25.¥e3 1-0

Análises Caseiras

Quando se emprega uma variante muito teórica torna-se enorme a importância de ter
novas idéias preparadas no laboratório caseiro. Esta é uma das facetas mais interessantes do jogo
de xadrez e assemelha-se ao trabalho de um cientista. Em alguns casos, é possível vencer a
partida graças a essa preparação. Na pior das hipóteses você terá vantagem de tempo e jogará
uma posição estranha ao seu adversário.
Á medida que sobe a categoria dos oponentes, mais importante fica o trabalho de
investigação teórica. Jogadores de elite dificilmente jogam variantes em que não tenham um bom
número de novidades preparadas. O computador é um ótimo companheiro nessas horas. Mas

96
mesmo na era da informática algumas idéias podem passar desapercebidas...

Karjakin,S - Anand,V
Wijk aan Zee, 2006

1.e4 c5 2.¤f3 d6 3.d4 cxd4 4.¤xd4 ¤f6 5.¤c3 a6 6.¥e3 e5 7.¤b3 ¥e6 8.f3 ¥e7 9.£d2
0-0 10.0-0-0 ¤bd7 11.g4 Inicia−se agora uma longa seqüência tática, muito em moda nos últimos
dois anos. Vemos aqui claramente a influência do computador no xadrez moderno. 11...b5 12.g5
b4 13.¤e2 ¤e8 14.f4 a5 15.f5 a4 16.¤bd4 exd4 17.¤xd4 b3 18.¢b1 bxc2+ 19.¤xc2 ¥b3!
20.axb3 axb3 21.¤a3 ¤e5 22.h4 ¦a5 Incrivelmente tudo isso era teórico! Na partida Leko,P −
Vallejo Pons, Monaco 2005, as brancas haviam tentado 23.£e2, mas o preto conseguiu boa
posição com 23...d5!. Nas análises colocadas no ChessBase, aparece o comentário que 23.£c3
seria interessante, com jogo complicado após 23...£a8 24.¥g2. Karjakin decide seguir essa infeliz
recomendação... 23.£c3? [23.£b4! Mais tarde descobriu−se que este é o lance correto. A batalha
teórica segue a pleno vapor.] 23...£a8 24.¥g2 Agora Anand refuta completamente o jogo das
brancas. Não tenho qualquer dúvida que ele já havia preparado a seguinte jogada de antemão.

XIIIIIIIIY
9q+-+ntrk+0
9+-+-vlpzpp0
9-+-zp-+-+0
9tr-+-snPzP-0
9-+-+P+-zP0
9sNpwQ-vL-+-0
9-zP-+-+L+0
9+K+R+-+R0
xiiiiiiiiy
Jogam as pretas e ganham

24...¤c7!! Este lance ganha forçado. O detalhe é que nenhum dos programas de análise o
sugerem inicialmente. Mas depois que colocamos as primeiras jogadas, todas as engines avaliam
a posição como vantagem decisiva das pretas. Fica aqui o conselho: a máquina é uma excelente
ferramenta para as análises, mas você precisa ter as suas idéias! Pare, reflita sobre a posição,
pense como jogaria, veja vários lances candidatos, então teste com o computador. Os programas
lhe servirão como parceiros de análise, não como professores. 25.£xc7 É preciso aceitar o
sacrifício, do contrário a inclusão do cavalo no ataque teria conseqüências mortais. [25.¥b6 ¦xa3

97
26.bxa3 ¤b5-+] 25...¦c8! Sacrificando a segunda peça. 26.£xe7 As brancas novamente não
podem recusar a oferta. [26.£b6 ¤c4!-+] 26...¤c4!-+ Mesmo com duas peças a mais o branco é
incapaz de defender. Todas as peças pretas participam do ataque. 27.g6 Uma tentativa
desesperada de contra−jogo. Outros lances tampouco funcionariam. [27.¥c5 ¦xa3 28.bxa3 ¦xc5
29.a4 ¤a3+ 30.¢b2 ¦c2+ 31.¢xa3 £b8-+ (31...¦a2+-+) ; 27.¥d4 ¦xa3 28.bxa3 ¤xa3+ 29.¢b2
¤c4+ 30.¢c3 (30.¢xb3 £a3+ 31.¢c2 ¤e3+ 32.¢d2 ¦c2+ 33.¢e1 £b4+) 30...£a2! 31.¥c5 £c2+
32.¢d4 £b2+ (32...dxc5+ 33.¢d5 ¤e3+ 34.¢d6 ¤xd1-+) 33.¢d3 £xg2-+] 27...hxg6 28.fxg6
¤xa3+ 29.bxa3 ¦xa3 30.gxf7+ ¢h7 31.f8¤+ ¦xf8 32.£xf8 [32.£xd6 ¦a1+ 33.¢b2 ¦a2+ 34.¢b1
¦c2! com mate inevitável.] 32...¦a1+ 33.¢b2 ¦a2+ 34.¢c3 [34.¢b1 £xf8 35.¥h3 £a8 36.¥f5+
¢h8 37.¦c1 ¦a1+ 38.¢b2 £a3+ 39.¢c3 b2+] 34...£a5+! 35.¢d3 [35.¢xb3 £a4+ 36.¢c3 ¦c2+
37.¢d3 £c4# #] 35...£b5+ 36.¢d4 ¦a4+ 37.¢c3 £c4+ 0-1

O seguinte exemplo é bastante recente e interessante para os leitores, pois foi disputado
no Campeonato Brasileiro de 2006. Curiosamente, o vencedor da partida empregou uma novidade
baseada em uma antiga partida do autor desta apostila.

De Toledo,J − Di Berardino,D
Guarulhos, 2006

1.e4 c5 2.¤f3 d6 3.d4 cxd4 4.¤xd4 ¤f6 5.¤c3 a6 6.¥g5 e6 7.f4 ¤bd7 8.£f3 £c7 9.0-0-0
b5 10.¥xf6 Um lance relativamente raro. As tentativas brancas mais teóricas são: 10.¥xb5, 10.e5
ou 10.¥d3. 10...¤xf6 11.e5 ¥b7 12.£h3 Como geralmente ocorre na variante com 6.¥g5, o branco
está pronto para sacrificar, seja em e6 ou em b5.

XIIIIIIIIY
9r+-+kvl-tr0
9+lwq-+pzpp0
9p+-zppsn-+0
9+p+-zP-+-0
9-+-sN-zP-+0
9+-sN-+-+Q0
9PzPP+-+PzP0
9+-mKR+L+R0
xiiiiiiiiy
Jogam as pretas

12...dxe5?! Este é um momento teórico importante, pois acredito que este lance seja uma

98
imprecisão, ainda que nenhum comentarista tenha anteriormente chegado a esta conclusão.
Curiosamente, pouquíssimas partidas continuam com a retirada do cavalo de f6, seja para e4 ou
para d5. Ambas as jogadas neutralizam o ataque branco. [12...¤e4 13.¤xe4 a) 13.exd6 ¥xd6
14.¤xe6 ¥xf4+³; b) 13.¤xe6 fxe6 14.£xe6+ b1) 14.exd6 ¤xd6 15.£xe6+ ¥e7 e o branco não tem
ataque.; b2) 14.¤xe4 ¥xe4 15.£xe6+ £e7 (15...¥e7 16.¥d3) 16.£g4 (16.£xe7+ ¢xe7 (16...¥xe7
17.exd6 ¥h4!) 17.¦xd6 ¢f7) ; ; 13...¥xe4 14.¥d3 Agora as pretas têm duas opções que parecem
suficientes. 14...¥xd3 (14...¥d5 Tampouco vejo ataque para as brancas aqui.) 15.¦xd3 (15.£xd3
dxe5 16.¤xb5 Não funciona: 16...axb5 17.£xb5+ ¢e7 18.£b4+ (18.fxe5 f5∓) 18...¢f6 19.fxe5+
£xe5-+ E as pretas conservam a peça a mais.) 15...dxe5 16.¤xe6!? Esta é a melhor tentativa para
as brancas, que conservam chances práticas de ataque. (16.fxe5 ¥e7³) 16...fxe6 17.£xe6+ ¥e7
18.¦hd1 (18.fxe5 £c8 19.£d5 ¦a7) 18...£c4™ Forçado, mas suficiente. (18...¦c8?? 19.¦c3)
19.£xe5 £xa2 20.¦e1 0-0 21.£xe7 £a1+ 22.¢d2 £xb2³ E são as pretas que passam ao ataque.;
12...¤d5 é ainda mais sólido. 13.exd6 (13.¤xe6 fxe6 14.£xe6+ £e7∓) 13...¥xd6 14.¤xe6 ¥xf4+
15.¤xf4 £xf4+ 16.¢b1 ¤xc3+ 17.£xc3 0-0³ com leve vantagem preta.] 13.¤cxb5! Agora se
iniciam grandes complicações táticas. As pretas ainda não têm desvantagem, mas precisam ser
extremamente precisas. 13...axb5? Este é um erro que leva a grandes dificuldades. [13...£b8?
14.¤xe6!+−; 13...£b6! Este é o lance correto. Aparentemente a posição termina em empate mais
ou menos forçado. 14.fxe5 ¤e4 15.¥c4 (15.£b3 leva ao mesmo resultado após 15...¥c5 16.¤d6+
¤xd6 17.exd6 0-0-0 18.£xb6 ¥xb6 19.¤b3 ¥e3+ 20.¢b1 ¥f4 21.¤c5 ¥xd6 22.¤xb7 ¢xb7 23.¥e2
a5 como na partida Fernandez Romero,E −Palac,M Dos Hermanas, 2004) 15...¤f2 a) 15...¥e7?
16.¤xe6!‚; b) 15...0-0-0? 16.¤xe6! ¦xd1+ 17.¦xd1+− Krakops,M−Skomorokhin,R/Berlin 1993; c)
15...axb5?! 16.¥xb5+ ¢e7 17.¦he1 (17.¦hf1‚) 17...¦xa2 18.¦xe4 ¥xe4 19.£h4+ f6 20.£xe4 ¦a1+
21.¢d2 ¦xd1+ 22.¢xd1ƒ; 16.£b3 0-0-0 17.¤d6+ ¦xd6 18.exd6 £xb3 19.¤xb3 ¤xh1 20.¤c5 ¥xg2
21.¥xe6+ ¢d8 22.¥xf7 g6 23.¢b1 ¥c6 24.¤e6+ ¢d7 25.¤c5+ ¢d8 26.¤e6+ Carlsen,M −
Gelfand,B Biel SUI 2005. Não duvido que ambos os jogadores tivesse tudo isso preparado.]
14.¥xb5+ ¢e7 15.fxe5 £xe5 As retiradas de cavalo já foram testadas na prática, mas as brancas
sempre têm forte iniciativa. [15...¤e4?! 16.¤f5+! exf5 17.£xf5 ¦d8 (17...¥c6 18.¥c4‚) 18.¦xd8
£xd8 19.¦d1±; 15...¤d5 16.£h4+ f6 17.exf6+ gxf6 18.¦he1‚] 16.¦he1 ¤e4 [16...£g5+? 17.¢b1
¥d5 18.¤c6+ e o ataque branco seria decisivo.] 17.¥c6! [17.¤c6+?! Este lance tentador é um erro,
permitindo que as pretas escapassem com o empate na seguinte partida: 17...¥xc6 18.¥xc6 ¦xa2
19.¦d7+ ¢f6 20.£f3+ ¢g5= ½-½ Stojanovic,D −Fercec,N Jahorina 2003(20...£f5=) ] 17...£f4+
18.¢b1 ¥xc6 19.¤xc6+ ¢e8 Estamos no lance 20, mas incrivelmente havia um outro exemplo
nesta posição...Uma partida minha de 1992 (sim, eu já jogava naquela época!). James
provavelmente conhecia o exemplo, pois a força dos seus próximos lances e a rapidez com que
foram jogados indicam preparação caseira.

99
XIIIIIIIIY
9r+-+kvl-tr0
9+-+-+pzpp0
9-+N+p+-+0
9+-+-+-+-0
9-+-+nwq-+0
9+-+-+-+Q0
9PzPP+-+PzP0
9+K+RtR-+-0
xiiiiiiiiy
Qual o melhor lance para as brancas?

20.£b3! Uma fortíssima novidade, que refuta o jogo preto. [20.¦d4?! £c7! (20...¤d2+?
21.¢a1! (21.¦xd2? £c4!!) 21...£c7 22.¦xe6+ fxe6 23.£xe6+ ¥e7 24.¤xe7+−) 21.¦dxe4 £xc6
22.¦xe6+ fxe6 23.¦xe6+ £xe6 24.£xe6+ ¥e7=; 20.£d3? Foi jogado em minha partida. Consegui
defender e vencer uma boa partida. Após 20...¤d6 21.b3 £f5 22.£d2 £c5-+ meu adversário não
conseguiu compensação pelo material. Gonzalez,B −Leitão,R São Paulo 1992. O lance do texto
faz o branco recuperar o material de forma forçada, continuando com o ataque.] 20...£c7 Única.
[20...¤d2+? levaria mate após 21.¦xd2 £xd2 22.¦xe6+ ¢d7 23.¤e5++−] 21.¤d4! Reforçando a
pressão sobre o ponto e6. 21...¤d6 [21...¤c3+ Uma interessante opção defensiva para desviar o
foco do ataque. O problema é que o ataque continua, ainda que em ritmo mais lento. 22.bxc3 ¦b8
23.¤b5 £xh2± obviamente as brancas têm grande vantagem aqui.; 21...¤c5 22.£b5+ ¤d7
(22...¢e7 23.¤c6+ ¢f6 24.£f1++−; 22...£d7 23.¤xe6+−) 23.¤xe6 fxe6 24.¦xe6+ ¥e7 25.¦de1+−;
21...¤f6 22.£b5+ ¤d7 23.¤xe6+−] 22.¤xe6 fxe6 23.£xe6+ ¥e7 24.¦xd6± Aqui podemos fazer
um balanço da novidade branca. O ataque continua, o rei preto está preso no centro e já são três
peões pela peça. Na prática a posição é indefensável. A partida concluiu: 24...¦f8 [24...¦d8±]
25.¦c6 £d7 26.£c4 [26.£e4±] 26...¦d8 27.a3 £d5 28.¦ce6 ¦f7 29.£h4 g5 30.£b4 £d7?
[30...¦d7] 31.£c5!+− ¢f8 32.£e5 ¦g7 33.£xg7+! 1-0

Nos próximos dois exemplos, mostro como análises caseiras me ajudaram a conseguir a
vitória praticamente na abertura.

Leitão,R − Panno,O
Santiago, 2004

100
1.e4 c5 2.¤f3 d6 3.d4 cxd4 4.¤xd4 ¤f6 5.¤c3 a6 6.¥c4 e6 7.¥b3 ¤bd7 A continuação
predileta do Kasparov. [7...b5 É o lance principal.] 8.¥g5 Uma variante bem complicada
taticamente, que estava em moda à época dessa partida. Fiz um estudo bem elaborado das
posições resultantes. Não acredito que a posição apresente qualquer vantagem para as brancas,
mas nesse tipo de jogo geralmente vence quem tem a melhor preparação. 8...¤c5 9.f4 ¥e7 10.£f3
£c7 As brancas seguem o desenvolvimento natural. A dúvida agora é se devem rocar grande ou
pequeno. 11.0-0 Havia estudado em casa as complicações desta opção e decidi testar minhas
análises. 11...b5 Não me lembrava de partidas com este lance, mas ela era a jogada principal das
minhas análises. 12.f5 Não sei se este é o melhor lance para as brancas, mas ele é bem traiçoeiro,
pois a seqüência natural é ruim para as pretas. [12.e5 ¥b7 e as brancas não conseguem vantagem
nas complicações.; 12.¥xf6!? ¥xf6! As pretas devem aceitar o duelo tático. (12...gxf6 seria
posicionalmente ruim para as pretas.) 13.e5 Agora as pretas precisam sacrificar a qualidade.
13...dxe5 (13...¥b7? 14.¤d5!) 14.¤xe6 (14.¤dxb5 axb5 15.£xa8 0-0©) 14...fxe6 15.£xa8 exf4
16.£f3÷ Uma posição bem complicada, mas a compensação preta deve ser suficiente para a
igualdade.] 12...b4?! O experiente grande−mestre argentino Oscar Panno não recusa a batalha!
Mas era preciso jogar com mais cautela. [12...0-0! As brancas não teriam muito depois desta
jogada. Parece assustador colocar o rei na diagonal do bispo de b3, mas as brancas não
conseguem fazer possível explorar o tema. De qualquer forma, para quem não conhece a posição,
é muito difícil fazer uma lance como esse, razão pela qual eu contava com o lance da partida.
13.fxe6 fxe6 14.£h3 (14.e5? dxe5; 14.¤f5 é tentador, mas as brancas não têm ameaças. 14...¥d8)
14...¤xb3 15.cxb3 (15.axb3 ¥d7! defendendo indiretamente o peão de e6, garantindo boa posição.
∆16.¤xe6? £c8 17.¤d5 ¤xd5 18.¦xf8+ £xf8!-+) 15...d5! (15...¥d7 16.¦ac1 £c5 17.¥e3 £e5
18.¤f3 £h5 19.£xh5 ¤xh5 20.e5²) 16.exd5 ¥c5 17.¥xf6 (17.¥e3? £a7) 17...¦xf6 18.¦xf6 ¥xd4+
(18...gxf6? 19.¢h1!) 19.¦f2 ¥xf2+ 20.¢xf2 b4„]

XIIIIIIIIY
9r+l+k+-tr0
9+-wq-vlpzpp0
9p+-zppsn-+0
9+-sn-+PvL-0
9-zp-sNP+-+0
9+LsN-+Q+-0
9PzPP+-+PzP0
9tR-+-+RmK-0
xiiiiiiiiy
Qual o melhor lance para as brancas?

101
13.fxe6! O primeiro golpe! A verdade é que as brancas estão praticamente forçadas a
sacrificar, e este recurso é absolutamente temático. Na Najdorf muitas vezes não há caminho de
volta! Mas Panno não valorou corretamente o ataque branco. 13...bxc3 Aceitar o sacrifício é
extremamente perigoso para as pretas. [13...fxe6 Em geral as brancas conservam a pressão nas
variantes seguintes, mas a vantagem não é grande. 14.¤a4 (14.¤ce2÷) 14...¤xb3 15.cxb3
(15.£xb3 £a7) 15...£b7! (15...0-0 16.¦ac1 £a7 17.¥e3 ∆¤d5 18.£xf8+ (18.¤c6!? ¦xf3 19.¦xf3
£b7 20.exd5 ¥f6 21.¤b6 ¥d7 22.¤a5 (22.¤xa8 £xa8 23.¤xb4 exd5) 22...£a7 23.dxe6 ¥xe6
24.¤c6 £b7 25.¤xa8 £xa8 26.¤xb4²) 18...¥xf8 19.¦xf8+ ¢xf8 20.¤xe6+ ¥xe6 21.¥xa7 ¦xa7
22.exd5 ¥xd5 23.¦d1±) 16.¦ac1 ¥d7 17.e5 £xf3 18.¤xf3 dxe5 (18...¤d5 19.¥xe7 ¢xe7 20.exd6+
¢xd6 21.¤c5²) 19.¤xe5 ¥b5 20.¦fe1²] 14.¤f5! Havia estudado em minhas análises caseiras esta
fortíssima jogada, que meu adversário omitiu. Após 14.exf7+ o ataque não é tão claro, mas o lance
do texto cria sérios problemas para as pretas. 14...¤xb3? Após este lance, o ataque branco é
decisivo. Verdade seja dita: a posição já é difícil para as pretas. Encontrei apenas uma forma
interessante de complicar o jogo. As jogadas "normais" não funcionam, vejamos: [14...cxb2
15.¦ad1 ¤xe6 16.¥xe6 0-0 (16...¥xe6 17.¤xg7+ ¢d7 18.¥xf6 ¥xf6 19.£xf6±) 17.¥xc8 ¦axc8
18.¤xg7±; 14...0-0 15.exf7+ ¢h8 16.¤xe7 £xe7 17.e5±; 14...¤xe6 15.¥xe6 ¥xe6 (15...0-0
16.£xc3 (16.¥xc8±) 16...£xc3 17.¤xe7+ ¢h8 18.bxc3 fxe6 19.¦ad1±) 16.¤xg7+ ¢d7 17.¥xf6±
Entretanto, um lance de computador poderia complicar a partida.; 14...£a7! Este é um lance
absolutamente brilhante, mas impossível de ser jogado por um enxadrista de carne e osso. A idéia
é forçar o rei branco a mover para h1, pois nessa casa, incrivelmente, estará suscetível a um tema
tático que será a base da defesa preta. Essa posição é bastante complicada e estimulo o leitor a
fazer análises independentes por aqui. Apenas vou citar algumas variantes exemplificativas.
15.¢h1 É provável que este lance não seja o melhor e que o branco tenha alguma continuação
fulminante em uma das opções. (15.¤xg7+ ¢d8÷; 15.exf7+ ¢f8) 15...0-0 16.exf7+ (16.¤h6+ ¢h8
17.¤xf7+ ¢g8=) 16...¢h8 17.¤xe7 (17.¤xg7? ¤xb3 18.axb3 (18.¥xf6 ¥xf6 19.£xf6 £xf7! 20.£xf7
¦xf7 21.¦xf7 ¤xa1∓) 18...¥g4∓) 17...£xe7 18.e5 Esta é a posição a que me referia. Com o rei em
g1 a posição branca é ganha, mas com o rei em h1 não... O leitor descobrirá o porquê? 18...dxe5!
Aparentemente as pretas conseguem vantagem nesta posição. 19.£xa8 Ocorre que agora é
possível caçar a dama branca com...¥b7, pois a £a7 segue−se ¥xg2+! Mesmo assim as pretas
devem utilizar esse tema com precisão. 19...cxb2! a) 19...¤xb3 20.axb3 cxb2 (20...¥b7? 21.£xf8+
£xf8 22.¦xf6 h6 23.¦ff1 cxb2 24.¦ad1 hxg5 25.¦d8+−) 21.¦ad1 ¥g4! 22.¥xf6 gxf6 23.£xa6 ¥xd1
24.¦xd1=; b) 19...¥b7 Seria um erro. A variante que segue é fantástica. 20.£xf8+ £xf8 21.¦xf6! h6
22.¦f5! cxb2 (22...hxg5 23.¦xe5 ¥c6 24.¦ae1+−) 23.¦e1 ¤d7 (23...hxg5 24.¦fxe5+−) 24.¥d2±;
20.¦ad1 ¥g4³] 15.¤xg7+ ¢d8 A melhor chance. A retirada de rei a f8 terminaria em uma posição
de mate artístico. [15...¢f8 16.¥xf6 ¥xf6 17.£xf6 ¤xa1 18.£xf7+ £xf7 19.¦xf7+ ¢g8 20.¤f5! ¥xe6
21.¤h6#

102
XIIIIIIIIY
9r+-+-+ktr0
9+-+-+R+p0
9p+-zpl+-sN0
9+-+-+-+-0
9-+-+P+-+0
9+-zp-+-+-0
9PzPP+-+PzP0
9sn-+-+-mK-0
xiiiiiiiiy
Posição de análise

Tão somente duas peças restaram às brancas, mas quão efetivas são elas! Das minhas
partidas, este é o mate mais bonito que já analisei.] 16.cxb3! O mais preciso, pois abre uma coluna
a mais em direção ao já precário rei preto. 16...£c5+ [16...cxb2 17.¦ad1‚] 17.¥e3 £b5 [17...£c6
18.e5!+− £xf3 19.¥b6# Mais um elegante cheque−mate!

XIIIIIIIIY
9r+lmk-+-tr0
9+-+-vlpsNp0
9pvL-zpPsn-+0
9+-+-zP-+-0
9-+-+-+-+0
9+Pzp-+q+-0
9PzP-+-+PzP0
9tR-+-+RmK-0
xiiiiiiiiy
Posição de análise

18.¥d4 cxb2 19.¥xb2+− As brancas agora ganham material. Além do mais, o ataque
persiste com a mesma força. 19...¤e8 20.¤f5 fxe6 [20...¦f8 21.¤xe7 ¢xe7 22.¥f6+ ¤xf6
(22...¢xe6 23.£h3+) 23.£xf6+ ¢e8 24.e7+−] 21.¤xe7 e5 22.£h5! ¥e6 23.£h4 ¢c7 24.¤g6 ¦g8
25.¦ac1+ ¢b7 26.¤f8 Esta é uma das melhores partidas de ataque que já joguei. Certamente foi
de grande ajuda conhecer a posição de abertura melhor que meu adversário. 1-0

103
Mekhitarian,K - Leitão,R
Americana, 2005

1.e4 c5 2.¤f3 e6 3.¤c3 a6 4.d4 cxd4 5.¤xd4 ¤c6 6.¥e2 d6 7.¥e3 ¤f6 8.0-0 ¥e7 9.a4
0−0 Posições de Scheveningen devem ser conhecidas pelos jogadores da Najdorf, ainda que a
ordem de lances não tenha sido a mais usual. 10.f4 £c7 11.¢h1 ¦e8 Uma posição bem conhecida
pela teoria. Especialmente valiosos são os exemplos dos matches pelo Campeonato Mundial entre
Karpov−Kasparov e Anand −Kasparov. 12.a5?! Uma continuação recente. As brancas sacrificam
um peão, buscando um ataque imediato. Se observarmos as leis clássicas do xadrez, veremos que
esse tipo de investida não deve funcionar. As pretas não violaram qualquer princípio de abertura,
portanto não podem ser punidas tão severamente. Entretanto, uma coisa é saber avaliar uma
posição, outra coisa é provar isso no tabuleiro. 12...¤xa5 13.e5 As brancas sacrificam mais um
peão, tentando aproveitar a má colocação do cavalo em a5. 13...dxe5 14.fxe5 £xe5 15.¥f4 £c5
16.¤a4 £a7 17.¥c7?! [17.¥e3 É o lance mais jogado atualmente, mas ainda aqui as pretas estão
bem, desde que joguem com cuidado.] 17...b5 18.¤b6 £xc7 19.¤xa8 Para azar do meu jovem
adversário eu tinha preparado uma novidade nessa posição alguns meses antes. Curiosamente,
meu próximo lance havia sido revelado em uma partida jogada no então recém−lançado
Informador 92, mas Krikor ainda não tinha visto essa partida. 19...£c5! Lance de computador, devo
admitir. Mas no xadrez atual, é muito importante saber trabalhar com a máquina. Eu havia
estudado essa posição minuciosamente. Objetivamente, a partida deve terminar em empate, mas
as brancas devem efetuar alguns lances precisos. 20.¦xa5 ¦d8 21.¤b3? Erro decisivo. A partida
do Informador seguiu com o lance correto: [21.c3 e5 22.¤b3 ¦xd1 23.¤xc5 ¦xf1+ (23...¦d2?!
Duvidosa tentativa, jogada no tão citado exemplo, Padurariu − Madan, Romênia 2004. Mas as
brancas não jogaram o correto 24.¤b6 Após o qual o branco não corre qualquer risco. 24...¦xe2
25.¤xc8 ¥xc5 26.b4) 24.¥xf1 ¥xc5 E aqui a forma mais simples de conseguir a igualdade é
25.¤c7! ¥b6 26.¦xa6 ¥xa6 27.¤xa6 com empate.] Qual o melhor lance para as pretas?

XIIIIIIIIY
9N+ltr-+k+0
9+-+-vlpzpp0
9p+-+psn-+0
9tRpwq-+-+-0
9-+-+-+-+0
9+N+-+-+-0
9-zPP+L+PzP0
9+-+Q+R+K0
xiiiiiiiiy
104
21...£e5!!-+ Nas análises para o Informador este lance apenas é citado, com o signo de
!?. De fato, eu já sabia desde as minhas análises caseiras que esta jogada surpreendente ganha a
partida, pois as brancas não conseguem defender o ataque de mate formado pela bateria £e5−
¥d6. Mais uma vez fica demonstrada a importância das análises independentes! [21...¦xd1?!
22.¤xc5 ¦xf1+ 23.¥xf1 ¥xc5³] 22.£e1 [22.¤d2 Não ajudaria. 22...¥b7-+ E as ameaças
combinadas de ¥d6, ¥b4, além da simples possibilidade de retomar em a8, seriam fatais para o
branco.] 22...¥d6 23.g3 ¥b7+ 24.¢g1 £e4 Deixei passar um arremate mais elegante, mas o lance
da partida é igualmente efetivo. [24...¥b4! 25.£xb4 £xe2-+ com ataque de mate.] 25.¥f3 £xe1
26.¦xe1 ¥xf3 27.¦xa6 [27.¤b6 ¥b4-+] 27...¥xa8-+ Com par de bispos e um peão pela torre, a
partida está decidida. 28.c3 ¥d5 29.¤d4 e5 30.¦xd6 ¦xd6 31.¦xe5 ¦a6 0-1

Estes exemplos demonstram a importância de um estudo aprofundado das posições,


sempre checando a avaliação teórica ou dos comentaristas. Amplie esta forma de estudo para
qualquer partida que você analise e terá dado um importante salto rumo à maestria.

Negando o Espírito da Abertura

Em muitas das variantes mais agudas da Najdorf, o branco compromete estrategicamente


sua posição em prol de um ataque concreto, geralmente envolvendo sacrifícios. Ficar no meio do
caminho é uma trilha segura para a desvantagem. É preciso reconhecer que uma vez lançada a
ofensiva, não há caminho de volta. Os próximos dois exemplos ilustram partidas que venci
basicamente pelo espírito de jogo demonstrado por meus adversários na abertura.

Matsuura,E - Leitão,R
Serra Negra, 2003

1.e4 c5 2.¤f3 d6 3.d4 cxd4 4.¤xd4 ¤f6 5.¤c3 a6 6.¥g5 e6 7.f4 £c7!? 8.£f3 Acredito
piamente que o melhor lance para as brancas é 8.¥xf6. 8...b5 A idéia do sistema das pretas é
agilizar o contra−jogo no flanco dama, antes que as peças brancas consigam o desenvolvimento
ideal. Certamente esta é uma estratégia arriscada, mas que pode funcionar se as brancas não
forem enérgicas. Nesta posição já existe uma tentativa de refutar o jogo preto com 9.¥xf6 gxf6
10.e5, mas a teoria atualmente avalia a posição preta como satisfatória. 9.0-0-0 b4 Já estudei
muito esta posição e jamais descobri uma linha de vantagem branca. Entretanto, uma coisa é
clara: algo deve ser sacrificado, seja com 9.¤d5 ou com 9.e5. 10.¤ce2?! Fora do espírito da
abertura. Um lance aparentemente normal, mas que representa o início dos problemas. É óbvio
que a posição segue equilibrada, mas a posição preta é mais fácil de jogar. 10...¤bd7 11.¤g3 ¥b7

105
12.¥d3 h6 Questionando o destino do bispo. 13.¥xf6?! [13.¥h4 seria mais natural, mas consegui
boa posição após 13...¥e7 14.¤h5 ¤xh5 15.£xh5 £c5! 16.£xc5 ¤xc5 17.¥xe7 ¢xe7³
Kotronias,V − Leitão,R Istambul (ol) 2000.] 13...¤xf6 14.¢b1 ¥e7 Sem fazer qualquer jogada
mirabolante, apenas aproveitando uma certa indecisão do meu adversário, consegui uma sólida
pequena vantagem. 15.f5 [15.¤h5 era a jogada natural, pois as brancas precisam abrir caminho
para o avanço dos peões do flanco rei. De qualquer forma, após 15...¤xh5 (15...0-0³ também é
possível.) 16.£xh5 0-0 o ataque negro com a5−a4−a3 é más perigoso que o branco, por exemplo:
17.¤f3 a5 18.g4 a4 19.g5 a3 20.gxh6 g6 21.¦hg1 ¢h8-+] 15...e5 16.¤de2

XIIIIIIIIY
9r+-+k+-tr0
9+lwq-vlpzp-0
9p+-zp-sn-zp0
9+-+-zpP+-0
9-zp-+P+-+0
9+-+L+QsN-0
9PzPP+N+PzP0
9+K+R+-+R0
xiiiiiiiiy
Jogam as pretas

16...h5!? Evitando de vez ...¤h5. Este é um recurso muito conhecido por todo jogador da
Variante Najdorf, legado da partida Byrne−Fischer, Sousse 1967, em que este plano foi
implementado pela primeira vez. É importante saber reconhecer os temas e utilizá−los mesmo
quando as posições apresentem certas diferenças. [16...0-0 17.¤h5³] 17.h4 Evitando h5−h4.
17...¦b8! Una medida profilática contra a ruptura c2−c3. 18.¦he1 ¢f8 19.¦c1 a5 20.c4?! Esta
jogada leva à derrota posicional. Matsuura deveria ter tentado algum plano relacionado com a
ruptura c2−c3. [20.c3 £b6ƒ] 20...£c5! Agora as brancas não têm qualquer atividade, enquanto
todas as vantagens posicionais estão com as pretas, graças especialmente à estrutura de peões e
ao bispo de e7, que está pronto para tomar um papel mais importante na luta, com a manobra
¥e7−d8−b6. 21.¤f1 ¤g4 22.g3 De agora em diante cometo alguns erros táticos, que podem ser
de certa forma relevados pelo pouco tempo disponível e minha decisão de ser o mais prático
possível. Geralmente quando tenho pouco tempo trato de formular um plano e segui−lo, não dando
muita atenção para as 'distrações' que aparecem no caminho. Eu já havia planejado a
manobra...¥d8−b6, mas sabia que 22...£f2 não podia ser ruim... 22...¥d8?! [22...£f2! 23.£h1
£xf5!-+ naturalmente não vi esta última jogada, que ganha um peão.] 23.¦cd1 ¥b6 [23...£f2!]
24.¤c1 a4 As brancas estão paralisadas. Qual grande erro cometeu meu adversário? Nenhum. O

106
grande problema foi jogar uma abertura extremamente agressiva sem muita ambição. 25.¥c2 ¦a8

26.£e2 ¦h6 27.b3? [Seria mais tenaz 27.¤d3 £a5 (27...£xc4 28.¥xa4! ¦xa4 29.b3 £xe4 30.£xe4
¥xe4 31.¦xe4 ¦a8 32.¦xb4 (32.¤xb4 ¤f2) 32...d5 33.¦xg4! hxg4 34.¤xe5„) 28.£d2 b3 29.axb3
axb3 30.¥xb3 £a7! e as pretas teriam um ataque muito forte.] 27...axb3 28.¥xb3 £a5?! [28...¤f2
29.¤d3 ¤xd1!-+ ganharia imediatamente. A única desculpa para não ver uma continuação tão
simples é que eu tinha apenas 5 minutos no relógio. De qualquer forma a posição branca segue
perdida.] 29.£c2 ¥d4 30.¦xd4 exd4 31.£d3 ¤e5! 32.£e2 ¥a6 33.¤d2 ¦c8 34.£f2 £c5 0-1

A próxima partida ilustra o mesmo tema, mas desta vez meu adversário foi
excessivamente agressivo em uma posição que demandava jogo posicional.

Caldeira,A – Leitão,R
Serra Negra, 2002

1.e4 c5 2.¤f3 d6 3.d4 cxd4 4.¤xd4 ¤f6 5.¤c3 a6 6.¥e2 e5 7.¤b3 ¥e7 8.f4?! Um pouco
apressado. Antes de efetuar esta tradicional ruptura é melhor terminar o desenvolvimento.
8...¤bd7 Como as brancas já se definiram com f2−f4, prefiro o desenvolvimento do bispo de c8 na
diagonal a8−h1, atacando o § de e4, que agora pode ser incomodado. 9.g4? Grave erro de
conceito. Que elementos possuem as brancas para um ataque tão direto? De certa forma temos
aqui também um espírito de abertura errado, ainda que com teor diferente da partida passada.
Aqui as brancas decidem ser muito diretas em uma variante mais posicional. [9.a4 Era preciso
evitar b7−b5.] 9...h6 Não preciso me preocupar muito com o avanço dos peões, graças ao fato de
ainda não ter rocado. 10.f5? Outro erro de conceito. Ao fechar o centro as brancas abrem caminho
para o tradicional contra−jogo no flanco dama. Meu adversário omitiu um detalhe muito importante
nesta partida. O meu rei está em uma situação em que não pode sofrer qualquer ataque! Agora a
posição branca está estrategicamente comprometida, e não me parece exagero dizer que já está
perdida. [10.0-0 exf4 11.¥xf4 ¤e5 12.h3³] 10...b5! 11.0-0 ¥b7 12.¥f3 ¦c8 As peças pretas vão se
posicionando ameaçadoramente no flanco dama, enquanto as brancas não conseguiram nada no
outro flanco. Todos os temas que já estudamos começam a aparecer: sacrifício em c3, ruptura em
d5 etc. A única dificuldade é concentrar−se para utilizá−los na hora certa. 13.¦e1 ¤b6 O cavalo
está muito bem aqui, preparando a ruptura em d5. [13...b4∓ Também seria uma opção.] 14.¤a5?
Os lances das brancas tornam−se desconexos. Mas tudo isso ocorreu por não respeitar o espírito
da abertura! [14.a3 0-0∓] 14...¥a8 15.a4?? b4 16.¤b1 d5

107
XIIIIIIIIY
9l+rwqk+-tr0
9+-+-vlpzp-0
9psn-+-sn-zp0
9sN-+pzpP+-0
9Pzp-+P+P+0
9+-+-+L+-0
9-zPP+-+-zP0
9tRNvLQtR-mK-0
xiiiiiiiiy
Posição dos sonhos para as pretas

A posição merece um diagrama. As pretas dominam inteiramente o tabuleiro! [16...£c7


também seria bom.] 17.exd5 ¤bxd5 18.¤b3 0-0 Em uma posição como essas não é preciso se
importar com detalhes como o peão de e5. 19.¦xe5 £b6+ 20.¢f1 ¦fd8 A posição preta é
completamente ganha. Em situações como essa, basta estar atento para aplicar o golpe fatal.
21.£e1 ¦xc2 22.¦e2 ¦dc8 23.¤1d2

XIIIIIIIIY
9l+r+-+k+0
9+-+-vlpzp-0
9pwq-+-sn-zp0
9+-+n+P+-0
9Pzp-+-+P+0
9+N+-+L+-0
9-zPrsNR+-zP0
9tR-vL-wQK+-0
xiiiiiiiiy
Jogam as pretas e ganham

Muitos arremates são possíveis aqui, mas acho que escolhi o mais elegante. 23...¤f4!
24.¦xe7 ¤xg4! Agora as brancas não conseguem escapar dos diversos temas de mate existentes.
25.£g3 [25.¥xg4 ¥g2#] 25...¥xf3 26.¤xf3 ¦f2+ 27.¢e1 ¤g2+ O computador indica uma forma
mais matemática de vencer: [27...¤d3+ 28.¢d1 ¦xc1+ 29.¦xc1 ¤e3+ 30.¦xe3 ¤xb2+ 31.¢e1
£xe3#] 28.¢d1 £d8+ 29.¥d2 £xe7 0-1

108
VI- FINAIS TÍPICOS

Vamos encarar: a maioria dos enxadristas não gosta de estudar finais. Os envolvidos em
uma partida da Najdorf, provavelmente menos ainda. Esperam partidas complicadas, sacrifícios
brilhantes, defesas milagrosas. Mas uma partida de xadrez é feita de mais do que esses
componentes. É preciso dominar todas as suas etapas. E algumas vezes, mesmo em uma defesa
tão enérgica e complicada, o que fará a diferença será a técnica de finais. Seja um jogador
completo e não renegue o estudo desta parte tão importante do jogo.
Ao estudar uma nova abertura, é importante valorizar o estudo dos seus finais típicos.
Naturalmente, em algumas variantes esse tipo de trabalho é quase obrigatório. Digamos, em uma
Ruy Lopez variante das trocas, o estudo dos finais típicos é praticamente todo o trabalho
necessário. Nas Sicilianas este estudo não é tão fundamental, mas ainda assim é importante
conhecer que tipos de finais podem surgir normalmente, a quem favorece a troca de damas, quais
são as manobras típicas etc. Para todos os efeitos, consideraremos “final” qualquer posição sem
damas.
Esse é o estudo que proponho neste capítulo. Deixei-o para encerrar a apostila, de forma
proposital. O leitor estudioso, que chegou até aqui resolvendo diversos e complexos exercícios de
cálculo e estratégia, encontra-se provavelmente um tanto cansado. Portanto, considere o último
tópico como algo mais “relax”, que você verá sem grande esforço, mas atento aos principais
conceitos apresentados.
Justamente pelo fato das partidas da Najdorf chegarem relativamente pouco ao final, ao
menos comparado com outras variantes, não existe referência aos seus finais típicos, com poucos
exemplos didáticos disponíveis. Espero que o material apresentado aqui supra essa carência.

Regra Geral – Finais da Siciliana São Bons Para as Pretas

Em termos gerais, trocas de peças tendem a favorecer as pretas em estruturas de


Siciliana. O jogo das brancas é baseado principalmente na iniciativa e nos ataques no flanco rei.
Se o preto consegue neutralizar este ataque – e trocas de peças geralmente significam que o
ataque acabou -, então sua posição tende a ser pelo menos equilibrada. Obviamente me refiro,
tanto aqui quanto no próximo capítulo, dedicado às exceções a esta regra, a posições temáticas,
sem uma clara vantagem para um ou outro lado. Se o branco estiver em um final com o cavalo em
d5 x bispo mal em e7, então estamos em uma categoria à parte, um tipo de posição que não
precisa ser estudada para sabermos quem tem vantagem. As posições que veremos aqui são um
pouco mais sutis, com sua avaliação dependendo de fatores mais difíceis de serem vistos em um
rápido exame da posição.

109
Bom, meu ponto é que a avaliação da maioria das posições temáticas de finais da Siciliana
costuma ser boa para as pretas. Vejamos alguns exemplos que validam essa opinião.

Ljubojevic,L - Portisch,L
Wijk aan Zee, 1972
XIIIIIIIIY
9-+r+-+k+0
9+ltr-vlpzpp0
9p+-zp-sn-+0
9+p+-zpP+-0
9-+-+P+-+0
9zPLsN-tR-sNP0
9-zPP+R+P+0
9+-+-+-+K0
xiiiiiiiiy
Jogam as pretas

Uma posição confortável para as pretas. A ausência das damas significa que nenhum
ataque será possível no flanco rei. O branco está longe de conseguir o controle da casa d5,
enquanto a coluna c e o bispo de e7 são vantagens posicionais para as pretas. A única questão é
se a pequena vantagem será suficiente para a vitória, mas não há dúvida a respeito de quem leva
a iniciativa. 23...¦c5 Um lance bastante útil, reforçando o controle da casa d5 e preparando o
avanço dos peões do flanco dama. 24.¦d3 a5 25.¦dd2 As brancas, por sua vez, tratam de reforçar
a defesa do peão de c2. 25...h5! Esse tipo de jogada me parece bastante atraente e deve ser
aprendido por quem quer melhorar a técnica. De uma só tacada as pretas dão um respiro para seu
rei e criam problemas para as brancas, pois a ameaça h5−h4 é desagradável. 26.h4 Uma decisão
comprometedora, mas possivelmente a melhor. [26.¤d5 Seria a opção, mas a posição após
26...¥xd5 27.exd5 (27.¥xd5? h4 28.¤f1 ¤xd5 29.¦xd5 (29.exd5 ¥g5-+) 29...¦xd5! 30.exd5 ¦c5
31.¤e3 ¥g5-+) 27...h4 28.¤f1 ¤h5∓ seria difícil de defender, devido às debilidades nas casas
pretas.] 26...¢f8 Uma pequena imprecisão, permitindo que as brancas igualem o jogo
imediatamente. 26...¥a6 conservaria uma pequena iniciativa. Devo também mencionar uma
possibilidade interessante, utilizando o tradicional sacrifício em c3. [26...¦xc3!? 27.bxc3 a4 28.¥a2
¦xc3 29.¦d3 ¦xd3 30.cxd3 d5! Este lance revela a verdadeira idéia das pretas. Uma idéia um
pouco otimista e romântica, é bem verdade, mas ainda assim, ou talvez por isso mesmo, de
bastante interesse! O plano é capturar em a3 e vencer com os peões passados no flanco dama.
Com a defesa correta, entretanto, não acredito que haja mais que o empate. 31.¦c2 (31.exd5?

110
¥xa3-+; 31.¦b2÷) 31...¥d6 com posição complicada.] 27.¢h2 Nada de errado, mas [27.¤d5!=
seria mais incisivo. A partida provavelmente terminaria em empate. 27...¤xd5 (27...¥xd5 28.exd5=)
28.exd5 (28.¥xd5?! ¥a6 29.f6! ¥xf6 30.¦f2 ¦5c7 31.¤f5 ¦d7 com vantagem preta.) 28...¦5c7
29.¤e4 ¥a6 30.g3 a4 31.¥a2 b4 32.¦f2 e não há maneira de aumentar a iniciativa no flanco
dama.] 27...¥a6 28.¤d5 ¤xd5 29.exd5 ¦5c7 30.¢h3 a4 31.¥a2 b4 A iniciativa preta parece
crescer rapidamente, mas o branco ainda tem defesa. 32.¦e4! bxa3 33.¦xa4 ¥c4 34.b3 ¥b5
35.¦xa3? Erro decisivo. Mesmo nos finais é importante ter bastante atenção com a tática! [35.¦a5!
garantiria o empate. 35...¦xc2 (35...¥d7 36.c4) 36.¦xc2 ¦xc2 37.¦xb5 g6 38.¦b8+ Outros lances
também são possíveis. a) 38.¥b1?! ¦c1 (38...a2 39.¥xa2 ¦xa2=) 39.¦a5 ¦xb1 40.¦xa3 ¦d1; b)
38.fxg6 fxg6 39.¥b1 ¦c1 (39...a2 40.¥xa2 ¦xa2 41.¤e4=) 40.¥xg6 a2 41.¦a5 (41.¤f5? ¦h1+
42.¢g3 ¥xh4+! 43.¢f3 ¦f1+ 44.¢e3 ¦xf5 45.¦a5 ¦f2∓) 41...a1£ 42.¦xa1 ¦xa1 43.¥xh5 ¦b1
44.¥f3 ¦xb3=; 38...¢g7 39.¦b7 ¢f8=]

XIIIIIIIIY
9-+r+-mk-+0
9+-tr-vlpzp-0
9-+-zp-+-+0
9+l+PzpP+p0
9-+-+-+-zP0
9tRP+-+-sNK0
9L+PtR-+P+0
9+-+-+-+-0
xiiiiiiiiy
Qual o melhor lance para as pretas?

35...¦c3!-+ Paralisando as peças brancas. A cravada é mortal e a situação do bispo de a2


é trágica. 36.¥b1 [36.¢h2 ¥xh4 37.¤xh5 (37.¤e4 ¦e3-+) 37...g6-+] 36...e4 37.¢h2 e3 38.¦d4 ¥f6
39.¦b4 ¥e5 40.¦xb5 e2 0-1

Savon,V − Mecking,H
Petropolis (izt), 1973

1.e4 c5 2.¤f3 d6 3.d4 cxd4 4.¤xd4 ¤f6 5.¤c3 a6 6.¥g5 e6 7.f4 ¤bd7 8.£e2 £c7 9.g4 b5 10.a3
¥e7 11.¥g2 ¥b7 12.0-0-0 ¦c8 13.¥h4 £c4 14.£xc4?! ¦xc4 15.¥f3

111
XIIIIIIIIY
9-+-+k+-tr0
9+l+nvlpzpp0
9p+-zppsn-+0
9+p+-+-+-0
9-+rsNPzPPvL0
9zP-sN-+L+-0
9-zPP+-+-zP0
9+-mKR+-+R0
xiiiiiiiiy
Jogam as pretas

O jogo das brancas foi displicente. Como conseqüência, Mequinho já tem clara iniciativa.
15...¤c5 16.¥e2 É preciso entrar nas complicações, pois [16.¦he1 ¤fxe4∓ perderia um peão.]
16...¤fxe4 17.¤xe4? [17.¥xe7 Seria mais tenaz. 17...¤xc3 18.bxc3 ¢xe7 19.¥xc4 ¥xh1
20.¥xb5∓ Ainda assim a posição preta seria claramente superior.] 17...¥xe4 18.¥xe7

XIIIIIIIIY
9-+-+k+-tr0
9+-+-vLpzpp0
9p+-zpp+-+0
9+psn-+-+-0
9-+rsNlzPP+0
9zP-+-+-+-0
9-zPP+L+-zP0
9+-mKR+-+R0
xiiiiiiiiy
Jogam as pretas e ganham

18...¤b3+!-+ Um bonito golpe tático, que decide a partida. 19.¢b1 [19.¤xb3 ¦xc2+
20.¢b1 ¦xe2+-+] 19...¦xd4 20.¥xd6 ¥xh1 21.cxb3 ¦xd1+ 22.¥xd1 ¢d7 O resto é uma simples
questão de técnica. 23.¥e5 f6 24.¥c3 ¥e4+ 25.¢a2? ¢c6 26.a4 ¦d8 27.¥e2 e5 28.fxe5 fxe5
29.¥xe5 ¦d2 30.¥f1 ¦d1 31.axb5+? axb5 32.¥h3 b4 33.¥xg7 ¦d7 0-1

112
Leko,P - Gelfand,B
Dortmund, 1996

1.e4 c5 2.¤f3 d6 3.d4 cxd4 4.¤xd4 ¤f6 5.¤c3 a6 6.¥e3 e6 7.g4 h6 8.f4 ¤c6 9.h3 £c7
10.£e2 b5!? 11.¤xc6 £xc6 12.¥g2 ¥b7 13.¥d4 ¥e7 [13...b4 14.¤d5 ¤xd5 15.exd5 £b5
16.£xb5+ axb5 17.0-0±] 14.a3 ¦c8 15.0-0-0 [15.0-0 0-0÷] 15...£c4 16.£d2 [¹16.¦d3] 16...b4
[16...0-0 17.¢b1÷] 17.axb4 £xb4 18.¢b1 a5 19.¦he1?! [19.h4] 19...0-0 20.¤a2?! £xd2 21.¦xd2

XIIIIIIIIY
9-+r+-trk+0
9+l+-vlpzp-0
9-+-zppsn-zp0
9zp-+-+-+-0
9-+-vLPzPP+0
9+-+-+-+P0
9NzPPtR-+L+0
9+K+-tR-+-0
xiiiiiiiiy
Jogam as pretas

Mais uma vez a posição simplificada favorece às pretas. Não existe mais ataque no flanco
rei, mas o monarca branco ainda pode ser atacado, graças às colunas semi−abertas em "c" e "b".
Em termos práticos a posição preta é muito fácil de jogar, enquanto as brancas não têm um plano
claro. 21...¤d7 22.¤c3 ¥c6 23.¥f1 [23.¤d5 exd5 24.exd5 ¥h4 25.dxc6 ¥xe1 26.¦e2 ¤b8∓; 23.e5
¥xg2 24.¦xg2 dxe5 25.fxe5³] 23...¦b8 As jogadas pretas são naturais. Seu objetivo inicial é
concentrar as peças em um possível ataque no flanco dama. 24.¥c4 [24.¤d5 exd5 25.exd5 ¥h4
26.dxc6 ¥xe1∓] 24...¦b4 25.b3 [25.¥a2 ¦fb8; 25.¤d5? exd5 26.exd5 ¥h4-+] 25...¦fb8 26.¢a2
¦xc4!? Interessante sacrifício de qualidade. Como compensação as pretas obtêm um peão e muita
atividade para suas peças. 27.bxc4 ¦b4 28.e5 [28.¤d5 ¦a4+ 29.¢b2 ¥h4; 28.c5 dxc5 29.¥g1 g5∓]
28...dxe5 29.fxe5 ¦xc4 30.¤d1 ¥d5 31.¢b1 ¦b4+ 32.¤b2 ¤c5 As pretas têm clara vantagem,
que mais tarde foi convertida em vitória.

113
Lutz,Ch − Kasparov,G
Bled (ol), 2002

1.e4 c5 2.¤f3 d6 3.d4 cxd4 4.¤xd4 ¤f6 5.¤c3 a6 6.¥e2 e6 7.a4 ¤c6 8.¥e3 ¥e7 9.0-0 0-0 10.f4
£c7 11.¢h1 ¦e8 12.¥d3 ¤b4 13.a5 ¥d7 14.¤f3 ¦ac8 15.£e1 ¥c6 16.¥d4 ¤d7 17.£g3 ¥f6!?
18.¥xf6 ¤xf6 19.¤d4! ¦ed8 20.£h4! ¤xd3 21.cxd3 £e7! 22.h3?! ¥e8 23.¦fc1

XIIIIIIIIY
9-+rtrl+k+0
9+p+-wqpzpp0
9p+-zppsn-+0
9zP-+-+-+-0
9-+-sNPzP-wQ0
9+-sNP+-+P0
9-zP-+-+P+0
9tR-tR-+-+K0
xiiiiiiiiy
Jogam as pretas

23...¤d5! Kasparov aproveita um tema tático para sugerir a troca de damas. Caso as
brancas não a aceitem, então o cavalo ruma a um posto mais ativo. 24.£xe7 [24.£g3!? ¤b4=
(24...¤xc3 25.bxc3²) ] 24...¤xe7 Uma posição de igualdade dinâmica. A posição preta é bastante
sólida e com potencial. Se elas conseguirem minar o centro, com jogadas como e6−e5 e depois
d6−d5 ou f7−f5, podem conseguir vantagem, pois seu bispo garantirá a superioridade em uma
posição aberta. Entretanto, as brancas não fizeram nada de errado até agora e possuem bom
controle central. 25.¢g1 [25.g4 seria uma tentativa de evitar a ruptura em f5, como ocorreu na
partida. Mas as brancas criam com esta jogada debilidades que podem ser exploradas através de
outra ruptura. 25...e5 26.¤de2 d5ƒ com iniciativa preta.] 25...e5! 26.¤de2 f5! Abrindo a posição.
[26...d5 Seria a opção, mas a partida tenderia à igualdade aqui também. 27.fxe5 (27.exd5 Leva a
simplificações gerais, com provável empate após 27...¤xd5 28.fxe5 ¤xc3 29.¦xc3 ¦xc3 30.¤xc3
¦xd3 31.¦d1 ¦xd1+ 32.¤xd1 ¢f8 33.¢f2 ¢e7 34.¢e3) 27...dxe4 28.d4!? e é difícil avaliar se o
peão passado em "e" é um trunfo ou uma debilidade.(28.dxe4 ¦d2 29.b4 ¤g6³; 28.¤xe4 ¦xd3 As
brancas precisam jogar com cuidado aqui, mas a tendência é o empate.) ; 26...f6 27.d4=] 27.exf5
[27.¢f2 ¥c6³; 27.g4!? forçaria uma definição. A posição seria equilibrada após 27...fxe4 28.dxe4
exf4 29.¤xf4 ¥f7 30.¦d1] 27...¤xf5 28.¤d5 [28.g4 ¤e7 29.f5 ¥c6÷] 28...¦c5! Kasparov não é o
tipo do jogador que deixa escapar recursos táticos como esse. Agora as brancas têm uma difícil

114
escolha e cometem um grave erro. 29.¤b6? O cavalo fica mal colocado aqui, distante da batalha.
[29.¤ec3 ¥f7∓; 29.¤c7! ¥c6 (29...¥f7 30.¦xc5 dxc5 31.fxe5 ¦c8 32.e6 ¦xc7 33.exf7+ ¢xf7=;
29...¦c8 30.¦xc5 dxc5 31.¤xe8 ¦xe8 32.¦c1 exf4 33.¦xc5 ¦xe2 34.¦xf5 ¦xb2 35.¦xf4 ¦b5
36.¦c4=; 29...¦xc1+ 30.¦xc1 ¥f7=) 30.g4 (30.¦xc5 dxc5 31.fxe5 ¦xd3ƒ; 30.b4!? ¦xc1+ 31.¦xc1)
30...¤e7 (30...¤e3 31.d4÷) 31.d4 (31.¤e6 ¦xc1+ 32.¦xc1 ¦e8=) 31...¦xc1+ 32.¦xc1 ¦c8 33.¤e6÷]
29...¥b5 Agora a posição branca é difícil. 30.fxe5?! [30.¦xc5 dxc5 31.fxe5 ¦xd3³] 30...¦xe5
31.¤f4 ¤d4!∓ 32.¦c8 ¦xc8 33.¤xc8 ¥c6! [33...g5 34.¤h5 ¦e2 35.¤xd6 ¥c6 36.¤e4 ¦xb2
37.¦f1÷] 34.¦f1 [34.¤xd6 ¤e2+ 35.¤xe2 ¦xe2 36.¤e4 ¦xb2∓]

XIIIIIIIIY
9-+N+-+k+0
9+p+-+-zpp0
9p+lzp-+-+0
9zP-+-tr-+-0
9-+-sn-sN-+0
9+-+P+-+P0
9-zP-+-+P+0
9+-+-+RmK-0
xiiiiiiiiy
Como jogar com as pretas?

34...¦e8! Um elemento importante da técnica é a precisão na hora do arremate. Em algum


momento será preciso calcular variantes e negar contra−jogo ao adversário. Kasparov aproveita
um bonito tema tático para mandar o cavalo branco para bem longe do centro. 35.¤a7 Forçado.
[35.¤xd6 ¦f8 Este é o detalhe. As brancas perdem material. 36.g3 g5-+; 35.¤b6 ¦f8 36.g3 ¤f3+-+]
35...¥d7 [35...¦f8 36.¤xc6 bxc6 37.g3 ¦f5∓ Seria possível, mas suponho que a tentação de deixar
aquele cavalo em a7 tenha sido muito grande.] 36.¤d5 h5! As pretas podem criar numerosos
temas com o avanço h5−h4. Essas jogadas são especialmente difíceis de fazer, porque seus
benefícios não ficam claros imediatamente. Mas veja como a partida terminou e você entenderá...
37.¤b6?! [37.¢h2! Seria melhor, mas as pretas conservariam a iniciativa após 37...¦e2 38.b4 h4
39.¦f4 ¤f5‚] 37...¥f5 38.¢h2 g5! Os peões começam a tomar parte decisiva no ataque. Que triste
a disposição dos cavalos brancos! 39.¦c1? [ Melhor seria 39.¤c4.] 39...g4! Agora todos os tipos
de temas táticos são possíveis. Kasparov define a partida rapidamente. 40.hxg4 [40.¦c4 ¦e3!-+;
40.¤d5 g3+ 41.¢h1 ¢g7-+; 40.¤ac8 g3+ 41.¢h1 ¦e2 42.¤d5 ¥xc8 43.¦xc8+ ¢g7 44.¦c1 ¦xb2-
+] 40...hxg4 41.¤ac8 g3+ 42.¢h1 ¦e6 0-1 Uma partida muito instrutiva.

115
Leko,P − Kasparov,G
Bled (ol), 2002

1.e4 c5 2.¤f3 d6 3.d4 cxd4 4.¤xd4 ¤f6 5.¤c3 a6 6.f3 e5 7.¤b3 ¥e6 8.¥e3 ¤bd7 9.g4
b5 10.g5 b4 11.¤d5 ¤xd5 12.exd5 ¥f5 13.¥d3 ¥xd3 14.£xd3 ¥e7 15.h4 0-0 16.0-0-0 a5 17.¤d2
a4 18.¢b1 f5„ 19.f4 [19.gxf6 ¤xf6 20.¤c4 (20.h5 ¦a5!) 20...¤h5„; 19.¤c4!?] 19...£c7! 20.¤c4
exf4! [20...e4 21.£e2²] 21.¥d4!? ¤c5! 22.¥xc5 £xc5 23.¦hf1 [23.¦df1!?÷] 23...¦fe8 24.¦xf4 g6³
25.£d4! [25.h5? ¥xg5 26.hxg6 ¥xf4 27.£xf5 ¦f8 28.£e6+ ¢g7!-+ (28...¢h8? 29.£e7+−) ; 25.£h3
¥f8 26.h5 ¥g7 27.hxg6 hxg6] 25...£xd4 26.¦fxd4

XIIIIIIIIY
9r+-+r+k+0
9+-+-vl-+p0
9-+-zp-+p+0
9+-+P+pzP-0
9pzpNtR-+-zP0
9+-+-+-+-0
9PzPP+-+-+0
9+K+R+-+-0
xiiiiiiiiy
Jogam as pretas

Mais uma vez vemos um final em que as melhores chances estão com as pretas. O bispo
é superior ao cavalo nesta posição. Além do mais, as pretas podem aproveitar mais rapidamente
sua maioria no flanco rei do que as brancas no flanco dama. 26...h6! Dando vida ao bispo de e7 e
criando mais debilidades na posição branca. 27.¦g1 Leko acha este lance espetacular, a ponto de
avaliá−lo com "!!" em suas análises para o Informador. Sinceramente para mim isso é um grande
exagero. Primeiro porque só existem duas jogadas possíveis: 27.¦g1 ou 27.gxh6. Segundo porque
para mim não está claro que a vantagem preta seja maior depois de 27.gxh6 ¢h7 do que é na
continuação da partida. [27.gxh6 ¢h7³] 27...a3 Kasparov decide avançar o flanco dama, mas seria
mais natural [27...hxg5 28.hxg5 ¢f7, com um pequena vantagem.] 28.bxa3 bxa3 29.c3! Leko
aproveita para abrir caminho para seu rei. 29...hxg5 30.hxg5 ¥f8 [30...¢f7!? (∆ ¦h8) 31.¦h4=]
31.¢c2 ¥g7 32.¦d3 ¦e4!? Kasparov decide forçar a posição. 33.¤xd6 ¦e2+ 34.¦d2 ¦xd2+
35.¢xd2 ¦d8 36.¤c4 ¦xd5+ 37.¢c2= As brancas conseguiram neutralizar a iniciativa preta e
podem contar com o empate. 37...¦c5 38.¢d3 ¦d5+ [38...f4 39.¦g4!? ¦f5 40.¤xa3 f3 41.¦g1 f2
42.¦f1 ¦f3+ 43.¢e4 ¦xc3 44.¤b5=] 39.¢c2 ¥f8!? Recusando o empate. 40.¦e1!„ f4 41.¦e5 ¦d7

116
42.¦e4 ¦f7 [42...f3 43.¦f4 ¦d5 44.¦xf3 ¦xg5=] 43.¤e5 ¦f5 44.¤f3 [44.¤xg6? f3 45.¦e1 f2 46.¦f1
¥c5∓] 44...¦b5 45.¢d3 ¦b2 46.¦e2 De agora em diante Kasparov força mais do que o necessário
e acaba em grande desvantagem. Era preciso aceitar o empate. 46...¥g7?! 47.c4 ¢f7? [47...¥f8]
48.c5± De repente o peão de "c" das brancas torna−se extremamente perigoso. 48...¦xe2
49.¢xe2 ¢e6 50.¤h4! ¥f8 [50...¢d5 51.¤xg6 ¢xc5 52.¤xf4] 51.c6 [51.¤xg6? ¥xc5 52.¤xf4+
¢f5=] 51...¥e7 52.¤xg6 ¥xg5

XIIIIIIIIY
9-+-+-+-+0
9+-+-+-+-0
9-+P+k+N+0
9+-+-+-vl-0
9-+-+-zp-+0
9zp-+-+-+-0
9P+-+K+-+0
9+-+-+-+-0
xiiiiiiiiy
Jogam as brancas e ganham

53.¤e5? Um incrível erro, considerando que o jogador das brancas é um dos melhores
enxadristas do mundo. 53.¤f8+ ganhava uma peça, e com ela a partida. Após o lance do texto
ocorre um empate imediato. [53.¤f8+! ¢d6 54.c7 ¢xc7 (54...f3+ 55.¢xf3 ¢xc7 56.¤e6+ ¢d6
57.¤xg5 ¢c5 58.¢e3+−) 55.¤e6+ ¢d6 56.¤xg5 ¢d5 57.¢d3+−] 53...¥d8 54.¤c4 ¢d5 ½-½

Finais que Favorecem às Brancas

Às vezes a transição ao final é vantajosa às brancas, por alguns motivos específicos. Estes
casos ocorrem mais raramente, mas é importante reconhecê-los.

Anand,V − Kamsky,G
Las Palmas (m/11), 1995

1.e4 c5 2.¤f3 d6 3.d4 cxd4 4.¤xd4 ¤f6 5.¤c3 a6 6.¥e3 e6 7.¥e2 ¥e7 8.f4 ¤c6 9.£d2
¤xd4 10.£xd4 0-0 11.0-0-0 £a5?

117
XIIIIIIIIY
9r+l+-trk+0
9+p+-vlpzpp0
9p+-zppsn-+0
9wq-+-+-+-0
9-+-wQPzP-+0
9+-sN-vL-+-0
9PzPP+L+PzP0
9+-mKR+-+R0
xiiiiiiiiy
Qual o melhor lance para as brancas?

12.£b6! £xb6 13.¥xb6 Por que nesta posição a troca de damas favorece às brancas? Por
alguns motivos bem concretos. As pretas têm grande dificuldade em defender o peão de d6 e
completar seu desenvolvimento. Seu cavalo terá que retroceder a e8. Enquanto isso as brancas
podem aproveitar seu melhor desenvolvimento e vantagem de espaço.
13...¤e8 Uma triste necessidade. As alternativas não ajudariam. [13...¤d7 14.¥c7+−;
13...¥d7 14.e5 dxe5 (14...¤e8 15.¥c5!+−) 15.fxe5 ¤d5 16.¤xd5 exd5 17.¥f3±; 13...e5 14.f5±]
14.e5! Ganhando espaço e dominando o cavalo de e8. 14...d5 [14...f6 15.¥f3!; 14...dxe5 15.fxe5 f6
16.exf6 ¤xf6±] 15.f5! Anand joga de forma enérgica. A pressão vai aumentando a cada jogada.
15...¥d7 [15...exf5 16.¤xd5 ¥g5+ 17.¢b1+−] 16.¥g4! [16.fxe6 fxe6 17.¥g4 não seria tão preciso,
pois após 17...¥c8 As pretas ao menos teriam um plano: g6 seguido de ¤g7.] 16...¥c8?! Muito
passivo. Era preciso tentar mudar o caráter da posição a qualquer custo. [16...¥b4 era mais
interessante. As brancas teriam que encontrar um difícil lance após 17.fxe6 ¥xe6 : 18.¤xd5!
(18.¥f3?! ¥xc3 19.bxc3 ¦c8 20.¥xd5 ¥xd5 21.¦xd5 ¤c7÷) 18...¥xg4 19.¦d4 ganhando um peão.]
17.¦hf1! Agora as pretas estão paralisadas e não têm um plano útil. 17...a5 18.¤a4! f6 19.fxe6
fxe5 20.¤c3 ¥g5+ [20...¦xf1 21.¦xf1 ¤f6 Seria arrematado de forma elegante: 22.¦xf6!! ¥xf6
(22...gxf6 23.¤xd5 ¢f8 24.¤xe7!+−) 23.¤xd5+−] 21.¢b1 ¤f6 22.¤xd5 ¤xg4 23.¦xf8+ Anand
deixa escapar uma vitória mais simples: [23.e7! ¦e8 24.¤c7+−] 23...¢xf8 24.¤c7 ¦a6 25.¥c5+
¢g8 26.¤xa6 ¥xe6 27.¤c7+− O resto é simples. 27...¥f5 28.h3 ¤f6 29.g4! ¥e4 30.¤e6 ¥h4
31.g5! ¤d5 32.¦f1 h6 33.gxh6 gxh6 34.¦f8+ ¢h7 35.¥d6! ¤b4 36.¥xe5 ¥xc2+ 37.¢c1 ¥e4
38.¤f4 ¤d3+ 39.¤xd3 ¥xd3 40.¦h8+ [40.¦f7+ ¢g6 41.¦xb7] 40...¢g6 41.¥f4!+− ¥g5 42.¥xg5
¢xg5 43.¢d2 ¥b5 44.¦a8 ¥a6 45.¦c8 ¢h4 46.¦c5 a4 47.¦a5 h5 48.¢e3 [48.¢e1! ¥d3?
49.¦xa4+ ¢xh3 50.¦a3] 48...¥f1 49.¦xa4+ ¢xh3 50.¢f2 1-0

118
Leitão,R − Sunye,J
São Paulo (rapid) 2000

1.e4 c5 2.¤f3 d6 3.d4 cxd4 4.¤xd4 ¤f6 5.¤c3 a6 6.¥e2 e5 7.¤b3 ¥e7 8.0-0 0-0 9.¢h1 ¤bd7
10.a4 b6 11.¥e3 ¥b7 12.f3 £c7 13.¦f2 ¦fd8 14.¥f1 h6 15.¦d2 ¤c5?! 16.¤xc5 dxc5 17.¥c4
¦xd2 18.£xd2 ¦d8 19.£e2 £c8

XIIIIIIIIY
9-+qtr-+k+0
9+l+-vlpzp-0
9pzp-+-sn-zp0
9+-zp-zp-+-0
9P+L+P+-+0
9+-sN-vLP+-0
9-zPP+Q+PzP0
9tR-+-+-+K0
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Jogam as brancas

Mesmo com a presença das damas, podemos considerar essa posição como um final. As
brancas têm vantagem, decorrente da melhor estrutura de peões. Com seu erro na jogada 15,
Sunye comprometeu a casa d5 e caiu em grande passividade, pois sua dama e bispo estão atados
ao peão de a6. Obviamente não é fácil converter essa vantagem posicional em vitória, mas minha
posição é muito confortável de jogar, pois não sofro qualquer risco de derrota. 20.¢g1 Melhorando
a posição do meu rei, pois no final é sempre bom tê−lo próximo ao centro. 20...¢f8 Sunye faz o
mesmo. 21.¦d1 ¦xd1+ 22.£xd1 £c7 23.£e2 Aqui está o grande problema das pretas: a dama
deve voltar para defender o peão. 23...£c8 24.£d3 ¢e8?! 25.¢f1 ¢f8 26.¤d5! Aproveitando para
converter uma vantagem posicional em outra. Agora consigo um peão passado e também posso
aproveitar um tema com a invasão da dama em h7. 26...¤xd5 27.exd5 £d7 [27...¥d6 Seria o
natural e bom para as pretas, caso o branco não pudesse explorar a posição do rei em f8.
28.£h7!±] 28.¥xa6 Uma decisão difícil. [28.£h7 era muito tentador. Entretanto, não sei se a
posição após 28...¥f6 29.a5! ¥xd5 30.¥xd5 £xd5 31.axb6 ¢e7 poderia ser convertida em vitória,
apesar da grande vantagem branca.] 28...¥xa6?! Um erro posicional. Era preciso conservar os
bispos. [28...¥xd5!²] 29.£xa6 £xd5 30.¢e2± Agora a posição preta é muito difícil. Seu bispo é
ruim, conto com uma maioria no flanco dama, o peão de b6 é muito débil e meu rei está mais
próximo do centro. 30...¥d8 31.£d3 £a8 32.£d6+ ¢g8 33.b3 f6 34.£d7 £b8

119
XIIIIIIIIY
9-wq-vl-+k+0
9+-+Q+-zp-0
9-zp-+-zp-zp0
9+-zp-zp-+-0
9P+-+-+-+0
9+P+-vLP+-0
9-+P+K+PzP0
9+-+-+-+-0
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Qual o melhor lance para as brancas?

35.h4! Como o leitor já deve ter percebido, adoro esse tipo de avanço. É possível que a
posição pudesse ser ganha com a marcha imediata do rei até b5, mas é importante acumular o
maior número de vantagens possíveis antes de partir para o arremate. O plano é avançar o peão
até h5, fixando os peões na casa preta, restringindo ainda mais o bispo do meu adversário e
encurralando seu rei. 35...¥c7 36.h5 ¥d6 37.¢d3+− Agora sim, estou pronto para o assalto final.
37...¥f8 38.¢c4 ¢h8 39.¢b5 e4 Sunye tenta complicar a posição. 40.fxe4 £g3 41.£f7 £xe3
42.£xf8+ ¢h7 43.£f7 £d4 44.£c4 £d7+ 45.¢xb6 £d6+ 46.¢b5 £d7+ 47.¢xc5 £e7+ 48.¢b5
£b7+ 49.¢a5 £a7+ 50.¢b4 £e7+ 51.£c5 £xe4+ 52.¢a3 £xg2 53.a5 £f1 54.¢a2 f5 55.£c6 f4
56.a6 £f2 57.£c7 £e2 58.a7 £a6+ 59.¢b2 f3 60.£f7 f2 61.£xf2 £a5 62.£d4 1-0

Karpov,A − Mecking,H
Hastings, 1971

1.e4 c5 2.¤f3 d6 3.d4 cxd4 4.¤xd4 ¤f6 5.¤c3 a6 6.¥e2 e5 7.¤b3 ¥e6 8.f4 £c7 9.a4 ¤c6? Um
erro posicional grave. O cavalo raramente está bem colocado em c6 nessa estrutura. Além do
mais, as pretas agora são forçadas a ceder seu bispo de casas brancas, comprometendo
gravemente a casa d5. 10.f5 ¥xb3 11.cxb3 £b6 12.¥g5± ¥e7 13.¥xf6 ¥xf6 14.¤d5 £a5+
15.£d2 £xd2+ 16.¢xd2 (VER DIAGRAMA SEGUINTE) Um final de sonhos para as brancas. Com
o firme controle da casa d5, elas jogam praticamente sozinhas. 16...¥g5+ 17.¢d3 0-0 18.h4 ¥d8
19.¦ac1 a5 20.¢d2 ¦b8 21.g4 ¤b4 22.¥c4 ¤xd5 23.¥xd5 A vitória é uma questão de tempo.
23...g5 24.fxg6 hxg6 25.¢d3 ¢g7 26.h5 ¥b6 27.¦h3 ¥c5 28.¦f1 f6 29.hxg6 ¢xg6 30.¦fh1 ¦be8
31.¦h7 [∆ ¦1h5] 31...¢g5 32.¢e2 ¢f4 33.¦1h3 ¥d4? 34.¦g7 1-0

120
XIIIIIIIIY
9r+-+k+-tr0
9+p+-+pzpp0
9p+nzp-vl-+0
9+-+NzpP+-0
9P+-+P+-+0
9+P+-+-+-0
9-zP-mKL+PzP0
9tR-+-+-+R0
xiiiiiiiiy
Final ideal para as brancas

Shirov,A − Ljubojevic,Lj
Linares, 1995

1.e4 c5 2.¤f3 d6 3.d4 cxd4 4.¤xd4 ¤f6 5.¤c3 a6 6.¥e3 e5 7.¤b3 ¥e6 8.f3 ¥e7 9.£d2
d5?! Um lance apressado. A ruptura central tende a favorecer o lado com melhor desenvolvimento.
Este é um dos raros momentos em que devemos condenar a tradicional ruptura ...d6−d5. 10.exd5
¤xd5 11.¤xd5 £xd5 12.£xd5 ¥xd5 13.0-0-0 ¥e6

XIIIIIIIIY
9rsn-+k+-tr0
9+p+-vlpzpp0
9p+-+l+-+0
9+-+-zp-+-0
9-+-+-+-+0
9+N+-vLP+-0
9PzPP+-+PzP0
9+-mKR+L+R0
xiiiiiiiiy
Jogam as brancas

As brancas têm vantagem neste final. Trata−se de uma vantagem dinâmica, baseada em
um fator efêmero: o melhor desenvolvimento. Agora é o momento de transformar essa vantagem

121
em algo mais duradouro. 14.¤a5!? [14.¤c5 ¥xc5 15.¥xc5. Transformando a vantagem, pois agora
o branco dispõe do par de bispos. 15...¤d7 16.¥d6 0-0-0 (16...¦c8?! 17.¥d3 ∆ ¥e4 ×b7) 17.¦d3
b5²] 14...b5 15.¥d3 f5 O preto é forçado a avançar seus peões temerariamente, enquanto o
branco segue se desenvolvendo. A posição preta é perigosa, mas ainda pode ser sustentada.
16.¦he1 [16.g4 Seria um lance temático, mas as pretas conservariam sua desvantagem em um
mínimo após 16...0-0!² (16...g6?! 17.gxf5 gxf5 18.f4! e4 19.¥e2‚) ] 16...¤d7 17.¤c6 ¦c8 18.¤xe7
¢xe7 19.¥d2 As brancas agora têm o par de bispos e preparam−se para atacar os peões centrais
pretos. 19...¢f6 20.¥c3

XIIIIIIIIY
9-+r+-+-tr0
9+-+n+-zpp0
9p+-+lmk-+0
9+p+-zpp+-0
9-+-+-+-+0
9+-vLL+P+-0
9PzPP+-+PzP0
9+-mKRtR-+-0
xiiiiiiiiy
Como jogar com as pretas?

20...g5? Era preciso tomar uma medida drástica para complicar a posição. [20...¦xc3!
21.bxc3 ¦c8², com compensação pela qualidade.] 21.g3? Shirov dá nova chance ao adversário.
Após o correto [21.¥f1! As pretas estariam em graves problemas. 21...¦he8 (21...¦c6? 22.¦xd7+−;
21...¦c5 22.¦d6 ¤b8 23.g3±) 22.¦d6 ¦a8 23.g3±] 21...¦xc3! 22.bxc3 ¦c8 As pretas conseguem
razoável compensação, mas a vantagem branca ainda persiste. Na complicada luta a seguir,
Ljubojevic acabou salvando o empate. 23.c4! bxc4 24.¥f1 ¦c6 25.¦e3 h5?! [25...f4!²] 26.f4! e4
[26...gxf4 27.gxf4 exf4 28.¦f3±] 27.¦a3 h4 28.¦d4 hxg3 29.hxg3 gxf4 30.gxf4 ¢e7 31.¦a5 ¢f6
32.¢d2 ¢e7 33.c3?! [33.¥e2 ¢f6 34.¦a3 ¢e7 35.¦h3 ¤f6 36.a3±] 33...¢f6 34.¢e3 ¢e7 35.¥h3
¤c5 36.¥xf5? [36.¦d2²] 36...¥xf5 37.¦d5 ¤b7 38.¦xf5 ¤xa5 39.¦xa5 ¦d6!= 40.¢xe4 ¦d3
41.¦xa6 ¦xc3 42.f5 ¦h3 43.¢e5 ¦e3+ 44.¢d4 ¦f3 45.¦e6+ ¢d7 46.¦e5 c3 47.¦c5 ¢d6 ½-½

Short,N − Polgar,Ju
Budapest, 2003

1.e4 c5 2.¤f3 d6 3.d4 cxd4 4.¤xd4 ¤f6 5.¤c3 a6 6.¥e2 e5 7.¤b3 ¥e7 8.0-0 0-0 9.¢h1
¤c6 10.¥e3 ¥e6 11.£d2 d5!? 12.exd5 ¤xd5 13.¤xd5 ¥xd5 [13...£xd5 Foi tentado algum tempo

122
depois e as pretas não tiveram grandes problemas para igualar. 14.£xd5 ¥xd5 15.¦ad1 ¥e6
(15...¦fd8? seria um erro tático decisivo. 16.¥b6 ∆¦d7 17.¥g4+−) 16.¤c5 ¥xc5 17.¥xc5. Assim
como na partida principal, as brancas ganham um par de bispos. Esse parece ser um preço justo
por sua vantagem em desenvolvimento. Entretanto, parece bem melhor entregar o bispo de e7 do
que o de e6, como Judith Polgar preferiu. 17...¦fc8! e as pretas conseguiram igualar a partida, que
mais tarde terminou em empate. Timofeev,A −Berkes,F Moscou 2004] 14.¦fd1 ¥xb3?! Não gosto
de entregar o bispo de casas brancas. [14...¥e6] 15.axb3² £xd2 16.¦xd2

XIIIIIIIIY
9r+-+-trk+0
9+p+-vlpzpp0
9p+n+-+-+0
9+-+-zp-+-0
9-+-+-+-+0
9+P+-vL-+-0
9-zPPtRLzPPzP0
9tR-+-+-+K0
xiiiiiiiiy
Jogam as pretas

O par de bispos em posição aberta garante uma cômoda vantagem para as brancas. O
que é realmente desagradável para as pretas é que elas estão destinadas a uma luta pelo empate,
com chances de vitória praticamente inexistentes. 16...¦ad8 17.¦ad1 ¦xd2 18.¦xd2 ¦d8 19.¥d3
De acordo com as análises de Short seria melhor trocar as torres. [19.¦xd8+ ¥xd8 20.c3 f5
21.¥c4+ ¢f8 22.f3² com vantagem, mas é difícil saber se ela é suficiente para a vitória. Em termos
práticos, entretanto, não é preciso saber a resposta a essa indagação. Basta sabermos que essa é
uma posição a ser evitada com as pretas e que a abertura foi um sucesso para o branco.] 19...g6
20.c3 a5 [20...¥c5 Seria um interessante recurso tático, mas as brancas conservariam um peão a
mais após 21.¥xc5 e4 22.¥d4 exd3 23.¦xd3 ¤xd4 24.cxd4] 21.f3 h6!? Judith é uma jogadora
muito ativa, que está sempre procurando temas táticos para resolver seus problemas. O lance do
texto prepara a troca dos bispos com...¥e7−g5, aproveitando o fato de que as brancas não podem
capturar em h6. 22.g3! [22.¥xh6? g5 ∆23.h4 e4 24.fxe4 ¤e5-+] 22...¥g5 23.f4 exf4 24.gxf4 ¥f6
Short conseguiu evitar a troca dos bispos, mas ao menos o preto trocou peões. Nos finais, trocas
de peões de geralmente são favoráveis ao defensor. 25.¢g2 g5! 26.¥c4?! [26.¥f5 ¦e8
(26...¦xd2+ 27.¥xd2 gxf4 28.¥xf4 ¥g5 29.¥c7²) 27.¢f3 gxf4 28.¥xf4 ¤e5+ 29.¢g3²] 26...¦e8
27.¦e2 gxf4 28.¥xf4 ¦xe2+ 29.¥xe2 As brancas têm boas chances práticas de vitória, mas
objetivamente o final deve ser empatado. 29...¢g7?! [29...¥g5!² Seria mais preciso.] 30.¥g4! ¥g5

123
31.¥c7 A diferença é que agora o bispo não pode atacar os peões brancos e é forçado a voltar a
uma posição passiva. 31...¥d8™ [31...¥c1 32.¥c8 ¥xb2 33.¥xb7 ¤e7 34.¥xa5+−] 32.¥g3² ¢g6
33.¥c8 b6 34.¢f3 f5 35.¥d7 ¤e7 36.¥h4?! [36.¥e8+! Seria bem mais forte, piorando a posição do
rei preto. 36...¢f6 37.¥f4! ¢g7 38.¥e5+ ¢f8 39.¥d7] 36...¢f7! 37.¥f2 [37.¥xf5 seria apressado.
37...¥c7! 38.¥e4 (38.¥xe7 ¢xe7=) 38...¥xh2] 37...¥c7 38.h4?! Muito cuidado ao mover seus
peões! Short pretendia fixar a debilidade em h6 com a jogada h4−h5, mas certamente omitiu a
réplica das pretas. [38.h3 ¢f6 39.¥d4+ (39.¥h4+ ¢f7 ∆ ¤g6) 39...¢f7 40.¥e3] 38...h5!
Transparece que a fixação dos peões em h5−h4 na verdade favorece o segundo jogador. 39.¢e2
f4?! Após conduzir uma difícil defesa com excepcional tenacidade, Judith começa a fraquejar,
justamente quando o empate já estava próximo. [39...¥d8! Era preciso atacar o peão de h4.
40.¢d3 ¤g6 41.¥xf5 ¤xh4 após mais um troca de peões e com a criação do peão passado, as
pretas teriam ótimas chances de empate, por exemplo: 42.¥e4 ¢e6! 43.¢c4 ¤f5„] 40.¢f3 ¤g6
41.¥f5! ¤e5+ 42.¢e4 ¤g4 43.¥d4 ¤e3 44.¥h3 ¤g4?! Era preciso evitar a invasão do rei branco.
[44...¤c2! 45.¥g1 ¤e3! 46.¥h2 ¤d1!] 45.¢f5 ¤e3+ 46.¢g5 ¤c2 47.¥f2 ¤e3 48.¢xh5 ¢f6
49.¥g4 ¥d6 50.¥e1 ¥f8 51.b4!? axb4 52.cxb4 ¤d5 [52...¢e5! 53.¥f3 ¢f5] 53.b5± Agora o final é
perdido para as pretas e Short converte sua vantagem. 53...¥b4 54.¥xb4 ¤xb4 55.¥e2 ¢f5
56.¢h6 ¢f6 57.¢h5 ¢f5 58.b3+− ¤d5 [58...¢e4 59.¢g4 ¢e3 60.h5 ¢xe2 61.¢xf4] 59.¥d3+ ¢e5
60.¢g4 ¤f6+ 61.¢f3 ¤g8 62.h5 ¤h6 63.¥g6 ¤g8 64.¥c2! ¤h6 65.¥d3‡ ¤g8 [65...¢d4 66.¢xf4
¢xd3 67.¢e5 ¢c3 68.¢d5 ¢b4 69.¢c6 ¢a5 70.b4+] 66.¢g4 ¤f6+ 67.¢g5 f3 68.h6 f2 69.¢g6
¤d5 70.¥c4 [70.¥f1] 70...¢e4! 71.¢f7! [71.h7? ¤f4+ 72.¢g7 ¤d3 73.h8£ f1£] 71...¤e3 72.¥e2
¤f5 73.h7 ¢e3 74.¥f1 ¤g3 75.¥g2 1-0

Exercícios

Para encerrar o capítulo e a apostila, proponho ao leitor três exercícios relacionados a


finais com a estrutura típica da Najdorf.

124
1
XIIIIIIIIY
9-+r+k+-tr0
9+p+-vlpzp-0
9p+-zpl+-zp0
9+-+-+-+-0
9-+-+PvLP+0
9zPP+-+-+P0
9-+PtR-+L+0
9+K+R+-+-0
xiiiiiiiiy
Jogam as pretas

2
XIIIIIIIIY
9-+r+k+-tr0
9+-+-vlpzpp0
9p+-zp-+-+0
9+-+PzpP+-0
9-zp-+-+-+0
9+-+R+-sNP0
9PzPP+-+P+0
9+-mK-+-+R0
xiiiiiiiiy
Jogam as pretas

125
3

XIIIIIIIIY
9-+r+-+k+0
9+ltrnvlpzp-0
9pzp-zp-sn-+0
9+-+-zp-+p0
9P+L+P+-+0
9+PsN-vLP+-0
9-+PsN-+PzP0
9tR-+R+-mK-0
xiiiiiiiiy
Jogam as brancas

Soluções:

1) Anand,V − Ivanchuk,V Dortmund, 1998: A posição parece difícil para as pretas, devido à
fraqueza em d6, mas Ivanchuk encontra o caminho correto para obter contra−jogo e salvar
a partida. 23...h5!„ 24.g5 h4 25.¥xd6 [25.g6 fxg6 26.¥xd6 ¥xd6 27.¦xd6 ¢f7! (27...¢e7?
28.¦b6 ¦c7 29.¦dd6) ] 25...¥xd6! Preciso. Após [25...¥xg5 26.¦e2 seguido de e5, as
brancas conservariam perigosa iniciativa.] 26.¦xd6 ¦h5! 27.g6 ¦g5 28.gxf7+ ¢xf7© Com
uma defesa brilhante, Ivanchuk conseguiu ativar suas peças, ao custo de um peão.
29.¦1d2 ¦c3 30.e5 [30.¦b6 ¥xh3 31.¦xb7+ ¢e6„] 30...¦xe5 31.¢b2 ¦ce3 32.¥xb7 a5
33.¦f2+ ¢e7 34.¦c6 [34.¦a6 ¥xh3 35.¦a7 ¥f5! 36.¥c8+ ¢f6 37.¥xf5 (37.¦a6+ ¢g5
38.¦g2+? ¦g3!-+) 37...¦xf5 38.¦xf5+ ¢xf5 39.¦xg7 h3„] 34...g5 35.¦c7+ ¢d6 36.¦c6+
[36.¦g7 ¥xh3! 37.¦d2+ ¢e6!; 36.¦h7 ¥xh3 37.¦d2+ ¢e6! 38.¥c8+ ¢f6] 36...¢e7 37.¦c7+
½-½

2) Platonov,I − Polugaevsky,L URSS 1971: 20...h5! : Mais uma vez um lance de peão para
ativar as peças. As pretas têm bom jogo. Apesar do bispo de e7 aparentemente ser ruim,
comparado ao cavalo branco, as pretas mantêm o equilíbrio graças à força de suas torres
e a debilidade do peão de f5. 21.¤e4 h4 22.b3 ¦h5 23.¦f1 ¥g5+ 24.¢b2 ¢e7 25.c4
bxc3+ 26.¦xc3 ¦xc3 27.¢xc3 ¥f4 28.b4 ¦xf5 29.b5! axb5 30.¦b1 ¢d7 31.¦xb5 ¢c7
32.¦b4 ¦h5 33.¦c4+ ¢d7 34.¦b4 ¢c7 35.¦c4+ ¢d7 36.¦b4 ½-½

126
3) Short,N − Gelfand,B Novgorod, 1996: As pretas se encontram em passividade, pois o
controle da casa d5 está firmemente com as brancas. O branco faz agora um mini−plano
para aumentar o controle central. 18.¥f2! ¢f8 19.¤f1! g6 O sacrifício de qualidade em c4
seria insuficiente. [19...¦xc4 20.bxc4 ¦xc4 21.¦d3±] 20.¤e3± Com as peças bem
dispostas e total domínio central, as brancas têm clara vantagem. Short venceu a partida
mais tarde.

127
CONCLUSÃO

Nesta apostila o leitor foi apresentado aos principais temas posicionais e táticos da Defesa
Najdorf, assim como algumas posições de finais que lhe ajudarão a conceituar quando a troca de
damas é favorável. Minha intenção não foi apresentar uma monografia cheia de variantes teóricas
e análises de computador, mas sim transmitir o que creio ser o espírito dessa abertura.
Mesmo em tempos de bases de dados gigantes e softwares avançados, o que faz a
diferença nos torneios é a compreensão do jogo. Entenda o porquê dos lances teóricos da Najdorf
e saberá guiar-se em seus intricados labirintos.
Agora o leitor tem o conhecimento necessário para trilhar novos caminhos e mergulhar nas
análises concretas das principais variantes. Siga os conselhos apresentados no primeiro capítulo e
comece o trabalho de análise, definindo quais são as posições críticas.
O que lhe aguarda é o mais difícil, mas também o mais prazeroso de todo o estudo
enxadrístico. A criação de sua própria teoria, tomando como ponto de partida o legado dos
renomados grandes-mestres que já duelaram nesta complexa defesa.
Portanto, caro estudioso da Najdorf, mãos a obra. O trabalho está apenas começando...

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Rafael Leitão

128

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