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Radar de Penetração no Solo (GPR) Gleide Dias-UFRJ/Geologia

A.1 INTRODUÇÃO

O radar de penetração em solo (GPR), algumas vezes chamado de georadar, radar de


sondagem em solo, ou radar de subsuperfície, é uma ferramenta geofísica que utiliza pulsos
de ondas eletromagnéticas em altas freqüências, geralmente da ordem de 10 a 2000 MHz,
conhecidas como ondas de rádio. O GPR possui similaridade cinemática com a sísmica de
reflexão, sendo ambos os métodos baseados em propagação de onda (FISHER et al.1992).

O radar tem sido utilizado para sondagens de alta resolução em subsuperfície com
detecção de feições da ordem de poucos centímetros até vários metros, obtidas de forma
rápida e econômica. Limitado em profundidade, se comparado ao método da sísmica de
reflexão.

O princípio do radar é baseado no pulso da onda eletromagnética a uma determinada


freqüência o qual é transmitida para o meio a ser investigado. Ao incidir em uma interface
que separa meios com contrastes significativos de propriedades eletromagnéticas
(permissividade dielétrica, permeabilidade magnética e condutividade elétrica) é parcialmente
refletido até a superfície, onde é detectado e registrado.

A aquisição de dados GPR pode ser realizada hoje em nave espacial, aeronave, na
superfície do terreno, no interior de um poço e entre poços. O radar de poço (borehole radar)
é um caso especial da técnica convencional de GPR com várias características que o distingue
das ferramentas de superfície (WANSTEDT et al, 2000).

Existe atualmente uma vasta bibliografia sobre o uso convencional do GPR. Nestes
trabalhos são enfatizados os levantamentos em diferentes áreas, as metodologias básicas para
aquisição e processamento de dados.

A.2 HISTÓRICO

Segundo Popini (2001), os primeiros registros de tentativas de uso das ondas de rádio
para investigar a estrutura interna da Terra datam do final da década de 20. As primeiras
aplicações do radar na Alemanha em 1929 tiveram como objetivo determinar a espessura de
geleiras e a localização de minas explosivas no subsolo. De acordo com Marques (1999) essa
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metodologia ficou paralisada até a década de 50, provavelmente devido às limitações


instrumentais. Na década de 60, um dos maiores sucessos do método GPR consistiu na
determinação da espessura de placas de gelo no Ártico e na Antártica. Essas aplicações foram
iniciadas não somente para sondagem em gelo, mas também para o mapeamento das
propriedades físicas do subsolo e profundidade de nível de água (N. A.). No final dos anos
60, a instituição que pretendia utilizar o método GPR deveria construir o seu próprio
equipamento pela inexistência de fabricantes. Porém em 1972, Rex Morey e Arte Drake
iniciaram a Geophysical Survey Systems Inc., fabricando e comercializando sistemas de GPR
(OLHOEFT, 2003). Na década de 70, destaca-se o trabalho pioneiro de Morey (1974) que
gerou perfis de subsuperfície contínuos utilizando pulsos de radar (MARQUES, 1999). As
primeiras aplicações de radar de poço também tiveram início na década de 70 (OLSSON et
al., 1992). No final dessa década e na década de 80, em função do avanço na área da
eletrônica digital, o método começa a se expandir com as aplicações em diversas áreas, como
na engenharia civil, na investigação arqueológica, na glaciologia, na estimativa da espessura
de depósitos de carvão e até mesmos em experimentos na Lua realizados pela Apollo 17
conhecidos como Experimento de Propriedades Elétricas de Superfície. O início das
aplicações, publicações e pesquisas foram criados em maior parte através de contratos
celebrados com a Geological Survey of Canadá, com o U. S. Army Cold Regions Research e
Engineering Laboratory (CRREL) e outros (OLHOEFT, 2003). Foi na década de 80 que o
GPR teve definitivamente seu reconhecimento como método de exploração geofísica por
parte da comunidade geocientífica mundial (MARQUES, 1999).

Em 1994 o Centro de Pesquisas da Petrobrás foi pioneiro no estudo das aplicações do


GPR em terrenos brasileiros, seguido pela UFBA e UFPA. Atualmente vários centros de
pesquisa e universidades brasileiras fazem uso do GPR, tais como: IAG/USP, IPT, UNESP,
CETESB, UnB, UFC, UFBA, UFPA, UFRGS, UFRJ, ON-RJ, UFMT, UFRN, além das
empresas de prestação de serviços (PORSANI, 2002).

A.3 APLICAÇÕES

Os avanços da técnica de GPR nas últimas décadas permitem a obtenção de


resultados em diversas áreas tais como: a)hidrogeologia (mapeamento de aqüífero freático,
localização de paleocanais, intrusão salina em áreas litorâneas, assoreamento), b)na
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engenharia geotécnica (localização de canos, tanques enterrados, detecção de fraturas em


túneis, verificação das condições do leito de asfalto, verificação de pilares de edificações e
cavidades no subsolo), c) aplicações militares, d) criminais (localização de cadáveres) e, e)
arqueologia a partir da identificação de construções e/ou peças arqueológicas (sambaquis,
utensílios) (PORSANI, 2002).

As aplicações do GPR, na área das ciências geológicas, foram amplamente difundidas


principalmente para situações de pouca profundidade. Neste caso, pode ser usado na
investigação da espessura de solo, profundidade e heterogeneidades do embasamento (raso),
para a localização de horizontes de mineração, entre outros. A técnica também tem sido
usada, na mesma situação, para análise de fáceis e sedimentologia, tanto para depósitos
recentes como para os do passado (MARQUES, 1999).

O GPR pode ser utilizado ainda na prospecção e avaliação de turfeiras, na geologia do


petróleo (caracterização de análogos de reservatório), na geofísica ambiental (detecção de
plumas contaminantes em aqüíferos freáticos) e na geologia econômica (mapeamento de
fraturas em pedreiras de granito ornamental e cavernas em pedreiras de calcário)
(MARQUES, 1999).

A.4 A UTILIZAÇÃO DO MÉTODO GPR PARA A ESTRATIGRAFIA

Na bibliografia há diversos registros da utilização do GPR de superfície para a


caracterização estratigráfica de depósitos sedimentares. Dentre estes, destaca-se o trabalho de
Van Overmeeren (1998) que define “fácies de radar” como sendo a soma de todas as
características de um padrão de reflexão produzidas por uma formação rochosa específica (no
caso da Holanda, por uma seqüência sedimentar), de modo que estas podem ser distinguidas
em função dos padrões de reflexão. As feições estruturais e texturais da subsuperfície podem
influenciar a resposta do radar e assim, produzir efeitos peculiares nos radargramas. Tais
efeitos são chamados elementos de “fácies de radar” cujos principais são: amplitude,
continuidade e configuração da reflexão, além da forma externa (geometria) da unidade de
fácies de radar. Também há os elementos secundários, isto é, freqüência dominante,
abundância e polaridade das reflexões, presença de difrações e alcance atingido pelo sinal em
profundidade. O conceito de “fácies de radar” surgiu em analogia com o de fácies sísmica, no
entanto, estes apresentam diferenças em função das propriedades físicas envolvidas em cada
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método de prospecção. Segundo Van Overmeeren (1998), a principal distinção da fácies


sísmica é que a imagem de radar freqüentemente é influenciada tanto pela distribuição de
água como pela arquitetura sedimentar. Por isso, ao se definir “fácies de radar” toda a imagem
deve ser considerada, incluindo os efeitos do nível de água.

Com base na “fácies de radar”, define-se radar-estratigrafia, que é a determinação das


características e história geológica das rochas sedimentares e seus ambientes deposicionais a
partir de radargramas. O objetivo dos métodos de interpretação de radar estratigrafia é
reconhecer padrões de reflexão das fácies de radar e correlacioná-los com ambientes
sedimentares específicos. As “fácies de radar” obtidas através das feições estratigráficas
apresentadas na figura 1 por Van Overmeeren (1998) servirão de base para a interpretação de
feições presentes nos radargramas constituintes desta tese.
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Ambiente Glacial Ambiente Eólico


Morainas Dunas arenosas costeiras

Nível d’água

Depósitos glacio-fluviais Dunas de rio

Nível d’água

Coberturas arenosas
Depósitos glacio-lacustres

Nível d’água

Ambiente Fluvial Rios entrelaçados


Ambiente Marinho Cordilheiras de praia

Nível d’água

Rios meandrantes Areias marinhas costeiras

Nível d’água

Ambiente Lacustre
Depósitos lacustres Depósitos estuarinos

Nível d’água

Figura 1 - Diagrama de “fácies de radar” com padrões de reflexão


característicos de vários ambientes sedimentares (modificado de VAN OVERMEEREN,
1998).
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A.5 AS VANTAGENS DO MÉTODO GPR

Marques (1999) descreve resumidamente em seu trabalho diversas vantagens do método


GPR, a saber:

I. Permite o estudo de feições em subsuperfície através de escalas que variam de


poucos centímetros até dezenas de metros com a utilização das diferentes frequências.

II. Fornece perfis contínuos de altíssima resolução.

III. Os levantamentos apresentam excelente repetibilidade, sendo possível uma


avaliação da qualidade dos dados durante o processo de aquisição.

IV. Mostra precisão na localização de feições ou objetos enterrados na subsuperfície.

V. Acurácia lateral é também maior para a localização de alvos cilíndricos ou


esféricos, uma vez que o ponto de inflexão de uma hipérbole indica o topo do alvo em
questão.

VI. Permite a revisão on site dos resultados de um levantamento para o controle da


qualidade dos dados adquiridos.

VII. Atualmente com o uso de antenas blindadas, o GPR possui vantagens em relação
aos outros métodos quando o dado é adquirido em ambiente urbano.

VIII. Enquanto que para métodos de condutividade, magnetométrico e sísmico as


estruturas de aço, vibrações de rodovias, ferrovias e aeroportos tornam difícil a aquisição,
o método GPR pode ser aplicado mais facilmente, com a correção e re-posicionamento de
antenas caso o ruído seja prejudicial, além de não danificar ou agredir o meio ambiente.

IX. Por ser um método de reflexão, estimativas de profundidade de um alvo ou


interface podem ser efetuadas com maior precisões quando os dados forem obtidos
através da técnica CMP e por correlação de medidas diretas.

X. Permite um melhor posicionamento de furos de sondagem melhorando a aquisição


de informações para geologia/engenharia.
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Vale ressaltar que com referência à “escala de feições” citada no item I, deve-se levar em
conta o compromisso entre profundidade e resolução, ou seja, a visualização de objetos pequenos
em subsuperfície necessita de alta freqüência (alta resolução) e, portanto, não são vistos nas
grandes profundidades onde é necessária a utilização de baixas freqüências (baixa resolução). A
palavra “acurácia” (item V) diz respeito à resolução horizontal - zona de Fresnel. O termo “on
site” (item VI) refere-se à facilidade da visualização dos dados durante a aquisição mesmo sem
qualquer tipo de processamento. Com isto pode-se inferir a qualidade dos dados. E sobre o item
VIII se adverte que os objetos metálicos também provocam ruídos nos dados do GPR.

A.6 FUNDAMENTOS

O método GPR é governado por fenômenos eletromagnéticos que segundo Elmore e Heald
(1969) são produzidos e detectados por deslocamento de constituintes fundamentais de matéria
chamada de carga elétrica. Ao invés de descrever as interações entre cargas diretamente é mais
conveniente separar o problema em duas partes:

(1) a fonte de carga (ou corrente, etc.) que gera um campo (vetor), o qual penetra em todos
os espaços.

(2) o detector de carga que reage a um valor local do campo, experimentando uma força.

A descrição de interações eletromagnéticas em termos de campos simplifica o tratamento


não somente de complicadas situações com várias fontes, mas também de problemas onde não é
necessário especificar a fonte explicitamente. Os dados de GPR muitas vezes são tratados como
um escalar enquanto as bases para o método são os vetores dos campos eletromagnéticos.

Os campos elétricos são gerados por cargas elétricas. Os campos magnéticos são gerados
por cargas em movimento, isto é por correntes. Em adição, os dois campos são acoplados
perpendicularmente um a outro e cada um pode ser gerado (ou induzido) pela variação temporal
do outro.

Estruturas geoelétricas consistem num sistema de condutores naturais no interior de um


corpo geológico. Segundo as leis fundamentais do eletromagnetismo, um campo elétrico é
induzido corpo geológico pela variação do campo magnético. Um observador na superfície pode
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 
medir ambos os campos magnético h (t ) e elétrico e (t ) . O campo magnético age
primariamente como um campo fonte, considerando que o campo elétrico é um fenômeno
secundário induzido pela interação entre o campo magnético e a estrutura geológica. O vetor
campo magnético incidente (fonte) tem dois componentes horizontais, h x e h y . Uma vez que

o campo fonte interage com estruturas geológicas 2D ou 3D, um componente de campo vertical
também é gerado devido à interação do campo fonte com o meio multidimensional.

Em termos gerais, as equações diferenciais parciais, que regem os efeitos eletromagnéticos


(elétricos e magnéticos), foram formuladas por Maxwell, e estabelecidas com base nos trabalhos
de Gauss, Ampère e Faraday, relacionando os campos elétricos e magnéticos tanto no domínio do
tempo como no domínio da freqüência.

A.7 EQUAÇÕES DE MAXWELL NO DOMÍNIO DO TEMPO

O método GPR é operado no domínio do tempo, as equações de Maxwell na sua forma


diferencial são,


 b
x e   . (Lei de Faraday) (1)
t


  d
x h  j  . (Lei de Ampère) (2)
t


. b  0 . (Lei de Gauss) (3)


. d   . (Lei de Gauss) (4)
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Cada uma destas equações representa uma generalização de certas observações


experimentais sendo aplicada em situações macroscópicas (REITZ E MILFORD, 1967). As
equações acima, mais a equação da continuidade,

 
. j   0, (5)
t

constituem um grupo geral de equações que governam todos os fenômenos eletromagnéticos


observados na natureza. As grandezas que estão expressas acima no SI são:

e  vetor campo elétrico (V/m), (Volts/metro),


h  vetor campo magnético (A/m), (Ampère/metro),


b  indução eletromagnética (T), (Tesla),


d  vetor deslocamento elétrico (C/m2), (Coulomb/metro quadrado),


j  densidade de corrente total (A/m2), (Ampères/metro quadrado).

Na resolução de problemas eletromagnéticos relacionados ao meio, podem ser descritos três


parâmetros fenomenológicos, que correspondem a coeficientes de proporcionalidade (ELMORE

E HEALD, 1969). Estas são denominadas equações constitutivas, que relacionam os vetores d e
  
b com e e h , como se segue:

  
d   e  K e 0 e , (6)

  
b   h  K m 0 h . (7)
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Da lei de Ohm tém-se,

 
j  e . (8)

Onde em unidades SI tem-se:

  permissividade elétrica (F/m), (Faraday/metro). No vácuo:  0 = 8.854x10-12 F/m,

  permeabilidade magnética (H/m), (Henry/metro). No vácuo:  0 = 4 x10-7 H/m,

  condutividade elétrica (S/m).

K e e K m correspondem, respectivamente, à permissividade elétrica e permeabilidade magnética

relativas, os quais posteriormente serão descritas.

Para o presente estudo da onda eletromagnético consideram-se as seguintes restrições:

1) Meio linear,  , K e e K m são parâmetros independentes da magnitude

dos campos.

2) Meio homogêneo,  , K e e K m são independentes da posição.

3) Meio isotrópico,  , K e e K m independem da direção e são parâmetros

escalares e não tensores.

As equações 6 e 8 estão relacionadas a dois tipos diferentes de cargas: as livres e as ligadas,


correspondendo respectivamente a correntes de condução e deslocamento.

Em materiais condutivos, as correntes de condução surgem quando as cargas livres são


aceleradas (basicamente instantaneamente) quando um campo elétrico é aplicado. Uma vez
removido este campo estas desaceleram e cessam seus movimentos (figura 2). Em todo o tempo
que a carga está se movimentando há dissipação de energia na forma de calor (ANNAN, 2000).

Nos materiais dielétricos, as correntes de deslocamento são relacionadas às cargas ligadas,


um campo elétrico é aplicado no material e as cargas movem-se até uma outra configuração
estática. Durante esta transição que ocorre virtualmente, a energia é extraída do campo elétrico
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externo e armazenada no material. Quando este é removido as cargas voltam à sua posição de
origem e a energia é liberada para o meio na forma de calor e/ou irradiada (figura 3) (ANNAN,
2000).

Figura 2- Representação esquemática da corrente de condução (modificado de ANNAN (2000)).

Figura 3 - Representação esquemática da corrente de deslocamento (modificado de ANNAN (2000)).

Em geral, quando as freqüências são altas (freqüência > 1MHz) as correntes de


deslocamento (que dependem da permissividade dielétrica) dominam as correntes de condução,
(freqüência < 1 MHz), de tal forma que  >>.
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As variações magnéticas são usualmente fracas onde as propriedades elétricas tendem a


dominar. Ocasionalmente as propriedades magnéticas podem afetar a resposta do GPR.

A.8 EQUAÇÃO DE ONDA E SOLUÇÃO.

As ondas eletromagnéticas observadas no GPR são ondas esféricas e laterais (ligadas a


interfaces do meio) sendo estas descritas através da superposição de ondas planas, o que facilita o
tratamento matemático (CEIA, 2004). Uma das conseqüências mais importantes das equações de
Maxwell são as equações de propagação das ondas eletromagnéticas (EM) em um meio linear.

De uma forma geral, aplicando o rotacional nas equações 1 e 2, além de considerar o meio
 
isotrópico e homogêneo a equação da onda para e e h é dada por:

 
2  2 e e
 e      0,
t 2 t
(9)
 
2  2 h h
 h      0.
t 2 t

 
e e b variam harmonicamente com o tempo e it tal que,

 
e ( r . k , t )  e ( r )eit (10)

 
onde k e r correspondem ao vetores direção de propagação e posição respectivamente, 
é a freqüência angular igual a 2f e f é a freqüência de onda oscilante. Tal que f é
inversamente proporcional ao comprimento de onda  (ANNAN, 2000) pela relação,
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c  f . (11)

o qual c é a velocidade da luz no vácuo.

A equação 9 também pode ser reescrita no domínio da freqüência como,

 
 2 e  ( 2   i ) e  0, (12)

1
definindo o módulo do vetor direção de propagação da onda, k  ( 2   i ) 2 , que pode
 
ser reescrito como um vetor complexo k  (  i ´) u .  e  ' correspondem aos termos de
atenuação por absorção (correntes de condução) e propagação (correntes de deslocamento)
respectivamente. Assim a solução de onda expressa para o campo elétrico (12) torna-se á

 ik
f (  )  Ae , (13)

   
onde se considera e  f ( r . k , t ) u tal que   r . k (ANNAN, 2000), assim sendo,

 i( k  wt )
f ( k . r , t )  f ( , t )  f (  )eiwt  Ae (14)

Sendo A um valor constante.


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A.9 PARÂMETROS DA ONDA

Segundo Annan (2000) os fatores mais importantes que governam a propagação da onda
eletromagnética num determinado meio são: a) a velocidade e b) a atenuação, que no método
GPR seguem o critério de ser considerada baixa perda (low loss, >>). Isto pode ser analisado
reescrevendo a equação 9 para o campo elétrico como,


  2e e
 2 e   2    A BC . (15)
t t

Para as escalas, espacial ( x ) e de tempo ( t ),

C x 2 B x 2
  e   2 . (16)
A t A t

Isto implica que em um intervalo de comportamento dielétrico,

B C B t
 e   1 (17)
A A C 

As correntes elétricas no meio podem ser vistas como análogas à corrente elétrica em um
circuito resistor-capacitor, a resistência é proporcional a 1 /  e a capacitância proporcional a  .
O tempo de recarga para o capacitor é expresso como  /  . A condição que B/Cseja
pequena requer que o tempo para carregar a redistribuição seja curto comparado à taxa de tempo
de modificar os campos eletromagnéticos (ANNAN, 2000).
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a) Velocidade

Para a determinação do parâmetro velocidade, a equação (11) reduz-se,

 
 2 e   2  e  0, (18)

tal equação é a mesma do oscilador harmônico simples, onde pode-se definir,

 c
v   , (19)
p k n

n
que é a velocidade de fase da onda, onde k  e n é o índice de refração do meio. Na equação
c
(17) com a velocidade de propagação da onda eletromagnética no vácuo e no ar n=1 tém-se,

1 c 1
v  e c = 2,99 x108 ms 1 ou c  0.3m/ns, (20)
 Ke Km  00

b) Atenuação

O parâmetro de atenuação é primariamente atribuído à condutividade elétrica. Este


parâmetro é de grande interesse para o GPR e é idealizado como uma perturbação, cujo efeito é
reduzir a amplitude de um movimento oscilatório em função do tempo de propagação, em
conseqüência do espalhamento de energia cinética, onde o termo da equação 13 mostra como o
campo eletromagnético decai exponencialmente em amplitude na direção do percurso da onda.
Annan (2000) deduz o termo de atenuação através da equação 14 com um termo adicional
referido como perturbação, semelhante a uma função do oscilador harmônico amortecido,
tornando-se,

f (  , t )  p(   vt ) g (  ) , (21)
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onde p é a solução no caso de perdas nulas. Nominalmente segundo(ANNAN, 2000),

2 p 2 p
  . (22)
 2 t 2

Substituindo em (9) fornece o resultado,

2
 p  g uv 
p 2 2   g  = 0, (23)
    2 

o qual satisfaz

g uv
 g  0, (24)
 2

2

p  0. (25)
 2

Neste caso, a segunda condição não pode ser satisfeita, mas pode ser mostrado que em
situação de baixas perdas este termo é negligenciado. A primeira relação é satisfeita se

g (  )  e  , (26)

assim têm-se que,


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v 
 ou   188,35 (27)
2 Ke

obtendo-se  como coeficiente de atenuação, que no S. I. é expressa por m-1 . Normalmente


para a atenuação e a amplificação de onda eletromagnética transmitida no meio a unidade
 
utilizada é a decibel/metro (dB/m) relativo a y  20 log10 ( e / e 0 ) , assim obtém-se uma nova

y 
expressão para a atenuação como:  '     (20 log10 e)  1,636 x103 .
r Ke

A propagação da onda eletromagnética é descrita como uma radiação eletromagnética a


qual é definida como a quantidade mínima de energia, que pode ser descrito por partículas
(fótons), ou ondas de campos elétricos e magnéticos oscilantes perpendiculares entre si. E estas
oscilações podem ser descritas como ondas senoidais (figura 4).

Figura.4 – Propagação de radiação eletromagnética (modificado de GRUBER AND LUDWIG, 1996).

A freqüência e o comprimento de onda variam como uma função do quantum de energia


pela lei de Planck,

E  fh , (28)

onde a constante de Planck h = 6.62 × 10-24 Js e E é a variação de energia.


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O espectro de energia eletromagnético usado em exploração geofísica estende-se de baixas


freqüências (equivalente ao período de registros em observatórios magnéticos) a microondas
(OLHOEFT, 2003).

As radiações eletromagnéticas com diferentes comprimentos de ondas são emitidas de


diferentes fontes e através de diferentes processos. Estas são produzidas onde a intensidade ou
direção dos campos elétricos e magnéticos varia com o tempo. Um comprimento de onda curto
requer mais alta energia para a emissão de fótons. A perda de energia pela emissão do elétron de
um alto orbital para uma camada mais baixa é feita pela emissão de um fóton. Para o raio gama,
o curto comprimento de onda é o resultado de uma fusão ou fissão nuclear. Os raios X,
ultravioleta e luz visível são geralmente gerados por decaimento de elétrons de uma camada em
orbital instável para outra mais estável. Infravermelho e microondas são emitidos por vibração
ou rotação de moléculas. Os mais longos comprimentos de ondas tais como microondas o qual
são utilizadas em radar, e ondas de rádio são produzidas por variações de campo, tais como
alteração de cargas elétricas em uma antena (GRUBER E LUDWIG, 1996) (tabela 1).

Tabela 1 - Parte comum do espectro eletromagnético (modificado de GRUBER AND LUDWIG, 1996)
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Estes diferentes mecanismos de geração de onda são também mecanismos de interação


com a matéria. Entretanto os materiais comportam-se diferentemente com variados
comprimentos de onda dependendo das propriedades do meio (GRUBER E LUDWIG, 1996).
Para o GPR uma das mais importantes propriedades é a permissividade dielétrica ou

permitividade dielétrica (  ) que está relacionada a polarização ( P ) através da expressão,

 
P   e. (29)


A polarização intrínsica, P , possui unidades de separação de cargas por metro cúbico, ou
coulombs/m3. Este parâmetro surge da aplicação de um campo elétrico a um meio que distende
ou polariza a distribuição de cargas, as positivas indo a uma direção e as negativas em outra.

Segundo Annan e Davis (1989) é conveniente utilizar o termo constante dielétrica ou


permissividade relativa,


Ke  K  , (30)
o

que é a razão entre permissividade do material e a permissividade do espaço livre, sendo


constante dielétrica complexa (ou permissividade relativa) igual a

K *  K 'iK ' ' ' , (31)

onde K ' é a parte real da constante dielétrica no qual influencia a propagação da velocidade em
materiais com perda nula e K ' ' ' é a parte imaginária ou parte de perda da constante dielétrica o
qual é relacionado à condutividade. É conveniente ainda separar em altas freqüências os
componentes de perda na forma,
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  
K *  K 'i  K ' ' dc , (32)
  0 

onde  dc é a condutividade d.c.(S/m) e K ' ' é a perda de freqüência associada com o fenômeno da

resposta de relaxação da molécula d´água.

Na figura 5a tem-se a relação entre a velocidade e freqüência para diferentes


condutividades. A velocidade permanece essencialmente constante entre 10 e 1000 MHz em
condutividades menores que 100 mS/m, onde a velocidade permanece constante e o sinal não é
disperso pela velocidade dependente de freqüência. A velocidade aumenta em freqüências
maiores que 1000 MHz por causa da relaxação da molécula de água (DAVIS AND ANNAN,
1989).

A figura 5b mostra a relação da atenuação versus freqüência em diferentes condutividades.


O exemplo foi construído para materiais com uma constante dielétrica de 4. O radar opera em
freqüências onde as propriedades capacitivas dominam as propriedades condutivas e assim a
atenuação permanece essencialmente constante em diferentes condutividades. A atenuação
aumenta rapidamente em freqüências acima 100 MHz por causa da relaxação da água a qual
ocorre em 10 GHz. O efeito do sinal espalhado por pequenas escalas heterogêneas pode também
aumentar a atenuação com o aumento da freqüência (DAVIS AND ANNAN, 1989).

Figura 5a – Relação entre velocidade e freqüência em diferentes condutividades (modificado de DAVIS AND
ANNAN, 1989).
Radar de Penetração no Solo (GPR) Gleide Dias-UFRJ/Geologia

Figura 5b – Relação entre atenuação e freqüência em diferentes condutividades (modificado de DAVIS AND
ANNAN, 1989).

Uma importante regra é notar a freqüência de transição. A figura 6 mostra a variação da


velocidade e da atenuação como uma função da freqüência para um material idealizado com
condutividade e permissividade elétrica constantes. Abaixo da freqüência de transição, as ondas
eletromagnéticas estão em dispersão no material (indução eletromagnética), e o mecanismo de
condução domina. Acima da freqüência de transição, a energia se propaga no material com
pequena ou nenhuma dispersão, com o domínio do mecanismo de permissividade dielétrica
(ANNAN, 2000).
Radar de Penetração no Solo (GPR) Gleide Dias-UFRJ/Geologia

Z0 = Impedância no vácuo (120 π ohms)

μ0

= Є0

Figura 6 – Variação da velocidade e atenuação com a freqüência. Em simples materiais a freqüência de


transição indica a divisão entre difusão e propagação do campo eletromagnético (modificado de ANNAN, 2000).

A tabela 2 abaixo, lista alguns materiais com suas propriedades físicas: constante de
permissividade dielétrica (K), condutividade (), velocidade de propagação da onda
eletromagnética (v) e atenuação ().
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Tabela 2 - Materiais com suas propriedades eletromagnéticas (Hydrology Field Couse, 1997 in MARQUES,
1999).

Material K (mS/m) v(m/ns) (dB/m)


Ar 1 0 0,20 0
Água 80 0,01 0,022 2x10-1
destilada
Água 80 0,5 0,022 0,1
potável
Água 80 2x102 0,01 10
salgada
Areia 2-5 0,01 0,15 0,01
seca
Calcáreo 4-8 0,5-2 0,12 0,4-1
Folhelhos 5-15 1-100 0,09 1-100
Siltes 5-20 1-100 0,07 1-100
Argilas 5-40 2-1000 0,06 1-200
Granito 4-6 0,01-1 0,12 0,01-1
Gelo 2-4 0,01 0,16 0,01
Metanol 2-4 0 0,051 0
Gasolina 2 0 0,21 0
Percloroet 2-22 0 0,2 0
ileno

A.10 COEFICIENTE DE REFLEXÃO

A determinação da quantidade de sinal no GPR que deverá ser refletido é normalmente


expresso pelo coeficiente de reflexão (CR). Quando uma frente de onda incide em uma interface,
parte da onda tem alterada sua direção de propagação por um processo chamado de
espalhamento, sendo este influenciado pela superfície local da onda incidente e pelo contraste de
propriedades elétricas entre os meios. O espalhamento na interface, de acordo com Daniels
(2000), pode ser classificado em quatro tipos: reflexão especular, refração, difração e ressonante.

O espalhamento por reflexão especular é o modelo comum do método da sísmica de


reflexão, baseado na lei de Snell da reflexão (ângulo de reflexão é igual ao ângulo de incidência,
ou 1   2 ), o qual ocorre em superfícies suaves. As reflexões também podem ser consideradas
difusas quando a superfície é rugosa ou como em muitos casos uma natural reflexão Lambertiana,
a qual é uma combinação de ambas (figura 7). Uma superfície é considerada suave se a textura
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desta é muito pequena em escala comparada ao comprimento de onda refletida. Se a textura é a


mesmo ou maior do que comprimento de onda, a superfície é tida como rugosa.

a) b) c)

Figura 7 – Reflexões especular (a), difusa (b) e Lambertiana (c) (modificado de GRUBER E LUDWIG,
1996).

No espalhamento por refração, parte da energia é espalhada no meio 1 e parte continua a se


propagar no meio 2 (figura 8). A porção da onda que se propaga no objeto é dita onda refratada,
e a relação angular da onda refletida e refratada é determinada pela lei de Snell-Descart por,

c c
seni  sen t ,
v1 v2

n1sen i  n2 sen t , (33)

K1 sen i  K 2 sen t .

Cujos parâmetros já foram descritos nas seções anteriores.


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Figura 8 – Propagação da onda eletromagnética no modo TE segundo a lei de Snell-Descarte.

Para o espalhamento por refração, se a interface é suave e contínua e a velocidade de


propagação da onda no meio 2 é maior do que a velocidade no meio 1, então a onda dentro do
meio 2 se propagará ao longo da interface. Neste caso o ângulo de refração 3 será de 90o e é
chamado de ângulo crítico, podendo ser determinado pela seguinte equação

K2
sen i  . (34)
K1

A distância que o receptor deve estar do transmissor para receber uma onda refratada é
chamado de distância crítica. Ondas refratadas não são comuns nos dados de radar.

O espalhamento por difração gera uma multiplicidade de ondas. Este fenômeno de


espalhamento ocorre quando uma onda incide em uma singularidade geométrica, de acordo com
o princípio de Huygens. Difrações podem ser analisadas em dados de GPR como um padrão de
energia semicoerente que se desloca para fora em várias direções de um ponto, ou ao longo de
uma linha. Geologicamente elas são muitas vezes medidas nas vizinhanças de uma falha vertical
ou de uma descontinuidade em camada geológica (abrupta alteração de fáceis).

O espalhamento ressonante ocorre quando uma onda incide entre interfaces com grande
contraste de propriedades físicas (por exemplo, objeto fechado ou um cilindro) em diferentes
pontos da fronteira em variados tempos, onde parte da energia se refratada e a outra é refletida.
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Este espalhamento resulta em uma energia ressonante, ocasionada pelas múltiplas ondas no
perfil, que algumas vezes é chamada de ringing. No GPR as múltiplas podem estar associadas a
objetos em subsuperfície e superfície. E na sísmica de reflexão estas múltiplas são geradas dentro
da lâmina d´água ou em zona de baixa velocidade.

As quantidades de energia refletida e refratada são definidas por,

n n   2n1 
e'1   2 1 e1 e e'´2   e1 (35)
 n2  n1   2n2  n1 

onde e1 representa o campo elétrico incidente, e'1 o campo elétrico refletido e e2 o campo

elétrico transmitido. As razões entre amplitudes refratada e incidente ( t12 ), e amplitudes refletida
e incidente ( r12 ) são totalmente determinadas pelos índices de refração dos meios, ( n1 e n2 ),

e2  2n1  e1 '  n2  n1 
   t12 e    r12 . (36)
e1  2n2  n1  e 1  n2  n1 

t12 e r12 são chamados coeficientes de Fresnel respectivamente para transmissão e reflexão da
incidência normal. Os índices indicam que a onda é incidente do meio 1 para o meio 2. Estas
equações relacionam as amplitudes dos campos elétricos (WARD E HOHMANN, 1987).

A amplitude do coeficiente de reflexão é normalmente escrita em termos da impedância


elétrica, Porsani (2002). A impedância é uma quantidade complexa, onde o campo elétrico e o
campo magnético são relacionados pelo tensor impedância Z xy por.

ex ( z , t ) i
Z xy   (37)
hy ( z , t )   i
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A amplitude do coeficiente de reflexão (CR) para os dados de GPR é expressa em

Z 2  Z1
rgpr  (38)
Z 2 Z1

Substituindo (37) em (38) obtém-se,

 1  i 1   2  i 2
rgpr  (39)
 1  i 1   2  i 2

O CR de dados GPR em materiais não magnéticos é uma função da impedância substituída


por seu equivalente, a raiz quadrada da constante dielétrica,

1 1

rgpr
 2   2 2
 r12  CR  1 1 , (40)
1
1 2   2 2

onde 1 é a constante dielétrica do meio superior e  2 e a constante dielétrica da meio inferior,


sendo usada para determinar as reflexões em interfaces de materiais de diferentes litológicas ou
saturações de água.

A tabela.3 mostra o coeficiente de reflexão de alguns contatos típicos, para incidência


normal. A partir da tabela se tem uma idéia não só dos coeficientes de reflexão, como das
variações ocasionadas pela presença de água.

Tabela 3 – Coeficientes de reflexão de alguns contatos geológicos, MARQUES (1999).

De (Material) Para (Material) Coeficiente


de reflexão
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Ar K=1 Solo Seco K=5 -0,28


Solo Seco K=5 Solo Saturado K=25 -0,28
Solo Seco K=5 Rocha K=8 -0,12
Solo Saturado K=25 Rocha K=8 0,28
Água K=81 Rocha K=8 0,52
Gelo K=2.2 Água k=81 0,67
Solo K=2-50 Metal K→ -1

A.11 FATORES DE ATENUAÇÃO DA ONDA ELETROMAGNÉTICA NOS MATÉRIAS

Annan (2000) chama a atenção para o fato de que as propriedades eletromagnéticas dos
materiais relacionam-se basicamente à sua composição e fluído intersticial, ambas exercendo
controle sobre a velocidade de propagação e atenuação de ondas eletromagnéticas.

Uma rocha sedimentar pode ser concebida como um sistema de três fases, consistindo na
mistura de rocha, ar e água. Dependendo da quantidade de água e ar nos poros da matriz rocha,
as propriedades dielétricas desta podem variar fortemente. Um areia de quartzo contém a mistura
de grão de areia, ar, água e íons dissolvidos em variáveis proporções, onde normalmente os grãos
ocupam 60 a 80 % do volume. Sendo assim conclui-se que a condutividade elétrica que é um dos
fortes fatores de atenuação em um terreno é muito difícil de ser prevista.

Um outro mecanismo adicional presente é a condução superficial, associada à


condutividade elétrica, devido às cargas na superfície do grão do mineral. A área da superfície
por unidade de volume em um solo ou composição de material aumenta com a diminuição do
tamanho do grão. A quantidade da superfície condutiva depende da área superficial e da forma
dos grãos (geralmente ocorre em grãos mais finos como siltes e argilas).

Ainda neste contexto, Annan (2002) menciona a introdução de componentes orgânicos ao


solo o qual interfere ainda mais nas propriedades elétricas do terreno. Os hidrocarbonetos, por
exemplo, podem ser adicionados como um quarto componente à mistura da rocha, alterando
ainda mais a constante dielétrica final e causando um decréscimo na velocidade da onda
eletromagnética.
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A água presente nos materiais é o grande fator que determina o volume de propriedades
elétricas dos materiais, pois a água é intrinsecamente uma molécula polar, isto significa que a
molécula de água tem um deslocamento de rede positivo e negativo (figura 9).

Figura 9 – Molécula de água (H20). (modificado de ANNAN, 2000).

A parte real da constante dielétrica da água é 80 e a maior parte dos materiais geológicos
secos estão no limite de 4 a 8. Como resultado, a presença de água dá ao material uma alta
permissividade relativa, sendo a permissividade também dependente da temperatura. Deve-se
ressaltar que o contato entre a zona não saturada de água e a saturada (topo dos aqüíferos
freáticos) é normalmente um poderoso refletor para o sinal do GPR. Este efeito é tão forte que
chega a prejudicar a penetração da onda eletromagnética gerada pelo transmissor do GPR, pois a
maior parte da energia do pulso inicial é refletida para a superfície, em função do forte contraste
entre as constantes dielétricas dos meios, e a parte transmitida não consegue retornar á superfície.
Além disto, atenuação do sinal na água é extremamente alto (PORSANI, 2002).

Com dados de GPR é possível observar sondagens a uma profundidade de até 50 m em


materiais de baixa condutividade (menor que 1 mS/m) como areia, pedregulho e água fresca. O
alcance diminui para poucos metros nos casos de argila, silte, solo com salinidade e solos
saturados.

A profundidade de penetração do sinal varia com a freqüência da onda utilizada e com as


propriedades do meio físico de propagação. Segundo Marques (1999) a penetração máxima
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esperada é da ordem de 1000 m no gelo, 50 metros em rocha não alterada, 20 metros em areias
não consolidadas e em materiais condutivos como argilas e águas salobras ou salgadas, fica
apenas na ordem de metros a alguns centímetros.

A figura 10 e 11, mostra a relação entre permissividade e condutividade dos materiais com
a variação do volume de água contida. A relação da figura 10 é aplicável no limite de freqüência
de 50 MHz a 1000 MHz. Um similar tipo de relação empírica ligada à condutividade versus
água contida é chamada de Lei de Archie, figura 59.

Figura 10 - Variação da constante dielétrica e velocidade com água contida (modificado de ANNAN, 2000).

Figura 11 – Resumo da lei de Archie o qual relaciona condutividade no poro com água e porosidade
(modificado de ANNAN, 2000).

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