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A.1 INTRODUÇÃO
O radar tem sido utilizado para sondagens de alta resolução em subsuperfície com
detecção de feições da ordem de poucos centímetros até vários metros, obtidas de forma
rápida e econômica. Limitado em profundidade, se comparado ao método da sísmica de
reflexão.
A aquisição de dados GPR pode ser realizada hoje em nave espacial, aeronave, na
superfície do terreno, no interior de um poço e entre poços. O radar de poço (borehole radar)
é um caso especial da técnica convencional de GPR com várias características que o distingue
das ferramentas de superfície (WANSTEDT et al, 2000).
Existe atualmente uma vasta bibliografia sobre o uso convencional do GPR. Nestes
trabalhos são enfatizados os levantamentos em diferentes áreas, as metodologias básicas para
aquisição e processamento de dados.
A.2 HISTÓRICO
Segundo Popini (2001), os primeiros registros de tentativas de uso das ondas de rádio
para investigar a estrutura interna da Terra datam do final da década de 20. As primeiras
aplicações do radar na Alemanha em 1929 tiveram como objetivo determinar a espessura de
geleiras e a localização de minas explosivas no subsolo. De acordo com Marques (1999) essa
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A.3 APLICAÇÕES
Nível d’água
Nível d’água
Coberturas arenosas
Depósitos glacio-lacustres
Nível d’água
Nível d’água
Nível d’água
Ambiente Lacustre
Depósitos lacustres Depósitos estuarinos
Nível d’água
VII. Atualmente com o uso de antenas blindadas, o GPR possui vantagens em relação
aos outros métodos quando o dado é adquirido em ambiente urbano.
Vale ressaltar que com referência à “escala de feições” citada no item I, deve-se levar em
conta o compromisso entre profundidade e resolução, ou seja, a visualização de objetos pequenos
em subsuperfície necessita de alta freqüência (alta resolução) e, portanto, não são vistos nas
grandes profundidades onde é necessária a utilização de baixas freqüências (baixa resolução). A
palavra “acurácia” (item V) diz respeito à resolução horizontal - zona de Fresnel. O termo “on
site” (item VI) refere-se à facilidade da visualização dos dados durante a aquisição mesmo sem
qualquer tipo de processamento. Com isto pode-se inferir a qualidade dos dados. E sobre o item
VIII se adverte que os objetos metálicos também provocam ruídos nos dados do GPR.
A.6 FUNDAMENTOS
O método GPR é governado por fenômenos eletromagnéticos que segundo Elmore e Heald
(1969) são produzidos e detectados por deslocamento de constituintes fundamentais de matéria
chamada de carga elétrica. Ao invés de descrever as interações entre cargas diretamente é mais
conveniente separar o problema em duas partes:
(1) a fonte de carga (ou corrente, etc.) que gera um campo (vetor), o qual penetra em todos
os espaços.
(2) o detector de carga que reage a um valor local do campo, experimentando uma força.
Os campos elétricos são gerados por cargas elétricas. Os campos magnéticos são gerados
por cargas em movimento, isto é por correntes. Em adição, os dois campos são acoplados
perpendicularmente um a outro e cada um pode ser gerado (ou induzido) pela variação temporal
do outro.
medir ambos os campos magnético h (t ) e elétrico e (t ) . O campo magnético age
primariamente como um campo fonte, considerando que o campo elétrico é um fenômeno
secundário induzido pela interação entre o campo magnético e a estrutura geológica. O vetor
campo magnético incidente (fonte) tem dois componentes horizontais, h x e h y . Uma vez que
o campo fonte interage com estruturas geológicas 2D ou 3D, um componente de campo vertical
também é gerado devido à interação do campo fonte com o meio multidimensional.
b
x e . (Lei de Faraday) (1)
t
d
x h j . (Lei de Ampère) (2)
t
. b 0 . (Lei de Gauss) (3)
. d . (Lei de Gauss) (4)
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. j 0, (5)
t
h vetor campo magnético (A/m), (Ampère/metro),
b indução eletromagnética (T), (Tesla),
d vetor deslocamento elétrico (C/m2), (Coulomb/metro quadrado),
j densidade de corrente total (A/m2), (Ampères/metro quadrado).
d e K e 0 e , (6)
b h K m 0 h . (7)
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j e . (8)
dos campos.
externo e armazenada no material. Quando este é removido as cargas voltam à sua posição de
origem e a energia é liberada para o meio na forma de calor e/ou irradiada (figura 3) (ANNAN,
2000).
De uma forma geral, aplicando o rotacional nas equações 1 e 2, além de considerar o meio
isotrópico e homogêneo a equação da onda para e e h é dada por:
2 2 e e
e 0,
t 2 t
(9)
2 2 h h
h 0.
t 2 t
e e b variam harmonicamente com o tempo e it tal que,
e ( r . k , t ) e ( r )eit (10)
onde k e r correspondem ao vetores direção de propagação e posição respectivamente,
é a freqüência angular igual a 2f e f é a freqüência de onda oscilante. Tal que f é
inversamente proporcional ao comprimento de onda (ANNAN, 2000) pela relação,
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c f . (11)
2 e ( 2 i ) e 0, (12)
1
definindo o módulo do vetor direção de propagação da onda, k ( 2 i ) 2 , que pode
ser reescrito como um vetor complexo k ( i ´) u . e ' correspondem aos termos de
atenuação por absorção (correntes de condução) e propagação (correntes de deslocamento)
respectivamente. Assim a solução de onda expressa para o campo elétrico (12) torna-se á
ik
f ( ) Ae , (13)
onde se considera e f ( r . k , t ) u tal que r . k (ANNAN, 2000), assim sendo,
i( k wt )
f ( k . r , t ) f ( , t ) f ( )eiwt Ae (14)
Segundo Annan (2000) os fatores mais importantes que governam a propagação da onda
eletromagnética num determinado meio são: a) a velocidade e b) a atenuação, que no método
GPR seguem o critério de ser considerada baixa perda (low loss, >>). Isto pode ser analisado
reescrevendo a equação 9 para o campo elétrico como,
2e e
2 e 2 A BC . (15)
t t
C x 2 B x 2
e 2 . (16)
A t A t
B C B t
e 1 (17)
A A C
As correntes elétricas no meio podem ser vistas como análogas à corrente elétrica em um
circuito resistor-capacitor, a resistência é proporcional a 1 / e a capacitância proporcional a .
O tempo de recarga para o capacitor é expresso como / . A condição que B/Cseja
pequena requer que o tempo para carregar a redistribuição seja curto comparado à taxa de tempo
de modificar os campos eletromagnéticos (ANNAN, 2000).
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a) Velocidade
2 e 2 e 0, (18)
c
v , (19)
p k n
n
que é a velocidade de fase da onda, onde k e n é o índice de refração do meio. Na equação
c
(17) com a velocidade de propagação da onda eletromagnética no vácuo e no ar n=1 tém-se,
1 c 1
v e c = 2,99 x108 ms 1 ou c 0.3m/ns, (20)
Ke Km 00
b) Atenuação
f ( , t ) p( vt ) g ( ) , (21)
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2 p 2 p
. (22)
2 t 2
2
p g uv
p 2 2 g = 0, (23)
2
o qual satisfaz
g uv
g 0, (24)
2
2
p 0. (25)
2
Neste caso, a segunda condição não pode ser satisfeita, mas pode ser mostrado que em
situação de baixas perdas este termo é negligenciado. A primeira relação é satisfeita se
g ( ) e , (26)
v
ou 188,35 (27)
2 Ke
y
expressão para a atenuação como: ' (20 log10 e) 1,636 x103 .
r Ke
E fh , (28)
Tabela 1 - Parte comum do espectro eletromagnético (modificado de GRUBER AND LUDWIG, 1996)
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P e. (29)
A polarização intrínsica, P , possui unidades de separação de cargas por metro cúbico, ou
coulombs/m3. Este parâmetro surge da aplicação de um campo elétrico a um meio que distende
ou polariza a distribuição de cargas, as positivas indo a uma direção e as negativas em outra.
Ke K , (30)
o
onde K ' é a parte real da constante dielétrica no qual influencia a propagação da velocidade em
materiais com perda nula e K ' ' ' é a parte imaginária ou parte de perda da constante dielétrica o
qual é relacionado à condutividade. É conveniente ainda separar em altas freqüências os
componentes de perda na forma,
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K * K 'i K ' ' dc , (32)
0
onde dc é a condutividade d.c.(S/m) e K ' ' é a perda de freqüência associada com o fenômeno da
Figura 5a – Relação entre velocidade e freqüência em diferentes condutividades (modificado de DAVIS AND
ANNAN, 1989).
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Figura 5b – Relação entre atenuação e freqüência em diferentes condutividades (modificado de DAVIS AND
ANNAN, 1989).
μ0
= Є0
A tabela 2 abaixo, lista alguns materiais com suas propriedades físicas: constante de
permissividade dielétrica (K), condutividade (), velocidade de propagação da onda
eletromagnética (v) e atenuação ().
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Tabela 2 - Materiais com suas propriedades eletromagnéticas (Hydrology Field Couse, 1997 in MARQUES,
1999).
a) b) c)
Figura 7 – Reflexões especular (a), difusa (b) e Lambertiana (c) (modificado de GRUBER E LUDWIG,
1996).
c c
seni sen t ,
v1 v2
K1 sen i K 2 sen t .
K2
sen i . (34)
K1
A distância que o receptor deve estar do transmissor para receber uma onda refratada é
chamado de distância crítica. Ondas refratadas não são comuns nos dados de radar.
O espalhamento ressonante ocorre quando uma onda incide entre interfaces com grande
contraste de propriedades físicas (por exemplo, objeto fechado ou um cilindro) em diferentes
pontos da fronteira em variados tempos, onde parte da energia se refratada e a outra é refletida.
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Este espalhamento resulta em uma energia ressonante, ocasionada pelas múltiplas ondas no
perfil, que algumas vezes é chamada de ringing. No GPR as múltiplas podem estar associadas a
objetos em subsuperfície e superfície. E na sísmica de reflexão estas múltiplas são geradas dentro
da lâmina d´água ou em zona de baixa velocidade.
n n 2n1
e'1 2 1 e1 e e'´2 e1 (35)
n2 n1 2n2 n1
onde e1 representa o campo elétrico incidente, e'1 o campo elétrico refletido e e2 o campo
elétrico transmitido. As razões entre amplitudes refratada e incidente ( t12 ), e amplitudes refletida
e incidente ( r12 ) são totalmente determinadas pelos índices de refração dos meios, ( n1 e n2 ),
e2 2n1 e1 ' n2 n1
t12 e r12 . (36)
e1 2n2 n1 e 1 n2 n1
t12 e r12 são chamados coeficientes de Fresnel respectivamente para transmissão e reflexão da
incidência normal. Os índices indicam que a onda é incidente do meio 1 para o meio 2. Estas
equações relacionam as amplitudes dos campos elétricos (WARD E HOHMANN, 1987).
ex ( z , t ) i
Z xy (37)
hy ( z , t ) i
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Z 2 Z1
rgpr (38)
Z 2 Z1
1 i 1 2 i 2
rgpr (39)
1 i 1 2 i 2
1 1
rgpr
2 2 2
r12 CR 1 1 , (40)
1
1 2 2 2
Annan (2000) chama a atenção para o fato de que as propriedades eletromagnéticas dos
materiais relacionam-se basicamente à sua composição e fluído intersticial, ambas exercendo
controle sobre a velocidade de propagação e atenuação de ondas eletromagnéticas.
Uma rocha sedimentar pode ser concebida como um sistema de três fases, consistindo na
mistura de rocha, ar e água. Dependendo da quantidade de água e ar nos poros da matriz rocha,
as propriedades dielétricas desta podem variar fortemente. Um areia de quartzo contém a mistura
de grão de areia, ar, água e íons dissolvidos em variáveis proporções, onde normalmente os grãos
ocupam 60 a 80 % do volume. Sendo assim conclui-se que a condutividade elétrica que é um dos
fortes fatores de atenuação em um terreno é muito difícil de ser prevista.
A água presente nos materiais é o grande fator que determina o volume de propriedades
elétricas dos materiais, pois a água é intrinsecamente uma molécula polar, isto significa que a
molécula de água tem um deslocamento de rede positivo e negativo (figura 9).
A parte real da constante dielétrica da água é 80 e a maior parte dos materiais geológicos
secos estão no limite de 4 a 8. Como resultado, a presença de água dá ao material uma alta
permissividade relativa, sendo a permissividade também dependente da temperatura. Deve-se
ressaltar que o contato entre a zona não saturada de água e a saturada (topo dos aqüíferos
freáticos) é normalmente um poderoso refletor para o sinal do GPR. Este efeito é tão forte que
chega a prejudicar a penetração da onda eletromagnética gerada pelo transmissor do GPR, pois a
maior parte da energia do pulso inicial é refletida para a superfície, em função do forte contraste
entre as constantes dielétricas dos meios, e a parte transmitida não consegue retornar á superfície.
Além disto, atenuação do sinal na água é extremamente alto (PORSANI, 2002).
esperada é da ordem de 1000 m no gelo, 50 metros em rocha não alterada, 20 metros em areias
não consolidadas e em materiais condutivos como argilas e águas salobras ou salgadas, fica
apenas na ordem de metros a alguns centímetros.
A figura 10 e 11, mostra a relação entre permissividade e condutividade dos materiais com
a variação do volume de água contida. A relação da figura 10 é aplicável no limite de freqüência
de 50 MHz a 1000 MHz. Um similar tipo de relação empírica ligada à condutividade versus
água contida é chamada de Lei de Archie, figura 59.
Figura 10 - Variação da constante dielétrica e velocidade com água contida (modificado de ANNAN, 2000).
Figura 11 – Resumo da lei de Archie o qual relaciona condutividade no poro com água e porosidade
(modificado de ANNAN, 2000).