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RESUMO DO 1º SEMESTRE

Trovadorismo

O Trovadorismo tem início no final do século XII, época em que Portugal havia
acabado de consolidar sua independência política.
Nessa época, a poesia não se dissociava da música. Por isso, os poemas,
compostos não para serem lidos, mas sim para serem cantados (e, com isso,
dançados), eram chamados de cantigas.
Os trovadores ou poetas-músicos, influenciados por artistas provençais (da
provença, região do sul da França) e utilizando o idioma galego-português,
produziram dois gêneros de cantigas: as líricas e as satíricas.
As líricas comportam as cantigas de amor (que possuem eu lírico masculino)
e as cantigas de amigo (com eu lírico feminino).
As satíricas se subdividem em cantigas de escárnio (que promovem críticas
indiretas) e cantigas de maldizer (com críticas diretas, ou seja, com seu “alvo”
explicitado).

Humanismo

O Humanismo é um período de transição entre o teocentrismo medieval e o


antropocentrismo renascentista, que inicia a retomada dos valores
da Antiguidade clássica.
As primeiras obras humanistas em português são as crônicas históricas de
Fernão Lopes, que, na primeira metade do século XV, foi encarregado pela corte de
escrever a história oficial de Portugal.
• A poesia humanista, chamada de poesia palaciana, caracterizou-se em primeiro
lugar por sua dissociação da música. Eram feitas para serem declamadas, não
cantadas. Garcia de Resende compilou a produção portuguesa do período em seu
Cancioneiro geral (1516).
O teatro de Gil Vicente corresponde ao ponto mais alto da literatura
humanista portuguesa. Suas peças, que ridicularizam os costumes da época (tanto
da corte quanto do povo), sem deixar de celebrar os valores cristãos, são
consideradas realizações modelares na história da dramaturgia em Portugal.

Classicismo
Motivado pelas Grandes Navegações e pela nova mentalidade trazida pelo
Renascimento cultural, o Classicismo representou uma retomada dos valores
da Antiguidade greco-romana.
Influenciados por grandes nomes da Literatura italiana, os poetas clássicos
valorizaram o soneto e a medida nova (versos decassílabos).
Entre as principais características do Classicismo, podem-se citar:
 o racionalismo,
 a busca da perfeição formal,
 a arte mimética (imitação do real) e
 a valorização do equilíbrio.
O grande nome do Classicismo português é Luís de Camões, cuja obra possui
basicamente duas vertentes: a lírica e a épica.

Vertente lírica - reunida num volume intitulado Rimas, destacam-se seus sonetos,
cuja temática é centrada no sentimento amoroso. Publicadas postumamente em 1595,
as Rimas são um conjunto de poemas líricos, entre odes, elegias,
éclogas e cantigas. A parte mais importante da obra reside em seus 204 sonetos.
O soneto é uma criação literária do poeta italiano Francesco Petrarca e é
constituído por quatro estrofes, totalizando quatorze versos: as duas primeiras de
quatro versos (quartetos) e as duas últimas de três (tercetos).
Os versos de um soneto costumam ser decassílabos e, normalmente, os
quartetos rimam entre si e os tercetos também rimam entre si. Em seus sonetos, que
tratam sobretudo da relação amorosa, o amor é definido como um sentimento
contraditório, complexo, capaz de provocar nos amantes as reações mais díspares
(uso de ANTÍTESES E PARADOXOS).
Os temas mais abordados em sua lírica são: o amor, a mudança e o
desconcerto do mundo.
Também há os sonetos reflexivos, de natureza filosófica, e versos bucólicos,
em que a natureza fica em primeiro plano.

A épica
A epopeia camoniana Os Lusíadas narra a história de Portugal entre os
séculos XII e XVI, mas concentrando-se na viagem do comandante Vasco da Gama
rumo à descoberta, ao desbravamento do caminho marítimo das Índias.
Os modelos de Camões foram basicamente as epopeias greco-latinas: a Ilíada
e a Odisseia, de Homero, e a Eneida, de Virgílio.
• Como é dessa tradição épica, Os Lusíadas recorrem diversas vezes aos deuses da
mitologia clássica para representar ideias, sentimentos, e para concatenar as ações, o
enredo.
Do ponto de vista formal, a epopeia camoniana é composta por 1.102
estrofes em oitava-rima (ou seja, de oito versos decassílabos, com esquema
fixo de rimas), totalizando 8.816 versos.
• Os episódios mais conhecidos de Os Lusíadas são o de Inês de Castro (canto III,
estrofes 118- 135), o do Velho do Restelo (canto IV, 84-104), o do gigante
Adamastor (canto V, 49-60) e o da Ilha dos Amores (canto IX, 37-89).

OS LUSÍADAS

O Concílio dos Deuses


Depois de localizar as naus comandadas por Vasco da Gama já na costa
africana, o poema narra a reunião dos deuses do Olimpo, para decidir o destino
dos navegantes. Baco, deus do vinho e dominador do Oriente, coloca-se contra o
sucesso da empresa, mas enfrenta a oposição de Vênus, deusa da beleza e
defensora dos portugueses.

O encontro com o Rei de Melinde


Na última parada da expedição em costas africanas, Vasco da Gama e seus
homens são bem recebidos pelo Rei de Melinde, que pede ao comandante
português que narre a história de seu povo. Assim, de personagem, Vasco passa a
narrador, posição que ocupa por cerca de três dos dez cantos de que
se compõe o poema (do Canto III ao Canto V). Aqui estão alguns dos mais
importantes momentos de Os Lusíadas, como os episódios de “Inês de Castro”, do
“Velho do Restelo” e do “Gigante Adamastor”.

Tramoias de Baco
Mesmo depois da determinação do Olimpo de que a viagem dos portugueses
deveria correr sem percalços, Baco resolve agir contra eles. Os portugueses
conseguem se livrar de suas armadilhas com a ajuda da deusa Vênus.
Sucesso da viagem
Depois de escapar de mais uma armadilha de Baco, que fez o exército hindu
voltar-se contra as naus lusas, Vasco e seus homens empreendem a viagem de volta,
carregados de especiarias comprovadoras do sucesso da viagem. Em um dos
momentos finais da narrativa, o episódio da Ilha dos Amores, os portugueses recebem
as recompensas determinadas por Vênus: o conhecimento da máquina do mundo
(organização do universo segundo o sistema ptolomaico) e o amor das ninfas (em
princípio, reservado apenas aos deuses do Olimpo).

EPISÓDIOS MAIS IMPORTANTES

Inês de Castro
O episódio tem origem histórica. O reinado português de D. Afonso IV, ocorrido
entre 1325 e 1357, foi marcado por lutas contra os mouros e por disputas internas pelo
poder. Estas últimas envolveram seu filho, D. Pedro I. O príncipe casou-se em 1340
com D. Constança, mas apaixonou-se por uma das damas de companhia que a
esposa trouxe de Castela, Inês de Castro, que se tornou sua amante. Com a morte de
Constança, D. Pedro hesitava em se submeter às pressões da Corte, que exigiam que
ele escolhesse uma nova esposa. A nobreza viu nessa resistência a intenção secreta
de casar-se com Inês, o que não atendia a seus interesses. Por isso, pressionou o Rei
para que determinasse a morte de Inês, o que ocorreu em 1355. Dois anos depois,
com a morte do pai, D. Pedro se tornou Rei, e passou a perseguir os assassinos da
amada, dois dos quais foram encontrados e mortos.
O episódio levanta a questão da culpa pela morte de Inês. Camões prefere
uma abordagem lírica do assunto, ao responsabilizar o amor (na famosa estrofe “Tu
só, tu, puro amor, com força crua”, que aparece na Tarefa Mínima). Sobre culpas mais
terrenas e humanas, lê-se, em uma das estrofes do trecho (Canto III, estrofe 130):

Queria perdoar-lhe o Rei benino,


Movido das palavras que o magoam;
Mas o pertinaz povo e seu destino
(Que desta sorte o quis) lhe não perdoam.
Arrancam das espadas de aço fino
Os que por bem tal feito ali apregoam.
Contra ˜ua dama, ó peitos carniceiros,
Feros vos mostrais e cavaleiros?

Para procurar resguardar a figura do Rei da imagem de crueldade desumana,


os primeiros versos tratam de um suposto arrependimento do monarca, “movido” (isto
é, comovido) pelo pedido de Inês para que não a matasse. A hesitação, no entanto, foi
vencida pelo “pertinaz povo” (isto é, a nobreza), que insiste na morte da moça. Os dois
versos finais da estrofe questionam a valentia (“feros”) e a honra (“cavaleiros”)
aqueles que se comportaram dessa maneira.

O Velho do Restelo

No momento da partida das naus de Vasco da Gama da praia do Restelo,


próxima a Lisboa, os navegantes são admoestados (censurados) por um Velho
que se destaca da multidão para condenar a viagem (Canto IV, estrofe 95):

“Ó glória de mandar, ó vã cobiça


Desta vaidade a que chamamos Fama!
Ó fraudulento gosto, que se atiça
C˜ua aura popular, que honra se chama!
Que castigo tamanho e que justiça
Fazes no peito vão que muito te ama!
Que mortes, que perigos, que tormentas,
Que crueldades neles exp’rimentas!”

Quando as naus de Vasco da Gama se despediam do porto de Belém


(Portugal), um ancião, o Velho do Restelo, elevando a voz, manifestou sua
oposição à viagem às Índias. A sua fala pode ser interpretada como a
sobrevivência da mentalidade feudal, agrária, oposta ao expansionismo e às
navegações, que configuravam os interesses da burguesia e da monarquia. É a
expressão rigorosa do conservadorismo. Certo é que Camões, mesmo numa epopéia
que se propõe a exaltar as Grandes Navegações, dá a palavra aos que se opõem ao
projeto expansionista. Portanto, O Velho do Restelo representa a oposição
passado x presente, antigo x novo. O Velho chama de vaidoso aqueles que, por
cobiça ou ânsia de glória, por sua audácia ou coragem, se lançam às aventuras
ultramarinas. Simboliza a preocupação daqueles que antevêem um futuro sombrio
para a Pátria.

O Gigante Adamastor

Adamastor, um dos gigantes filhos da Terra, apaixonou-se pela nereida


Tétis. Não correspondido, tenta tomá-la à força, provocando a cólera de Júpiter,
que o transforma no Cabo das Tormentas (ponta de terra que entra pelo mar
adentro; promontório), personificado numa figura monstruosa, lançada nos
confins do Atlântico.
A viagem da esquadra é rápida e próspera até uma nuvem que escurece os
ares surgir sobre as cabeças dos navegantes. A nuvem escura que surgiu vinha tão
carregada que encheu de medo os navegantes.
O mar, ao longe, fazia grande ruído ao bater contra os rochedos. Vasco da
Gama, atemorizado, lança voz à tempestade perguntando o que era ela, que ela lhe
parecia mais que uma simples tormenta marinha. Repare que o cenário aterrador fará
a imagem do Gigante ainda mais terrível e assustadora.
Vasco da Gama não havia terminado de falar quando surgiu uma figura
enorme, de rosto fechado, de olhos encovados, de postura má, de cabelos crespos e
cheios de terra, de boca negra e de dentes amarelos. Sua voz fazia arrepiar os
cabelos e a carne dos navegantes.
O gigante chama os portugueses de ousados e afirma que nunca repousam e
que tem por meta a glória particular, pois chegaram aos confins do mundo. Repare na
ênfase que se dá ao fato de aquelas águas nunca terem sido navegadas por outros: o
gigante diz que aquele mar que há tanto ele guarda nunca foi conhecido por outros.
Já que os portugueses descobriram os segredos do mar, o gigante lhes ordena
que ouçam os sofrimentos futuros, conseqüências do atrevimento de cruzar os mares.
Além disso, afirma que os navios que fizerem a viagem que Vasco da Gama está
fazendo terão aquele cabo como inimigo.

Descrição que o poema faz do monstro (Canto V, estrofe 39):

Não acabava, quando h˜ua figura


Se nos mostra no ar, robusta e válida,
De disforme e grandíssima estatura;
O rosto carregado, a barba esquálida,
Os olhos encovados, e a postura
Medonha e má e a cor terrena e pálida;
Cheios de terra e crespos os cabelos,
A boca negra, os dentes amarelos.
Ilha dos Amores
Depois do sucesso da viagem, os navegantes são premiados pela deusa Vênus, que
coloca em seu caminho a Ilha dos Amores, repleta de ninfas que trazem descanso e
recompensa. Vasco da Gama é premiado também com um conhecimento restrito aos
deuses, ou seja, consegue visualizar a Máquina do Mundo, que é uma representação
do planeta com as terras que ainda seriam descobertas pelo homem.
Mas há muito interessante e sensuais, que mostram cenas da corrida dos navegantes,
em perseguição das ninfas (Canto IX, estrofe 72):

Outros, por outra parte, vão topar


Com as Deusas despidas, que se lavam;
Elas começam súbito a gritar,
Como que assalto tal não esperavam.
H˜uas, fingindo menos estimar
A vergonha que a força, se lançavam
Nuas por entre o mato, aos olhos dando
O que às mãos cobiçosas vão negando.

Vencedores e vencidas, estavam todos entregues ao puro amor. O sentimento


é tão intenso, o afago é tamanho, que os enamorados “se prometem eterna
companhia, / em vida e morte, de honra e alegria”. Nos versos seguintes, inundados
de lascívia, o relacionamento amoroso entre as ninfas e os portugueses não
representa uma orgia desenfreada e desmedida:

Oh, que famintos beijos na floresta,


E que mimoso choro que soava!
Que afagos tão suaves! Que ira honesta,
Que em risinhos alegres se tornava!
O que mais passam na manhã e na sesta,
Que Vénus com prazeres inflamava,
Milhor é exprimentá-lo que julgá-lo;
Mas julgue-o quem não pode exprimentá-lo.
(Canto IX, 83)

É, sim, a realização do amor, do desejo de amar e ser amado. É o momento de


glória. Ainda mais, o momento em que o Amor, através do desejo, manifesta-se de
forma que, mesmo que por um momento, o mundo recupera sua harmonia, estando
livre de toda sorte de desconcerto. Evidentemente há uma entrega aos prazeres da
carne, mas é um prazer fruto do Amor, que preenche a alma e purifica.

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