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Introdução.
Jonathan Edwards, um pastor congregacional que viveu no século XVIII, é hoje
considerado pelos historiadores um dos maiores teólogos e pensadores da história dos
Estados Unidos. Ele foi não somente um dos instrumentos do primeiro grande
reavivamento ocorrido naquele país, mas o maior estudioso e intérprete desse fenômeno.
Através de vários livros que escreveu, ele analisou os eventos cuidadosamente, em seus
diferentes aspectos. Em essência, Edwards apoiou alegremente o reavivamento, vendo nele
a manifestação genuína do Espírito de Deus, mas também foi um crítico severo dos desvios,
exageros e impropriedades que por vezes ocorreram. Uma de suas principais preocupações
foi mostrar em seus escritos quais os critérios pelos quais se pode reconhecer a
autenticidade de uma experiência religiosa dessa natureza.
1. Contexto Religioso
Quando Jonathan Edwards iniciou o seu ministério, a sua região, a Nova Inglaterra, já havia
sido colonizada pelos ingleses há cem anos. Os colonizadores foram os famosos puritanos,
calvinistas que lutaram por uma igreja mais pura no seu país de origem e que
eventualmente foram para o Novo Mundo a fim de viverem sem impedimentos de acordo
com as suas convicções.
Todo esse progresso havia sido alcançado por causa dos valores religiosos e éticos dos
puritanos, como o seu amor ao trabalho, sua disciplina de vida, sua rejeição de vícios e a
preocupação em serem bons mordomos das bênçãos de Deus.
Nesse ambiente desanimador, pastores e membros das igrejas oravam por um reavivamento
das energias espirituais do povo de Deus. E isto ocorreu através do Grande Despertamento
(1720s-40s), o primeiro evento da história norte-americana a atingir pessoas das diferentes
colônias com um interesse religioso comum.
2. Jonathan Edwards
Jonathan Edwards nasceu em 1703, sendo filho de um consagrado ministro congregacional.
Precoce e piedoso desde a sua meninice, aos 12 anos ele escreveu a uma de suas irmãs:
"Pela maravilhosa misericórdia e bondade de Deus, tem ocorrido neste lugar uma
extraordinária atuação e derramamento do Espírito de Deus… tenho razões para pensar que
isso diminuiu em certa medida, mas espero que não muito. Cerca de treze pessoas uniram-
se à igreja num estado de plena comunhão." Depois de dar os nomes dos convertidos, ele
acrescentou: "Acho que muitas vezes mais de trinta pessoas se reunem às segundas-feiras
para falar com o Pai acerca da condição das suas almas."
Edwards obteve o seu grau de bacharel no Colégio de Yale em 1720, onde continuou seus
estudos teológicos e trabalhou como professor assistente por algum tempo. Após um breve
pastorado numa igreja presbiteriana de Nova York, em 1726, aos 23 anos de idade, ele foi
auxiliar o seu avô, Salomão Stoddard, o famoso pastor da igreja de Northampton,
Massachusetts.
No ano seguinte, Jonathan casou-se com Sarah Pierrepont, então com 17 anos de idade,
filha de um pastor bem conhecido e bisneta do primeiro prefeito de Nova York. Os
historiadores destacam a harmonia, amor e companheirismo que sempre caracterizou a vida
do casal. Eles gostavam de andar a cavalo ao cair da tarde para poderem conversar e antes
de se deitarem sempre tinham juntos os seus momentos devocionais.
Jonathan e Sarah tiveram 11 filhos, todos os quais chegaram à idade adulta, fato raro
naqueles dias. Em 1900, um repórter identificou 1400 descendentes do casal Edwards.
Entre eles houve 15 dirigentes de escolas superiores, 65 professores, 100 advogados, 66
médicos, 80 ocupantes de cargos públicos, inclusive 3 senadores e 3 governadores de
estados, além de banqueiros, empresários e missionários.
Em 1729, com a morte do seu avô, Jonathan tornou-se o pastor titular da igreja de
Northampton, na qual, através de sua poderosa pregação, ocorreu um grande avivamento
cinco anos mais tarde (1734-35). O Grande Despertamento tivera os seus primórdios alguns
anos anos entre os presbiterianos e reformados holandeses na Pensilvânia e Nova Jérsei,
cresceu com as pregações de Edwards e atingiu o seu apogeu no ano de 1740, com o
trabalho itinerante do grande avivalista inglês George Whitefield (1714-1770). [Sobre o
avivamento entre os presbiterianos, ver o recente artigo do Rev. Frans L. Schalkwijk,
"Aprendendo da História dos Avivamentos," em Fides Reformata II-2.]
Em 1750, após 23 anos de pastorado, Jonathan Edwards foi despedido pela sua igreja, a
razão principal sendo a sua insistência em que somente pessoas convertidas deviam
participar da Ceia do Senhor, em contraste com a prática anterior do seu avô. No seu
sermão de despedida, depois de advertir a igreja sobre as contendas que nela havia e os
perigos que isto representava, ele concluiu: "Portanto, eu quero exortá-los sinceramente,
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para o seu próprio bem futuro, que tomem cuidado daqui em diante com o espírito
contencioso. Se querem ver dias felizes, busquem a paz e empenhem-se por alcancá-la (1
Pe 3:10-11). Que a recente contenda sobre os termos da comunhão cristã, por ter sido a
maior, seja também a última. Agora que lhes prego o meu sermão de despedida, eu gostaria
de dizer-lhes, como o apóstolo disse aos coríntios, em 2 Co 13:11: "Quanto ao mais,
irmãos, adeus! Aperfeiçoai-vos, consolai-vos, sede do mesmo parecer, vivei em paz; e o
Deus de amor e de paz estará convosco."
No ano seguinte, Edwards foi para Stockbridge, uma região remota da colônia de
Massachusetts, onde trabalhou como pastor e missionário entre os índios. Em 1757, a sua
excelência como educador e sua fama como teólogo e filósofo fez com que ele fosse
convidado para ser o presidente do Colégio de Nova Jérsei, a futura Universidade de
Princeton. Um mês após a sua posse, Edwards faleceu devido a complicações resultantes de
uma vacina contra varíola.
Em 1746, Edwards publicou a sua obra mais amadurecida sobre o assunto, o seu Tratado
sobre as Afeições Religiosas (resultou de uma série de sermões sobre 1 Pedro 1:8), no qual
argumentou que o cristianismo verdadeiro não se evidencia pela quantidade ou intensidade
das emoções religiosas, mas por um coração transformado que ama a Deus e busca o seu
prazer. Ele faz uma análise rigorosa das diferenças entre a religiosidade carnal, que produz
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muita comoção, e verdadeira espiritualidade, que toca o coração com a visão da excelência
de Deus e o liberta do egocentrismo.
Como bom calvinista que era, Edwards também escreveu algumas obras em defesa das
convicções reformadas acerca da incapacidade moral e espiritual dos seres humanos e sua
profunda necessidade da graça transformadora de Deus: A Liberdade da Vontade (1754) e
O Pecado Original (1758).
Nenhum avivamento ou experiência religiosa é genuína se não realçar esse Deus sublime
em sua soberania, graça e amor. O critério principal é este: se quem está no centro das
atenções é Deus ou o ser humano. Para que Deus esteja no centro é necessário, em primeiro
lugar, que haja nos corações um profundo senso de incapacidade, de dependência de Deus,
e de convicção da nossa pecaminosidade. Além disso, é preciso que haja a consciência de
que toda genuína experiência religiosa é fruto da atuação do Espírito de Deus, que
transforma e santifica os pecadores, capacitando-os a amar e honrar a Deus em suas vidas.
Portanto, todas as teorias de salvação que dão ênfase às obras humanas ou à capacidade
humana só desmerecem a grandeza do amor de Deus revelado a nós em Cristo Jesus e
tornado real em nossos corações somente pela iluminação do Espírito Santo.
Em todas as suas obras Edwards insistiu na importância dos afetos profundos na vida
espiritual. Por "afetos" ou "afeições" ele se referia às disposições do coração que nos
inclinam para certas coisas e nos afastam de outras. Todas as nossas ações derivam dos
nossos desejos: ou nos comprazemos no Deus vivo e buscamos servi-lo e honrá-lo, ou
somos cativos de desejos voltados para alvos menores.
incluíam uma ênfase na obra graciosa de Deus, doutrinas consistentes com a revelação
bíblica, e uma vida marcada pelos frutos do Espírito.
O segundo erro é dar ênfase não a Deus, mas às respostas humanas a Ele, algo muito
comum hoje com toda a celebração do eu, as experiências pessoais, os testemunhos auto-
congratulatórios. Edwards insistiu em que a essência da verdadeira espiritualidade é ser
dominado pela visão da beleza de Deus, ser atraído para a glória das suas perfeições, sentir
o seu amor irresistível.
Se nossos corações são transformados pelo amor de Deus, assim devem ser transformadas
as nossas ações. Se somos mudados ao contemplarmos a beleza do amor de Deus, então
amaremos de maneira especial todo ato de virtude que reflete o caráter amoroso de Deus.
Conclusão
Jonathan Edwards acreditava na importância e necessidade do avivamento. Ele viu o
Grande Despertamento como uma obra do Espírito de Deus, revitalizando e capacitando a
igreja para a sua missão no mundo. Ao mesmo tempo, ele estava consciente de desvios,
excessos e até mesmo atuações satânicas que produziam excentricidades, descontrole
emocional, ostentação e escândalos.
Porém, ele entendia que tais problemas não invalidavam os aspectos positivos do
avivamento e, mais ainda, que alguns dos "fenômenos" ou "manifestações," ainda que
inusitados, eram admissíveis diante das experiências profundas da graça de Deus que
muitas pessoas estavam tendo, inclusive a sua esposa. Tais coisas, em si mesmas, nada
provavam.
Só esse tipo de avivamento será uma bênção para as nossas vidas, nossas igrejas e nosso
país.
Fontes:
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