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FUNDAÇÕES

Notas de Aula

Prof. Dr. Paulo J. R. Albuquerque


Prof. Dr. Luiz. R. Cavicchia
Profa. MSc. Bárbara Nardi Melo

Fevereiro/2012
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ................................................................................... 1
2. A MECÂNICA DOS SOLOS ..................................................................... 1
3. A ÁREA DE FUNDAÇÕES ...................................................................... 2
4. NBR 6122 / 96 – PROJETO E EXECUÇÃO DE FUNDAÇÕES ............................. 4
4.1. Fundação Superficial (ou rasa ou direta) .................................................... 4
4.1.1. Sapata ................................................................................................ 4
4.1.2. Bloco .................................................................................................. 4
4.1.3. Radier ................................................................................................ 4
4.1.4. Sapata associada ................................................................................ 4
4.1.5. Sapata corrida .................................................................................... 4
4.2. Fundação Profunda ................................................................................... 5
4.2.1. Estaca ................................................................................................ 5
4.2.2. Tubulão.............................................................................................. 5
4.2.3. Caixão ................................................................................................ 5
4.3. Termos ..................................................................................................... 5
4.4. Investigações geotécnicas, geológicas e observações locais....................... 6
4.4.1. Reconhecimento geológico ................................................................. 6
4.4.2. Reconhecimento geotécnico ............................................................... 6
4.5. Cargas e segurança nas fundações ............................................................ 7
4.5.1. Estados Limites Últimos – Análise de Ruptura ...................................... 7
4.5.2. Estados Limites de Utilização – Análise de Deformação ....................... 8
4.6. Fundações Superficiais.............................................................................. 9
4.6.1. Pressão admissível.............................................................................. 9
4.7. Metodologia para determinação da pressão admissível .............................. 9
4.7.1. Pressão admissível em solos compressíveis....................................... 10
4.8. Solos expansivos .................................................................................... 10
4.9. Solos colapsíveis..................................................................................... 10
4.10. Dimensionamento de Fundações Superficiais ........................................ 10
4.10.1. Dimensionamento geométrico ........................................................ 10
4.10.2. Dimensionamento estrutural ........................................................... 11
4.10.2. Disposições construtivas ................................................................ 12
4.11. Fundações Profundas ............................................................................ 12
4.11.1. Carga admissível do ponto de vista geotécnico ............................... 13
4.11.2. Métodos para avaliação da capacidade de carga do solo .................. 13
4.11.2.1. Métodos estáticos .................................................................... 13
4.11.2.2. Provas de carga ........................................................................ 13

ii
4.11.2.3. Métodos dinâmicos .................................................................. 15
4.11.3. Carga admissível a partir do recalque ............................................. 15
4.12. Atrito lateral ......................................................................................... 15
4.13. Tração e Esforços Horizontais ............................................................... 16
4.14. Efeito de Grupo .................................................................................... 16
5. TIPOS DE FUNDAÇÕES ....................................................................... 16
5.1 Fundações Rasas ou Diretas (H  2B) ........................................................ 16
5.1.1. Blocos de Fundação .......................................................................... 17
5.1.2. Sapatas de Fundação ........................................................................ 18
5.1.3. Radier .............................................................................................. 19
5.2. Fundações Profundas .............................................................................. 19
5.2.1. Estacas ............................................................................................. 19
5.2.3. Tubulões .......................................................................................... 20
6. INTERAÇÃO SOLO – FUNDAÇÃO ........................................................... 22
6.1. Caso geral .............................................................................................. 23
6.2. Casos típicos .......................................................................................... 23
6.2.1. Fundação rasa ou direta ( H ≤ 2.B ) ................................................... 23
6.2.2. Fundações profundas (H > 2B) .......................................................... 24
7. INVESTIGAÇÃO DO SUBSOLO PARA FUNDAÇÕES ......................................... 25
7.1. Introdução .............................................................................................. 25
7.2. Subsídios mínimos a serem fornecidos pelo programa de investigação do
subsolo ............................................................................................................. 26
7.2.1. Informações que se buscam em um programa de prospecção ........... 27
7.2.2. Coeficientes de Segurança ................................................................ 27
7.2.3. Tipos de Prospecção Geotécnica ....................................................... 28
7.2.3.1. Processos Indiretos .................................................................... 28
7.2.3.2. Processos Semi-Diretos .............................................................. 28
7.2.3.3. Processos Diretos ....................................................................... 28
7.2.3.3.1. Poços ................................................................................... 28
7.2.3.3.2. Trincheiras ........................................................................... 28
7.2.3.3.3. Sondagens a Trado ............................................................... 28
7.2.3.3.4. Sondagens de Simples Reconhecimento (SPT) e (SPT-T)......... 29
7.2.3.3.5. Sondagens Rotativas............................................................. 35
7.2.3.3.6 Sondagens Mistas .................................................................. 36
7.2.4. Prospecção Geofísica ........................................................................ 36
7.2.4.1. Resistividade Elétrica .................................................................. 36
7.2.4.2. Sísmica de Refração .................................................................... 36
7.2.5. Métodos Semi-diretos ...................................................................... 37

iii
7.2.5.1. Vane Test ................................................................................... 37
7.2.5.2. Penetrômetros ............................................................................ 39
7.2.5.3. Ensaio Pressiométrico ................................................................. 41
7.3. Programação da Investigação do Subsolo ................................................ 42
7.3.1. Número mínimo de sondagens ......................................................... 42
7.3.2. Profundidade das sondagens ............................................................ 43
8. CAPACIDADE DE CARGA DE FUNDAÇÃO DIRETA ........................................ 43
8.1. Fórmulas de Capacidade de Carga .......................................................... 44
8.1.1. Fórmula Geral de Terzaghi (1943 ) .................................................... 44
8.1.1.1. Ruptura Geral (areias compactas e argilas duras) ........................ 45
8.1.1.2. Ruptura Local (areias fofas e argilas moles) ................................. 47
8.1.1.3. Ruptura Intermediária (areias medianamente compactas e argilas
médias)....................................................................................................... 48
8.1.2. Fórmula de Skempton (1951) - Argilas.............................................. 48
8.1.3. Coeficientes de redução dos fatores de capacidade de carga para
esforços inclinados ........................................................................................ 49
8.1.4. Influência do Nível d‟Água ................................................................ 50
8.2. Método da NBR 6122/96 ........................................................................ 51
8.2.1.– Correção para Solo Arenoso (Classe de 4 a 9) .................................. 51
8.2.2. Correção para solo argiloso (Classe de 10 a 15) ................................ 52
8.2.3. Para qualquer solo ............................................................................ 52
8.3. Prova de Carga em Fundação Direta ou Rasa ..................................... 53
9. RECALQUES DE FUNDAÇÕES DIRETAS ..................................................... 54
9.1. Introdução .............................................................................................. 54
9.2. Recalques de Estruturas .......................................................................... 55
9.3. Efeito de Recalques em Estruturas ........................................................... 57
9.3.1.Recalques Admissíveis das Estruturas ................................................ 57
9.3.2. Causas de Recalques ........................................................................ 58
9.3.3. Recalques Limites (Bjerrum – 1963) .................................................. 58
9.4. Pressões de Contato e Recalques ............................................................ 59
9.4.1. Solos Arenosos ................................................................................. 59
9.4.2. Solos Argilosos ................................................................................. 60
9.5. Cálculo dos Recalques ............................................................................ 61
9.5.1. Recalques por Adensamento – Solos Argilosos .................................. 62
9.5.2. Recalque Elástico .............................................................................. 63
10. INFLUÊNCIA DAS DIMENSÕES DAS FUNDAÇÕES ......................................... 67
10.1. Nos resultados das fórmulas de cálculo de recalques ............................ 67
10.1.1.Recalques elásticos .......................................................................... 67

iv
10.1.2.Recalques por adensamento ............................................................ 68
10.2. Nos resultados das fórmulas de cálculo de capacidade de carga ............ 68
10.2.1. Fórmula geral de Terzaghi .............................................................. 68
10.2.2. Fórmula de Skempton ..................................................................... 69
10.3. Nos Resultados das Provas de Carga ..................................................... 69
10.3.1. Solos argilosos ............................................................................... 70
10.3.2. Solos arenosos ............................................................................... 71
10.3.3. Observações ................................................................................... 72
11. DIMENSIONAMENTO DE FUNDAÇÕES POR SAPATAS ................................... 73
11.1.Sapatas Isoladas .................................................................................... 74
11.2. Sapatas Associadas ............................................................................... 77
11.3. Sapatas de Divisa .................................................................................. 78
12. FUNDAÇÕES PROFUNDAS ................................................................. 85
12.1 Tubulões ............................................................................................... 85
12.1.1. Tubulões a céu aberto .................................................................... 86
12.1.1.1. Sem revestimento ..................................................................... 86
12.1.1.2. Com Revestimento ................................................................... 87
12.1.1.3. Tubulões a Ar Comprimido ou Pneumáticos .............................. 88
12.1.2. Capacidade de Carga dos Tubulões ................................................ 89
12.1.2.1. Solos Arenosos ......................................................................... 90
12.1.2.2. Solos Argilosos ( ≈ 0).............................................................. 90
12.1.2.3. Considerações finais ................................................................. 91
12.1.2.4. Ensaio de campo – SPT e CPT .................................................... 92
12.1.2.5. Solos Coesivos - Resistência de Base ........................................ 92
12.1.2.6. Solos não coesivos – Resistência de Base .................................. 92
12.1.3. Dimensionamento de Tubulões ....................................................... 93
12.1.3.1. Tubulão Isolado ........................................................................ 93
12.1.3.2. Superposição de Bases.............................................................. 95
12.1.3.2.1. Uma falsa Elipse ................................................................. 96
12.1.3.2.2. Duas Falsas Elipses ............................................................. 97
12.1.3.3. Pilares de Divisa ....................................................................... 98
12.1.4. Cálculo do Volume de Concreto ...................................................... 99
12.1.4.1. Tubulão com base circular ........................................................ 99
12.1.4.2. Tubulão com base em “falsa elipse” .......................................... 99
12.2. Estacas de Fundação ........................................................................... 100
12.2.1. Classificação das Estacas .............................................................. 100
12.2.1.1. Estacas de Sustentação ........................................................... 100
12.2.1.1.1. Forma de Trabalho de Sustentação ................................... 101

v
12.2.2. Implantação ................................................................................. 102
12.2.2.1. Moldadas “in-loco” ................................................................. 102
12.2.2.1.1. Estacas brocas – trado manual (acima do NA) ................... 102
12.2.2.1.2. Estaca escavada mecanicamente (s/lama bentonítica) ....... 103
12.2.2.1.3. Estaca escavada (c/lama bentonítica) ................................ 103
12.2.2.1.4. Estaca raiz ........................................................................ 105
12.2.2.1.5. Estaca Strauss .................................................................. 107
12.2.2.1.6. Estaca Apiloada ................................................................ 109
12.2.2.1.7. Estaca Hélice Contínua (monitorada) ................................. 110
12.2.2.1.8. Estaca Hélice Segmentada (monitorada) ............................ 111
12.2.2.1.9. Estaca Ômega (monitorada) .............................................. 112
12.2.2.1.10. Estacas Franki (abaixo do NA) ......................................... 113
12.2.2.1.11. Estacas Simplex (abaixo do NA) ...................................... 115
12.2.2.2. Cravadas ................................................................................ 115
12.2.2.2.1. Madeira ............................................................................ 116
12.2.2.2.2. Metálicas: ......................................................................... 117
12.2.2.2.3. Concreto: ......................................................................... 119
12.2.2.2.4. Estacas Prensadas (Mega) ................................................. 123
12.2.2.2.5. Estacas Mistas .................................................................. 124
12.2.3. Capacidade de Carga de Estacas Isoladas ...................................... 124
12.2.3.1. Fórmulas Estáticas .................................................................. 125
12.2.3.1.1. Fórmulas Teóricas ............................................................ 126
12.2.3.2. Fórmulas Dinâmicas ............................................................... 129
12.2.3.3. Provas de Carga ..................................................................... 131
12.2.3.4. Fórmulas Semi-Empíricas ....................................................... 131
12.2.3.4.1. Método de AOKI & VELLOSO (1975) .................................. 131
12.2.3.4.2. Método de DÉCOURT & QUARESMA (1978) ........................ 134
12.2.4. Dimensionamento ........................................................................ 136
12.2.5. Estacas Isoladas e Grupos de Estacas. ........................................... 144
12.2.5.1. Fórmula das Filas e Colunas.................................................... 145
12.2.5.2. Fórmula de Converse-Labarre ................................................. 146
12.2.5.3. Método de Feld....................................................................... 147
13. ESCOLHA DO TIPO DE FUNDAÇÃO ..................................................... 147
13.1. Deverão ser conhecidas no mínimo: .................................................... 147
13.2. Critérios de decisão: ........................................................................... 148
13.3. Etapas para estudo de uma fundação: ................................................. 148
13.4. Limitações de alguns tipos de fundações profundas. ........................... 150
REFERÊNCIAS BIBLOGRÁFICAS ....................................................... 151

vi
Fundações – 2012 P. J. R. Albuquerque / L.R. Cavicchia / B. N. Melo

1. INTRODUÇÃO
A Engenharia Civil é uma área que apresenta problemas cujas soluções devem ser
frutos da teoria, pesquisa, prática, experiência e julgamento pessoal ao mesmo
tempo. Além disso, o engenheiro é freqüentemente obrigado pelas circunstâncias a
extrapolar além de sua experiência, e a partir daí o julgamento pessoal e o bom
senso são primordiais.
Independente do fato de que os métodos científicos, de maneira geral, não se
desenvolveram o suficiente para tratar (resolver) os problemas de engenharia,
existem dificuldades inerentes à sua própria aplicação aos problemas de engenharia
civil.
As mais comuns são o grande número de variáveis envolvidas, que somadas à
grande escala em que os problemas de engenharia civil se desenvolvem, tornam o
controle das operações e experimentos de campo extremamente difíceis.

2. A MECÂNICA DOS SOLOS


Os problemas do engenheiro civil, em sua grande parte, agravam-se quando é
preciso descer abaixo da superfície do terreno. Acima da superfície, suas
construções também podem apresentar problemas, mas é abaixo da superfície do
terreno que seus problemas se multiplicam. O grau de incerteza aumenta, e a
experiência acumulada com os problemas análogos já vivenciados torna-se um guia
duvidoso.
Sondagens e outras investigações de subsolo fornecem subsídios, porém mesmo
assim as surpresas podem acontecer, pois a natureza não usou controle de
qualidade para a formação dos solos. Pode-se dizer, sem receio de errar, que o
estudo dos solos envolve mais variáveis do que qualquer outro material de
construção.
Outro aspecto que não pode ser esquecido é que, além da grande variação dos
solos em planta e profundidade, as suas propriedades também podem ser
modificadas pela utilização dos diferentes métodos construtivos necessários à
implantação das próprias construções.
No passado, as dificuldades existentes para trabalhar com os solos acabaram por
estigmatizá-los como “materiais problemáticos”, pois além de tudo eles não se
comportavam de acordo com as teorias existentes. Por causa disso, muitos dos
problemas decorrentes do comportamento dos solos eram encarados como “Atos
de Deus” ou “ Manifestações da Natureza ”.
A Mecânica dos Solos pode ser encarada como a ciência que estuda as
propriedades de engenharia dos solos. Com o desenvolvimento da Mecânica dos
Solos, muitas das atitudes do passado mudaram, e muito embora os problemas
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relativos ao comportamento dos solos não tenham sido todos resolvidos, já existem
explicações racionais para grande parte deles. De maneira geral, o engenheiro está
interessado em determinar a resistência, a compressibilidade (ou deformabilidade) e
a permeabilidade dos solos. Ele necessita de uma solução que seja praticamente
viável, e às vezes as sofisticadas soluções matemáticas não são aplicáveis a seus
problemas; e os solos, por sua vez, nem sempre se comportam estritamente de
acordo com elas (White – 1.936: “Nature has no contract to agree with
Mathematics”).

3. A ÁREA DE FUNDAÇÕES
O que é uma fundação?
É um sistema formado pelo terreno (maciço de solo) e pelo elemento estrutural de
fundação que transmite a carga ao terreno pela base ou fuste, ou combinação das
duas.

Toda obra de engenharia necessita de uma base sólida e estável para ser apoiada.
Entende-se por obra de engenharia: edifício de apartamentos, galpão, barracão,
ponte, viaduto, rodovia, ferrovia, barragem de terra ou concreto, porto, aeroporto,
estação de tratamento de água, etc.
Base sólida e estável: apoio que proporcione condições de segurança quanto à
ruptura e deformações.
É importante lembrar que os solos situados sob as fundações se deformam, e
que, consequentemente, toda fundação sofre recalques, devido ao acréscimo de
tensões introduzido por uma obra de engenharia no solo de fundação, e que a todo
acréscimo de tensões corresponde uma deformação. O importante é que não sejam
ultrapassadas as deformações limites (admissíveis), que cada edificação pode
suportar sem prejuízo de sua utilização pelo tempo previsto para tal.

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O colapso de uma obra de engenharia pode ocorrer de duas maneiras diferentes:


por ruptura ou por deformação excessiva do terreno de fundação.
Exemplos de obras de engenharia com problemas de deformações excessivas,
sem que, no entanto, tenham entrado em processo de ruptura: pavimentos que
apresentam trincas e rachaduras, degraus nos acessos de pontes e viadutos,
desaprumo acentuado (visível a olho nu) de vários edifícios em Santos etc.
Como qualquer outro material estrutural, o solo chega à ruptura se as cargas
impostas ultrapassam um determinado valor.
Na verdade, o engenheiro geotécnico tem que levar em consideração a ruptura
do solo e também a ruptura da própria edificação que está construindo, que não
necessariamente são coincidentes ou ocorrem com a aplicação das mesmas tensões.
Na prática, para a solução dos problemas, é conveniente que sejam considerados
dois tipos de colapsos:
.colapso catastrófico, que ocorre quando a resistência do solo é ultrapassada e a
fundação afunda rapidamente no solo. A edificação é geralmente destruída ou
inutilizada.
.colapso funcional da edificação, quando ela é impedida de cumprir com a
finalidade para a qual foi projetada. Este segundo tipo de colapso resulta de
recalques relativamente lentos e pode ocorrer algum tempo após a finalização da
construção, e as tensões aplicadas no solo podem ser bem menores que as
necessárias para causar o colapso catastrófico.

Para prevenir o colapso catastrófico, é necessário que as cargas aplicadas ao solo


(TRAB) estejam abaixo da tensão de ruptura (RUP ) do solo. A relação RUP / TRAB =
C.S. é o coeficiente de segurança contra o colapso catastrófico (ou ruptura).
Teoricamente, qualquer coeficiente de segurança maior que 1,0 pode ser
suficiente para prevenir a ruptura. Na prática, o coeficiente de segurança deve ser
muito bem estudado, pois está sujeito a vários fatores, tais como: variação nas
cargas previstas, heterogeneidades não previstas no subsolo etc.
De qualquer maneira, a resolução de um problema de fundação implica
necessariamente na busca da solução de dois problemas conceitualmente
diferentes: o problema da ruptura e o problema das deformações excessivas.
Para que as fundações apresentem comportamento compatível com as obras para
as quais servirão de base, os estudos e projetos deverão ser executados por
engenheiros especializados.
Para que estes estudos sejam feitos de maneira satisfatória, é necessário que
sejam conhecidos, com detalhes, no mínimo:
. Grandeza, natureza e locação das cargas que serão descarregadas nas
fundações;
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. Detalhes sobre as deformações admissíveis da edificação;


. Tipo de solo, espessura, profundidade e resistência das camadas que constituem
o subsolo local;
. Localização do nível d‟ água do lençol freático (N.A.).

Os dados do subsolo podem ser levantados a partir de sondagens feitas no


terreno, com coleta de amostras e avaliação da localização do nível d‟ água.

4. NBR 6122 / 96 – PROJETO E EXECUÇÃO DE FUNDAÇÕES


Esta Norma adota as seguintes definições

4.1. FUNDAÇÃO SUPERFICIAL (OU RASA OU DIRETA)

Elemento de fundação em que a carga é transmitida ao terreno,


predominantemente pelas pressões distribuídas sob a base da fundação (H < 2B).
Inclui-se neste tipo de fundação: sapatas, radier, blocos, sapatas associadas, vigas
de fundação e as sapatas corridas.

4.1.1. SAPATA
Elemento de fundação superficial de concreto armado, dimensionado de modo
que as tensões de tração não sejam resistidas pelo concreto, mas sim pelo emprego
da armadura. Pode possuir espessura constante ou variável, sendo sua base em
planta normalmente quadrada, retangular ou trapezoidal.

4.1.2. BLOCO
Elemento de fundação superficial de concreto, dimensionado de modo que as
tensões de tração nele produzidas possam ser resistidas pelo concreto, sem
necessidade de armadura. Pode ter suas faces verticais, inclinadas ou escalonadas e
apresentar normalmente em planta secção quadrada ou retangular.

4.1.3. RADIER
Elemento de fundação superficial que abrange todos os pilares da obra ou
carregamentos distribuídos (tanques, depósitos, silos etc).

4.1.4. SAPATA ASSOCIADA


Sapata comum a vários pilares, cujos centros, em planta, não estejam situados em
um mesmo alinhamento.

4.1.5. SAPATA CORRIDA


Sapata sujeita à ação de uma carga distribuída linearmente.

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4.2. FUNDAÇÃO PROFUNDA

Elemento de fundação que transmite a carga ao terreno pela base (resistência de


ponta), por sua superfície lateral (resistência de fuste) ou por uma combinação das
duas, e que está assente em profundidade superior ao dobro de sua menor
dimensão em planta, e no mínimo 3m, salvo justificativa. Neste tipo de fundação
incluem-se as estacas, os tubulões e caixões.

4.2.1. ESTACA
Elemento de fundação profunda executada inteiramente por equipamentos ou
ferramentas, sem que, em qualquer fase de sua execução descida de operário. Os
materiais podem ser: madeira, aço, concreto pré-moldado, concreto moldado “in
loco” ou mistos.

4.2.2. TUBULÃO
Elemento de fundação profunda, cilíndrico, em que pelo menos na sua etapa final,
há descida de operário. Pode ser feito a céu aberto ou sob ar comprimido
(pneumático) e ter ou não base alargada. Pode ser executado com ou sem
revestimento, podendo este ser de aço ou de concreto. No caso de revestimento de
aço (camisa metálica), este poderá ser perdido ou recuperado.

4.2.3. CAIXÃO
Elemento de fundação de forma prismática concretado na superfície e instalado
por escavação interna. Na sua instalação pode-se usar ou não ar comprimido e sua
base pode ser ou não alargada.

4.3. TERMOS

Cota de arrasamento – nível em que deve ser deixado o topo da estaca ou


tubulão, demolindo-se o excesso ou completando-o, se for o caso. Deve ser
definido de modo a deixar que a estaca e sua armadura penetrem no bloco com um
comprimento que garanta a transferência de esforços do bloco à estaca
Nega – penetração permanente de uma estaca, causada pela aplicação de um
golpe do pilão. Em geral é medida por uma série de 10 golpes. Ao ser fixada ou
fornecida, deve ser acompanhada do peso do pilão e da altura de queda ou da
energia de cravação (martelo automático).
Repique – parcela elástica do deslocamento máximo de uma secção da estaca,
decorrente da aplicação de um golpe do pilão.
Pressão admissível de uma fundação superficial – tensão aplicada por uma
fundação superficial ao terreno, provocando apenas recalques que a construção

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pode suportar sem inconvenientes e oferecendo, simultaneamente segurança


satisfatória contra a ruptura ou o escoamento do solo ou do elemento estrutural da
fundação.
Carga admissível sobre uma estaca ou tubulão isolado – força aplicada sobre a
estaca ou o tubulão isolado, provocando apenas recalques que a construção pode
suportar sem inconvenientes e oferecendo, simultaneamente segurança satisfatória
contra a ruptura ou o escoamento do solo ou do elemento estrutural da fundação.
Efeito de grupo de estacas ou tubulões – processo de interação das diversas
estacas ou tubulões que constituem uma fundação, ao transmitirem ao solo as
cargas que lhe são aplicadas.
Recalque – movimento vertical descendente de um elemento estrutural. Quando o
movimento for ascendente, denomina-se levantamento.
Recalque diferencial específico – relação entre as diferenças dos recalques de dois
apoios e a distância entre eles.
Viga de equilíbrio – elemento estrutural que recebe as cargas de um ou dois
pilares (ou pontos de carga) e é dimensionado de modo a transmiti-las centradas às
fundações. Da utilização de viga de equilíbrio resultam cargas nas fundações,
diferentes das cargas dos pilares nelas atuantes.
Quando ocorre uma redução da carga, a fundação deve ser dimensionada,
considerando-se apenas 50% desta redução.
Quando a soma dos alívios totais puder resultar tração na fundação do pilar
interno, o projeto de fundação deve ser re-estudado.

4.4. INVESTIGAÇÕES GEOTÉCNICAS, GEOLÓGICAS E OBSERVAÇÕES LOCAIS

Para fins de projeto e execução de fundações, as investigações do terreno de


fundação constituído por solo, rocha, mistura de ambos ou rejeitos compreendem:
Investigações de campo – sondagens a trado, ensaios de penetração quase
estática ou dinâmica, ensaios “in situ” de resistência e deformabilidade, ensaios “in
situ” e permeabilidade etc.
Investigações de laboratório – ensaios de caracterização do material

4.4.1. RECONHECIMENTO GEOLÓGICO


Sempre que julgado necessário deve ser realizada vistoria geológica de campo por
profissional especializado, complementada ou não por estudos geológicos
adicionais.

4.4.2. RECONHECIMENTO GEOTÉCNICO


Estão compreendidas as sondagens de simples reconhecimento à percussão (SPT),
os métodos geofísicos e qualquer outro tipo de prospecção do solo para fins de
6
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fundação. As sondagens de simples reconhecimento são indispensáveis e devem ser


executadas de acordo com a NBR 6484. A utilização de processos geofísica de
reconhecimento só deve ser aceita se acompanhada por sondagens SPT ou rotativa.

4.5. CARGAS E SEGURANÇA NAS FUNDAÇÕES

Caso seja fornecido para o projetista de fundação um único tipo de carregamento


sem especificação das ações combinadas, aplica-se a seguintes regras:
Cálculo empregando-se Fator de Segurança Global:
CARGAS ADMISSÍVEIS EM RELAÇÃO À CARGA ÚLTIMA - As cargas admissíveis em
elementos de fundação são obtidas pela aplicação de fatores de segurança,
conforme o seguinte Quadro 4.1.

Quadro 4.1 - Fatores de segurança globais mínimos


Condição FS
Capacidade de carga de fundações superficiais 3,0
Capacidade de carga de estacas ou tubulões sem prova de carga 2,0
Capacidade de carga de estacas ou tubulões com prova de carga 1,6

No caso de fundações profundas, só é permitido reduzir o FS quando se dispõe


do resultado de um número adequado de provas de carga e quando os elementos
ensaiados são representativos do conjunto da fundação, ou a critério do projetista.

CARGA ADMISSÍVEL EM RELAÇÃO AOS DESLOCAMENTOS MÁXIMOS - As cargas


admissíveis são, neste caso, obtidos por cálculo ou experimentalmente, com
aplicação de FS ao inferior a 1,5.
Cálculo empregando-se Fatores de Segurança Parciais:
A segurança nas fundações deve ser estudada por meio de análises
correspondentes aos estados limites últimos (perda de capacidade de carga e
instabilidade elástica ou flambagem) e de utilização (definidos pela NBR 8681).
Entretanto, em obras correntes de fundação, estas análises em geral se reduzem à
verificação do estado limite último de ruptura ou deformação plástica excessiva
(análise de ruptura) ou à verificação do estado limite de utilização caracterizado por
deformações excessivas (análise de deformações).

4.5.1. ESTADOS LIMITES ÚLTIMOS – ANÁLISE DE RUPTURA


Nesta análise, os valores de cálculo das ações na estrutura no estado limite último
são comparados aos valores de cálculo da resistência do solo ou do elemento da

7
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fundação. Os esforços na estrutura devem ser calculados de acordo com a NBR


8681.
Os valores de cálculo da resistência do solo são determinados dividindo-se os
valores característicos dos parâmetros de resistência da coesão (c) e do ângulo de
atrito () pelos coeficientes de ponderação do Quadro 4.2.

Quadro 4.2 – Coeficientes de ponderação das resistências


Parâmetro In situ A Laboratório Correlações B

Tangente do ângulo de atrito interno 1,2 1,3 1,4


Coesão (estabilidade e empuxo de terra) 1,3 1,4 1,5
Coesão (capacidade de carga de fundações) 1,4 1,5 1,6
A Ensaios CPT, Palheta (Vane, Pressiômetro, conforme a NBR 10905)
B Ensaios SPT, Dilatômetro

O valor de cálculo da resistência (ou capacidade de carga) de um elemento de


fundação pode ser determinado das seguintes maneiras:
 a partir de provas de carga, quando se determina inicialmente sua
resistência (ou capacidade de carga) característica Pk, neste caso deve-se
aplicar o terceiro coeficiente de ponderação do Quadro 4.3.
 a partir de método semi-empírico ou empírico, quando se determina
inicialmente sua resistência (ou capacidade de carga) característica nominal,
deve-se aplicar um dos primeiros coeficientes de ponderação conforme
Quadro 4.3, dependendo do tipo de fundação; quando se empregam
métodos teóricos, não se aplica os coeficientes do Quadro 4.3, pois o
resultado obtidos já foram reduzidos pelos coeficientes do Quadro 4.2.

Quadro 4.3 – Coeficientes de ponderação de capacidade de carga de fundações.


Condição Coeficiente
Fundação superficial (sem prova de carga) A 2,2
Fundação profunda (sem prova de carga) A 1,5
Fundação com prova de carga 1,2
A Capacidade de carga obtida por método empírico ou semi empírico

4.5.2. ESTADOS LIMITES DE UTILIZAÇÃO – ANÁLISE DE DEFORMAÇÃO


A análise de deformações é feita calculando-se os deslocamentos da fundação
submetidas aos valores dos esforços na estrutura no estado limite de utilização. Os
deslocamentos devem ser suportados pela estrutura sem danos que prejudiquem
sua utilização.

8
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Os deslocamentos admissíveis máximos suportados pela estrutura, sem prejuízo


dos estados limites de utilização, devem atender às prescrições da NBR 8681. Estes
deslocamentos, tanto em termos absolutos (ex: recalques totais) quanto relativos
(ex: recalques diferenciais), devem ser definidos pelos projetistas envolvidos.

4.6. FUNDAÇÕES SUPERFICIAIS

O dimensionamento de fundações superficiais pode ser feito de duas maneiras:


com o conceito de pressão admissível, como será visto a seguir, ou com o conceito
de coeficientes de segurança parciais, aplicando-se o prescrito no item 3 (B).

4.6.1. PRESSÃO ADMISSÍVEL


Devem se considerados os seguintes fatores na sua determinação:
 Profundidade da fundação;
 Dimensões e forma dos elementos da fundação;
 Características das camadas do terreno abaixo do nível da fundação;.
 Nível d‟água;
 Modificação das características do terreno por efeito de alívio de
pressões, alterações do teor de umidade ou ambos;
 Características da obra, em especial a rigidez da estrutura;
 Recalques admissíveis, definidos pelo projetista da estrutura.

4.7. METODOLOGIA PARA DETERMINAÇÃO DA PRESSÃO ADMISSÍVEL

A pressão admissível pode ser determinada por um dos seguintes critérios:


 Por métodos teóricos  uma vez conhecidas às características de
compressibilidade e resistência ao cisalhamento do solo e outros
parâmetros eventualmente necessários, a pressão admissível pode ser
determinada por meio de teoria desenvolvida na Mecânica dos Solos,
levando em conta eventuais inclinações da carga do terreno e
excentricidades. Faz-se o cálculo da carga de ruptura, carga admissível é
obtida a partir da aplicação de FS recomendado pelo autor da teoria,
nunca inferior a 3,0. Deve-se feita a verificações de recalques para esta
pressão.
 Por meio de prova de carga sobre placa  ensaio realizado de acordo
com a NBR 6489.
 Por métodos semi-empíricos  são considerados métodos semi-
empíricos aqueles em que as propriedades dos materiais são estimadas
com base em correlações e são usadas em teoria de Mecânica dos Solos,
adaptadas para incluir a natureza semi-empírica do método. Quando os

9
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métodos semi-empíricos são utilizados, devem-se apresentar


justificativas, indicando a origem das correlações (inclusive referências
bibliográficas).
 Por métodos empíricos  são considerados empíricos aqueles pelos quais
se chega a uma pressão admissível com base na descrição do terreno
(classificação e determinação da compacidade ou consistência através de
investigação de campo e laboratoriais). Estes métodos apresentam-se sob
a forma de tabelas de pressões básicas conforme será visto a seguir.

4.7.1. PRESSÃO ADMISSÍVEL EM SOLOS COMPRESSÍVEIS


A implantação de fundações em solos constituídos por areias fofas, argilas
moles, siltes fofos ou moles, aterros e outros materiais só pode ser feita após
cuidadoso estudo com base em ensaios de laboratório e campo, compreendendo o
cálculo de capacidade de carga (ruptura) e a análise de repercussão dos recalques
sobre o comportamento da estrutura.

4.8. SOLOS EXPANSIVOS

Solos expansivos são aqueles que, por sua composição mineralógica, aumentam
de volume quando há um aumento do teor de umidade. Nestes solos não se pode
deixar de levar em conta o fato de que, quando a pressão de expansão ultrapassa a
pressão atuante, podem ocorrer deslocamentos para cima. Por isto, em cada caso, é
indispensável determinar experimentalmente a pressão de expansão, considerando
que a expansão depende das condições de confinamento.

4.9. SOLOS COLAPSÍVEIS

Para o caso de fundações apoiadas em solos de elevada porosidade, não


saturados, deve ser analisada a possibilidade de colapso por encharcamento, pois
estes são potencialmente colapsíveis. Em princípio devem ser evitadas fundações
superficiais apoiadas neste tipo de solo, a não ser que sejam feitos estudos
considerando-se as tensões a serem aplicadas pelas fundações e a possibilidade de
encharcamento do solo.

4.10. DIMENSIONAMENTO DE FUNDAÇÕES SUPERFICIAIS

As fundações superficiais devem ser definidas por meio de dimensionamento


geométrico e cálculo estrutural.

4.10.1. DIMENSIONAMENTO GEOMÉTRICO


Devem-se considerar as seguintes solicitações:

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 Cargas centradas  a área de fundação solicitada por cargas centradas


deve ser tal que a pressão transmitida ao terreno, admitida
uniformemente distribuída, seja menor ou igual à pressão admissível.
 Cargas excêntricas  são aquelas em que uma força vertical cujo eixo
não passa pelo centro de gravidade da superfície de contato da fundação
com o solo; forças horizontais situadas fora do plano da base de
fundação; qualquer outra composição de forças que gerem momentos de
fundação
 Cargas horizontais.

4.10.2. DIMENSIONAMENTO ESTRUTURAL


Deve ser feito de maneira a atender as NBR 6118, NBR 7190 e NBR 8800.
Para o dimensionamento de blocos de fundação devem ser tal que o ângulo ,
expresso em radianos e mostrado na Figura 4.1, satisfaça a seguinte equação.

tan   adm
 1
  ct
onde:
adm = tensão admissível do terreno (MPa)
ct = tensão de tração no concreto (ct=0,4.ftk  0,8MPa)
ftk = resistência característica à tração do concreto, cujo valor pode ser obtido a
partir da resistência característica à compressão (fck) pelas equações.
f
ftk  ck para fck  18,0 MPa
10
ftk = 0,06. fck + 0,7 MPa para fck > 18,0 MPa

Nota:
Com respeito à distribuição das pressões sob a base do bloco, aplica-se o já
disposto para as sapatas.

Figura 4.1 – Ângulo  nos blocos.

11
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4.10.2. DISPOSIÇÕES CONSTRUTIVAS


A dimensão mínima em planta, para as sapatas ou blocos não deve ser inferior a
60cm. A base de uma fundação deve ser assente a uma profundidade tal que
garanta que o solo não seja influenciado pelos agentes atmosféricos e fluxos
d‟água.
Em fundações que não se apóiam sobre rocha, deve-se executar anteriormente à
sua execução uma camada de concreto simples de regularização de no mínimo 5cm
de espessura, ocupando toda a área da cava da fundação.
No caso de fundações próximas, porém situadas em cotas diferentes, à reta de
maior declive que passa pelos seus bordos deve fazer, com a vertical, um ângulo 
como mostrado na Figura 4.2, com os seguintes valores:
 solos poucos resistentes   60º
 solos resistentes  = 45º
 rochas  = 30º

Figura 4.2 – Fundações próximas, mas em cotas diferentes.

A fundação situada em cota mais baixa deve ser executada em primeiro lugar, a
não ser que se tomem cuidados especiais.

4.11. FUNDAÇÕES PROFUNDAS

A determinação da carga admissível deve ser feita para as condições finais de


trabalho da estaca, tubulão ou caixão. Esta observação é particularmente importante
no caso de fundações em terrenos passíveis de erosão, em fundações em que parte
fica fora do terreno e no caso de fundações próximas a escavações.
Um fator importante a se observado é que a carga admissível de uma estaca ou
tubulão isolado definem a carga admissível do ponto de vista geotécnico e o outro
aspecto está relacionado à carga admissível do ponto de vista estrutural.

12
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4.11.1. CARGA ADMISSÍVEL DO PONTO DE VISTA GEOTÉCNICO


A carga admissível do ponto de vista geotécnico é a menor entre as duas cargas
determinadas conforme disposto a seguir:
Carga admissível a partir da segurança à ruptura  é determina após o cálculo ou
verificação experimental, em prova de carga estática, da capacidade de carga na
ruptura. Esta capacidade de carga é dada pela soma de duas parcelas:
Qr = Q l + Q p
Onde:
Qr = capacidade de carga na ruptura da estaca ou tubulão
Ql = parcela correspondente ao atrito lateral
Qp = parcela correspondente à resistência de ponta

Nota
Quando a carga de ruptura a capacidade de carga deve ser avaliada conforme o
disposto adiante.
A partir do valor determinado experimentalmente para a capacidade de carga na
ruptura, a carga admissível é obtida mediante a aplicação de FS=2.
No caso específico de estacas escavadas, face aos elevados recalques necessários
para a mobilização da carga de ponta e por existirem dúvidas sobre a limpeza do
fundo, a resistência do atrito prevista não pode ser inferior a 80% da carga de
trabalho a ser adotada

4.11.2. MÉTODOS PARA AVALIAÇÃO DA CAPACIDADE DE CARGA DO SOLO


A capacidade de carga de fundações profundas pode ser obtida por métodos
estaticos, provas de carga e métodos dinâmicos.

4.11.2.1. MÉTODOS ESTÁTICOS


Podem ser teóricos, quando o cálculo é feito de acordo com teoria desenvolvida
dentro da Mecânica dos Solos, ou semi-empíricos, quando são usadas correlações
com ensaios “in situ”. Os coeficientes de segurança a serem aplicados devem ser os
recomendados pelos autores das teorias ou correlações.

4.11.2.2. PROVAS DE CARGA


A capacidade de carga pode ser avaliada por provas de carga executadas de
acordo com a NBR 12131/2006. Neste caso, na avaliação da carga admissível, o
fator de segurança contra ruptura deve ser igual a 2, devendo-se, contudo, observar
que durante a prova de carga o atrito lateral será sempre positivo, ainda que venha a

13
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ser negativo ao longo da vida útil da estaca. A capacidade de cara de estaca ou


tubulão de prova deve ser considerada definida quando ocorrer ruptura nítida.
O carregamento da estaca ou tubulão de prova pode não indicar uma carga de
ruptura nítida. Isto ocorre quando não pretende levar a estaca ou tubulão à ruptura
ou a estaca ou tubulão tem capacidade de resistir uma carga maior que aquela que
se pode aplicar na prova (limite do sistema de reação), ou quando a estaca é
carregada até apresentar um recalque considerável, mas a curva carga x recalque
não indicar uma carga de ruptura, mas um crescimento contínuo de recalque com a
carga. Nos dois primeiros casos, deve-se extrapolar a curva carga x recalque para se
avaliar a carga de ruptura, o que deve ser feito por critérios consagrados na
Mecânica dos Solos sobre uma curva do primeiro carregamento. No terceiro caso, a
carga de ruptura pode ser convencionada como aquela que corresponde, na curva
carga x recalque, mostrada na Figura 4.3, ao recalque obtido pela equação a seguir,
ou por outros métodos consagrados:
Pr xL D
r  
AxE 30
onde:
r = recalque de ruptura convencional
Pr = carga de ruptura convencional
L = comprimento da estaca
A = área da secção transversal da estaca
E = módulo de elasticidade da estaca
D = módulo do círculo circunscrito à estaca ou, no caso de barretes, o diâmetro
do círculo de área equivalente ao da secção transversal desta.
* as unidades devem ser compatíveis.


Figura 4.3 – carga de ruptura convencional.

14
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4.11.2.3. MÉTODOS DINÂMICOS


São métodos de estimativa da capacidade de carga de fundações profundas,
baseados na previsão e/ou verificação do seu comportamento sob ação de
carregamento dinâmico. Entre os métodos dinâmicos estão às chamadas “Fórmulas
Dinâmicas” e os métodos que usam “Equação da Onda”.

4.11.3. CARGA ADMISSÍVEL A PARTIR DO RECALQUE


A verificação do recalque pode ser feita por prova de carga ou através de cálculo
por método consagrado, teórico ou semi-empírico, sendo as propriedades do solo
obtidas em ensaios de laboratório ou “in situ” (eventualmente através de
correlações).

4.12. ATRITO LATERAL

O atrito lateral é considerado positivo no trecho do fuste da estaca ou tubulão ao


longo do qual o elemento de fundação tende a recalcar mais que o terreno
circundante.
O atrito lateral é considerado negativo no trecho em que o recalque do solo é
maior que o da estaca ou do tubulão. Este fenômeno ocorre no caso de o solo estar
em processo de adensamento, provocado pelo peso próprio ou por sobrecarga
lançadas na superfície, rebaixamento ou lençol d‟água, amolgamento decorrente da
execução de estaqueamento etc.
Recomenda-se calcular o atrito negativo segundo métodos teóricos que levem em
conta o funcionamento real do sistema estaca-solo.
No caso de estaca em que se prevê a ação do atrito negativo, a carga de ruptura
P, do ponto de vista geotécnico é determinada pela expressão:
Pr = Pp + P(+) = 2.P+1,5.P(-)
Onde:
Pp = parcela correspondente à resistência na ruptura de ponta.
P(+) = parcela correspondente à resistência na ruptura, por atrito lateral positivo
(calculado no trecho do fuste entre o ponto neutro e a ponta da estaca)
P(-) = parcela correspondente ao atrito lateral negativo
P = carga que pode ser aplicada no topo da estaca

Notas:
Considera-se ponto neutro a profundidade da secção da estaca onde ocorre a
mudança do atrito lateral de negativo para positivo.

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4.13. TRAÇÃO E ESFORÇOS HORIZONTAIS

No caso de prova de carga à tração ou carga horizontal, vale o coeficiente de


segurança 2 à ruptura e o coeficiente de segurança 1,5 em relação à carga
correspondente ao deslocamento compatível com a estrutura.

4.14. EFEITO DE GRUPO

Entende-se por efeito de grupo de estacas ou tubulões o processo de interação


das diversas estacas ou tubulões que constituem uma fundação ou parte de uma
fundação, ao transmitirem ao solo as cargas que lhes são aplicadas. Esta interação
acarreta uma superposição de tensões, de tal sorte que o recalque do grupo de
estaca ou tubulões para a mesma carga por estaca é, em geral, diferente do recalque
da estaca ou tubulão isolado. O recalque admissível da estrutura deve ser
comparado ao recalque do grupo e não ao do elemento isolado da fundação,

5. TIPOS DE FUNDAÇÕES
 Fundações Rasas ou Diretas
 Fundações Profundas

5.1 FUNDAÇÕES RASAS OU DIRETAS (H  2B)

Elementos de fundação em que a carga é transmitida ao terreno,


predominantemente pelas pressões distribuídas sob a base da fundação, e em que a
profundidade de assentamento em relação ao terreno adjacente é inferior a duas
vezes a menor dimensão da fundação (B). Incluem-se neste tipo de fundação as
sapatas, os blocos, os radiers, as sapatas associadas e as sapatas corridas.
Para o caso de fundações apoiadas em solos de elevada porosidade, não
saturados, deve ser analisada a possibilidade de colapso por encharcamento, pois
estes solos são potencialmente colapsíveis. Em princípio devem ser evitadas
fundações superficiais apoiadas neste solo, a não ser que sejam feitos estudos
considerando-se as tensões a serem aplicadas pelas fundações e a possibilidade de
encharcamento do solo.

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CORTE P PLANTA

B
B

Figura 5.1 – Detalhe de fundação rasa.

. Fundações rasas ou diretas : H  2B.


. Fundações profundas : H  2B.

5.1.1. BLOCOS DE FUNDAÇÃO

CORTE P
PLANTA

H
hB

Figura 5.2 – Bloco de fundação.

Figura 5.3 – Bloco escalonado.

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Blocos de fundação  Assumem a forma de bloco escalonado, ou pedestal, ou de


um tronco de cone. Alturas relativamente grandes e resistem principalmente por
compressão.

5.1.2. SAPATAS DE FUNDAÇÃO

Figura 5.4 – Sapata isolada.


PLANTA
CORTE
P

H
L
hS

Figura 5.5. – Sapata.

Sapatas (isoladas ou associadas) . São elementos de apoio de concreto, de

menor altura que os blocos, que resistem principalmente por flexão.

Sapatas podem ser:


- circulares - (B =)
- quadradas - (L = B)
- retangulares - (L > B) e (L  3B ou L  5B)
- corridas - (L > 3B ou L > 5B)

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5.1.3. RADIER
Quando todos pilares de uma estrutura transmitirem as cargas ao solo através de
uma única sapata. Este tipo de fundação envolve grande volume de concreto, é
relativamente onerosa e de difícil execução. Quando a área das sapatas ocuparem
cerca de 70 % da área coberta pela construção ou quando se deseja reduzir ao
máximo os recalques diferenciais.

Figura 5.5 – Radier.

P1 P2 P3 P4 P5

Mais
flexível Mais rígido

Figura 5.6 – Rigidez.

5.2. FUNDAÇÕES PROFUNDAS

5.2.1. ESTACAS
Elementos bem mais esbeltos que os tubulões, caracterizados pelo grande
comprimento e pequena secção transversal. São implantados no terreno por
equipamento situado à superfície. São em geral utilizados em grupo, solidarizadas
por um bloco rígido de concreto armado (bloco de coroamento).
P  RL + RP onde RL = Resistência Lateral e RP = Resistência de Ponta

 Estacas quanto ao carregamento: Ponta, Atrito, Ação Mista, Estacas de


Compactação, Estacas de Tração e Estacas de Ancoragem

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CORTE P Bloco de
Capeamento
PLANTA

Figura 5.7 – Estacas.

5.2.3. TUBULÕES
São elementos de fundação profunda construídos concretando-se um poço
(revestido ou não) aberto no terreno, geralmente dotado de base alargada.
Diferenciam-se das estacas porque em sua etapa final é necessário a descida de um
operário para completar a geometria ou fazer a limpeza. De acordo com a NBR
6122/96 deve-se evitar alturas hb superiores a 2m. Deve-se evitar trabalho
simultâneo em bases alargadas de tubulões, cuja distância, seja inferior o diâmetro
da maior base. Quando é necessário executar abaixo do NA utiliza-se o recurso do
ar comprimido.
a) A céu aberto
- Revestido
- Não revestido
São em geral utilizados acima do nível d‟água.

b) Pneumáticos ou Ar Comprimido
- Revestimento de concreto armado
- Revestimento de aço (Benoto).
São utilizados abaixo do nível d‟água.
Observações:
Em uma fundação por tubulões, é necessária a descida de um técnico para
inspecionar o solo de apoio da base, medidas de fuste e base, verticalidade, etc.
Em geral, apenas um tubulão já absorve a carga total de um pilar.

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P
CORTE Bloco
(quando necessário)

Revestimento
(quando necessário) PLANTA
d
Fuste
H d

Base
hB
D

Figura 5.8 – Geometria do tubulão.

Figura 5.9 – Base de um tubulão.

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Figura 5.10 – Tubulão a ar comprimido.

Figura 5.11 – Execução de tubulão ar comprimido.

6. INTERAÇÃO SOLO – FUNDAÇÃO


O problema da interação das fundações com o subsolo é estudado partindo-se da
premissa de que a fundação é um corpo rígido imerso num meio aproximadamente
elástico (solo).

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Fundações – 2012 P. J. R. Albuquerque / L.R. Cavicchia / B. N. Melo

6.1. CASO GERAL

P
P  R Lat + R P

R Lat = A Lat . r Lat

H R P = A Base . r P
r Lat r Lat
A Lat = área lateral
A Base = área da ponta ou base
r Lat = resistência lateral unitária
rP
r P = resistência de ponta unitária
B = menor dimensão da fundação
B

6.2. CASOS TÍPICOS

6.2.1. FUNDAÇÃO RASA OU DIRETA ( H ≤ 2.B )


CORTE
P
. P ? RL + RP

H . rL? 0

. rP > 0
rP
. P ? RP
B

. P ≤ RL + RP
. rL≈ 0
. rP > 0
. P ≤ RP

Neste caso, a resistência lateral é desprezada principalmente por causa da


incerteza de sua mobilização à medida que o tempo passa, com as possíveis
infiltrações de água, etc. A resistência de ponta é mais apropriadamente
denominada de resistência de base.

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Fundações – 2012 P. J. R. Albuquerque / L.R. Cavicchia / B. N. Melo

6.2.2. FUNDAÇÕES PROFUNDAS (H > 2B)


1o caso.
P

. P ? RL + RP
Camadas
de baixa . rL ? 0 (desprezada)
resistência
. rP > 0

. P ? RP
Camada
rP resistente

. P ≤ RL + RP
. rL ≈ 0 (desprezada)
. rP > 0
. P ≤ RP

2o caso.
P

. P ? RL + RP

Camadas . rL > 0
de média
rL rL . rP ? 0 (desprezado)
resistência
. P ? RL

P ≤ RL + RP
rL > 0
rP ≈ 0 (desprezado)
P ≤ RL

Neste caso, as estacas são chamadas de estacas flutuantes ou estacas de atrito.

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Fundações – 2012 P. J. R. Albuquerque / L.R. Cavicchia / B. N. Melo

3o caso
P

. P ? RL + RP
Camadas
de média
. rL > 0
rL rL resistência
. rP > 0

Camada
rP resistente

P ≤ RL + RP
rL > 0
rP > 0

7. INVESTIGAÇÃO DO SUBSOLO PARA FUNDAÇÕES

7.1. INTRODUÇÃO

As obras civis só podem ser convenientemente projetadas, depois de um


conhecimento adequado da natureza e da estrutura do terreno que vão ser
implantadas. A não observação de certos princípios de investigação ou mesmo
negligência diante de obtenção de informações acerca do subsolo tem conduzido
ruínas totais ou parciais em obras.
O custo de um programa de um programa de prospecção bem conduzido situa-se
entre 0,5 a 1% do valor da obra. Projetos geotécnicos de qualquer natureza são
normalmente executados com base em ensaios de campo, cujas medidas permitem
uma definição satisfatória da estratigrafia do subsolo e uma estimativa realista das
propriedades geo-mecânicas dos materiais envolvidos.
A solução do problema de fundação de qualquer obra de engenharia (ponte,
viaduto, edifício, residência, rodovia, ferrovia, porto, aeroporto, barragem, galpão,
residência etc.), requer o conhecimento prévio das características do subsolo no
local a ser estudado.
Para tanto, é necessário que seja adequadamente programada a investigação do
subsolo no local da obra a ser construída.
Essa programação deve ser função da necessidade do conhecimento do subsolo
para o tipo de obra de engenharia a ser construído. Na prática, porém, outros
fatores influem num programa de investigação do subsolo: tipo, porte e valor da
25
Fundações – 2012 P. J. R. Albuquerque / L.R. Cavicchia / B. N. Melo

obra, disponibilidade de equipamento, tempo disponível para a investigação, verba


destinada aos serviços, heterogeneidades encontradas á medida que os serviços vão
sendo executados etc.

7.2. SUBSÍDIOS MÍNIMOS A SEREM FORNECIDOS PELO PROGRAMA DE INVESTIGAÇÃO DO SUBSOLO

De acordo com vários autores, e com as necessidades práticas mais comumente


encontradas, os requisitos mínimos necessários para a elaboração de um projeto de
fundações são:
a. Determinação dos tipos de solo que ocorrem nas diferentes profundidades
(camadas).
b. Determinação das condições de resistência (compacidade e/ou consistência)
de cada tipo de solo.
c. Determinação da cota do plano superior e da espessura de cada camada do
subsolo.
d. Avaliação da orientação dos “planos” (superfícies) que separam as diversas
camadas.
e. Informação detalhada sobre a ocorrência de água no subsolo, horário de
esgotamento da perfuração, horário de medida do N. A., artesianismo etc.

Para isto, é necessária a execução de perfurações (sondagens) até a profundidade


desejada, com a simultânea retirada de amostras dos solos encontrados ao longo da
perfuração.
A seguir, são apresentadas algumas sugestões que podem auxiliar nas diretrizes
a serem adotadas para a elaboração de uma programação de sondagens.
Para a determinação dos tipos de solo que ocorrem nas diferentes camadas, são
necessárias amostras que detenham a granulometria do solo. Normalmente, as
amostras sofrem uma classificação táctil-visual em campo e caracterização em
laboratório (granulometria, limites de consistência, cor etc).
Para a determinação das condições de compacidade e consistência, têm sido
empregados métodos empíricos e, quando necessário, ensaios de laboratório.
Os parâmetros compacidade e consistência podem ser avaliados através de
comparação com a resistência à penetração medida durante a execução de
sondagens.
Para a determinação da cota do plano superior e espessura da camada, devem ser
observados os solos que vão sendo coletados ou removidos à medida que a
perfuração avança.
Amostragem feita a cada metro já elimina erros grosseiros e é suficiente para a
maioria dos casos.

26
Fundações – 2012 P. J. R. Albuquerque / L.R. Cavicchia / B. N. Melo

A avaliação da orientação dos planos de separação das camadas pode ser


conseguida através da distribuição cuidadosa dos pontos de sondagem em planta.
A ocorrência de água no subsolo pode ser verificada durante o avanço da
sondagem. É simples para solos arenosos, e mais difícil para solos argilosos.
Subsolos com camadas alternadas de areia e argila podem apresentar mais de um
N.A. (lençóis empoleirados).
O artesianismo também é muito importante e pode mascarar a verdadeira
profundidade do N.A.

7.2.1. INFORMAÇÕES QUE SE BUSCAM EM UM PROGRAMA DE PROSPECÇÃO


a – Área em planta, profundidade e espessura da camada de solo identificado;
b – Compacidade dos solos granulares e a consistência dos coesivos;
c – Profundidade do topo da rocha e suas características (litologia, área em planta,
profundidade, grau de decomposição etc);
d – Localização do NA;
e – Extração de amostras indeformadas (ensaios mecânicos do solo).

7.2.2. COEFICIENTES DE SEGURANÇA


A adoção de fatores de segurança é parte determinante de projetos
geotécnicos, utilizados com o objetivo de compatibilizar os métodos de
dimensionamento às incertezas decorrentes das hipóteses simplificadoras adotadas
nos cálculos, estimativas de cargas de projetos e previsões de propriedades
mecânicas do solo. Apresentam-se a seguir o fator condicionante da magnitude do
fator de segurança ao tipo de obra.

Quadro 7.1 – Fatores de segurança


Tipo de Estrutura Investigação Investigação Investigação Precisa
precária Normal
Monumental 3,5 2,3 1,7
Permanente 2,8 1,9 1,5
Temporária 2,3 1,7 1,4

27
Fundações – 2012 P. J. R. Albuquerque / L.R. Cavicchia / B. N. Melo

7.2.3. TIPOS DE PROSPECÇÃO GEOTÉCNICA

7.2.3.1. PROCESSOS INDIRETOS


Não fornecem os tipos de solos prospectados, mas somente correlações entre
estes e suas resistividades elétricas e suas velocidades de propagação de ondas
sonoras.
 Resistividade elétrica
 Sísmica de refração

7.2.3.2. PROCESSOS SEMI-DIRETOS


Fornecem características mecânicas dos solos prospectados. Os valores obtidos
possibilitam por meios de correlações indiretas informações sobre as naturezas dos
solos.
 Vane Test
 Cone de penetração estática (CPT)
 Ensaio pressiométrico

7.2.3.3. PROCESSOS DIRETOS


Permitem o reconhecimento do solo prospectado mediante análise de
amostras, provenientes de furos executados, estas fornecem subsídios para um
exame táctil-visual, além de executar ensaios de caracterização.

7.2.3.3.1. POÇOS
Os poços são perfurados manualmente, com auxílio de pás e picaretas. Para
que haja facilidade de escavação, o diâmetro mínimo deve ser da ordem de 60cm. A
profundidade atingida é limitada pela presença do NA ou desmoronamento, quando
então se faz necessário revestir o poço. Os poços permitem um exame visual das
camadas do subsolo e de suas características de consistência e compacidade, por
meio do perfil exposto em suas paredes. Permitem também a coleta de amostras
indeformadas, em forma de blocos.

7.2.3.3.2. TRINCHEIRAS
As trincheiras são valas profundas, feitas mecanicamente com o auxílio de
escavadeiras. Permitem um exame visual contínuo do subsolo, segundo uma direção
e, tal como nos poços, pode-se colher amostras indeformadas.

7.2.3.3.3. SONDAGENS A TRADO


O trado é um equipamento manual de perfuração. Compõe-se de uma barra
de torção horizontal conectada por uma luva T a um conjunto de hastes de avanço,
em cuja extremidade se acopla uma cavadeira ou uma broca, geralmente em espiral.
28
Fundações – 2012 P. J. R. Albuquerque / L.R. Cavicchia / B. N. Melo

A prospecção por trado é de simples execução, rápida e econômica. No


entanto, as informações obtidas são apenas do tipo de solo, espessura de camada e
posição do lençol freático. As amostras colhidas são de deformadas e situam-se
acima do NA.

Figura 7.1 – Tipos de trado

7.2.3.3.4. SONDAGENS DE SIMPLES RECONHECIMENTO (SPT) E (SPT-T)


O método de sondagem à percussão é o mais empregado no Brasil, é uma
ferramenta rotineira e econômica, empregada em todo o mundo, permitindo a
indicação da densidade de solos granulares, também aplicado à identificação da
consistência de solos coesivos e mesmo de rochas brandas.
O SPT (Standard Penetration Test) constitui-se de resistência dinâmica
conjugada a uma sondagem de simples reconhecimento. A perfuração é realizada

29
Fundações – 2012 P. J. R. Albuquerque / L.R. Cavicchia / B. N. Melo

por tradagem ou circulação de água utilizando-se um trépano de lavagem como


ferramenta de escavação. As amostras representativas do solo são coletadas a cada
metro de profundidade por meio de amostrador-padrão, diâmetro externo de
50mm. O procedimento de ensaio consiste na cravação deste amostrador no fundo
de uma escavação (revestida ou não), usando um peso de 65kg, caindo de uma
altura de 750mm. O valor do NSPT é o número de golpes necessário para fazer o
amostrador penetrar 30cm, após uma cravação inicial de 15cm.
As sondagens de reconhecimento do subsolo baseiam-se na energia necessária
para a cravação de um amostrador padrão no terreno. Este amostrador, à medida
em que é cravado, recolhe as amostras necessárias à identificação dos diferentes
tipos de solo que ocorrem nas profundidades alcançadas.
A energia é medida pela queda de um peso padrão, que cai em “queda livre” de
uma altura padrão sobre uma haste, em cuja extremidade inferior está situado um
amostrador padronizado. A haste também é padronizada.
No Brasil, a execução destas sondagens está normalizada pela ABNT através da
NBR 6484.
Os valores fixados para os parâmetros envolvidos são :
. Peso : 65 Kg
. Altura de queda : 75 cm
. Amostrador : diâmetro externo – ext = 2 ” e diâmetro interno – ext = 1 3/8”

NSPT : número de golpes necessários à cravação dos 30cm finais de uma cravação
total de 45cm do amostrador padrão, desprezados os 1os 15 cm de penetração.
Hastes : tubos de aço “schedulle” com 1” de diâmetro interno e massa de
3,2kg/m .
É muito importante ter em mente que mesmo as obras de engenharia de pequeno
porte, mais simples, menores ou menos importantes, necessitam de uma
programação adequada para a investigação do subsolo em que deverão ser
apoiadas, para que o projeto das suas fundações possa ser técnica e
economicamente o mais apropriado.
A execução das sondagens à percussão é o mínimo aceitável como investigação
geotécnica para qualquer obra de engenharia.
Na figura seguinte é apresentado esquematicamente o equipamento para a
execução de sondagens à percussão.

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Roldana
Tripé

Peso

Guia
Corda
Haste

Bica

Revestimento

SUBSOLO
Perfuração

Amostrador

Figura 7.2 – Equipamentos empregados nos ensaio.

Figura 7.3 - vista do tripé, martelo e cabeça de bater.

31
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Figura 7.4 – Amostrador e marcação dos 15cm.

Figura 7.5 – Perfuração por lavagem.

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A correlação do número de golpes com a resistência dos solos é feita para os


solos predominantemente argilosos e para os predominantemente arenosos.

Quadro 7.2 - Solos argilosos.


SPT ARGILAS RC (kPa) c = RC / 2(kPa)
< 2 Muito moles < 25 < 12,5
2 a 4 Moles 25 a 50 12,5 a 25
5 a 8 Médias 50 a 100 25 a 50
9 a 15 Rijas 100 a 200 50 a 100
16 a 30 Muito rijas 200 a 400 100 a 200
> 30 Duras > 400 > 200

Quadro 7.3- Solos arenosos.


SPT AREIAS
< 4 Muito fofas
4 a 10 Fofas
11 a 30 Medianamente compactas
31 a 50 Compactas
> 50 Muito compactas

Figura 7.6 – Vista do caminhão de execução da sondagem SPT – Mecânico.

33
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Figura 7.7 - Execução da sondagem SPT – Mecânico.

O SPT-T foi proposto por Ranzini em 1988. Esse ensaio consiste na execução do
ensaio SPT, normatizado pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (NBR 6484)
e, logo depois de terminada a cravação do amostrador, é aplicada uma rotação ao
conjunto haste-amostrador com o auxílio de um torquímetro, Figura 7.8. Durante a
rotação, toma-se à leitura do torque máximo necessário para romper a adesão entre
o solo e o amostrador, permitindo a obtenção do atrito lateral amostrador-solo
(Peixoto, 2001).

 Torquímetro  Adaptador  Haste do amostrador


Disco Centralizador  Tubo de Revestimento  “Bica”
Figura 7.8 - Detalhe do torquímetro (Peixoto, 2001).

34
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Figura 7.9 - Torquímetro.

A medida do torque provavelmente possui a vantagem de não ser afetada


pelas conhecidas fontes de erros do valor tradicional do SPT (contagem do número
de golpes, altura de queda, peso da massa cadente, drapejamento e atrito das
hastes, mal estado da sapata cortante, roldana, corda etc). Outra vantagem desse
procedimento é a possibilidade de se obter um valor mais confiável da tensão lateral
através do SPT e, por um custo adicional muito pequeno.
Outra medida que também pode ser obtida é a do torque residual, que consiste
em continuar girando o amostrador até que a leitura se mantenha constante,
quando, então, faz-se uma segunda medida. Apresenta-se a seguir a equação para
o calculo do atrito lateral a partir do torque.

T
fT  em que: “ f T “ em kPa, “T“ em kN.m e “h“ em m
41,336h  0,032

7.2.3.3.5. SONDAGENS ROTATIVAS


É empregada na perfuração de rochas, de solos de alta resistência e matacões ou
blocos de natureza rochosa. O equipamento compõe-se de uma haste metaliza
rotativa, dotada, na extremidade, de um amostrador, que dispõe de uma coroa de
diamante.
O movimento de rotação da haste é proporcionado pela sonda rotativa que se
constituiu de um motor, de um elemento de transmissão de um fuso que imprime às
hastes os movimentos de rotação, recuo e avanço. É possível à retirada de
testemunhos de rochas para avaliar, dentre outras coisas, a integridade estrutural
do maciço rochoso.

35
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7.2.3.3.6 SONDAGENS MISTAS


A sondagem mista é a conjugação do processo à percussão e rotativo. Quando os
processos manuais forem incapazes de perfurar solos de lata resistência, matacões
ou blocos de natureza rochosa usa-se o processo rotativo para complementar a
investigação.

7.2.4. PROSPECÇÃO GEOFÍSICA


Dentre os vários processos existentes, o da resistividade elétrica e o da sísmica de
refração são os de uso freqüente. São processos rápidos e econômicos,
principalmente em obras extensas.
Propiciam resultados satisfatórios, quando se pretende determinar as
profundidades do substrato.

7.2.4.1. RESISTIVIDADE ELÉTRICA


Princípio de que vários materiais do subsolo possuem valores característicos de
resistividade. São quatro eletrodos colocados na superfície do terreno. Sendo dois
externos conectados a uma bateria e um amperímetro. Os centrais ligados a um
voltímetro. A resistividade é medida a partir de um campo elétrico gerado
artificialmente a partir de uma corrente elétrica no subsolo.

Figura 7.10 – Sistema de funcionamento do ensaio.

7.2.4.2. SÍSMICA DE REFRAÇÃO


Apoiam-se no princípio de que a velocidade de propagação de ondas sonoras
é função do módulo de elasticidade do material, coeficiente de Poisson e a massa
específica.
Produz-se uma emissão sonora no terreno através de pancadas ou explosões,
através de geofones registra-se o tempo gasto das ondas desde a explosão até a
chegada aos geofones.

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7.2.5. MÉTODOS SEMI-DIRETOS


Foram desenvolvidos por causa das dificuldades de amostrar certos tipos de
solos, como areias puras e argilas moles. Não fornecem o tipo de solo, mas somente
certas características de comportamento mecânico, obtidas mediantes correlações.

7.2.5.1. VANE TEST


Também chamado de ensaio de palheta, foi desenvolvido para medir a resistência
ao cisalhamento não drenado das argilas “in situ”. Consiste na cravação de uma
palheta e medir o torque necessário para cisalhar o solo. Fornece uma idéia da
sensibilidade da argila. Pode ser cravado diretamente no solo ou em furos de
sondagens.
O ensaio de palheta é utilizado para medir a resistência ao cisalhamento não
drenada “in situ” dos solos argilosos. O equipamento necessário à execução do
ensaio é constituído basicamente por algumas lâminas delgadas soldadas a uma
haste, em cuja extremidade superior é aplicado um torque (momento) conhecido M,
de valor suficiente para provocar a ruptura do solo no qual a palheta está inserida.
O equipamento mais comum é o de quatro lâminas, que pode ser visto
esquematicamente na figura em seguida.
A rotação do equipamento configura no solo uma superfície de ruptura em forma
de cilindro, com dimensões aproximadamente iguais às da palheta, isto é, altura H e
diâmetro D.
Na Figura 7.11 é mostrado o posicionamento do equipamento no subsolo a ser
ensaiado, assim como um detalhe ampliado do mesmo com a superfície de ruptura
formada pela sua rotação.

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Figura 7.11 – Esquema do ensaio.

M
M M
Topo
Haste
Lâminas Profundidade
de
Perfuração ensaio H
H Área
hR lateral

H
D Base D
(a) (b) (c)

Figura 1 – Ensaio de palheta


a – o equipamento; b – posicionamento no subsolo;
c – detalhes da superfície cilíndrica de ruptura

Figura 7.12 – Vane test.

O momento total M terá que vencer as resistências mobilizadas no topo, base e


superfície lateral do cilindro de ruptura, à medida que a palheta vai girando no solo.

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7.2.5.2. PENETRÔMETROS
Os penetrômetros podem ser dos tipos estáticos e dinâmicos.
O penetrômetro estático é o mais usado atualmente.
Os ensaios executados com o penetrômetro são conhecidos internacionalmente
com várias denominações diferentes. Entre elas, as mais comuns são:
 Ensaio de penetração contínua ( E P C )
 Deep sounding
 Diep sondering
 Cone penetration test ( C P T ) etc.

Também conhecido como “deep-sounding”, o CPT foi desenvolvido na Holanda


com o propósito de simular a cravação de estacas. A resistência lateral é obtida pela
diferença entre a resistência total, correspondente ao esforço estático, necessário
para a penetração do conjunto numa extensão de aproximadamente 25cm, e a
resistência de ponta, quando se crava somente 4cm da ponta móvel.

A seguir, é apresentado um corte esquemático do penetrômetro.

Fi
Execução do ensaio:
Fe Fe
. Quando a força Fi é aplicada, o
cone é forçado a penetrar no
Prolongamento
Da Haste terreno pela haste interna, e é
Externa medida então a resistência de
ponta do terreno (rP) na
Haste
Interna profundidade de execução do
ensaio.
Haste
Externa . Quando a força Fe é aplicada, a
haste externa penetra no terreno
até encostar na base do cone, e
Cone pode ser determinada a resistência
lateral do terreno (rL) na
profundidade de ensaio.
. Quando as duas hastes são
forçadas
Os resultados são usualmente fornecidos a penetrar
em forma de gráfico,noque
terreno,
apresentam as
pode
resistências de ponta ( rP ) e lateral ( rL ) em ser medida
função a resistência total
da profundidade.
na profundidade desejada (r P + r
L).

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Fundações – 2012 P. J. R. Albuquerque / L.R. Cavicchia / B. N. Melo

rP

rP

rL

Prof.
(m) rL

Figura 7.13 – Gráfico obtido no ensaio CPT.

Figura 7.14 - Equipamento para ensaio de cone elétrico.

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Figura 7.15 – Detalhe da ponteira do cone elétrico.

7.2.5.3. ENSAIO PRESSIOMÉTRICO


Tem o objetivo de módulo de elasticidade e a resistência ao cisalhamento dos
solos e rochas. É uma célula que é introduzida em furos de sondagem, e esta ligada
a aparelhos de medições de pressões e volumes. (Pressiômetro de Menard e
CamkoMeter).

Figura 7.16 – Detalhe do CamKoMeter.

De acordo com Peixoto (2001), não é possível comparar diretamente os valores


obtidos nos diferentes ensaios in situ, pois estão envolvidos, diferentes modelos de
ensaio e também diversas condições no campo.

SPT-T = sondagem a percussão com medida de DMT = dilatômetro de


torque Marcheti
CPT = cone de penetração VST = ensaio de palheta
PMT = pressiômetro

Figura 7.17 – Modelos de ensaios de campo (Peixoto, 2001)

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7.3. PROGRAMAÇÃO DA INVESTIGAÇÃO DO SUBSOLO

A programação de uma investigação do subsolo, para efeito do projeto da


fundação de uma obra de engenharia, depende significativamente do tipo de obra a
ser construída.
Existem, no entanto, nas normas brasileiras, especificações relativas ao número
mínimo de perfurações a serem feitas, assim como às profundidades mínimas a
serem atingidas pelas sondagens.

7.3.1. NÚMERO MÍNIMO DE SONDAGENS


De acordo com a norma brasileira, o número de perfurações deve ser de no
mínimo 1 (um) para cada 200m2 de área construída, até 1200m2 de área.
Entre 1200m2 e 2400m2, deverá ser feita mais uma perfuração para cada 400m2
que exceder 1200 m2.
Acima de 2400m2, o número de perfurações será fixado de acordo com cada caso
particular, a critério do responsável pelo projeto das fundações.
Em quaisquer circunstâncias, o número mínimo de perfurações deverá ser de :
 para terrenos de até 200 m2.
 para terrenos entre 200 m2 e 400 m2.

As especificações da Norma podem ser resumidas no Quadro 7.4:

Quadro 7.4 – Quantidade de sondagens.


ÁREA CONSTRUÍDA (m2) NÚMERO MÍNIMO DE PERFURAÇÕES
< 200 2(3)
200 a 400 3
400 a 600 3
600 a 800 4
800 a 1000 5
1000 a 1200 6
1200 a 1600 7
1600 a 2000 8
2000 a 2400 9
> 2400 A critério do projetista

Não obstante os números recomendados pela Norma Brasileira, no caso particular


de edificações com área até 200m2, o número de perfurações necessárias para
proporcionar um conhecimento razoável da variação do subsolo em planta, é de no
mínimo 3 (três), como assinalado na tabela.

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Fundações – 2012 P. J. R. Albuquerque / L.R. Cavicchia / B. N. Melo

7.3.2. PROFUNDIDADE DAS SONDAGENS


Segundo a norma, a profundidade mínima não deve ser inferior ao produto da
menor dimensão do retângulo de menor área circunscrito à planta da edificação, por
um coeficiente C, função da taxa média sobre o terreno (peso da obra dividido pela
área da construção), isto é, profundidade mínima  B x C.
O coeficiente C é dado pelo Quadro 7.5 a seguir.

Quadro 7.5 – Valores de coeficiente C.


Peso da obra
Pressões ( )
Área construida Coeficiente C
(kN/m )2

Até 100 1,0


De 100 a 150 1,5
De 150 a 200 2,0
> 200 A critério do projetista

Em resumo: PROF. MIN.  B x C ou critério do projetista.

Na prática, por segurança, costuma-se alcançar o “impenetrável ao equipamento


de percussão”, atingindo profundidades maiores que as recomendadas pela norma.

8. CAPACIDADE DE CARGA DE FUNDAÇÃO DIRETA


A capacidade de carga de um solo, r, é a pressão que, aplicada ao solo através de
uma fundação direta, causa a sua ruptura. Alcançada essa pressão, a ruptura é
caracterizada por recalques incessantes, sem que haja aumento da pressão aplicada.
A pressão admissível adm de um solo, é obtida dividindo-se a capacidade de
carga r por um coeficiente de segurança, , adequado a cada caso.

adm  r

A determinação da tensão admissível dos solos é feita através das seguintes
formas:
 Pelo cálculo da capacidade de carga, através de fórmulas teóricas;
 Pela execução de provas de carga;
 Pela adoção de taxas advindas da experiência acumulada em cada tipo de
região razoavelmente homogênea.

43
Fundações – 2012 P. J. R. Albuquerque / L.R. Cavicchia / B. N. Melo

Os coeficientes de segurança em relação à ruptura, no caso de fundações rasas,


situam-se geralmente entre 3 (exigidos em casos de cálculos e estimativas) e 2 (em
casos de disponibilidade de provas de carga ).
Portanto, no geral:
  2 provas de carga e   3 fórmula teóricas

A capacidade de carga dos solos varia em função dos seguintes parâmetros:


 Do tipo e do estado do solo (areias e argilas nos vários estados de
compacidade e consistência).
 Da dimensão e da forma da sapata (sapatas corridas, retangulares,
quadradas ou circulares).
 Da profundidade da fundação (sapata rasa ou profunda).

8.1. FÓRMULAS DE CAPACIDADE DE CARGA

Existem várias fórmulas para o cálculo da capacidade de carga dos solos, todas
elas aproximadas, porém de grande utilidade para o engenheiro de fundações, e
conduzindo a resultados satisfatórios para o uso geral (Quadro 8.1). Para a
utilização dessas fórmulas, é necessário o conhecimento adequado da resistência ao
cisalhamento do solo em estudo, ou seja, S = c + tg

Quadro 8.1 - Métodos de análises para cálculo de carga de ruptura – fundações


rasas.
Compacidade ou
Tipo de solo Método de análise
consistência
Compacta
Fofa Terzaghi – ruptura geral, ruptura
Areia local e ruptura intemediária ou
intermediária Meyerhof

Argila saturada qualquer Skempton


Argila parcialmente Acima da média Meyerhof
Argila porosa
saturada Qualquer Não aplicável
Não Plástico Tratar como areia fina
Silte Qualquer
Plástico Tratar como argila

8.1.1. FÓRMULA GERAL DE TERZAGHI (1943 )


Terzaghi, em 1943, propôs três fórmulas para a estimativa da capacidade de
carga de um solo, abordando os casos de sapatas corridas, quadradas e circulares,
apoiadas à pequena abaixo da superfície do terreno (H  B), conforme Figura 8.1.

44
Fundações – 2012 P. J. R. Albuquerque / L.R. Cavicchia / B. N. Melo

B Fundação de
base rugosa
ζR
H
S P’ P S
45 – Φ/2 Φ Φ 45 – Φ/2
Reta ro r
tangente R R Reta
Q tangente
Espiral logarítmica : r = ro . eθ . tgΦ

Figura 8.1 – Hipótese de Terzaghi.

Mediante a introdução de um fator de correção para levar em conta a forma da


sapata, as equações de Terzaghi podem ser resumidas em uma só, mais geral.
Terzaghi chegou a essa equação através das seguintes considerações:
Que R depende do tipo e resistência do solo, da fundação e da profundidade de
apoio na camada.
As várias regiões consideradas por Terzaghi são:
 PQP‟ – Zona em equilíbrio (solidária à base da fundação)
 PQR – Zona no estado plástico
 PRS – Zona no estado elástico

8.1.1.1. RUPTURA GERAL (AREIAS COMPACTAS E ARGILAS DURAS)


rup = c.Sc.Nc + q.Sq. (Nq-1) + 0,5..B.S.N

Onde:

rup = acréscimo efetivo de tensão


c.Sc.Nc = coesão do solo
q.Sq. (Nq-1) = função da profundidade
0,5..B.S.N = função do peso próprio
q = tensão efetiva na cota de apoio (.z)
Sc, Sq, S = fatores de forma (shape)
Nc, Nq, N = fatores de carga para ruptura geral (função do ângulo de atrito do
solo)
B = menor lado da fundação (para sapata circular igual ao )

45
Fundações – 2012 P. J. R. Albuquerque / L.R. Cavicchia / B. N. Melo

 = peso específico do solo dentro da zona de ruptura


q  .H = pressão efetiva de terra à cota de apoio da sapata.
Se submerso, utilizar sub, caso não esteja utilizar  = nat
Os coeficientes da capacidade de carga dependem do ângulo de atrito  do solo e
são apresentados no Quadro 8.2A e B.

Quadro 8.2 A – Coeficientes de capacidade de carga – Ruptura Geral (Terzaghi).


‟ Nc Nq N ‟ Nc Nq N
0 5,7 1,00 0,00 26 27,09 14,21 9,84
1 6,0 1,10 0,01 27 29,24 15,90 11,60
2 6,3 1,22 0,04 28 31,61 17,81 13,70
3 6,62 1,35 0,06 29 34,24 19,98 16,18
4 6,97 1,49 0,10 30 37,16 22,46 19,13
5 7,34 1,64 0,14 31 40,41 25,28 22,65
6 7,73 1,81 0,20 32 44,04 28,52 26,87
7 8,15 2,00 0,27 33 48,09 32,23 31,94
8 8,60 2,21 0,35 34 52,64 36,50 38,04
9 9,09 2,44 0,44 35 57,75 41,44 45,41
10 9,61 2,69 0,56 36 63,53 47,16 54,36
11 10,16 2,98 0,69 37 70,01 53,80 65,27
12 10,76 3,29 0,85 38 77,50 61,55 78,61
13 11,41 3,63 1,04 39 85,97 70,61 95,03
14 12,11 4,02 1,26 40 95,66 81,27 115,31
15 12,86 4,45 1,52 41 106,81 93,85 140,51
16 13,68 4,92 1,82 42 119,67 108,75 171,99
17 14,60 5,45 2,18 43 134,58 126,50 211,56
18 15,12 6,04 2,59 44 151,95 147,74 261,60
19 16,56 6,70 3,07 45 172,28 173,28 325,34
20 17,69 7,44 3,64 46 196,22 204,19 407,11
21 18,92 8,26 4,31 47 224,55 241,80 512,84
22 20,27 9,19 5,09 48 258,28 287,85 650,67
23 21,75 10,23 6,00 49 298,71 344,63 831,99
24 23,36 11,40 7,08 50 347,50 415,14 1072,80
25 25,13 12,72 8,34
Os fatores de forma são apresentados no Quadro 8.3 .

Quadro 8.3 – Fatores de forma.


FATORES DE FORMA
FORMA DA SAPATA
Sc Sq S
Corrida 1,0 1,0 1,0
Quadrada 1,3 1,0 0,8
Circular 1,3 1,0 0,6

46
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 L B 
Para sapatas retangulares  
 L  3B a 5B)
Pode-se admitir
Sc = 1,1 Sq = 1,0 S = 0,9

8.1.1.2. RUPTURA LOCAL (AREIAS FOFAS E ARGILAS MOLES)


rup = c‟.Sc.N‟c + q.Sq. (N‟q-1) + 0,5..B.S.N‟

N‟c, N‟q, N‟ = fatores de carga para ruptura local (função do ângulo de atrito do
solo)
2
c'  c
3

Quadro 8.2 B – Coeficientes de capacidade de carga – Ruptura Local (Terzaghi).


‟ N‟c N‟q N‟ ‟ N‟c N‟q N‟
0 5,7 1,0 0,0 26 15,53 6,05 2,59
1 5,9 1,07 0,005 27 16,30 6,54 2,88
2 6,1 1,14 0,02 28 17,13 7,07 3,29
3 6,3 1,22 0,04 29 18,03 7,66 3,76
4 6,51 1,30 0,055 30 18,99 8,31 4,39
5 6,74 1,39 0,074 31 20,03 9,03 4,83
6 6,97 1,49 0,10 32 21,16 9,82 5,51
7 7,22 1,59 0,128 33 22,39 10,69 6,32
8 7,47 1,70 0,16 34 23,72 11,67 7,22
9 7,74 1,82 0,20 35 25,18 12,75 8,35
10 8,02 1,94 0,24 36 26,77 13,97 9,41
11 8,32 2,08 0,30 37 28,51 15,32 10,90
12 8,63 2,22 0,35 38 30,43 16,85 12,75
13 8,96 2,38 0,42 39 32,53 18,56 14,71
14 9,31 2,55 0,48 40 34,87 20,50 17,22
15 9,67 2,73 0,57 41 37,45 22,70 19,75
16 10,06 2,92 0,67 42 40,33 25,21 22,50
17 10,47 3,13 0,76 43 43,54 28,06 26,25
18 10,90 3,36 0,88 44 47,13 31,34 30,40
19 11,36 3,61 1,03 45 51,17 35,11 36,00
20 11,85 3,88 1,12 46 55,73 39,48 41,70
21 12,37 4,17 1,35 47 60,91 44,54 49,30
22 12,92 4,48 1,55 48 66,80 50,46 59,25
23 13,51 4,82 1,74 49 73,55 57,41 71,45
24 14,14 5,20 1,97 50 81,31 65,60 85,75
25 14,80 5,60 2,25

47
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8.1.1.3. RUPTURA INTERMEDIÁRIA (AREIAS MEDIANAMENTE COMPACTAS E ARGILAS MÉDIAS)


rup = c‟‟.Sc.N‟‟c + q.Sq. (N‟‟q-1) + 0,5..B.S.N‟‟

c  c' 5 N  N'
c' '   c N' ' 
2 6 2

Os casos extremos, descritos por Terzaghi como de ruptura geral e ruptura local,
são indicados na Figura 7.7.

Tensões

Ruptura
Geral

Ruptura
Local

Recalques

Figura 8.2 – Curvas de ruptura local e geral.

8.1.2. FÓRMULA DE SKEMPTON (1951) - ARGILAS


Skempton, analisando as teorias para cálculo de capacidade de carga das argilas,
a partir de inúmeros casos de ruptura de fundações, propôs em 1951 a seguinte
equação para o caso das argilas saturadas ( = 0º ), resistência constante com a
profundidade.
r = c Nc + q
onde,
c coesão da argila (ensaio rápido)

Nc coeficiente de capacidade de carga, onde Nc  f H / B  , considera-se a relação
H/B, onde (Quadro 8.5):
H – profundidade de embutimento da sapata.
B – menor dimensão da sapata.

48
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Quadro 8.5 – Coeficiente de Capacidade de Carga (Skempton)


Nc
H/B QUADRADA OU
CORRIDA
CIRCULAR
0 6,2 5,14
0,25 6,7 5,6
0,5 7,1 5,9
0,75 7,4 6,2
1,0 7,7 6,4
1,5 8,1 6,5
2,0 8,4 7,0
2,5 8,6 7,2
3,0 8,8 7,4
4,0 9,0 7,5
 4,0 9,0 7,5

Para sapatas retangulares deve-se utilizar a seguinte equação:


 
NcRET  1 0,2 B/ L x Nccorrida

8.1.3. COEFICIENTES DE REDUÇÃO DOS FATORES DE CAPACIDADE DE CARGA PARA ESFORÇOS


INCLINADOS

H
B
Figura 8.3 – Correção para carga inclinada.

Quadro 8.6 – Fatores de correção para carga inclinada.


Inclinação da carga em relação à vertical (º)
Fator z
0 10 20 30 45 60
0 1,0 0,5 0,2 0 --- ---
N e Nc B 1,0 0,6 0,4 0,25 0,15 0,05
0aB 1,0 0,8 0,6 0,40 0,25 0,15
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8.1.4. INFLUÊNCIA DO NÍVEL D‟ÁGUA


A proximidade do nível d‟água do lençol freático (N.A.) pode afetar os valores dos
pesos específicos efetivos dos solos para os quais a capacidade de carga é
calculada.
Quando o nível d‟água atinge a região do solo situada acima da cota de apoio da
fundação (sobrecarga), a determinação do peso específico efetivo é relativamente
simples. No entanto, quando o N.A. está abaixo e próximo da cota de apoio da
fundação, esta determinação torna-se mais difícil de ser feita, pois o solo que está
sendo forçado para baixo é constituído por uma parte submersa e por uma parte
apenas umidecida, sendo a definição de cada parte praticamente impossível sem a
definição da superficie de ruptura. Visando proporcionar uma solução aproximada
para o problema, Das (2006) propôs uma correção para cada caso:
- N.A. acima da cota de apoio da fundação:

nat
NA
H
Hf sat

q = nat.(H-Hf) + sub.Hf onde: sub = sat - w

- N.A. exatamente na cota de apoio da fundação: q = nat.H

H
nat

NA
sat
B

q = nat.H

50
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- N.A. abaixo da cota de apoio da fundação, o termo  utilizado no terceiro termo


da equação de Terzaghi deve ser corrigido de acordo com as seguintes condições:
1ª situação  Hf  B então  c   nat .Hf   sub B  Hf 
1
B
2ª situação  Hf > B o valor de c = nat (não sofre correção)

A fórmula geral de Terzaghi pode ser escrita com o fator de correção do N.A.
como:
1
R  c.Nc .Sc  q.(Nq  1).Sq  . c .B.N .S
2

H
nat

B
Hf

NA
sat

q = nat.H

8.2. MÉTODO DA NBR 6122/96

A NBR propõe correções das tensões básicas que variam em função do tipo de
solo, largura e profundidade da fundação. Valores válidos para largura de 2m.

8.2.1.– CORREÇÃO PARA SOLO ARENOSO (CLASSE DE 4 A 9)


- Quanto à largura:
 p/ B  9,5m  ‟adm = b [1 + 0,2 (B-2)]
 p/ B > 9,5m  ‟adm = 2,5 b

- Quanto à profundidade
 ‟‟adm = ‟adm  H  1,0m
 ‟‟adm = ‟adm [1 + 0,4 (H-1)]  1,0m  H  3,5m
 ‟‟adm = 2 ‟adm  H  3,5m

A tensão admissível não pode ser maior que 2,5 b

51
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8.2.2. CORREÇÃO PARA SOLO ARGILOSO (CLASSE DE 10 A 15)


- Quanto à largura:
 ‟‟adm = b  para A  10m2
10
 ‟‟adm = b  para A > 10m2
A

8.2.3. PARA QUALQUER SOLO


adm = ‟‟adm + q (tensão efetiva na cota de apoio)

adm  2,5 b

Quadro 8.7 – Pressões básicas dos solos (NBR6122/1996).


Valores
Classe Descrição
(kPa)
1 Rocha sã, maciça, sem laminação ou sinal de decomposição 3000
Rochas laminadas, com pequenas fissuras,
2 1500
estratificadas
3 Rochas alteradas ou em decomposição *
4 Solos granulados concrecionados – conglomerados 1000
5 Solos pedregulhosos compactos a muito compactos 600
6 Solos pedregulhosos fofos 300
7 Areias muito compactas (N>40) 500
8 Areias compactas (19  N  40) 400
9 Areias medianamente compactas (9  N  18) 200
10 Argilas duras (N>20) 300
11 Argilas rijas (11  N  19) 200
12 Argilas médias (6  N  10) 100
13 Siltes duros (muitos compactos) 300
14 Siltes rijos (compactos) 200
15 Siltes médios (medianamente compactos) 100
* tem que ser levado em conta a natureza da rocha matriz e o grau de
decomposição ou alteração.
Obs.:Para a descrição dos diferentes tipos de solo, seguir as definições da NBR
6502.

52
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8.3. PROVA DE CARGA EM FUNDAÇÃO DIRETA OU RASA


Para a realização deste ensaio, deve-se utilizar uma placa rígida qual distribuirá
as tensões ao solo. A área da placa não deve ser inferior a 0,5m2. Comumente, é
usada uma placa de  = 0,80m (Figura 8.4).

Reação

H Macaco
Placa

Figura 8.4 – Prova de carga sobre placa.

- A prova de carga é executada em estágios de carregamento onde em cada


estágio são aplicados  20% da taxa de trabalho presumível do solo.
- Em cada estágio de carregamento, serão realizadas leituras das deformações
logo após a aplicação da carga e depois em intervalos de tempos de 1, 2, 4, 8, 15,
30 minutos, 1 hora, 2, 4, 8, 15 horas, etc..
Os carregamentos são aplicados até que:
- ocorra ruptura do terreno
- a deformação do solo atinja 25 mm
- a carga aplicada atinja valor igual ao dobro da taxa de trabalho presumida para
o solo.

Último estágio de carga pelo menos 12 horas, se não houver ruptura do terreno.
O descarregamento deverá ser feito em estágios sucessivos não superiores a 25% da
carga total, medindo-se as deformações de maneira idêntica a do carregamento. Os
resultados devem ser apresentados como mostra a Figura 8.5.

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Tensões (KPa)
0 100 200 300 400 500 600 700 800
0

58 : 31 Horas
10
11 : 47
Minutos
20

30
27 : 39

40 42 : 12
Recalques (mm)

Figura 8.5 – Curva tensão x recalque de prova de carga sobre placa.

- Geralmente, para solos de alta resistência, prevalece o critério da ruptura, pois


as deformações são pequenas.
- Para solos de baixa resistência, prevalece o critério de recalque admissível, pois
as deformações do solo serão sempre grandes.

Tensão admissível de um solo deve ser fixada pelo valor mais desfavorável entre
os critérios:
A tensão admissível de um solo é fixada pelo valor mais desfavorável entre os
critérios:

- adm = ruptura /n (critério de ruptura)

- adm = Max /n (se não ocorreu a ruptura)

- adm = recalque admissível /n (critério de recalques excessivos)

onde : n  2

9. RECALQUES DE FUNDAÇÕES DIRETAS

9.1. INTRODUÇÃO

O dimensionamento das fundações de qualquer obra de engenharia deve


assegurar coeficientes de segurança adequados à ruptura do terreno e às
deformações excessivas nele provocadas.

54
Fundações – 2012 P. J. R. Albuquerque / L.R. Cavicchia / B. N. Melo

Esta garantia de segurança pode ser conseguida pela aplicação de dois critérios:
critério de ruptura e critério das deformações.
Neste capítulo, será estudado o critério das deformações ou recalques excessivos.
A equação geral para o cálculo dos recalques de uma fundação pode ser expressa
por
s = se + sa + scs
onde:
s = recalque total
se ou si = recalque elástico (se) ou recalque imediato (si)
sa = recalque por adensamento
scs = recalque por compressão secundária

O recalque elástico se (si) é devido às deformações elásticas do solo, ocorre


imediatamente após a aplicação das cargas e é muito importante nos solos arenosos
(e relativamente importante nas argilas não saturadas).
O recalque por adensamento é devido à expulsão da água e ar dos vazios do solo,
ocorre mais lentamente, depende da permeabilidade do solo, e é muito importante
nos solos argilosos, principalmente nos saturados.
O recalque por compressão secundária é devido ao rearranjo estrutural causado
por tensões de cisalhamento, ocorre muito lentamente nos solos argilosos, e é
geralmente desprezado no cálculo de fundações, salvo em casos particulares, se
assumir importância significativa.

9.2. RECALQUES DE ESTRUTURAS

Para o dimensionamento de uma estrutura, verifica-se que, além dos critérios de


segurança à ruptura, critérios de deformações limites devem ser também satisfeitos
para o comportamento adequado das fundações. Na maioria dos problemas
correntes, os critérios de deformações é que condicionam a solução. Serão
apresentadas a seguir algumas definições relativas ao assunto.
Recalque diferencial  - corresponde à diferença entre os recalques de dois
pontos quaisquer da fundação (Figura 9.1).

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Profundidade original das fundações


Terreno
P1 P2 P3 P4

ΔH1 ΔH3 ΔH4


ΔH2

δ1-2 δ3-4
δ2-3

1-2 2-3 3-4


P

Figura 9.1 – Efeitos do recalque diferencial na estruturas.

Recalque total -  H i (  H1,  Hm,  HM,  H2....).


Recalque total máximo -  HM =  H2
Recalque total mínimo -  Hm =  H1
Recalque diferencial -  ij (12 , 23 , 34......).
Recalque diferencial específico -  ij /i j (12 /12 , 23 /23 , 34 /34...).
Recalque diferencial de desaprumo -  =  H4 - H1

a. Recalque total H - corresponde ao recalque final a que estará sujeito um


determinado ponto ou elemento da fundação (si + sa).
b.Recalque diferencial  - corresponde à diferença entre os recalques totais de
dois pontos quaisquer da fundação.
c. Recalque diferencial específico / é a relação entre o recalque diferencial  e a
distância horizontal , entre dois pontos quaisquer da fundação.

56
Fundações – 2012 P. J. R. Albuquerque / L.R. Cavicchia / B. N. Melo

d. Recalque admissível de uma edificação - é o recalque limite que uma edificação


pode tolerar, sem que haja prejuízo para a sua utilização.

9.3. EFEITO DE RECALQUES EM ESTRUTURAS

Os efeitos dos recalques nas estruturas podem ser classificados em 3 grupos:


 Danos estruturais  são os danos causados à estrutura propriamente dita
(pilares, vigas e lajes).
 Danos arquitetônicos  são os danos causados à estética da construção,
tais como trincas em paredes e acabamentos, rupturas de painéis de vidro
ou mármore etc.
 Danos funcionais  são os causados à utilização da estrutura com refluxo
ou ruptura de esgotos e galerias, emperramento das portas e janelas,
desgaste excessivo de elevadores (desaprumo da estrutura) etc.

Segundo extensa pesquisa levada a efeito por Skempton e MacDonald (1956), na


qual foram estudados cerca de 100 edifícios, danificados ou não, os danos
funcionais dependem principalmente da grandeza dos recalques totais; já os danos
estruturais e arquitetônicos dependem essencialmente dos recalques diferenciais
específicos.
Ainda segundo os mesmos autores, no caso de estruturas normais (concreto ou
aço), com painéis de alvenaria, o recalque diferencial específico não deve ser maior
que:
1:300 – para evitar danos arquitetônicos
1:150 – para evitar danos estruturais

9.3.1.RECALQUES ADMISSÍVEIS DAS ESTRUTURAS


A grandeza dos recalques que podem ser tolerados por uma estrutura, depende
essencialmente:
 Dos materiais constituintes da estrutura - quanto mais flexíveis os
materiais, tanto maiores as deformações toleráveis.
 Da velocidade de ocorrência do recalque - recalques lentos (devidos ao
adensamento de uma camada argilosa, por exemplo) permitem uma
acomodação da estrutura, e esta passa a suportar recalques diferenciais
maiores do que suportaria se os recalques ocorressem mais rapidamente.
 Da finalidade da construção - um recalque de 30mm pode ser aceitável
para um piso de um galpão industrial, enquanto que 10mm pode ser
exagerado para um piso que suportar máquinas sensíveis a recalques.

57
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 Da localização da construção – recalques totais normalmente admissíveis na


cidade do México ou em Santos, seriam totalmente inaceitáveis em São
Paulo, por exemplo.

9.3.2. CAUSAS DE RECALQUES


Rebaixamento do Lençol Freático  caso haja presença de solo compressível no
subsolo, ocorre aumento das pressões geostáticas nessa camada, independente da
aplicação de carregamentos externos.
Solos Colapsíveis  solos de elevadas porosidades, quando entram em contato
com a água, ocorre a destruição da cimentação intergranular, resultando um colapso
súbito deste solo.
Escavações em áreas adjacentes à fundação  mesmo com paredes ancoradas,
podem ocorrer movimentos, ocasionando recalques nas edificações vizinhas.
Vibrações  oriundas da operação de equipamentos como: bate-estacas, rolos-
compactadores vibratórios, tráfego viário etc.
Escavação de Túneis  qualquer que seja o método de execução, ocorrerão
recalques da superfície do terreno.

9.3.3. RECALQUES LIMITES (BJERRUM – 1963)


1:100 1:200 1:300 1:400 1:500 1:600 1:700 1:800 1:900 1:1000

Dificuldades com máquinas


sensíveis a recalques

Perigo para estruturas


aporticadas com diagonais

Limite de segurança para edifícios onde


não são permitidas fissuras

Limite onde deve ser esperada a primeira trinca


em paredes de alvenaria
Limite onde devem ser esperadas dificuldades
com pontes rolantes
Limite onde o desaprumo de edifícios
altos pode se tornar sensível

Trincas consideráveis em paredes de alvenaria


Limite de segurança para paredes flexíveis de tijolos (h/L < 1/4)
Limite onde devem ser temidos danos na estrutura de edifícios comuns

Figura 9.2 – Recalque diferencial específico  /  .

Além dos critérios apresentados, existem outros, como por exemplo os do


“Design Manual, NAVDOCKS DM-7”, da Marinha Americana, e os Boston, Nova York,
Chigado, etc.

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Da análise das recomendações de várias publicações existentes, deve ficar bem


claro que o estudo de uma fundação não pode, em hipótese alguma, ser feito sem
considerar as características da superestrutura e de sua sensibilidade a recalques.
Na prática, a estimativa de recalques é dificultada por fatores muitas vezes fora
do controle do engenheiro. Alguns aos fatores:

Heterogeneidade do subsolo  normalmente a análise é feita para um perfil


inferido de pontos investigados, e o subsolo pode apresentar heterogeneidades não
detectadas num programa de investigação.
Variações nas cargas previstas para a fundação  advindas de imprecisão nos
cálculos, cargas acidentais imprevisíveis, redistribuição de esforços etc.
Imprecisão dos métodos de cálculo  apesar do presente estágio de mecânica
dos solos, os métodos disponíveis ainda não são satisfatórios.

9.4. PRESSÕES DE CONTATO E RECALQUES

A forma da distribuição das pressões de contato, aplicada por uma placa


uniformemente carregada ao terreno de fundação depende do tipo de solo e da
rigidez da placa.
K  0,1Flexível
PlacaCircular R
 KR  5 Rígida
K  0,05 Fléxivel 
Placa corrida, quadrada,retangular  R
 K R  10 Rígida


KR  1   
Ec  t 
2
 
3

 Circular  KR 
 
11   2 Ec  t 
.  
3

 Corrida,quadrada,retangular
E R  
6 1   c2 E  B 

t= espessura da placa
R= raio da placa
B= menor lado da placa

9.4.1. SOLOS ARENOSOS


Nos solos arenosos, as deformações são predominantemente de natureza
cisalhante. Serão considerados os casos de placas totalmente flexíveis e totalmente
rígidas.
a. Placas totalmente flexíveis
Uma placa totalmente flexível, uniformemente carregada, aplica à superfície do
solo uma tensão também uniforme. Como a resistência ao cisalhamento de uma
areia é proporcional à tensão confinante, então a areia é dotada de maior resistência

59
Fundações – 2012 P. J. R. Albuquerque / L.R. Cavicchia / B. N. Melo

no centro da área carregada, e conseqüentemente sofrerá menores deformações


nesta região.
No entanto, num ponto mais próximo das bordas da área carregada, o
confinamento é menor, a resistência ao cisalhamento diminui, e as deformações
(recalques) são maiores.
Estas conclusões estão esquematizadas na figura apresentada a seguir.

Recalques
Recalques
Tensões de contato

Decorre então que, para uma placa flexível uniformemente carregada, apoiada
numa areia, os recalques serão maiores nas bordas e menores no centro, e as
tensões de contato serão uniformes em toda a área carregada.

b. Placas totalmente rígidas


Uma placa infinitamente rígida, uniformemente carregada, produzirá deformações
(recalques) uniformes na superfície do terreno.
Comparando-se com o caso anterior (placas flexíveis), pode-se concluir que no
centro, onde as tensões confinantes são altas, as tensões de contato são maiores
que nas bordas (região de baixas tensões confinantes), para que aconteça a
uniformidade dos recalques.
A distribuição das tensões de contato tomará a forma aproximada de uma
parábola.
P

Recalques Recalques

Tensões

9.4.2. SOLOS ARGILOSOS


Nos solos argilosos (coesivos), predominam as deformações volumétricas,
estimadas através da teoria do adensamento.

60
Fundações – 2012 P. J. R. Albuquerque / L.R. Cavicchia / B. N. Melo

a. Placas totalmente flexíveis


Uma placa totalmente flexível, uniformemente carregada, aplica à superfície do
solo uma tensão também uniforme. A distribuição de tensões na superfície introduz
maiores tensões nos pontos do solo situados na vertical que passa pelo eixo da
placa, e tensões menores nos pontos do solo afastados deste eixo.

Tensões Recalques

Logo, como as tensões nos pontos do solo mais próximos ao eixo vertical são
maiores do que aquelas nos pontos mais afastados decorrem maiores recalques no
centro da placa e menores nas bordas da mesma, conforme figura.

b. Placas totalmente rígidas


Uma placa infinitamente rígida uniformemente carregada, induzirá deformações
(recalques) obrigatoriamente uniformes na superfície do terreno carregado.
Isto significa que a placa rígida acaba por promover uma redistribuição de
tensões na superfície da área carregada, de tal maneira que as tensões transmitidas
a qualquer ponto situado no interior da massa do solo coesivo, próximo ou distante
do eixo vertical de carregamento, sejam uniformes.
Logo, as tensões na superfície de contato deverão ter maior intensidade nas
bordas que no centro do carregamento, como pode ser visto na figura a seguir.
P

Recalques
Tensões

9.5. CÁLCULO DOS RECALQUES

Ainda que existam dificuldade e imprecisões como as já apontadas anteriormente,


a estimativa dos recalques de uma fundação é um fator de grande importância na

61
Fundações – 2012 P. J. R. Albuquerque / L.R. Cavicchia / B. N. Melo

orientação do engenheiro, para solução de problemas de fundação. A seguir serão


abordados procedimentos para estimativa de recalques elásticos de uma fundação,
assim como de recalques devidos ao adensamento dos solos.

9.5.1. RECALQUES POR ADENSAMENTO – SOLOS ARGILOSOS


Os recalques devidos às deformações de solos coesivos saturados são estimados
a partir da teoria do adensamento. A teoria do adensamento prevê uma diminuição
no índice de vazios, devido a um acréscimo de pressão . Partindo-se da curva e x
log , obtida do ensaio de adensamento numa amostra indeformada do solo, chega-
se à expressão para o cálculo dos recalques (como já visto em Mecânica dos Solos).
Índice de vazios

Ramo de
pré-adensamento

e 0

e a
Ramo virgem

Cc

(logarítimica)
y0 a (Tensão de
pré-adensamento)

Figura 9.3 – Teoria de adensamento.

1   
h  .Cc.H.log vo , onde
1 eo  vo
 eo = índice de vazios inicial
 Cc = índice de compressão
 H = espessura da camada de argila
 vo= pressão inicial na camada
  = pressão Aplicada

No cálculo dos recalques por adensamento, muitas vezes é importante conhecer a


evolução destes recalques com o tempo. Os recalques e os tempos em que eles
ocorrem estão relacionados através das expressões seguintes:

b. Evolução dos recalques com o tempo


Na análise dos recalques por adensamento, muitas vezes é importante conhecer
também a evolução destes recalques com o tempo. A variação dos recalques por

62
Fundações – 2012 P. J. R. Albuquerque / L.R. Cavicchia / B. N. Melo

adensamento com o tempo ocorre aproximadamente de acordo com a curva


apresentada na figura a seguir.
Tempo

ΔH

Recalque

Figura 9.4 – Evolução dos recalques com o tempo.

Os recalques e os tempos em que ocorrem estão relacionados através das


expressões seguintes:
h – recalque total
St = Ut x h e Ut = f (t)
Cv
T .t
Hd2
onde:
 h = recalque total (m)
 St = recalque que ocorre no tempo t (m)
 U = porcentagem de adensamento verificada
 Ut = porcentagem de adensamento verificada no tempo t.
 T = fator tempo, calculado como indicado a seguir
 Hd = altura drenante da camada argilosa (m)
 Cv = coeficiente de adensamento, obtido no ensaio de adensamento
(cm2/s).
 t = tempo de ocorrência dos recalques (s)

Resumindo
   U% 
2
 T   , U%  60%
U  f T  4  100 
T  1,781 - 0,933 log 100 - U% , U%  60%

9.5.2. RECALQUE ELÁSTICO


Os recalques elásticos ou imediatos são devidos a deformações elásticas do solo
de apoio de uma fundação, e ocorrem logo após a aplicação das cargas. É de se
notar que a velocidade de evolução das deformações é um fator muito importante
para as estruturas, sendo que as deformações que se processam mais rapidamente
63
Fundações – 2012 P. J. R. Albuquerque / L.R. Cavicchia / B. N. Melo

são as mais críticas. Portanto, daí, o particular interesse no estudo dos recalques
elásticos, preponderantes nos solos arenosos ou nos solos não saturados. Os
recalques elásticos podem ser estimados a partir da seguinte expressão,
fundamentada na teoria da elasticidade.
 1 2 
Si  .B I
 ES  w
 
Si = recalque elástico
 = intensidade da pressão de contato
B = menor dimensão da sapata
 = coeficiente de Poisson
ES = módulo de elasticidade do solo
Iw = fator de influência, dependente da forma e dimensões da sapata.

A seguir, são apresentados alguns valores típicos de  e ES para vários tipos de


solos, e de Iw para várias formas de sapatas, e para os recalques do canto e centro
das mesmas.

Quadro 9.1 – Valores de coeficiente de Poisson do solo ().


Coeficiente de Poisson
Tipo de Solo
()
Saturada 0,4 a 0,5
Não saturada 0,1 a 0,3
ARGILA
Arenosa 0,2 a 0,3

SILTE 0,3 a 0,35

Compacta 0,2 a 0,4


AREIA Grossa (e =0,4 a 0,7) 0,15
Fina (e =0,4 a 0,7) 0,25
ROCHA Depende do tipo 0,1 a 0,4

64
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Quadro 9.2 – Módulo de elasticidade do solo (ES)


Tipo de Solo ES (kPa)
Muito mole 300 a 3000
Mole 2000 a 4000
ARGILA Média 4000 a 9000
Dura 7000 a 18000
Arenosa 30000 a 42000
Siltosa
7000 a 20000
Fofa
10000 a 25000
AREIA Compacta
50000 a 85000
( pedregulho + areia )
98000 a 200000
compacta

Quadro 9.3 – Fator de Influência (IW)


FLEXÍVEL
FORMA DA SAPATA RÍGIDA
CENTRO CANTO MÉDIO
CIRCULAR 1,00 0,64 0,85 0,88
QUADRADA 1,12 0,56 0,95 0,82
1,5 1,36 0,68 1,20 1,06
2,0 1,53 0,77 1,31 1,20
RETANGULAR
5,0 2,10 1,05 1,83 1,70
L/B =
10,0 2,52 1,26 2,25 2,10
100 3,38 1,69 2,96 3,40

Apesar de terem sido apresentados no Quadro 9.2 alguns valores típicos de


módulo de elasticidade para vários tipos de solo, é recomendável que este
parâmetro seja determinado através de ensaios especiais (triaxial), que possibilitem
a obtenção da curva tensão x deformação.

b. Fórmula de Janbu et al.


Janbu, Bjerrum e Kjaernsli, em 1966, propuseram uma equação na qual é levada
em consideração a espessura da camada de apoio da fundação, na forma:
 1 μ 2 
s e  μ . μ . ζ . B.  
0 1  E 
 s 

65
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9.5.3. RECALQUE – MÉTODO DE SCHMERTMAN (1970)


  .I
z E z
s

Iz = fator de influência de deformação


Es = módulo de elasticidade do solo
 - tensão atuante

O valor médio de Iz /camada:


z
I z  1,2 para z  B/2
B
 z
I z  0,4 2   para B/2  z  2B
 B

 q 
A) Embutimento na sapata correção C1: C1  1  0,5   0,5 - * =  - q
  *

 t 
B) Efeito Tempo  correção C2. C 2  1  0,2 log  t em anos
 0,1 

I n

i C1 C2 *   z  z 
i 1  E s i
RECALQUE 

66
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Peso específico (kN/m3) Ang. Atrito Coesão efetiva


Solo NSPT E (kN/m2)
efetivo (o) (kN/m2)
Natural saturado
0-4 20000-50000 17 18 25
5-8 40000-80000 18 19 30
Areia pouco siltosa /
9-18 50000-100000 19 20 32
pouco argilosa
19-41 80000-150000 20 21 35
41 160000-200000 20 21 38
0-4 20000 17 18 25 0
Areia média e fina 5-8 40000 18 19 28 5
muito argilosa 9-18 50000 19 20 30 7,5
19-41 100000 20 21 32 10
0-2 2000-5000 15 17 20 7,5
Argila porosa 3-5 5000-10000 16 17 23 15
vermelha e amarela 6-10 10000-20000 17 18 25 30
10 20000-30000 18 19 25 30 a 70
0-2 1000 17 18 20 7,5
3-5 1000-2500 18 19 23 15
Argila siltosa pouco 6-10 2500-10000 19 19 24 20
arenosa (terciário) 11-19 5000-1000 19 19 24 30
20-30 30000-100000 20 20 25 40
30 100000-150000 20 20 25 50
0-2 5000 15 17 15 10
3-5 5000-15000 17 18 15 20
Argila arenosa pouco
6-10 15000-20000 18 19 18 35
siltosa
11-19 20000-35000 19 19 20 50
20 35000-50000 20 20 25 60’
Turfa / argila orgânica 0-1 400-1000 11 11 15 5
(quaternário) 2-5 1000-5000 12 12 15 10
5-8 8000 18 19 25 15
Silte arenoso pouco 9-18 10000 19 20 26 20
argiloso (residual) 19-41 150000 20 20 27 30
20 200000 21 21 28 50
Fonte: Fundações e contenções de edifícios – Ivan Joppert Jr.

E=2.qc (areias) e E=6,5.qc (argilas) (Schmertmann, 1970)

10. INFLUÊNCIA DAS DIMENSÕES DAS FUNDAÇÕES


Neste capítulo, será discutida a influência das dimensões das fundações nos
seguintes assuntos já estudados:
 nos resultados das fórmulas de cálculo de recalques
 nos resultados das fórmulas de cálculo de capacidade de carga
 .nos resultados das provas de carga sobre placa.

10.1. NOS RESULTADOS DAS FÓRMULAS DE CÁLCULO DE RECALQUES

10.1.1.RECALQUES ELÁSTICOS

a. Fórmula de Schleicher (1926)


1 μ2
se  ζ . B. . IW
ES

67
Fundações – 2012 P. J. R. Albuquerque / L.R. Cavicchia / B. N. Melo

Pode ser visto que o recalque elástico depende diretamente da menor dimensão
da fundação. Além disso, o coeficiente IW depende da relação L/B.

b. Fórmula de Janbu et al.


1 μ2
se  μ 0 .μ1 .ζ . B .
ES
Neste caso, o recalque elástico também depende diretamente da menor dimensão
B. Além disso, os coeficientes  0 e 1 também são função de B.

10.1.2.RECALQUES POR ADENSAMENTO


Parte-se da fórmula clássica para o cálculo dos recalques por adensamento.
1 P  ΔP
ΔH  . CC . H . log 0
1 e0 P0

Como os parâmetros H, e0 e P0 dependem da menor dimensão B, pois são função


do bulbo de tensões propagado pelo acréscimo de carga p devido à fundação,
pode-se concluir que o valor do recalque por adensamento também depende da
menor dimensão B das fundações.

10.2. NOS RESULTADOS DAS FÓRMULAS DE CÁLCULO DE CAPACIDADE DE CARGA

10.2.1. FÓRMULA GERAL DE TERZAGHI


ζ R  c. N C .s C  γ . H. Nq .sq  12. γ . B. N γ .s γ

Serão analisados os casos de solos argilosos e solos arenosos.


 Solos argilosos:
Neste caso :  ≈ 0 , c > 0 , NC = 5,7 , Nq = 1,0 e N = 0

Então ζ R  5,7 . c . s C  γ . H . sq

Portanto, a capacidade de carga das argilas não depende das dimensões das
fundações, porém depende da sua forma geométrica.
Aumenta com a profundidade de apoio da fundação, e este aumento equivale à
variação das tensões devidas à sobrecarga (  .H ).

b. Solos arenosos:

68
Fundações – 2012 P. J. R. Albuquerque / L.R. Cavicchia / B. N. Melo

Neste caso : >0 e c≈0

Então: ζ R  γ . H . N q . s q  12 . γ . B . N γ . s γ

Logo, a capacidade de carga dos solos arenosos depende da menor dimensão da


fundação. Depende também da forma geométrica e da profundidade de apoio da
fundação.

10.2.2. FÓRMULA DE SKEMPTON

Esta fórmula é válida para solos argilosos, com c > 0 e  ≈ 0 .

ζ R  c. N C  γ . H

Como neste caso NC = f (H / B), para uma determinada profundidade a capacidade


de carga dependerá da menor dimensão da fundação B.

10.3. NOS RESULTADOS DAS PROVAS DE CARGA

Quando as fundações tiverem dimensões diferentes das dimensões da placa


utilizada para a execução da prova de carga, os recalques das fundações serão
diferentes dos recalques sofridos pela placa, devido principalmente aos diferentes
bulbos de tensões propagados no solo pela placa e fundações, mesmo quando o
solo de apoio é homogêneo em profundidade.

BPLACA BFUND = N . BPLACA

ζ ζ
H

N.D

A figura representa uma placa de dimensão BPLACA e uma fundação de dimensão


BFUND , apoiadas em um solo homogêneo ao longo da profundidade.
Para uma análise simplificada do problema, serão adotadas as hipóteses
enumeradas a seguir.

69
Fundações – 2012 P. J. R. Albuquerque / L.R. Cavicchia / B. N. Melo

a. Profundidade de apoio: as placas e as fundações apóiam-se à mesma


profundidade H.
b. Tensão de contato: as placas e as fundações descarregam a mesma tensão de
contato .
c. Dimensões: as dimensões das placas e fundações são consideradas como

Placa - BPLACA

Fundações - BFUND = N . BPLACA

d. Bulbos de tensões: os bulbos de tensões das placas e fundações, considerados


nos cálculos, serão aproximados por retângulos de larguras BPLACA e N.B PLACA , e
alturas D e N.D, respectivamente.
e. Acréscimo de tensão na profundidade “z”, em qualquer dos dois bulbos de
tensões definidos, devido à tensão aplicada  : z.
f. Módulo de deformabilidade do solo : M.
g. Deformação “unitária” z a qualquer profundidade z, em qualquer dos bulbos
de tensões definidos : esta deformação é proporcional ao acréscimo de carga devido
à tensão aplicada, isto é,
ζz
εz  M
h. Deformação unitária média em qualquer bulbo de tensões : z médio .
Define-se então
ζz médio
ε z médio  M

onde :
z médio - tensão média no bulbo de tensões.

Como z médio não é conhecido, pode-se fazer z médio =K.


K.ζ
Então : z médio =
M
Serão estudados separadamente os solos argilosos (M constante com a
profundidade) e os solos arenosos (M aumentando linearmente com a
profundidade).

10.3.1. SOLOS ARGILOSOS


Para os solos argilosos, pode ser considerado que o módulo de
deformabilidade M é constante com a profundidade.

- Recalque na placa : S PLACA

70
Fundações – 2012 P. J. R. Albuquerque / L.R. Cavicchia / B. N. Melo

ζ Z médio PLACA
SPLACA  ε .D .D
Z médio PLACA M
ou :
K.ζ
SPLACA  .D
M
- Recalque na fundação: S FUND
ζ Z médio FUND
SFUND  ε Z médio FUND
. ND  . ND
M
Da equivalência dos bulbos de tensões da placa e das fundações :
K.ζ
z Z médio FUND = z médio PLACA =
M
Então :
K.ζ
s FUND  . ND
M
- Relação entre o recalque da fundação e o recalque da placa

Das relações anteriores, chega-se a:


s FUND B
 FUND
s PLACA B PLACA

Esta relação entre recalques é válida somente para solos argilosos, para os quais
M é aproximadamente constante com a profundidade.
Portanto, no caso das argilas, em que o módulo de deformabilidade é constante
com a profundidade, o recalque elástico é diretamente proporcional à largura da
fundação, ou seja, é diretamente proporcional à sua menor dimensão.

10.3.2. SOLOS ARENOSOS


Nos solos arenosos, para os quais pode ser considerado com boa aproximação
que o módulo de deformabilidade aumenta linearmente com a profundidade,
dedução análoga ao caso das argilas poderia ser feita. Porém, além desta hipótese
simplificadora, teriam que ser adotadas outras, que levariam a resultados não muito
confiáveis.
Por isso, serão apresentados dois casos, cujos resultados são baseados na teoria
e em observações.

a. Fórmula de Terzaghi e Peck (1.948).


Terzaghi e Peck, em 1948, propuseram a seguinte relação entre os recalques das
fundações e os das placas, quando apoiadas em solos arenosos, para provas de
carga executadas com placas de 0,30m X 0,30m (1ft X 1ft).
Segundo estes autores :

71
Fundações – 2012 P. J. R. Albuquerque / L.R. Cavicchia / B. N. Melo

2
s FUND  2. B 
 FUND 
s PLACA  B FUND  0,30 
Esta relação é válida somente para solos arenosos, no caso de provas de carga
executadas com placas de 0,30m X 0,30m. No Brasil, a Norma Brasileira recomenda
placas com área mínima de 0,5m2, e geralmente é utilizada uma placa circular com
diâmetro de 0,80cm.
Nesta equação :
S FUND - recalque da fundação de largura BFUND
S PLACA - recalque da placa utilizada na prova de carga, de dimensões 0,30 m x
0,30 m

b. Fórmula geral de Sowers (1.962).


Para o caso geral, em que a placa apresenta dimensões diferentes de 30cm x
30cm, Sowers (1962), baseado na fórmula anterior e em seus próprios trabalhos,
propôs a seguinte relação entre os recalques das placas e os das fundações.
2
s FUND  B FUND . B PLACA  0,30 

s PLACA  B PLACA . B FUND  0,30 

Relação válida para solos arenosos, M aumentando linearmente com a


profundidade.

10.3.3. OBSERVAÇÕES
Para o caso das sapatas apoiadas em argilas, é normalmente utilizada a relação:
s FUND BFUND
N B P LACA
s P LACA
ou seja, que o recalque elástico aumenta linearmente com a largura das
fundações (ou com sua menor dimensão).

. Para o caso das sapatas apoiadas em areias será adotada a expressão proposta
por Sowers (1962), que está mais de acordo com as placas de 0,8m de diâmetro,
normalmente utilizadas no Brasil.

2
S FUND
 B FUND . (B P LACA 0,30)

S P LACA  B P LACA. (B FUND  0,30)
 

72
Fundações – 2012 P. J. R. Albuquerque / L.R. Cavicchia / B. N. Melo

2

S FUND2 . B FUND

. A expressão S  B  0,30 vale somente para placas de 0,30 m X
P LACA  P LACA
0,30 m e conduz a resultados mais conservadores.

As relações entre recalques de placas e fundações apresentadas neste capítulo


valem somente se os respectivos bulbos de tensões se propagam nas mesmas
camadas. Se o bulbo de tensões propagado pela fundação atingir camadas não
atingidas pelo bulbo correspondente à placa, as conclusões anteriores não valem.
Neste caso, devem ser elaborados estudos adequados a cada caso particular.

11. DIMENSIONAMENTO DE FUNDAÇÕES POR SAPATAS


Como as tensões admissíveis à compressão do concreto são muito superiores às
tensões admissíveis dos solos em geral, as seções dos pilares, próximas à superfície
do terreno, são alargadas, de forma que a pressão aplicada ao terreno seja
compatível com sua tensão admissível, formando então a sapata.

O valor da adm pode ser obtida das seguintes maneiras:


 Fórmulas Teóricas
 Valores Tabelados (NBR 6122)
 Prova de Carga
 Sondagem SPT  adm=0,02.Nmédio (MPa) (equação genérica)

Sondagem

SPT B
13
N.A

AREIA FINA E 16
~ 1,5B

MÉDIA CINZA
11
13  16  11 ~
Nmédio   13
14 3

8
a= 0,02.N= 0,02.13= 0,26MPa
ARGILA SILTOSA
VARIEGADA
5

AREIA DE GRANUL. 20
VARIADA AMARELA

40

Figura 11.1 – Procedimento para determinação do Nmédio.

73
Fundações – 2012 P. J. R. Albuquerque / L.R. Cavicchia / B. N. Melo

11.1.SAPATAS ISOLADAS

Sejam  e b as dimensões do pilar, P a carga que ele transmite e adm a tensão


admissível do terreno. A área de contato da sapata com o solo deve ser:
1,1 * P
As 
 adm
Onde 1,1 representa o acréscimo de carga devido ao peso próprio da sapata e o
solo.

Além disso, devem ser obedecidos os seguintes requisitos no dimensionamento


de uma fundação por sapatas.

Distribuição Uniforme de Tensões  o centro de gravidade da área da sapata deve


coincidir com o centro de gravidade do pilar, para que as pressões de contato
aplicadas pela sapata ao terreno tenham distribuição uniforme.
C.G

P d d

b B
d

trab adm 
L
Figura 11.2 – Distribuição de tensões na sapata.

b) Dimensionamento Econômico  as dimensões L e B das sapatas, e  e b dos


pilares, devem estar convenientemente relacionadas a fim de que o
dimensionamento seja econômico. Isto consiste em fazer com que as abas (distância
d da Figura 11.3) sejam iguais, resultando momentos iguais nos quatro balanços e
secção da armadura da sapata igual nos dois sentidos. Para isso, é necessário que
L-B= - b
Sabe-se ainda que L x B = Asapata, o que facilita a resolução do sistema.

74
Fundações – 2012 P. J. R. Albuquerque / L.R. Cavicchia / B. N. Melo

P
L

2,5 Mesa
2,5 d

2,5
B b
 d


Figura 11.3 – Detalhe construtivo de sapata.

Dimensionamento:
P
A =B.L  L-B= - b  L=A / B
 adm
Exemplo de cálculo:
My
Dados: P=3455kN Pilar=110 x 25cm adm=350kPa
1,1* 3455
A  10,86m 2   - b = 110-25=85cm
350
 Solução: B=2,90m e L=3,75m
F

Momento  quando uma sapara está submetida a esforços de flexo-compressão,


oriundos de momentos provenientes de cargas acidentais,
L tais como: vento, a
tensão deve ser verificada pela seguinte fórmula:
mín máx
My
My

F
B

mín máx L

My

M = momento atuante
B
75

L
Fundações – 2012 P. J. R. Albuquerque / L.R. Cavicchia / B. N. Melo

Wy = momento resistente =

A NBR6122 limita as tensões máximas e mínimas como sendo:

máx1,3adm mín>0

Recalques Diferenciais  as dimensões das sapatas vizinhas devem ser tais que
eliminem, ou minimizem, o recalque diferencial entre elas. Sabe-se que os recalques
das sapatas dependem das dimensões das mesmas.
d) Sapatas apoiadas em Cotas Diferentes  No caso de sapatas vizinhas, apoiadas
em cotas diferentes, elas devem estar dispostas segundo um ângulo não inferior a 
com a vertical, para que não haja superposição dos bulbos de pressão. A sapata
situada na cota inferior deve ser construída em primeiro lugar. Podem ser adotados,
 = 60º para solos e  = 30º para rochas.

Figura 11.4 – Sapatas apoiadas em cotas diferentes.


Dimensões mínimas  sapatas isoladas e corridas = 60cm.

Pilares em L  A sapata deve estar centrada no eixo de gravidade do pilar.

4,40

2,00
2,70

0,20
CG
1,50

0,20

Figura 11.5 – Sapata executada em pilar L.


76
Fundações – 2012 P. J. R. Albuquerque / L.R. Cavicchia / B. N. Melo

Superposição de Sapatas
Em certas situações, pode ocorrer que duas ou mais sapatas venham ocupar uma
mesma posição no terreno, conforme esquematizado em seguida.
Superposição P1 P2

P1 P2

Superposição

Este problema pode ser resolvido de duas maneiras diferentes: alteração na


geometria das sapatas ou associação dos pilares com uma viga associativa.

11.1.1. Modificação na forma das sapatas


A alternativa mais simples e de menor custo de execução é provavelmente a
modificação na forma das sapatas, que inicialmente deveriam ter sido objeto de um
dimensionamento econômico. Esta modificação deve ser a mínima possível, para
que as sapatas se afastem apenas o mínimo necessário deste dimensionamento
econômico.
Solução
Superposição S’1
S1 S’2
S2
P1
P1 P2

P2

L
L

As áreas das sapatas devem ser conservadas, para que as tensões de trabalho não
se modifiquem, isto é :
Área de S‟1 = Área de S1 e Área de S‟2 = Área de S2

11.2. SAPATAS ASSOCIADAS

Casos em que as cargas estruturais são muito altas em relação à tensão


admissível do solo ou haver superposição de áreas. A sapata deverá estar centrada
no centro de carga dos pilares. Quando há superposição das áreas de sapatas
77
Fundações – 2012 P. J. R. Albuquerque / L.R. Cavicchia / B. N. Melo

vizinhas, procura-se associá-las por uma única sapata, sendo os pilares ligados por
uma viga.
Sendo P1 e P2 as cargas dos dois pilares (já majoradas em 10%), a área da sapata
associada será:
(P1  P2 ) R
A  R =(P1 + P2)
 adm  adm

CG
P1 P2
P1 P2
CG

xa xa
 

P1 P2

P1+ P2

VIGA
PILAR

VIGA

Vista Frontal Vista Lateral

Figura 11.6 – Geometria de sapata associada.


P2
O centro da gravidade das cargas será definido por xa  .
R
A sapata associada deverá ser centrada em relação a este centro de gravidade das
cargas.

11.3. SAPATAS DE DIVISA

Quando o pilar está situado junto à divisa do terreno, e não é possível avançar
com a sapata no terreno vizinho, a sapata fica excêntrica em relação ao pilar. A
distribuição das tensões na superfície de contato não é mais uniforme.

78
Fundações – 2012 P. J. R. Albuquerque / L.R. Cavicchia / B. N. Melo

PLANTA CORTE
Divisa
b0 bO

CG a0 a

e
e b

b Divisa

Figura 11.7 – Excentricidade da carga.


A sapata fica excêntrica com relação ao pilar, a distribuição das tensões na
superfície de contato não é mais uniforme, e pode assumir uma das formas
apresentadas a seguir.

ζMax ζ Min = 0 ζ Min < 0


ζ Min > 0

As tensões máximas e mínimas podem ser calculadas por:


ζ  AP . 1  6.e 
S  b 

Para fazer com que a resultante R na base da sapata fique centrada, são
empregadas vigas de equilíbrio ou vigas alavancas, de maneira que fique
compensado o momento proveniente da excentricidade e.
Para fazer com que a resultante R na base da sapata fique centrada, são
empregadas vigas de equilíbrio ou vigas alavancas, de maneira que fique
compensado o momento proveniente da excentricidade e.

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Fundações – 2012 P. J. R. Albuquerque / L.R. Cavicchia / B. N. Melo

P1
a P2

P1 P2

e R1 R2
b
L

DIVISA

Figura 11.8 – Geometria da sapata de divisa.


h

a
x

Aparalelogramo = a.h

Figura 11.9 – Forma da sapata de divisa.

O sistema pode ser resolvido como uma viga sobre 2 apoios (R1 e R2), recebendo
as duas cargas P1 e P2 .

80
Fundações – 2012 P. J. R. Albuquerque / L.R. Cavicchia / B. N. Melo

P1 P2
L
B
A C
e
R1 R2

Observações:

 O CG da sapata de divisa deve estar sobre o eixo da viga alavanca.


 As faces laterais (sentido da menor dimensão) da sapata de divisa sevem ser
paralelas a da viga alavanca.
 Fazendo a somatória das forças verticais igual a zero : P1 + P2 = R1 + R2
(1)

Considerando os momentos em relação ao eixo P2 R2 (ponto C), tem-se :


 P1 . = R1 . ( – e )
 Donde :
  
 R1  P1 .   (2)
  e 

R
Como a área da sapata As é função de R1 (As  ζ 1 ), é necessário conhecer R1
adm
para o seu cálculo. Porém, pela equação (2), R1 é função da excentricidade e, que
por sua vez depende do lado b, que é uma das dimensões procuradas.
Este é um problema típico de solução por tentativas. Um dos métodos é
apresentado a seguir.
Em (2), é possível verificar que R1 > P1. Para a solução do problema, toma-se um
valor estimado de R1 (>P1), para uma primeira tentativa, e escolhem-se duas
dimensões a‟1 e b‟1 para os lados da sapata. Geralmente, procura-se tomar a‟1 / b‟1
= 2,0 a 3,0 (relação econômica para sapata de divisa) e a 1a tentativa para R‟1 de
1,10.P1 a 1,20.P1.
Uma vez escolhido b‟1, a excentricidade é dada por
b' b
e  21  20
- onde b0 é a dimensão do pilar na direção do lado b da sapata.
É possível então calcular a resultante real por:
R 1  P1 . 
e

81
Fundações – 2012 P. J. R. Albuquerque / L.R. Cavicchia / B. N. Melo

Compara-se o valor de R1 com o valor adotado de R‟1 . Se R1  R‟1, então a‟1 e b‟1
serão de fato as dimensões a e b da sapata.
Se R1  R‟1, mantém-se a dimensão b = b‟1 , mantendo-se portanto a
excentricidade, e calcula-se a outra dimensão da sapata por
R1
a x b  ζ
adm
A viga alavanca geralmente é ligada a um pilar central. Como R1 > P1 , vale a
relação
R1 = P1 + P
Logo, em (1), resulta que
R2 = P2 – P

Neste caso, a carga P2 do pilar central será aliviada do valor P = R1 – P1 .


No entanto, como a rigidez da viga alavanca não é infinita, e como ela é
engastada no pilar P2, e não articulada, usa-se na prática aliviar a carga P2 do pilar
de apenas a metade de P.
Faz-se
1
R2 = P2 - . ΔP
2
e a sapata deste pilar P2 será dimensionada por :

R2 P 2  1 . ΔP
A  ζ  2
adm
ζadm

Além disso, deve ser verificado o alívio do pilar central, através de:
P2 – P > 0

No caso da impossibilidade da viga alavanca ser ligada a um pilar central, é


necessário criar uma reação para alavancar o pilar de divisa. Para isso, podem ser
utilizados blocos de contrapeso ou estacas de tração para absorver o alívio P. Neste
caso, a prática recomenda que seja considerado o alívio total, ou seja, P = R1 - P1 ,
a favor da segurança.

82
Fundações – 2012 P. J. R. Albuquerque / L.R. Cavicchia / B. N. Melo

Figura 11.11 – Vista de obra de fundação por sapatas.

Figura 11.12 – Detalhe da armadura e gabarito de sapata isolada.

83
Fundações – 2012 P. J. R. Albuquerque / L.R. Cavicchia / B. N. Melo

Figura 11.13 - Detalhe da armadura e gabarito de sapatas de divisa.

Figura 11.14 – Concretagem da sapata.

84
Fundações – 2012 P. J. R. Albuquerque / L.R. Cavicchia / B. N. Melo

Figura 11.15 – Detalhe da sapata após concretagem.

12. FUNDAÇÕES PROFUNDAS


Quando os solos próximos à superfície do terreno apresentam baixa capacidade
de carga e/ou alta compressibilidade, não permitindo o emprego de fundações
rasas, as cargas estruturais são transferidas a maiores profundidades, por meio de
fundações denominadas profundas.
As fundações profundas podem ser:
 Fundações por Estacas  São elementos de secção transversal reduzida em
relação ao comprimento. São posicionadas com o uso de equipamentos situados
à superfície do terreno. São necessárias, em geral, várias estacas para transmitir
a carga de um pilar ao terreno.
 Fundações por Tubulões  São elementos cuja secção transversal é bem maior
que no caso das estacas. São construídos por escavação interna, geralmente
manual, e devem permitir a entrada de pessoal em seu interior. Em geral, um só
tubulão basta para transferir a carga de um pilar ao subsolo.

12.1 TUBULÕES

Geralmente, os tubulões têm a sua base alargada para assegurar uma adequada
distribuição de tensões no solo de apoio. A seguir, são apresentados
esquematicamente o corte vertical e a planta de um tubulão típico.

85
Fundações – 2012 P. J. R. Albuquerque / L.R. Cavicchia / B. N. Melo

CORTE VERTICAL
PLANTA

d
d
Fuste
- T Revestimento
H
r (quando
i necessário) D
nBase
c
a
s
D
c

12.1.1. TUBULÕES A CÉU ABERTO


São elementos estruturais de fundação constituídos concretando-se um poço
aberto no terreno, geralmente dotado de uma base alargada. Este tipo de tubulão é
executado acima do nível d‟água natural ou rebaixado, ou, em casos especiais, em
terrenos saturados onde seja possível bombear a água sem risco de
desmoronamentos. No caso de existir apenas carga vertical, estes tipos de tubulões
não são armados, colocando-se apenas ferragem de topo para ligação com o bloco
de coroamento ou de capeamento.

IMPORTANTE: “não confundir bloco de capeamento ou coroamento com bloco de


fundação (definidos em fundação rasa). Esses blocos são construídos sobre estacas
ou tubulões, sendo os mesmos armados de modo a poder transmitir a carga dos
pilares para as estacas ou os tubulões” 1

12.1.1.1. SEM REVESTIMENTO


Os tubulões a céu aberto são poços escavados mecânica ou manualmente, a céu
aberto, e são os casos mais simples de fundação por tubulão. São limitados a solos
que não apresentem o perigo de desmoronamento durante a escavação, geralmente
coesivos, situados acima do nível d‟água do lençol freático, e dispensam o
escoramento das paredes laterais do poço.

1 Alonso, U.R. Exercício de Fundações. Fundações em Tubulões. p.42. 1983


86
Fundações – 2012 P. J. R. Albuquerque / L.R. Cavicchia / B. N. Melo

12.1.1.2. COM REVESTIMENTO


Para terrenos com baixa coesão, ou que apresentem perigo de desmoronamento,
a escavação do poço deve ser acompanhada com escoramentos para contenção
lateral da terra. Entre os tubulões executados por este processo, destacam-se os
executados pelo método Gow e pelo método Chicago.

A) Método Chicago (Etapas executivas)


 Escavação manual em etapas de aproximadamente 2m, sem escoramento,
contando-se com a coesão do solo.
 Instalação de pranchas verticais de madeira, escoradas por anéis metálicos.
 Repetem-se estas operações sucessivamente, até a cota necessária, passando-se
ao alargamento da base.
 Concentra-se o tubulão, procurando-se recuperar o escoramento.

1,5
a
2,0m

anel
metálico

Figura 12.1 – Processo executivo – Método Chicago.

B) Método Gow

 Quando o solo é muito coesivo e não permite si quer a escavação do fuste por
etapas sem revestimento, emprega-se o método Gow.
 Crava-se por percussão, um tubo metálico de  2m de comprimento e ½” de
espessura, no terreno a ser escavado.
 Escava-se no seu interior.
 Crava-se outro tubo de diâmetro ligeiramente menor, no terreno ainda não
escavado, abaixo do primeiro tubo cravado.
 Escava-se no interior deste 2º tubo.
 Repetem-se estas operações sucessivamente, descendo-se telescopicamente os
tubos, até uma profundidade suficiente para o alargamento da base, no diâmetro
necessário ao fuste do tubulão.
87
Fundações – 2012 P. J. R. Albuquerque / L.R. Cavicchia / B. N. Melo

 A concretagem é feita ao mesmo tempo em que a extração dos tubos.


 O método Gow pode ser empregado em terrenos com pouca água, de fácil
esgotamento.
2m

Tubo
Metálico

Figura 12.2 - Processo executivo – Método Gow.

12.1.1.3. TUBULÕES A AR COMPRIMIDO OU PNEUMÁTICOS


Quando houver a necessidade de escavação em um solo que, além de necessitar
escoramento durante a escavação, estiver situado abaixo do N.A. do lençol freático,
são utilizados os tubulões a ar comprimido ou pneumáticos.
Os tubulões a ar comprimido podem ser executados com revestimento de anéis
de concreto sobrepostos, ou com revestimento de tubo de aço.
A escavação é feita no interior do revestimento, geralmente manualmente (pode
ser feita mecanicamente), a céu aberto, até que seja atingido o lençol d‟água. A
partir daí, é instalada no revestimento uma campânula de chapa de aço, própria para
trabalhar com ar comprimido, que é fornecido por um compressor instalado
próximo ao tubulão.

Compressor
Cachimbo

PAR H O.h


2

Figura 12.3 - Processo executivo – Ar Comprimido.

88
Fundações – 2012 P. J. R. Albuquerque / L.R. Cavicchia / B. N. Melo

Campânula
Ar
Porta
Comprimido
de
Entrada
Compres-
Compres-
sor
sor
Reserva
Saída de Entrada de
Terra Concreto

Revestimento TERRENO
N.A.
N.A.

h água

A pressão PAR no interior da campânula e do tubulão deve ser suficiente para


equilibrar o peso da coluna d‟água do terreno, a fim de impedir a sua entrada no
interior da câmara de trabalho, ou:

onde:
água – peso específico da água
h - altura, medida a partir do N.A., até o estágio em que se encontra a escavação.

Nota-se que a pressão do ar comprimido, PAR, vai aumentando à medida que a


escavação do tubulão avança no terreno.
A máxima pressão empregada em fundações a ar comprimido não deve
ultrapassar 3 atmosferas (ou  3,0kgf/cm2), devido às limitações de tolerância do
organismo humano. Praticamente, os tubulões a ar comprimido ficam limitados a 
30 – 35m de profundidade abaixo do N.A.
Uma vez atingido terreno com resistência compatível com o previsto em projeto,
procede-se ao alargamento da base e posterior concretagem do tubulão.

12.1.2. CAPACIDADE DE CARGA DOS TUBULÕES


Para o cálculo da carga de ruptura de tubulões, pode-se empregar métodos
teóricos e empíricos. Apresenta-se a seguir uma metodologia para a obtenção deste
valor, porém, para este caso em particular, a carga lateral será somada ao valor da
carga de ruptura total, pratica esta não muito utilizada no meio técnico.

89
Fundações – 2012 P. J. R. Albuquerque / L.R. Cavicchia / B. N. Melo

12.1.2.1. SOLOS ARENOSOS


Não existe ainda um processo que satisfaça os vários casos em que podem recair
os problemas de capacidade de carga das fundações por tubulão.
Meyerhof, em 1951, propôs uma expressão para cálculo de capacidade de carga
de fundações profundas, análoga à equação proposta por Terzaghi em 1943, na
seguinte forma :

ζr  c . N c  P0 . Nq  1 . γ . B . N γ
2

Enquanto Terzaghi considera a parte de solo acima da cota de apoio da fundação,


apenas como uma sobrecarga, Meyerhof leva em consideração a resistência ao
cisalhamento desenvolvida também acima desta cota de apoio.
Esquematicamente:

Sobre a superfície de ruptura atuam os esforços normais P0 (da equação), assim


como os tangenciais s 0, correspondentes ao peso de terra.
A diferença entre as expressões propostas por Terzaghi (1943) e Meyerhof (1951)
está principalmente em P0 e nos valores de Nc , Nq e N .
Segundo a opinião de diversos autores, a Teoria de Meyerhof pode conduzir a
resultados muito otimistas de capacidade de carga.
No presente curso, para o cálculo da capacidade de carga dos tubulões, será
utilizada a expressão geral de Terzaghi, que conduz a resultados um tanto
conservadores, porém não muito distantes da realidade (para os solos arenosos).

12.1.2.2. SOLOS ARGILOSOS ( ≈ 0)


Para os tubulões apoiados nos solos argilosos, pode ser utilizada a teoria de
Skempton (1951), já apresentada em capítulo anterior deste curso, sob a forma:
90
Fundações – 2012 P. J. R. Albuquerque / L.R. Cavicchia / B. N. Melo

ζ R  c . Nc  γ . H

Sendo válidas as mesmas considerações e comentários já feitos naquele capítulo.


Recomenda-se ainda que as taxas ou tensões de trabalho ( ζ trab ) não sejam
maiores que os valores da pressão de pré-adensamento das argilas, para que os
recalques, correspondentes à carga aplicada pelo tubulão, não sejam provenientes
do adensamento da argila ao longo da reta de compressão virgem. Assim, sempre
que possível:

ζ trab  Pa

A fórmula geral de Terzaghi também pode ser utilizada para solos argilosos,
fazendo =0. Os valores calculados serão mais conservadores que os determinados
pela fórmula de Skempton.

12.1.2.3. CONSIDERAÇÕES FINAIS


A rigor, a carga admissível de um tubulão é representada pela soma da
capacidade de carga da base Pbase, somada a uma parcela de carga P lat devida à

contribuição da resistência lateral na superfície lateral do seu fuste, ou:

P adm  P base  P lat


Na prática, porém, a contribuição da resistência lateral é desprezada,
considerando-se implicitamente como se fosse apenas suficiente para
contrabalançar o peso do tubulão.
Logo, na prática, para os tubulões em geral:

P P
adm base

91
Fundações – 2012 P. J. R. Albuquerque / L.R. Cavicchia / B. N. Melo

PP Qs L

Qp
Figura 12.4 – Transferência de carga.

12.1.2.4. ENSAIO DE CAMPO – SPT E CPT

Com base no valor médio do SPT (na profundidade da ordem de grandeza igual a
duas vezes o diâmetro da base, a partir da cota de apoio da mesma).

 adm  NSPT * 33,33 (kPa)

Esta fórmula aplica-se para SPT  20

12.1.2.5. SOLOS COESIVOS - RESISTÊNCIA DE BASE


Décourt (1989) propõe uma expressão para fundações diretas que pode ser
estendida para o caso de fundações profundas pela inclusão do efeito de
profundidade (‟vb).
qbf  25N SPT  ' vb (kPa)
Onde N SPT é o índice de resistência à penetração médio entre a cota de apoio da
base e a distância 2b abaixo da base.
De acordo com Décourt (1991) a tensão admissível também pode ser estimada a
partir do ensaio de CPT.
qbf = (0,14 a 0,10) qc + ‟vb

12.1.2.6. SOLOS NÃO COESIVOS – RESISTÊNCIA DE BASE


Com base em valores de SPT, temos:
qbf  20NSPT   'vb (kPa)  400kPa

92
Fundações – 2012 P. J. R. Albuquerque / L.R. Cavicchia / B. N. Melo

Onde N SPT é o índice de resistência à penetração média entre a cota de apoio da


base e a distância 1b abaixo da base.
A partir de dados do CPT, a tensão admissível pode ser estimada por:
   z 
qbf  qc  b 1 b  com b (m)
 40  b 
Onde q c é o valor médio da resistência do cone na região de apoio o tubulão.
Sugere-se limitar este valor a 60kPa.

12.1.3. DIMENSIONAMENTO DE TUBULÕES

12.1.3.1. TUBULÃO ISOLADO


As dimensões do fuste (d) e da base (D) são calculados conforme considerações
adiante.
O centro de gravidade da área do fuste e da área da base do tubulão devem
coincidir com o centro de aplicação da carga do pilar.
P CGPilar CGFuste CGBase

Bloco (às vezes necessário)

d
H
Base

hB
 20cm

Figura 12.6 – Desenho esquemático de um tubulão.

As dimensões do tubulão são calculadas conforme considerações a seguir.


Profundidade de apoio H - calculada a partir das fórmulas de capacidade de carga
(R) já vistas.

b. A distribuição de tensões no solo de apoio da base deve ser uniforme.


Para isso, os centros de gravidade da área do fuste e da área da base do tubulão
devem coincidir com o centro de aplicação da carga do pilar, isto é :
CG PILAR  CG FUSTE  CG BASE

c. Diâmetro do fuste d .
O dimensionamento do fuste depende somente da tensão admissível do concreto
utilizado ( concr ).
93
Fundações – 2012 P. J. R. Albuquerque / L.R. Cavicchia / B. N. Melo

Logo, a área do fuste pode ser calculada por :


P π.d 2
 Área do fuste = A F = 
ζ concr 4
4. P
 O diâmetro do fuste será dado por : d 
π . ζ concr

O valor da tensão admissível no concreto é adotado em função das precárias


condições de concretagem geralmente existentes na execução deste serviço, por :
0,85 . f ck
 concr =
γC . γf
onde : C = 1,6 , f = 1,4 e f ck ≤ 14MN/m 2.

Na prática, o fuste de um tubulão pode ser dimensionado tomando-se como


tensão admissível de compressão no concreto valores na faixa :
ζconcr  5,0MPa a 6,0MPa
O diâmetro do fuste de um tubulão não deve ser menor que 70cm, para permitir a
passagem do ser humano (para a execução, fiscalização e liberação do tubulão), isto
é:

d ≥ 0,70 m

d. Diâmetro da base D .
Como as tensões admissíveis no solo são bem menores que no concreto, quase
sempre há a necessidade de se promover o alargamento da base, resultando num
elemento tronco-cônico.
O diâmetro da base D é dimensionado em função da tensão admissível do solo na
cota de apoio do tubulão, por :
2
P π. D
A base  ζ adm solo 
4

ou
D 4P
π . ζadm solo

Por problemas executivos, sempre que possível, o diâmetro da base não deve
ultrapassar os ≈4,5m (valor aproximado).

e. Altura da base h B (tubulão com base circular)


A altura da base h B é calculada por

94
Fundações – 2012 P. J. R. Albuquerque / L.R. Cavicchia / B. N. Melo

h B  D  d . tg α
2
Na prática, para evitar problemas executivos, a altura da base não deve
ultrapassar os ≈ 2m (valor aproximado).

f. Ângulo .
Para que não haja necessidade de armação na base, isto é, para que as tensões de
tração ζ t sejam absorvidas pelo próprio concreto, a inclinação  da parede deve ser
dada por :
tg α ζ
 adm  1
α ζt
f
ck
onde ζ pode ser tomado como: ζ t  , f ck ≤ 20MPa
t 10
Na prática, usa-se geralmente uma inclinação de 60º, que é suficiente para a
grande maioria dos casos.

12.1.3.2. SUPERPOSIÇÃO DE BASES


Quando, devido à proximidade de dois pilares, a base do tubulão de um pilar
interfere com a base do tubulão do outro pilar, o alargamento das bases pode ser
feito na forma de uma falsa elipse, ao invés de na forma círculo. A falsa elipse é uma
figura composta por um retângulo e dois semi-círculos.

SUPERPOSIÇÃO SOLUÇÃO

T2 T’2
T1 T’1
D2
P2
P2 P1
P1 L2
L1

D1 X2
Superposição X1

A forma dos tubulões T1 e T2 pode ser modificada, desde que as áreas continuem
as mesmas, pois a tensão de trabalho não deve sofrer modificação.

95
Fundações – 2012 P. J. R. Albuquerque / L.R. Cavicchia / B. N. Melo

Assim :
 Área da base de T1 = AT1 = Área da base de T‟1 = AT‟1, ou : AT1 = AT‟1
 Da mesma forma: AT2 = AT‟ 2.
 Para um caso geral, vale:
π.D 2 π.X 2
i i
  L .X
4 4 i i

- L e X são escolhidos em função da distância entre os pilares.


- Sempre que possível, fazer L ≤ X .

12.1.3.2.1. UMA FALSA ELIPSE

Etapas:
1 – Dimensionar o tubulão do pilar 1
2 - Adotar um valor para r2  r2 < S – r1 - 10cm
3 - Calcular o valor de x:
P2 A 2  r2 2
Ab2  e x
adm 2.r2
4 - Verificação: x<3.r2 (não há limite mínimo, pois não há excentricidade).
5 - Calcular: d e hB.
4. P
 O diâmetro do fuste será dado por : d 
π . ζ concr

 A altura da base será hb 


tan g60º
x  2r   d
2

OBS: - Caso a desigualdade não seja satisfeita, empregam-se duas falsas elipses.
- Distância mínima entre as bases deve ser de 10cm.

96
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12.1.3.2.2. DUAS FALSAS ELIPSES

1 - Adotar valores para r1 e r2  r1 + r2 <S -10cm


P1 Ab1  r12
2 - Calcular: Ab1  e x1 
 adm 2.r1
3 - Verificação: x1 < 3.r1
P2 Ab2  r2 2
4 - Calcular: Ab2  e x2 
 adm 2.r2
5 - Verificação: x2 < 3.r2
6 - Calcular: d e hB.
 O diâmetro do fuste será dado por : d  4 .P
π . σ concr

 A altura da base será hb 


tan g60º
x  2r   d
2

Obs: Caso os pilares estiverem tão próximos que não seja possível a solução
anterior, deve-se afastar o CG dos tubulões e introduzir uma viga de interligação.

Se necessário, usar dois tubulões sob três pilares alinhados, com uma viga de
interligação.

97
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12.1.3.3. PILARES DE DIVISA


No caso de pilares situados junto às divisas, não há possibilidade de fazer
coincidir o eixo do tubulão com o eixo do pilar. Há necessidade da introdução de
uma viga alavanca, que ligue o pilar de divisa, o tubulão de divisa e um pilar central.
O alargamento da base para o pilar de divisa é feito na forma circular ou de falsa
elipse. L
e
P1 L P2

P1 V.A.
P2 Solução
P1
P2
P1 + P2 = R1 + R2

L
R P .
1 Le
DIVISA

P1 P2
R2 = P2 - ½ . ΔP
R2
R1 V.A.
Verificação do
levantamento de P2 :

P2 – ΔP > 0
R2
R1

Divisa

Figura 12.7 – Tubulão de divisa.

No caso de pilares situados junto às divisas, não há possibilidade de fazer


coincidir o eixo do tubulão com o eixo do pilar. Analogamente ao caso já estudado
para as sapatas, aparece uma excentricidade que pode dar origem a problemas
relativos à distribuição não uniforme de tensões na base do tubulão de divisa. Há
necessidade então da utilização de uma viga alavanca, que promova a ligação entre
o pilar de divisa, o tubulão de divisa e um pilar central, eliminando assim o
problema da excentricidade.
98
Fundações – 2012 P. J. R. Albuquerque / L.R. Cavicchia / B. N. Melo

A solução do problema é dada por:


P1 + P2 = R1 + R2

L
R 1  P1 . e R 2 = P 2 – ½ . P
Le
OBS: Verificação do levantamento de P 2 : P 2 – P > 0
Obs: Os CGs do fuste e da base do tubulão devem estar sobre o eixo da viga
alavanca.

12.1.4. CÁLCULO DO VOLUME DE CONCRETO

12.1.4.1. TUBULÃO COM BASE CIRCULAR


O volume da base pode ser calculado aproximadamente, como sendo a soma do
volume de um cilindro com 0,20cm de altura (hB–0,20m), ou seja:

1) Volume do “tronco” de cone  Vtc 


3

.h 2 2
rb  rf  rb.rf , 
Onde: rb é o raio da base (D/2), rf é o raio do fuste (d/2) e h=(hb-0,20m)

2) Volume do cilindro  Vcil=.(rb)2.0,20


.d2
3) Volume do fuste  Vf  L  hB , onde L é o comprimento do tubulão.
4
Vtotal=Vtc + Vcil + Vf

12.1.4.2. TUBULÃO COM BASE EM “FALSA ELIPSE”


1) Volume da base:
V1 
3

.h 2
rb  rf 2  rb .rf x.h
2
rb  rf 
V2  
V3  .rb2  2.rb.x .0,20 
Onde rb é o raio da base, rf é o raio do fuste e h=(hb-0,20m).
Vb = V1 + V2 + V3
.d2
2) Volume do fuste  Vf  L  hB , onde d é o diâmetro do fuste.
4
Vtotal = Vb + Vf
Tabela de cálculo de volume (Exemplo)
Pilar fuste Base Altura Abase Vtc Vcil Vf Vb VTOTAL
no d (m) D(m) hB (m) (m2) (m3) (m3) (m3) (m3) (m3)
1 0,80 1,35 1,65 0,50 2,19 3,05 5,24
.
.
n

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12.2. ESTACAS DE FUNDAÇÃO

Estacas são elementos de fundação, caracterizados pela sua secção transversal


(geralmente pequena) e comprimento. Têm a função de transmitir as cargas de uma
estrutura para camadas de alta capacidade de suporte e baixa compressibilidade.
São elementos alongados de secção circular ou prismática (quadrada ou hexagonal)
que são cravadas ou moldadas in loco, mediante emprego de equipamentos.
Finalidades:
 Contenção de empuxos laterais de água ou de terra: cortinas de estacas pranchas
e paredes de estacas diafragma.
 Melhoria das condições do subsolo: estacas de compactação (areia).
 Transferir carga da estrutura para camadas do subsolo: estacas de sustentação,
sobre as quais serão tratadas neste curso.

12.2.1. CLASSIFICAÇÃO DAS ESTACAS


– Carregamento: compressão, tração ou horizontal
– Posição: vertical ou inclinada.
– Material: madeira, concreto, aço e mistas.
– Fabricação: moldada in loco ou pré-moldada.

Figura 12.8 – Exemplo de esforços atuantes em estacas.

12.2.1.1. ESTACAS DE SUSTENTAÇÃO


Em geral usa-se mais de uma estaca sob cada pilar sendo 3 estacas o número
ideal.

100
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12.2.1.1.1. FORMA DE TRABALHO DE SUSTENTAÇÃO

A – Estacas Flutuantes - Considera-se somente a resistência por atrito lateral,


despreza-se a resistência de ponta (solo muito fraco).

B – Estacas de Ponta - Considera-se somente a resistência de ponta.

C – Estacas de Atrito Negativo


*Ocorre em argilas em processo de adensamento, introduzindo tensões de atrito
nas estacas, dirigidas de cima para baixo. Atua no sentido de “afundar” a estaca no
terreno.
Às vezes a própria cravação das estacas amolga o solo, que passa adensar e

101
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transmitir atrito negativo. O valor chega ser descontado no valor da carga de


trabalho das estacas

12.2.2. IMPLANTAÇÃO

12.2.2.1. MOLDADAS “IN-LOCO”


As estacas moldadas “in loco” apresentam como grande vantagem a eliminação do
problema de transporte das estacas pré-moldadas, além de permitirem a execução
da concretagem no comprimento estritamente necessário. Isto é particularmente
vantajoso no caso de subsolo muito heterogêneo, ou quando a investigação do
subsolo for deficiente.
A principal desvantagem deste tipo de estaca é que a sua concretagem exige uma
fiscalização muito rigorosa, sendo, apesar disso, de difícil controle. Geralmente o
concreto é lançado de grande altura, acontecendo então a segregação do material.
Quando a concretagem é executada abaixo do N.A, o controle passa a ser da
maior importância, podendo haver comprometimento sério de estacas por
deficiência na concretagem. Além disso, como geralmente os tubos-moldes são
recuperados, na sua extração também podem ocorrer descontinuidades no fuste de
concreto, por atrito entre o molde e o concreto do fuste.
Atualmente, já existem métodos mais sofisticados de controle de concretagem,
porém o problema ainda persiste e merece toda a atenção dos técnicos envolvidos.

12.2.2.1.1. ESTACAS BROCAS – TRADO MANUAL (ACIMA DO NA)


As brocas são estacas moldadas “in loco” construídas sem revestimento acima do
nível d‟água. A perfuração é executada por meio de trado, em terrenos coesivos
(argilosos), sem nenhuma água. Após a perfuração, o concreto do tipo fluido deve

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ser lançado com auxílio de funil para que não haja contaminação. Terrenos coesivos.
=15 a 30cm (dependendo do trado). L=3 a 8m. Ftrabalho = 60 a 250kN.

12.2.2.1.2. ESTACA ESCAVADA MECANICAMENTE (S/LAMA BENTONÍTICA)

Figura 12.9. – Caminhão com perfuratriz e detalhe de execução.

 Acima do N.A.
 Perfuratrizes rotativas
 Profundidades até 30m
 Diâmetros de 0,20 a 1,70m (comum até 0,50m)

12.2.2.1.3. ESTACA ESCAVADA (C/LAMA BENTONÍTICA)


As estacas do tipo estacão ou barrete podem ser utilizadas abaixo do nível
d‟água. São escavadas com o auxilio de lama bentonítica no interior da perfuração.
Após perfuração até a profundidade necessária, as estacas são concretadas através
de um equipamento denominado „tremonha‟, e o próprio concreto expulsa a lama à
medida que avança no interior da perfuração, de baixo para cima. Uma pequena
porção do concreto, mantida na parte superior durante a concretagem, terá que ser
descartada por estar contaminada com solo ou a lama bentonítica.

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Método executivo

Proteção

Lama
Concreto
bentonítica

Cilindro
para
perfuração

O esboço apresentado dá uma idéia do método construtivo de um estacão, para a


perfuração do qual é utilizado um cilindro rotativo de aço (Figura 12.10b) dotado de
saliências cortantes na base, que é forçado para baixo por um equipamento
especial. A lama tem a finalidade de dar suporte a escavação. Existem dois tipos:
estacões (circulares =0,6 a 2,0m – perfuradas ou escavadas) e barretes ou
diafragma (retangular ou alongadas, escavadas com “clam-shells” - Figura 12.10a).
As estacas executadas através deste método não causam vibrações no terreno. O
equipamento necessita de área regularizada para se deslocar de um ponto para
outro.
L= até 80m. Ftrabalho= 1100 a 16000kN.

Processo executivo:
 Escavação e preenchimento simultâneo da estaca com lama bentonítica
previamente preparada;
 Colocação da armadura dentro da escavação cheia de lama;
 Lançamento do concreto, de baixo para cima, através de tubo de
concretagem (tremonha)
 Fatores que afetam a escavação:
 Condições do subsolo (matacões, solos muito permeáveis, camadas
duras etc);
 Lençol freático (NA muito alto dificulta a escavação);
 Lama bentonítica (qualidade);
 Equipamentos e plataforma de trabalho (bom estado de conservação);
 Armaduras (rígidas)

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a) b)

Figura 12.10 – a) Clam-shell b) cilindro rotativo de aço

Figura 12.11 - Concretagem de estaca barrete.

12.2.2.1.4. ESTACA RAIZ


São aquelas em que se aplicam injeções de ar comprimido imediatamente após a
moldagem do fuste e no topo do mesmo, concomitantemente a remoção do
revestimento. Neste tipo de estaca não se utiliza concreto e sim argamassa.
As estacas do tipo raiz surgiram na década de 1950, quando o engenheiro
italiano, Fernando Lizzi, em Nápoles (Itália) desenvolveu um processo inédito de
confecção de estacas injetadas, denominada de estaca raiz (“Pile Radice”). Devido ao
105
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processo diferenciado de execução, esse tipo de estaca possibilita obter algumas


vantagens em relação aos demais processos convencionais, dependendo das
peculiaridades do solo em que será executada.
Devido ao grande desempenho como elemento de fundação, as estacas do tipo
raiz possuem grande aplicabilidade nas obras geotécnicas, tais como: estabilização
de encostas, paredes de contenção para proteção de escavações, reforço de
fundações, fundação de estruturas “off-shore”, fundação de máquinas, além de
muitas outras.
A utilização de estacas injetadas faz-se necessário, principalmente em grandes
centros urbanos, no qual têm-se muitas restrições para instalação de estacas, tais
como:
Locais de difíceis condições de acesso por equipamentos de grandes dimensões.
Vibrações causadas pelo equipamento de instalação da estaca que possam causar
danos às construções vizinhas.
Restrições de barulho quando instaladas próximas a hospitais, escolas, etc...
O emprego de estacas injetadas se faz cada vez mais freqüente, por atender as
restrições, e dentre as estacas injetadas, a estaca raiz é a que apresenta menor
relação custo/carga. É a que necessita de equipamentos mais simples, é a de mais
fácil execução e, portanto, a de mais fácil controle e rapidez na instalação (Cabral,
1986).
Portanto, o uso de equipamento dimensionado adequadamente para furar o solo,
bomba d‟água com capacidade suficiente para proceder à lavagem durante a
perfuração e sistema de injeção de argamassa ou nata adequado para garantir o
preenchimento da seção perfurada, são providencias imprescindíveis para a correta
execução de uma estaca raiz.
- Perfuração com auxílio d‟água. Argamassa. =10 a 40cm. L= até 100m.
Ftrabalho= 100 a 14000kN.

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Figura 12.12 – Processo executivo de estaca raiz.

Figura 12.13 – Execução de estaca raiz.

12.2.2.1.5. ESTACA STRAUSS


As estacas Strauss originalmente foram desenvolvidas para serem executadas
acima do nível d‟água do lençol freático, porém com o passar dos anos e a
introdução do tubo de revestimento em seu processo de execução fez com que
pudesse ser executada abaixo do lençol freático.É importante ressaltar que ao
executá-la abaixo do lençol freático deve-se tomar muito cuidado em sua execução.

Inicialmente, crava-se no terreno em tubo metálico que será o molde da estaca.


Escava-se o terreno, dentro do molde, até a cota desejada, e inicia-se a
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concretagem. A escavação é feita por meio de um equipamento especial (piteira), e é


necessário que o solo no interior do tubo esteja em forma de lama. A concretagem é
feita em etapas de aproximadamente 70cm a 80cm de altura, que são apiloadas à
medida em que o tubo é retirado. A operação é repetida até que seja atingida a cota
do terreno. O diâmetro das estacas Strauss varia geralmente de =20 a 50cm e L=
até 20m, e a carga de trabalho (Ftrabalho = 150 a 800kN), varia com o tipo do terreno
e com o tipo e controle do concreto utilizado. Duas fases: perfuração (sonda ou
piteira), colocação do tubo de revestimento recuperável (simultaneamente) e
lançamento do concreto. A concretagem é feita com apiloamento e retirada da
tubulação (guincho manual ou mecânico). Diâmetros de 0,25 a 0,62m.

Vantagens:
 Ausência de trepidação;
 Facilidade de locomoção dentro da obra;
 Possibilidade de verificar corpos estranhos no solo;
 Execução próximo à divisa.
 Cuidados:
 Quando não conseguir esgotar água do furo não deve executar;
 Presença de argilas muitos moles e areias submersas;
 Retirada do tubo.

Figura 12.13 – Perfuração da estaca Strauss.

108
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12.2.2.1.6. ESTACA APILOADA


Também conhecida como soquetão ou estaca pilão. Utiliza-se o equipamento do
tipo Strauss sem revestimento. Sua execução consiste na simples queda de um
soquete, com massa de 300 a 600kg, abrindo um furo de 0,20 a 0,50m, que
posteriormente é preenchido com concreto. É possível executar em solos de alta
porosidade, baixa resistência e acima do NA. Muito utilizada no interior do Estado
de São Paulo, principalmente na região de Bauru.

Figura 12.14 – Execução de estaca apiloada.

Figura 12.15 – Concretagem da estaca.

109
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12.2.2.1.7. ESTACA HÉLICE CONTÍNUA (MONITORADA)


São perfuradas por um equipamento rotativo em forma de espiral. São
concretadas por bombamento que envia o concreto pelo eixo da espiral. O solo
escavado é retirado com a subida do trado, à medida que a concretagem avança de
baixo para cima. Uma pequena porção do concreto é descartada por contaminação
pelo solo escavado. Estas estacas não causam vibrações no terreno ao serem
executadas e podem ser utilizadas abaixo do nível d‟água.
Escavação mecânica. Abaixo do NA. =30 a 120cm L=32m. Ftrabalho= 450 a
5000kN.
Introduzida no Brasil em 1987 e mais amplamente difundida em 1993.
Caracterizada pela escavação do solo através de um trado contínuo, possuidor de
hélices em torno de um tubo central vazado. Após sua introdução no solo até a cota
especificada, o trado é extraído concomitantemente à injeção do concreto (slump 
24cm, pedrisco e areia) através de tubo vazado.
 Diâmetros de 0,275m a 1,20m;
 Comprimentos de até 33m, em função da torre ;
 Executada abaixo do NA;
 Tempo de execução de estaca de 0,40m de diâmetro e 16m de comprimento
em torno de 10min (escavação e concretagem).
 Não ocasiona vibração no terreno

Figura 12.16 – Detalhe dos equipamentos empregados na execução da estaca hélice


contínua.

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Figura 12.17 – Execução de estaca hélice contínua.

12.2.2.1.8. ESTACA HÉLICE SEGMENTADA (MONITORADA)

Similar a estaca tipo hélice contínua a estaca hélice segmentada é uma estaca
moldada “in-loco”, caracterizada pela escavação do solo através de segmentos de
trado acopláveis, dispostos na própria perfuratriz em um sistema mecânico,
denominado alimentador de hélices. Atingida a profundidade prevista as hélices são
extraídas do terreno uma a uma, desacopladas e acondicionadas no alimentador de
hélices. Para este processo o sistema de bombeamento do concreto é interrompido
pelo mesmo número de vezes da quantidade de segmentos de hélices utilizados na
perfuração. Os comprimentos dos trados variam entre 4,5 a 6,0m e diâmetros até
0,5m. A máquina por apresentar menor dimensão movimentar em terrenos de
menores larguras. As Figuras a seguir apresentam os>! detalhes da máquina.

Figura 12.18 – Execução de estaca hélice segmentada.


111
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Figura 12.19 – Execução de estaca hélice segmentada.

12.2.2.1.9. ESTACA ÔMEGA (MONITORADA)


Foi introduzida no Brasil em 1997, atualmente seu mercado tem cada vez mais
utilizado sua técnica. Seu processo executivo inicia-se pela cravação da broca por
rotação, podendo ser empregada à mesma máquina utilizada nas estacas hélice
contínua; durante a descida do elemento perfurante o solo é deslocado para baixo e
para os lados do furo. Após sua introdução no solo até a cota especificada, o trado é
extraído concomitantemente à injeção do concreto (slump  24cm, pedrisco e areia)
através de tubo vazado.
Estas estacas não causam vibrações no terreno, a concretagem é idêntica à do
tipo anterior, e podem ser utilizadas abaixo do nível d‟água.
 Perfuração mecânica. Abaixo do NA. =35 a 60cm L=32m. Ftrabalho= 550 a
1900kN.
 Diâmetros de 0,31m a 0,66m;
 Comprimento em função da torre (até 33m);
 Executada abaixo do NA;

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 Tempo de execução de estaca de 0,40m de diâmetro e 16m de comprimento em


torno de 10min (escavação e concretagem);
 Não ocasiona vibração no terreno;
 Limitada pelo torque da máquina

Figura 12.20 – Detalhe do elemento de perfuração.

12.2.2.1.10. ESTACAS FRANKI (ABAIXO DO NA)


Crava-se um tubo de aço com um tampão de concreto “seco” na extremidade
inferior. Por meio de um soquete de 20kN a 40kN, apiloa-se esta bucha de concreto
seco, que, pelo elevado atrito com o tubo de aço, à medida que vai sendo cravada,
arrasta junto o tubo.
Atingida a profundidade necessária, coloca-se mais concreto no interior do tubo,
e por meio de golpes do soquete, provoca-se a expulsão da bucha do interior do
molde, formando um bulbo de concreto de diâmetro alargado.
Após a execução da base alargada, é introduzida a armação e a concretagem é
executada em pequenos trechos fortemente apiloados.
Capacidade de desenvolver elevada carga de trabalho para pequenos recalques.
Pode ser executada abaixo do NA. Diâmetros de 0,40 a 0,60m. As estacas Franki
podem ser utilizadas abaixo do nível d‟água.

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Figura 12.21 – Processo executivo de estaca Franki.


Método executivo

Tubo
de
aço
Bulbo
alargado

Bucha
de
concreto

O comprimento máximo normal da estaca Franki é de cerca de 25m a 30m e as


cargas de trabalho variam com o diâmetro. Exemplo:

Diâmetro Carga
 40 cm 700kN
 52 cm 1300kN
 60 cm 1700kN
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12.2.2.1.11. ESTACAS SIMPLEX (ABAIXO DO NA)


As estacas Simplex não são mais utilizadas atualmente, porém vale a pena
conhecer o método executivo utilizado na sua construção. São estacas que, pelo seu
método executivo, podem ser utilizadas abaixo do nível d‟água.
Método executivo

Inicialmente, crava-se um tubo de aço, fechado na sua extremidade inferior por


um elemento pré-moldado de concreto que serve de ponteira, até a profundidade
necessária. Alcançada essa profundidade, enche-se o molde até o topo com
concreto bem plástico, e, por um movimento lento mais contínuo, recupera-se de
uma só vez o molde todo.
No caso de dúvida de uma boa execução da estaca, passa-se sem perda de tempo
à cravação de uma segunda estaca diretamente sobre a primeira, repetindo-se
integralmente o processo da execução da estaca.
Geralmente, o diâmetro das estacas Simplex é da ordem de 40cm a 50cm, seu
comprimento máximo da ordem de 25m e carga de trabalho de  500kN.

12.2.2.2. CRAVADAS
Caracterizam-se por serem cravadas por percussão, prensagem ou vibração e por
fazerem parte do grupo denominado “estacas de deslocamento”. Podem ser
constituídas por: madeira, aço, concreto armado ou protendido, ou pela associação
de dois desses elementos (estaca mista).
Cravação dinâmica por bate-estaca de gravidade, prensadas, colocadas no terreno
após perfuração prévia, jateamento d‟água etc.

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12.2.2.2.1. MADEIRA
Empregadas desde os primórdios da história. Atualmente diante da dificuldade de
obter madeiras de boa qualidade e do incremento das cargas nas estruturas sua
utilização é bem mais reduzida. São troncos de árvores cravados por percussão.
Entre nós geralmente são compostas por troncos de eucaliptos, com diâmetros
variando aproximadamente de 15cm a 40cm, e comprimento de até  12m. Cargas
admissíveis de 150 a 500kN.Podem ser emendadas quando o comprimento
necessário é maior.
Anel Ponteira

Topo Base

As estacas de madeira apresentam um sério problema de durabilidade quando


expostas às variações das condições de ambiente ou aos agentes agressivos. Em São
Paulo tem-se o exemplo do reforço de inúmeros casarões no bairro Jardim Europa,
cujas estacas de madeira apodreceram em razão da retificação e aprofundamento da
calha do rio Pinheiros.
A duração das estacas de madeira é praticamente ilimitada, desde que mantidas
permanentemente embaixo d‟água. Se, pelo contrário, estiverem sujeitas a variação
do nível d‟água, apodrecem rapidamente. Exemplo clássico presente na literatura
técnica em geral: a reconstrução do Campanário da Igreja de São Marcos, em
Veneza, em 1902, revelou estacas que, após  1000 anos de serviço, ainda se
encontravam em ótimo estado e capazes de continuarem a suportar as cargas
atuantes. Foram cravadas em 900 D.C. e reutilizadas. (Chellis, R.D.)
Para evitar o problema da durabilidade das estacas de madeira, são utilizados
diversos tipos de tratamentos químicos para a preservação das mesmas. Existem
vários tipos de tratamentos químicos (creosoto ou sais de zinco, cobre, mercúrio,
etc.), porém oneram significativamente o custo das estacas.
Durante a cravação, a cabeça da estaca deve ser protegida por um anel cilíndrico
de aço, a fim de evitar possíveis danos sob os efeitos dos golpes do bate-estacas.
Sua ponta também deve ser protegida com uma ponteira metálica.
Em obras marinhas, as estacas de madeira não devem ser utilizadas sem
tratamento, em hipótese alguma.

116
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12.2.2.2.2. METÁLICAS:
As estacas metálicas apresentam inúmeras vantagens e desvantagens em relação
às estacas de concreto e de madeira. Constituídas por peças de aço laminado ou
soldado como perfis de secção I e H, chapas dobradas de secção circular (tubos),
quadrada e retangular bem como trilhos (reaproveitados após remoção de linhas
férreas). Hoje em dia não se discute mais o problema de corrosão de estacas
metálicas quando permanecem inteira ou totalmente enterradas em solo natural,
isto porque a quantidade de oxigênio nos solos naturais é tão pequena que, a
reação química tão logo começa já se esgota completamente este componente
responsável pela corrosão.
Suas características mais importantes são:
. São facilmente cravadas em quase todo o tipo de terreno, e podem atingir
elevadas capacidades de carga.
. Apresentam facilidade na execução de corte ou emenda.
. Podem ser submetidas a elevados empuxos laterais.
. Podem ser utilizadas para serviços provisórios, pois permitem o
reaproveitamento diversas vezes.
. Resistem bem ao transporte e manipulação em condições desfavoráveis.
. Reduzem consideravelmente a vibração e amolgamento do solo, durante a
cravação, devido a sua secção transversal reduzida
. Seu custo é elevado e o seu uso deve ser muito bem estudado.
. Apresentam o problema da corrosão em meio agressivo, problema ainda não
totalmente elucidado ou controlado. Este fator pode ser solucionado através do
emprego de aço patináveis, mesmo em situações de águas agressivas (meio salinos),
porém atentando-se a concretagem
. No Brasil, as estacas de aço são constituídas por perfis laminados da seção I ou
H, ou, freqüentemente, por dois ou três perfis soldados entre si, como mostrado
esquematicamente em seguida. Além destes tipos encontram-se no mercado perfis
tubulares cujos diâmetros podem variar de 2,7cm a 36cm; existem também estacas
tubulares soldadas a partir de helicóides, com dimensões variando de40,6cm a
142,2cm.

.Sua utilização é mais interessante quando se dispõe de terreno muito resistente,


face à elevada tensão admissível à compressão do aço ( 100MPa).
Atualmente, estão sendo utilizados trilhos provenientes de ferrovias desativadas.

117
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Figura 12.22 - Estaca trilho.

Figura 12.23 - Corte da estaca com maçarico.

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Figura 12.24 - Estacas tubulares

Figura 12.25 - Emenda de estacas – solda.

12.2.2.2.3. CONCRETO:
O concreto presta-se muito bem à confecção de estacas, graças à sua grande
resistência à ação dos agentes agressivos em geral, e à ação da variação da umidade
ambiente (variação do N.A em particular). Aliado a isto, as estacas de concreto
apresentam a vantagem da viabilidade do controle de qualidade de um elemento

119
Fundações – 2012 P. J. R. Albuquerque / L.R. Cavicchia / B. N. Melo

confeccionado em canteiro, sendo vibradas e curadas em ambiente controlado,


podendo resultar num corpo homogêneo de elevada resistência.
As estacas podem ser de concreto armado ou protendido adensado por vibração
ou centrifugação. As secções transversais mais comumente empregadas são: circular
(maciça ou vazada), quadrada, hexagonal e a octogonal. Suas dimensões são
limitadas para as quadradas de 0,30 x 0,30m e para as circulares de 0,40m de
diâmetro. Secções maiores são vazadas. Cuidados devem ser tomados no seu
levantamento. A carga máxima estrutural é especificada pelo fabricante.
A principal desvantagem das estacas pré-moldadas de concreto é a sua
dificuldade de adaptação às variações não previstas do terreno. Se a previsão do
comprimento não for estudada cuidadosamente, surgirá a necessidade de emenda
ou corte, que interfere com os custos e cronograma de execução de uma obra.
Dão origem a vibrações quando cravadas e podem causar o amolgamento do
terreno. Na sua cravação, especial atenção deve ser dispensada às construções
vizinhas e ao estado de suas fundações, pois podem ser afetadas pelas vibrações
originadas.
Além disso, apresentam o inconveniente da necessidade de serem armadas para
resistir aos esforços de flexão provenientes do levantamento e transporte, e de
serem limitadas em secção e comprimento devido ao peso próprio.

Figura 12.26 – Cravação de estaca pré-moldada.

120
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Figura 12.27 - Preparação do bloco de coroamento.

Geralmente, as estacas pré-moldadas de concreto são levantadas por um ou dois


pontos. As posições mais convenientes para os pontos de levantamento são obtidas
pela imposição de igualdade dos momentos máximos positivos e negativos.
A seguir, serão mostrados sucintamente os passos necessários à definição dos
pontos para levantamento por 1, 2 e 3 pontos.
Seja p o peso da estaca por metro de comprimento e S o ponto de levantamento.
. Levantamento por 1 ponto

S1

x1

Igualando os valores absolutos dos momentos positivos e negativos :


2 2
p.L L  x
.  x   p .
2 . L  x   2  2
Chega-se a: x 1 / L = 0,29
Ou aproximadamente: x 1 / L ≈ 1 / 3

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. Levantamento por 2 pontos

S2 S2

x2 x2

Igualando os valores absolutos dos momentos positivo e negativo máximos:

x2
2 
 L  2 . x 22 2
x2  
 p. 
p.
2  8 2 
 
 
Chega-se a: x 2 / L = 0,207
Ou aproximadamente: x 2 / L  1 / 5
. Levantamento por 3 pontos

S3 S3 S3

x3 x3
L

Com o mesmo raciocínio, chega-se a: x 3 / L = 0,153


Ou aproximadamente: x 3 / L = 1 / 7

- Cargas de trabalho
Geralmente, as estacas pré-moldadas de concreto são confeccionadas com secção
quadrangular ou circular, e, de acordo com suas dimensões, são indicadas as cargas
de trabalho.
A seguir, apenas para efeito de ordem de grandeza, são indicadas as cargas de
trabalho usuais de estacas comuns de concreto armado com secção quadrada.

122
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Secção (cm x cm) Carga de trabalho (kN)


20 x 20 200
25 x 25 300
30 x 30 400
35 x 35 500
40 x 40 600

As estacas de concreto podem ser também centrifugadas ou protendidas,


podendo suportar maiores cargas de trabalho.

12.2.2.2.4. ESTACAS PRENSADAS (MEGA)


São constituídas geralmente por elementos de concreto pré-moldado, com
comprimentos da ordem de 0,5m, que são cravados estaticamente por prensagem,
por meio de macaco hidráulico que reage contra um peso. São muito utilizadas para
reforço ou substituição de fundações já construídas, usando como reação a própria
estrutura existente. São também utilizadas para fundações de obras novas quando
há necessidade absoluta de serem evitadas as vibrações.
Destacam-se como desvantagens seu alto custo e longo tempo de execução.

Base Topo

123
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Figura 12.28 – Execução de estaca mega.

12.2.2.2.5. ESTACAS MISTAS


São usadas para tentar reunir numa só estaca as vantagens de dois tipos de
estacas.
Exemplos: madeira-concreto, Franki-pré-moldada, etc.

12.2.3. CAPACIDADE DE CARGA DE ESTACAS ISOLADAS


Cabe à mecânica dos solos a fixação do comprimento das estacas de fundação, de
maneira que seja assegurada uma resistência do solo igual ou maior que a carga do
trabalho estipulada, considerando todos os coeficientes de segurança envolvidos.
De maneira geral :
Padm = RPonta + RLat

124
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Onde: Padm é a carga admissível da estaca, RPonta é a resistência de ponta e RLat é a


resistência lateral oferecidas pelo terreno ao deslocamento da estaca, conforme
figura apresentada adiante.
P Adm

RL RL

RP

Outra limitação imposta à carga admissível de uma estaca é:


PAdm ≤ PAdm estrutural da estaca

A carga de trabalho das estacas de fundação pode ser avaliada por:


 Fórmulas estáticas
 Fórmulas dinâmicas
 Provas de carga
 Fórmulas Semi-Empíricas (Aoki-Velloso, Decourt – Quaresma etc).

12.2.3.1. FÓRMULAS ESTÁTICAS


Consiste na aplicação dos princípios da Mecânica dos Solos para calcular a
resistência da ponta e a resistência lateral transmitidas à estaca pelo solo. Serão
estudados os casos de solos arenosos e solos argilosos separadamente.

125
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12.2.3.1.1. FÓRMULAS TEÓRICAS


12.2.3.1.1.1. SOLOS NÃO COESIVOS - ARENOSOS
P adm

Solo arenoso
KS . γ . h . tg δ
s = c . tg Ф
h γ

γ. h

rP
KS . γ . h

A.1. Resistência de Ponta


A resistência de ponta das estacas pode ser expressa por  QP = A P . r P
Onde :
A P – área da ponta da estaca
r P – resistência de ponta unitária, rP = R

Então:
1
Qp  Ap .  R . {η  3}
η
Para o cálculo da resistência de ponta das estacas, pode ser usada a equação
geral de Terzaghi, que fornece a capacidade de carga R :

1
σ R  c .Nc . s c  q. (Nq  1). s q  . . B . Nγ . s γ
2

Serão obtidos valores um tanto conservadores, porém, ainda assim, aplicáveis.

A.2. Resistência por Atrito Lateral


O cálculo da resistência por atrito lateral pode ser feito pela fórmula de Meyerhof
(1953):
Q = A  . r 
Onde:
Q – resistência por atrito lateral
A  – área lateral da estaca
126
Fundações – 2012 P. J. R. Albuquerque / L.R. Cavicchia / B. N. Melo

r  – resistência lateral unitária, r  = f

Assim :
1
Q  A . f . {η  3}
η
Da figura anterior :
f  1 . KS . γ . h . tg δ
2
onde
f - resistência por atrito lateral unitária
0,5 - areias fofas
K S - coeficiente variando de a
1,0 - areias compactas
γ - peso específico da areia
h - profundidade da estaca abaixo do nível do terreno
 - ângulo de atrito estaca-solo

O ângulo  (atrito estaca-solo) é fornecido em função da estaca e do ângulo de


atrito interno do solo  (Potyondy, 1961), pelo quadro a seguir.

/
ESTACA SUPERFÍCIE AREIA
AREIA SECA
SATURADA
Lisa 0,54 0,64
Aço
Áspera 0,76 0,84
Madeira Paralelamente às fibras 0,76 0,85
Lisa (forma metálica) 0,76 0,80
Concreto Áspera (forma de madeira) 0,88 0,88
Rugosa (moldada “in loco”) 0,98 0,90

127
Fundações – 2012 P. J. R. Albuquerque / L.R. Cavicchia / B. N. Melo

12.2.3.1.1.2. SOLOS COESIVOS (ARGILOSOS) ( = 0)


P adm

rL rL Camada de
h solo argiloso
sc
γ
c rP

B.1. Resistência de Ponta


Q P = A P . r P = A P . R
Para o cálculo da resistência da ponta das estacas em solos coesivos, podem ser
utilizadas a Fórmula Geral de Terzaghi (1943)
1
σ R  c .Nc . s c  q. (Nq  1). s q  . . B . Nγ . s γ
2
ou a Fórmula de Skempton (1951) que conduzem a resultados aceitáveis.
ζ R  c . NC  γ . H

B.2. Resistência lateral


A resistência lateral das estacas imersas em solo coesivo é dada pela aderência
estaca-solo (c a), e pode ser expressa por
Q  A  . c a . 1 ≥3
η
onde
Q - resistência por atritolateral
A  - área lateral da estaca
c a- valor médio da aderência entre argila e estaca

Uma das formas de avaliação da Ca é a proposta por Tomlinson (1957).

128
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ESTACA COESÃO DA ARGILA c (kPa) ADERÊNCIA Ca (kPa)

Concreto 0 - 37 0 - 34
e 37 - 75 34 - 50
Madeira 75 - 150 50 - 64
0 - 37 0 - 34
Aço
37 - 75 34 - 50
75 - 150 50 - 59

Além das fórmulas apresentadas, outros autores formalizaram equações para o


cálculo da capacidade de carga das estacas. Essas fórmulas podem ser vistas na
bibliografia apresentada no início do curso.
Quadro 14.1 - Valores de capacidade de carga (Nc).
º Nc º Nc º Nc
0 5,14 16 11,63 32 35,49
1 5,38 17 12,34 33 38,64
2 5,63 18 13,10 34 42,16
3 5,90 19 13,93 35 46,12
4 6,19 20 14,83 36 50,59
5 6,49 21 15,82 37 55,63
6 6,81 22 16,88 38 61,35
7 7,16 23 18,05 39 67,87
8 7,53 24 19,32 40 75,31
9 7,92 25 20,72 41 83,86
10 8,35 26 22,25 42 93,71
11 8,80 27 23,94 43 105,1
12 9,28 28 25,80 44 1
13 9,81 29 27,86 45 118,3
14 10,37 30 30,14 7
15 10,98 31 22,67 133,8
8

12.2.3.2. FÓRMULAS DINÂMICAS


Os métodos dinâmicos são aqueles prevêem a capacidade de carga de uma estaca
com base nos resultados da cravação, ou ainda, em que uma dada resposta à
cravação é especificada no seu controle.
A maneira mais simples de se controlar a cravação é riscar uma linha horizontal
na estaca com régua apoiada em dois pontos do bate-estacas, e aplicar 10 golpes,
riscar novamente, medir a distância entre os dois riscos e dividir esta distância por
129
Fundações – 2012 P. J. R. Albuquerque / L.R. Cavicchia / B. N. Melo

10, obtendo-se assim a penetração média por golpe, também chamada de „”NEGA”.
Estes métodos são restritos para as estacas cravadas. O FS já está embutido na
fórmula. Existem várias fórmulas dentre elas: Fórmula dos Holandeses, Fórmula de
Brix, Fórmula do Engineering News etc.
As fórmulas dinâmicas se baseiam no princípio da conservação de energia, ou
seja, igualam a energia potencial do martelo ao trabalho realizado na cravação da
estaca (produto de resistência vencida pela estaca pela penetração da mesma), a
menos de eventuais perdas de energia, ou seja:
Wh = Rs + X
Onde:
W = peso do martelo
H = altura de queda
R = resistência à cravação
S = penetração ou nega
X = perdas de energia

As principais perdas de energia são: repique do martelo, deformação elástica do


cepo e do coxim, atrito do martelo e guias.

Deformação elástica
(estaca + solo)

Nega (s)

Figura 12.29 – Gráfico de cravação

A - Fórmula dos Holandeses (Woltmann)


P2 . h 1
Q   (  6)
adm s . (P  Q) η
B - Fórmula de Brix
P2 .Q.h
Q  .
1
 η  5
adm s . P  Q  2
η
C - Fórmula do Engineering News
P.h 1
Q   (η  6)
adm s  c η
onde:
Qadm = kN (carga admissível da estaca)
P = kN (peso do martelo)
Q = kN (peso próprio da estaca)
130
Fundações – 2012 P. J. R. Albuquerque / L.R. Cavicchia / B. N. Melo

h = cm (altura de queda do martelo)


s = cm (nega para 1 golpe)
c = 2,5cm (bate-estacas tipo queda livre)
c = 0,25cm (bate-estacas tipo dupla ação)

As fórmulas dinâmicas, apesar dos altos coeficientes de segurança recomendados


pelos próprios autores, apresentam resultados mais confiáveis quando utilizadas em
terrenos constituídos por solos não coesivos (arenosos).

12.2.3.3. PROVAS DE CARGA


Pode-se obter a carga de ruptura e admissível através de provas de carga. (FS=1,6
– global mínimo NBR 6122  adota-se 2,0)

12.2.3.4. FÓRMULAS SEMI-EMPÍRICAS


No Brasil utilizam geralmente os métodos de capacidade de carga baseados em
SPT, por ser uma técnica muito difundida, o CPT também vem sendo utilizado mais
em pequena escala. O s métodos mais empregados são: Décourt & Quaresma, Aoki
& Velloso, P.P. Velloso, Alonso, Philipponat, Meyerhof etc.

12.2.3.4.1. MÉTODO DE AOKI & VELLOSO (1975)


AOKI & VELLOSO (1975) apresentam uma expressão para o cálculo da carga de
ruptura de estacas, fórmula esta baseada em dados fornecidos por ensaios de
penetração contínua (CPT) ou, quando não se dispõe deste valor, em parâmetros
correlacionados à resistência à penetração (N), obtidos de sondagem a percursão.
Os autores consideram o tipo de estaca (Franki, aço, concreto) e baseiam-se em
dados obtidos de provas de carga em estacas comprimidas para proporem a
fórmula. A carga de ruptura é dada pela soma das parcelas de carga de ruptura
lateral e de ponta. Ressalta-se ainda que esta fórmula tem sido largamente utilizada
em nosso meio técnico.
- Carga Lateral de Ruptura
n
Q    p i fui z i
i1

Para os autores, existe uma correlação entre o valor da tensão lateral de ruptura
(fu) e a resistência lateral local (fc), medida no ensaio de penetração contínua.
fu = f c / F 2

F2 é fator de carga lateral em função do tipo de estaca, e que relaciona os


comportamentos do modelo (cone) e do protótipo (estaca). A resistência lateral local

131
Fundações – 2012 P. J. R. Albuquerque / L.R. Cavicchia / B. N. Melo

(fc) pode ser estimada a partir da resistência de cone, utilizando a relação de atrito
(av), que é uma constante para cada tipo de solo.
fc = av . qc e fu =av . qc/F2
Ainda segundo os autores, é possível estabelecer a resistência de cone (q c),
utilizando correlações empíricas com o valor da resistência à penetração (N).
qc = Kav . N
e deste modo:
fu = av . Kav . N / F2
Portanto,
n
p i  avi K avi Nli
Q   z i
i1 F2

O valor dos fatores avi.Kavi são apresentados no Quadro 12.2 e valores de F1 e F2


no Quadro 12.3.

- Carga de Ponta de Ruptura


Q p = q u . Ap
onde:
qu é a resistência de ruptura de ponta e pode ser obtida a partir da resistência de
cone (qc).
qu = q c / F 1

A resistência de cone pode ser obtida a partir dos valores da resistência à


penetração (N), utilizando valores Kav do Quadro 12.2. O fator de carga de ponta F1
relaciona o comportamento do modelo (cone) ao do protótipo (estaca) e depende do
tipo de estaca (Quadro 12.3).
K av Np
Qp  Ap
F1

132
Fundações – 2012 P. J. R. Albuquerque / L.R. Cavicchia / B. N. Melo

Quadro 12.2 - Valores de avi.Kavi .


SOLO K(kPa) (%)
pura 1000 1,4
Siltosa 800 2,0
AREIA silto argilosa 700 2,4
Argilosa 600 3,0
argilo siltosa 500 2,8
puro 400 3,0
arenoso 650 2,2
SILTE areno argiloso 450 2,8
argiloso 230 3,4
argilo arenoso 250 3,0
pura 200 6,0
arenosa 750 2,4
ARGILA areno siltosa 300 2,8
siltosa 220 4,0
silto arenosa 330 3,0

Quadro 12.3 - Valores de F1 e F2


TIPO DE ESTACA F1 F2
FUSTE APILOADO 2,30 3,005,00
FRANKI
FUSTE VIBRADO 2,30 3,20
METÁLICA 1,75 3,50
CRAVADA* 2,50 3,50
CONCRETO PRÉ-MOLDADO
PRENSADA* 1,20 2,30
PEQUENO DIÂMETRO 3,00 6,00
ESCAVADA GRANDE DIÂMETRO 3,50 7,00
C/ LAMA BENTONÍTICA 3,50 4,50
STRAUSS 4,20 3,90
RAIZ 2,20 2,40
HÉLICE CONTÍNUA* 3,00 1,50
ÔMEGA* 1,50 2,00
* Valores indicativos diante a falta de dados.

- Carga Total de Ruptura


n
p 1
Qrup 
F2

i1
avi K avi Nli.z i 
F1
K avi Np A p

133
Fundações – 2012 P. J. R. Albuquerque / L.R. Cavicchia / B. N. Melo

- Carga Admissível
Qrup
QADM 
2,0

12.2.3.4.2. MÉTODO DE DÉCOURT & QUARESMA (1978)


DÉCOURT & QUARESMA (1978) apresentam uma fórmula para estacas pré-
moldadas, abrangendo posteriormente outros tipos de estacas (DÉCOURT, 1982).
Esta fórmula fornece a carga de ruptura total através da soma das parcelas das
cargas de ruptura lateral e ponta, utilizando a resistência à penetração N.

- Carga Lateral de Ruptura


Considerando f u a resistência lateral de ruptura média, obtida ao longo do fuste
da estaca, a carga lateral de ruptura é dada por:
Q   p. z .f u.
Os autores estabeleceram uma correlação empírica entre a resistência lateral de
ruptura média ( f u ) e o valor da resistência à penetração média ao longo do fuste da
estaca ( Ni ).
fu  3,33Ni  10

OBS: Ni devem ser limitados a 50 (N  50) e 3 (N  3).

A carga lateral de ruptura fica:

Q  p(3,33N i  10).z.

A expressão, originalmente estabelecida para estacas cravadas de concreto (=1 e


=1), teve sua utilização ampliada para outros tipo de estacas, através do emprego
do fator  (Quadro 12.4).
Quadro 12.4 – Valores típicos de .
Tipo de Estaca
Tipo de Injetadas
Escavada a Escavada Hélice Injetadas
solo (sob
seco com lama Contínua (raiz)
pressão)
Argilas 0,80 0,90 1,00 1,50 3,00
Siltes 0,65 0,75 1,00 1,50 3,00
Areias 0,50 0,60 1,00 1,50 3,00

- Carga de Ponta de Ruptura


Q p  q u .A p .

134
Fundações – 2012 P. J. R. Albuquerque / L.R. Cavicchia / B. N. Melo

O valor de qu pode ser obtido utilizando-se sua correlação empírica com a


resistência à penetração média na região da ponta da estaca (Ap).
q u  K dq .N p
onde:

Np = resistência à penetração do SPT, resultante da média de 3 valores obtidos ao


nível da ponta da estaca, imediatamente acima e abaixo desta
Kdq = coeficiente que correlaciona a resistência à penetração (N) com a resistência
de ponta em função do tipo de solo proposto por DÉCOURT & QUARESMA (Quadro
12.5). Os valores de  podem ser obtidos no Quadro 12.6.

N p 1  N  N p 1
Np 
3

Quadro 12.5 - Valores de Kdq.


TIPO DE ESTACA
SOLO
DESLOCAMENTO ESCAVADA
Argila 120 100
Silte 200 120
Argiloso*
Silte 250 140
Arenoso*
Areia 400 200
* Solos Residuais

Quadro 12.6 – Valores típicos de .


Tipo de Estaca
Tipo de Injetadas
Escavada a Escavada Hélice Injetadas
solo (sob
seco com lama Contínua (raiz)
pressão)
Argilas 0,85 0,85 0,30 0,85 1,00
Siltes 0,60 0,60 0,30 0,60 1,00
Areias 0,50 0,50 0,30 0,50 1,00

A carga de ponta de ruptura fica:


Q p  K dq .N p .A p .
- Carga Total de Ruptura
 
n
Qrup  p. 3,33Ni  10 .i .z i  K dq Np A p .
i1

135
Fundações – 2012 P. J. R. Albuquerque / L.R. Cavicchia / B. N. Melo

- Carga Admissível
Q Qp
QADM  
1,3 4,0

12.2.4. DIMENSIONAMENTO
Conhecidas às cargas Pi de projeto e o perfil geotécnico do terreno, e escolhidas
as estacas a serem utilizadas, o dimensionamento consiste em determinar o
comprimento das estacas, assim como o número delas necessário para transferir a
carga Pi para o subsolo. O dimensionamento de uma fundação por estacas
basicamente consiste em:

A - Escolha do tipo de estaca, com base em critérios técnicos e econômicos.

B - Carga de trabalho da estaca


Na grande maioria dos casos, procura-se trabalhar com a carga máxima que a
estaca pode suportar do ponto de vista estrutural, isto é, de acordo com sua secção
transversal e a resistência à compressão do material que a constitui.
Em qualquer caso, para a definição da carga de trabalho de uma estaca, deve ser
levado em consideração que :
. Qadm (geotécnica)  P adm (estrutural ou nominal da estaca)

A carga de trabalho da estaca será definida pelo menor valor entre os dois
anteriores.

C - Comprimento da estaca
De posse de carga Pi do pilar e perfil geotécnico do subsolo, o cálculo do
comprimento necessário à estaca pode ser feito com a utilização dos métodos já
vistos.
D - Centros de gravidade
A carga Pi de um pilar é transferida para o grupo de estacas por um bloco rígido
de concreto, denominado bloco de capeamento, e a resultante das cargas P trab das
estacas deve ter a mesma linha de ação da carga Pi do pilar. Para tanto, os centros
de gravidade do pilar, do bloco de capeamento e do grupo de estacas devem ser
coincidentes, isto é :
C G Pilar = C G Bloco = C G Grupo de estacas

E - Número mínimo necessário de estacas para um pilar


O número mínimo K de estacas necessárias para transmitir ao subsolo a carga P i
de um pilar qualquer será :
136
Fundações – 2012 P. J. R. Albuquerque / L.R. Cavicchia / B. N. Melo

P 1
K  i .
P ouQ e
(adm) (adm)
onde :
“ e ” é a eficiência do grupo de estacas e “ K ” é o número inteiro maior e mais
próximo do resultado da operação anterior.

F - Espaçamento mínimo entre estacas (s) e distância mínima das estacas


periféricas à borda do bloco de capeamento (c ).

G – Espaçamento d (mínimo) entre eixos de estacas


 Pré-moldadas – 2,5.estaca
 Moldadas in loco – 3,0.estaca
 est
H – Espaçamento c entre eixo da estaca e bordo do bloco: c   15cm
2

s BLOCO
DE
D s
CAPEA
MENTO
C

Figura 12.30 – Esquema do espaçamento entre estacas

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Quadro 12.7 – Principais tipos de fundações disponíveis no mercado


TIPO DIMENSÕES (cm) Padm (kN) - estrutural Comprimento (m)
MADEIRA =15 a 30 100 a 300 3 a 15
15 x 15 150
18 x 18 200
Pré-moldada (concreto)
23 x23 350 emenda
secção quadrada
26 x 26 450
33 x 33 700
=20 200
=26 350
=33 500
Pré-moldada (concreto) =38 700 emenda
secção circular =42 850
=58 1300
=60 1600
=70 2300
I 10” x 4 5/8” 400
I 12” x 5 1/4” 600 Qualquer emenda por
Perfis de Aço
II 10” x 4 5/8” 800 solda
II 12” x 5 1/4” 1200
=20 40
Brocas (trado manual) =25 60 3a6
=30 80
=25 150
Escavadas com trado =30 280 3 a 18m (depende do
mecânico (conc=4MPa) =40 500 equipamento)
=50 780
=60 1150
=70 1540 3 a 18m
Escavadas com trado =80 2010
mecânico (conc=4MPa) =90 2550 * Equipamentos especiais
=100 3140 profundidades de 60 a
=110 3800 80m
=120 4520
=20 150
=25 200
=32 300
Strauss Máximo 15m
=38 400
=45 600
=55 800
=35 550 - 700
=40 750 – 900
Franki =45 950 – 1200 Variável
=52 1300 – 1600
=60 1700 - 2300
=40 350 – 600
=50 700 – 1000 25m
=60 1100 – 1400
Hélice Contínua =70 1500 – 1900
=80 2000 – 2500
=90 2550 – 3200 20m
=100 3250 - 3900
=35 550 – 650
20m
=45 850 – 900
Ômega * variável em função do
=50 1200 – 1400
tipo de solo
=60 1600 - 1900

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Figura 12.31 – Distribuição de estacas nos blocos.

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Figura 12.32 - Distribuição de estacas nos blocos (continuação).

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Quadro 12.8 – Limites máximos de NSPT que possibilitam a execução de diversos


tipos de fundações.
NSPT – Limite de Execução do
TIPO Observações
equipamento
Pré-moldadas – A cravação para ao encontrar camada
capacidade de carga de com NSPT=20 a 25 ou somatória igual
Cuidado: solo com matacões.
 < 30cm a 80
Tensões de cravação elevadas
Pré-moldadas A cravação para ao encontrar NSPT
  30cm 30
Strauss NSPT=20 Limite: NA. Água Agressiva
Cuidado com aproximação de
Franki (solos arenosos) NSPT=10 a 12
rocha
Limite: argila mole ou dura.
Franki (solos argilosos) NSPT=25 a 30
Água Agressiva
Limite: haste da ferramenta.
Hélice Contínua NSPT=25 a 30
Água Agressiva
Escavadas c/ lama NSPT=50 a 60 Limite: haste da ferramenta
Tubulões NSPT=50 a 60 Limite: 1,5 atm
Perfis Metálicos NSPT=60 a 70 Desvios durante a cravação
Escavada mecânica NSPT=25 a 30 NA
Limite: haste da ferramenta.
ômega NSPT=20 a 30 Água Agressiva – torque da
máquina

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Figura 12.33– Preparo da cabeça das estacas para execução do bloco de


coroamento.

12.2.5. ESTACAS ISOLADAS E GRUPOS DE ESTACAS.


O comportamento de uma estaca difere sensivelmente do comportamento de uma
única estaca, devido à soma dos efeitos dos bulbos de tensão.
A carga de ruptura de um grupo n de estacas não é igual a n vezes a carga de
ruptura de uma estaca isolada.

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P adm estaca isolada P adm grupo

Bulbo de
tensões
da
resistênci
a
de ponta

Bulbo de
Bulbo de tensões
tensões Superposição dos bulbos de
resultant
tensões da resistência lateral
da e
resistência Figura 12.34– Bulbo de tensões.
lateral
Existem fórmulas empíricas que calculam a “eficiência” do grupo de estacas.

Fmédio / estacagrupo
eficiência
Frupturaestaca isolada

12.2.5.1. FÓRMULA DAS FILAS E COLUNAS


Será considerado um grupo de estacas de um mesmo bloco, constituído por N
filas e M colunas, como esquematizado na figura, onde „s‟ é o espaçamento mínimo
entre 2 estacas vizinhas e „D‟ é a dimensão representativa da secção transversal da
estaca
A eficiência será calculada considerando que as estacas formam um conjunto de
perímetro igual ao perímetro do grupo de estacas trabalhando conjuntamente.
Sendo assim, a eficiência pode ser representada por:
R
L Grupo
e
Σ R
L estacaisolada
onde :
R L estaca isolada = M . N . R L estaca isolada
R L estaca isolada = A L estaca isolada . r L estaca isolada = p estaca isolada . h . r L estaca isolada
p estaca isolada = perímetro da estaca isolada
R L Grupo = A L Grupo . r L Grupo . 1/ 
A L Grupo = área lateral do grupo de estacas = perímetro do grupo . h = p G .h

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p G = 2. ( L 1 + L 2 ) + 8. D/2

Dimensão representativa da secção transversal da estaca


L1 = ( N – 1 ) . s e L2 = ( M – 1 ) . s
Assim :
R L Grupo = [ 2 . ( M + N – 2 ) . s + 4 . D ] . h . r L Grupo . 1/ 

Mas :
r L Grupo = r L estaca isolada = f ( solo, tipo de estaca )

Com estes dados, chega-se à determinação da eficiência pela fórmula das filas e
colunas:

2.  M  N  2  . s  4 . D
e 
M . N. p
estacaisolada

D L2
2

D
N L1
Filas s h
D

s
D
2

s
M
COLUNAS
Figura 12.35 – Método das filas e colunas.

12.2.5.2. FÓRMULA DE CONVERSE-LABARRE


Válida para o mesmo grupo de M x N estacas já considerado para a fórmula das
filas e colunas.
 (n  1).m  (m  1).n  
e  1      arctang  em graus
 90.m.n  S

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12.2.5.3. MÉTODO DE FELD


Consiste em descontar 1/16 de cada estaca do grupo, para cada estaca vizinha a
ela. Exemplos:
 2 estacas.
16 1 15 16 1 15
1   ou 94% e 1    ou 94%
16 16 16 16 16 16
2x94
e  94%
2

 3 estacas (bloco triangular)


16 2 14
3   ou 87%
16 16 16
3x87
e  87%
3
 4 estacas ((bloco quadrado)
16 3 13
4   ou 82%
16 16 16
4x82
e  82%
4
 5 estacas.
16 3 13 16 4 12
4   ou 82% e 1    ou 75%
16 16 16 16 16 16
4x82  1x75
e  80%
5
 6 estacas.
16 3 13 16 5 11
4   ou 82% e 2    ou 69%
16 16 16 16 16 16
4x82  2x69
e  77%
6

13. ESCOLHA DO TIPO DE FUNDAÇÃO


Para a escolha de um determinado tipo de fundação, deve seguir alguns critérios,
como exemplificado abaixo:

13.1. DEVERÃO SER CONHECIDAS NO MÍNIMO:

 Tipo e características geotécnicas do local (no mínimo SPT em quantidade


suficiente, se necessário executar ensaios especiais);
 Grandeza e natureza das cargas a serem transferidas para o subsolo (verticais,
inclinadas, momentos, cargas dinâmicas etc);
 Tipos de fundações existentes no mercado;
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 Restrições técnicas de cada tipo de fundação;


 O tipo e estado atual das fundações das edificações vizinhas;
 Custo dos diversos tipos de fundações existentes no mercado;
 O tempo necessário para a execução dos tipos de fundações tecnicamente
possíveis, para posterior adequação ao cronograma da obra.

13.2. CRITÉRIOS DE DECISÃO:

Critérios técnicos prevalecem sobre os econômicos, estes só devem influir numa


decisão de igualdade de condições técnicas.
Se satisfeitos (técnicos e econômicos), o problema é quanto aos tempo disponível,
em determinadas obras este fator é primordial.
Em determinadas situações o critério tempo de execução prevalece sobre o
econômico.

13.3. ETAPAS PARA ESTUDO DE UMA FUNDAÇÃO:

Conhecidas às características do subsolo e cargas estruturais, o caminhamento


racional é o seguinte:
1. Inicialmente, analisa-se a possibilidade do emprego de fundações diretas
(adm=NSPT/5, para SPT20). Sendo estas: sapatas, sapatas corridas
(alicerces) e radiers (pequenas obras).
2. Sendo viável a fundação direta, deve-se compará-la com os tipos viáveis de
fundação profunda (critério econômico);
3. Esgotadas as opções de fundação direta, deverão ser analisadas as
fundações profundas estacas e tubulões;

No caso da necessidade de fundação profunda, deve-se determinar o tipo mais


apropriado. Se for estaca passa-se à escolha do tipo mais indicado, fixação de sua
carga de trabalho e profundidade. Se for tubulão, determina-se a tensão admissível
do subsolo, cota de apoio da base e método de execução.
No caso de estacas, é recomendado que a sua carga de trabalho seja da ordem de
1/3 da carga do pilar médio, o que resulta aproximadamente 1 a 2 estacas para os
pilares de carga mínima e 5 a 6 estacas para os pilares de carga máxima (se for
possível).
Quando não se dispõe do calculo estrutural, estimar uma carga média típica de 12
kN/m2 (tip) por andar, para estruturas de concreto armado destinadas a moradias e
escritórios.
Considera-se o uso de fundação direta como solução econômica quando prédio /
adm solo for menor que 60% ou 2/3.
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prédio = n * tip, onde n é o número de andares

Para residências as cargas típicas de parede são:

Sobrados= 40 kN/m
Casas térreas = 20
kN/m

Isso para construções habituais onde o piso do andar térreo não é laje armada,
descarregando diretamente sobre o terreno. Nesses casos existem tensões
admissíveis mínimas que o solo deve suportar, para que sejam exeqüíveis os
alicerces comuns, conforme Figura 14.1.

Parede
1 tijolo
Parede
2 tijolos
"cinta" de
concreto armado

Parede
3 tijolos
brita apiloada ou lastro
de concreto magro

Figura 13.1 – Sapata corrida.


Observe-se que, para sobrados, é conveniente a distribuição sobre o solo através
da largura de três tijolos (60cm).

Neste caso obtém-se no solo uma tensão aplicada de  Para três tijolos:
P 40kN / m
s    70kN / m2
b 0,6m

Deve-se ter adm-solo s

Neste tipo de solução implica considerável economia no projeto (ausência de


pilares, de maioria das vigas, das sapatas de concreto armado etc). Como nesse caso
as cargas já estão distribuídas (paredes portantes) e não concentradas (pilares), as
demais soluções que concentram as cargas (em sapatas ou blocos de estacas) são,

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em princípio, menos recomendáveis, pois necessitam estrutura de concreto armado


adicional (encarecimento da obra).

13.4. LIMITAÇÕES DE ALGUNS TIPOS DE FUNDAÇÕES PROFUNDAS.

 Estacas brocas  acima do NA e os terrenos devem ser coesivos.


 Estacas Strauss  acima do NA e presença de solos moles.
 Estacas metálicas  Alto custo e vibração (pequena).
 Pré-moldadas de concreto  Presença de matacões, camadas de pedregulhos,
cota de ponta variável e vibrações.
 Estacas Franki  muita vibração, matacões, construções vizinhas em estado
precário, camadas de solos moles.
 Estacas Mega  reforço de fundação e redução de vibração.
 Estacas escavadas com lama  área relativamente grande para instalação dos
equipamentos.
 Estacas hélice contínua  alto custo de mobilização e perfuração, próximo de
usinas de concreto, dificuldade de colocar armaduras superiores a 6m, terrenos
planos e fácil acesso.
 Estacas ômega  alto custo de mobilização e perfuração, próximo de usinas de
concreto, dificuldade de colocar armaduras superiores a 6m, terrenos planos, fácil
acesso e limitada a capacidade de torque da máquina.
 Tubulões  Ar comprimido e a céu aberto.
 Algumas dicas para estimativa do comprimento de estacas. Esse critério não leva
em consideração a capacidade de carga do solo, devendo-se então tomar muito
cuidado no projeto final.
 Baseado na tensão admissível do concreto c=5 MPa.
 Para estacas de atrito mais ponta NSPT=15*c
 Para estacas de ponta NSPT=5*c

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Fundações – 2012 P. J. R. Albuquerque / L.R. Cavicchia / B. N. Melo

REFERÊNCIAS BIBLOGRÁFICAS

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ALONSO, U.R. Exercícios de Fundações. São Paulo: Edgard Blucher, 1983. 202p.

AOKI, N, & VELLOSO, D. A. Um método aproximado para estimativa da

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BOWLES, J. E. Foundation Analysis and Design. Mc Graw-Hill Book Company

CAPUTO, H. P. Mecânica dos Solos e suas Aplicações . Ao livro Técnico S/A

CINTRA, J.C.A.; AOKI, N. Carga admissível em fundações profundas. São Carlos:

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TERZAGHI, K. e PECK, R.B. Soil Mechanics in Engeneering Practice. Jonh Wiley

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TSCHEBOTARIOFF, GREGORY P. Foundations Retaining and Earth Structures. (já

traduzido)

VARGAS, MILTON Introdução à Mecânica dos Solos. Mc Graw-Hill Book Company

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Nostrand Reinhold Company Inc.

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