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Capa

Bruno Corrêa Barbosa


Leonardo de Oliveira Resende
Fábio Prezoto
Elesier Lima Gonçalves
Organizadores:
Bruno Corrêa Barbosa
Leonardo de Oliveira Resende
Fábio Prezoto
Elesier Lima Gonçalves

Tópicos em
Sustentabilidade & Conservação

1º edição

Grupo de Trabalho do
Fórum Ambiental e Florestal de Juiz de Fora

Real Consultoria em Negócios Ltda


Juiz de Fora/2017
Tópicos em
Sustentabilidade & Conservação
Organizadores
Bruno Corrêa Barbosa
Leonardo de Oliveira Resende
Fábio Prezoto
Elesier Lima Gonçalves

Diagramação e Editoração
Bruno Corrêa Barbosa

Capa
Willian Cunha Gomes
willgommes.com

Revisão
Elisa Furtado Fernandes
Tatiane Tagliatti Maciel

Ficha catalográfica

824t
Tópicos em Sustentabilidade & Conservação /
organizadores: Bruno Corrêa Barbosa ... [et al.]. –
Juiz de Fora, MG: Edição dos autores, 2017.
107 p.: il. 21 x 29,7 cm.

ISBN: 978-85-92704-01-8

1. Educação ambiental. 2. Sustentabilidade.


3. Recursos naturais. I. Barbosa, Bruno
Corrêa.

CDD 570

Livro disponibilizado no site www.fazendatriqueda.com.br


*Os autores são responsáveis por todo o conteúdo contido nos respectivos capítulos

Juiz de Fora/2017
Sumário

Capítulo 1 - A sabedoria ancestral brasileira e a atual necessidade de sustentabilidade

.............................................................................................................................................................................. 6

Capítulo 2 - Bem-estar animal: um dos critérios da sustentabilidade na pecuária....... 17

Capítulo 3 - Potencial de geração de energia com o biometano obtido de resíduos

agropecuários .............................................................................................................................................. 47

Capítulo 4 - Análise financeira do sistema silvipastoril na pecuária de corte ................ 58

Capítulo 5 - Soluções sustentáveis para residências rurais: fossa de evapotranspiração

e círculo de bananeiras ............................................................................................................................ 70

Capítulo 6 - Estado de conservação da Serra da Mantiqueira: Ameaças, lacunas, avanços

e perspectivas do conhecimento da flora .......................................................................................... 77

Capítulo 7 - Áreas verdes urbanas e a sua participação na qualidade de vida de humanos

e animais em grandes cidades ............................................................................................................... 87

Capítulo 8 - Modelos para estimar as perdas de solo ............................................................... 95


Palavra dos organizadores

Com o objetivo de consolidar Fórum Ambiental e Florestal de Juiz de Fora e devido à


preocupação coletiva dos organizadores de desfrutamos de um material de relevância acadêmica
na área de sustentabilidade e conservação acessível aos estudantes de todo o Brasil, em 2016
nasceu o projeto que encaminhou com a elaboração de um livro intitulado “Sustentabilidade:
Tópicos da Zona da Mata Mineira”. Posteriormente com feedback positivo que tivemos,
idealizamos escrever um novo livro que contará com uma edição anual, e dividido em capítulos
que abordam conhecimentos apresentados durante todo o evento e ao mesmo tempo uma
síntese do que já se sabe sobre os diversos tópicos no Brasil e discussões internacionais dos
temas.
Após algumas tentativas de organizar os capítulos de forma lógica e conectada resolvemos
apresentar o livro em duas seções. Na primeira são tratados assuntos ligados a conhecimento
tradicional, bem-estar de animais de criação e sustentabilidade. Na segunda seção são abordados
os temas de conservação.
Esperamos que este livro-texto possa continuar sendo um estímulo para muitos
estudantes e profissionais da área. Agradecemos a cada um dos autores que contribuíram para a
realização do livro, dedicando parte de seu tempo, de suas vidas.

Bruno Corrêa Barbosa


Leonardo de Oliveira Resende
Fábio Prezoto
Elesier Lima Gonçalves
CAPÍTULO 1

A SABEDORIA ANCESTRAL BRASILEIRA E A ATUAL


NECESSIDADE DE SUSTENTABILIDADE

Daniel Sales Pimenta

Departamento de Botânica, ICB, Universidade Federal de Juiz de Fora, Campus Universitário,


Bairro Martelos, Juiz de Fora, Minas Gerais, CEP 36036-900, Brasil.
Contato: daniel.pimenta@ufjf.edu.br

Várias etnias dos povos ancestrais nos ensinam a cultuar a natureza até
espiritualmente. Assim, os antigos nos mostram o caminho para um futuro da humanidade:
sair da pegada econômica da sustentabilidade e mudar a forma de enxergar a vida. Há futuro
se resgatamos o passado. Não temos tempo, como sobrevivência da humanidade, para ficar
maquiando o capitalismo e mantendo essa exploração desconectada dos recursos naturais
do planeta.
O consumo dos recursos naturais está desenfreado ou não? Nosso modelo de
civilização é autosustentável? A globalização leva em conta a diversidade sociocultural do
planeta? Existe risco real para a espécie Homo sapiens no planeta? No Brasil, respeitamos as
diferenças e temos uma identidade?
Este texto foi provocado pelas incessantes arremetidas de nosso capitalismo
ignorante contra os povos originários dessas terras que viemos a denominar Brasil. As terras
indígenas sofrem a ameaça do poder do Agronegócio, da estupidez religiosa preconceituosa
e das mineradoras e, de modo geral, todas as conquistas da Constituição de 1988 relativas
aos povos indígenas vêm sendo desconstruídas pelo pacto capitalista do executivo,
legislativo e judiciário sob o patrocínio do velho modelo subserviente aos EUA. Assistimos

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CAPÍTULO 1
atônitos ao desmonte de empresas estatais como a Petrobrás e serviços como as
Universidades públicas. Mas os povos indígenas já vivem um drama ainda maior desde 1500
e deles nos vêm ensinamentos: há que resistir, de pé, até o último guerreiro; há que preservar
até a última conexão com os encantados, entoando o canto/reza sagrado; há que preservar
a leveza, até a última criança.

Desenvolvimento do assunto
Sabedoria se acumula na vivência, enquanto conhecimento se acumula em nosso
modelo científico, com formulação de um problema, aleatoriedade e repetição no modelo de
estudo, matemática contra subjetividade e avaliação de aspectos reducionistas para eliminar
fatores não focados na pesquisa. A Universidade surgiu para disseminar o conhecimento e
vai setorizando e especializando as pessoas já que o aprofundamento de conhecimento nas
diversas áreas torna impossível alguém se formar em tudo. A racionalidade impera nesse
baluarte da vanguarda tecnológica e hoje ela dissemina esse reducionismo racional e egóico
do arquétipo do conhecimento acumulado no manto sacralizado do jaleco, parafraseando
Rubem Alves que no livro “Filosofia da ciência: introdução ao jogo e suas regras” em 1981 já
denunciava ironicamente que, para os cientistas, a imparcialidade e verdade andavam nos
bolsos dos seus jalecos. Disserto que o modelo Cartesiano inaugurado pela publicação do
livro “Discurso do Método” por René Descartes em 1637, contribuiu para a evolução de nossa
civilização quando enfrentou a dominação autoritária da Igreja e sua inquisição absurda com
um conhecimento gerado com auxílio da matemática não subjetiva (1 + 1 = 2, independente
do que a igreja achava sobre isso) e avaliação de aspectos específicos de um problema que
permitissem isolar causas e efeitos. O problema é que hoje percebemos que há mais fatores
a serem considerados do que os traduzidos em números (“um mais um é sempre mais que
dois”, segundo Beto Guedes e Ronaldo Bastos) e a avaliação reducionista causa diversos
efeitos colaterais pela falta de visão holística dos problemas.
Segundo o senso do IBGE de 2010, se autodenominam indígenas 896 mil pessoas que
compõem 305 etnias e 274 línguas diferentes no Brasil. Chamar todos de “índios” é a
preguiça perniciosa e irresponsável do “civilizado”, a começar pelo europeu invasor, que
resume uma diversidade de culturas e diferentes formas de interpretar a vida e vive-la de
diferentes formas e significados.
Mesmo também sendo reducionista sintetizo aqui aspectos relevantes dos indígenas
que de maneira geral reverenciam a natureza e seus elementos, numa postura não
individualizada, mas de grupo orgânico, sacralizando o dia-a-dia. Respeitam os anciões e
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CAPÍTULO 1
pajés e tentam preservar sua cultura estruturante de toda a aldeia. Se muitos destes
indígenas são hoje interpretados como controversos, estão é tentando sobreviver (são
apenas 0,4% da população brasileira hoje e eram em mesma quantidade que a população
europeia em 1500!).
Não posso dar a chance aos céticos de denunciarem aqui uma postura romântica e de
idealização generalizada dos indígenas, mas posso e devo destacar formas poéticas de
encontro e desfrute da vida em interação sagrada com a natureza da maioria das etnias que
tive o privilégio de conhecer, mesmo que a partir de minha visão forjada nessa mesma
cultura ocidental limitada e preconceituosa.
Nesse sentido, a sustentabilidade racional proposta neste evento (“5° Fórum
Ambiental e Florestal de Juiz de Fora“) deve ser precedida pelo sentimento profundo de
pertencimento à natureza. Esse pertencimento nunca se desvinculou das culturas indígenas,
mas sempre esteve desvinculado da cultura europeia que continua insistindo em nos
comandar, agora liderada por EUA e China. Um exemplo de ação concreta de que esse
pertencimento gera sustentabilidade é o trabalho de reflorestamento e educação ambiental
liderado por Benki Ashaninka no Acre/BR. Mais especificamente a etnia Ashaninka exerce
um papel fundamental em Marechal Thaumaturgo/AC, onde a floresta amazônica se
incrementa e produtos sustentáveis dela são produzidos. Se conectarmos esse trabalho com
os Rios Voadores ou Flutuantes (Nobre, 2014) chegamos à conclusão que é graças aos índios
da Amazônia que pertencendo ao contexto da floresta amazônica temos possibilidades de
vida no Sudeste, onde moramos, e exemplos de convivência harmônica que de fato
conservam a floresta a partir de uma espiritualidade ancestral.
É posto a todo momento e por várias áreas do conhecimento científico que o Homo
sapiens corre eminente perigo e exponencialmente insiste neste modelo perverso de
separação do homem e seu desfrute dilapidador da natureza, como se nós não fôssemos
parte dela e completamente dependentes de suas benesses. Nossa sociedade mundial sofre
uma guinada capitalista e se baseia no egoísmo e individualismo. Em muitos discursos do
passado e ainda atualmente se defende a eugenia, um racismo abominável, e assim ficam
ainda mais distantes flora e fauna em extinção. A ganância dos magnatas mundiais se
globaliza e assistimos ainda perplexos, essa ignorância irresponsável do produtivismo e
dilapidação desenfreada dos recursos naturais desse lindo planeta azul de nosso acolhedor
sistema solar.
Previsões, até mesmo da ciência, dão conta do grave modelo consumista ocidental que
nos conduz a autodestruição. Mas os poderosos seguem em sua estratégia baseando-se numa
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CAPÍTULO 1
visão científica que afirma que na natureza sempre ocorre a sobrevivência do mais apto. Uma
base forte desse argumento é a “sobrevivência do mais apto” apregoada a Charles Darwin,
mas que foi proposta por Spencer e refutada por Darwin nos últimos escritos, quando
apontou a “sobrevivência do mais gentil” (Seppala, 2013; Music, 2013). Assistimos atônitos
a cultura da sobrevivência individualizada dos mais sagazes e agressivos, articulados numa
rede de competição que utiliza todos os recursos, incluindo os moralmente desprezíveis,
como por exemplo, a espionagem da famigerada CIA americana e a anuência de uma mídia
absurdamente comprometida. No Brasil testemunhamos um golpe impetrado por
denunciados de corrupção que chafurdam na velha máxima do “farinha pouca meu pirão
primeiro”. O perigo vai além, expande-se por todo o planeta e a ganância está generalizada e
em ascensão. Mas a gentileza com a natureza e, portanto, com todos os seres vivos é
apregoada por várias religiões pelo mundo e também pela cultura indígena, que compõe a
sabedoria ancestral brasileira.
Vários povos ancestrais pelo mundo previram e ainda nos avisam do rumo inexorável
de autodestruição. Os Yanomami, que habitam a floresta amazônica entre Brasil e Venezuela,
estão rezando em suas cerimônias para todo o planeta e avisam que a ganância do homem
branco não pode destruir a floresta amazônica sob inexorável desastre de queda do céu
(Kopenawa & Albert, 2015). Os índios Hopi (Arizona, EUA) avisam, insistentemente, que se
o povo branco dominador não diminuir seu ímpeto e não respeitar o povo vermelho que em
ínfima quantidade ainda detém a sabedoria, vamos todos desaparecer. Os índios Kogi da
Colômbia não aguentaram ver o coração da terra, na Sierra Nevada de Santa Marta onde
vivem, mostrar sinais de sofrimento e chamaram um representante do irmão mais novo para
documentar as graves previsões de seus xamãs, representantes dos irmãos mais velhos que
detém a sabedoria e também demonstram que nós, os irmãos mais novos, estamos cegos
com nossos egos embevecidos de nossa capacidade de invencionices tecnológicas.
Documentários da BBC divulgam há alguns anos esse alerta (“O coração da Terra”, 1990;
“Aluna”, 2003).
No Brasil desde 1500 os povos ancestrais são insistentemente até nossos dias
desprezados e massacrados, mas continuam lutando. Nos ensinam que a morrer,
morreremos de pé lutando contra essa interpretação de que o ser humano é naturalmente
competitivo, apresenta genes egoístas e deve sobreviver sendo o mais apto nestes tempos
sombrios. Muitas etnias, inclusive, tem a história oral de que o mundo já se extinguiu algumas
vezes. O céu já caiu para os Yanomami e eles estão agora rezando para que ele não caia de

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CAPÍTULO 1
novo (Davi Kopenawa e Bruce Albert, “A queda do céu: Palavras de um xamã yanomami”,
2015).
É uma luta contínua. Nossa civilização é que se desespera com a consequência de
seus/nossos próprios atos. O livro “O ponto de mutação” de Fritjof Capra (1983) discute
nossa agonia civilizatória e possíveis saídas e Sua Santidade, o Dalai Lama, já declarou que
não adianta rezar para um Deus quando o problema foi criado por nossos próprios atos. E os
índios continuam altruisticamente rezando para todo o planeta, conduzindo suas vidas com
valores diferentes dos nossos ou cooptando com nosso modelo e senescendo como cultura
e, aí, perdemos suas rezas a nos favorecer a todos... será que as rezas importam? Até a ciência
já admite que sim... (Moreira-Almeida et al., 2014).
A discussão que questiona essa visão de nossa natureza egoísta já chegou à academia.
Ela também tem tido reforços como Sua Santidade o Dalai Lama, que no livro “O universo em
um átomo: o encontro da ciência com a espiritualidade” (2006) afirma que esta visão
reducionista e radical do gene egoísta, do novo Darwinismo, só enxerga a negatividade de
nossa natureza, mas que não leva em conta o altruísmo e a responsabilidade ética de nossas
descobertas tecnológicas. Elisabet Sahtouris dentre outros autores, incluindo-se aqui Lynn
Margulis que abriu nossa mente para a endosimbiose, afirma que nossa natureza é
colaborativa. Que, biologicamente, comprova-se que os organismos vivos além de
apresentarem autopoiese (a capacidade de se multiplicar e se estabelecer dentre outros
organismos) e Holapatia (sistemas de organização intrínseca e inserida em sistema
organizacional mais abrangente, como células que compõem um órgão, que compõe parte
de um corpo, que se insere em uma comunidade e assim sucessivamente), apresentam um
processo sucessivo de maturação: estabelece-se na unidade, compõe a diversidade com sua
individualidade intrínseca, que leva a uma competição por recursos. Essa competição cria
tensão e conflito com o meio e há aí uma negociação. Terá sobrevivido e, portanto,
solucionado o conflito da competição se tiver passado por processo de COLABORAÇÃO
gerando nova unidade mais complexa. O diagrama de Sahtouris é uma espiral ascendente
em unidades sucessivamente mais complexas, níveis mais elevados de cooperação
(“EarthDance: Living Systems in Evolution”, 2000).
Se não tivéssemos seguido, como civilização, a mentalidade egóica e irresponsável da
dominação mercantilista/capitalista europeia, seriamos hoje mais colaborativos, éticos e
criativos na diversidade. Essa pluralidade gera resiliência para enfrentarmos os desafios de
sobrevivência nos tempos atuais e futuros. A mantermos nossa vida nesse cotidiano de

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CAPÍTULO 1
produção, subserviência à essa mídia imbecil e positivismo tecnológico mantido pela ciência
arrogante, não duraremos para contar a história.
A Universidade está na vanguarda da ciência e, portanto, é um referencial do
pensamento racional. Por isso mesmo tem de atuar de forma colaborativa focando a
sobrevivência da espécie humana! Mas o condicionamento é de competição, produção de
artigos a serem publicados nos EUA ou Europa, seguindo o padrão estabelecido e sem
esboçarmos resistência ou alternativas ao modelo hegemônico mundial/ocidental. Mas
muitos de nós resistimos e insistimos em criar caminhos alternativos que tragam sabedoria
ao conhecimento.
A UFJF entrou na discussão colaboração x competição e tem ações que interagem com
a sabedoria ancestral brasileira. Ações concretas têm sido tomadas e mesmo sabendo que
não é o suficiente, listo algumas iniciativas::
-Implantamos o “Encontro de Saberes” que em dois semestres letivos atingimos 120
alunos de graduação, 10 de pós-graduação e 50 de extensão. Nestes encontros já trouxemos
convidados ilustres como Ailton Krenak, Álvaro Tukano e Benki Ashaninka. Estes encontros
seguem modelo iniciado na UNB pelo Professor José Jorge de Carvalho do INCTI (mas uma
sala de aula em meio a uma clareira de mata no Jardim Botânico da UFJF já tinha sido cravada
ali antes mesmo da parceria com a UNB). No site da UFJF encontra-se uma mostra de
atividades do Encontro de Saberes na nossa acolhedora sala de aula na floresta.

Figura 1 – Encontro de saberes na sala de aula da floresta. À esquerda Benki Ashaninka e


Naiara Tukano, à direita Ailton Krenak. Fotos Caíque Cahon/UFJF.

Em 2015 a UFJF foi a primeira Universidade Federal a titular um indígena como


Professor Honoris Causa, honraria dada a Ailton Lacerda Krenak, líder indígena que a
décadas defende a sabedoria ancestral brasileira em meio a esse quadro caótico que se

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CAPÍTULO 1
aprofunda em nosso modelo civilizatório ocidental. O discurso do Ailton e do Ministro da
Cultura estão disponibilizados nos sites: https://www.youtube.com/watch?v=4P97_Dn54aA e
https://www.youtube.com/watch?v=9KLZmUDeUUc. Cabe ressaltar que está honraria não
substitui uma titulação de “Notório Saber” a qual não está prevista no Regimento da UFJF,
mas que poderia ser almejada por outras Universidades brasileiras.
Realizamos o Curso de Especialização semipresencial “Cultura e História dos Povos
Indígenas”, no qual fizemos questão de realizar encontros presenciais com a sabedoria
ancestral onde tivemos o privilégio de contar com o apoio de Ailton Krenak, Álvaro Tukano,
Sapaim, Kaká Werá Jecupé, Rodrigo Arareju, dentre outros. Como um Curso à distância
(EAD), não daria certo mesmo vivenciar pajelança pelo computador... o cheiro da fumaça, o
chacoalhar da maraca, o canto sagrado, a roda de mão dadas, dentre muitas questões foram
fundamentais na vivência da sabedoria ancestral, daí a potência que tivemos em nossos
encontros presenciais.

Figura 2 – Ailton Krenak, Sapaim Kamaiura e Álvaro Tukano (da esquerda para direita) na
sala de aula da floresta (Foto arquivo CHPI).

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CAPÍTULO 1
Implantamos no centro do Campus um Jardim Sensorial que resgata o referencial do
Opy (casa de reza Tupi-Guarani), com reverencia aos quatro elementos (fogo, água, terra e
ar) e respectivos quadrantes (leste, sul, oeste, norte) e onde fizemos questão de referenciar
o canto/reza: “Nhamandú Mirin” (Pequeno Sol), “Tuwixá Nheen” (Grande Espírito), “Ambá
Jekupé” (Morada de Jekupé), “Eru Endy Eté” (Dê-me luz verdadeira), “Xe Reikórapé” (No
caminho de minha vida), “Xe ata Arandúrapé” (Eu vou seguindo no caminho da sabedoria).
Com abertura em abril de 2014 tivemos mais de sete mil visitantes e numa conta tímida, em
torno de 30% dos visitantes se sensibilizaram. Principalmente quando percorrendo as 30
plantas sensoriais por tato e olfato com olhos vendados e descalços (com alteração também
de pisos nos quadrantes). O espaço tem se mostrado terapêutico, trazendo paz e harmonia
ao visitante, e uma vivência marcante em interdependência com os vegetais, portanto,
atuando também em educação ambiental. A experiência vai além e remete o visitante a um
ambiente sagrado (opy). Convido o leitor a vivenciar esta experiência, não dá para teoriza-
la, mesmo assim teimamos na conexão do conhecimento com a sabedoria e concluímos uma
dissertação de mestrado e numa linguagem científica, pretensiosamente discutimos essa
energia de êxtase e contentamento (“Jardim Sensorial da Universidade Federal de Juiz de
Fora, um espaço de terapia e conscientização”. Silvério, 2017).

Figura 3 – Jardim sensorial da Universidade Federal de Juiz de Fora. Fotos acervo Jardim
Sensorial

As ações vão se multiplicando. Fractais de amor pelo caminho do coração por muitos
vão reforçando a pegada colaborativa. Mas temos tempo? A destruição de Gaia pela
insensatez e falta de ética de nossa sociedade ainda tem reversão? Se não, morreremos
lutando, em pé, como nos ensinam estes povos ancestrais que no mundo todo humildemente
apontam a sabedoria como resiliência.

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CAPÍTULO 1
Além do planeta, nossa vida tem um propósito, somos co-criadores do Universo,
afirma Ervin Lazlo, que, em pelo menos dois de seus vários livros (O Campo Akashico, 2008,
e Cosmos, 2011), chama a atenção para o fundamental reencontro com essa sabedoria que a
milênios consegue conectar-se com o sagrado e que vive nessa vibração. Sua obra faz a
conexão entre física quântica, biologia, dentre outras áreas do conhecimento, com o grande
espírito ou campo akashico, que abrange ilimitadamente espaço e tempo e relaciona o
intento à nossa capacidade de livre arbítri. Propõem em linguagem científica que podemos
gerar materialização de energias positivas, modificando nossa existência e foca na
evanescência das partículas sub-atômicas, como a “partícula de Deus”, comprovada a poucos
anos pela revelação do Bóson de Iggs no acelerador de partículas do CERN na Suíça.
Partículas evanescentes que se materializam e voltam a energia e que nos permitem ir
buscar, pelo intento, as energias sagradas que se materializarão em nós. Esse intento pode
ser conduzido em cerimônias ancestrais, como meditação, cerimônia de ayuasca, de rapé,
pelos sonhos e tantas formas que a milênios acompanham a sabedoria humana.
Com os ateus podemos até conciliar com uma existência baseada na ética, mas com os
materialistas gananciosos que criam o preconceito de uma vida emburrecente, não tem como
conviver...eles “precisam” ocupar e explorar todos os espaços do planeta e, infelizmente,
assistimos isso agora no Brasil pelo avanço do agronegócio e mineração na Amazônia, sendo
que a mata atlântica já foi dizimada e o cerrado agoniza. Cabe ressaltar que sustentabilidade
sem pertencimento à natureza é capitalismo maquiado.
Se qualquer ser humano se permitir meditar profundamente vai sentir mais que
entender que o sagrado está dentro de cada um de nós. Muitas sabedorias orientais
milenares também tentam nos ensinar essa verdade. Portanto, a meu ver, a sabedoria
ancestral é fundamental em nossas vidas. Não temos de sobreviver nesse modelo mecânico.
A vida é muito mais que nosso entendimento tão limitado e um pouco de humildade e
serenidade para admitir que estamos em processo de evolução contínua, assim como todo o
universo, é um pensamento lógico e perfeitamente científico.
Se você prefere a meditação, temos, por exemplo, Paramahansa Yogananda a nos
mostrar o caminho pela técnica da Kriya Yoga (Autobiografia de um Yogue, 1951). Se quer
seguir com o auxílio de muitas plantas de poder, temos muitos povos ancestrais a também
nos mostrar o caminho do acolhimento, do respeito, do desapego material, da ética
responsável, enfim, do desapego de uma vida sem presença e agitada, para uma vida serena
e colaborativa com o sagrado dentro e fora do corpo individual.

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CAPÍTULO 1
A escolha é sua, com seu livre arbítrio, porém não dá para ficar passivo, com esse
capitalismo ativo! E sustentabilidade precisa de alteração da visão de inserção individual no
mundo.

Considerações finais
Biologicamente podemos enxergar a saída colaborativa, mesmo que nos tempos
atuais assistimos perplexos a guinada competitiva, a institucionalização da falta de ética e
consequente e persistente barbárie.
A Universidade tem sua responsabilidade neste enfrentamento e este livro é mais um
grão de areia na construção de uma saída para salvarmos a espécie humana. A espécie que
tem o privilégio de conectar-se com o sagrado e tornar justificável nossa existência.
Nessa interpretação a vida é o desafio de tocarmos o sagrado por nosso intento e,
assim, vencermos o desânimo tão bem retratado na Capela Sistina por Michelangelo.
Nossos irmãos “indígenas” ainda nos acolhem e instigam nossas contradições e
avisam que nossa infantilidade pode comprometer a todos.
Portanto, há futuro se resgatamos o passado. Não podemos viver do passado, mas
aprender e voltar a sentir a verdadeira natureza humana. Como construir um futuro com
base na sabedoria ancestral? A resposta é a construção com o coração a cada dia. Bom
trabalho!

Referências bibliográficas
Alves, R. 1981. Filosofia da ciência: introdução ao jogo e suas regras. São Paulo. Editora
Brasiliense.
Capra, F. 1983. O ponto de mutação. São Paulo. Editora Cultrix.
Descartes, R. 2001. Discurso do Método. Porto Alegre. Editora LP&M.
Kopenawa, D. & Albert, B. 2015. A queda do céu: Palavras de um xamã yanomami. São Paulo.
Editora Companhia das Letras.
Lama, D. 2006. O universo em um átomo: o encontro da ciência com a espiritualidade. Rio de
Janeiro.Editora Ediouro.
Lazlo, E & Currivan, J. Cosmos - Unindo ciência e espiritualidade para um novo entendimento
do universo e de nós mesmos. São Paulo. Editora Cultrix.
Lazlo, E. 2008. O Campo Akashico,uma teoria integral de tudo. São Paulo. Editora Cultrix.

15
CAPÍTULO 1
Moreira-Almeida, A.; Koenig, H.G. & Lucchetti, G. 2014. Clinical implications of spirituality to
mental health: review of evidence and practical guidelines. Revista Brasileira de
Psiquiatria, 36 (2): 176–182.
Music, G. 2013. The good life: Wellbeing and the new science of altruism, selfishness and
immorality. New York, NY: Routledge.
Nobre, A.D. 2014. O Futuro Climático da Amazônia. Relatório de Avaliação Científica. São José
dos Campos, SP. Edição ARA, CCST-INPE e INPA.
Sahtouris, E. 2000. EarthDance: Living Systems in Evolution.
Seppala, E. 2013. The compassionate mind. Observer. 26 (5), 20-25.
Silvério, P.H.B. 2017. Jardim Sensorial da UFJF, um espaço de terapia e conscientização.
Dissertação de Mestrado, PGECOL. UFJF. 79p.
Yogananda, P. Autobiografia de um Yogue. Los Angeles. Editora Self-Realization Fellowship.

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CAPÍTULO 2

BEM-ESTAR ANIMAL: UM DOS CRITÉRIOS DA


SUSTENTABILIDADE NA PECUÁRIA

Aline Cristina Sant’Anna1,2*


Maria Camila Ceballos Betancourt2
Maria Guilhermina Marçal Pedroza3
Tiago da Silva Valente2,4

1 Departamento de Zoologia, ICB, Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, MG.
2 Grupo de Estudos e Pesquisas em Etologia e Ecologia Animal (ETCO), Departamento de
Zootecnia, Unesp Campus de Jaboticabal, Jaboticabal, SP.
3 PPG em Comportamento e Biologia Animal, ICB/UFJF, Juiz de Fora, MG.
4 Livestock Gentec, University of Alberta, Edmonton, Canada.
Contato: ac_santanna@yahoo.com.br

As práticas da produção sustentável estão focadas em aspectos ambientais,


econômicos e de responsabilidade social, que visam a obtenção de produtos seguros, éticos
e de alta qualidade. Neste contexto, o bem-estar dos animais de fazenda passa a ser incluído
como um dos critérios para promover a sustentabilidade na produção pecuária (McGlone,
2001; Broom, 2010). Além de apresentar influência direta na qualidade intrínseca dos
produtos, como carne, ovos e leite, a condição de bem-estar dos animais e as práticas de
manejo empregadas podem impactar na aceitação de certas marcas ou produtos pela
sociedade. Assim, a qualidade dos produtos de origem animal passa a incluir também

17
CAPÍTULO 2
aspectos éticos relacionados ao modo de produção, como os impactos ao meio ambiente e
bem-estar dos animais.
Segundo Broom (2010), um sistema ou processo pode ser considerado sustentável
quando este é aceitável na atualidade e seus efeitos serão aceitáveis no futuro,
particularmente em relação à disponibilidade de recursos, suas consequências e ações
morais. Por outro lado, um sistema produtivo pode ser considerado insustentável por
diversos motivos, tais como, utilização ineficientemente dos recursos alimentares mundiais,
promoção de efeitos negativos à saúde humana, por colocar em risco o bem-estar dos
animais, por causar prejuízos ambientais e redução da biodiversidade ou por não
proporcionar a conservação dos recursos naturais existentes, e pelo uso de modificações
genéticas inaceitáveis. Em relação aos aspectos econômicos, um sistema pode ser
insustentável se não adotar um ‘modelo de comercialização justo’, no qual os produtores dos
países pobres não são devidamente recompensados, ou por causar danos às comunidades
rurais e povos tradicionais (Broom et al., 2013).
A sustentabilidade das cadeias produtivas também passa pela transparência sobre os
processos e práticas adotados em um de seus elos. Sabe-se que avanços vêm ocorrendo no
desenvolvimento e promoção de boas práticas de manejo e de produção em nosso país, no
entanto, para a construção de uma imagem positiva destas cadeias é necessário realizar
também um trabalho de conscientização da sociedade civil. Sabemos que apenas com
informações transparentes sobre como os produtos de origem animal são obtidos e
processados será possível que se consolide um mercado consumidor consciente dos
impactos de suas práticas de consumo. Nesse capítulo serão apresentadas estratégias de
implementação das boas práticas de bem-estar e sustentabilidade na produção animal, além
de levantar reflexões sobre os seus impactos no modo como os consumidores julgam os
atuais sistemas de criação.

Um breve histórico da ciência do bem-estar animal


O bem-estar animal é considerado um tema complexo e multifacetado, que envolve
dimensões científicas, éticas, econômicas, culturais, sociais, religiosas e políticas (OIE, 2015).
A abordagem científica do bem-estar animal teve suas bases teóricas formuladas
principalmente nas últimas quatro décadas. O marco histórico no seu surgimento como uma
área do conhecimento foi a publicação, em 1965, do que ficou conhecido como Relatório
Brambell, intitulado Report of the Technical Committee to Enquire into the Welfare of Animals
kept under Intensive Livestock Husbandry Systems (Brambell, 1965). Esse documento foi
18
CAPÍTULO 2
resultado dos trabalhos de um comitê de mesmo nome, estabelecido em resposta às
preocupações da opinião pública sobre as condições com que os animais de fazenda eram
mantidos em sistemas intensivos de criação na Grã-Bretanha. O documento apresentou um
diagnóstico das condições de criação, além da definição dos padrões mínimos que deveriam
ser atendidos para um bom bem-estar destes animais.
Em 1976, Barry O. Hughes propôs que bem-estar seria o estado de harmonia do
animal com seu ambiente, apresentando completa saúde física e mental. Embora seja de fácil
compreensão, a aplicação deste conceito se restringe às situações em que o animal está em
boas condições em termos de qualidade de vida. Por sua vez, o conceito proposto mais tarde
por Donald M. Broom (1986) define bem-estar como estado do animal durante as suas
tentativas de se ajustar ao seu ambiente. Este tornou-se amplamente utilizado por incluir
todas as possíveis situações que o animal pode enfrentar em termos de qualidade de vida.
Assim, o bem-estar pode variar de muito bom, quando um indivíduo goza de plena saúde
física e mental, a muito ruim, quando ele está na eminência da morte, por exemplo. Uma das
implicações deste conceito é o fato de que o bem-estar animal pode ser avaliado com a
aplicação de indicadores de bem-estar cientificamente padronizados (Broom, 1991).
De acordo com Fraser (1997) o bem-estar dos animais pode ser considerado à luz de
três principais abordagens, sendo elas ‘a vida natural’, ‘sentimentos ou emoções’ e
‘funcionamento biológico’. Na primeira abordagem, o nível de bem-estar dos animais
depende das oportunidades que estes possuem para expressarem comportamentos naturais
e estarem em ambientes o mais próximo possível do ‘natural’ para a espécie em questão. De
acordo com a abordagem dos sentimentos, o bem-estar é dependente dos estados mentais
que os animais vivenciam, sendo importante as experiências subjetivas como medo,
sofrimento ou prazer (Duncan, 1993, 1996). Por fim, a terceira abordagem tem foco no
funcionamento biológico e considera aspectos relacionados à ausência de doenças,
ferimentos, boa condição nutricional, desempenho reprodutivo e nível de crescimento.
Historicamente, a ciência do bem-estar se fundamentou na formulação de
metodologias e protocolos de avaliação que buscam identificar se os animais estavam livres
de condições ambientais adversas ou emoções negativas, tais como dor, medo e privação de
necessidades fundamentais, dentre elas, alimento, água e contato social. A própria definição
das ‘cinco liberdades’ do bem-estar animal (FAWC, 2009), amplamente disseminadas e
conhecidas nesta área, confirma o fato de que o enfoque é em manter os animais livre de
condições prejudiciais, a saber: i) livre de sede, fome e má-nutrição, ii) livre de dor,
ferimentos e doença, iii) livre de desconforto, iv) livre para expressar comportamentos

19
CAPÍTULO 2
naturais e v) livre de medo e distresse. As ‘cinco liberdades’ foram formuladas como
princípios básicos, atuando como um referencial do que deveria ser disponibilizado aos
animais num dado ambiente de criação.
Em uma iniciativa mais recente, pesquisadores integrantes do Projeto Welfare
Quality® propuseram quatro princípios gerais a fim nortear a avaliação do bem-estar animal.
Segundo eles os animais deveriam dispor de ‘boa alimentação’, ‘bom alojamento’, ‘boa saúde’
e ‘comportamento apropriado’. Associados aos quatro princípios foram estabelecidos 12
critérios de bem-estar animal (Qua. 1), para os quais foram formuladas medidas (ou
indicadores) padronizados que pudessem gerar informações válidas e confiáveis sobre a
condição de bem-estar dos animais com base em cada um dos critérios (Welfare Quality,
2009a,b). Como parte deste projeto foram formulados protocolos de avaliação do bem-estar
dos animais envolvidos nas principais cadeias produtivas (bovinos, suínos e aves). Além
disso, foram propostas estratégias práticas para melhorar o bem-estar dos animais tanto nas
fazendas quanto no manejo pré-abate. Por fim, buscou-se alinhar as demandas dos
consumidores a um sistema de informação transparente sobre a condição de bem-estar e a
qualidade dos produtos de origem animal.
Mais recentemente a ciência do bem-estar vem enfrentando uma mudança de
paradigmas, passando a considerar-se que a qualidade de vida dos animais deva ser avaliada
com base nas experiências vividas por eles, tanto negativas, quanto positivas (Mellor e
Beausoleil, 2015). Assim, para garantir altos níveis de bem-estar é preciso proporcionar aos
animais ausência de experiências negativas, bem como oportunidades de vivenciar
experiências positivas (Mellor, 2016). Segundo o ‘Modelo dos Cinco Domínios’ proposto por
David Mellor, o bem-estar pode ser acessado em domínios físicos (que incluem nutrição,
saúde, ambiente e comportamento) e domínio mental (que inclui os estados mentais, ou seja,
emoções). Segundo este modelo, para que seja possível uma ampla avaliação das condições
de bem-estar, para todos os cinco domínios devem ser incluídos indicadores que consigam
acessar tantas experiências negativas quanto positivas vivenciadas pelo animal.
Por isso, grande esforço dos pesquisadores vem sendo alocado no desenvolvimento
de indicadores positivos de bem-estar (Edgar et al., 2013; Anderson et al., 2015). Assim,
metodologias que incluem testes de viés cognitivo (Mendl et al., 2009) e de comportamento
antecipatório (Wichman et al., 2012) passaram a ganhar importante destaque na ciência do
bem-estar animal na última década.

20
CAPÍTULO 2
Quadro 1 – Esquema de avaliação do bem-estar animal proposto pelo Projeto Welfare
Quality® (Modificado de: Welfare Quality, 2009a,b).
Princípios Critérios Exemplo de Medida
1. Ausência de fome
Escore de condição corporal
prolongada
Boa alimentação
2. Ausência de sede Quantidade e qualidade da água disponível aos
prolongada animais
3. Conforto para Escore de higiene, qualidade do material de
descanso cama
Porcentagem de animais ofegantes,
Bom alojamento 4. Conforto térmico
porcentagem de animais com tremor
5. Facilidade de Densidade de alojamento (kg / m2 de espaço
movimento disponível), acesso a área externa
Escore de locomoção, ocorrência de ferimentos
6. Ausência de injúrias
e hematomas
Taxas de mortalidade e de descarte,
7. Ausência de doenças
Boa saúde prevalência de diarreias
Realização de manejos potencialmente
8. Ausência de dor
aversivos tais como, descorna, castração, corte
induzida por manejo
de cauda e debicagem
9. Expressão de Frequência de comportamentos agonísticos,
comportamento social frequência de comportamento filiativos
10. Expressão de outros Expressão de comportamentos anormais (como
Comportamento comportamentos estereotipias, automutilação)
apropriado 11. Boa interação Registro da adoção (ou não) de boas práticas de
humano-animal manejo, teste de distância de fuga
12. Estados emocionais
Avaliação qualitativa do comportamento (QBA)
positivos

Bem-estar na sociedade contemporânea


É crescente o interesse pela qualidade de vida dos animais em geral, o que vem
ocorrendo graças a mudanças nas relações entre humanos e animais, como também pela
consolidação de visões éticas que conferem a eles valor próprio e, portanto, o entendimento

21
CAPÍTULO 2
de que devem possuir direitos fundamentais. Este é um tema de extrema relevância para
todas as atividades humanas que envolvam o uso de animais, como as atividades esportivas
e a pesquisa científica, com destaque especial para a produção pecuária.
Por essa razão, organizações internacionais que tratam de temas relacionados à
saúde animal e à segurança alimentar, como a OIE (Organização Mundial da Saúde Animal),
a FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação) e a EFSA (European
Food Safety Authority), têm incluído o bem-estar animal como questão prioritária em suas
agendas. Padrões e recomendações internacionais vêm sendo desenvolvidos, visando
garantir condições adequadas de bem-estar aos animais. Da mesma maneira, no âmbito
legal, diversos países vêm formulando leis e normas específicas que visam a proteção animal
e a garantia de que os processos e produtos sejam desenvolvidos respeitando padrões pré-
estabelecidos de manejo, segurança e redução de riscos aos animais e aos trabalhadores.
Neste âmbito, a legislação europeia tem sido referência quanto à proteção animal, como por
exemplo com a Diretiva 1999/74/EC de 19 julho de 1999, que estabeleceu padrões mínimos
para as instalações em granjas de galinhas poedeiras, banindo sistemas de criação em gaiolas
a partir do ano de 2012 (EC, 1999). Embora sua validade seja restrita ao bloco europeu, tais
diretivas vêm produzindo impactos globais positivos em termos de bem-estar animal, parte
deles em função dos princípios de isonomia aplicados ao comércio internacional.
O Brasil figura-se atualmente como um importante produtor e exportador de proteína
animal, colocando a questão do bem-estar em foco para diversos setores da atividade
pecuária. Nesse sentido, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA)
constituiu, em 2008, a Comissão Técnica Permanente de Bem-estar Animal (CTBEA) visando
fomentar a discussão e adequação da legislação brasileira ao conhecimento científico
disponível e às recomendações estabelecidas por acordos internacionais dos quais o Brasil
é signatário. Além disso, a CTBEA tem como objetivo promover o desenvolvimento de boas
práticas de manejo, bem como a capacitação de todas as pessoas envolvidas nos setores
produtivos. As duas mais recentes regulamentações publicadas referem-se ao transporte dos
animais de fazenda, com a Resolução Nº 675/2017 CONTRAN, que ‘dispõe sobre transporte
de animais de produção ou interesse econômico, esporte, lazer e exposição’ (Brasil, 2017) e a
Instrução Normativa n° 12 de 2017 que trata do ‘credenciamento de entidades para
Treinamento em Abate Humanitário’ (Brasil, 2017). Assim, busca-se adequar toda a cadeia
produtiva às novas exigências da sociedade brasileira e dos mercados importadores.
Os movimentos em prol do bem-estar são tanto de caráter legal quanto social, de
modo que as exigências dos consumidores também têm potencial de interferir na maneira

22
CAPÍTULO 2
como os animais são criados. Por essa razão, aprofundar os conhecimentos a respeito dos
fatores que influenciam os padrões de consumo dos produtos de origem animal e seus
impactos para a imagem dos sistemas de produção tem sido o objetivo de diversas pesquisas
no Brasil e no mundo (María, 2006; Spooner et al., 2014; Lemme, 2016; Risius e Hamm,
2017).
Em uma pesquisa de opinião pública realizada no ano de 2008, com um total de 3101
consumidores de diferentes regiões do Brasil (estados de São Paulo, Rio Grande do Sul,
Sergipe e Mato Grosso do Sul), constatou-se que 66% dos respondentes consideravam o
bem-estar dos animais de fazenda um tema muito importante e outros 21% o consideraram
importante (Paranhos da Costa et al., dados não publicados). Pesquisas mais recentes
realizadas por meio de plataformas digitais revelaram que os consumidores declararam
estar dispostos a pagarem mais por carnes provenientes de animais que tiveram boas
condições de bem-estar (Lemme, 2016; Dias et al., 2016). Em uma pesquisa de opinião
realizada com 656 respondentes, de todas as regiões do país, constatou-se que 88,9% deles
estariam dispostos a pagar mais por carne com algum selo de certificação de qualidade da
sua origem quanto ao bem-estar dos animais (Dias et al., 2016). Nesse mesmo levantamento
a frequência com que os entrevistados declararam comer carne esteve relacionada a sua
consciência sobre o modo como os animais são criados nas fazendas, sendo que quanto
maior o nível de consciência declarado, menor a frequência de consumo. Dentre os
entrevistados, 81% declarou comer carne todos os dias ou, no mínimo, todas as semanas
(Dias et al., 2016). De modo semelhante, resultados de outro estudo com 468 respondentes
indicaram que 85,5% deles declararam estar dispostos a pagar mais por uma carne com
certificação de origem e, após assistirem um vídeo sobre práticas de manejo comuns em
fazendas, esse número subiu para 88% (Lemme, 2016). Segundo o autor da pesquisa,
embora os consumidores declarem considerar o tema bem-estar animal como algo muito
importante, estes demonstraram ter poucas e equivocadas informações sobre o modo como
os animais são criados nas fazendas.
De acordo com Broom (2010), poucas pessoas respondem às informações sobre os
problemas de bem-estar dos animais de fazenda aderindo ao vegetarianismo, porém, um
número maior de pessoas modifica seus padrões de consumo após receber informações
sobre este tema. Assim, a opinião dos consumidores está diretamente relacionada à
sustentabilidade das cadeias produtivas, pois pode implicar na aceitação ou não de certos
produtos pelo mercado consumidor. Uma questão fundamental na definição de
sustentabilidade em empreendimentos empresariais vai além dos aspectos ambientais,

23
CAPÍTULO 2
sociais e econômicos, e refere-se as ‘questões materiais’ que, segundo Lemme (2016),
envolvem aspectos relacionados à imagem e reputação dos produtos. Estas implicam
diretamente na licença social da empresa, a qual se refere a aceitação pela sociedade,
refletindo a compatibilidade entre as operações das empresas e os princípios e valores que
regem a vida em sociedade. Nesse contexto, Lemme (2016) inclui o bem-estar animal como
uma questão material no setor de alimentos, por envolver conceitos fortemente arraigados
nas pessoas, como o respeito à vida, o sofrimento e o papel vital do alimento para a saúde e
a manutenção da vida.
Estamos na era da informação e da comunicação, onde a transparência torna-se um
elemento fundamental na definição de sistemas produtivos que sejam sustentáveis. A
repercussão das ações realizadas por empresas ou mesmo estabelecimentos rurais pode
ganhar enormes proporções muito rapidamente, colocando milhares de pessoas em contato
com informações que, dependendo do modo como são veiculadas, podem colocar em risco o
crescimento e até mesmo a manutenção de um empreendimento. A grande facilidade de se
veicular informações (verídicas ou não), somadas ao fato dos consumidores e do público em
geral considerar bem-estar um tema importante, mesmo para aqueles pouco informados
sobre as práticas de criação adotadas nas fazendas, revela uma realidade preocupante. Por
isso, acreditamos que difundir as informações sobre o tema será um aspecto chave para o
desenvolvimento de um mercado consumidor consciente e que considere o bem-estar
animal e a sustentabilidade ao definir seus padrões de consumo.
Em suma, os avanços nos estudos sobre o bem-estar animal somados às exigências do
mercado consumidor, e às demandas por transparência sobre as práticas empregadas nas
cadeias produtivas estabeleceram novos desafios à produção animal. Este cenário tem
impulsionado a melhoria dos sistemas de criação, por meio da adoção das boas práticas de
manejo, baseadas em conceitos de comportamento, bem-estar animal e sustentabilidade.
Segundo Broom e Fraser (2010) a melhoria do bem-estar animal geralmente leva à melhoria
da produção. Porém, para promover essa melhoria, é importante conhecer as necessidades
dos animais aliado ao entendimento do seu comportamento. Desta forma, vêm-se buscando
desenvolver sistemas produtivos que, além de serem sustentáveis ambientalmente,
permitem que o animal tenha as necessidades satisfeitas e consequentemente, consiga
alcançar um bom nível de bem-estar. Discutiremos adiante algumas estratégias que vêm
sendo desenvolvidas visando a melhoria do bem-estar dos animais associada à
sustentabilidade da produção pecuária.

24
CAPÍTULO 2
Bem-estar animal e a sustentabilidade na pecuária
Os modelos de produção animal mudaram substancialmente nas últimas décadas,
acompanhando as transformações sócioeconômicas decorrentes dos processos de
urbanização, industrialização e globalização. A demanda crescente por produtos de origem
animal na alimentação humana levou ao desenvolvimento de sistemas de criação cada vez
mais intensificados, permitindo a obtenção de maior quantidade de alimento por unidade de
área. Estes processos levaram ao desenvolvimento de sistemas que passaram a ser
chamados de ‘produção industrial’ de carne, leite e ovos. Nesses modelos, há um intenso
controle das condições de alojamento, nutrição, rigorosas medidas sanitárias, além da
manutenção dos animais em altas densidades, levando a largas escalas de produção e a altas
demandas por insumos e energia para sua manutenção. Porém, tais sistemas têm sido
amplamente criticados sob o ponto de vista do bem-estar animal, expondo a produção a
questionamentos eticamente importantes em função dos riscos que impõe aos animais
(Godfray e Garnett, 2014).
Os sistemas intensivos de produção pecuária têm sido alvo de inúmeras críticas
relacionadas ao mal uso da terra e degradação ambiental (FAO, 2006a), pela intensificação
massiva da produção, uso de dietas com alto conteúdo de concentrado (Phillips, 2016), pelo
uso indiscriminado de antibióticos (Dawkins, 2017), transporte dos animais por longas
distâncias (Mota-Rojas et al., 2016a), melhoramento genético objetivando apenas o alto
rendimento (Fraser et al., 2013) e pelos manejos potencialmente dolorosos, como descorna,
castração, corte de cauda e debicagem (Mota-Rojas et al., 2016b). Pode-se facilmente notar
que a grande maioria destas críticas está relacionada a aspectos de sustentabilidade e bem-
estar animal.
Em 2008 a FAO promoveu uma reunião de especialistas onde foi enfatizada a
necessidade de se apoiar pesquisas sobre sistemas alternativos de produção, com enfoque
no bem-estar dos animais, principalmente nos países em desenvolvimento (FAO, 2009a).
Segundo eles, o aumento da produção pecuária levanta uma série de questões éticas e,
portanto, a garantia do acesso ao alimento pela população humana deve ser considerada em
conjunto com as preocupações em relação ao bem-estar dos animais e a sustentabilidade
ambiental (FAO, 2009a). Desde então a busca por alternativas para o desenvolvimento
sustentável vem sendo fomentada. Abaixo apresentaremos algumas destas iniciativas, tendo
em mente que existem diversas outras estratégias, também eficientes em nível local e global.

25
CAPÍTULO 2
a) Alternativas para mitigar as emissões de gases do efeito estufa
O Brasil é um país com evidente tradição agrícola. No ano de 2016 a participação do
setor agropecuário no Produto Interno Bruto (PIB) foi de 23%, representando 48% das
exportações totais do país, segundo dados da Confederação da Agricultura e Pecuária do
Brasil (CNA, 2016). De acordo com dados da FAO (2016), a produção de carne nos países em
desenvolvimento, como o Brasil, tem expectativa de crescimento em torno de 17% em 2024,
em relação a 2015. Esse aumento na produção vem acompanhado do aumento do consumo
de carne bovina, em decorrência da elevação de renda dos consumidores e do aumento
populacional. Diante de tais circunstâncias, surge uma evidente contradição quanto à
pecuária, que vem se mostrando uma atividade econômica e socialmente importante, ao
mesmo tempo que produz severos impactos no meio ambiente, dependendo do modo como
é desenvolvida (FAO, 2006a).
Um destes impactos é a emissão de gases de efeito estufa (GEE), que contribuem para
o aquecimento global. No ano de 2015 gases como o metano (CH4) e óxido nitroso (NO2),
provenientes da atividade pecuária, corresponderam a 69,6%, e 56,2%, respectivamente,
das emissões totais dos dois gases no Brasil (SEEG, 2017). A principal fonte do metano é a
fermentação entérica, responsável por 89,5% das emissões desse gás por toda atividade
agropecuária em 2015, seguida pelo manejo dos dejetos dos animais que contribui com 4,5%
(SEEG, 2017). Diversos fatores contribuem para as altas emissões de GEE pela pecuária
brasileira, dentre eles o tamanho do rebanho nacional, os baixos índices de produtividade, a
idade de abate (entre 3 e 3,5 anos) e a criação extensiva, com pastagens degradadas e de
baixa qualidade, como também pelo desmatamento de áreas naturais, atribuído à atividade
pecuária (Machado et al., 2011).
Para compreender os impactos do manejo dos bovinos sobre as emissões de metano
entérico pelos mesmos é preciso entender aspectos básicos da fisiologia digestiva dos
ruminantes. O rúmen é um ambiente anaeróbico, com pH entre 6,0 e 6,5, colonizado por
microrganismos como bactérias, fungos e protozoários (Aschenbach et al., 2011). Esses
realizam a decomposição de matéria vegetal fibrosa, como celulose e hemicelulose, além do
amido em açúcares que, em seguida, passam pelo processo de fermentação, formando ácidos
graxos voláteis (ácidos acético, propiônico e butírico), os quais são fontes de energia para
ruminantes (Primavesi et al., 2004; Saleem et al., 2013). São formados também dióxido de
carbono e metano, que são excretados, principalmente, através da eructação. A fermentação
envolve um processo de oxidação, gerando co-fatores reduzidos (NADH, NADPH e FADH),
que são então re-oxidados (NAD+, NADP+ e FAD+) por reações de desidrogenação, liberando

26
CAPÍTULO 2
hidrogênio no rúmen (Ribeiro et al., 2015). Esses íons são utilizados pela microbiota ruminal
como fonte de energia para o seu crescimento, entretanto, este fenômeno leva à formação de
metano, representado pela equação química: CO2 + 4 H2 → CH4 + 2 H2O (Machado et al.,
2011).
De acordo com dados do Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental de
Mudanças Climáticas (IPCC, 2006), o gás metano tem a capacidade de contribuir para o
aquecimento do planeta 25 vezes mais do que a do gás carbônico, além de ter a vida útil
variando entre 9 e 15 anos. Assim, estima-se que este gás seja responsável por 15% do
aquecimento global (Machado et al., 2011).
Como a taxa de liberação de metano pelos processos metabólicos dos ruminantes
depende da categoria do animal, do nível de consumo alimentar, bem como da
digestibilidade do alimento ingerido, há possibilidades de reduzir a produção de metano,
através de mudanças no processo digestivo dos animais (Rivera et al., 2010). Algumas
estratégias nutricionais vêm sendo investigadas como possíveis alternativas para minimizar
as emissões de GEE, dentre elas o uso de ionóforos nas dietas dos animais, adição de lipídios,
taninos, dentre outros (Mohammed et al., 2004; Shibata e Terada, 2010; Berchielli et al.,
2012).
A intensificação da produção também vem sendo apontada como uma estratégia para
reduzir as emissões de GEE, já que resultados de diversos estudos recentes demonstraram
que sistemas de produção intensivos em confinamento produzem menos emissões de GEE
que sistemas extensivos de produção (em pastagens) (Pelletier et al., 2010; Capper e
Bauman, 2013; de Vries et al., 2015, Ogino et al., 2016), inclusive nas condições brasileiras
de criação (Kamali et al., 2016). As principais razões para isso são a redução na idade de
abate dos animais, abates programados e um período mais curto de manutenção dos animais
no sistema de confinamento, favorecendo a redução da produção de metano por unidade de
produto (O’Hara et al., 2003). Segundo de Vries et al. (2015), as emissões de GEE por unidade
de produto em sistemas de confinamento foram em média 28% (variando entre 4 e 48%)
menores que em sistemas a pasto, o que em parte se deve ao maior ganho de peso dos
animais nesses sistemas, acompanhado pelo menor tempo de terminação e maior peso ao
abate dos animais. As menores emissões para os sistemas de confinamento foram atribuídas
também ao fato de dietas baseadas em grãos gerarem menores taxas de emissão de metano
entérico.
Assim, o uso de concentrados na dieta dos bovinos também é apontado como uma
estratégia para minimizar as emissões de GEE (Berchielli et al., 2012). A substituição dos

27
CAPÍTULO 2
carboidratos fibrosos (volumosos) por carboidratos não fibrosos a base de açúcares e amido
(concentrado), leva a uma alteração na população de microrganismos presentes no rúmen
(Ribeiro et al., 2015). Como consequência ocorre um aumento da ação de bactérias
amilolíticas, resultando em maior produção de propionato e redução de acetato,
ocasionando diminuição da concentração de H2, reduzindo assim, a produção de metano no
rúmen (Machado et al., 2011). Segundo Martin et al. (2009), mesmo que não ocorra uma
redução na produção de acetato, a dieta com concentrado promove queda no pH ruminal,
ocasionando uma limitação no crescimento e/ou atuação de bactérias celulolíticas e
metanogênicas.
No entanto, apesar dos aparentes benefícios dos sistemas de confinamento quanto às
emissões de GEE, entendemos que a intensificação e uso de dietas com altos níveis de
concentrados para a alimentação de ruminantes não são as melhores estratégias visando a
sustentabilidade, principalmente se considerarmos o bem-estar animal como um de seus
critérios essenciais. Diversos são os motivos para isso. Primeiramente, as emissões de CO2 e
óxido nitroso oriundos dos cultivos dos grãos para alimentação animal (colheita,
processamento e transporte) devem ser computados (Machado et al., 2011). Sem mencionar
o aporte de nitrogênio oriundo da adubação nitrogenada, resultando no aparecimento de
nitratos e óxido nitroso, esse último sendo mais maléfico para meio ambiente, por contribuir
250 vezes a mais para o aquecimento global que o CO2 (Melato, 2007). Adicionalmente, deve-
se considerar também o uso de áreas agricultáveis para produção de grãos para alimentação
animal, as quais poderiam ser utilizadas para alimentação humana ou outras finalidades. Por
fim, os sistemas de confinamento, embora produzam menos emissões de GEE por unidade
de produto, podem ser mais prejudiciais quanto a outros tipos de impactos ambientais, como
eutrofização de corpos d’água naturais, emissões de amônia levando a acidificação do solo e
chuva ácida (Ogino et al., 2016), maior consumo de energia e de combustíveis fósseis (Kamali
et al., 2016).
Considerando-se especificamente o bem-estar-animal, o uso de dietas com altas
proporções de concentrados favorece a ocorrência de acidose ruminal (Plaizier et al., 2008;
Ribeiro et al., 2015). Além de ser um sério risco para a saúde e bem-estar dos bovinos, este
distúrbio metabólico leva a perdas produtivas. Em vacas leiteiras, por exemplo, a acidose
subclínica causa redução no consumo de matéria seca, diminuição da porcentagem de
gordura no leite, diarreia, laminite, abcessos de fígado, e redução da longevidade dos animais
(Plaizier et al., 2008). Em bovinos de corte os sistemas intensivos estão relacionados à alta
incidência de problemas respiratórios, caracterizando a ‘doença respiratória bovina’ (Bovine

28
CAPÍTULO 2
Respiratory Disease, BRD) que é a causa de, aproximadamente, 67% das mortes dos animais
em confinamento nos Estados Unidos (Tucker et al., 2015). A BRD causa também redução no
ganho de peso dos animais, piora a qualidade das carcaças, e eleva os custos com tratamentos
veterinários, sendo considerada um dos problemas de saúde com maior impacto econômico
para este setor.
Somado a isso, os sistemas intensivos, em geral, reduzem as oportunidades de
expressão de comportamentos naturais pelos animais de fazenda. O ambiente do
confinamento pode expor os indivíduos a estresse social e estressores físicos, pela reduzida
disponibilidade de espaço e diversos desafios ambientais aos quais os animais podem ser
expostos como formação de lama, poeira, estresse térmico quando mantidos ao ar livre e
sem disponibilidade de sombra, situações comuns em confinamentos de bovinos de corte no
Brasil (Macitelli Benez, 2015).
Assim, o manejo e melhoramento das pastagens podem ser exemplos de alternativas
sustentáveis para produção pecuária, priorizando também aspectos de bem-estar animal. De
acordo com Cottle et al. (2011) e Hook et al. (2010), a produção de metano entérico para
bovinos criados a pasto é fortemente influenciada pelo manejo das pastagens, considerando
a qualidade da forragem, digestibilidade da massa ingerida e nível de consumo dos animais.
No Brasil prevalecem sistemas extensivos, com grande parte das pastagens apresentando
algum grau de degradação, decorrente do manejo inadequado. Além de elevar as emissões
de GEE, esse tipo de produção traz impactos ambientais como erosão dos solos,
assoreamento de rios, perda da capacidade de fixação do nitrogênio no solo (Barcellos et al.,
2008) e problemas de bem-estar dos animais por não terem nutrição nem conforto térmico
adequados.
A mudança desse cenário depende da recuperação de pastagens degradadas, que
pode amenizar os impactos ambientais e ainda prestar os chamados ‘serviços ambientais’,
como o sequestro de carbono. Segundo dados da FAO (2006b), as pastagens apresentam
grande capacidade de sequestrar carbono, podendo atingir 1,7 bilhões de toneladas por ano,
desde que bem manejas. Já florestas tem uma capacidade próxima de 2 bilhões de t de C por
ano, pouco superior as pastagens. De acordo com os autores Zen et al. (2008), a pecuária
brasileira gera em torno de 1 Mg CO2 eq/ha, enquanto o sequestro pode chegar a 0,78Mg CO2
eq/ha. O manejo adequado das pastagens as torna mais produtivas, possibilitando maiores
taxas de ocupação, além de aumentarem o desempenho dos animais, evitando assim a
necessidade de ocupação de novas áreas (Machado et al., 2011).

29
CAPÍTULO 2
b) Sistemas agroecológicos de produção pecuária
Na América Latina os sistemas agroflorestais pecuários (SAFP) têm sido apontados
como uma alternativa sustentável de produção pecuária em pastagens. Com a aplicação dos
princípios agroecológicos, esses sistemas promovem a geração de bens e de serviços
ecossistêmicos, tais como o sequestro de carbono, a reabilitação de solos degradados,
preservação de corpos d’água, proteção do solo, e melhor capacidade para enfrentar as
consequências das mudanças climáticas (Murgueitio et al., 2015). Deve-se considerar
também a apresentação de maior complexidade e variedade de espécies vegetais, assim
como diversificação de produtos como frutos, óleos essenciais e madeira, gerando renda
extra para os produtores.
Os sistemas silvopastoris (SSP) são um tipo de SAFP, com arranjos florestais
compostos, simultaneamente, por plantas lenhosas perenes (árvores ou arbustos), plantas
herbáceas (leguminosas, pastos ou arvenses) e animais domésticos, especialmente bovinos,
equídeos, ovinos e caprinos (Murgueitio et al., 2016). Entre os diversos tipos de SSP,
podemos destacar os sistemas silvopastoris intensivos (SSPi), caracterizados pela interação
de altas densidades de arbustos forrageiros (de 5.000 a mais de 30.000 plantas por hectare)
como Leucena leucocephala ou Tithonia diversifolia, em associação com pastos melhorados e
espécies de árvores madeiráveis, frutíferas ou palmeiras (de 50 até 500 árvores por hectare)
(Tarazona et al., 2013). O SSPi tem sido adotado, principalmente, por produtores de bovinos
de corte em função dos benefícios econômicos, ambientais e sociais, além dos potenciais
efeitos positivos no bem-estar animal (Tarazona et al., 2017).
Os benefícios ambientais e agroecológicos dos SSPi incluem a redução da produção
de GEE em relação aos sistemas convencionais em ‘sol pleno’ (Naranjo et al., 2012; Cuartas
et al., 2014; Rivera et al., 2015), potencial de sequestro de carbono (Naranjo et al., 2012;
Chará et al., 2015), recuperação de solos degradados (Murgueitio et al., 2011), maior
reciclagem de nutrientes dentro do sistema, incremento no acúmulo de matéria orgânica
(Calle et al., 2014), conservação da biodiversidade (Calle e Lopez, 2008; Giraldo et al., 2011;
Rivera et al., 2013), maior retenção de água dentro do sistema (Rueda et al., 2011; Cuartas
et al., 2014), dentre outros benefícios que permitem converter pastagens degradadas em
áreas mais produtivas (Murgueitio et al., 2016; Tarazona et al., 2016).
Com base nas avaliações do bem-estar de animais criados em SSPi foi possível
demonstrar que estes sistemas oferecem aos bovinos múltiplos benefícios (Tarazona et al.,
2017), pela possibilidade dos animais suprirem suas necessidades de ‘boa alimentação’,
devido a um balanço adequado de nutrientes, como energia (oriunda da forragem) e proteína

30
CAPÍTULO 2
(arbustos leguminosos), suplemento mineral e água a vontade (Tarazona et al., 2013; 2017).
Existe também a evidência de que o sistema possibilita boas condições de conforto térmico
aos animais. Ceballos et al. (2011) sugerem que a presença dos arbustos no SSPi é capaz de
gerar um microclima adequado com umidade do ar mais elevada e temperaturas mais
amenas, devido a uma retenção de umidade por parte do estrato intermediário. Além disso,
neste sistema os animais também são beneficiados quanto às condições de saúde, devido a
uma menor carga parasitária proveniente da ruptura dos ciclos de vida dos parasitas, graças
a prática do manejo rotacionado dos pastos e aos metabólitos secundários presentes, por
exemplo, na leucena (Cuartas et al., 2014). A relação humano-animal também é beneficiada,
devido ao frequente contato entre ambos durante a mudança de piquete, possibilitando que
os bovinos associem os tratadores ao reforço positivo, que é a entrada em um novo piquete,
com maior quantidade de forragem e de alta qualidade (Tarazona et al., 2013; 2017).
Associado a isto Améndola et al. (2016) demonstrou que o comportamento social dos
bovinos mantidos em SSPi também é beneficiado, quando comparado com sistemas
extensivos de produção, pois estes apresentam hierarquia social mais estável e maior
frequência de comportamentos sociais positivos.
Adicionalmente ao bem-estar dos animais, o componente humano também é incluído
no conceito de sustentabilidade. Os SSPi têm potencial de promover melhorias na percepção
de trabalhadores em relação ao seu emprego (Broom et al., 2013). Em um estudo realizado
em Quindio, na Colômbia, produtores de bovinos relataram que os SSPi estavam associados
a questões importantes, tais como, maior iniciativa e curiosidade pelos trabalhadores (21%),
maior preocupação ambiental (29%), além das oportunidades de geração de empregos
rurais e renda (11%), e oportunidades para treinamento e capacitação profissional (11%)
(Calle et al., 2009). Além disso, quanto aos valores pessoais e familiares, foi encontrado que
a implementação dos SSPi trouxe satisfação pelo aprendizado e pela experiência em
participarem de uma pesquisa científica (46%), satisfação espiritual por terem contato com
a natureza (32%), interesse das crianças pelos SSPi (21%), dentre outros fatores que levam
os autores a supor que o sistema promove efeitos positivos a nível social.
Apresentados todos esses benefícios, é possível afirmar que estes tipos de sistemas
são uma boa estratégia para atingir as exigências da sustentabilidade, levando em
consideração todos os agentes do sistema: homens, animais e ambiente (Tarazona et al.,
2016). Uma característica importante dos SSP, é que eles cumprem vários dos critérios
importantes para viabilizar a transição de produção pecuária convencional para produção
pecuária orgânica.

31
CAPÍTULO 2
Segundo a Federação Internacional de Movimentos de Agricultura Orgânica (IFOAM,
International Federation of Organic Agriculture Movements) a agricultura orgânica é baseada
no conjunto de processos que resultam em agroecossistemas sustentáveis, alimentos
seguros, boa nutrição, bem-estar animal e justiça social (IFOAM, 2012). O conselho da
Europa reconheceu, em 1999, a pecuária orgânica como uma estratégia de integração e
desenvolvimento sustentável na política agrícola comum (EC, 2004). A agricultura orgânica,
em particular, foi desenvolvida como parte de um movimento que incorporou produtores,
fabricantes e consumidores. O movimento orgânico é baseado em regras explícitas, bem
como em princípios e objetivos amplamente formulados para agricultura e manufatura, os
quais estão ligados a valores subjacentes e percepções da relação entre humanos e a
natureza (Alrøe e Kristensen, 2000). A IFOAM define a agricultura orgânica como “sistema
de produção que mantem a saúde dos solos, ecossistemas e pessoas. Baseia-se em processos
ecológicos, biodiversidade e ciclos adaptados às condições locais, ao invés do uso de insumos
com efeitos adversos. A agricultura orgânica combina tradição, inovação e ciência para
beneficiar o ambiente compartilhado e promove relações justas e uma boa qualidade de vida
para todos os envolvidos” (IFOAM, 2012).
Os sistemas orgânicos têm um apelo bastante fundamentado em termos de
sustentabilidade, pois é proibida a utilização de quaisquer tipos de produtos químicos
(pesticidas, herbicidas, fertilizantes, medicamentos, entre outros) evitando a poluição da
água, do solo e do ambiente por resíduos (Escribano, 2016). Adicionalmente, os sistemas
orgânicos têm benefícios ecossistêmicos, devido à diversificação de culturas nos campos e a
utilização de poli cultivos, aumentando a biodiversidade, tanto de micro quanto macro
organismos, assim como a possibilidade de se realizar controle natural de diversas pragas e
parasitas (Sukkel e Hommes, 2009).
Com relação ao bem-estar neste tipo de sistemas, as normas exigem que os animais
tenham as seguintes condições: a possibilidade de se movimentarem e de expressar padrões
normais de comportamento, suficiente alimento, água, ar fresco e luz do dia para satisfazer
as necessidades biológicas, assim como acesso a áreas de descanso, com abrigo e proteção
da radiação solar direta, chuva, barro e ventos possibilitando mitigar os agentes estressores
para os animais (IFOAM, 2012). Além disso, qualquer tipo de mutilação, como descorna,
castração, corte de cauda e debicagem é proibida (IFOAM, 2012), eliminando destes sistemas
a dor provocada por manejos aversivos.
Porém não podemos deixar de comentar que nos sistemas orgânicos podem também
existir alguns riscos em termos de bem-estar, que dependem de um bom manejo sanitário

32
CAPÍTULO 2
para serem minimizados. Segundo a norma orgânica não é permitido o uso de insumos
veterinários convencionais sem que haja um rígido controle e notificação, podendo implicar
em prejuízo para o bem-estar dos animais, especialmente quando estes ficam doentes
(Sutherland et al., 2013). Além do risco do agravamento de problemas de saúde, bem como
exposição a endo e ectoparasitas, há relatos de que nos sistemas onde há acesso à área
externa os animais estão mais sujeitos a ataques de predadores (Hegelund et al., 2006).

c) Melhoramento genético visando bem-estar animal e sustentabilidade


Por fim, iremos tratar de uma última estratégia com potencial para aumento da
eficiência e sustentabilidade da produção animal, que são as ferramentas de melhoramento
genético dos animais. Tradicionalmente, as técnicas de seleção com melhorias nas condições
ambientais, nutricionais e reprodutivas foram utilizadas para aumentar consideravelmente
os índices de produtividade das espécies de interesse econômico (Hume et al., 2011).
Estimativas apontam crescimento em produtividade superior a 85% entre os anos de 1960
e 2008 (Thornton, 2010). Apesar dos avanços produtivos já alcançados pela pecuária
mundial, os estudos apresentados pela FAO (FAO, 2009b) indicam que, para atender o
crescimento populacional e a demanda por produtos de origem animal, será necessário
aumentar os índices produtivos em 70% até o ano de 2050 (Hume et al., 2011). Uma das
estratégias apontadas para isso é o uso de animais adaptados aos sistemas de produção
atuais, exigindo que os programas de melhoramento genético passem a incluir
características relacionadas à saúde e ao bem-estar animal em seus objetivos de seleção
(Fraser et al., 2013). Frente a essa demanda, cunhou-se a expressão ‘programas de
melhoramento genético sustentáveis’ (Gamborg e Sandøe, 2005; Jensen e Andersson, 2005).
Os métodos tradicionais de melhoramento, focados exclusivamente na seleção de
características relacionadas a alta eficiência e produtividade, resultaram em efeitos
colaterais indesejáveis, causando susceptibilidade dos animais a doenças e prejuízos para
seu bem-estar. As espécies destinadas a atividade pecuária enfrentam maiores riscos de
problemas comportamentais, fisiológicos e imunológicos (Rauw et al., 1998). Por exemplo,
vacas leiteiras selecionadas para alta produtividade apresentam elevada demanda
nutricional, com maior risco de estresse metabólico (causando balanço energético negativo
e cetoses) associado a elevada ocorrência de laminite, claudicação, mastite clínica, redução
de fertilidade, com longos intervalos entre partos e maior número de serviços para
concepção, além de longevidade reduzida (Ingvartsen et al., 2003; Oltenacu e Broom, 2010).
Estes efeitos colaterais não comprometem apenas o bem-estar das vacas, mas também a

33
CAPÍTULO 2
sustentabilidade da atividade (Rauw et al., 1998). Em bovinos de corte a seleção direcionada
para elevado ganho de peso, rápido crescimento e alta performance está associada a maior
ocorrência de problemas de cascos e aprumos, os quais levam os animais à claudicação
(Broom et al., 1994).
Para as aves de postura podemos citar como efeitos indesejáveis a maior
susceptibilidade a osteoporose, elevando o risco de fraturas nas galinhas em função do alto
requerimento de cálcio para produção dos ovos (Lay et al., 1992) e a problemas
comportamentais, tais como auto- ou alo-bicagem e canibalismo (Jensen e Andersson, 2005;
Jensen et al., 2008). Por sua vez, os frangos selecionados para crescimento rápido
apresentam elevado apetite, causando problemas metabólicos relacionados às altas taxas
metabólicas, além de maior risco de ascite, elevada taxa de mortalidade por ataques
cardíacos e problemas reprodutivos (Rauw et al., 1998; Fraser et al., 2013). Por fim, em
suínos os efeitos colaterais relacionados à seleção para crescimento rápido, produção de
carne magra e aumento no tamanho das leitegadas resultaram em baixa viabilidade dos
leitões ao nascimento e a problemas comportamentais maternos, associados a alta
reatividade das porcas em relação à prole, com consequente elevação da taxa de mortalidade
pós-parto (Rauw et al., 1998; Canario et al., 2014). Além disso, os suínos apresentam
problemas semelhantes aos dos frangos de corte, com alta susceptibilidade ao estresse e a
ocorrência de ataques cardíacos, problemas nas pernas causados por osteocondrose e
problemas comportamentais, como o ‘canibalismo’ que pode ser caracterizado pela
mordedura de cauda entre os animais do mesmo grupo (Rauw et al., 1998; Breuer et al.,
2005).
Em suma, a seleção tradicional com foco apenas em características produtivas causou
diversos problemas de bem-estar, como consequência do desequilíbrio fisiológico causado
pela seleção genética objetivando alta produtividade, pela incapacidade dos animais em se
adaptarem aos desafios ambientais aos quais estão expostos ou ainda pela incompatibilidade
entre as necessidades individuais e o grau de satisfação psicológica dos mesmos (Rauw,
2016). Para uma pecuária mais ética e sustentável é evidente a necessidade de se associar as
melhorias ambientais reportadas anteriormente nesse capítulo com a melhoria genética dos
animais (Jensen e Andersson, 2005). Para isso, os programas deverão incorporar objetivos
de seleção mais abrangentes, que incluam características de bem-estar animal, tais como
resistência a doenças e parasitas, redução da agressividade intraespecífica e menor
reatividade ao homem (MacArthur et al., 2006; Jensen et al., 2008; Hume et al., 2011; Fraser
et al., 2013).

34
CAPÍTULO 2
Já existem exemplos de como é possível adotar estratégias de melhoramento genético
sustentável, associando alta produtividade com a promoção do bem-estar animal, utilizando
novas ferramentas de genômica funcional. Essas permitem a identificação de QTLs
(Quantitative Trait Loci) e genes que influenciam a expressão das características de
adaptabilidade, saúde e bem-estar animal. Por exemplo, o gene fucosiltranferase (FUT1) tem
um importante papel na capacidade de resistência a Escherichia coli F18, que causa morte
dos leitões após a desmama (Meijerink et al., 2000). Suínos homozigotos para o alelo
recessivo desse gene são totalmente resistentes a E. coli e, por isso, aplicar a seleção para
resistência aumentando a frequência desse alelo na população pode ser uma estratégia para
reduzir a morbidade e mortalidade dos leitões, além de melhorar o crescimento pós-
desmama. Além disso, a seleção para reduzir a frequência do gene halotano em suínos teve
como efeitos positivos a redução da susceptibilidade ao estresse e hipertermia maligna,
caracterizando a síndrome do estresse suíno (PSS, Porcine Stress Syndrome) (Culau et al.,
2002). Esta síndrome leva os animais à morte súbita em situação de estresse agudo, como
por exemplo, mistura de lotes e transporte pré-abate, ou a ocorrência de carnes com
qualidade inferior, conhecida como PSE (do inglês: pale, soft and exsudative).
Em bovinos leiteiros, os estudos têm mostrado que a seleção para melhorar a
capacidade imunológica, resistência a doenças, longevidade, facilidade de parto e fertilidade
tem gerado efeitos positivos, tais como redução da ocorrência de mastites, melhor resposta
do organismo a vacinas e qualidade superior do colostro (Lawrence et al., 2004; Mallard et
al., 2015). Em bovinos de corte, Valente et al. (2016) identificaram genes associados o
temperamento de animais da raça Nelore, mostrando que existe uma base genética para a
expressão da reatividade durante as rotinas de manejo, sendo possível utilizar a seleção para
diminuir a expressão de comportamentos indesejáveis. Além disso, o gene candidato CPE
(carboxipeptidase E) ressalta a relação entre temperamento mais calmo com melhor
crescimento e qualidade de carne e carcaça. Assim, a seleção para características de
temperamento em bovinos de leite e corte tem potencial de promover melhores condições
de bem-estar para os animais e segurança dos trabalhadores (Haskell et al., 2014). Por fim,
a seleção também pode ser utilizada com o objetivo de evitar procedimentos que causem dor
nos bovinos, como por exemplo, a seleção para maior ocorrência de animais mochos (sem
chifres), evitando-se assim a necessidade de descorna (Fraser et al., 2013).
Diversos estudos mostram que é possível promover o melhoramento genético de
bovinos, suínos, aves de corte e postura de maneira sustentável, considerando não apenas
as características que promovam alta eficiência e produtividade, mas adotando objetivos de

35
CAPÍTULO 2
seleção que sejam biologicamente responsáveis. Os resultados positivos irão promover uma
produção animal economicamente sustentável a curto e longo prazo, levando em
consideração aspectos socialmente e ambientalmente responsáveis.

Considerações Finais
É importante ressaltar que, independente do tipo de sistema de produção utilizado,
tanto aspectos positivos quanto negativos poderão afetar o nível de bem-estar dos animais
e a sustentabilidade. A adoção de um tipo de sistema de criação, que possibilite melhores
condições para expressão de comportamentos naturais, por si só não garante altos níveis de
bem-estar aos animais. A inspeção frequente dos animais aliada às boas práticas de manejo
e o cuidado diário da saúde animal são essenciais para garantir boas condições de bem-estar,
independente do tipo de sistema utilizado. Além disso, a adoção de estratégias efetivas para
o manejo do ambiente, associado à aplicação rigorosa das leis ambientais em nosso país são
fundamentais para minimizar os impactos da atividade pecuária.
Os desafios para todos os atores da produção de alimentos será lidar com uma
demanda crescente por produtos de origem animal e a necessidade da adoção de práticas
sustentáveis e eticamente justas. Sabe-se que nenhum tipo de sistema de produção será
capaz de eliminar todos os tipos de impactos ambientais dessa atividade, o que somente
ocorreria com a redução do consumo destes produtos.

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46
CAPÍTULO 3

POTENCIAL DE GERAÇÃO DE ENERGIA COM O BIOMETANO


OBTIDO DE RESÍDUOS AGROPECUÁRIOS

Adriano Henrique Ferrarez

Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento da Associação Brasileira de Biogás e Metano (ABBM),


Instituto Federal Fluminense, Campus Itaperuna, Rio de Janeiro, Brasil.
Contato: aferrarez@iff.edu.br

Geração de Hidroeletricidade na Microrregião de Juiz de Fora da Zona da Mata


A Zona da Mata de Minas Gerais possui uma quantidade expressiva de
empreendimentos de geração hidrelétrica na modalidade Pequena Central Hidrelétrica
(PCH). Segundo a Resolução nº 394/1998 da ANEEL, PCH é toda usina hidrelétrica de
pequeno porte cuja capacidade instalada seja superior a 1 MW e inferior a 30 MW e que
possui reservatório com área inferior a 3 km². Os principais argumentos utilizados para
justificar a construção de PCHs são de que as mesmas provocam menor impacto ambiental
do que as grandes usinas hidrelétricas e termelétricas, promovem o progresso e são
portadoras de uma solidariedade universal. A geração hidrelétrica, mesmo por meio de
PCHs, pode alterar significativamente os aspectos físicos, econômicos e sócio espaciais, sem
necessariamente auferir benefícios para a população local. Os municípios recebem o ônus
direto da implantação desses empreendimentos, sem receber necessariamente o bônus ou
contrapartidas da operação (Paula et al., 2013).
A microrregião de Juiz de Fora está dividida em 33 municípios cujos territórios
somam uma área total de 8.923 km². O Quadro 1 mostra as PCHs implantadas na
microrregião de Juiz de Fora.

47
CAPÍTULO 3
Quadro 1 – Pequenas Centrais Hidrelétricas instaladas na microrregião de Juiz de Fora e suas
respectivas potências.
Microrregião Município Potência (kW)
1.680
Santos Dumont
5.400
Santa Rita de Jacutinga 4.440
8.400
Juiz de Fora
4.000
Juiz de Fora
Rio Preto 9.540
Matias Barbosa 4.080
Piau 18.012
Descoberto/Guarani 24.400
Lima Duarte 2.340
Total 82.292
Fonte: (ANEEL, 2014)

Muitos municípios em que estão instaladas as PCHs não possuem características


econômicas ou populacionais de grandes consumidores de energia. O setor da economia que
geralmente apresenta maior demanda de energia é o da indústria.
Para os empreendedores do ramo energético as PCHs são extremamente vantajosas,
pois estão dispensadas de remunerar estados e municípios pelo uso dos recursos hídricos,
somado ao fato de que para empreendimentos anteriores a 2003 não há nem mesmo o
pagamento das taxas pelo uso das redes de transmissão e distribuição do sistema de
eletrificação. Essa rentabilidade é uma das justificativas da proliferação das PCHs pelo país.

Energia e Desenvolvimento
A energia é fator fundamental para qualquer atividade econômica e no decorrer do
século XX observou-se a relação entre o aumento do consumo de energia e o
desenvolvimento econômico (Warr e Ayres, 2010). O atendimento das necessidades
humanas básicas está diretamente relacionado à oferta de energia. A falta de acesso a
serviços energéticos prejudica a saúde, limita as oportunidades para a educação e
compromete o desenvolvimento, impedindo que uma população saia da pobreza. O aumento

48
CAPÍTULO 3
do consumo de energia tem sido relacionado à melhoria do bem-estar das pessoas, tendo
reflexos sobre o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) (Ouedraogo, 2013).
Nos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE),
o consumo per capita de energia elétrica no ano de 2011 foi de 8,23 MWh/habitante (IEA,
2014). No Brasil e em Minas Gerais, o consumo per capita de eletricidade no ano de 2011 foi
de 2,48 MWh/habitante e 2,67 MWh/habitante, respectivamente (EPE, 2014; CEMIG, 2012,
Qua. 2).

Quadro 2 – Consumo de energia per capita, ano 2012


Consumo de Energia População Consumo de Energia Elétrica
Microrregião
(MWh/ano) (hab) per capita (MWh/hab)
Juiz de Fora 746.986 738.328 1,01
Fonte: (IBGE, 2014); (CEMIG, 2014); (ENERGISA, 2014).

Cultivos Agrícolas na Microrregião de Juiz de Fora


A agropecuária na região da Zona da Mata de Minas Gerais é tradicional e voltada
majoritariamente para o atendimento do mercado local/regional, com exceção dos
segmentos da cafeicultura, suinocultura e avicultura (Netto e Diniz, 2005). Dentre os cultivos
agrícolas se destacam, além do café, o feijão, o milho e a cana de açúcar (Qua. 3).

Quadro 3 – Área plantada e produção de café, feijão, milho e cana-de-açúcar, ano de 2012
Cultivo
Café Feijão Milho Cana
Microrregião Área Área Área Área
Produção Produção Produção Produção
Plantada Plantada Plantada Plantada
(t) (t) (t) (t)
(ha) (ha) (ha) (ha)
Juiz de Fora 255 373 3.348 2.196 4.928 16.648 1.488 94.990
Fonte: (IBGE, 2014a).

Suinocultura e Avicultura na Microrregião de Juiz de Fora


A Zona da Mata se destaca como o segundo maior polo de suinocultura do estado de
Minas Gerais com 21,18% do rebanho efetivo, atrás somente da mesorregião do Triângulo
Mineiro e Alto Paranaíba (ABIPECS, 2012). A microrregião de Juiz de Fora possui o terceiro

49
CAPÍTULO 3
maior rebanho efetivo da Zona da Mata com 82.305 cabeças, de acordo com a Pesquisa
Pecuária Municipal do ano de 2012 (IBGE, 2014b). Em relação à avicultura a Zona da Mata é
o quarto maior polo de avicultura de corte de Minas Gerais com 11% do rebanho efetivo do
estado, atrás somente das mesorregiões Central, Triângulo Mineiro e Centro Oeste. A
microrregião de Juiz de Fora possui o quarto maior rebanho efetivo da Zona da Mata com
538.650 cabeças, de acordo com a Pesquisa Pecuária Municipal do ano de 2012 (IBGE,
2014b).

Impactos Ambientais da Suinocultura e Avicultura


A produção de dejetos oriundos das atividades suinícola e avícola consiste em um
grande problema ambiental que causa danos à saúde humana e animal (ABOUELENIEN, et
al., 2014; RIAÑO e GARCÍA-GONZÁLEZ, 2015). O manejo inadequado desses dejetos provoca
a poluição causando a contaminação dos rios e lençóis de água superficiais que abastecem
tanto o meio rural como o urbano e acarretando desequilíbrios ecológicos, disseminação de
patógenos e contaminação das águas potáveis com amônia, nitratos e outros elementos
tóxicos. Outro tipo de poluição associada a essas atividades é o odor desagradável dos
dejetos. Isto se deve a evaporação dos compostos voláteis, que são prejudiciais ao homem e
animais. Além dos prejuízos à saúde do homem e animais alguns desses gases contribuem
para o aquecimento global (DIESEL, et al. 2002; COOLS et al., 2001; OLIVEIRA, et al., 2003).
O fato da produção de suínos e frangos se concentrar em polos regionais como a Zona da
Mata de Minas Gerais e a falta de recursos dos pequenos produtores para introduzirem
soluções tecnológicas avançadas de preservação do meio ambiente agravam esses impactos
ambientais.
Uma alternativa para mitigar os danos ambientais, aumentar a competitividade das
cadeias produtivas e a oferta de energia a nível regional é o aproveitamento energético e a
utilização, como biofertilizante, dos dejetos animais e resíduos de cultivos vegetais. A
codigestão anaeróbia é o processo que permite a conversão de resíduos em biometano,
sendo utilizada em várias partes do mundo na gestão de resíduos agropecuários.

Condomínios de Agroenergia
Os primeiros projetos de condomínios de agroenergia surgiram na Europa no início
de 1980. A central de geração de energia deve estar localizada de forma a beneficiar o maior
número de produtores rurais (RAVEN e GREGERSEN, 2007). Os condomínios de agroenergia

50
CAPÍTULO 3
se definem como a área territorial onde se encontram as cadeias agroenergéticas, dispondo
de tecnologia e organização para produzir e utilizar a energia oriunda da atividade
agropecuária local e regional. Dentre os benefícios dos condomínios de agroenergia se
destacam: (i) segurança alimentar; (ii) desenvolvimento rural; (iii) autosuficiência
energética local; (iv) gestão agropecuária sustentável; (v) conservação da biodiversidade e
mitigação das mudanças climáticas; e (vi) melhoria do abastecimento e segurança energética
(Mangoyana & Smith, 2011; Best, 2003).
Os objetivos deste trabalho foram: (i) estimar os resíduos agropecuários disponíveis
na microrregião de Juiz de Fora; (ii) estimar o potencial de produção de biometano por meio
da codigestão anaeróbia dos resíduos agropecuários disponíveis na microrregião; (iii)
estimar o potencial de geração de energia com o biometano produzido com os resíduos
agropecuários na microrregião; e (iv) avaliar os impactos da energia produzida com os
resíduos agropecuários na matriz energética da microrregião.

Material e Métodos
Os dados utilizados neste trabalho foram obtidos da literatura científica, relatórios
técnicos e dos órgãos oficiais de estatística brasileiros.
Foi utilizada a ferramenta computacional Sistema de Avaliação do Uso da Digestão
Anaeróbia para o Dimensionamento Energético (SAUDADE) para realizar os seguintes
cálculos: (i) resíduos agropecuários produzidos na microrregião; (ii) biometano produzido
a partir dos resíduos agropecuários; (iii) energia gerada a partir do biometano; (iv) potência
elétrica gerada a partir do biometano; (v) energia elétrica produzida a partir do biometano.

Resultados e Discussão
Produção de Dejetos de Suínos e Frango de Corte na Microrregião de Juiz de Fora
A carga poluidora, em termos de demanda bioquímica de oxigênio (DBO), dos dejetos
produzidos anualmente pelo rebanho efetivo de suínos da microrregião corresponde
aproximadamente a carga poluidora produzida por uma cidade de 264.000 habitantes. O
total de resíduos produzidos anualmente pelo rebanho efetivo de frango na região
corresponde aos resíduos produzidos por 168 humanos (FLEMING e FORD, 2001; Qua. 4).

51
CAPÍTULO 3
Quadro 4 – Produção de dejetos suínos e de frangos na microrregião de Juiz de Fora
Microrregião Dejetos suínos (t ano-1) Dejetos frango (t ano-1)
Juiz de Fora 215.020,78 1.098,85

Os resíduos vegetais disponíveis respondem por 48,48% do potencial da produção de


biometano na região (bagaço e palha de cana-de-açúcar totalizam 34,98%). Os dejetos de
suínos e de frangos respondem por 39,62% e 11,90%, respectivamente do potencial
energético (Qua. 5).

Quadro 5 – Potencial de produção de biometano e de energia na microrregião de Juiz de Fora


Produção de Metano Potencial de Energia
Tipo de Resíduo
(m3 ano-1) (TJ ano-1)
Suíno 4.810.380 173
Frango 1.444.568 52
Café 7.618 0,27
Feijão 1.374.273 49
Milho 257.384 9
Bagaço de Cana 1.837.606 66
Palha de Cana 2.408.832 87
Total 12.140.661 436

Potência Elétrica Disponível a Partir do Biometano


A Quadro 6 e Figura 1 a seguir mostram a estimativa da potência elétrica gerada com
o biometano obtido dos resíduos agropecuários nos municípios da microrregião de Juiz de
Fora.
A potência elétrica que pode ser gerada com o biometano dos resíduos agropecuários
da microrregião de Juiz de Fora corresponde a 6,16% da potência elétrica instalada nas
PCH’s da microrregião (Qua. 7). A geração de energia elétrica com o biometano produzido a
partir dos resíduos agropecuários da microrregião de Juiz de Fora é capaz de atender a
4,10% do consumo da microrregião.

52
CAPÍTULO 3
Quadro 6 – Estimativa da potência elétrica gerada a partir dos resíduos agropecuários na
microrregião de Juiz de Fora
Tipo de Resíduo Potência Elétrica (kW)
Suíno 2.037
Frango 585
Café 2
Feijão 557
Milho 88
Bagaço de Cana 778
Palha de Cana 1.020
Total 5.067

Figura 1 – Estimativa da potência elétrica gerada com biometano. Fonte: Elaborada pelo
autor.

53
CAPÍTULO 3
Quadro 7 – Potencial de produção de energia elétrica a partir do biometano de resíduos
agropecuários da microrregião de Juiz de Fora
Produção de Energia % Consumo de energia
Microrregião
Elétrica (MWh ano-1) elétrica
Juiz de Fora 30.634 4,10

Condomínio de Agroenergia em Juiz de Fora


Foi dimensionado um condomínio de agroenergia para o município de Juiz de Fora
que possui uma população de aproximadamente 560.000 habitantes distribuídos em uma
área de 1.436,85 km2.
Os Quadros 8 e 9 apresentam o número de granjas de frangos e de suínos, suas
respectivas quantidades de animais e produção de dejetos e os resíduos vegetais disponíveis
no município de Juiz de Fora. A Figura 2 apresenta as granjas de frango e de suínos no
Condomínio de Agroenergia dimensionado para o município de Juiz de Fora.

Quadro 8 – Granjas e suas respectivas quantidades de animais e produção de dejetos


Tipo de Número de Granjas Quantidade de Dejetos (t ano-1)
Granja animais
Frangos 3 323.000 4.026
Suínos 7 38.583 100.693
Fonte: (IMA, 2013a).

Quadro 9 – Resíduos de cultivos vegetais disponíveis no município de Juiz de Fora


palha de
café feijão milho bagaço de
Município cana (t ano-
(t ano-1) (t ano-1) (t ano-1) cana (t ano-1)
1)

Juiz de Fora 4,9 187,2 161,9 408,0 595,0

A produção de biometano a partir dos resíduos agropecuários disponíveis no


Condomínio de Agroenergia de Juiz de Fora chega a 3.588.598 m3 ano-1 e a potência elétrica
disponível é da ordem de 1.504 kW.

54
CAPÍTULO 3

Figura 2 – Condomínio de Agroenergia de Juiz de Fora. Fonte: Elaborada pelo autor.

Conclusão
Os resíduos agropecuários disponíveis na microrregião de Juiz de Fora foram
estimados em aproximadamente 3,3 x 105 t ano-1, a gestão adequada dos mesmos é
primordial. A inserção da eletricidade gerada pode evitar a construção de novas PCHs
evitando assim impactos ambientais e sociais. O aumento da oferta de eletricidade pode
representar a melhoria na qualidade de vida das pessoas contribuindo para a elevação do
índice de desenvolvimento humano regional. A geração, transmissão e distribuição de
eletricidade podem representar uma redução na evasão de divisas econômicas, uma vez que
a energia pode ser produzida e consumida in loco não sendo exportada a outras regiões. O
aproveitamento energético dos resíduos agropecuários por meio da codigestão anaeróbia
demandará profissionais capacitados criando postos de trabalho. São necessárias políticas
públicas claras e eficazes de incentivos para que o potencial do biometano se transforme em
capacidade.

55
CAPÍTULO 3
Referências Bibliográficas
ABIPECS – Associação Brasileira das Indústrias Produtoras e Exportadoras de Carne Suína.
Carne Suína Brasileira em 2011. Disponível em: www.abipecs.org.br, Consulta em:
09/2012.
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of methane production from co-digestion of chicken manure with agricultural wastes,
Bioresource Technology, Vol 159: 80-87.
ANEEL, Agência Nacional de Energia Elétrica. Disponível em: https://goo.gl/dmX9Q3 Data da
Consulta: Set 2014.
Best, G. (2003). Agroenergy: A New function in Agriculture, LAMNET-NEWS 3rd Issue.
CEMIG – Companhia Energética de Minas Gerais, www.cemig.com.br (Consulta em:
08/2014).
CEMIG - Companhia Energética de Minas Gerais. 27º Balanço Energético de Minas Gerais -
BEEMG, 2012. Ano base 2011. Belo Horizonte: Cemig, 2012.
Cools, D.; Merckx, R.; Vlassak, K.; Verhaegen, J. (2001). Survival of E. Coli and Enterococcus
spp. Derived From Pig Slurry in Soils of Different Texture. Applied Soil Ecology. Vol
17:53-62.
Diesel, R.; Miranda, C. R.; Perdomo, C. C. (2002). Coletânea de tecnologias sobre dejetos
suínos. Boletim Informativo – BIPERS, (14): 4-28.
Energisa, http://www.energisa.com.br, (Consulta em: 08/2014).
EPE, Empresa de Pesquisa Energética (Brasil). Anuário Estatístico de Energia Elétrica 2012.
Disponível em: www.epe.gov.br/AnuarioEstatisticodeEnergiaEletrica/Anurio.aspx.
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Disponível em: https://goo.gl/eVhaaw
IBGE, 2014a. Pesquisa Agrícola Municipal. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
Disponível em: www.sidra.ibge.gov.br/bda/pesquisas/pam/default.asp?o=28&i=P
IBGE, 2014b. Pesquisa Pecuária Municipal. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
Disponível em: www.sidra.ibge.gov.br/bda/pesquisas/ppm/default.asp?o=27&i=P
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). IBGE Cidades. Disponível em:
http://cidades.ibge.gov.br/xtras/uf.php?lang=&coduf=31&search=minas-gerais.
Mangoyana, R.B. & Smith, T.F. 2011. Decentralised bioenergy systems: A review of
opportunities and threats, Energy Policy, 39 (3): 1286-1295.

56
CAPÍTULO 3
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Gerais: uma abordagem geohistórica. X Encontro de Geógrafos da América Latina, São
Paulo. 9342-9367.
Oliveira, P. A. V.; Higarashi, M. M.; Nunes, M. L. A. 2003. Efeito Estufa. Suinocultura Industrial,
São Paulo, 25: 16-20.
Ouedraogo, N. S. (2013). Energy consumption and human development: Evidence from a
panel cointegration and error correction model, Energy, 63: 28-41.
Paula, A.R.P.; Cristovao, E.C.; Miranda, H.P. & Amaral, T. O. 2013. Vocação Energética na Zona
da Mata Mineira. XIV Encontro de Geógrafos da América Latina, Lima – Peru.
Raven, R.P.J.M. & Gregersen, K.H. 2007. Biogas plants in Denmark: successes and setbacks,
Renewable and Sustainable Energy Reviews, 11 (1): 116-132.
Riaño, B. & García-González, M.C. 2015. Greenhouse gas emissions of an on-farm swine
manure treatment plant – comparison with conventional storage in anaerobic tanks,
Journal of Cleaner Production, 103: 542-548.

57
CAPÍTULO 4

ANÁLISE FINANCEIRA DO SISTEMA SILVIPASTORIL NA


PECUÁRIA DE CORTE

Leonardo de Oliveira Resende1*


Luís Fernando Guedes Pinto2
Sergio de Zen2
Laury Cullen Junior3
Luiz Felipe Guanaes Rego4
Marcelo Dias Muller5

1 Administrador de Empresas, Doutorando do programa de Geografia da Puc-Rio, Brasil


2 Agrônomo, Doutor pela Universidade de São Paulo, USP, Brasil.
3 Engenheiro Florestal, Doutora pela University of Kent, U. KENT, Inglaterra.
4 Geógrafo, Doutor pela Universidade de Albert Ludwings de Freiburg, Alemanha.
5 Engenheiro Florestal, Doutor pela Universidade Federal de Viçosa, Brasil.
Contato: leonardoresende@fazendatriqueda.com.br

Apesar de ser um dos maiores produtores de carne do mundo, o Brasil tem como
líderes de lucratividade os grãos, como a soja e o milho, a cana, as florestas plantadas, entre
outros, sendo que a pecuária de corte ocupa um espaço subutilizado do ponto de vista de seu
potencial (MAPA, 2010 / CEPEA & CNA, 2016).
Dessa forma, a pecuária de corte vem sendo pressionada economicamente e se
deslocando para estados mais ao norte do país, deixando as terras do cerrado brasileiro,
mais estratégicas do ponto de vista comercial, para atividades do agronegócio mais
lucrativas (Observatório do Clima, 2015).

58
CAPÍTULO 4
Ao analisar a situação de forma ampla, levando-se em conta a produtividade média
brasileira, temos, por um lado, sérios problemas relacionados à baixa taxa de lotação de
unidade animal por hectare, fato esse atribuído ao atual estágio de degradação dos solos e
da pastagem. Por outro lado, a baixa qualidade genética dos animais também contribui para
os tímidos indicadores econômicos (Documentos 258, 2006). Para que essas áreas voltem a
produzir com rentabilidade aceitável, é necessário fazer investimento em recuperação da
fertilidade do solo e na genética de animais de alta qualidade e precocidade. Nesse contexto,
ocorre a possibilidade de integrar as atividades (agricultura, pecuária e floresta) com ganhos
múltiplos (Hudson & Garcia, 2009).
A integração de duas atividades ocupando o mesmo espaço e ao mesmo tempo
aumentam as possibilidades comerciais, a produtividade por hectare e, consequentemente,
as margens de lucro. Através da melhora dos indicadores financeiros, o Sistema Silvipastoril
permite que a atividade da pecuária tenha um ganho significativo de competitividade e faça
frente aos setores mais eficientes nos dias de hoje. Nas últimas décadas, várias alternativas
de produção mais rentáveis que a pecuária se consolidaram no Brasil, podendo ser citadas,
entre elas, a produção de grãos (soja e milho) e a de cana-de-açúcar (Brasil, 2014). Esse fato
pressiona a Pecuária de Corte que, para se sustentar, demanda um crescente por escalas
maiores de produção, ou seja, grande quantidade de terras contínuas.
Para uma adequada comparação do resultado econômico entre produtos, projetos ou
setores produtivos, faz-se necessária a utilização de um conjunto de indicadores de
desempenho, a fim de que eles se complementem e, assim, apresentem um resultado mais
sólido para uma boa tomada de decisão. Segundo Damodaram (2012), nas decisões de
investimento, sempre há várias alternativas, que vão desde a tradicional aplicação na
caderneta de poupança, fundos de investimento, mercado de ações até atividades
produtivas. A pessoa somente investirá em uma atividade produtiva se a rentabilidade do
projeto for superior às outras oportunidades oferecidas pelo mercado (ou superior ao custo
de oportunidade). O custo de oportunidade é a remuneração atingida no mercado com o
mínimo de risco (Gitman, 1997). No caso do Brasil, de maneira geral, os estudos utilizam a
taxa Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (SELIC), sendo que, de acordo com esse
conceito, o negócio só começa a ser atrativo quando sua rentabilidade supera esse valor.
A necessidade de evoluir os modelos produtivos da pecuária de corte extensiva
brasileira em busca de uma melhor produtividade e rentabilidade se faz necessária para
obtenção de indicadores financeiros mais compatíveis com a estrutura e o papel central

59
CAPÍTULO 4
desse segmento para o agronegócio brasileiro, dado o tamanho do rebanho e sua
importância econômica. Nesse contexto, esta pesquisa teve como objetivo avaliar a real
capacidade que o Sistema Silvipastoril possui para a melhora do desempenho econômico,
em relação à pecuária de corte extensiva convencional tropical, no contexto da área de
Estudo de Caso da Fazenda Triqueda.

Material e Métodos
A Fazenda Triqueda (Fig. 1), está localizada na cidade de Coronel Pacheco, Zona da
Mata do Estado de Minas Gerais, e se dedica à pecuária de corte e de madeira por meio do
Sistema Silvipastoril, ou seja, a integração da pecuária de corte com o plantio de florestas de
eucalipto para serraria.

Figura 1 – Mapa de localização da área de estudo desta pesquisa, a Fazenda Triqueda.

Caracterização da área do Sistema Silvipastoril


O Sistema Silvipastoril é caracterizado pela presença homogênea de árvores, ficando
o gado e a pastagem submetidos a uma condição de sombreamento parcial com
temperaturas médias menores. Na área de estudo, o Sistema Silvipastoril foi concebido pela
introdução do componente arbóreo de uma forma intencional e homogênea em uma área de
pastagem formada pela forrageira Brachiaria brizantha. Nessa situação, o sistema apresenta
duas possibilidades de exploração econômica, o gado e a madeira.
A espécie de árvore utilizada foi o Eucalyptus urograndis, de origem clonal, com um
espaçamento inicial de 2 x 3 x 15 metros, com 555 mudas por hectare, plantadas em janeiro
de 2007. No ano de 2010, foi realizado um desbaste de 50% do stand inicial de árvores,
remanescendo, aproximadamente, 250 árvores por hectare; essas serão mantidas até seu
corte final, previsto para a idade de 12 anos.

60
CAPÍTULO 4
Nesta pesquisa, foram levantados os custos e as receitas oriundos da implementação
do Sistema Silvipastoril com eucalipto até o final de 12 anos. Ressalta-se que o eucalipto foi
introduzido na pastagem de Brachiaria brizantha já existente e que as operações necessárias
à implantação do sistema foram: despesas com preparo da área para o plantio, aquisição de
insumos, combate à formiga, capinas, adubação e formação de pasto. Na estimativa dos
custos, foram levados em consideração itens como: mão de obra, insumos, horas trabalhadas
de máquinas, transporte, custo da terra, entre outros. Na venda da madeira, foi considerado
que os custos de colheita e transporte ocorrem por conta do comprador.
A introdução do gado no sistema ocorreu 6 meses após o plantio, quando as árvores
atingiram de 3 a 5 metros de altura. A fazenda realiza a atividade exclusiva de cria de
bezerros da raça Brangus, utilizando uma taxa de lotação de 1,5 UA por ha (uma e meia
unidade animal por hectare). Nos custos operacionais referentes à Pecuária de Corte, foram
considerados a mão de obra, o sal mineral, os medicamentos e a manutenção das
benfeitorias.

Caracterização da área do Sistema Convencional ou área testemunha


O Sistema Convencional ocorre, em sua maioria, entre os modelos produtivos
identificados na pecuária extensiva brasileira e se caracteriza pelo fato da pastagem ser o
único elemento de plantio na área explorada comercialmente e, sendo o pastoreio de animais
a única possibilidade de exploração econômica. Nesse sistema, que é caracterizado pela
ausência de árvores, tanto o gado quanto a pastagem são submetidos a uma condição de sol
pleno.

Indicadores de desempenho econômico


Para realizar a análise comparativa do desempenho econômico entre os dois sistemas
produtivos, fez-se necessário tratar as informações de forma homogênea para ambos. Dessa
forma, a metodologia do Centro de Pesquisas Econômicas Aplicadas da Escola Superior de
Agricultura Luis de Queiroz /Universidade de São Paulo (ESALQ/USP) – (CEPEA) foi adotada
para avaliar o desempenho econômico dessa pesquisa. O CEPEA realiza pesquisas dos
indicadores econômicos para a pecuária brasileira em diversas regiões, sendo que os
números obtidos pela Fazenda Modal representam a média de todas as fazendas pesquisadas
em determinada microrregião, segundo um grupo focal de produtores.

61
CAPÍTULO 4
A Fazenda Modal de Cria da região de Uberlândia, com pecuária extensiva tradicional,
caracterizada pela ausência de árvores, foi escolhida para a referência comparativa desta
pesquisa por ser a mais próxima e representativa em relação à Fazenda Triqueda.
Os dados primários obtidos na área de Estudo de Caso da Fazenda Triqueda foram
tratados com os parâmetros praticados pelo CEPEA e lançados na Tabela 1.
A Tabela 1 apresenta todos os fluxos de receitas e despesas das atividades. Para a
análise comparativa, foram selecionados três indicadores de desempenho econômico que o
CEPEA utiliza: a Margem Líquida, a Taxa de Remuneração sobre o Capital Investido e o
indicador de Retorno por Real Investido.
Vale observar a importância da utilização de dois ou mais indicadores de desempenho
econômico de forma conjunta, para que eles se complementem e, assim, apresentem um
resultado analítico mais claro e eficiente. Foram utilizados como dados primários a base de
dados históricos da Fazenda Triqueda, tais como o investimento inicial, a produtividade por
hectare, os custos e as receitas; já como dados secundários, a pesquisa utilizou as
informações da FAZENDA MODAL de Cria do CEPEA para a região de Uberlândia.
O cálculo da Margem Líquida foi realizado a partir da seguinte fórmula: Margem
Líquida = RT – COT. Onde RT é a receita total bruta e COT é o custo operacional total (custos
operacionais efetivos e custos de depreciação, conforme tabela 2)
O cálculo da Taxa de Remuneração do Capital Investido foi realizado a partir da
seguinte fórmula: Taxa de Remuneração = ML / Cap. Inv. Onde ML é margem líquida e Cap.
inv. é capital investido ou estoque de capital (custo de remuneração sobre o capital,
conforme Tabela 2)
O cálculo do Retorno por Real Investido foi realizado a partir da seguinte fórmula:
Retorno por Real investido = RT / COT. Onde RT é receita total bruta e COT é o custo
operacional total (custos operacionais efetivos e custos de depreciações, conforme Tabela 2)

Resultados e Discussão
Apresentam-se, a seguir, os resultados da pesquisa, sendo a primeira informação
referente à pecuária de corte extensiva convencional e a segunda, ao Sistema Silvipastoril,
ambas com dimensões de 250 hectares de área total, conforme dados presentes na Tabela 2:
Margem Líquida (R$ 18.217,47 x R$ 238.726,59); Taxa de Remuneração sobre o Capital
Investido (2,55% x 25,43%); indicador de Retorno por Real Investido (R$ 1,15 x R$ 2,87).

62
CAPÍTULO 4
A Margem Líquida, ao observar a Tabela 2, excluída a receita com a venda de madeira,
nota-se que ambos os sistemas de produção possuem números próximos de receita com os
animais, custo operacional e depreciações, considerando que as duas unidades de produção
possuem uma área de 250 hectares, conforme dados presentes na Tabela 3.
Dessa forma, os resultados obtidos reforçam o entendimento de que a introdução do
componente florestal no sistema de produção proporcionou uma melhor distribuição do
custo fixo que antes era destinado somente à produção de carne e passou a ter mais um
produto para diluí-lo e, assim, o Sistema Silvipastoril teve seu resultado financeiro
alavancado.
Nota-se que a taxa de remuneração sobre o capital investido obtida pela pecuária de
corte extensiva tradicional de 2,55% a.a. foi bem inferior ao custo de oportunidade do
investimento. Nesse caso, seria melhor que esse recurso financeiro fosse alocado em outra
oportunidade oferecida pelo mercado, como, por exemplo, a taxa SELIC, pois isso iria
proporcionar menor risco sobre o investimento e na maior lucratividade.
Parte significativa dos 25,43% a.a. de taxa de remuneração do Sistema Silvipastoril se
deve ao direcionamento das árvores para o mercado de serraria e à precocidade que essas
atingem o DAP (diâmetro a altura do peito) superior a 40 cm. Isso faz com que cada árvore
atinja o valor de venda de R$ 200, 00, que representa uma receita bruta total de R$ 40.000,00
por hectare em 12 anos, ou R$ 3.333,33/ha/ano.
Observa-se que o indicador de retorno por real investido, na última linha da Tabela 2,
que, para cada R$ 1,00 investido na pecuária de corte extensiva tradicional, obteve-se um
retorno de R$ 1,15, e, no caso do Sistema Silvipastoril, o retorno obtido foi de R$ 2,87.
Dessa forma, o resultado comparativo para o indicador de Retorno por Real Investido
reforça o resultado dos dois itens anteriores, nos quais a integração da pecuária com a
floresta renovável maximizou todos os indicadores econômicos do negócio. Além do melhor
desempenho econômico, no Sistema Silvipastoril, o fluxo de caixa anual é mantido de forma
semelhante ao da pecuária de corte extensiva tradicional (exceto pelos seis meses iniciais do
plantio das árvores, quando o gado é retirado do pasto), sendo a entrada da receita da
madeira para serraria um fluxo de caixa extra previsto para o 12º (décimo segundo) ano.

63
CAPÍTULO 4
Conclusão
A pesquisa demonstrou que o Sistema Silvipastoril possui a real capacidade de
melhorar o desempenho econômico da pecuária de corte extensiva convencional tropical, no
contexto da área de Estudo de Caso da Fazenda Triqueda, sendo esse sistema produtivo
validado como uma alternativa para o agronegócio brasileiro.
Dessa forma, ao migrar do modelo tradicional de produção do gado de corte, de ciclo
de curto prazo, para o Sistema Silvipastoril, de longo prazo, obtém-se uma melhor
remuneração sobre o capital investido em todos os tamanhos de propriedade. Ao tornar a
rentabilidade da pecuária mais atrativa para os investidores, é possível obter um cenário
mais justo de competição com as outras opções de culturas agrícolas disponíveis.
Além dos benefícios financeiros, no Sistema Silvipastoril, ocorrem interações que
proporcionam um vasto número de serviços ambientais para os produtores e a sociedade.
Esse tipo de sistema multifuncional permite “o manejo integrado dos recursos naturais,
evitando sua degradação, além de recuperar sua capacidade produtiva” (EMBRAPA, 2017).
O fato da Área de Estudo de Caso, a Fazenda Triqueda, localizar-se na paisagem
geográfica denominada “Mares de Morros” reforça a importância do Sistema Silvipastoril
como uma opção viável do ponto de vista econômico mesmo para as terras de topografia
acidentada e, portanto, não mecanizáveis. Vale ressaltar que uma significativa porção de
terras dos quatro estados da região Sudeste do Brasil (São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais
e Espírito Santo) também pertencem aos “Mares de Morros” e se caracterizam pelo
predomínio de uma cadeia de montanhas com elevada declividade e inclinação. Em meados
do século XX, após a mecanização da agricultura e abertura das terras planas no Cerrado
brasileiro, essas terras perderam sua eficiência produtiva e encontram-se em uma longa fase
de degradação ambiental, social e econômica.
No que diz respeito as suas externalidades, o modelo produtivo proposto pode
contribuir para uma distribuição mais racional do espaço geográfico e uso do solo no
agronegócio brasileiro, amenizando a pressão por aberturas de novas áreas produtivas e,
por conseguinte, proporcionar uma relação mais harmônica entre o homem e a natureza,
com a valorização da biodiversidade e dos serviços ambientais.

Referências Bibliográficas
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https://goo.gl/D9Hc1a. Acesso em: 5 de maio, 2017.

64
CAPÍTULO 4
CEPEA. Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada - CEPEA-Esalq-USP. Disponível
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CEPEA. Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada - CEPEA-Esalq-USP. Analise
Administrativa – receitas e custos operacionais das fazendas modais do estado de
Minas Gerais. Piracicaba, SP, 2016.
Damodaram, A. 2012. Finanças corporativas: teoria e prática. 2. ed. São Paulo: Bookman.
Documentos 258. 2006. Sistemas Silvipastoris na recuperação de pastagens degradadas.
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária; Embrapa Pecuária Sudeste; Ministério
da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Belém, PA, p. 11.
EMBRAPA. Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Disponível em:
https://www.embrapa.br/florestas/transferencia-de-tecnologia/sistema-
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Gittman, L. J. 1997. Princípios de Administração Financeira. São Paulo: Harbra.
Hudson, L.S & Garcia, M.A. 2009 Sistema Agrossilvipastoril: uma opção de rentabilidade e
sustentabilidade. Disponível em: https://goo.gl/vf3puk. Acesso em: 5 março 2014
Observatório do Clima, 2015. Disponível em: https://goo.gl/7b8TwZ. Acesso em: 21
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Resende, L.O. 2016. Certificação da neutralização do metano entérico na pecuária de corte.
Dissertação de Mestrado, Escola Superior de Conservação Ambiental e
Sustentabilidade, Instituto de Pesquisas Ecológicas, Nazaré Paulista, SP. 81 f.
Silva, V.P. 2004. Sistemas Silvipastoris, Embrapa Florestas. Disponível em:
http://www.cnpf.embrapa.br/pesquisa/safs/.

65
Tabela 1 – Análise comparativa dos indicadores econômicos.
Receita Total - RT Pecuária extensiva convencional Pecuária no sistema silvipastoril
Receita venda de animais R$ 138.644,12 R$ 123.100,00
Receita madeira (silvicultura) R$ R$ 243.750,00
Receita total R$138.644,12 R$366.850,00
Custos Operacionais Efetivos- COE
Administrativos, Impostos fixos e energia R$ 5.160,00 R$ 12.000,00
Comercialização (Gastos, Impostos e taxas) R$ 108,84 R$ 116,45
Manutenção - Benfeitorias R$ 291,66 R$ 551,02
Manutenção - Equipamentos R$ 1.066,67 R$ 1.066,67
Manutenção - Utilitários R$ 2.500,00 R$ 2.500,00
Manutenção - Máquinas (Pastagem) R$ 300,00 R$ 300,00
Manutenção - Implementos (Pastagem) R$ 90,00 R$ 90,00
Combustível - Utilitários R$ 6.048,00 R$ 6.048,00
Combustível - Máquinas (Pastagem) R$ 615,60 R$ 615,60
Insumos (Silvicultura) R$ R$ 2.000,00
Mão de obra (Silvicultura) R$ R$ 8.000,00
Mão de obra contratada para manejo do rebanho R$ 27.527,26 R$ 27.527,26
Assistência técnica R$ R$
Medicamento - Antibióticos R$ 333,60 R$ 333,60
Medicamento - Controle Parasitário R$ 839,05 R$ 815,57
Medicamento - Vacinas R$ 1.400,73 R$ 1.359,28
Suplementação Mineral R$ 13.746,85 R$ 9.410,00
Aquisição de animais R$ 2.916,00 R$ 2.916,0
Custos Operacionais Efetivos R$62.944,25 R$75.649,45

66
Custo de Depreciação
Benfeitorias R$ 11.666,40 R$ 18.368,1
Máquinas R$ 1.600,00 R$ 1.600,00
Implementos R$ 4.173,33 R$ 3.426,67
Equipamentos R$ 1.178,33 R$ 1.178,33
Utilitários R$ 3.500,00 R$ 3.500,00
Animais de Serviço R$ 783,33 R$ 783,33
Pró-labore R$ 24.000,00 R$ 13.000,00
Máquinas (Pastagem) R$ 750,00 R$ 625,00
Implementos (Pastagem) R$ 192,00 R$ 160,00
Combustível - Máquinas (Pastagem) R$ 1.539,00 R$ 1.282,50
Insumos (Pastagem) R$ 4.860,00 R$ 5.850,00
Mão de obra (Pastagem) R$ 3.240,00 R$ 2.700,00
Custo de Depreciação Total R$ 57.482,40 R$ 52.474,0

CUSTO OPERACIONAL TOTAL - COT R$120.426,65 R$128.123,41

67
CONTINUAÇÃO TABELA 1...

ESTOQUE DE CAPITAL ou CAPITAL INVESTIDO R$714.106,96 R$939.082,86

Custo de Remuneração Sobre o Capital


Remuneração de Capital - Benfeitorias R$ 17.549,19 R$ 16.181,8
Remuneração de Capital - Máquinas R$ 1.992,00 R$ 1.992,0
Remuneração de Capital - Implementos R$ 2.490,00 R$ 1.792,8
Remuneração de Capital - Equipamentos R$ 871,29 R$ 871,3
Remuneração de Capital - Utilitários R$ 2.697,50 R$ 2.697,5
Remuneração de Capital - Animais R$ 19.676,03 R$ 34.816,9
Remuneração de Capital - Silvicultura R$ R$ 12.450,0
Remuneração de Capital - Pastagem R$ 878,22 R$ 587,5
* Custo de Oportunidade da terra / arrendamento de 5% valor da terra R$ 217.484,10 R$ 130.750,0
Custo sobre o ativo circulante R$ 2.612,19 R$ 3.135,6
Custo de Remuneração Sobre o Capital R$266.250,53 R$205.275,48

CUSTO TOTAL - CT R$386.677,18 R$333.398,89

Fonte: Resende (2016), com base na metodologia das Fazendas Modais do CEPEA.

68
Tabela 2 – Análise Econômica da Atividade Pecuária.
pecuária extensiva
Análise Econômica da Atividade Pecuária pecuária no sistema silvipastoril
convencional
Margem Líquida (ML) = (Receita - COT) Anual R$18.217,47 R$238.726,59
Taxa de Remuneração do Capital (ML/Estoque de Capital) 2,55% 25,43%
Retorno por real investido (Receita / COT) R$ 1,15 R$ 2,87
Fonte: Resende (2016), com base na metodologia das Fazendas Modais do CEPEA.

Tabela 3 – Análise comparativa do custo e usos das terras.


pecuária extensiva
Custo de Oportunidade da Terra pecuária no sistema silvipastoril
convencional
% do custo de oportunidade da terra 5% 5%
Custo da terra em Uberlândia-MG R$17.364,00
Custo da terra em Coronel Pacheco-MG R$10.460,00
Distribuição e Aproveitamento da terra
Área total em ha 250,50 250,00
Área util em ha 233,00 150,00
% de área util 93,01% 60,00%
Área de reserva florestal e APP em ha 15 97
% de reserva florestal e APP em ha 5,99% 38,80%
Área de benfeitorias 2,5 3
Fonte: Resende (2016), com base na metodologia das Fazendas Modais do CEPE
69
CAPÍTULO 5

SOLUÇÕES SUSTENTÁVEIS PARA RESIDÊNCIAS RURAIS: FOSSA


DE EVAPOTRANSPIRAÇÃO E CÍRCULO DE BANANEIRAS

Gilberto Malafaia de Oliveira1*


Jane Terezinha da Costa Pereira Leal2

1 Coordenador Técnico Regional da Unidade Regional da EMATER/MG na área de meio


ambiente.
2 Coordenadora Técnica Estadual da EMATER/MG.
Contato: gilberto.malafaia@emater.mg.gov.br

O objetivo do saneamento básico é garantir a saúde, a segurança e o bem-estar da


população, a partir de medidas que evitem a presença de resíduos, detritos, patógenos,
contaminantes ou outras substâncias tóxicas.
A Lei no. 11.445, de 5 de janeiro de 2007 (Brasil, 2007), que estabelece diretrizes
nacionais para o saneamento básico, conceitua o saneamento como o conjunto de serviços,
infraestruturas e instalações operacionais de abastecimento de água potável, esgotamento
sanitário, limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos.
No caso do esgotamento sanitário focado no meio rural, os serviços prestados a esta
parcela da população apresentam um déficit muito elevado de cobertura. Apenas 5,45% dos
domicílios estão ligados à rede de coleta de esgotos, 4,47% utilizam a fossa séptica ligada a
rede coletora e 28,78% fossa séptica não ligada a rede coletora como solução para o
tratamento dos dejetos. Os demais domicílios (61,27%) depositam os dejetos em fossas
rudimentares, lançam em cursos d´água ou diretamente no solo a céu aberto (PNAD/2015).
Este cenário contribui direta e indiretamente para o surgimento de doenças de transmissão

70
CAPÍTULO 5
hídrica, parasitoses intestinais e diarreias, as quais são responsáveis pela elevação da taxa
de mortalidade infantil.
Esse cenário reflete os potenciais riscos à saúde da população, em especial às crianças,
bem como demonstra a exposição dos mananciais de abastecimento de água aà fontes de
contaminação pontuais e difusas e a provável deterioração do meio ambientais.
Ciente de que o saneamento ambiental nas propriedades rurais é primordial para que
seja realizada a manutenção da saúde da população e da qualidade dos recursos hídricos,
passamos a mostrar uma alternativa para o tratamento do efluente gerado nos vasos
sanitários de tais propriedades: a Fossa de Evapotranspiração.

Fossa de Evapotranspiração
A Fossa de Evapotranspiração é uma tecnologia também conhecida por Tanque de
Evapotranspiração. Daí seu nome popular: Fossa TEvap. É um sistema de tratamento e
reaproveitamento dos esgotos proveniente do vaso sanitário.
É um sistema fechado, onde não há saída de água por meio da infiltração no solo.
Nele ocorre a decomposição da matéria orgânica, mineralização e absorção dos
nutrientes e da água, pelas raízes dos vegetais. Os nutrientes são absorvidos pelas raízes das
plantas e a água é eliminada por evapotranspiração (plantas e solo). Então não há
escoamento ou infiltração. Dessa forma, não há como poluir o solo e as águas subterrâneas
ou o risco de algum microrganismo patógeno sair do sistema.
Um pré-requisito para o uso da Fossa de Evapotranspiração ou TEvap é a separação
da água servida na casa. Apenas o esgoto dos sanitários deve ir para a fossa TEvap. As demais,
(águas cinzas), provenientes de pias, tanques e chuveiros, devem ir para outro sistema de
tratamento, que pode ser o Círculo de Bananeiras, desde que passe, antes, por uma caixa de
gordura, detalhada ao longo deste material.
A TEvap é um sistema de tratamento criado e amplamente utilizado por
permacultores. Trata-se de uma solução funcionalmente simples, pois suas estruturas são de
fácil construção e manutenção, além de apresentarem baixos custos de implantação.
Trata-se de uma trincheira com as paredes e fundo nivelados, impermeabilizados,
onde não há saída de efluente via infiltração no solo. O preenchimento do tanque aberto no
solo é realizado com materiais de diferentes granulometrias, divididos em camadas. A
primeira camada é composta de entulhos (tijolos, telhas, pedras, etc.), a segunda de brita, a
terceira de areia e a última de solo (Fig. 2).

71
CAPÍTULO 5

Figura 2 – Camadas que compõem a construção do sistema de tratamento TEvap.

Essas camadas são dispostas ao redor da “câmara de fermentação”, que nada mais é
do que um túnel formado por pneus usados, colocados longitudinalmente no meio da
trincheira. Usar pneus de aro 13 ou 14, mas sempre pneus com o mesmo aro.
No interior do tanque, o efluente é recebido na câmara de fermentação. Nela ocorrem
a decomposição anaeróbia da matéria orgânica, a mineralização e a absorção dos nutrientes
e da água pelas raízes dos vegetais. Os nutrientes deixam o sistema, incorporando-se à
biomassa das plantas.
A água se move por meio de capilaridade, de baixo para cima e, com isso, depois de
separada dos resíduos, percorre pelas camadas de brita, areia e solo, chegando até as raízes
das plantas. A evapotranspiração é realizada pelas plantas e possibilita o tratamento final da
água, que só sairá do sistema em forma de vapor, sem contaminantes. Além disso, as plantas,
principalmente as de folhas largas, como caetés, copo-de-leite, etc., consomem os nutrientes
em seu processo de crescimento, permitindo que o TEvap não encha.
Como a evapotranspiração depende em grande parte da incidência do sol, o Tanque
deve ser orientado, quando possível, no sentido nascente/poente e sem obstáculos, como
árvores altas próximas, tanto para não fazer sombra, como para permitir ventilação.
O dimensionamento do TEvap possui duas medidas que tem que ser observadas: 2
metros de largura e 1 metro de profundidade. O seu comprimento é variável de acordo com
o número de moradores na residência (1 metro por usuário – mas é sempre bom, como
margem de segurança, colocar 1 metro a mais, por exemplo, contando com possíveis
visitantes). Observar também que tanques muito compridos perdem em eficiência do
tratamento, portanto não são indicados tanques maiores que 7,5 metros de comprimento
(Fig. 3A).

72
CAPÍTULO 5
O tanque pode ser construído de diversas maneiras (tijolos, blocos, concreto, etc), no
entanto, visando a economia, o método mais indicado de construção das paredes e do fundo
é o ferrocimento. O ferro-cimento é uma técnica de construção com grade de ferro ou tela de
pinteiro (diâmetro 15 mm) colocada nas paredes e no fundo e coberta com argamassa de
areia e cimento.
Faz-se o chapiscamento da parte interna do tanque e, após a secagem, prende-se a
tela nas paredes e no fundo, usando ganchos formados por vergalhão 3/16” (Fig. 3B e C).
Posteriormente faz-se o reboco (2cm) sobre a tela, com uma argamassa formada por 2 partes
de areia lavada e 1 parte de cimento. Esse reboco deve ficar o mais liso possível para evitar
ao máximo a infiltração de água no solo. Caso o solo não seja muito firme, deve-se concretar
o fundo do tanque (Fig. 3D, E e F).
Após a construção do tanque, com a secagem completa da argamassa e assegurada a
sua impermeabilidade, inicia-se a construção da câmara de fermentação, que será feita com
pneus usados e entulho de obra.
A câmara é composta de um duto de pneus (Fig. 3D), bem apertados entre si, sem
nenhum tipo de rejunte, e de entulho de obras (cacos de tijolos, telhas e pedras), colocados
até a altura dos pneus (até 45 cm) (Fig. 3E). Na falta de entulho, pode ser usada a pedra
marroada. Isto cria um ambiente com espaço livre para a água percolar e beneficia a
proliferação de bactérias, que transformarão os sólidos em moléculas de nutrientes.
É interessante cobrir a câmara com sacos ráfia (Fig. 3F), com o intuito de impedir a
entrada de areia na câmara de fermentação. O tubo de entrada (100 mm de diâmetro) de
esgoto deve ser posicionado para dentro da câmara anaeróbia, penetrando a camada de
pneus.
Após essa etapa termina-se de encher o tanque com os seguintes materiais e na ordem
a seguir: uma camada de brita (10cm), uma camada de areia lavada (10cm) e uma camada
de solo (35cm). Recomenda-se utilizar um solo rico em matéria orgânica na última camada.
Como o tanque não tem tampa, a superfície do solo deve ficar abaulada (mais alta no
centro, acima do nível da borda), com o objetivo de evitar um possível alagamento causado
pelas águas da chuva. E para evitar o escoamento superficial da água da chuva para dentro
do sistema, deve-se construir uma proteção, mais elevada do que o nível do solo, ao redor do
tanque (blocos/troncos de árvores, etc).
E para concluir o TEvap terão que ser plantadas (Fig. 3J), no “canteiro” formado,
algumas espécies de folhas largas (maior área para a evapotranspiração), devendo ser

73
CAPÍTULO 5
ornamentais, como o lírio-do-brejo, copo-de-leite, helicônia (bananeira ornamental), maria-
sem-vergonha, etc.

Figura 3 – Etapas para construção do sistema de tratamento TEvap.

Círculo de Bananeiras
O Círculo de Bananeiras é outra tecnologia social que complementa a fossa TEvap no
tratamento do esgoto da residência. É uma alternativa muito prática, fácil de ser
implementada e muito barata para o tratamento das águas cinzas (provenientes das pias,
chuveiros, tanques, etc.), impedindo que essas águas sejam lançadas diretamente no solo ou
nos cursos d’água, com prejuízos ao meio ambiente.

74
CAPÍTULO 5
Para sua construção, deve-se abrir um buraco circular de 1,4 m de diâmetro e 60 cm
de profundidade, que será preenchida com troncos de madeira pequenos, galhos médios e
finos e palhas (capins, folhas, etc.), devendo formar um monte acima da borda da vala, de
modo que a superfície fique abaulada. As águas cinzas serão direcionadas para dentro da
vala, por meio de um cano de PVC com 100 mm de diâmetro.
Ao redor do buraco, a uma distância de aproximadamente 60 cm, plantam-se de 4 a 6
mudas de bananeiras. As bananeiras evaporam grandes quantidades de água e se adaptam
bem a solos úmidos e ricos em matéria orgânica.
As águas cinzas, antes de serem lançadas no buraco, devem passar por uma caixa de
gordura. Podem-se utilizar caixas de gordura pré-fabricadas ou de PVC, que são facilmente
encontradas no mercado. O objetivo da instalação da caixa de gordura é reter as gorduras,
graxas e óleos contidos nas águas cinzas, formando camadas que devem ser removidas
periodicamente, evitando que estes componentes escoem livremente pela rede e a obstruam.
Além disso, a retenção desse material impedirá que o fundo do buraco seja
impermeabilizado.
O preenchimento do buraco deverá ser feito com troncos de madeira pequenos,
galhos médios e finos, folhas e ou capim seco. Com o passar do tempo, o nível desses
materiais dentro do buraco diminuirá. Deve-se então adicionar mais material ao buraco, de
modo que ele fique sempre cheio e sua superfície abaulada.
Deve-se ter o cuidado, principalmente onde houver crianças e animais, com o
cercamento da área para evitar algum acidente ao pisar nesse material.

Considerações Finais
Essas duas alternativas para o tratamento do esgoto doméstico no meio rural são
classificadas como Tecnologia Social por serem muito práticas, fácil de serem construídas e
muito baratas e, por isso mesmo, acessível à população rural. Como as políticas públicas
direcionadas ao esgotamento sanitário no meio rural são muito deficitárias, essas duas
práticas simples contribuem para a melhoria do meio ambiente e consequentemente da
saúde da população rural.

75
CAPÍTULO 5
Referências Bibliográficas
Leal, J. T. C. P. Círculo de Bananeiras. EMATER-MG. 1. Disponível em: https://goo.gl/c7s7GS.
Acesso em: 07 ago. 2017.
Leal, J. T. C. P. Fossa Tanque de Evapotranspiração: TEVAP. https://goo.gl/Kvkema. Acesso
em: 07 ago. 2017.
Manual de Saneamento: Orientações Técnicas. 3. ed. rev. Brasília, DF: Fundação Nacional de
Saúde 2007. 409 p. Disponível em: https://goo.gl/i17u3L.
Ministério da Saúde - Fundação Nacional da Saúde FUNASA. Disponível em:
https://goo.gl/TY2yeQ
Moises, M.; Kligerman, D. C.; Cohen, S. C.; Monteiro, S. C. F. 2010. A Política Federal de
Saneamento Básico e as Iniciativas de participação, mobilização, controle social,
educação em saúde e ambiental nos programas governamentais de saneamento.
Ciência e Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 15, n. 5, p. 2581-2591.
Pereira, A. H. Fossa Ecológica ou Tanque de Evapotranspiração. Emater-MG. Folder.

76
CAPÍTULO 6

ESTADO DE CONSERVAÇÃO DA SERRA DA MANTIQUEIRA:


AMEAÇAS, LACUNAS, AVANÇOS E PERSPECTIVAS DO
CONHECIMENTO DA FLORA

Diego Rafael Gonzaga1*


Luiz Menini Neto2

1 Escola Nacional de Botânica Tropical, Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de


Janeiro.
2 Universidade Federal de Juiz de Fora, Instituto de Ciências Biológicas, Departamento de
Botânica.
Contato: diego.gonzaga@gmail.com

A Serra da Mantiqueira (SM) vem sendo percorrida por diversos naturalistas em


busca de espécimes de plantas e animais desde que os portos do Brasil foram abertos às
nações amigas em 1808, no século XIX. Cientistas brasileiros e europeus, que se dedicaram
à coletas de plantas, enriqueceram coleções de herbários com espécimes de diferentes
localidades desse complexo montanhoso e descreveram, muitas vezes, a vegetação de
trechos da Serra da Mantiqueira.
Essa região é de grande importância, e reconhecimento pela comunidade científica
desde o século XIX, destacando-se dentre os 52 cientistas viajantes que percorreram a Região
Sudeste do Brasil, e estiveram na Serra da Mantiqueira: Saint-Hilaire, Barbosa Rodrigues,
Langsdorff, Warming, Riedel, Sellow, dentre outros (Urban 1890; Mendes Junior et al. 1991).
A SM é uma cadeia montanhosa que se estende pelos estados do Espírito Santo, Minas
Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo e, devido à sua extensão, são reconhecidas duas

77
CAPÍTULO 6
subdivisões: Mantiqueira Meridional ao sul e Setentrional ao norte (Machado-Filho et al.
1983), sendo sua maior porção situada em Minas Gerais (Fig. 1).

Figura 1 – Mapa de localização da Serra da Mantiqueira, Brasil.

Há divergência sobre sua exata delimitação geográfica, sendo sua abrangência ora
mais reduzida, ora mais ampliada (Mello & Mello 1909; Várzea 1942; Machado-Filho et al.
1983). No entanto, há certo consenso de que se encontra inserida na Floresta Atlântica, com
áreas fronteiriças de Cerrado, apresentando diferentes formações vegetacionais, sendo
composta por florestas altimontanas, florestas de araucária, campos de altitude, campos
rupestres e inselbergues (Meireles et al. 2014) (Fig. 2). A Floresta Atlântica, que se estende
na costa brasileira desde o Rio Grande do Norte até o Rio Grande do Sul, é um domínio
fitogeográfico prioritário para conservação em nível global, por apresentar áreas muito
degradadas com elevada diversidade biológica e endemismo, sendo considerada juntamente
com o Cerrado hotspot mundiais de biodiversidade (Myers et al. 2000; Galindo-Leal &
Câmara 2005).
O termo Mantiqueira parece ter se originado na toponímia geográfica tupi-guarani
com a provável significação de “local de precipitações abundantes” ou “local em que se
originam as águas” (Mendes Junior et al. 1991). Nela encontram-se sete dos dez mais altos
picos do Brasil (IBGE 2010). Os topos mais elevados encontram-se nas bordas do Planalto

78
CAPÍTULO 6
de Campos do Jordão e das serras do Itatiaia e Caparaó (1.700-2.890 m s.m.). Seu ponto
culminante é o Pico da Bandeira (2.892 m s.m.) localizado no Parque Nacional do Caparaó.

Lacunas e avanços
Muitos fragmentos ao longo da Serra da Mantiqueira têm sido objeto de estudo em
tratamentos taxonômicos de diferentes famílias, ou estudos florísticos em trechos
delimitados desse complexo montanhoso (e.g., Brade 1956; Leoni & Tinte 2004; Meireles et
al. 2008; Alves & Kolbek 2009; Forzza et al. 2013; Resende et al. 2013; Salimena et al. 2013;
Alves & Menini Neto 2014; Pompeu et al. 2014; Barbosa et al. 2015; Furtado & Menini Neto
2016; Gonzaga 2016, dentre outros) (Fig. 3), fornecendo subsídios para ampliação do
conhecimento da flora do Brasil (BFG 2015). No entanto, poucos estudos em nível de família
e ou gênero foram realizados até o momento contemplando toda a área da Serra da
Mantiqueira. Pelissari & Romaniuc-Neto (2013) apresentaram o estudo taxonômico do
gênero Ficus L. (Moraceae) e Gonzaga (2016) apresentou dados sobre taxonomia e
biogeografia de Cactaceae. A maioria dos dados de distribuição encontram-se fragmentados
em diversos estudos, sendo necessária a compilação de tais informações para um melhor
panorama do conhecimento da flora e dos padrões de distribuição geográfica ao longo desta
cadeia montanhosa.
Versieux & Wendt (2007) apontam dados de riqueza para as Bromeliaceae de Minas
Gerais, sendo as áreas mais ricas a Cadeia do Espinhaço e a porção sudeste do estado, na
Serra da Mantiqueira. Essa mesma riqueza é apresentada nos estudos de Gonzaga et al. (em
prep.) para as Cactaceae na região da Serra do Brigadeiro e Caparaó, comprovando a
importância florística dessa região. Por apresentar grande extensão, muitos fragmentos não
foram amostrados e carecem de coletas para a documentação da flora, principalmente
aqueles localizados no sul de Minas Gerais.

Conservação e ameaças
A Serra da Mantiqueira é uma área de importância biológica especial, prioritária para
conservação e proteção de mananciais e de espécies endêmicas (Drummond et al. 2005),
existindo diversas Unidades de Conservação (parques, APA’s e RPPN’s), dentre as quais as
mais amplas e importantes são dois parques nacionais (Itatiaia e Caparaó) e seis parques
estaduais (Ibitipoca, Nova Baden, Serra do Brigadeiro, Serra do Papagaio, Pedra Selada e de
Campos do Jordão). Destes, apenas o Parque Estadual do Ibitipoca possui sua flora

79
CAPÍTULO 6
inventariada (Forzza et al. 2013). Além disso, como ação de conservação de parte da Serra
da Mantiqueira que não está inserida nos limites das UCs, foi criado o Corredor Ecológico da
Mantiqueira por iniciativa da ONG Valor Natural, englobando 42 municípios de Minas Gerais,
na Serra da Mantiqueira Meridional. Esse Corredor abriga atualmente cinco UCs, três das
quais de Proteção Integral (Parques Estaduais do Ibitipoca e do Papagaio, o Parque Nacional
do Itatiaia) e as APA’s da Mantiqueira e Fernão Dias e cinco RPPN’s (Costa & Herrmann
2006).
Ao longo do histórico de ocupação a SM vem sofrendo danos, de modo que grande
parte da vegetação original foi substituída por culturas agrícolas e florestais ou atividades
agropecuárias (Mendes Junior et al. 1991; Pelissari & Romaniuc-Neto 2013). Incêndios,
desmatamentos, cultivo em encostas excessivamente íngremes e pastagens extensivas de
baixa produtividade são exemplos de atividades que moldaram a Serra da Mantiqueira nos
últimos dois séculos (Mendes Junior et al. 1991). A perda de áreas florestais por
desmatamento aliado à caça tem levado ao desaparecimento de diversas espécies da fauna e
outras encontram-se em diferentes níveis de ameaça (Mendes Junior et al. 1991). Essa perda
acentuada da biodiversidade justifica a urgência de ampliação do conhecimento da flora das
áreas naturais remanescentes, em diferentes partes da SM, com o propósito de se fornecer
subsídios para ações prioritárias para a conservação de inúmeras espécies raras, endêmicas
e/ou ameaçadas de extinção.
Hueck (1972) já enfatizava a existência de extensos campos abandonados de pecuária
ao longo da rodovia que liga os estados de São Paulo e Rio de Janeiro, atualmente Via Dutra,
onde houve a destruição de grandes extensões de florestas, sendo grande parte destes
trechos pertencentes ao complexo montanhoso da Mantiqueira. Destacou ainda o excesso de
queimadas que empobreceu o solo proporcionando a redução dessas florestas em função da
diminuição da camada de húmus. As principais causas da drástica redução, particularmente
na região da Serra do Mar e Mantiqueira, foram apontadas por Joly et al. (1991), como sendo
o extrativismo, exploração do pau-brasil e com expansão para outras espécies madeireiras,
além da extração do palmito e xaxim. Desde a expansão de culturas de cana-de-açúcar, café,
cacau e banana, nos séculos XIX e XX, até hoje com pastagens e especulação imobiliária essas
áreas sofrem grave pressão antrópica (Joly et al. 1991), embora ainda restem remanescentes
bem conservados tanto na Serra da Mantiqueira quanto na Serra do Mar, na Região Sudeste
do Brasil.

80
CAPÍTULO 6
Em várias unidades de Conservação é possível observar impactos dentro das UCs e ao
redor. No Parque Nacional do Caparaó as monoculturas de café e eucalipto estão sendo
responsáveis por modelar fortemente a vegetação no entorno da Serra do Caparaó, dentro
desta UC muitos resíduos são deixados pelos visitantes, fato este que impacta fortemente o
ecossistema local. Uma das trilhas que atrai grande número de visitantes no Caparaó, o Pico
da Bandeira na Mantiqueira Setentrional, é possível encontrar resíduos orgânicos, vidros,
plásticos, papéis, e até mesmo calçados deixados ao longo da trilha, além de pichações e
riscos em afloramentos, placas de sinalização e árvores. Fato similar pode ser encontrado
por todo o Parque Estadual do Ibitipoca, uma das UCs mais visitadas da Serra da Mantiqueira.
Na Serra Fina, na Mantiqueira Meridional, o impacto se dá principalmente pela corrida de
aventura que é realizado anualmente nessa localidade, atraindo elevado número de
esportistas o que impacta fortemente essas trilhas, dessa vegetação ainda pouco
documentada para a ciência. As ações antrópicas que causam grande impacto se repetem em
diferentes locais, podendo ser encontradas carvoarias nos arredores do Parque Estadual
Serra do Brigadeiro. Isso sem mencionar o avanço antrópico em áreas que deveriam ser
mantidas de forma intocável em relação a exploração (Fig. 4).
A vasta diversidade de paisagens é favorável às práticas de turismo ecológico, rural e
esportivo, que representa uma atividade com grande potencial econômico para a região,
porém impacta fortemente a biodiversidade, como relatado por Drummond et al. (2005) no
estado de Minas Gerais.

Perspectivas
A orientação e aconselhamento aos produtores rurais, estimulando o reflorestamento
e recomposição florestal, bem como o uso sustentável dos recursos naturais são ações
integrativas para a manutenção dos fragmentos naturais da Serra da Mantiqueira, evitando
avanço da ocupação intensa e desordenada.
Embora a Serra da Mantiqueira apresente grande extensão, uma porcentagem
relativamente pequena se encontra acima de 1000m e parte desta área já foi degradada por
motivos variados, como plantações de pinus e eucalipto, agricultura e pecuária extensiva.
Deste modo, é necessária a escolha de áreas que ainda apresentem vegetação relativamente
conservada para as quais os esforços devem ser direcionados. Assim, áreas fora de unidades
de conservação apresentam potencial para a realização dos estudos, baseando-se em
observação pessoal, comunicação de outros pesquisadores e indicação da literatura,

81
CAPÍTULO 6
sobretudo Drummond et al. (2005), obra responsável por compilar os dados sobre a
biodiversidade em Minas Gerais e indicar áreas prioritárias para a realização de estudos.
Algumas destas áreas podem ser destacadas aqui e merecem atenção dos pesquisadores,
bem como dos órgãos responsáveis pela proteção ambiental, como: a Região de Bom Jardim
de Minas, Serra do Cruz (em Olaria), a Serra do Relógio (em Descoberto), a região de
Barbacena, todas em Minas Gerais, e na Região dos municípios de Resende/Itatiaia/Mauá no
Rio de Janeiro que apresentam grande riqueza e endemismos tanto florístico quanto
faunístico.

Figura 2 – Ambientes ao longo da Serra da Mantiqueira. a. Parque Nacional do Caparaó


(MG/ES); b. Parque Estadual do Ibitipoca (MG); c. Parque Estadual Serra do Papagaio (MG);
d. Serra do Cruz (MG); e. Serra Negra (MG). (Fotos: a-d - L. Menini Neto; e – Pedro Viana).
82
CAPÍTULO 6

Figura 3 – Representantes da flora da Serra da Mantiqueira. a. Langsdorffia hypogaea Mart.


(Balanophoraceae); b. Arthrocereus melanurus Diers et al. subsp. melanurus (Cactaceae); c.
Siphocampylus westinianus (Thunb.) Pohl (Campanulaceae); d. Agarista oleifolia (Cham.)
G.Don (Ericaceae); e. Epidendrum campos-portoi Barberena (Orchidaceae); f. Passiflora
amethystina J.C. Mikan (Passifloraceae). (Fotos: D.R. Gonzaga)

83
CAPÍTULO 6

Figura 4 – Exemplos de ações antrópicas que afetam as Unidades de Conservação na Serra


da Mantiqueira. a. Carvoarias no entorno do Parque Estadual Serra do Brigadeiro; b. Cultivo
de café no entorno do Caparaó capixaba; c. Espécime arbórea fissurada na Serra do Ibitipoca;
d. lixo deixado por visitantes; e. placas de localização riscadas. (Fotos: a,b - D.R. Gonzaga;
c,d,e – S.G. Furtado)

84
CAPÍTULO 6
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86
CAPÍTULO 7

ÁREAS VERDES URBANAS E A SUA PARTICIPAÇÃO NA


QUALIDADE DE VIDA DE HUMANOS E ANIMAIS EM
GRANDES CIDADES

Tatiane Tagliatti Maciel*


Bruno Corrêa Barbosa
Fábio Prezoto

Laboratório de Ecologia Comportamental e Bioacústica – LABEC, Universidade Federal de


Juiz de Fora. Campus Universitário, Bairro Martelos, Juiz de Fora, Minas Gerais, CEP 36036-
900, Brasil.
Contato: tatitagliatti@hotmail.com

Áreas verdes urbanas


As áreas verdes urbanas, conhecidas também como ecossistemas emergentes (Novel
Ecosystem), compreendem de nichos construídos, modificados ou manipulados pelos
humanos, ou seja, são locais que foram alterados em estrutura e função pelo homem e nunca
mais conseguirão retornar às suas características originais. No entanto, constituem um
sistema autossustentável com complexas interações inter e intraespecíficas.
Praças, parques, terrenos baldios, hortas e até mesmo cemitérios podem ser
considerados como áreas verdes urbanas. Historicamente, as áreas verdes urbanas foram
implantadas a partir da prática da jardinagem no Egito e cultos religiosos na China, mas foi
na Grécia que elas apresentaram, pela primeira vez, a função pública de passeio e lazer que
conhecemos hoje (Loboda & Angelis, 2005). Já os parques, propriamente ditos, surgiram
primeiro nos países da Europa e por volta do século XVI chegaram à América como uma

87
CAPÍTULO 7
peculiar forma de urbanização e consolidação dos espaços urbanos, estreitando assim as
relações entre o homem e a natureza (Segawa, 1996).
No Brasil, o interesse por áreas verdes surgiu no final do século XVIII, possivelmente
influenciado pela Europa e com objetivos voltados para a conservação e para as
potencialidades econômicas da natureza envoltas na organização de jardins e passeios
públicos aos interesses da coroa portuguesa (Toledo & Santos, 2012), contudo, somente no
final do século XX houve interesse político pela introdução e formação de parques públicos
(Macedo & Sakata 2002). Hoje, a importância dessas áreas já é tão reconhecida que a
presença de espaços livres públicos é obrigatória por lei.

Impactos das áreas verdes no bem-estar da população


Com o crescente aumento da urbanização e expansão das cidades, o verde das
florestas deu lugar ao cinza das construções, e, em meio ao caos dos grandes centros urbanos,
a necessidade da presença de áreas verdes é cada vez maior.
Assim surgiu o paisagismo que, com o objetivo de aliar conservação e contemplação,
tem sido uma ferramenta para aprimorar e projetar as áreas verdes no sentido de deixá-las
mais atrativas para a população e ainda assim exercer suas funções ecológicas.
Um dos recursos mais comuns nessas áreas é a instalação de gramados. Os gramados
conseguem criar uma conexão visual entre todas as formas de vegetação realçando a beleza
natural da paisagem, transmitindo a quem observa a sensação de paz e conforto. Além disso,
desempenham papel de reguladores da temperatura local formando um microclima mais
ameno. O solo coberto com gramado permite ainda uma maior infiltração de água, o que, em
centros urbanos onde o solo é extremamente impermeabilizado por concreto e asfalto, pode
evitar deslizamentos de barrancos, enchentes, entre outros acidentes.
As cercas vivas, por sua vez, amplamente utilizadas em parques públicos, servem
como barreira física para o trânsito de pessoas, animais e veículo; reduz a velocidade dos
ventos e age como um filtro de ar, limitando o transporte de poeira e outras partículas em
suspensão. Além disso, atua também como barreira para a poluição sonora, a qual é
considerada a terceira maior poluição ambiental pela Organização Mundial de Saúde.
Por fim, as árvores ornamentais e frutíferas dão o toque final à paisagem. Com a oferta
de flores e frutos, essas árvores não só encantam nossos olhos com sua beleza natural, como
ainda atraem diversos animais que nos presenteiam com seu canto e sua graça.

88
CAPÍTULO 7
As áreas verdes devem, ainda, ter condições efetivas de implantação de equipamentos
de lazer e recreação. Parques bem equipados e em bom estado de conservação são bem mais
convidativos, o que estimula as pessoas a frequentarem mais esses locais contribuindo,
assim, para a redução da prevalência do sedentarismo auxiliando na promoção da saúde e
bem-estar da população. Barton e Pretty (2010) afirmaram que, apenas cinco minutos de
caminhada em áreas verdes, já é suficiente para melhorar a saúde mental, com benefícios
para o humor e autoestima. Passeios em áreas verdes públicas podem ainda estreitar as
relações familiares e promover interações sociais.

Áreas verdes e a biodiversidade


Nos últimos anos, as áreas verdes urbanas têm recebido ainda grande atenção para a
conservação de animais, já que foram agora reconhecidas como potenciais "Refúgios" da
biodiversidade que busca em fragmentos urbanos recursos para a sua sobrevivência
(Frankie et al., 2009; Ernstson et al., 2010).
Essas áreas podem ser até mesmo mais ricas em espécies do que áreas naturais,
devido a sua complexidade de interações. Em 2015, Maciel e Barbosa tiveram, como um dos
objetivos de seu trabalho, realizar uma análise comparativa detalhada dos estudos
realizados em uma área verde urbana do município de Juiz de Fora, Minas Gerais, Brasil, com
trabalhos em Unidades de Conservação.
Foram comparados resultados de levantamentos com seis grupos animais, Morcegos,
Primatas, Vespas Sociais, Lepidópteros e Pequenos Mamíferos realizados no Jardim Botânico
da Universidade Federal de Juiz de Fora (JB-UFJF) com trabalhos de Parques Estaduais de
Minas Gerais, para avaliar a importância dos Novel ecosystems para a conservação e
manutenção da biodiversidade.
A riqueza encontrada na fauna de morcegos (Chiroptera) pelo pesquisador Pedro
Henrique Nobre (comunicação pessoal) no JB-UFJF foi de 16 espécies de três famílias, com
destaque para três espécies que foram registradas pela primeira vez no município de Juiz de
Fora. Seus resultados foram comparados aos de Nobre et al. (2013), realizado no Parque
Estadual do Ibitipoca, situado em Lima Duarte, Minas Gerais, que possui uma paisagem
botânica individualizada, composta pela combinação da ocorrência de espécies da Floresta
Ombrófila Densa, Floresta Estacional Semidecidual e o Campo Rupestre. Nesta área foram
encontradas 17 espécies de duas famílias. Comparando-se as riquezas, nota-se que apesar

89
CAPÍTULO 7
da quantidade de espécies ser praticamente a mesma, o JB-UFJF abriga uma família a mais,
apresentando uma maior diversidade.
Ainda no Parque Estadual do Ibitipoca, Nogueira et al. (2010) estudando primatas,
encontraram quatro espécies: Alouatta guariba clamitans Cabrera, 1940, Callicebus
nigrifrons (Spix, 1823), Callithrix penicillata (É. Geoffroy, 1812), Sapajus nigritus (Goldfuss,
1809) resultado similar ao levantamento no JB-UFJF por Vale (2013) que registrou três
espécies: A. g. clamitans, C. penicillatae e C. nigrifrons.
A similaridade das espécies de primatas encontradas nos dois locais evidencia o
potencial ecológico do Jardim Botânico, já que primatas necessitam de alta diversidade de
plantas e pequenos animais, como aves e anuros, para se estabelecerem.
Diferente desses trabalhos, o levantamento de vespas sociais (marimbondos)
realizado no Parque Estadual do Ibitipoca por Clemente (2009), registrou 21 espécies de oito
gêneros, já Barbosa (2015) estudando a diversidade das vespas sociais do JB-UFJF encontrou
38 espécies alocadas em 10 gêneros. Importante destacar ainda que, dos 96 estudos de
diversidade de vespas sociais no Brasil realizados até o final de 2016, somente 11 superam
os resultados encontrados por Barbosa (2015). Para o estado de Minas Gerais, o qual possui
o maior número de estudos de diversidade (n= 27), somente o estudo de Souza et al. (2008)
(sp= 42) que também foi realizado em uma área protegida, supera os resultados que Barbosa
(2015) registrou.
Quanto ao grupo Lepidoptera (borboletas e mariposas), um levantamento de
borboletas frugívoras foi realizado por Gozzi et al. (2012) na Unidade de Conservação do
Refúgio da Vida Silvestre do Rio Pandeiros no município de Januária, Minas Gerais que é
constituído por três áreas adjacentes com diferentes formações vegetais: cerrado, mata ciliar
e mata seca, onde foram encontradas 39 espécies. Já no JB-UFJF, Maciel (2014) registrou 28
espécies de borboletas frugívoras. Essa diferença se deve ao fato desses insetos
apresentarem grande sensibilidade a impactos ambientais com sua riqueza podendo ser de
até 7,6 vezes maior em ambientes não perturbados (Dirzo et al., 2014).
A riqueza de pequenos mamíferos não voadores foi estudada por Melo et al. (2009) no
Parque Estadual do Itacolomi, município de Ouro Preto, inserido em uma região de transição
entre o Cerrado e a Mata Atlântica, onde registraram 14 espécies das famílias Cricetidae e
Didelphidae. No levantamento no JB-UFJF realizado por Delgado (2014), foram registradas
10 espécies pertencentes às mesmas famílias, o que mostra que mesmo com menor
complexidade o JB-UFJF abriga uma satisfatória gama de pequenos mamíferos.

90
CAPÍTULO 7
Áreas verdes urbanas e suas particularidades
As áreas verdes urbanas, por sofrerem diferentes pressões antrópicas, acabam se
desenvolvendo de formas distintas e podem se diferenciar entre si quanto à diversidade e
composição de espécies. Um cemitério, por exemplo, devido à sua estrutura, não apresenta
a mesma complexidade que um parque, apesar dos dois desempenharem funções parecidas.
Outro fator que interfere na estrutura dessas áreas é a origem do fragmento, ou seja, se
regeneraram a partir de solo exposto ou de alguma cobertura vegetal.
Em um estudo realizado na Zona da Mata Mineira, Fonseca (2016), com o objetivo de
caracterizar e comparar a composição de fragmentos florestais, o autor discute que áreas
com menos de 500m de distância entre si já apresentam diferenças em sua estrutura,
sobretudo, em relação à riqueza, diversidade e composição de espécies vegetais.

Perspectivas
Reconhecida a importância das áreas verdes urbanas no bem-estar geral das cidades,
esse conceito está sendo agora incorporado em outras áreas, como é o caso da Arquitetura
sustentável, também denominada de arquitetura verde, arquitetura ecológica ou
ecoarquitetura.
Com foco na sustentabilidade, os profissionais dessa área visam desenvolver
construções civis que, além de valorizar as percepções do homem quanto ao ambiente,
desempenhem, ainda, papel ecológico. A adoção da arquitetura sustentável como padrão de
construção pode levar à ampliação do conforto ambiental e à economia de recursos naturais,
tais como água e energia elétrica.
Edificações que são feitas com materiais recicláveis ou que não geram lixo em seu
processo de construção são apenas alguns exemplos da arquitetura sustentável. Mas o que
realmente chamam atenção e é objeto de desejo de muitos moradores de grandes centros
urbanos são as construções que se integram de fato à natureza. É o caso dos prédios com
grandes jardins verticais em suas fachadas. Essas construções, presentes em sua maioria em
países desenvolvidos, se destacam em meio ao cinza das cidades, atraem grande quantidade
de aves e trazem uma sensação de bem-estar ao serem contempladas. Além disso, os jardins
verticais ajudam a amenizar a temperatura interna do prédio reduzindo drasticamente a
necessidade de sistemas artificiais de arrefecimento, em comparação às construções
tradicionais.

91
CAPÍTULO 7
Uma alternativa mais comumente utilizada, inclusive no Brasil, é a implementação de
telhados verdes. Em Recife, por exemplo, desde 2015 os novos prédios residenciais, com
mais de quatro pavimentos e com área coberta acima de 400 m², são obrigados a ter telhados
verdes. O teto, ou telhado, verde é uma ótima solução para os dias atuais porque, não só
reduz as ilhas de calor nas metrópoles, como também ameniza a temperatura dentro do
prédio. Além disso, o sistema ajuda a prevenir enchentes com a retenção da água de chuva.

Considerações finais
Mesmo com o crescente aumento do interesse nessas áreas verdes urbanas, ainda são
escassos os trabalhos no Brasil, sendo este capítulo de grande importância para a
compreensão do funcionamento dessas áreas no país. Assim, estudos com uma maior
abrangência (tanto em escala espacial quanto temporal), que envolvam os impactos dessas
áreas na biodiversidade e na vida das pessoas, são indispensáveis.

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94
CAPÍTULO 8

MODELOS PARA ESTIMAR AS PERDAS DE SOLO

Anne Caroline Barbosa de Carvalho1*


Celso Bandeira de Melo Ribeiro2
Wadson Sebastião Duarte da Rocha3

1 Doutoranda em Ecologia – PGEcol - Universidade Federal de Juiz de Fora. Campus


Universitário, Bairro Martelos, Juiz de Fora, Minas Gerais, CEP 36036-900, Brasil.
2 Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental - Universidade Federal de Juiz de
Fora. Campus Universitário, Bairro Martelos, Juiz de Fora, Minas Gerais, CEP 36036-900,
Brasil.
3 Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa Gado de Leite
Contato: anne.carvalho@ecologia.ufjf.br

A erosão é oriunda de fenômenos naturais que agem continuamente na crosta


terrestre, como ocorrência do processo de modificação desta, além de fazer parte do
processo de formação do solo. A ação do homem quebra essa harmonia, por meio da inserção
de práticas que destroem o equilíbrio das condições naturais desse processo, dando origem
à erosão acelerada, que constitui fenômeno de grande importância em razão da rapidez com
que se processa e pelo fato de acarretar prejuízos não só para a exploração agropecuária,
mas também para diversas outras atividades econômicas e ao meio ambiente (Pruski, 2009).
Grandes áreas cultivadas podem se tornar improdutivas ou economicamente
inviáveis, se a erosão não for mantida em valores toleráveis. Considerando o sistema de
manejo a que está submetido, o solo é passível, tanto de degradação quanto de
melhoramento em seu potencial produtivo. Um manejo de solo inadequado pode provocar
perdas de solo e água e consequente perda da sua capacidade produtiva.

95
CAPÍTULO 8
O processo erosivo causado pela água das chuvas tem abrangência em quase toda a
superfície terrestre, em especial nas áreas com clima tropical, onde os totais pluviométricos
são bem mais elevados que em outras regiões do planeta (Guerra et al., 2010). Este é o caso
do Brasil onde, indiscutivelmente, a erosão hídrica é a mais importante, pois as chuvas
concentram-se em certas estações do ano e contribuem para desagregar e transportar o
material erodido com grande facilidade (Bertoni & Lombardi Neto, 2010).
O processo de erosão hídrica pode ser descrito em três estágios: desprendimento,
transporte e deposição (Amorim, 2004).
A desagregação é a primeira fase do processo erosivo e consiste no desprendimento
das partículas de solo (individual ou agregados). O desprendimento das partículas tem início
com o umedecimento dos agregados, o que reduz suas forças coesivas, enfraquecendo-os e
tornando-os menos resistentes ao desprendimento, que somente ocorre quando as forças
externas, de natureza cisalhante, superam as forças internas (Pruski, 2009). Em condições
agrícolas, os principais agentes externos responsáveis pelo desprendimento dos agregados
são aqueles associados ao impacto das gotas de chuva e ao escoamento superficial.
O transporte, segunda fase do processo erosivo, consiste na transferência das
partículas de solo desagregadas de seu local de origem para outro, seja pelo salpicamento
decorrente do impacto das gotas de chuva, seja pelo escoamento superficial (Pruski, 2009),
considerado o maior agente de transporte das partículas de solo (Bertoni & Lombardi Neto,
2010).
A deposição é a terceira e última fase do processo erosivo, que consiste na deposição
do material que foi desagregado e transportado. Isso ocorre quando a quantidade de
sedimentos contida no escoamento superficial é maior que sua capacidade de transporte
(Pruski, 2009).
Dentre os tipos de erosão hídrica (laminar, em sulcos e voçorocas), a erosão laminar
é considerada um dos principais problemas ambientais percebidos nas bacias hidrográficas
antropizadas e de uso predominantemente agrícola (Baptista, 2003), e se destaca pela
combinação da ação desagregadora do impacto das gotas de chuva (Aragão et al., 2011). Ao
colidirem com a superfície do solo desnudo, as gotas de chuva rompem os agregados
reduzindo-os a partículas menores, passíveis de serem arrastadas pela energia da enxurrada
(Lepsch, 2010).
Além das partículas de solo em suspensão, o escoamento superficial transporta
nutrientes químicos, matéria orgânica, sementes e defensivos agrícolas que além de

96
CAPÍTULO 8
causarem prejuízos diretos à produção agropecuária, provoca a poluição dos mananciais
hídricos (Pruski, 2009). Dessa forma, as perdas por erosão tendem a elevar os custos de
produção, aumentando a necessidade do uso de corretivos e fertilizantes e reduzindo o
rendimento operacional das máquinas agrícolas.
O controle da erosão hídrica torna-se necessário quando a quantidade de solo
removida atinge valores acima de um valor considerado aceitável. Embora o
estabelecimento de tolerância para solos e topografia ser geralmente uma questão de
julgamento coletivo, em que fatores físicos e econômicos são levados em consideração, a
tolerância dessas perdas depende das propriedades do solo, profundidade, topografia e
erosão antecedente (Bertoni & Lombardi Neto, 2010).

Determinação de perdas de solo por erosão


Os métodos de estudo e de abordagem da pesquisa em erosão variam basicamente
com a natureza do fenômeno a ser estudado e com o objetivo central do estudo, juntamente
com as limitações econômicas e de tempo necessário para a pesquisa, bem como de espaço
físico (Silva et al., 2003).
Segundo Bertoni & Lombardi Neto (2010), os métodos para determinação de perdas
de solo por erosão podem ser agrupados basicamente em: diretos ou indiretos.
Os métodos diretos são todos aqueles que se baseiam na coleta, na medição e na
análise do material erodido, com auxílio de instalações coletoras e medidores especiais.
Ainda de acordo com Bertoni & Lombardi Neto (2010), os métodos diretos de determinação
de perdas de solo se subdividem em: por impacto; por arrastamento superficial e por
percolação.
Os métodos indiretos baseiam-se nos vestígios encontrados nos perfis de solo ou
mesmo nas diferenças encontradas em relação ao solo não erodido. São geralmente mais
imprecisos do que os fundamentados nos estudos do material erodido, além de envolverem
outras variáveis associadas aos processos erosivos. São utilizados basicamente como
métodos auxiliares do estudo erosivo (Baptista, 2003).
Um manejo agrícola efetivo, visando o controle do processo erosivo, requer o
entendimento das relações complexas entre os processos físicos, químicos, hidrológicos e
meteorológicos. Como a análise dessas importantes interações dificilmente pode ser obtida
experimentalmente, a utilização de modelos matemáticos torna-se uma forma prática para
compreender tais interações.

97
CAPÍTULO 8
Os modelos matemáticos vêm sendo amplamente empregados na predição do
processo erosivo, tanto para planejamentos conservacionistas (preventivos) como em seu
controle. A principal vantagem da aplicação de modelos é a possibilidade de estudar vários
cenários, como o pior cenário possível, e diferentes tipos de manejos e práticas
conservacionistas, com baixo custo e de forma rápida (Silva et al., 2003).

Histórico de predição da erosão


As pesquisas realizadas para compreender os processos erosivos eram baseadas no
estudo da erosão laminar e da erosão em sulcos com foco apenas nos processos de
escoamento superficial (Fox & Wilson 2010). Em sua fase inicial, entre 1880 e 1947, os
estudos relacionados à erosão limitavam-se ao entendimento e à descrição qualitativa dos
principais fatores que afetavam o processo erosivo. Trabalhos experimentais desenvolvidos
no Meio Oeste dos Estados Unidos, no período de 1940 a 1954, resultaram na obtenção de
equações de perda de solo que incluíam os efeitos do comprimento e da declividade da
encosta, das características e propriedades do solo, das práticas conservacionistas e das
condições de uso e manejo do solo (Wischmeier & Smith 1978).
Em 1946, um comitê dos Estados Unidos reuniu-se com a finalidade de revisar os
fatores da última equação gerada e os dados existentes no país e, após incluir o fator chuva,
deu origem a uma nova equação de perda de solo conhecida como equação de Musgrave
(1947). Anos mais tarde (1954-1965), num esforço de agências de pesquisa e extensão dos
Estados Unidos para revisão das equações, foi proposto um novo modelo empírico
denominado Equação Universal de Perdas de Solo – USLE (Wischmeier & Smith, 1978).
Esta equação, de base empírica, não leva em consideração, de forma individualizada,
os processos físicos envolvidos na erosão do solo, como o desprendimento e transporte das
partículas do solo. Na USLE são apenas discriminadas as significâncias dos diferentes fatores
que regem o processo erosivo, dentre os quais estão incluídos a precipitação, o comprimento
da encosta, a declividade da encosta, a erodibilidade do solo, o cultivo (uso do solo) e as
práticas agrícolas (Amorim, 2004). A USLE também não considera os processos de deposição
nos sopés das encostas e não incorpora o processo de erosão em voçorocas. Esses fatos são
responsáveis por subestimativas de perda de solo pelo modelo, quando ocorrem processos
como o de voçorocamento em uma região (Valentin, 2008).
Apesar dessas limitações, a USLE é considerada um bom instrumento para previsão
das perdas de solo por erosão laminar, por exigir um número de informações relativamente

98
CAPÍTULO 8
pequeno quando comparado aos modelos mais complexos e por ser uma equação bastante
conhecida e estudada (Amorim et al., 2009).
Após a publicação do Agriculture Handbook 537 (Wischmeier & Smith 1978), outros
modelos foram desenvolvidos a fim de aprimorar a predição da perda de solo e também do
aporte de sedimentos. A crescente demanda dos usuários da USLE por maior flexibilidade na
modelagem de erosão para condições diferentes daquelas que deram origem ao modelo e
que não eram contempladas por sua estrutura, resultou em trabalhos de atualização do
modelo em meados da década de 1980, pelo Serviço de Pesquisas na Agricultura do
Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA-ARS). Mantendo a mesma
estrutura da USLE, novas pesquisas e análises resultaram na Equação Universal de Perda de
Solo Revisada - RUSLE, aliando o desempenho da USLE para novos e antigos esquemas de
manejo de terras (Cruz, 2003). Além disto, devido à complexidade das equações usadas para
quantificar os fatores da equação principal, foi desenvolvido um programa computacional
para facilitar a estimativa da perda de solo (Amorim, 2004).
A RUSLE apresenta a vantagem de poder estimar as perdas de solo para situações
onde não é possível aplicar a USLE e em locais onde não tenham dados de perda de solo para
a determinação dos componentes do modelo. E pela utilização de um programa
computacional, pode incorporar conceitos de base física para a determinação de alguns de
seus componentes, favorecendo uma reprodução mais real do sistema. Embora tenha sofrido
consideráveis melhorias esta equação também não abrange os processos de deposição, o que
limita sua aplicação para áreas onde o processo de deposição tenha importância expressiva.
A necessidade de se desenvolver uma nova tecnologia para a estimativa das perdas
de solo por erosão surgiu para suplantar o grande número de limitações apresentadas pelos
modelos USLE e RUSLE, principalmente referentes à impossibilidade de aplicação dos
modelos de forma satisfatória em situações fora daquelas nas quais foram desenvolvidos
(Amorim et al., 2009).
Na metade da década de 1980, o USDA iniciou o Water Erosion Prediction Project –
WEPP, visando desenvolver uma nova geração de tecnologias para predição da erosão
hídrica. Esse modelo se baseia nos fundamentos de teorias de infiltração, física do solo,
fitotecnia, hidráulica e mecânica da erosão (Machado et al. 2003). Proporciona várias
vantagens em relação às outras tecnologias de previsão de erosão, pois incorpora conceitos
de erosão entressulcos e nos sulcos. Através do WEPP é possível simular os processos que
ocorrem em determinada área de acordo com o estado atual do solo, cobertura vegetal,

99
CAPÍTULO 8
restos culturais e umidade do solo. Quando ocorre uma chuva, se houver escoamento
superficial, o modelo estima o desprendimento, transporte e a deposição das partículas ao
longo da encosta, porém não contempla a erosão em grandes voçorocas e cursos de águas
perenes (Amorim et al., 2009).
O WEPP é apresentado em três versões básicas: uma versão para vertentes (hillslope
version), uma versão para bacias hidrográficas (watershed version) e uma de quadrícula (grid
version) (Machado et al., 2003).
Apesar de parecer um modelo mais completo, o WEPP apresenta algumas limitações
como o grande número de parâmetros de entrada necessários para a aplicação do modelo;
necessidade de treinamento intensivo de pessoal para efetiva implementação; além de não
poder ser aplicado para predizer a erosão em voçorocas.
De acordo com Amorim (2004), diversos modelos matemáticos vêm sendo
desenvolvidos e aperfeiçoados desde a década de 1950, com intuito de prever a magnitude
das perdas de solo por erosão. Os mais comumente utilizados são a Universal Soil Loss
Equation (USLE), a Revised Universal Soil Loss Equation (RUSLE) e o Water Erosion Prediction
Project (WEPP). Porém cada tipo de modelo serve para um propósito e, dessa forma, não
existe um que possa categoricamente ser indicado como mais apropriado que os demais para
todas as situações.

Equação Universal de Perda de Solo – USLE


A USLE é a equação de estimativa de erosão mais conhecida e aplicada até hoje. Todos
os modelos desenvolvidos após a USLE foram elaborados a partir dela, ou contém variáveis
dessa equação (Seeger et al., 2011). É uma equação empírica utilizada para estimar a erosão
laminar para cada combinação possível entre sistemas de cultivo e práticas
conservacionistas associadas a um tipo de solo específico, condições de chuva e topografia
(Wichmeier & Smith, 1978).
Originalmente, a USLE foi projetada de forma a servir como ferramenta de trabalho
para projetos conservacionistas americanos em que os resultados fossem representados por
um número apenas e pudessem ser calculados a partir de dados meteorológicos, pedológicos
e de parcelas de erosão regional e local, e fosse livre de qualquer base geográfica (Amorim
et al. 2009). Esta equação foi obtida a partir de observações de perda de solo em mais de
10.000 parcelas-padrão com 0,008ha (3,5m de largura e 22,1m de comprimento) e 9% de

100
CAPÍTULO 8
declividade, distribuídas em todas as regiões dos Estados Unidos (Bertoni & Lombardi Neto
2010).
De acordo com Barretto et al. (2008) a pesquisa científica brasileira em erosão
acelerada do solo teve uma formação recente. Apesar dos primeiros trabalhos terem sido
publicados ainda na década de 1940, aproximadamente metade da produção originou-se a
partir da década de 1990. No Brasil, os trabalhos iniciais com a equação de perdas de solo
foram desenvolvidos por Bertoni et al. (1975) utilizando os dados existentes para as
condições do Estado de São Paulo (Bertoni & Lombardi Neto, 2010).
A USLE é expressa pela relação: A = R . K . LS. CP
Onde:
A = perda de solo calculada por unidade de área, t ha-1 ano-1;
R = fator chuva: índice de erosão pela chuva, MJ mm ha-1h-1;
K = fator erodibilidade do solo: intensidade de erosão por unidade de índice de erosão
da chuva, para um solo específico que é mantido continuamente sem cobertura, mas
sofrendo as operações culturais normais, em um declive de 9% e comprimento de rampa de
25m, t ha-1 MJ-1 mm-1;
L = fator comprimento do declive: relação de perdas de solo entre um comprimento
de declive qualquer e um comprimento de rampa de 25m para o mesmo solo e grau de
declive, adimensional;
S = fator grau de declive: relação de perdas de solo entre um declive qualquer e um
declive de 9% para o mesmo solo e comprimento de rampa, adimensional;
C = fator uso e manejo: relação entre perdas de solo de um terreno cultivado em dadas
condições e as perdas correspondentes de um terreno mantido continuamente descoberto,
isto é, nas mesmas condições em que o fator K é avaliado, adimensional;
P = fator prática conservacionista: relação entre as perdas de solo de um terreno
cultivado com determinada prática e as perdas quando se planta morro abaixo,
adimensional.

Aplicações e limitações da USLE


A USLE permite estimar a perda média anual de solos provocada pelas erosões
laminar para as condições em que foram obtidos os valores de seus componentes. Esta
equação foi desenvolvida para as condições existentes nos Estados Unidos, onde há um
expressivo banco de dados o que facilita sua ampla utilização. Devido à base totalmente

101
CAPÍTULO 8
empírica, a sua aplicação em situações diferentes daquelas para as quais foi desenvolvida
requer a realização de pesquisas para obtenção dos componentes do modelo (Amorim et al.,
2009). É preciso que o modelo seja testado, o que pode acarretar em modificações para que
seja aplicado, por exemplo, na região tropical. O ideal é testar o modelo e ao mesmo tempo
promover estudos experimentais, a fim de se ter a veracidade dos resultados (Guerra et al.
2010). Diversos autores como Beutler et al. (2003); Albuquerque (2005); Mendes (2006) e
Amaral (2008) conduziram seus trabalhos em estações experimentais e contribuíram com
dados para o entendimento dos mecanismos dos processos erosivos tropicais.
A criação da equação teve por objetivo inicial fornecer aos técnicos do serviço de
conservação do solo subsídios para planejar o uso do solo de áreas rurais e avaliar se
determinada área cultivada apresentava perdas de solo dentro ou além dos limites
considerados toleráveis para as condições da área, permitindo ainda a avaliação da eficácia
de práticas conservacionistas (Baptista, 2003). A USLE também é aplicada em outros tipos
de uso e ocupação de terras, incluindo áreas de construção urbana e aterros para
construções de estradas (Silva et al., 2003).
É importante salientar que mesmo em ambientes onde há banco de dados suficientes
para a utilização da USLE, seu uso está condicionado a algumas limitações implícitas na
própria concepção e nos fatores do modelo. Isso porque a USLE prevê apenas a erosão média
da vertente, não levando em consideração a forma da vertente, além disso, não permite
quantificar a deposição. Ainda, como é um modelo empírico, pelo menos alguns de seus
componentes como K, C e P têm de ser obtidos experimentalmente, em condições
semelhantes àquelas onde será utilizado (Silva et al., 2003).
Outra grande limitação da USLE refere-se à concepção dos fatores do modelo, os quais
são uma representação média da área em estudo, não levando em consideração a
variabilidade espacial e temporal dos fatores, que, juntamente ao fato da USLE não
considerar o processo de deposição de sedimentos, torna sua aplicação limitada em bacias
hidrográficas (Amorim et al. 2009). Ainda assim, a USLE vem sendo combinada com Sistemas
de Informações Geográficas (SIGs) para estimar a erosão laminar em bacias hidrográficas,
como observado nos trabalhos de Tavares et al. (2003); Costa et al. (2007); Serio et al. (2008)
e Ferreira et al. (2009), pois a utilização desses sistemas permite a realização de uma análise
rápida e dinâmica da área em estudo (Lopes et al., 2011).

102
CAPÍTULO 8
Considerações Finais
A estimativa da erosão é uma informação essencial para a adoção de um programa de
manejo e conservação do solo e útil para prever os impactos antes mesmo de determinada
cultura ou prática agrícola ser implementada.
A modelagem da perda de solo consiste, dessa forma, em uma ferramenta de grande
importância como suporte às tomadas de decisão, uma vez que as alternativas de manejo são
numerosas, geralmente de alto custo, e os resultados de uma prática conservacionista podem
levar algum tempo para exercer influência na erosão.
Cada tipo de modelo serve a um propósito e, por isso, não existe um que possa
categoricamente ser indicado como mais apropriado que os demais para todas as situações.
Apesar de algumas limitações a USLE, quando comparada com outros modelos, é
considerada um bom instrumento para previsão das perdas de solo por erosão laminar, por
exigir um número de informações relativamente pequeno e por ser uma equação
amplamente estudada. Para o caso do Brasil, por exemplo, onde a base de dados e de
informações cartográficas é normalmente escassa, a aplicação de outros modelos para a
previsão de perda de solo poderia se tornar praticamente inviável.

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APOIO

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