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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-ÁRIDO

CURSO: BACHARELADO EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA

DISCIPLINA: SOCIOLOGIA

DOCENTE: Me. DAVI DA COSTA ALMEIDA

DISCENTE: OZAIAS PRAXEDES DOS SANTOS

RESUMO CRÍTICO DO FILME: NISE - O CORAÇÃO DA LOUCURA

Os manicômios são instituições totais, espaços onde ficam confinados os


pacientes para controle de suas vidas. Nesse tipo de instituição o confinamento tem
por objetivo a tentativa de mantimento da ordem social perturbada pelo
comportamento “anormal” de indivíduos que fugiram da média do homem comum.
Essa ordem é estruturada por mecanismos de reprodução de padrões de
comportamentos aceitáveis socialmente. O confinamento tem também um caráter de
exclusão ou isolamento dos indivíduos anormais, a fim de que sejam reinseridos no
meio social após serem a justados nos padrões aceitáveis pelos outros indivíduos.

No filme após o retorno de Nise a instituição psiquiátrica em que trabalhava,


ela se depara com o uso de métodos violentos para o tratamento dos pacientes, com
os quais ela se recusa a trabalhar. O uso de violência em hospitais psiquiátricos era
pratica comum durante muito tempo, esse tipo de tratamento tinham a função tanto
de cura como de punição para atos que infrinjam as normas da instituição. Em Nise –
O coração da loucura, fica evidente a presença desse tipo de tratamento no uso
tratamento por eletrochoque, agressões físicas por parte dos funcionários, isolamento
em celas solitárias, tortura, banhos com água fria, etc.

A violência institucional nesses estabelecimentos, durante a época em que


se passa a narrativa do filme, era uma realidade muito comum entre elas. Não existiam
métodos de pesquisa para tratamentos menos invasivos, os médicos tinham a pratica
de testar suas alternativas para o tratamento de seus pacientes pela método de
tentativa e erro. Não existia a menor sensibilidade e olhar mais humanizado para com
suas cobaias.
Contrária ao uso dos métodos de eletrochoque e lobotomia como
tratamento dos pacientes, além do uso de violência física por parte dos funcionários
Nise se recusa a trabalhar como seus colegas de profissão, o que resulta na sua
transferência para o setor de terapia ocupacional. Lá ela começa um trabalho de
humanização do tratamento dos pacientes do hospital. Nesse aspecto Nise se
mostrou alguém afrente de seus colegas brasileiros, o tratamento mais humanizado
dos pacientes psiquiátricos no Brasil só veio a ser pauta no Brasil a partir da década
de 1970. Nise teve grande contribuição nos movimentos que se iniciaram no Brasil
pelo fim do quadro de violência nos manicômios brasileiros.

Nise usa a arte para tratar seus pacientes, pela influência do psiquiatra Carl
Gustav Jung. Ela acredita que o uso da arte como forma de expressão dos doentes
mentais seriam muito mais eficazes no tratamento dos pacientes, além do papel da
arte como parte do processo de reintegração social.

É característico em diversas instituições, principalmente pelas relações de


poder existente dentro delas, que indivíduos com ideias contrarias as normas do
estabelecimento, enfrentem resistência por parte da administração e até de seus
semelhantes. A resistência a mudanças é uma coisa natural me qualquer esfera e em
inúmeras situações diferentes, e são movidas por fatores dos mais diversos tipos. No
filme em questão é impossível não associar essa resistência a uma forte influência do
machismo, a equipe médica do manicômio possui apenas Nise como membro do sexo
feminino enquanto todo o restante são homens.

O trabalho desenvolvido por Nise na terapia ocupacional não agradou a


seus colegas, apesar de apresentar avanços significativos na melhora dos pacientes.
Os transtornos mentais são pouco compreendidos pelos psiquiatras e cada um queria
obter êxito em suas pesquisas, por isso a relutância em aceitar os métodos propostos
por Nise e o sentimento de raiva ao ver os pacientes apresentarem melhoria em seu
quadro.

O que diferencia o modo da psiquiatra Nise tratar seu pacientes do modo


como seus colegas lidavam foi a adoção do olhar humanizado dos internados, muito
além de não admitir o uso de práticas violentas ela optou por reconhecer em seus
pacientes seres humanos iguais. Entender a realidade do outro trouxe para mais
próximo de si o sujeito a muito tempo excluído da sociedade e visto como anormal.
O filme, Nise – O coração da loucura, nos faz perceber a necessidade de
uma medicina mais próxima do paciente. A pratica médica não deve jamais se limitar
aos aspectos puramente técnicos da profissão, os conhecimentos da medicina deve
andar de mãos dadas com o tratamento afetivo pelo enfermo. Esse relacionamento
paciente-médico garante o contato do psiquiatra com o sujeito de designado a seus
cuidados, e consequentemente dessa forma o médico traz pra mais próximo de si a
realidade do paciente. Com isso vemos a convergência para o estabelecimento do fim
das relações de poder nos hospitais psiquiátricos como uma instituição total,
acabando com a tradição puramente de controle e isolamento social dos enfermos.

Em suma nesse filme pode-se ver retratado a desconstrução do caráter de


controle social que por muito tempo predominava nos manicômios, e com isso o
surgimento de um novo modus operandi. Embora não tenha ocorrido a total
desassociação dos hospitais psiquiátricos de sua função social de assegurar a o
controle da normalidade social pela “cura” dos sujeitos “anormais”.

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