RA00298130 ILHA DO MEDO O filme ocorre em uma instituição manicomial, um hospital psiquiátrico para criminosos com doenças psicológicas, que só recebe pacientes perigosos e insanos. Começa com o que parece ser uma investigação policial de uma paciente perigosa e assassina que foi desaparecida, quem investiga o caso é Teddy Daniels (seu nome verdadeiro era Andrew Leaddis). Ao final do filme, ocorre a mudança de posição de investigador para investigado e a descoberta de que na verdade ele era o paciente perigoso, a narrativa sendo investigada era da própria vida dele misturado com as fantasias que ele havia criado e todos que faziam parte da trama eram médicos, enfermeiros, assistentes, etc que cuidavam dele estavam levando essa fantasia a diante com o intuito de tentar faze-lo voltar a realidade. A esposa dele era maníaca depressiva e suicida, e Andrew já havia sido alertado das condições de sua esposa, mas ele lidou com isso reprimindo os fatos e bebendo muito. Andrew Leaddis, por não conseguir se perdoar de não ter percebido que sua esposa estava doente, o que levou ela a matar seus filhos, carregou essa culpa para si, além de ele ter a matado pelo ocorrido, o que ocasionou a entrar em um processo paranoico delirante. Criou personagens em uma história fictícia, no papel de herói, ele acaba descobrindo uma conspiração contra ele mesmo, o que o faz se sentir perseguido, lidando com sua realidade como uma mentira criada por todo mundo que estava lá. Andrew repete essa fantasia delirante a dois anos, como um looping, ele volta para a realidade de quem ele realmente é e sua história por um curto período de tempo até entrar nessa fantasia criada, que é um mecanismo de defesa por não suportar lidar com o luto e não conseguir aceitar a realidade dos fatos. Na intensão de fugir da realidade, ele projeta a culpa da sua tragédia pessoal na personagem da paciente fugitiva Raquel e o seu maior desejo que era fugir da ilha. Em meio aos surtos paranoicos, outros sintomas foram aparecendo como a crise de abstinência por não tomar os medicamentos, dores de cabeça, tremores, aumento do estado persecutório e violento. Melanie Klein relata os processos que resultam em idealização, estados projetivos ligados à negação e a cisão, ansiedade, culpa, não conseguir superar o luto e a desassociação... No filme a cisão aparece de diversas formas, caracterizando a posição esquizo-paranoide dividida à realidade, transitando entre a posição paranoide e a posição depressiva. No caso de Andrew, mostra a cisão dos objetos bons, o ego faz uma cisão entre um objeto inteiro e o objeto ferido, recalcando profundamente no inconsciente os objetos ameaçadores. Ele usa mecanismos de defesa, como a clivagem, para se livrar da ansiedade trazendo o objeto bom (o fantasma da esposa) que o afasta dos objetos assustadores que é a sua realidade no instituto, além das lembranças dolorosas dos fatos, tornando seus delírios cada vez mais realistas e o fazendo sair de uma posição depressiva para a esquizo- paranoide. Esse mecanismo de defesa do ego contra a ansiedade na posição esquizo- paranoide, Melanie Klein chama de identificação projetiva. A identificação projetiva constrói as relações de objeto narcisistas, onde os objetos são equacionados com partes que foram excedidas e projetadas no self, que no filme, ao se retratar como um investigador heroico, alimenta a ilusão dessa realidade como se pudesse e soubesse de tudo, tanto é que no final ele acha que todos estão lhe manipulando, mas que ele sabia de toda a verdade, ele e somente ele. O que ocorreu no tratamento de Andrew foi através da vivência de sua história delirante, pontuar aspectos da realidade fazendo com que ele entre no estado depressivo proposto pela teoria de Klein, para que ele possa ser trazido à consciência, para poder lidar com o luto e a culpa. Essa tentativa não da certo porque Andrew, na sua resistência inconsciente, está aprisionado nas defesas do ego, voltando como um ciclo ao estado esquizo-paranoide, projetando o que é de ruim em seus personagens fictícios e uma situação idealizada, recalcando suas reais emoções e impedindo que realmente ocorra um tratamento progressivo. A fantasia marcante na sua trajetória mostrou como aspectos ruins projetados danificaram o objeto, virando em um elemento persecutório. O filme termina com os médicos não tendo outra solução além de realizar a labotomia, apesar das tentativas, que naquela época era uma neurocirurgia que visava modificar comportamentos ou curar doenças mentais, ele coloca o questionamento: “O que é melhor: viver como um monstro ou morrer como um homem bom?”. Representando toda a dualidade que ele criou com a realidade dos fatos e a realidade fantasiosa; ou você é bom, ou você é mau, não existe ambiguidade.