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Ver Rogério e Procedimento crimes funcionais.

CS – PROCESSO PENAL III 152

IV. SENTENÇA PENALSENTENÇA PENALSENTENÇA PENALSENTENÇA


PENALSENTENÇA PENALSENTENÇA PENALSENTENÇA PENALSENTENÇA
PENALSENTENÇA PENALSENTENÇA PENALSENTENÇA PENALSENTENÇA
PENALSENTENÇA PENALSENTENÇA PENAL
1. ESPÉCIES DE ATOS JURISDICIONAIS
Os atos jurisdicionais são: despachos, decisões interlocutórias, sentenças.
Senão, vejamos:
1.1. DESPACHO
Ato de mera movimentação do processo, sem carga decisória. Ex.: Cite-se o
réu.
Quem despacha?
- Juiz;
- Servidor da justiça (por delegação - novidade da EC 45);
Recurso: Em regra, não cabe.
Exceção: Cabe correição parcial de Despacho abusivo ou que gera tumulto
processual.
Ex1.: Juiz inverte a ordem processual. É tumulto.
Ex2.: Juiz adota procedimento errado.
Coisa julgada: Não existe coisa julgada no âmbito dos despachos.
1.2. DECISÃO INTERLOCUTÓRIA
É o ato com carga decisória (decisão) que não encerra o processo.
1.2.1. Espécies de decisão interlocutória
▪ Simples: Não encerra o processo; não encerra uma fase do procedimento; não
decide pedido incidental. Ex.: Recebimento da denúncia; homologação do APF.
Recurso: O CPP não prevê recurso. Cabe HC.
▪ Mista não-terminativa: Encerra uma fase do procedimento, mas não encerra o
processo principal. Ex.: Pronúncia, recurso: RESE.
▪ Mista terminativa: Decisão que julga mérito de um pedido incidental, mas
não encerra o processo principal. Exemplos dessas decisões: a que julga o
pedido de restituição de coisas apreendidas, o pedido de prisão preventiva, a
exceção de incompetência, o cancelamento de inscrição de hipoteca, o
levantamento do sequestro, progressão de regime etc. A decisão que
desclassifica o crime doloso contra a vida, nos
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termos do art. 419 do CPP, é uma decisão terminativa, porque acolhe um pedido
incidental, mas não encerra o processo.
Recurso: Contra as decisões interlocutórias mistas, NORMALMENTE cabe RESE.
1.3. SENTENÇA
É o ato que põe termo ao processo (extingue), com ou sem resolução de mérito.
OBS: Esse não é o único conceito de sentença, principalmente se compararmos
com a doutrina do processo civil.
1.3.1. Espécies (natureza jurídica)
▪ Sentença terminativa: Põe fim ao processo sem julgamento do mérito. Ex.:
Acolhimento de exceção de coisa julgada; impronúncia;
▪ Sentença condenatória; Art. 387
▪ Sentença absolutória: Absolvição sumária, por exemplo. Art. 386 CPP.
▪ Sentença declaratória de extinção da punibilidade. Súmula 18 do STJ.
▪ Sentença que julga o mérito de ação autônoma. Ex.: Sentença em HC.
▪ Sentença constitutiva: Constitui-se nova situação jurídica. Ex.:
Reabilitação criminal.
OBS: Há livros que não trazem a classificação dessa forma.
2. CLASSIFICAÇÃO DAS SENTENÇAS PENAIS
As sentenças classificam-se em:
1-Sentença simples
2-Sentença subjetivamente plúrima
3-Sentença subjetivamente complexa
4-Sentença material
5-Sentença formal
6-Sentença autofágica ou de efeito autofágico
7-Sentença branca
8-Sentença vazia
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9-Sentença suicida
Vejamos:
2.1. SENTENÇA SIMPLES
Proferida por juiz monocrático.
2.2. SENTENÇA SUBJETIVAMENTE PLÚRIMA
Decisão emanada de órgão colegiado. É o denominado Acórdão, que, ao transitar
em julgado é chamado de aresto.
2.3. SENTENÇA SUBJETIVAMENTE COMPLEXA
Decisão que exige a participação de mais de um órgão. Ex.: Tribunal do júri.
Os jurados decidem sobre o mérito (veredicto); o juiz decide pena/regime etc.
2.4. SENTENÇA MATERIAL
Sentença que julga o mérito do pedido principal. Em regra, será condenatória
ou absolutória. Também é possível a extinção da punibilidade.
2.5. SENTENÇA FORMAL
Sentença que termina o processo sem julgamento do mérito. É a chamada
sentença terminativa ou decisão definitiva.
2.6. SENTENÇA AUTOFÁGICA OU DE EFEITO AUTOFÁGICO
Sentença em que o juiz reconhece o crime e a culpabilidade do réu, e, ao
mesmo tempo, julga extinta a punibilidade. Ex.: Perdão judicial. É uma
sentença declaratória extintiva da punibilidade (Súmula 18 do STJ). É uma
sentença que se mata. Ex. da mãe que esquece o bebê no carro.
Obs: prescrição retroativa não é sentença autofágica. Por quê? Nela há duas
sentenças. A primeira é condenatória, se o MP não recorre, o juiz pode
reconhecer a retroativa. Em outras palavras, se o MP não recorre, o juiz pode
reconhecer a prescrição retroativa (isso porque não há mais possibilidade de
a sentença aumentar).
2.7. SENTENÇA BRANCA
É a que remete para o próximo grau de jurisdição o julgamento de uma questão
cuja solução depende da interpretação de tratados internacionais. No nosso
direito, isso é impossível.
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Por força do princípio da indeclinabilidade da jurisdição, o juiz tem que
julgar todos os conflitos (pedidos) que lhe são submetidos (princípio da
inafastabilidade da jurisdição).
2.8. SENTENÇA VAZIA
Sentença sem fundamentação. Absolutamente nula.
2.9. SENTENÇA SUICIDA
Ocorre quando o dispositivo da decisão (conclusão) não se coaduna com a
fundamentação. É uma decisão incoerente, ilógica, portanto, absolutamente
nula. Atacável por embargos de declaração. Ex.: Na fundamentação o juiz
reconhece ter havido legítima defesa, mas no dispositivo acaba condenando o
réu.
3. REQUISITOS DA SENTENÇA
a) Relatório
b) Fundamentação ou motivação
c) Dispositivo
d) Autenticação (local, data e assinatura)
4. NATUREZA JURÍDICA DA SENTENÇA
Resposta clássica: o juiz somente declara o direito. Quem cria é o
legislador. Banca conservadora.
Resposta moderna: o juiz cria o direito, pois supre as lacunas legislativas.
Ex: lapso temporal de 30 dias criado pela jurisprudência para reconhecer por
crime continuado; mesmas comarcas ou comarcas vizinhas para configurar o
crime continuado. Isso é o que se chama de sentença aditiva. Isso porque o
juiz supre uma omissão. Banca moderna.
Ex: decisão homologatória de transação penal. O réu descumpre a decisão. O
que cabe? STJ e STF: denúncia. Na verdade, a decisão fica condicionada ao
cumprimento da transação. Essa sentença é chamada de sentença substitutiva ou
manipulativa (substitui o legislador ou manipula o sentido da lei). SV 35 - A
homologação da transação penal prevista no artigo 76 da Lei 9.099/1995 não faz coisa julgada
material e, descumpridas suas cláusulas, retoma-se a situação anterior, possibilitando-se ao
Ministério Público a continuidade da persecução penal mediante oferecimento de denúncia ou
requisição de inquérito policial.
-Error in procedendo: anulação da sentença por vício procedimental. O tribunal
anula a sentença e os atos devem ser refeitos.
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-Error in judicando: erro na valoração do caso e das provas. O tribunal reforma
a sentença.
5. PUBLICAÇÃO E RETRATAÇÃO DA SENTENÇA
5.1. FORMAS DE PUBLICAÇÃO DA SENTENÇA
a) Sentença prolatada em gabinete: É publicada quando o escrivão (diretor do
cartório) faz sua juntada aos autos (certificando-se e registrando-se o ato –
CPP, art. 389);
Art. 389. A sentença será publicada em mão do escrivão, que lavrará nos autos o respectivo
termo, registrando-a em livro especialmente destinado a esse fim.
Art. 390. O escrivão, dentro de três dias após a publicação, e sob pena de suspensão de cinco
dias, dará conhecimento da sentença ao órgão do Ministério Público.
b) Sentença prolatada em audiência ou plenário do júri: É publicada no
momento da sua leitura.
OBS: Antes da publicação a sentença não existe (juridicamente).
A publicação da sentença interrompe o curso do prazo prescricional (depois do
advento da Lei 11.596/2007). Não é a sentença condenatória recorrível que
interrompe a prescrição, sim, sua publicação. Também a publicação do acórdão
condenatório recorrível interrompe a prescrição (CP, art. 117, IV).
5.2. INTIMAÇÃO DA SENTENÇA
Art. 391. O QUERELANTE ou o ASSISTENTE será intimado da sentença, pessoalmente ou na
pessoa de seu advogado. Se nenhum deles for encontrado no lugar da sede do juízo, a
intimação será feita mediante edital com o prazo de 10 dias, afixado no lugar de costume.
Art. 392. A intimação da sentença será feita:
I - ao réu, pessoalmente, se estiver preso;
II - ao réu, pessoalmente, ou ao defensor por ele constituído (publicação na imprensa), quando
se livrar solto, ou, sendo afiançável a infração, tiver prestado fiança;
III - ao defensor constituído (publicação na imprensa) pelo réu, se este, afiançável, ou não, a
infração, expedido o mandado de prisão, não tiver sido encontrado, e assim o certificar o oficial
de justiça;
IV - mediante edital, nos casos do no II, se o réu e o defensor que houver constituído não forem
encontrados, e assim o certificar o oficial de justiça;
V - mediante edital, nos casos do no III, se o defensor que o réu houver constituído também não
for encontrado, e assim o certificar o oficial de justiça;
VI - mediante edital, se o réu, não tendo constituído defensor, não for encontrado, e assim o
certificar o oficial de justiça.
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§ 1o O prazo do edital será de 90 dias, se tiver sido imposta pena privativa de liberdade por
tempo igual ou superior a um ano, e de 60 dias, nos outros casos.
§ 2o O prazo para apelação correrá após o término do fixado no edital, salvo se, no curso deste,
for feita a intimação por qualquer das outras formas estabelecidas neste artigo.
Art. 370. Nas intimações dos acusados, das testemunhas e demais pessoas que devam tomar
conhecimento de qualquer ato, será observado, no que for aplicável, o disposto no Capítulo
anterior.
§ 1o A intimação do defensor constituído, do advogado do querelante e do assistente far-
se-á por publicação no órgão incumbido da publicidade dos atos judiciais da comarca,
incluindo, sob pena de nulidade, o nome do acusado.
§ 2o Caso não haja órgão de publicação dos atos judiciais na comarca, a intimação far-se-á
diretamente pelo escrivão, por mandado, ou via postal com comprovante de recebimento, ou
por qualquer outro meio idôneo.
§ 3o A intimação pessoal, feita pelo escrivão, dispensará a aplicação a que alude o § 1o.
§ 4o A intimação do Ministério Público e do defensor nomeado (dativo) será pessoal.
Como funciona a intimação do ACÓRDÃO no Processo Penal comum:
As intimações das decisões dos Tribunais (acórdãos) são realizadas por meio
de publicação na imprensa oficial, não se exigindo intimação pessoal do réu,
mesmo que ele esteja preso. Não se aplica o art. 392 do CPP às intimações de
acórdãos.
5.3. PRINCÍPIO DA IMODIFICABILIDADE DA SENTENÇA
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A sentença, uma vez publicada, é imodificável, inalterável, irretratável,
SALVO ALGUMAS EXCEÇÕES:
a) Erro material (ex.: Grafar o nome errado; erro de cálculo).
“Declaro que houve equívoco material...”
b) Acolhimento de embargos de declaração.
c) Superveniência de lei penal mais favorável ao réu (LFG)
Se o processo ainda está em primeira instância, cabe ao juiz que sentenciou
aplicar a Lex mitior. Se o processo já subiu, cabe ao Tribunal aplicar a lei
nova. Se o processo já transitou em julgado, cabe ao juiz da execução aplicar
a “Lex mitior” (Súmula 611 do STF).
d) Juízo de retratação nos recursos com efeito regressivo: Nesses casos, a
exemplo do RESE, o juiz pode se retratar, e, querendo, pode julgar de forma
completamente diferente ao que foi decidido anteriormente.
*Prescrição retroativa ou prescrição superveniente:
Uma vez publicada a sentença condenatória, pode o juiz de 1º grau reconhecer
alguma dessas prescrições? Não estaria o juiz impedido de reconhecê-las, pelo
denominado esgotamento de jurisdição, que se dá com a publicação da decisão?
1ª C: O juiz de primeira instância não pode reconhecê-la, uma vez que, ao
proferir a sentença esgotou sua atividade jurisdicional.  Capez. Minoria.
2ª C: Sendo matéria de ordem pública, o art. 61 do CPP autoriza a juiz
reconhecê-la, desde que haja o trânsito em julgado para a acusação.  LFG.
Maioria.
Importante: Com superveniência de lei benéfica o juiz readquire jurisdição
para adequar a decisão à nova lei. Somente para esse ponto ele readquire a
jurisdição.
Ordem dos fatos: O juiz sentencia; espera recurso da acusação; se o MP não
recorre, aí sim o juiz pode reconhecer a prescrição retroativa em cima da
sentença.
Essa decisão da prescrição é autofágica? NÃO, pois na sentença autofágica a
extinção da punibilidade ocorre na mesma decisão em que o juiz reconhece a
culpabilidade do agente. Aqui é diferente. São duas sentenças. Uma é
condenatória e a outra é declaratória extintiva da punibilidade.
6. COISA JULGADA
6.1. COISA JULGADA FORMAL E MATERIAL
É imutabilidade da sentença e dos seus efeitos. Existem duas espécies de
coisa julgada:
Coisa julgada formal: É a garantia da imutabilidade da sentença que se
projeta para dentro do mesmo processo. Ela impede a revisão da decisão dentro
do mesmo processo.
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Exceções. Hipóteses onde, mesmo diante da coisa julgada formal, o juiz pode
modificar o julgado.
- Inexatidões materiais (de ofício, inclusive).
- Erro de cálculo (de ofício, inclusive).
- Novatio legis in mellius
Embargos de declaração e recurso com efeito regressivo? Não são exceções por
um motivo simples. A coisa julgada só existe quando preclusas as vias
impugnativas, ou seja, enquanto forem cabíveis os recursos, não há que se
falar em coisa julgada formal, tampouco em mitigações da dos seus efeitos.
Coisa julgada formal # cláusula rebus sic stantibus (ver acima): toda sentença
condenatória se submete à cláusula rebus sic stantibus. O juiz das execuções
pode alterar partes da sentença, mesmo com coisa julgada (material). Ex: juiz
pode unificar as penas, pode diminuir a pena de acordo com a remição
(trabalho). Por que ela é rebus sic stantibus? Porque tudo que está nela vale
nos seus termos, naquele momento. Na execução poderá ser modificada.
Coisa julgada material: É a garantia da imutabilidade da decisão tanto dentro
quanto fora do processo. Ou seja, a decisão não pode ser modificada nem mesmo
em um novo processo.
Fundamento da coisa julgada: Segurança jurídica. Necessidade de pôr fim à
discussão.
A revisão criminal ofende a coisa a coisa julgada? A revisão desfaz a coisa
julgada, isto porque rejulga o caso. Não ofende a coisa julgada, desfaz
porque a revisão é uma garantia superior à garantia da coisa julgada. Isso
porque a revisão visa à liberdade do indivíduo, direito fundamental.
6.2. EFEITOS DA COISA JULGADA
a) Efeito negativo (ou impeditivo) da coisa julgada: A coisa julgada impede
que aquela questão seja novamente objeto de análise como questão principal em
outro processo. Um juiz NÃO pode decidir de novo o que já foi decidido. Por
isso efeito negativo. Trata-se aqui da garantia do ne bis in idem processual
(ninguém pode ser processado duas vezes pelo mesmo fato).
EXCEÇÃO: extraterritorialidade da lei penal brasileira (seja incondicionada,
seja condicionada ou hipercondicionada). Pode alguém ser processado no
estrangeiro e até mesmo eventualmente condenado e depois ser processado no
Brasil (CP, art. 7º). Se o sujeito foi condenado e cumpriu pena no
estrangeiro, só se admite seu processamento no Brasil diante das hipóteses de
extraterritorialidade incondicionada. Nesse caso, o cumprimento da pena no
estrangeiro abranda a pena imposta no Brasil (CP, art. 8º).
b) Efeito positivo da coisa julgada: A decisão sobre a qual recai a coisa
julgada deve obrigatoriamente ser observada em outros processos ou instâncias
(salvo o caso de absolvição por falta de provas, que não precisa ser acatada
em outras instâncias).
7. RELATIVIZAÇÃO DA COISA JULGADA CRIMINAL
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Relativização da coisa julgada: no processo penal, TODA a sentença
condenatória pode ser desconstituída por meio de revisão criminal ou HC, logo
a coisa julgada é relativa. A coisa julgada só é soberana quando for
absolutória própria. “Coisa soberanamente julgada”.
Em outras palavras: a imutabilidade da sentença condenatória ou absolutória
imprópria não é absoluta, na medida em que são cabíveis o HC e Revisão
criminal, mesmo após o trânsito em julgado; a imutabilidade da sentença
absolutória própria é absoluta (Frederico Marques: Coisa soberanamente
julgada), mesmo que tal decisão seja proferida por um juízo absolutamente
incompetente (princípio do “ne bis in idem”).
Revisão criminal: É um instrumento apto a desconstituir a coisa julgada. No
entanto, a revisão criminal só é cabível em favor do réu. É um desequilíbrio
legítimo, uma vez que só cabe revisão no caso de uma injustiça.
8. LIMITES OBJETIVOS DA COISA JULGADA
8.1. CONCEITO
O que é que é atingido pela imutabilidade da coisa julgada?
Somente se submete à coisa julgada a decisão sobre o fato natural imputado ao
acusado, pouco importando a classificação que lhe seja atribuída.
A decisão sobre o fato imputado é realizada ‘principaliter tantum’ (parte
dispositiva da decisão). Não se submetem à imutabilidade as decisões de
questões incidentais (esposadas na fundamentação da decisão).
Fato natural é a realidade histórica que serviu de base para a peça
acusatória, assim como para a sentença. Agente absolvido do fato de ter
gerado a morte de uma determinada vítima, não pode ser processado outra vez
por esse mesmo fato. O sujeito que foi condenado por furto, não pode ser
processado outra vez pelo mesmo fato ainda que se descubra que houve
violência (roubo). A coisa julgada, como se vê, abarca o fato em sua integral
realidade histórica, ainda que somente parte dela tenha sido objeto de
exposição narrativa (e julgamento).
Ex.: Narra-se um furto. Réu condenado. Não poderá ser processado novamente se
posteriormente descobrirem que a subtração ocorreu mediante violência.
8.2. SITUAÇÕES PECULIARES
▪ Coisa julgada X cláusula ‘rebus sic stantibus’
No caso de uma condenação, a pena fixada, o regime inicial imposto etc., tais
detalhes podem ser alterados durante a fase de execução (pela remição, pela
progressão etc.), mesmo porque a sentença condenatória está sempre sujeita à
cláusula rebus sic stantibus. O que o juiz das execuções não pode fazer é
alterar complemente o sentido da decisão (exemplo: absolver o réu que foi
condenado). Qualquer que seja o incidente da execução da pena, decorrente do
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princípio da individualização da pena na fase executiva, não se altera a
condenação penal, sim, apenas as suas consequências.
▪ Concurso formal de crimes
Antes de tudo, deve-se partir da premissa de que aqui temos dois FATOS
NATURAIS DISTINTOS; dois crimes, embora originados de uma só conduta. É
diferente do caso do furto visto acima, onde o fato é único.
Depois de formar coisa julgada em um dos crimes, cabe novo processo para
julgar o outro crime que o promotor esqueceu de denunciar? Depende.
Se a decisão for condenatória, por óbvio pode haver novo processo.
Se a decisão for absolutória, a depender do fundamento da absolvição, a coisa
julgada atingirá o outro delito cometido. Ex.: Motorista de ônibus mata duas
pessoas em acidente. Se houver absolvição por ausência de dolo e culpa no
primeiro processo, obviamente essa decisão impedirá a propositura de outro
processo para punir o suposto homicídio contra a outra pessoa (falta de justa
causa).
▪ Concurso material de crimes
Agente julgado pelo crime de roubo não está impedido de ser processado pelo
delito de estupro, cometido na mesma ocasião. Não há que se falar em coisa
julgada em relação ao último delito, que não fez parte (nem explicita nem
implicitamente) do fato principal julgado.
▪ Crime continuado
Nas hipóteses de crime continuado, caso a primeira série de continuidade
delitiva já tenha sido julgada, nada impede que o acusado seja processado por
outros crimes que integraram a mesma série, mas ainda não haviam sido
descobertos. Nesse caso, deverá ocorrer posterior unificação das penas no
juízo da execução.
Se na primeira série julgada já havia sido imposto o aumento de pena máximo
previsto para a continuidade delitiva (dois terços, nos termos do art. 71 do
CP), novo processo pode ser instaurado, mas o juiz das execuções não contará
com nenhuma margem para fazer incidir qualquer tipo de aumento de pena.
▪ Crime habitual
A coisa julgada refere-se apenas aos fatos ocorridos até o oferecimento da
denúncia, onde a imputação é delimitada. Se o sujeito continua cometendo o
crime habitual após o ajuizamento da ação penal, nada impede que seja
denunciado pela nova imputação. Ex: exercício legal da medicina, médico que
começa praticando em uma cidade, é denunciado. Muda de cidade e continua
praticando, é fato novo, continua praticando, pode ser novamente denunciado.
▪ Crime permanente
Crime cuja consumação de protrai no tempo. Ex.: Sequestro.
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Houve processo e condenação. Não importa quanto tempo durou o sequestro; é
fato único, logo cabe um único processo. Se a vítima for sequestrada outra
vez, é outro fato, outro crime, outro processo.
▪ Tribunal do júri: absolvido como autor, pode ser processado como
partícipe?!
OBS: A absolvição como autor não impede a nova imputação como partícipe, pois
o fato natural imputado é diverso (STF HC 82980).
▪ Extinção da punibilidade com base em certidão de óbito falsa
Sentença declaratória faz coisa julgada. Vale a coisa julgada?
STF HC 84525: A sentença não vale.
A Doutrina não compartilha desse entendimento: Deve ser respeitada a coisa
julgada. O réu não pode ser processado. Não existe revisão ‘pro societate’
no Brasil. No máximo, processa-se o réu por uso de documento falso.
Com efeito, o STF está materialmente correto, enquanto a doutrina está
formalmente correta.
▪ Sentença homologatória de transação penal
Sentença homologatória da transação penal (nos juizados): caso seja
descumprida, segundo o STF jamais se pode impor pena de prisão. Para o STF a
saída é o oferecimento de denúncia (assim também pensa o STJ). SV 35 - A
homologação da transação penal prevista no artigo 76 da Lei 9.099/1995 não faz coisa julgada
material e, descumpridas suas cláusulas, retoma-se a situação anterior, possibilitando-se ao
Ministério Público a continuidade da persecução penal mediante oferecimento de denúncia ou
requisição de inquérito policial.
9. LIMITES SUBJETIVOS DA COISA JULGADA
Quem se submete à imutabilidade da coisa julgada?
Somente os imputados se submetem à coisa julgada.
No caso de concurso de pessoas, a decisão absolutória em relação a um dos
autores do crime não faz coisa julgada em relação aos demais, salvo se
fundada em razões objetivas, como exemplo o princípio da insignificância (HC
86.606), “abolitio criminis”; prova na inexistência do fato delituoso. Faz-
se, aqui, uma aplicação analógica do art. 580 do CPP:
CPP Art. 580. No caso de concurso de agentes (Código Penal, art. 25), a decisão do recurso
interposto por um dos réus, se fundado em motivos que não sejam de caráter exclusivamente
pessoal, aproveitará aos outros.
CS – PROCESSO PENAL III 163

V. TEORIA GERAL DOS RECURSOSTEORIA GERAL DOS RECURSOSTEORIA


GERAL DOS RECURSOSTEORIA GERAL DOS RECURSOSTEORIA GERAL DOS
RECURSOSTEORIA GERAL DOS RECURSOSTEORIA GERAL DOS
RECURSOSTEORIA GERAL DOS RECURSOSTEORIA GERAL DOS
RECURSOSTEORIA GERAL DOS RECURSOSTEORIA GERAL DOS
RECURSOSTEORIA GERAL DOS RECURSOSTEORIA GERAL DOS
RECURSOSTEORIA GERAL DOS RECURSOSTEORIA GERAL DOS
RECURSOSTEORIA GERAL DOS RECURSOSTEORIA GERAL DOS
RECURSOSTEORIA GERAL DOS RECURSOSTEORIA GERAL DOS
RECURSOSTEORIA GERAL DOS RECURSOSTEORIA GERAL DOS
RECURSOSTEORIA GERAL DOS RECURSOSTEORIA GERAL DOS
RECURSOSTEORIA GERAL DOS RECURSOSTEORIA GERAL DOS RECURSOS _5

1. CONCEITO
Recurso é o instrumento processual voluntário de impugnação de decisões
judiciais, previsto em lei, utilizado antes da preclusão e na mesma relação
jurídica processual, objetivando a reforma, invalidação, integração ou
esclarecimento da decisão judicial anterior.
2. FUNDAMENTOS
2.1. FALIBILIDADE HUMANA
O juiz pode cometer um erro, assim o recurso tem importância de possibilitar
a reforma da decisão.
A revisão é um estímulo para que o juiz se esforce para ter sua decisão
mantida pelo Tribunal.
2.2. INCONFORMISMO DAS PESSOAS
Construção doutrinária, sem muito sentido.
2.3. DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO
Quando falamos em duplo grau de jurisdição estamos falando na possibilidade
de interposição de um recurso que seja capaz de devolver ao tribunal o
conhecimento de toda a matéria de fato, de direito e probatória apreciada na
primeira instância.
Por conta deste conceito, muitos doutrinadores dizem que os recursos
extraordinários não são expressões do duplo grau, pois só devolvem matéria de
direito e prestam-se a defesa da Constituição e Legislação Federal. A pessoa
tem direito ao recurso, mas não tem o duplo grau de jurisdição. Segundo
Daniel Assumpção, os institutos não se confundem. Não se pode afirmar que o
simples fato de ter instância superior caracteriza o duplo grau.
O duplo grau não é princípio expresso da CF, alguns doutrinadores dizem é
implícito, sendo extraído de duas regras: ampla defesa e do devido processo
legal.
CF Art. 5º
LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal;
LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são
assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;
CS – PROCESSO PENAL III 164
A convenção Americana assegura o duplo grau em seu artigo 8º, § 2º, “h”.
CADH Artigo 8º - Garantias judiciais
2. Toda pessoa acusada de um delito tem direito a que se presuma sua inocência, enquanto
não for legalmente comprovada sua culpa. Durante o processo, toda pessoa tem direito, em
plena igualdade, às seguintes garantias mínimas:
h) direito de recorrer da sentença a juiz ou tribunal superior.
A doutrina ainda extrai o duplo grau da previsão de divisão dos órgãos
jurisdicionais em superiores e inferiores.
Quem não tem direito ao duplo grau de jurisdição: pessoas com foro por
prerrogativa de função.
RHC 79785: Promotor com prerrogativa de foro no TJ, não tem direito ao duplo
grau de jurisdição.
No caso do mensalão – 40 acusados respondendo perante o STF. Nem todos têm
foro por prerrogativa de função. Por que motivo está respondendo perante o
STF? R: Por força da conexão quanto da continência, normas modificativas da
competência previstas no CPP (ver competência).
Em relação aos que tem foro por prerrogativa, tendo em vista terem no STF o
seu juiz natural, não há controvérsia. A controvérsia diz respeito aos que
não tem foro por prerrogativa de função e são levados ao STF por força da
conexão ou continência.
SÚMULA 704 STF - Não viola as garantias do juiz natural, da ampla defesa e do devido
processo legal a atração por continência ou conexão do processo do corréu ao foro por
prerrogativa de função de um dos denunciados.
ATENÇÃO! Lembrar que a regra é a separação dos processos. Apenas em casos
excepcionais serão reunidos.
3. PRESSUPOSTOS OU REQUISITOS DE ADMISSIBILIDADE RECURSAL.
3.1. CONSIDERAÇÕES
Na hora do julgamento de um recurso, o Tribunal não passa imediatamente à
análise do mérito.
Juízo a quo – é o juízo contra o qual se recorre.
Juízo ad quem – é o juízo para o qual se recorre.
Geralmente juízes distintos, mas não obrigatoriamente.
CS – PROCESSO PENAL III 165
Esses pressupostos recursais devem ser analisados pelos dois, juízo a quo e
juízo ad quem.
Quando os pressupostos estão presentes o recurso será conhecido.
“Conhecimento” não se confunde com “não conhecimento”. “Provimento” não
se confunde com “improvimento”.
Quando houve o conhecimento do recurso significa dizer que os pressupostos de
admissibilidade recursal estão presentes.
Recurso não conhecido – um dos pressupostos de admissibilidade não está
presente.
Recurso conhecido – a próxima coisa a ser analisada é o provimento ou
negativa de provimento. Questão relacionada ao mérito recursal. Isso
significa que, sendo conhecido, a decisão do tribunal irá substituir a
decisão do juízo a quo, pouco importando se o tribunal deu provimento ou não.
3.2. CONSIDERAÇÕES QUANTO A COMPETÊNCIA PARA O JULGAMENTO DA REVISÃO
CRIMINAL
Em regra, quem julga a revisão criminal são os Tribunais. Decisão
condenatória com trânsito em julgado.
Juiz/SP (decisão condenatória com trânsito em julgado)  TJ/SP
Aos tribunais compete o julgamento das revisões criminais de seus próprios
julgados. TJ/SP (acórdão condenatório com trânsito em julgado).  TJ/SP na
revisão criminal, não sobe.
Contra a decisão do TJ/SP a parte entra com RE para o STF.
Quem julga a revisão criminal? (Pergunta que se faz: Esse RE chegou a ser
conhecido pelo STF?)
Duas possibilidades:
1ª Possibilidade: Se o RE não foi sequer conhecido pelo STF (como se sabe, o
RE tem uma série de requisitos. Vamos supor que a matéria não foi pré-

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