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Edcampo Cad3 Educandas PDF
Edcampo Cad3 Educandas PDF
da Educação 3
3
Agricultura Familiar
Cidadania,
Organização Social e Políticas Públicas
Cidadania,
Organização Social
e Políticas Públicas
Ministério da Educação/SECAD
Esplanada dos Ministérios
Bloco L - Edifício Sede
o andar - sala 00
CEP 0.04-900
BRASÍLIA - DF
Coleção Cadernos Pedagógicos do
ProJovem Campo-Saberes da Terra
Cidadania,
Organização Social
e Políticas Públicas
Ministério
BRASÍLIA | DF | 2009 da Educação
© 2008. Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade do Ministério da Educação (SECAD/MEC)
Coordenação Editorial
Sara de Oliveira Silva Lima
Assistente
José Roberto Rodrigues de Oliveira
Equipe editorial:
Oscar Ferreira Barros
Eduardo D’Albergaria de Freitas
Gilson da Silva Costa
Lisânia de Giacometti
João Staub Neto
Michiele de Medeiros Delamora
Colaboração:
Comitê Pedagógico do ProJovem Campo - Saberes da Terra
Adriana Andres - MEC
Patrícia Ramos Mendonça - MEC
José Maria Barbosa de Jesus - MDA
Maria do Socorro Silva - MDA
Ângela Marques Almeida - MTE
Francisco Pereira - MTE
Vivian Beck Pombo - MMA
Equipe Técnica:
UFPE - Nupep
João Francisco de Souza (In Memorian)
Zélia Granja Porto
Karla Tereza Amélia Fornari de Souza
Rigoberto Fúlvio Melo Arantes
Maria Fernanda Alencar
Almeri Freitas de Souza
UFPA
Jaqueline Cunha da Serra Freire
Evandro Medeiros
Romier da Paixão Souza
Evanildo Estumano
Coordenação de Comunicação
Dirceu Tavares de Carvalho Lima Filho
Projeto Gráfico
Adrianna Rabelo Coutinho
Ilustração
Henrique Koblitz Essinger
Realização
Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade do Ministério da Educação
Revisão de Texto
Maria das Graças Oliveira
1ª Edição - Tiragem: 8.500 exemplares
CDU 374.71
Os autores são responsáveis pela escolha e apresentação dos fatos contidos neste livro, bem como pelas opiniões nele expressas, que não
são necessariamente as do Ministério da Educação, nem comprometem o Ministério. As indicações de nomes e a apresentação do material
ao longo deste livro não implicam a manifestação de qualquer opinião por parte do Ministério da Educação a respeito da condição jurídica
de qualquer país, território, cidade, região ou de suas autoridades, nem tampouco a delimitação de suas fronteiras ou limites.
Sumário
APRESENTAÇÃO 17
TEXTOS: 25
Apresentação do Caderno
Vamos começar a
leitura dos portfólios
da nossa equipe...
20
Carta
À EDUCANDA E AO EDUCANDO
Olá, juventude do campo!!
Fiscalizar
a Limpeza
Abaixo o Lixo
Texto 1
DECLARAÇÃO UNIVERSAL
DOS DIREITOS HUMANOS
Artigo 1 Artigo 8
Todos os homens nascem livres e iguais em Todo o homem tem direito a receber dos
dignidade e direitos. São dotados de razão tribunais nacionais competentes remédio
e consciência e devem agir em relação uns efetivo para os atos que violem os direitos
aos outros com espírito de fraternidade. fundamentais que lhe sejam reconhecidos
pela constituição ou pela lei.
Artigo 2
I. Todo o homem tem capacidade para go- Artigo 9
zar os direitos e as liberdades estabelecidas Ninguém será arbitrariamente preso, deti-
nesta Declaração, sem distinção de qual- do ou exilado.
quer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua,
religião, opinião política ou de outra na- Artigo 10
tureza, origem nacional ou social, riqueza, Todo o homem tem direito, em plena
nascimento, ou qualquer outra condição. igualdade, a uma justa e pública audiência
II. Não será também feita nenhuma distin- por parte de um tribunal independente e
ção fundada na condição política, jurídica imparcial, para decidir de seus direitos e
ou internacional do país ou território a deveres ou do fundamento de qualquer
que pertença uma pessoa, quer se trate acusação criminal contra ele.
de um território independente, sob tu-
tela, sem governo próprio, quer sujeito a Artigo 11
qualquer outra limitação de soberania. I. Todo o homem acusado de um ato delitu-
oso tem o direito de ser presumido inocen-
Artigo 3 te até que a sua culpabilidade tenha sido
Todo o homem tem direito à vida, à liber- provada de acordo com a lei, em julgamento
dade e à segurança pessoal. público no qual lhe tenham sido asseguradas
todas as garantias necessárias a sua defesa.
Artigo 4 II. Ninguém poderá ser culpado por qual-
Ninguém será mantido em escravidão quer ação ou omissão que, no momento,
ou servidão; a escravidão e o tráfico de não constitua delito perante o direito na-
escravos estão proibidos em todas as suas cional ou internacional. Também não será
formas. imposta pena mais forte do que aquela
que, no momento da prática, era aplicável
Artigo 5 ao ato delituoso.
Ninguém será submetido a tortura, nem
a tratamento ou castigo cruel, desumano Artigo 12
ou degradante. Ninguém será sujeito a interferências na
sua vida privada, na sua família, no seu lar
Artigo 6 ou na sua correspondência, nem a ataques
Todo homem tem o direito de ser, em to- a sua honra e reputação. Todo o homem
dos os lugares, reconhecido como pessoa tem direito à proteção da lei contra tais
perante a lei. interferências ou ataques.
Artigo 7 Artigo 13
Todos são iguais perante a lei e têm I. Todo homem tem direito à liberdade de
direito, sem qualquer distinção, a igual locomoção e residência dentro das frontei-
proteção da lei. Todos tem direito a igual ras de cada Estado.
proteção contra qualquer discriminação II. Todo o homem tem o direito de deixar
que viole a presente Declaração e contra qualquer país, inclusive o próprio, e a este
qualquer incitamento a tal discriminação. regressar.
27
Artigo 15 Artigo 21
I. Todo homem tem direito a uma naciona- I. Todo o homem tem o direito de tomar
lidade. parte no governo de seu país diretamente
II. Ninguém será arbitrariamente privado ou por intermédio de representantes livre-
de sua nacionalidade, nem do direito de mente escolhidos.
mudar de nacionalidade. II. Todo o homem tem igual direito de
acesso ao serviço público do seu país.
Artigo 16 III. A vontade do povo será a base da au-
I. Os homens e mulheres de maior idade, toridade do governo; esta vontade será ex-
sem qualquer restrição de raça, nacionali- pressa em eleições periódicas e legítimas,
dade ou religião, tem o direito de contrair por sufrágio universal, por voto secreto
matrimônio e fundar uma família. Gozam ou processo equivalente que assegure a
de iguais direitos em relação ao casamento, liberdade de voto.
sua duração e sua dissolução.
II. O casamento não será válido senão com o Artigo 22
livre e pleno consentimento dos nubentes. Todo o homem, como membro da socie-
III. A família é o núcleo natural e fundamen- dade, tem direito à segurança social e à
tal da sociedade e tem direito à proteção da realização, pelo esforço nacional, pela
sociedade e do Estado. cooperação internacional e de acordo com
a organização e recursos de cada Estado,
Artigo 17 dos direitos econômicos, sociais e culturais
I. Todo o homem tem direito à propriedade, indispensáveis à sua dignidade e ao livre
só ou em sociedade com outros. desenvolvimento de sua personalidade.
II. Ninguém será arbitrariamente privado de
sua propriedade. Artigo 23
I. Todo o homem tem direito ao trabalho, à
Artigo 18 livre escolha de emprego, a condições justas
Todo o homem tem direito à liberdade de e favoráveis de trabalho e à proteção contra
pensamento, consciência e religião; este di- o desemprego.
reito inclui a liberdade de mudar de religião II. Todo o homem, sem qualquer distinção,
ou crença e a liberdade de manifestar essa tem direito a igual remuneração por igual
religião ou crença, pelo ensino, pela prática, trabalho.
pelo culto e pela observâcia, isolada ou co- III. Todo o homem que trabalha tem
letivamente, em público ou em particular. direito a uma remuneração justa e satisfa-
tória, que lhe assegure, assim como a sua
Artigo 19 família, uma existência compatível com a
Todo o homem tem direito à liberdade de dignidade humana, e a que se acrescenta-
opinião e expressão; este direito inclui a rão, se necessário, outros meios de prote-
liberdade de, sem interferências, ter opi- ção social.
28
PARA DEBATER
• A Assembléia Geral das Nações Unidas proclamou a “Declaração Universal
dos Direitos do Homem como o ideal comum a ser atingido por todos os po-
vos e todas as nações”. E você, o que acha dessa afirmação? Compare-a com
a sua realidade.
• Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qualquer distinção, a igual
proteção da lei. (Artigo 7, grifo nosso);
• “I.Todo homem tem o direito de tomar parte no governo de seu país, direta-
mente ou por intermédio de representantes livremente escolhidos;.II. Todo o
homem tem igual direito de acesso ao serviço público do seu país.” (Artigo 21).
30
Texto 2
PRIORIDADES DA 1ª CONFERÊNCIA
NACIONAL DE JUVENTUDE
2 Educação Destinar parte da verba da educação no ensino básico para o mo- 547
básica – delo integral e pedagógico do CIEP’s (Centros Integrados de Educa-
elevação da ção Pública).
escolaridade
4 Meio Criar uma política nacional de juventude e meio ambiente que 521
Ambiente inclua o “Programa Nacional de Juventude e Meio Ambiente”, ins-
titucionalizado em PPA (Plano Plurianual), com a participação dos
jovens nos processos de construção, execução, avaliação e decisão,
bem como da Agenda 21 da Juventude que fortaleça os movimen-
tos juvenis no enfrentamento da grave crise ambiental global e
planetária, com a construção de sociedades sustentáveis.
6 Juventude Garantir o acesso à terra ao jovem e à jovem rural, na faixa etária de 16 515
do campo a 32 anos, independente do estado civil, por meio da reforma agrária,
priorizando este segmento nas metas do Programa de Reforma Agrária
do Governo Federal, atendendo a sua diversidade de identidades so-
ciais, e, em especial aos remanescentes de trabalho escravo. É funda-
mental a revisão dos índices de produtividade, e o estabelecimento do
limite da propriedade para 35 módulos fiscais.
7 Trabalho Reduzir a jornada de trabalho de 44 para 40 horas semanais sem re- 471
dução de salários, conforme campanha nacional unificada promovida
pelas centrais sindicais.
11 Jovens Implementar políticas públicas de promoção dos direitos sexuais e di- 378
mulheres reitos reprodutivos das jovens mulheres, garantindo mecanismos que
evitem mortes maternas, aplicando a lei de planejamento familiar, ga-
rantindo o acesso a métodos contraceptivos e a legalização do aborto.
32
13 Política Garantir uma ampla reforma política que, além do financiamento 360
e participação público de campanha, assegure a participação massiva da Juventude
nos partidos políticos, com garantia de cota mínima de 15% para jo-
vens de 18 a 29 anos nas coligações, com respeito ao recorte étnico-
racial e garantindo a paridade de gênero; Mudança na faixa-etária da
elegibilidade garantindo como idade mínima de 18 anos para verea-
dor, prefeito, deputados estaduais, distritais e federais e 27 anos para
senador, governador e presidente da República.
18 Cidadania GLBT Incentivar e garantir a SENASP/ MJ a incluir em todas as esferas dos 280
cursos de formação dos operadores (as) de segurança pública e
privada em nível nacional, estadual e municipal no atendimento e
abordagem e no aprendizado ao respeito à livre orientação afeti-
vo-sexual e de identidade de gênero com ampliação do DECRADI
– Delegacia de Crimes Raciais e Intolerância.
33
PARA DEBATER
?
O que a I Conferência Nacional de Juventude repre-
senta na luta por políticas públicas de juventude, em
particular a do campo?
?
Como você avalia as prioridades estabelecidas em
tal Conferência? Quais os seus argumentos para tal
posicionamento?
?
Alguém da turma participou ou conhece quem par-
ticipou desta Conferência? Se sim, que tal convidar
para uma conversa com a turma?
34
Texto 3
para ratificar o “novo” que vem e pronto. O assessorando-se no intuito de unir forças,
que vamos fazer, juventude !? Nossa atitu- necessidades, desejos, sonhos e esperanças.
de muda o mundo; o modo como vemos o Ninguém é melhor do que todos nós juntos.
mundo é muito mais importante do modo Cativando-se e deixando-se cativar por aque-
do que o mundo é. O mundo vai ser melhor les que nos querem bem e por aqueles que
quando eu for melhor. nos desafiam na oportunidade de crescer. A
nossa missão é estimular outros jovens que
Juventude, a concepção de mundo que eu por vezes perderam os seus referenciais e o
tenho é muito importante. Qual é a sua? O seu sentido de vida. Que todos tenham mais
que fazer? Quais as razões e ações para fazer vida e vida em plenitude.
a diferença? Mudar o sistema não resolve,
fazer revolução não soluciona, derrubamos Pensemos que hoje nós podemos fazer o
o capitalismo e oferecer o que em troca? melhor de nós, para que amanhã ao olhar-
Começarmos de pequeno no exercício par- mos o passado, chegarmos à conclusão de
ticipativo, cooperativo e solidário que seja que a nossa vida realmente valeu a pena ter
um processo democrático que comece na sido vivida. Mas o que fazer para mudar?
família entre pais e filhos, depois para comu- Tomemos hoje a decisão de mudar a nossa
nidade e sociedade. vida. Definir quais são os nossos objetivos,
sonhos mais ardentes, ambições e lutemos
Os jovens sentem-se mais apoiados e segu- por eles. Usemos as ferramentas que temos
ros quando os adultos se dispõem a conver- à mão. Aproveitemos as oportunidades.
sar e a dar conselhos; ficam mais autônomos
quando são chamados a dar opinião sobre [Texto produzido durante o curso de Especialização
em Juventude Contemporânea - Unisinos]
questões importantes; aprendem noções de ( Disponível em: www.casadajuventude.org.br aces-
ética se são incentivados a discutir valores so em: 20 maio 2008)
pessoais; e constroem melhor a própria
identidade quando aprendem sobre tradi-
ções com os mais velhos. Eis uma solução.
Texto 4
Foto: Dirceu Tavares.
PARA DEBATER
• O que a política tem a ver com as nossas vidas?
• O que isso tem a ver com ser/ estar sendo cidadão ou cidadã?
37
Texto 5
Garantia de Direitos
Oferta de serviços que garantam a satisfação das necessidades básicas
dos jovens e as condições necessárias para aproveitar as oportunidades
disponíveis
Texto 6
PARA DEBATER
41
Texto 7
ECOLOGIA, CIDADANIA E ÉTICA
Marina Silva
PARA DEBATER]
• Perguntamos:
- Qual a sua opinião a respeito do fragmento acima?
- No atual contexto da Agricultura Familiar no Brasil, quais os principais desafios (éti-
cos, por exemplo) que enfrentam os agricultores e agricultoras?
- O que pode ser feito para superar esses desafios?
45
Texto 8
A NECESSIDADE DE COOPERAÇÃO NA PRODUÇÃO ECOLÓGICA
Carlos Neudi Finkler
PARA DEBATER
Perguntamos:
Texto 9
PARA DEBATER
• Há alguma semelhan-
ça com o seu cotidiano?
Quais?
Até 2003, a lei brasileira de sementes dizia que pra ser semente, tinha
que ser desenvolvida em centro de pesquisa e ser registrada, certificada
e tudo mais. A semente da paixão (jeito que o povo da Paraíba arrumou
de chamar a sementes dos (as) agricultores (as), as sementes locais) não
tinha valor pela lei. Por isso que, quando a prefeitura ou o governo do
estado ia doar semente, tinha que ser dessa semente de fora. Mas agora
a lei mudou, foi aprovada a nova Lei de Sementes e Mudas no Brasil. Na
verdade, a nova lei trouxe quatro melhorias pra nós:
zem a nossa semente. Pela nova Lei de Sementes e Mudas, ninguém pode
proibir um agricultor (a) familiar de produzir e vender suas sementes
locais para outros agricultores as familiares, inclusive nas feiras.
E pela nova lei, o governo não pode mais excluir as sementes crioulas
dos programas de financiamento. É preciso dizer que, se a produção de
mudas para o mercado informal da agricultura familiar e camponesa ficou
mais fácil, a produção de mudas registradas ficou quase impossível!
As novas exigências para a produção comercial de mudas para o mercado
formal são tão complexas, que podemos de antemão dizer que agricul-
tores (as) familiares e suas organizações terão extrema dificuldade para
entrar ou continuar neste ramo.
Mesmo assim, vale dizer que existem algumas normas que ainda estão
sendo elaboradas pelo governo. Ou seja, ainda existe algum espaço para
as organizações camponesas tentarem influenciar.
Foi assim até mais ou menos 1950, por aí. Daí em diante, os países ricos
começaram a inventar esse negócio de que semente precisa de lei. Eles
diziam que era preciso criar normas pra garantir que os agricultores (as)
iam ter acesso a sementes e mudas de boa qualidade, pra poder aumen-
tar a produtividade da agricultura e a oferta de alimentos. E mais ou me-
nos entre 1960 e 1980 os países ricos começaram a pressionar os outros
pra fazerem a mesma coisa. Foi um festival de criação de leis de sementes
pelo mundo todo.
Mas será que precisa mesmo de Lei pra a semente ter qualidade?
Aí é que são elas... Isso era mais uma desculpa pra favorecer as grandes
empresas dos Estados Unidos e da Europa. O que aconteceu é que com
essas leis ficou determinado que pra ser semente, só se fosse material
desenvolvido pelos especialistas, ou das empresas ou dos centros de pes-
quisa. Já as sementes crioulas, ou locais, ou da paixão, que os agricultores
(as) cultivam, cruzam, adaptam para as suas necessidades, essas, de acor-
do com as leis, deixaram de ser semente. As leis diziam que eram apenas
grãos e que não serviam pra plantar. Foi assim na maioria dos países.
Aqui no Brasil também foi assim. Mas, felizmente, por aqui esta história já
começou a mudar. A nova Lei de Sementes e Mudas, aprovada em 2003,
já reconhece a semente crioula, produzida pelos agricultores familiares, e
estabelece regras diferenciadas para ela.
PARA DEBATER
?
Em sua comunidade, como é denominada a “semente da paixão” ?
Qual o significado do nome para a comunidade?
Texto 10
DESSALINIZAÇÃO DRIBLA
A ESCASSEZ DE ÁGUA E RENDA
NO SERTÃO NORDESTINO - PA
Seridó
Ministério do Desenvolvimento Agrário / Incra
Durante a Semana Santa de 2007, os as- De acordo com Baltazar Gomes de Oliveira,
sentados venderam as suas primeiras tilá- técnico agrícola do Incra, a erva-sal tem
pias. Foram comercializados 777 quilos do em sua constituição até 18% de proteína.
peixe em São José do Seridó e em outros “O capim-elefante, um dos mais usados na
municípios vizinhos ao assentamento. Em região para alimentar o gado, tem cerca de
média, cada quilo saiu a R$ 4, o que resul- 10%”, compara. Esse sistema de reapro-
tou em mais de R$ 3 mil. Enquanto isso, veitamento ainda diminuiu o gasto com a
a primeira poda da erva-sal, ocorrida na mão-de-obra para eliminar os resíduos da
mesma época, rendeu 2,3 quilos. As folhas dessalinização da água. “Antes, nós gastá-
da planta foram processadas na picotadei- vamos R$ 700 por ano para desocupar os
ra e secadas ao sol. O feno obtido é mis- tanques que recebiam a solução salobra
turado a um pouco de capim e servido ao resultante da dessalinização”, contabiliza
rebanho de cabras e ovelhas do PA. O novo Seu Quirino. “Além disso, o cultivo da plan-
alimento ainda não está servindo a todo ta indiana é bastante econômico. Em um
o gado bovino por que os animais preci- ano, só precisou de duas adubações”. Para
sam passar por uma fase de adaptação. agregar valor à venda do peixe, os assen-
Nesse período, bois e vacas recebem uma tados recebem orientações sobre como
ração misturada à erva-sal. Cícero Martins retirar o filé de tilápia, fabricar lingüiça e
da Costa, chamado pelos assentados de inclusive hambúrguer. Tudo isso, além de
Nanã, fez o teste durante dois meses com aprender a utilizar o óleo, as vísceras e o
um touro pequeno: “Depois de 60 dias, couro na produção de sabão, adubo orgâni-
o ‘toureco’ estava com 235 quilos, 65 a co e artesanato. O treinamento é realizado
mais do que quando é alimentado com o pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro
concentrado de proteínas, vitaminas e sais e Pequenas Empresas (Sebrae). “Quere-
minerais normalmente utilizado”, conta, mos continuar com o projeto. Hoje temos
empolgado. água e fonte de renda extra para o PA. Se
pararmos, prejudicaremos a comunidade”,
reflete Seu Quirino.
55
Texto 11
A HISTÓRIA DOS MOVIMENTOS SOCIAIS NO CAMPO
Leonildes Servollo de Medeiros
Ligas Camponesas de Pernambuco.
x
orientação, todavia era mediatizada pelo “exigências concretos das massas”. É com
tipo de concepção da Igreja local, que aca- essa perspectiva que ela se voltou para o
trabalho de sindicalização rural, tendo por
xJUC
bava por impor sua marca à organização
emergente. Assim, é difícil falar em homo- horizonte a construção de uma nova so-
xJUC
geneidade de linha de ação nessas entida- ciedade, de perfil socialista. Dentro dessa
x x
des criadas a partir da ação eclesial. visão entrou na disputa da representação
xJEC
dos trabalhadores rurais, não só com seto-
JUCxxJEC
JUC JEC
JEC
res considerados conservadores da Igreja
JEC
(os vinculados à hierarquia católica), mas
xx
JUC também com o PCB.
xx
A Criação da Contag_
O aparecimento da Ação Popular
Com a regulamentação, em 1962, da sindi-
Dentro dessa experiência surgiu ainda
x
calização rural, instituiu-se uma verdadeira
uma divergência mais profunda e de maior
corrida entre as diferentes forças políticas
repercussão, que envolveu a Ação Católica
que lutavam no campo em busca do reco-
Brasileira, através de seus segmentos JUC
nhecimento de “seus” sindicatos. Como a
e JEC (Juventude Universitária Católica e
legislação só permitia a existência de um
Juventude Estudantil Católica). Enquanto
sindicato em cada município, tratava-se de
organização de leigos, essas entidades
conseguir a carta sindical o mais rapida-
tinham certo grau de autonomia quanto à
mente possível, quer através do pronto en-
orientação da hierarquia da Igreja3, o que
caminhamento da documentação necessá-
lhes permitiu um engajamento nas lutas
ria ao Ministério do Trabalho, quer através
que se verificavam muitas vezes com orien-
de barganhas e pressões no interior da
tação distinta, colocando-se ao lado dos
Comissão Nacional de Sindicalização Rural.
que defendiam transformações radicais na
3
Sobre os pro-
nunciamentos da
estrutura social. Tiveram um peso muito
Igreja nesse perío- grande na ação do MEB, do qual constitu-
do, cf. CARVALHO,
Abdias Virar. A íam os principais quadros. Entrando em
iqreja católica e a conflito com a hierarquia da Igreja, setores
questão agrária.
In: PArVA, Vanilda. da Ação Católica criaram uma organização
Igreja e questão propriamente política, a Ação Popular, que
agrária. São Paulo:
Lovola. 1985. já nasceu em âmbito quase que nacional.
60
Neste momento, antes de prosseguirmos para Mesmo no que se refere à forma de orga-
verificar o que se passou com as lutas dos tra- nização, se Julião4 freqüentemente alertava
balhadores rurais após 1964, queremos apenas para o fato de que “Goulart. . . compreen-
salientar alguns pontos, que chamam a atenção deu que só havia uma maneira de frear o
num balanço final do período. impulso do homem do campo: sindicalizá-lo
para submetê-lo ao controle do próprio
governo”, nem por isso deixou de recomen-
O primeiro aspecto a ser ressaltado é a dar a sindicalização. No célebre documento
enorme diversidade dos trabalhadores que Bença-mãe, datado de 1962, insistia que
se mobilizavam, colocando-a numa plurali- onde houvesse uma Liga se criasse um
dade de inserções no processo de produção sindicato e onde houvesse um sindicato
e de condições de vida. Essa diversidade se criasse uma Liga. Colocava-se, então, a
revela também uma grande amplitude geo- questão muito mais de disputar uma dada
gráfica, mostrando que, se os conflitos que orientação política do que de negar um ins-
eclodiram nos anos 50/60 tornaram-se mais trumento de organização que, de resto, se
intensos e ganharam maior visibilidade em generalizava, com o apoio do Estado.
determinadas áreas, como é o caso do Nor-
deste, nem por isso podem ser vistos como Um outro exemplo significativo é o da
um problema exclusivamente regional. Eles greve geral de Pernambuco, onde parti-
desvendaram questões estruturais não só ciparam Ligas, sindicatos “dos padres” e
de caráter econômico, mas também político, comunistas, numa aliança conjuntural.
que foram sintetizadas pela figura do latifún-
dio. Mais do que uma grande propriedade, Na história brasileira, as Ligas Camponesas
tecnicamente atrasada, pouco produtiva, ela firmaram uma imagem de radicalidade e
passou a simbolizar uma determinada forma de ação fora dos limites institucionais. No
de exercício do poder. entanto, grande parte de sua trajetória foi
marcada pela defesa dos trabalhadores na
A constituição dos trabalhadores rurais justiça, usando o instrumental legal exis-
como atores políticos implicou na pre- tente. Isso não as impedia de romper com
sença, no campo, de diversas forças que uma determinada ordem, quando levavam
buscavam representá-las e articulá-las a um os tradicionais senhores aos tribunais ou
projeto de sociedade que ultrapassava seus transformavam as praças em locais de suas
interesses mais imediatos. manifestações. É somente no seu período
final que as Ligas partiram para ações do
No entanto, apesar de ao nível das pro- tipo ocupação de terra, em Pernambuco e
postas políticas mais gerais, haver grandes na Paraíba.
divergências, é possível se pensar que
em nível das lutas mais imediatas havia Ao mesmo tempo, ações armadas e ocupa-
uma certa dose de convergência e muitos ções de terra ocorreram também em confli-
consensos. Assim, a necessidade de se tos onde a direção era do PCB. Os casos que
4
Cf. JULlÃO, Fran- lutar por uma legislação trabalhista, pelo expusemos anteriormente, de Formoso e
cisco. Cambão, la
otra cara de Brasil.
direito de livre organização, por alterações das lutas na Baixada da Guanabara, são bas-
México: Sigla na estrutura agrária era encarecida pelas tante ilustrativos. Talvez o caso do Imbé seja
Veinteuno, ed.,
1968, p. 180. diversas forças presentes. ainda mais significativo, visto que ele foi
62
apontado pela imprensa comunista como certos ganhos, foi a sua capacidade de
um exemplo a ser seguido no campo. fazer alianças e garantir apoios com outros
grupos sociais, partidos etc., quer a nível
Mesmo as entidades vinculadas à Igreja local, estadual ou federal. Nesses casos,
não puderam deixar de acompanhar pala- configuraram-se determinadas conjunturas
vras de ordem que permeavam os conflitos em que os governos tiveram que mediar
e tiveram que se envolver na defesa dos as lutas e tentar soluções. Foi o caso de di-
direitos, tal como compreendidos na época versas desapropriações de terra, titulações
e, embora sem orientar ações do tipo ocu- em favor de posseiros e vitórias grevistas.
pações, engajaram-se na luta pela reforma
agrária. Se nesse processo foi possível conseguir
inclusive a aprovação, pelo Congresso
Finalmente, as questões estratégicas eram Nacional, do Estatuto do Trabalhador
debatidas fundamentalmente em nível das Rural, o que se evidenciou foi, por outro
direções. Os conflitos eram movidos por lado, o fracasso das tentativas de constru-
reivindicações de caráter mais imediato: ção de canais institucionais para o enca-
a conquista de uma determinada terra, minhamento da questão da propriedade
do direito a nela permanecer, de direito a fundiária. Embora fosse grande a mobili-
férias, a salário mínimo, a se livrar do jugo zação dos trabalhadores rurais e tivesse se
dos proprietários expresso, por exemplo, constituído um consenso nacional sobre
no cambão. É nesse plano que muitas a necessidade de superar o suposto atra-
vezes as lutas se radicalizavam e ultrapas- so da agricultura, a força da propriedade
savam uma orientação inicialmente dada, territorial se impôs, impedindo qualquer
pois era aí que se davam os confrontos alteração que ameaçasse o direito pleno
diretos, a violência. de propriedade.
Outro aspecto a ser ressaltado e que indica (Texto extraído do Caderno 6 – Cidadania, Organi-
zação Social e Políticas Públicas – Saberes da Terra:
como muitas vezes os conflitos consegui-
Paraná, 2007)
ram maior projeção e, em alguns casos,
PARA DEBATER
Texto 12
CARTA DOS TRABALHADORES GAÚCHOS DE
EMPREENDIMENTOS DE ECONOMIA POPULAR SOLIDÁRIA
Centro de Educação Popular
?
nalizados. Quais são os principais desafios que
enfrentam os agricultores e agricul-
5. Da mesma forma, queremos desafiar toras no atual contexto da Agricultura
os governos a dar prioridade a ações de Familiar no Brasil?
afirmação da economia popular solidária,
?
através de políticas públicas objetivas, que O que pode ser feito para superar
ao destinarem recursos orçamentários con- esses desafios?
sistentes, constituam instrumentos perma-
nentes de apoio e fortalecimento da EPS. • Analise, discuta e se posicione, a partir
do seguinte fragmento da Carta dos tra-
6. As trabalhadoras e trabalhadores gaú- balhadores gaúchos de empreendimen-
chos da EPS reunidos neste encontro vêem tos de economia popular solidária:
no 5º FSM (Fórum Social Mundial) um
momento importante para a afirmação po-
“Entendemos que buscamos alternativas
lítica e econômica da economia solidária,
para solucionar um conjunto de limites
para o qual estaremos empenhados em
colocados aos empreendimentos como
construir todas as ações que se fizerem ne-
cessárias, como a organização dos debates, o acesso ao crédito e ao financiamento,
a produção e comercialização em redes, a uma legislação facilitadora das ativi-
mostra de nossa produção, as rodadas de dades produtivas autogestionárias, a
negócios de comércio justo, entre outras. formação continuada para a qualificação
produtiva, de gestão e de afirmação de
7. Reafirmamos a importância do Fórum princípios e valores, as alternativas para
Estadual de EPS, bem como das demais for- a comercialização com base na lógica
mas de articulação setorial e regional, para solidária, do comércio justo, do consumo
o fortalecimento e a organização da econo- ético. Estas reivindicações, assim como o
mia popular solidária no Rio Grande do Sul. acesso à terra pelos trabalhadores rurais,
o direito ao trabalho a todos os traba-
8. Com estas certezas e esperanças, as lhadores das cidades, são fundamentais
trabalhadoras e trabalhadores aqui reuni-
para a afirmação e a consolidação desta
dos convocam todos aqueles lutadores e
nova economia centrada na valorização
lutadoras de um outro mundo a participa-
do trabalho humano, que para nós é
rem ativamente do I Encontro Nacional de
Empreendimentos de Economia Popular princípio e ponto de partida, e não meio
Solidária que se realizará em Brasília, pois ou instrumento a serviço de poucos ou a
sabemos da importância deste ato na serviço da exploração” .
organização dos trabalhadores autogestio-
nários do Brasil.
Texto 13
Arruado de casas na Usina Aliança PE.
Há pelo menos duas visões distintas quanto ao papel que deveria ser
cumprido pelos Conselhos Municipais de Desenvolvimento Rural.
locais, integrando diferentes setores, fortalecendo a malha de relações Mesmo com es-
econômicas e sociais do território, e não somente de um setor econômico sas dificuldades,
(a agricultura). alguns CMDR têm
conseguido ir além
Segundo, que o desenvolvimento rural não se restringe aos limites de um e superar alguns
município. É cada vez mais difícil que um pequeno município, sozinho, desses limites,
consiga mobilizar as energias necessárias e estabelecer as condições para como se verá mais
encontrar o caminho do desenvolvimento. Ao contrário, a cada dia cresce adiante.
a importância das articulações intermunicipais, dos consórcios de municí-
pios, complementando esforços e iniciativas.
Terceiro, que há uma crescente importância da dimensão institucional do PARA DEBATER
desenvolvimento rural. Isto é, que as regiões rurais que conseguem se
desenvolver são aquelas que criam as instituições capazes de mobilizar
e de sustentar relações estáveis e de colaboração entre um conjunto de
agentes deste território, de formar pactos em torno dos destinos destes
? Qual a concepção
de desenvolvimento
rural que você defende?
espaços.
Os CMDR são um tipo de instituição que deveria estar atuando no de-
senvolvimento dos territórios, articulando as forças locais nessa direção.
Porém, o que se observa é que a maior parte dos Conselhos atua segundo
? O papel que o Con-
selho de desenvol-
vimento rural do seu
aquela concepção mais tradicional, fazendo apenas a gerência dos recur- município tem desempe-
sos do Pronaf Infra-estrutura. nhado é compatível com
essa visão?
Isso se deve à concepção dos agentes, ainda muito presas aos limites da
agricultura e do município, mas se deve também aos próprios marcos ins-
titucionais e legais que regem a constituição e funcionamento dos CMDR:
se espera que eles atuem na promoção do desenvolvimento, mas as nor-
mas que Ihe regulamentam se restringem apenas à gestão dos recursos
do Pronaf/lnfra-estrutura.
O resultado é uma falha institucional: o conjunto de agentes espera dos
CMDR que atuem na sensibilização e na articulação das forças vivas do
território visando a promoção do desenvolvimento, mas, por outro lado,
não lhes são dadas as condições e as competências para isso.
67
Na quase totalidade dos CMDR os assuntos que Mas essas formas de consulta são insuficientes
são discutidos se referem aos Planos Municipais para identificar corretamente e em profundidade
de Desenvolvimento Rural. os problemas e as potencialidades dos espaços
rurais. Para isso seria preciso um tempo maior de
Se por um lado isso é positivo, à medida que se estudos, consultas mais sistemáticas às comunida-
espera que o conjunto de problemas e demandas des e a estudiosos.
dos municípios seja pensado de maneira articu-
lada, num Plano de Desenvolvimento, por outro O resultado é que os planos acabam refletindo
lado é preciso reconhecer que esses planos não uma visão muito superficial e restrita dos muni-
têm conseguido absorver de maneira consistente cípios. Como conseqüência, as ações desenca-
esse conjunto de problemas e demandas. deadas a partir deles também ficam restritas às
proposições tradicionais dos agentes: se reproduz
Em boa parte dos casos os planos são feitos de aqui àqueles limites de se pensar o desenvolvi-
maneira muito rápida e mesmo apressada. Na mento apenas nos marcos da agricultura, do mu-
maior parte dos casos, a elaboração dos planos se nicípio, e de maneira reativa ao entendimento que
dá a partir de consultas às comunidades e organi- os próprios agentes têm dos problemas.
zações ou então a partir de diagnósticos rápidos,
o que já é importante, à medida que envolve os Além disso, em apenas 20% dos municípios são rea-
agricultores (as) e agentes locais. lizadas ações de monitoramento e de avaliação dos
resultados obtidos com os investimentos realizados.
69
AGRICULTORES PODER PUBLICO Quando indagados sobre o que pode ser feito para
melhorar a atuação dos Conselhos, tanto os repre-
1) A Democratização 1) A democratização
sentantes dos agricultores (as) quanto os represen-
2) A viabilização 2) A viabilização tantes do Poder Público Municipal indicaram:
de obras e serviços de obras I) investir na capacitação dos conselheiros;
2) ter mais participação dos agricultores.
3) O desenvolvimento 3) A melhoria da renda
do município e da qualidade de vida É preciso notar, no entanto, que em relação à ca-
pacitação, o número de pessoas que tem participa-
4) A melhoria 4) O desenvolvimento do das ações de formação tem sido relativamente
da qualidade de vida do município baixo (aproximadamente 1/3 dos conselheiros). E
e de renda
vimos também que o percentual mínimo de repre-
5) O fortalecimento da sentação dos agricultores /as tem sido respeitado.
agricultura familiar
Será que não é preciso inovar mais nas alternativas
para tentar superar os atuais limites dos CMDR?
PARA DEBATER
? Existem outros?
Os CMDR podem ser agrupados em três diferen- estrutura, temos então que reconhecer que os
tes situações: sucessos alcançados são significativos.
1) Há Conselhos que têm vida, que conseguem
atuar articulando as forças locais na promoção • Os problemas existentes na atuação dos CMDR
do desenvolvimento; são, portanto, de duas ordens. Primeiro, aspec-
2) Há Conselhos que funcionam apenas para tos operacionais, como a forma de definição dos
o cumprimento das exigências burocráticas e municípios, ou as atribuições excessivamente
formais previstas na regulamentação dos CMDR; restritas ao Pronaf/lnfra-estrutura. Segundo,
esses Conselhos atuam somente para garantir o problemas propriamente institucionais, como o
acesso e a gestão dos recursos do Pronaf/ Infra- isolamento do Pronaf em relação a outras políti-
estrutura; cas, ou a concepção de desenvolvimento que em
3) Há Conselhos muito fracos, que não conse- geral não ultrapassa os limites da agricultura e
guem cumprir nem mesmo as exigências buro- do município.
cráticas e formais. O fundamental, portanto, é que em cada mu-
nicípio os agentes locais consigam contornar e
A maior parte dos CMDR está na segunda situ- superar esses limites.
ação - a dos Conselhos que têm uma atuação
meramente burocrática, formal. Para isso, o caminho a ser percorrido passa
por:
Apenas um pequeno número consegue ter mais • ampliar a esfera de atuação do CMDR para
sucesso e efetivamente promover o desenvolvi- além do Pronaf/ Infra-estrutura;
mento rural.
• trabalhar relações mais contratualizadas entre
E um número ainda menor se encontra na tercei- os agentes (qual o papel de cada um, o que se
ra situação - a dos que têm um funcionamento espera das ações ali definidas);
bastante sofrível.
• procurar estabelecer mecanismos permanen-
Esse diagnóstico pode levar a algumas con- tes de consulta, articulação e monitoramento
siderações: daquilo que se planeja no CMDR;
• Mesmo não sendo maioria, os casos em que
os CMDR conseguem atuar articulando as forças • pensar o desenvolvimento rural como algo que
vivas de um território mostram que os problemas sempre vai além dos limites da agricultura e do
e limites existentes podem ser superados. O pa- município.
pel de instituição que promove o desenvolvimen-
to rural pode ser desempenhado pelos CMDR. PARA DEBATER
Importantes experiências têm demonstrado isso.
Texto 14
Ilustraçoes Henrique Koblitz
Texto 15
LIDERANÇAS INDÍGENAS PEDEM
MAIS ASSISTÊNCIA E CRITICAM
MOROSIDADE DA FUNAI
Megaron e Raoni, site do CIMI.
No dia nacional do índio as lideranças PARA DEBATER
indígenas reivindicam a implementação de
políticas públicas de assistência aos cerca de • Analise a seguinte afirmativa: “Dife-
430 mil índios que vivem no país, destituí- rença e Desigualdade não são sinôni-
dos em uma área de 1,1 milhão de quilôme- mos. Ao contrário, trata-se de condições
tros quadrados, de acordo com a Fundação antagônicas, antidemocráticas, enfim,
nacional do índio (FUNAI). Entre as princi- de injustiça social”.
pais reclamações está a demora nos proces-
sos de demarcação e homologação de terras • Agora responda:
indígenas. “Nos últimos anos, a FUNAI man-
tém um clima de morosidade nos processos ? Quais as políticas públicas que aten-
demarcatórios de terra”, critica o cacique dem aos grupos étnicos, indígenas,
Marcos Xucuru, de Pesqueira - Pe. quilombolas... de sua comunidade ou
Estado?
Para ele uma das principais conseqüências
na lentidão da homologação das áreas é o ? Como surge a necessidade de imple-
“acirramento do conflito entre os fazendei- mentação dessas Políticas Públicas con-
ros que se julgam donos dessas terras e os siderando análise da trajetória histórica
índios” O pai do cacique, o líder indígena destes povos?
Chicão Xucuru, foi assassinado a tiros em
1998. O crime foi encomendado por um ? Quais as implicações destas ações na
fazendeiro da região. Segundo Marcos Xu- atual trama social do campo?
curu, desde 1992, seis lideranças indígenas
da etnia foram executadas em decorrên- ? No contexto atual, como fortalecer o
cia dos conflitos fundiários. “quanto mais direito da igualdade na diversidade?
demora, mais cria esse clima de tensão,
resultando até no assassinato de várias
lideranças.” Ressalta o cacique.
LEI 10.639/03
Combate a
desigualdade racial
Texto 16
A LEI 10.639/03
Adriana Brendler
A lei 10.639/03 foi uma conquista da luta A avaliação foi feita por Eliane Cavalleiro,
por uma política de combate a desigual- pesquisadora na área de educação e ra-
dade racial. O que você sabe sobre essa cismo da Universidade de Brasília (UNB),
Lei, que torna obrigatório o Ensino de His- durante palestra realizada hoje (16) na
tória e Cultura Afro-brasileira e Africanas Conferência Nacional de Educação Básica,
nas escolas? Esta política está implantada em Brasília.
efetivamente, ou seja, esta disciplina exis-
te na matriz curricular das escolas do seu Segundo a professora, que foi coorde-
município e/ ou estado? Como discutem a nadora-geral de Diversidade e Inclusão
questão racial? Educacional do MEC de 2004 a 2006,
várias políticas, como a de apoio técnico e
Pesquisadora aponta retrocesso na políti- financeiro ao Programa Cultura Afro-Bra-
ca de combate ao racismo nas escolas sileira, desenvolvido no período em que
ela esteve na instituição, foram interrom-
Brasília -16.04.08 - As políticas de combate pidas em 2007.
à desigualdade racial desenvolvidas pelo
Ministério da Educação (MEC) foram inter- De acordo com ela, durante esses dois
rompidas a partir de 2007 e estão causan- anos o MEC repassou recursos financeiros
do retrocesso na implementação de ações e técnicos a municípios para implantação
educacionais na área étnico-racial em de escolas em comunidades quilombolas,
estados e municípios. Entre elas, o cumpri- para distribuição de material didático-
mento da Lei 10.639, de 2003, que torna pedagógico e para ações de formação
obrigatório o Ensino de História e Cultura continuada de professores.
Afro-brasileiras e Africanas nas escolas.
78
Adriana Brendler
Repórter da Agência Brasil
(Disponível em: http://www.agenciabrasil.gov.
br/noticias, acesso em: 16 abril 2008)
80
Texto 17
A CIDADANIA ROUBADA
Claudio Recco
Filme Delmiro Gouveia
Na história republicana do Brasil, o exercício mente por imposição, uma vez que este é
da cidadania enfrentou muitas limitações e, quem controla, direta ou indiretamente, a
em alguns casos, foi completamente elimi- vida das pessoas em sua propriedade ou
nado. Nos casos mais importantes, a cidada- na região. O coronel é sempre um gran-
nia foi limitada pela eliminação do direito de de proprietário rural, que, naturalmente,
voto ou pela supressão da conscientização possui o poder econômico e, na prática,
política acerca dos direitos individuais. o poder político local, o poder de polícia
e o poder de justiça. Em outras palavras,
O Coronelismo prefeitos, delegados e juízes são homens
da família do coronel ou seus “protegidos”.
Durante a República Velha, o direito de Além disso, o coronel conta com uma milí-
voto deixou de ser censitário e se tornou cia particular, formada pelos jagunços.
universal. No entanto, existiam vários
elementos de limitação da cidadania, Soma-se a toda essa estrutura de poder a
como a exclusão das mulheres do processo situação de ignorância à qual está submeti-
político, a exigência de alfabetização ao da a grande massa de trabalhadores rurais
mesmo tempo em que a Constituição não do país, distante dos centros urbanos,
se propunha a garantir a educação básica da escola e dos meios de comunicação,
como obrigação do Estado e as práticas distante dos direitos - assegurados pela lei,
coronelísticas. mas negados pelo exercício do poder por
parte das elites rurais.
O coronelismo foi uma conduta política
que se tornou comum na vida política bra- Era Vargas
sileira, principalmente após a proclamação
da República. Durante a República Velha O período de 1930 a 1945 também foi
(1889-1930), percebemos o coronelismo caracterizado por práticas que pretenderam
como limitador da cidadania, pois o po- limitar o exercício da cidadania no país.
der de mando do coronel influenciava as Durante a maior parte desse período, o
eleições, fazendo surgir o “voto de cabres- regime foi ditatorial. O “governo provisó-
to” e o “curral eleitoral”, expressões que rio” (1930-34) deu-se com o fechamento
refletem a postura dócil dos comandados, do Congresso Nacional e a intervenção nos
que votam nos candidatos indicados pelo Estados. Apesar de haver uma simpatia de
coronel em troca de favores ou simples- grande parte das camadas urbanas pelo
81
Presidentes do período do
golpe militar e protestos dos
movimentos sociais.
Texto 18
PARA DEBATER
HOMEM RURAL
Cenair Maicá
Dante Ramon Ledesma
? Quais as reais necessi-
dades da comunidade
da qual faz parte?
?
Trabalhando, trabalhando Até que ponto a não
Não viu a vida passar. satisfação dessas neces-
O suor que regou a terra sidades tem representado
Nem sementes viu brotar. desrespeito à cidadania?
?
Trabalhando, esperando Qual a importância de
Enfrentando chuva e sol, conhecer a legislação
Enxada na terra alheia vigente (Federal, Estadual,
Nunca traz dia melhor. Municipal) no processo de
potencialização/alargamen-
Assim a geada dos anos to da participação social
Foi lhe branqueando a melena. e vivência cidadã? E na
E este homem rural conquista de novos direitos
Hoje é peão de suas penas para os (as) agricultores
(as) familiares?
E quando as ervas campeiras
Já não lhe curem as feridas.
Perdido na capital
Na esperança de mais vida.
Esperando, esperando...
84
Texto 19
DA LAMA AO CAOS
Chico Sciense
Patativa do Assaré
Texto 20
A TERRA DOS POSSEIROS
DE DEUS
Patativa do Assaré
Texto 21
JUVENTUDE
TRANSCENDENTAL
Luciano Gonçalves Ribeiro Eu sou jovem, Eu quero nessa juventude,
quero curtir, emergir crescer e nunca envelhecer
Eu não quero apenas estar aqui Em qualquer lugar Um mundo, um tempo,
E viver cada dia sem me exaurir livre para ir ou vir uma esperança, um sinal
Quero ter forças Ou, até mesmo, ter que fugir Desejar, ir além,
para sempre seguir Pra onde não me possam ferir exceder, transcender
Sempre lutar, nunca desistir Viver uma juventude
Se estiver ruim, transcendental.
Eu sou jovem, tenho que agir não irei dizer ‘está bem’
Revoltar–me, Se aqui me sentir (Disponível em: http://www.pucrs.
br/mj/poema-juventude. Acesso em 12
mas também evoluir como um refém
jun 2008)
E em tempo que está por vir O que quero ter, nunca se tem
Não deixar o passado se repetir E quem quero ver, nunca vem
Texto 22
EDUCAÇÃO DO CAMPO:
DIREITO DE TODOS
E DEVER DO ESTADO
Maria Fernanda dos Santos Alencar
1)Há vagas em todos os níveis e moda- • Que outros questionamentos você te-
lidades para todos, em idade escolar ou ria a fazer sobre a Educação do Campo?
para os que não tiveram acesso em idade
própria, em sua localidade ou Estado?
Texto 23
Foto: Dirceu Tavares.
O QUE SÃO POLÍTICAS PÚBLICAS
Texto 24
BASES PARA UMA POLÍTICA
PÚBLICA DE EDUCAÇÃO
DO CAMPO
(Fragmento)
Edla Soares
[...]
Somos desafiados a conceber e viabilizar, através das polí-
ticas públicas, o modo ou um jeito de pertencer ao mundo
que tem, como ideal e orientação, enfrentar as desigual-
dades em todos os níveis, exigindo com isso, a participa-
ção do campo num projeto de educação popular, gestado
no âmbito dos movimentos sociais que compartilham uma
proposta de escola que não seja solitária e sim solidária. A
proposição parece ser simples, no entanto, não o é. A mu-
dança de t pelo d cria um novo e fecundo significado. Des-
sa escola, espera-se a conversa e o diálogo de todos com
as grandes questões da vida, do país e da humanidade,
bem como suas soluções e, ao mesmo tempo, o respeito PARA DEBATER
ao interesses, à cultura e as especificidades do campo.
E, assim sendo, o campo que nos interessa é um imenso
espaço de vida, de amor e de produção de conhecimento”. ? Que contribuições
este texto apresen-
ta para a nossa discus-
(SOARES, Edla. Bases para uma política pública de educação do cam- são sobre Direitos?
po, 2005, mimeo)
94
Texto 25
CONSELHOS ALÉM DOS LIMITES
Ricardo Abramovay
PARA DEBATER
Texto 26
É reunião demais!
Um dos mais sérios problemas detectados Conselhos Municipais. Quando há regras
pelo professor Sérgio Schneider, da Uni- impeditivas do acúmulo da representação,
versidade Federal do Rio Grande do Sul, o problema passa a ser o de localizar inte-
durante o processo de capacitação dos ressados para ocupar as vagas disponíveis.
conselheiros de desenvolvimento rural Neste sentido, o que surpreendeu na reali-
levado adiante por iniciativa do Ministério zação desta capacitação é que, ao contrário
do Desenvolvimento Agrário foi o excesso do que se imaginava, o principal problema
de reuniões e o acúmulo de funções repre- não é falta de espaço para a participação
sentativas sobre os mesmos indivíduos. A popular, mas, paradoxalmente, encontra-
observação de Sérgio Schneider (2001), em ram-se muitas situações em que a queixa
texto que não tem ambição analítica rigo- era justamente o contrário; ou seja, que a
rosa, mas apenas relata rapidamente suas dificuldade que havia no município era a de
impressões de viagem, reforça o problema encontrar público disponível para participar
aqui apontado: “Em muitos casos, um mes- destas múltiplas atividades. A afirmação
mo representante, em geral funcionário corriqueira que se escutou variadas vezes
indicado pelo prefeito, participa de vários foi de que: - professor, mas tem reunião
Testo 27
O ANALFABETO POLÍTICO
Bertold Brecht
Texto 28
PRÁTICAS DE CIDADANIA CONTRA
O CRIME E A VIOLÊNCIA
Eduardo Capobianco e Paulo de Mesquita Neto
A organização e a mobilização
da sociedade civil têm contri-
buído de maneira significativa
para o fortalecimento das
práticas de cidadania.. Freqüen-
temente, a participação em as-
suntos políticos ou públicos se
efetiva por meio ou com apoio
de organizações da sociedade
civil, que, de maneira crescente, Representante da Secretaria de Educação do Estado de Pernam-
buco dialoga sobre as políticas públicas no município de Aliança.
100
Texto 29
¿ SER CIDADÃO
reivindicam junto às instituições públi-
OU CIDADÃ: O QUE É?
cas mais transparência, respeito à lei e
João Francisco Souza
maior garantia dos direitos civis, políti-
cos e sociais, atenção às necessidades
da população e abertura para participa-
“Ser cidadão, ou cidadã, é poder ter con-
ção da população no desenvolvimento
dições de romper as barreiras da ignorân-
de políticas públicas. Além de reivindi-
cia moral, espiritual e intelectual. É ter
car, as organizações da sociedade civil
a capacidade de pensar e refletir a vida
passaram, mais recentemente, a propor
política, econômica, cultural e social em
mudanças para aumentar a legitimida-
que vive, local e globalmente. Ser capaz de
de, eficácia e eficiência das instituições
adquirir, e ter sempre presente em si, uma
e políticas públicas, visando torná-las
consciência histórica, democrática e inter-
não apenas mais democráticas, mas
nacional, cuja plataforma seja o direito de
também capazes de resolver os proble-
igualdade de oportunidade, a tolerância, a
mas que afetam a qualidade de vida da
solidariedade, o respeito, a paz e a justiça.”
população e limitam as possibilidades
(SOUZA, 2004)
de desenvolvimento da sociedade.
PARA DEBATER
PARA DEBATER
?
nossa atuação nas políticas públicas das
Como temos participado das deci-
comunidades da qual fazemos parte?
sões em nossa comunidade?
Texto 30
A SEMENTE
Carlos Rodrigues Brandão
Somente a mente
de um ser tão bom
Pode criar do sentimento
Um bem tão grande
como a semente.
Somente um dom cheio de vida
PARA DEBATER Como a semente pode gerar:
Da vida a terra,
Da terra a planta,
Texto 31
OS AGRICULTORES EXPROPRIADOS
DE SUAS SEMENTES
Robert Ali Brac de la Perrière
Texto 32
A mandala abaixo apresenta as Políticas PARA DEBATER
Públicas para a Agricultura Familiar im-
plantadas pela Secretaria de Agricultura
Familiar (SAF) Ministério do Desenvolvi-
mento Agrário(MDA) do Governo Federal.
? Quais as políticas públi-
cas implantadas para a
agricultura familiar exis-
Leiam e discutam as questões a seguir: tentes em sua localidade?
Quem são os beneficiários?
A SAF tem por missão: consolidar o con- Como tiveram acesso?
junto da agricultura familiar de modo a
promover o desenvolvimento local susten-
tável por meio da valorização humana e
da negociação política com representantes
? Essas políticas, de fato,
atendem as necessida-
des desses beneficiários?
da sociedade, respeitando os desejos e
anseios das organizações sociais e prati-
cando os princípios da descentralização, da ? Possibilitam o desenvol-
vimento local sustentá-
democracia, da transparência e da parce- vel?
ria, com responsabilidade.
(Disponível em http://www.mda.gov.br/saf, Acesso
em 28 jul 2008.) ? De que forma essas
políticas repercutem na
sustentabilidade da Agricul-
tura Familiar?
105
Texto 33
PARA DEBATER
Texto 34
PROGRAMA NACIONAL
DE FORTALECIMENTO
DA AGRICULTURA FAMILIAR - PRONAF
PRONAF JOVEM
Finalidade :
Investimento em atividades agropecuárias ou não agrope-
cuária desenvolvidas pelos jovens rurais.
Beneficiários:
Jovens agricultores (as) pertencentes à família enquadra-
das no Pronaf, maiores de 16 (dezesseis) anos e com até
29 anos (vinte e nove anos.
UF Contato Valor Contato Valor Contato Valor Contato Valor Contato Valor
AC - - - - - - - - - -
AM - - - - - - - - - -
AP - - - - - - - - - -
PA - - - - - - - - - -
RO - - - - - - - - - -
RR - - - - - - - - - -
TO - - - - 1 5.950 7 40.887 8 46.836
N - - - - 1 5.950 7 40.887 8 46.836
AL - - - - 2 11.782 3 17.881 5 29.662
BA 2 28.025 - - 94 530.922 41 232.552 138 791.499
CE - - 2 11.966 65 343.643 97 494.861 164 850.470
MA - - 1 4.907 40 230.361 114 665.681 155 900.949
PB - - 1 5.997 4 22.603 2 11.894 7 40.494
PE - - - - 2 11.152 46 260.218 48 271.370
PI - - - - 13 65.892 8 45.112 21 111.004
RN - - 1 5.821 3 17.026 24 136.107 28 158.954
SE - - - - 2 10.392 1 5.967 31 16.359
NE 2 28.025 5 28.690 226 1.243.773 336 1.870.274 569 3.170.762
DF - - - - - - - - - -
GO 2 16.983 - - 5 29.807 12 70.970 19 117.760
MS - - - - 2 8.804 6 35.005 8 43.809
MT 1 18.000 - - - - - - 1 18.000
CO 3 34.983 - - 7 38.611 18 105.975 28 179.569
ES - - - - 13 77.671 17 98.144 30 175.815
MG 1 7.500 8 59.316 22 122.666 33 170.692 64 360.174
RJ - - - - - - - 6.000 1 6.000
SP - - - - 9 53.999 50 299.993 59 353.992
SE 1 7.500 8 59.316 44 254.336 101 574.829 154 895.981
PR - - 1 18.000 109 637.664 157 925.878 267 1.581.542
RS 2 43.400 1 6.000 99 632.333 75 437.193 177 1.118.926
SC 1 5.959 - - 27 161.076 85 507.411 113 674.446
S 3 49.359 2 24.000 235 1.431.074 317 1.870.482 557 3.374.915
0,6% 0,6%
42,3% 43,2% 44,0% 41,4%
N NE CO SE S N NE CO SE S
0,2% 0,2%
39,1% 37,5%
60,7% 62,3%
PARA DEBATER
Texto 35
PARTICIPAÇÃO E ESCOLA
Aida Monteiro
?
instâncias de convívio social dos indivídu- Como você entende a “escola demo-
os: na família, na escola, no trabalho, na cratizante” descrita no texto? Que
comunidade, na igreja e no conjunto da princípios e valores devem fundamentar
sociedade. É trabalhar, em todos os níveis as relações educativas?
e modalidades de ensino, com a formação
?
de hábitos, atitudes e mudanças de menta- Como viabilizar uma educação do
lidades, calçada nos valores da solidarieda- campo que vise a “cidadania ativa”
de, da justiça e os respeito ao outro. isto é, “a que possibilita ao ser humano
É o que Maria Victoria Benevides, da Uni- não apenas conhecer os seus direitos,
versidade de São Paulo, denomina de cida- mas motivá-lo a criar oportunidades
dania ativa, a que possibilita ao ser huma- para exercê-la e materializá-la” no pró-
no não apenas conhecer os seus direitos, prio processo de aprender/ensinar ?
mas motivá-lo a criar oportunidades para
112
Texto 36
JOVENS E A PARTICIPAÇÃO
• A maioria dos jovens (54%) acha que a • Entre 2002 e 2006 aumentou em 39%
política é algo “muito importante”. Mas o número de jovens entre 16 e 17 anos
não confiam nos partidos políticos (65%), que retiraram seu título eleitoral (Tribunal
nos deputados e senadores do Congresso Superior Eleitoral, 2006);
Nacional (64%) e nem nos vereadores da
sua cidade (55%). (Instituto Cidadania, • 68,8% dos jovens de 15 a 24 anos acredi-
2003); tam que o voto pode mudar a situação do
país. (Instituto Cidadania, 2003);
• 13 milhões de jovens brasileiros partici-
pam ou já participaram de alguma forma • 59% dos jovens acham que o melhor
associativa, como movimentos sociais, jeito para resolver os problemas do país é
ONGs, sindicatos, partidos políticos, gru- a participação nas decisões importantes do
pos culturais ou religiosos. (Unesco/ Ibope governo (Instituto Cidadania, 2003).
2004);
(Disponível em: http://www.juventude.gov.br/con-
ferencia/11_participacao_PB.pdf. Acesso em 10
• 28,1% dos jovens participam de algum mar. 2008)
tipo de grupo, seja religioso (42,5%), es-
portivo (32,5%) ou cultural (26,9%). (Ibase/
Pólis, 2005); PARA DEBATER
Texto 37
“O que passou não conta? Indagarão
as bocas desprovidas.
Não deixa de valer nunca.
O que passou ensina
com sua garra e seu mel”.
Thiago de Mello
Carlos Vogt
PARA DEBATER
Cronologia da Luta
1945 no Brasil, até o golpe militar Trabalhadores (CGT),
– Fim do Estado Novo de 64. posteriormente, foi
– Os movimentos sociais no – Fundado o DIEESE esmagada pelo Golpe
campo, retomam suas lutas. (Departamento Intersindical Militar. Fundação da
de Estatística e estudos Federação Estadual
1950 Sócio-Econômicos). Terá dos Trabalhadores na
1º Congresso Camponês destacado papel na Agricultura do Estado de
de Pernambuco, inicio contestação da política Pernambuco, 06 de junho.
das primeiras discussões salarial durante a ditadura Reconhecida pelo Ministério
sobre Reforma Agrária no militar e, nos anos do Trabalho no mesmo ano.
Congresso Nacional. seguintes, na denúncia do – Fundação da Federação
desemprego e suas causas.. Estadual dos Trabalhadores
1951 na Agricultura do Estado do
O governo do Paraná, sob 1960 Rio Grande do Norte, em 15
pressão dos posseiros de – É criado, no Rio Grande de junho. Reconhecida pelo
Porecatu em armas desde do Sul, o Movimento dos Ministério do Trabalho em
1950, declara pela 1ª vez Agricultores Saem Terra 14 de agosto de 1963.
no Brasil, que as terras em – MASTER. Inauguração – Fundação da Federação
litígio passariam a ser de de Brasília, tendo à época, Estadual dos Trabalhadores
utilidade pública, para fins aproximadamente 141 mil na Agricultura do Estado de
de desapropriação. habitantes. Sergipe, em 18 de junho.
– 1º Congresso da Reconhecida pelo Ministério
Federação de Mulheres 1961 do Trabalho em 18 de julho
do Brasil, em S. Paulo. – 1º Congresso Nacional dos de 1963.
A entidade atua Lavradores e Trabalhadores – Fazendeiros mandam
nacionalmente, em especial Agrícolas ou “Congresso matar João Pedro
na luta pela paz, até ser de Belo Horizonte”, com Teixeira, presidente da
fechada pelo golpe de 64. cerca de 1.600 delegados. Liga Camponesa de Sapê,
Jânio renuncia e, o Vice- Paraíba. Durante o enterro 5
1954 presidente João Goulart mil pessoas compareceram.
– A II Conferencia Nacional assume através da João Pedro foi imortalizado
dos Trabalhadores Agrícolas, Emenda Constitucional no filme “Cabra marcado
cria a União dos Lavradores nº 4, com compromisso para morrer”.
e Trabalhadores Agrícolas parlamentarista.
do Brasil 1963
– ULTAB. Defendem o fim 1962 – Fundação da Federação
do latifúndio e das formas – Regulamentação Estadual dos Trabalhadores
feudais de exploração da sindicalização de na Agricultura do Estado de
do trabalho no campo. trabalhadores rurais. São Paulo, em 29 de abril.
– Presidente Getulio Vargas – Acontece o 1º Congresso Reconhecida pelo Ministério
se mata com tiro de revólver de Trabalhadores na do Trabalho em 17 de
no peito, no Catete, Rio. Lavoura do Nordeste, setembro do mesmo ano.
em Itabuna, Bahia. Um – Fundação da Federação
1955 marco na construção de Estadual dos Trabalhadores
– É criada a 1ª Liga uma identidade regional e na Agricultura do Estado da
Camponesa em nacional, dos trabalhadores Paraíba, em 19 de junho.
Pernambuco, no Engenho e trabalhadoras rurais. Reconhecida pelo Ministério
Galiléia, em Vitória de Santo – Ocorre o 4º Congresso do Trabalho em 26 de
Antão. Marco inicial da Sindical com 2.566 novembro do mesmo ano.
primeira grande onda de delegados, é fundado – Fundação da Federação
lutas pela reforma agrária o Comando Geral dos Estadual dos Trabalhadores
115
? De que maneira as
questões discutidas se
relacionam às suas experi-
Potiguar, sou Caeté,
Ful-ni-o, Tupinambá.
Depois que os mares dividiram os continentes
ências de vida e à possibili- quis ver terras diferentes.
dade de melhoria do “estar Eu pensei: “vou procurar
sendo” no mundo na busca
do “ser mais”? um mundo novo,
lá depois do horizonte,
levo a rede balançante
pra no sol me espreguiçar”.
eu atraquei
num porto muito seguro,
céu azul, paz e ar puro...
botei as pernas pro ar.
Logo sonhei
que estava no paraíso,
onde nem era preciso
dormir para se sonhar.
PARA DEBATER
Texto 39
ÁRVORE DA MANDIGA
Mestre Bola Sete
No tempo da escravidão
Quando nego matou sinhá
Foi na árvore que o nego foi morar
O feitor passava perto
Não podia enxergar
Procurava o nego escravo
Que matou sua sinhá
Exu santo malandro
Mensageiro dos Orixás
Protegia o nego escravo
Que cansou de apanhar, camaradinha!
Iê, Viva meu Deus Camará!
PARA DEBATER
Texto 40
DA RAIZ A FLOR: PRODUÇÃO PEDAGÓGICA
DOS MOVIMENTOS SOCIAIS E A ESCOLA DO CAMPO
Maria do Socorro Silva
economia inviável e politicamente conserva- fixação das pessoas no campo como manei-
dora, contribuindo para o desconhecimento ra de evitar a explosão de problemas sociais
da cultura, da vida e da realidade campo- nas cidades, servindo assim também aos
nesa e de suas organizações nos estudos e segmentos das elites urbanas e da oligar-
pesquisas acadêmicas do País. quia rural que não queria o esvaziamento
da mão de obra no campo.
Na verdade, essa concepção vem sendo
rompida porque a realidade mostra que a A partir de 1950, o discurso baseado numa
priori não existe uma classe ou grupo mais tendência social e política urbanizante
revolucionário do que outro, na verdade e desenvolvimentista vem se contrapor
temos uma sociedade complexa na qual a ao discurso do ruralismo. Para o discurso
diversidade e heterogeneidade da classe urbanizador (ABRAÃO, 1986), as populações
trabalhadora na forma de produzir e repro- migrantes rurais têm uma mentalidade que
duzir a base material e imaterial da vida, as não se ajusta ao racionalismo da cidade,
relações sociais e a construção de diferentes cabendo à escola preparar culturalmen-
identidades sociais vão definindo os cená- te aqueles que residem no campo, com
rios e os sujeitos das transformações políti- uma educação que facilite a adaptação a
cas e sociais dentro de cada sociedade. um meio que tende a uniformizar-se pela
expansão da industrialização e da urbaniza-
Na área educacional a partir de 1930, pres- ção, cabendo a escola oferecer uma forma-
sionados pelo forte movimento migratório ção universal e única, e que os problemas
interno, o aumento da miséria no campo das escolas rurais estariam vinculados a
e na cidade, o movimento dos pioneiros sua organização, os métodos e técnicas que
da educação, a pressão dos setores urba- utilizava e a formação do professorado.
nizados da população por escola, o inte-
resse do empresariado para que se tivesse Esse discurso urbanizador vai se tornan-
uma capacitação da força de trabalho dos do gradativamente hegemônico na teoria
migrantes rurais ou estrangeiros, teve inicio pedagógica com uma perspectiva universa-
uma série de iniciativas dentre as quais: lista que vai anulando as especificidades e
as campanhas educativas nacionais, a a necessidade de uma política educacional
educação de adultos, as missões rurais, os especifica do campo, o que foi reforçado
programas radiofônicos, a implementação pela concepção de Educação de Base.
da extensão rural no Brasil. Os movimen-
tos civis e as lutas pela democratização da Segundo Brandão (1984), numa sociedade
educação pública, laica e gratuita vai sofrer que divide o trabalho e o poder, e que faz
forte influência do ruralismo pedagógico, de tal divisão a condição de sua ordem e a
e contribuir para o surgimento do debate base de tantas outras divisões, o sistema
sobre a educação rural em nosso País. de educação acompanha ao lado de outras
práticas sociais essa reprodução e desigual-
O ruralismo teve grande influência na cons- dade. Nesse sentido, o discurso da escola
trução dos primeiros prédios públicos na estendida a todos do mesmo modo, onde
área rural, conhecidos como “escolas típicas todos de início são dados como iguais e
rurais”, criação das “escolas normais rurais”, partem das mesmas condições, contribuem
no entanto, esse discurso foi marcado pelos para que saiam das salas de aula desigual-
seus limites seja pela visão redentora da es- mente repartidos para a vida e o trabalho,
cola, da idealização do campo ou da idéia de enfatizando que a diferença da qualidade
127
Texto 41 Texto 42
UMA VEZ
Mestre Tony Vargas
? Quais as políticas
públicas existentes
na sua comunidade ou
Um lamento na senzala
É um berimbau
bem tocado,
Solto nas ondas do mar,
Solto nas ondas do mar...
Estado específicas para É um corpo arrepiado, É um peixe, é um peixinho,
os/as negros/as? Um sorriso de menininho Solto nas ondas do mar...
A capoeira (coro)
?
cenas da vida patriarcal brasileira e outros
O passado, presente
variados motivos. Também as cantigas con-
e futuro estão inter-
sideradas antigas, na maior parte, não o
relacionados. Expressam
são. Na verdade, são quadras de desafios, situações humanizantes ou
cantigas de roda infantis ou de samba de desumanizantes? Em que
roda, cujos autores viveram até bem pou- medida?
co. Em geral, a cantiga de capoeira pode
?
ser o enaltecimento de um capoeirista que Trata-se de questões
se tornou herói pelas bravuras que prati- exclusivas dos negros e
cou em vida, ou então o relato de “fatos da negras? De outros povos?
vida cotidiana, usos, costumes, episódios Quais?
históricos, a vida e a sociedade na época
da colonização, o negro livre e o escravo na
senzala, na praça e na comunidade social.
Sua atuação na religião, no folclore e na
? Como isso se concretiza
na comunidade em que
você vive?
tradição. Louvam-se os mestres de capoei-
ra e evocam-se as terras de África de onde
procederam”. É importante notar também
que as cantigas transmitem ensinamentos,
? Analise o texto outra
vez e responda: qual
o sentido da CAPOEIRA
conselhos de prudência, a sabedoria que defendido na música”Uma
constitui a filosofia da capoeira. Vez” ? Por que será que ora
(Disponível em: http://www.capoeirado- essa palavra aprece de uma
brasil.com.br. Acesso em 12 maio 2008) maneira, ora de outra?
130
Estado? Govern
Texto 43
?
Em que medida a formulação crítica de um conceito de Estado, Governo, De-
mocracia e suas relações com a legislação (Federal, Estadual, Municipal) pode
contribuir com a efetivação da cidadania?
o? Democracia?
Gramsci supera o conceito de Estado Segundo Gramsci, as esferas distinguem-
como sociedade política (ou aparelho se por materialidades próprias. Enquanto
coercitivo que visa adequar as massas a sociedade política tem seus portadores
às relações de produção). Ele distingue materiais nos aparelhos coercitivos de Esta-
duas esferas no interior superestruturas. do, na sociedade civil operam os aparelhos
Uma delas é representada pela sociedade privados de hegemonia (organismos relati-
política, conjunto de mecanismos através vamente autônomos em face do Estado em
dos quais a classe dominante detém o sentido estrito, como a imprensa, os parti-
monopólio legal da repressão e da vio- dos políticos, os sindicatos, as associações,
lência, e que se identifica com os apare- a escola privada e a Igreja). Tais aparelhos,
lhos de coerção sob controle dos grupos gerados pelas lutas de massa, estão empe-
burocráticos ligados às forças armadas e nhados em obter o consenso como condi-
policiais e à aplicação das leis. A outra é ção indispensável à dominação. Por isso,
a sociedade civil, que designa o conjunto prescindem da força, da violência visível do
das instituições responsáveis pela ela- Estado, que colocaria em perigo a legitimi-
boração e/ou difusão de valores simbó- dade de suas pretensões. Atuam em espa-
licos e de ideologias, compreendendo o ços próprios, interessados em explorar as
sistema escolar, os partidos políticos, as contradições entre as forças que integram o
corporações profissionais, os sindicatos, complexo estatal.
os meios de comunicação, as instituições
de caráter científico e cultural, etc. [...] Gramsci pressupõe uma maior autono-
mia dos aparelhos privados em relação ao
Sociedade civil e sociedade política Estado em sentido estrito. Essa autonomia
diferenciam-se pelas funções que exer- abre a possibilidade [...] de que a ideologia
cem na organização da vida cotidiana e, (ou o sistema de ideologias) das classes
mais especificamente, na articulação e oprimidas obtenha a hegemonia mesmo
na reprodução das relações de poder. Em antes de tais classes terem conquistado o
conjunto, formam o Estado em sentido poder de Estado.
amplo: “sociedade política + socieda-
de civil, isto é, hegemonia revestida de Em condições de hegemonia, a burguesia
coerção”. Na sociedade civil, as classes solidariza o Estado com as instituições que
procuram ganhar aliados para seus proje- zelam pela reprodução dos valores sociais,
tos através da direção e do consenso. Já conformando o que Gramsci chama de
na sociedade política as classes impõem Estado ampliado. [...] A solidariedade dos
uma “ditadura”, ou por outra, uma domi- aparelhos ideológicos com o Estado não
nação fundada na coerção. decorre de um atributo estrutural imutável.
132
As classes subalternas podem visar, como [...] O paradigma da revolução como pro-
projeto político, à separação de determina- cesso, inspirado em Gramsci, ampara-se na
dos aparatos ideológicos da sua aderência continuidade orgânica de rupturas parciais
ao Estado, a fim de se tornarem agências que favoreçam reformas radicais na ordem
privadas de hegemonia sob sua direção. vigente. Um reformismo, convém sublinhar,
que se obstine em extirpar as agudas desi-
[...] Gramsci entende que a conquista do gualdades e injustiças inerentes ao atual ci-
poder deve ser precedida por uma longa clo de reprodução planetária da hegemonia
batalha pela hegemonia e pelo consen- do capital. A interferência cada vez maior
so dentro da sociedade civil, ou seja, no das forças renovadoras da sociedade civil
interior do Estado em sentido amplo. [...] A na execução de uma política conseqüente
teoria gramsciana acentua a noção de uma de reivindicações e avanços sociais torna-
“longa marcha” através das instituições da se, assim, pré-requisito para se vislumbrar
sociedade civil. uma progressiva inversão na correlação de
forças, capaz de deslocar a burguesia como
[...]A revolução passa a ser concebida como classe hegemônica e substituí-la pelo con-
“uma batalha cotidiana e a longo prazo junto dos trabalhadores.
travada no seio das instituições, envolvendo (MORAES, 2002)
a participação consciente da grande maioria
da população”.
Texto 44
(RE /DES) CONSTRUINDO SENTIDOS...
OUTORGAR PROMULGAR
PARA DEBATER
Verbo bitransitivo Verbo transitivo direto
1. dar como favor; dar poderes a;
facultar, conceder, conferir
1. ordenar a publicação de
(lei ou similar) ? Há quem diga que as
palavras são históri-
cas, ideológicas, polis-
Ex.: <o rei outorgou a liberdade a Ex.: p. um edito
seus súditos> <o povo outorgou um sêmicas (pode assumir
mandato ao senador> Transitivo direto vários sentidos) e poli-
2. tornar público; publicar oficial- fônicas (há sempre nela
Transitivo direto e transitivo indireto mente contida, muitas outras
2. (sXIII) pôr-se de acordo em relação Ex.: p. uma encíclica vozes) . E que os dicio-
nários da língua materna
a ou com (algo); aprovar, concordar Fonte: Dicionário eletrônico Houaiss da não dão conta dos diver-
Ex.: <o. uma proposta><não outor- língua portuguesa 1.0
gamos com essa decisão> sos sentidos que uma
palavra pode assumir em
GLOSSÁRIO determinado enunciado.
Pronominal
Pergunta-se:
3. (sXIII) revelar sentimento, posição Substantivo masculino
etc.; confessar-se, declarar-se,
- Você já havia pensa-
reconhecer-se 1. Rubrica: história, bibliologia. do nisso antes? Qual a
Ex.: não se outorga por na Idade Média e Renascença, sua opinião sobre esse
reunião, na parte final de um ma-
assunto?
Vencido bitransitivo nuscrito ou enfeixada num volume
- O que isso tem a ver
4. tornar viável; consentir, próprio, de anotações, antes interli-
com a efetivação da
possibilitar neares (glosas), sobre o sentido de
cidadania e melhoria da
Ex.: chegou ao limite máximo palavras antigas ou obscuras encon-
tradas nos textos qualidade de vida dos
que o chefe lhe outorgara
2. dicionário de palavras de senti- povos do campo?
do obscuro ou pouco conhecido;
?
Bitransitivo
elucidário Discuta sobre as
5. dar por direito; facultar, permitir dimensões históricas
Ex.: o diploma outorgava-lhe 3. conjunto de termos de uma área
do conhecimento e seus significa- (ontem/ hoje/ amanhã),
o poder de ensinar
dos; vocabulário sociais e políticas das
Ex: g. de botânica palavras OUTORGADA e
Transitivo direto
4. pequeno léxico agregado a uma PROMULGADA refletin-
6. Rubrica: termo jurídico. obra, principalmente para esclare- do sobre:
declarar por escritura pública cer termos pouco us. e expressões - o (s) sentido (s) empre-
(negócio) regionais ou dialetais nela contidos; gado (s) no fragmento de
Ex.: o. uma venda vocabulário texto apresentado;
5. Rubrica: informática. √os possíveis resquícios
Transitivo indireto utilitário de processadores de texto ainda existentes da polí-
7. Rubrica: termo jurídico. em que se podem registrar frases e tica monárquica no Brasil
intervir como parte interessada em expressões muito us., para rápida contemporâneo;
Ex.: o. em um processo inserção no texto dos documentos - as experiências cotidia-
Fonte: Dicionário eletrônico Houaiss da nas da sua comunidade
Fonte: Dicionário eletrônico Houaiss da
língua portuguesa 1.0 ou Estado.
língua portuguesa 1.0
134
Texto 45 Texto 46
MEU PAÍS
PARA DEBATER
Zezé Di Camargo e Luciano
Aqui não falta sol
Aqui não falta chuva ? Que fenôme-
nos são identi-
ficáveis na música
A terra faz brotar qualquer semente
Se a mão de Deus Protege “Meu País”, de
e molha o nosso chão autoria de Zezé Di
Por que será que tá faltando pão? Camargo E Lucia-
Se a natureza no ? São comuns
O poema “Pós-tudo”, poema visual ao “seu País”?
nunca reclamou da gente
de Augusto de Campos. Analise a letra em
O Brasil que a gente ama
Do corte do machado, sua relação com a
a foice, o fogo ardente musicalidade?
PARA DEBATER Se nessa terra tudo que se planta dá
? Quais as condições
necessárias à compre-
Que é que há, meu país?
O que é que há? ? Reflita sobre
a seguin-
te afirmativa:
Tem alguém levando lucro
ensão de um novo sujeito Tem alguém colhendo o fruto “somos sujeitos
histórico? O que o iden- Sem saber o que é plantar de história(s) em
tifica? Tá faltando consciência permanente (re/
Tá sobrando paciência des) construção,
Texto 47
MANCHETES
PARA DEBATER
A RAÇA “INDESEJÁVEL”
Preocupação com racismo contra negros e ? Na sua opinião essas manchetes
hoje, podem ser consideradas “notí-
cias atuais”? Por quê?
índios esconde
?
o anti-semitismo histórico e presente da Tratam de fenômenos identificáveis
sociedade brasileira não na sua comunidade ou Estado?
Carlos Haag Quais (outros também) seriam?
Edição Impressa 146 - Abril 2008
?
Disponível em: http://revistapesquisa.fapesp.br/index.php?art=3489&
bd=1&pg=1&lg=
O reconhecimento de que as ações
Consultado em: 07/05/2008 humanas interferem na efetivação
(Revista Mátria, CNTE, 08/03/2008, p. 33) da cidadania pode contribuir para uma
transformação social, sobretudo, para
os povos do campo? Como? Em que
medida?
136
Texto 48
ORGANIZAÇÕES E MOVIMENTOS SOCIAIS:
DIVERSOS OLHARES
Texto 49
POLÍTICA: ORGANIZAÇÃO
DA ECONOMIA
João Francisco de Souza
de São Luiz do
Maranhão. social. cantes, têm contribuído para superação da
140
cultura que combina cinismo com impo- organizar as mais diversificadas ações reivin-
tência construídas pelas relações sociais dicativas, mas também, e sobretudo, para o
capitalistas e corporativas, como a troca do “Movimiento Vecino” e a “Unión de Colô-
voto por comida, emprego; bajulação em nias Populares”, no México, e para a Casa de
troca de benefícios. Superam-na à medida Cultura da Mulher Negra, Santos, é neces-
que junta as pessoas para discutirem as sário criar dinâmicas próprias de trabalho,
saídas para o problema da sobrevivência, independentes dos governos, para resolver
organizam a telha de costura para garantir os problemas que vão sendo coletivamente
o aluguel, a compra da comida. identificados.
O enfrentamento organizado desses proble- Dirigentes que pensam dessa forma valori-
mas propicia a superação do individualismo zam as iniciativas que denominam de auto-
econômico com valores democráticos, como gestionárias. São respostas que se constro-
a participação, a decisão coletiva, a coope- em com os que mais sofrem para garantir
ração, a solidariedade, o respeito ao outro, a sobrevivência familiar. Daí, uma predomi-
resultando na construção da autoconfiança nância de projetos “de caráter comunitário,
com a descoberta dos valores pessoais, micro, para tratar de conseguir fontes de
coletivos e a força da mobilização, tanto emprego. Projetos com mulheres, pequenas
quanto na emersão de formas econômicas oficinas com jovens, comercialização dos
diversificadas de sobrevivência e de melho- produtos, além de representar alternativas
ria da qualidade de vida. ao desemprego, garantem a sobrevivência”
(Movimiento Vecino).
Um desses valores novos para os trabalha-
dores é o da autonomia, entendida inicial- São projetos produtivos como “oficinas me-
mente como a ruptura da independência, cânicas para carros e consertos de eletrodo-
particularmente, em relação ao governo. mésticos” do Movimiento Vecino; “oficinas
Como informa um dirigente da organização de costureiras e de produção de vassouras”
“Movimiento Vecino”, México, as organiza- e de “produção de picolés com crianças” em
ções do movimento urbano popular estão organizações de bairros em Recife; restau-
“lutando para arrancar espaços ao governo, rante de “comidas baianas e artesanatos”,
crédito e outras tantas coisas. Também va- da Casa de Cultura da Mulher Negra em
mos mais adiante, estamos criando nossas Santos. Esses projetos não contam, como
próprias dinâmicas de trabalho com as pes- se pode constatar, com o apoio de nenhum
soas; implantando autogestão para resolver governo. São recursos que vão sendo conse-
alguns problemas”. guidos com festas, bingos, apoio de alguma
igreja ou instituição de assessoria. Pensam,
Pensa-se que é ir mais longe buscar solu- como formula um dirigente da “Unión de
ções próprias e não ficar esperando apenas Colônias Populares”, que “os tempos em
pelas soluções governamentais. Trata-se de que tínhamos que solicitar tudo ao governo
141
mo sem juros, são empréstimos que vão a demandas mais globais das maiorias da ci-
devolvendo na medida que produzem e dade e do campo, diversificando e enrique-
comercializam. Esses recursos, por sua vez, cendo suas atividades com as discussões
vão apoiar outros projetos. E mais, buscam das questões de gênero, étnicas, culturais e
tomar decisões a partir de discussões cole- do meio ambiente.
tivas, realizar algumas tarefas ou todas, em
conjunto, e experimentar gestão colegiada, Além da percepção dos limites das ativida-
além da prestação de contas dos processos des autogestionárias por conta própria, há
e resultados, em reuniões amplas e abertas. outros dirigentes intelectuais que são contra
Muitas iniciativas de projetos produtivos esse tipo de iniciativa. Discordam porque
do MST, no Brasil, também se enquadram têm outra representação social do próprio
nesse mesmo estilo. papel da organização popular. Entendem
que sua tarefa é “arrancar recursos financei-
São projetos produtivos que se poderiam ros dos governos” para a ação “comunitária
denominar de autogestionários por conta e coletiva”. Esses são identificados pelos
própria. No entanto, percebem dirigentes e, autogestionários por conta própria como
sobretudo intelectuais, os limites desse tipo mais tradicionais. Eles, no entanto, se vêem
de ação. De acordo com um dirigente do como buscando o respeito a um direito e
“Movimiento Vecino”, esse tipo de atuação exigindo o cumprimento de um dever das
“não resolve o problema de fundo, mas autoridades.
pode ser um caminho na medida em que
pudermos entender que é um projeto de
economia popular viável para nosso país.
PARA DEBATER
Inclusive pode ser apoiado a partir de inves-
?
timentos governamentais e ou da iniciativa
Que aprendizagens construímos a
privada”.
partir do estudo e/ou participação
em Organizações e Movimentos Sociais?
Essas organizações querem se caracterizar
?
como de defesa das condições de vida da
Quais dimensões educativas você
cidadania em geral. Significa que deixam de
consegue identificar nesse processo,
ser uma organização do tipo sindical para
considerado o aprendizado dos direitos,
se transformar em uma de interesses mais
as identidades/ações afirmativas, a
gerais da cidadania, uma organização cívico
constituição de sujeitos coletivos e lutas
popular, na qual as demandas não estão li-
humanizantes, por exemplo?
gadas aos setores mais pobres, mesmo que
?
esses continuem sendo os sujeitos privile-
Que implicações esse processo traz
giados nem apenas as sindicalizados. Hoje,
para uma nova organização social?
tentam vincular essas atividades produtivas
143
Texto 50
PEDAGOGIAS EM MOVIMENTO:
O que temos a aprender
dos movimentos sociais?
Miguel Arroyo
Nas décadas de 1970-1980 várias pesquisas, A brutal exclusão dos setores populares
dissertações e teses mostraram a influência urbanos dos serviços públicos, mais básicos,
dos movimentos sociais na conformação da provocou, desde a década de 50, reações e
consciência popular do direito à educação mobilizações pela inserção social. Pelo direi-
básica, à escola pública. Pesquisas têm mos- to à cidade, aos bens e serviços públicos.
trado como a ampliação e democratização
da educação básica e a inserção dos setores As camadas urbanas em toda América
populares na escola pública teve como um Latina foram crescendo e ocupando o
dos mais decisivos determinantes a pressão espaço urbano, de maneira caótica. Como
dos movimentos sociais. Esta é uma relação se inserir? Como ter parte ou ter direito à
bastante pesquisada e reconhecida. cidade? A inserção social passou ao debate
político, social e educativo. Passou a inquie-
Neste texto, sugerimos a possibilidade de tar e mobilizar as próprias camadas popula-
ampliar essa relação. Perguntar-nos pelas res urbanas. Processos diversos e dispersos
virtualidades formadoras dos movimentos de mobilização que vão contribuir para a
sociais. Em que medida podem ser vistos conformação dos direitos sociais entre os
como um princípio, uma matriz educativa excluídos. Entre esses direitos, com desta-
em nossas sociedades. Que dimensões eles que o direito à educação e à escola pública.
formam e que aspectos eles trazem para a
teoria pedagógica e para o fazer educativo, A escola vai deixando de ser vista como
tanto nas propostas de educação formal uma dádiva da política clientelística e vai
quanto informal. sendo exigida como um direito. Vai se
dando um processo de reeducação da velha
O aprendizado dos direitos pode ser des- cultura política, vai mudando a velha auto-
tacado como uma dimensão educativa. Os imagem que os próprios setores populares
movimentos sociais colocam a luta pela carregavam como clientes agraciados pelos
escola no campo dos direitos. Na fronteira políticos e governantes. Nessa reeducação
de uma pluralidade de direitos: a saúde, a da cultura política tem tido um papel peda-
moradia, a terra, o teto, a segurança, a pro- gógico relevante os movimentos sociais, tão
teção da infância, a cidade. diversos e persistentes na América Latina.
144
Essa reeducação da cultura política que vai dado e proteção da prole. É a sensibilidade
pondo a educação e a escola popular na humana popular que pressiona.
fronteira do conjunto dos direitos huma-
nos se contrapõe ao discurso oficial e por Essas dispersas e diversas mobilizações po-
vezes pedagógico que reduz a escolarização pulares se prolongam por todas as últimas
a mercadoria, a investimento, a capital décadas. Controladas, cooptadas ou repri-
humano, a nova habilitação para concor- midas brotam e rebrotam tão persistentes
rer no mercado cada vez mais seletivo. As quanto a exclusão e marginação a que con-
lutas coletivas pela escola básica explicitam tinuam submetidos os setores populares,
essas tensões. ao longo destas décadas. Não é temerário,
portanto, supor que essas mobilizações agi-
De alguma forma os movimentos sociais ram como pedagogos no aprendizado dos
reeducam o pensamento educacional, a te- direitos sociais, especificamente do direito à
oria pedagógica, a reconstrução da história educação.
da educação básica. Um pensamento que
tinha como tradição pensar essa histó- Essa pedagogia que pode ser encontrada
ria como apêndice da história oficial, das nas lutas e mobilizações dos setores popu-
articulações do poder, das concessões das lares das cidades e dos campos se encontra
elites, das demandas do mercado... Seria de com o aprendizado dos direitos vindo da
esperar que a reconstrução da história da inserção no trabalho. O movimento ope-
democratização da escola básica popular na rário e o novo sindicalismo se articulam de
América Latina não esquecesse de que ela formas diversas, ao menos se aproximam
é inseparável da história social dos setores dessas dispersas mobilizações populares. Os
populares. De seus avanços na consciência atores não são tão diferentes.
dos direitos.
A consciência do direito ao trabalho e à ci-
A expansão da escola básica popular se tor- dade e à terra se alimentam e contaminam.
na realidade não tanto porque o mercado A consciência dos direitos se radicaliza na
tem exigido maior escolarização, nem por- inserção na produção e se amplia nas lutas
que as elites se tornaram mais humanitá- pela inserção nos serviços básicos para a
rias, mas pela consciência social reeducada reprodução digna da existência.
pelas pressões populares. Estas podem até
sonhar na escola como porta do emprego, Os sindicatos tiveram um papel pedagógico
entretanto as grandes massas pobres que relevante e reconhecido. Agiram como esco-
se debatem com formas de sobrevivência las de formação de lideranças e de formação
elementaríssimas agem por outra lógica. política das diversas categorias de trabalha-
Não será a desarticulação de suas vidas que dores. Os movimentos sociais não deixaram
as leva a pressionar pelos serviços públicos de ter papel pedagógico, formaram lideran-
mais básicos? Por espaços e tempos de dig- ças também e contribuíram para educar as
nidade e cuidado para seus filhos e filhas? O camadas populares nem sempre tocadas
espaço e o tempo de escola é equacionado pela mobilização operária. Em frentes diver-
nesse horizonte de dignidade para o cui- sas cumpriram papéis educativos próximos.
145
Texto 51
AGRICULTURA FAMILIAR
E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
Alicia Ruiz Olalde
Além disso, a agricultura familiar está segundo o mesmo autor, [...] é altamente
associada à dimensão espacial do desen- integrada ao mercado, capaz de incorporar
volvimento, por permitir uma distribuição os principais avanços técnicos e de respon-
populacional mais equilibrada no território, der as políticas governamentais [...] Aquilo
em relação à agricultura patronal, nor- que era antes de tudo um modo de vida
malmente associada à monocultura. Estas converteu-se numa profissão, numa forma
idéias devem ser contextualizadas no deba- de trabalho (ABRAMOVAY, 1992, p.22-127).
te sobre os caminhos para a construção do
desenvolvimento sustentável. Para esse autor, em lhe sendo favorável
esse ambiente e com apoio do Estado, a
Recentemente, vem sendo defendida uma agricultura familiar preencherá uma série
perspectiva que reforça as idéias acima de requisitos, dentre os quais fornecer
apresentadas é a dimensão territorial do alimentos baratos e de boa qualidade para
desenvolvimento rural, onde as atividades a sociedade e reproduzir-se como uma
agrícolas e não-agrícolas devem ser integra- forma social engajada nos mecanismos de
das no espaço local, perdendo sentido a tra- desenvolvimento rural. O pensamento de
dicional divisão urbana/rural e ultrapassan- Abramovay fica claramente evidenciado
do o enfoque predominantemente setorial quando expressa que “Se quisermos com-
(agrícola) do espaço rural. No âmbito das bater a pobreza, precisamos, em primeiro
políticas públicas, isto se traduziu na cria- lugar, permitir a elevação da capacidade de
ção da SDT (Secretaria do Desenvolvimento investimento dos mais pobres. Além disso,
Territorial), subordinada ao MDA. é necessário melhorar sua inserção em
mercados que sejam cada vez mais dinâmi-
Todavia, mesmo havendo consenso en- cos e competitivos”.
tre vários autores sobre a importância da
agricultura familiar, as visões em relação ao Assim, existe uma visão onde o agricul-
modelo que essa agricultura familiar deveria tor familiar está fortemente inserido nos
adotar divergem em certos aspectos. mercados e procura sempre adotar novas
tecnologias. Em contraposição, há uma
Abramovay diferencia a agricultura familiar corrente que tem sido caracterizada como
no interior das sociedades capitalistas mais “neo-populismo ecológico”, por resgatar
desenvolvidas como uma forma completa- alguns conceitos do pensamento de Ale-
mente diferente do campesinato clássico. xander Chayanov, que destaca a autonomia
Enquanto que os camponeses podiam ser relativa do pequeno produtor, enfatizando a
entendidos como “sociedades parciais com utilização de recursos locais, a diversificação
uma cultura parcial, integrados de modo da produção e outros atributos que apon-
incompleto a mercados imperfeitos”, repre- tam para a sustentabilidade dos sistemas
sentando um modo de vida caracterizado de produção tradicionais. Nessa visão, a
pela personalização dos vínculos sociais e sobrevivência do agricultor familiar teria
pela ausência de uma contabilidade nas ope- muito mais de resistência do que de funcio-
rações produtivas. Já a agricultura familiar, nalidade à lógica da expansão capitalista.
150
BIBLIOGRAFIA
PARA DEBATER
?
ABRAMOVAY, R. Paradigmas do capitalismo
O que a expressão
agrário em questão. São Paulo: HUCITEC
a seguir lhe sugere:
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“AGRONEGÓCIO versus
ALTIERI, M. Agroecologia: bases científicas
AGRICULTRA FAMILIAR”?
para uma agricultura sustentável. Guaíba-
?
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O que você (re) desco-
FAO/ INCRA Diretrizes de Política Agrária e
briu sobre esse assun-
Desenvolvimento Sustentável. Brasília, Ver-
to a partir da leitura do
são resumida do Relatório Final do Projeto
texto?
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?
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volvimento dos territórios rurais: concei-
tos, controvérsias e experiências. Brasília:
EMBRAPA Informação Tecnológica, 2002, p.
41-52.
152
Texto 52
O HOMEM COMO UM SER INCONCLUSO,
CONSCIENTE DE SUA INCONCLUSÃO,
E SEU PERMANENTE MOVIMENTO
DE BUSCA DO SER MAIS
Na verdade, diferente dos outros animais, deve ser uma forma nostálgica de querer
que são apenas inacabados, mas não são voltar, mas um modo de melhor conhecer
históricos, os homens se sabem inacabados. o que está sendo, para melhor construir o
Têm a consciência de sua inconclusão. Aí se futuro. Daí que se identifique com o movi-
encontram as raízes da educação mesma, mento permanente em que se acham ins-
como manifestação exclusivamente huma- critos os homens, como seres que se sabem
na. Isto é, na inconclusão dos homens e inconclusos; movimento que é histórico e
na consciência que dela têm. Daí que seja que tem o seu ponto de partida, o seu sujei- 9
Em Ação cultural
para a libertação,
a educação um que fazer permanente. to, o seu objetivo. O ponto de partida deste discutimos mais
Permanente, na razão da inconclusão dos movimento está nos homens mesmos. amplamente este
sentido profético
homens e do devenir da realidade. (PAULO FREIRE, 2005) e esperançoso da
educação (ou ação
cultural) proble-
Desta maneira, a educação se refaz constan- matizadora. Profe-
tismo e esperança
temente na práxis. Para ser tem que estar PARA DEBATER que resultam do
sendo. caráter utópico
?
de tal forma de
O que faz você perceber-se como ação, tomando-se
A educação problematizadora, que não é sujeito histórico capaz de interpretar a utopia como a
unidade inque-
fixismo reacionário, é futuridade revolu- e (re)criar a existência? brantável entre
cionária. Daí que seja profética e, como a denúncia e o
?
anúncio. Denúncia
tal, esperançosa9. Daí que corresponda à Nesse processo inacabado o que de uma realidade
condição dos homens como seres históricos representa para você a busca do ser
desumanizante e
anúncio de uma
e à sua historicidade. Daí que se identifique mais? realidade em
que os homens
com eles como seres mais além de si mes- possam ser
mos - como “projetos” -, como seres que ca-
? Qual a sua opinião sobre a seguinte mais. Anúncio
e denúncia não
minham para frente, que olham para frente; afirmativa: “Para ser tem que estar são, porém,
como seres a quem o imobilismo ameaça sendo.” palavras vazias,
mas compromisso
de morte; para quem o olhar para trás não histórico.
153
Texto 53
OS MOVIMENTOS SOCIAIS DO CAMPO
PARA DEBATER
Texto 54
HISTÓRIA DOS MOVIMENTOS DO CAMPO BRASILEIRO
1945 Início das primeiras organizações Notícias mais sistemáticas
Fim do Estado Novo de trabalhadores rurais de conflitos: resistência
na terra, greves, etc.
1946
Nova Constituição
1951
Confederação Rural Brasileira
1º Congresso Camponês de Gioânia
1953
1º Encontro Nacional
de Trabalhadores Agrícolas
1954
II Conferência Nacional 1954
dos Trabalhadores Agrícolas ULTAB
(Criação da ULTAB)
1957
Ocupação de Francisco Beltrão
e Pato Branco - PR
1959
Operação Arranca Capim - SC
Sindicatos 1962
AP Regulamentação da
sindicalização rural
1963 1963
13 de março 1963 Dez. Congresso
Comício Central Dez de criação da CONTAG
CONTAG
1963
Greve Geral
• Estatuto do Trabalhador Rural.
na Zona da Mata - PE
• Criação da SUPRA.
155
CONTAG
1964 1964 1964
1964 31 de Março / Golpe Militar Intervenção sobre • Estatuto da Terra.
a CONTAG • Criação do IBRA e do INDA.
Repressão sobre
as organizações e lutas
1971
• Criação do FUNRURAL
• Criação do PROTERRA
1973
II Congresso Nacional
dos Trabalhadores Rurais
1975 1975
Criação da CPT
1981 1981
I CONCLAT Ronda Alta
1982 1982
Criação da CUT Expansão do modelo
Criação da CONCLAT/CGT pernambucano de greves a outros
estados nordestinos.
1983
Criação da CUT
Criação da CONCLAT/CGT
156
CONTAG
Campanha das Diretas - Já. 1984 1984
1984 Eleição de Tancredo Neves Criação do Movimento Greve de Guariba - SP
pelo Colégio Eleitoral. CNA
dos Sem Terra
1985/1986 UDR
Greves rurais se alastram. Constituição da Frente UDR
Novos acampamento e ocupações. Ampla Agropecuária.
1987
Decreto 2.363
1992
Impeachment de Collor.
Assume Itamar
1994 1994
Criação do Plano Real. O DNTR e o Fórum Sul dos Rurais
FHC é candidato à presidência. da CUT, em conjunto a outras enti-
É eleito dades, organizam o Grito da Terra
Brasil - contra a fome, a miséria e
pelo emprego.
1997 1997
Criação da FETRAFESC Inauguração da sede própria
da Escola SUL.
1998
FHC é reeleito
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