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Ministério

da Educação 3
3
Agricultura Familiar

Cidadania,
Organização Social e Políticas Públicas

Caderno Pedagógico Educandas e Educandos


3 ProJovem Campo - Saberes da Terra
Coleção Cadernos Pedagógicos do
ProJovem Campo-Saberes da Terra

Cidadania,
Organização Social
e Políticas Públicas

Caderno Pedagógico Educandas e Educandos


Ministério
da Educação

Ministério da Educação/SECAD
Esplanada dos Ministérios
Bloco L - Edifício Sede
o andar - sala 00
CEP 0.04-900
BRASÍLIA - DF
Coleção Cadernos Pedagógicos do
ProJovem Campo-Saberes da Terra

Cidadania,
Organização Social
e Políticas Públicas

Caderno Pedagógico Educandas e Educandos

Ministério
BRASÍLIA | DF | 2009 da Educação
© 2008. Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade do Ministério da Educação (SECAD/MEC)
Coordenação Editorial
Sara de Oliveira Silva Lima
Assistente
José Roberto Rodrigues de Oliveira
Equipe editorial:
Oscar Ferreira Barros
Eduardo D’Albergaria de Freitas
Gilson da Silva Costa
Lisânia de Giacometti
João Staub Neto
Michiele de Medeiros Delamora
Colaboração:
Comitê Pedagógico do ProJovem Campo - Saberes da Terra
Adriana Andres - MEC
Patrícia Ramos Mendonça - MEC
José Maria Barbosa de Jesus - MDA
Maria do Socorro Silva - MDA
Ângela Marques Almeida - MTE
Francisco Pereira - MTE
Vivian Beck Pombo - MMA
Equipe Técnica:
UFPE - Nupep
João Francisco de Souza (In Memorian)
Zélia Granja Porto
Karla Tereza Amélia Fornari de Souza
Rigoberto Fúlvio Melo Arantes
Maria Fernanda Alencar
Almeri Freitas de Souza
UFPA
Jaqueline Cunha da Serra Freire
Evandro Medeiros
Romier da Paixão Souza
Evanildo Estumano
Coordenação de Comunicação
Dirceu Tavares de Carvalho Lima Filho
Projeto Gráfico
Adrianna Rabelo Coutinho
Ilustração
Henrique Koblitz Essinger
Realização
Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade do Ministério da Educação
Revisão de Texto
Maria das Graças Oliveira
1ª Edição - Tiragem: 8.500 exemplares

Cidadania : organização social e políticas públicas : Caderno Pedagógico Educandas e Educandos.


- Brasília : Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada,
Alfabetização e Diversidade, 2008.

159 p. il. – (Coleção Cadernos Pedagógicos do ProJovem Campo-Saberes da Terra; 1)


ISBN 978-85-60731-66-4

1. Educação de jovens e adultos. 2. Educação no meio rural.


I. Título. II. Brasil. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Continuada,
Alfabetização e Diversidade.

CDU 374.71

Os autores são responsáveis pela escolha e apresentação dos fatos contidos neste livro, bem como pelas opiniões nele expressas, que não
são necessariamente as do Ministério da Educação, nem comprometem o Ministério. As indicações de nomes e a apresentação do material
ao longo deste livro não implicam a manifestação de qualquer opinião por parte do Ministério da Educação a respeito da condição jurídica
de qualquer país, território, cidade, região ou de suas autoridades, nem tampouco a delimitação de suas fronteiras ou limites.


Sumário

APRESENTAÇÃO 17

CARTA À EDUCANDA E AO EDUCANDO 21

TEXTOS: 25

1. DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS 25


Resolução da Assembléia Geral das Nações Unidas

2. PRIORIDADES DA 1ª. CONFERÊNCIA NACIONAL DE JUVENTUDE 30


Secretaria Nacional de Juventude
Conselho Nacional de Juventude
8

3. JUVENTUDE, É PRECISO ACREDITAR 34


Luciano Osmar Menezes

4. POLÍTICA TODO MUNDO FAZ 36

5. SECRETARIA NACIONAL DE JUVENTUDE 37

6. DEMARCAÇÃO DAS TERRAS INDÍGENAS (Charge) 40


Jornal do Commercio

7. ECOLOGIA, CIDADANIA E ÉTICA 41


Marina Silva

8. A NECESSIDADE DE COOPERAÇÃO NA PRODUÇÃO ECOLÓGICA 45


Carlos Neudi Finkler

9. A LEI DE SEMENTES E MUDAS NO BRASIL 48


Ministério do Desenvolvimento Agrário / Incra
9

10. DESSALINIZAÇÃO DRIBLA A ESCASSEZ DE ÁGUA 52


E RENDA NO SERTÃO NORDESTINO - PA SERIDÓ
Ministério do Desenvolvimento Agrário / Incra

11. A HISTÓRIA DOS MOVIMENTOS SOCIAIS NO CAMPO 57


Leonildes Servollo de Medeiros

12. CARTA DOS TRABALHADORES GAÚCHOS 63


DE EMPREENDIMENTOS DE ECONOMIA POPULAR SOLIDÁRIA
Centro de Educação Popular - CAMP

13. AFINAL, QUAL É O PAPEL DO CONSELHO MUNICIPAL 65


DE DESENVOLVIMENTO RURAL

14. O 1º DE MAIO – DIA DE LUTA 1


10

15. LIDERANÇAS INDÍGENAS PEDEM MAIS ASSISTÊNCIA 76


E CRITICAM MOROSIDADE DA FUNAI

16. A LEI Nº. 10.639/2003 77


Adriana Bendler

17. A CIDADANIA ROUBADA 80


Claudi Recco

18. HOMEM RURAL 83


Cenair Maicá
Dante Ramon Ledesma

19. DA LAMA AO CAOS 84


Chico Science

20. A TERRA DOS POSSEIROS DE DEUS 85


Patativa de Assaré

21. JUVENTUDE TRANSCENDENTAL 86


Luciano Gonçalves Ribeiro
11

22. EDUCAÇÃO DO CAMPO: DIREITO DE TODOS E DEVER DO ESTADO 8


Maria Fernanda dos Santos Alencar

23. O QUE SÃO POLÍTICAS PÚBLICAS? 90


Isabel Cristina Moura Carvalho
Maria das Graças Corrêa de Oliveira

24. BASES PARA UMA POLÍTICA PÚBLICA DE EDUCAÇÃO DO CAMPO 92


Edla Soares

25. CONSELHOS ALÉM DOS LIMITES 94


Ricardo Abramavay

26. É REUNIÃO DEMAIS! 96


Ricardo Abramavay

27. O ANALFABETO POLÍTICO 98


Bertold Brecht
12

28. PRÁTICAS DE CIDADANIA CONTRA O CRIME E A VIOLÊNCIA 99


Eduardo Capobianco
Paulo de Mesquita Neto

29. ¿ SER CIDADÃO OU CIDADÃ: O QUE É? 100


João Francisco Souza

30. A SEMENTE 101


Carlos Rodrigues Brandão

31. OS AGRICULTORES EXPROPRIADOS DE SUAS SEMENTES 102


Robert Ali Brac de la Perrière

32. MANDALA 104


Diogo de Paula

33. ALGUMAS NOTÍCIAS 105


13

34. PROGRAMA NACIONAL DE FORTALECIMENTO 106


DA AGRICULTURA FAMILIAR – PRONAF

35. PARTICIPAÇÃO E ESCOLA 111


Aida Monteiro

36. JOVENS E PARTICIPAÇÃO 112

37. CRONOLOGIA DA LUTA 113

38. CHEGANÇA 123


Antonio Nóbrega

39. ÁRVORE DE MANDIOCA 124


Mestre Bola Sete

40. DA RAIZ À FLOR: PRODUÇÃO PEDAGÓGICA DOS MOVIMEN- 125


TOS SOCIAIS E A ESCOLA DO CAMPO
Maria do Socorro Silva
14

41. CARTAZ - 1º Encontro Regional de Negros e Negras 128

42. UMA VEZ 128


Mestre Tony Vargas

43. ESTADO? GOVERNO? DEMOCRACIA? 130

44. (RE/ DES) CONSTRUINDO SENTIDOS 132

45. PÓS – TUDO 132


Augusto de Campos

46. MEU PAÍS 134


Zezé Di Camargo e Luciano

47. MANCHETES 135

48. ORGANIZAÇÕES E MOVIMENTOS SOCIAIS: DIVERSOS OLHARES 136

49. POLÍTICA: ORGANIZAÇÃO DA ECONOMIA 139


João Francisco de Souza
15

50. PEDAGOGIAS EM MOVIMENTO: O QUE TEMOS DE APRENDER 143


DOS MOVIMENTOS SOCIAIS ...
Miguel Arroyo

51. AGRICULTURA FAMILIAR E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL 147


Alicia Ruiz Olalde

52. O HOMEM COMO UM SER INCONCLUSO, 152


CONSCIENTE DE SUA INCONCLUSÃO, E SEU PERMANENTE
MOVIMENTO DE BUSCA DO SER MAIS
Paulo Freire

53. OS MOVIMENTOS SOCIAIS DO CAMPO 153


Miguel Arroyo

54. HISTÓRIA DOS MOVIMENTOS DO CAMPO BRASILEIRO 154

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 157


16

A Educação tem Papel Importante na


17

Apresentação do Caderno

formação de cidadãos multiculturais.

E ste Caderno Pedagógico traz


para educandos e educandas,
um conjunto de textos que poderão
subsidiar a discussão e a compreensão
do Eixo Temático 3 – CIDADANIA,
ORGANIZAÇÃO SOCIAL E POLÍTICAS
PÚBLICAS.

Convidamos os sujeitos educativos a (re)


conhecer e refletir sobre as ações dos
diversos Movimentos Sociais, em particular,
os Populares, em relação ao surgimento
dos “novos atores sociais” e sua inserção
nas políticas públicas sociais.
18

Temos observado na história da sociedade ocidental


moderna, que os direitos são uma construção social,
não um dado natural e que, portanto, foram sendo
conquistados por meio de muitas lutas sociais: primeiro,
os direitos cívicos; depois, os direitos políticos e somente
na segunda metade do século passado, os direitos sociais,
demandados pelas classes trabalhadoras na perspectiva
do estabelecimento de padrões de uma vida digna. Hoje,
vivemos um período de expressão das demandas das
diferentes subjetividades, ou dos “sujeitos singulares”:
os povos negros, os indígenas, as mulheres,
os deficientes físicos, os idosos...

Identidades ou grupos sociais historicamente marcados


por diferenças e desigualdades, que demandam o
estabelecimento de medidas sociais para garantir a
cidadania.

A discussão da juventude só muito recentemente passou


a integrar a pauta política, a ganhar canais institucionais
de decisão (Conselhos e Secretarias da Juventude em
âmbito municipal, estadual e federal), que se materializam
na criação de mecanismos institucionais e de canais
públicos de diálogo (Fóruns, Conferências, entre outros).
Todos esses processos têm resultado na formulação
de uma pauta de políticas específicas dirigidas aos
(as) jovens, embora suas diretrizes ainda estejam em
debate. Poderíamos dizer que estamos no momento da
enunciação dos direitos dos (as) jovens, ou seja, em pleno
estágio de definição, invenção e disputa do que possam vir
a ser tais direitos.

E a juventude tem o direito de estar presente de


forma intensa na construção da proposta de um novo
projeto de sociedade. Sua participação não deve ficar
restrita à votação em um candidato, na consulta dos
representantes, mas se estender para a atuação política
concreta em direção da construção de um projeto popular
para a classe trabalhadora.

Está lançado o convite para a aventura da construção do


conhecimento comprometido com o projeto de sociedade
que queremos!
19

Vale a pena relembrar sempre a importância dos acordos


coletivos, principalmente para os momentos de avaliação,
de fundamental importância para o processo de produção
de conhecimentos.

Para contribuir com o processo de avaliação, sugerimos,


neste Caderno, a construção de um PORTFÓLIO, a
ser elaborado individualmente pelo educando e pela
educanda, a fim de que possam dispor de elementos
para o acompanhamento contínuo e a reflexão crítica
dos /nos processos de aprendizagens. A idéia é que, ao
serem produzidas as sínteses provisórias, na conclusão de
cada Jornada Pedagógica, estas sejam agrupadas em um
documento processual – portfólio – de modo que, ao final
do estudo do Eixo Temático 3, cada um tenha o registro de
todo o processo vivenciado e (re) analisado.

Vamos começar a
leitura dos portfólios
da nossa equipe...
20

Participação dos sujeitos do campo nas políticas


21

Carta
À EDUCANDA E AO EDUCANDO
Olá, juventude do campo!!

públicas, fortalecendo a agricultura familiar.


Sabemos que não é um processo fácil nem simples, porém
é fundamental para a construção de nossa autonomia
como sujeitos críticos e criativos.

Neste Caderno, em especial, estudaremos o Eixo Temáti-


co - Cidadania, Organização Social e Políticas Públicas -,
importantíssimo tanto para a Juventude do Campo, com
todos os seus potenciais e desafios, como para a Agricul-
tura Familiar, uma vez que ele se coloca na perspectiva de
reorganização do campo brasileiro.

Acreditamos que a participação política dos sujeitos do


campo nas políticas públicas fortalece a afirmação da
identidade do camponês, da camponesa e das suas for-
mas organizativas; favorece a vinculação das identidades
coletivas e desses sujeitos como participantes de um
movimento social que luta por terra, reforma agrária e,
conseqüentemente, por uma produção do e no campo
por meio da agricultura familiar. Para isso propomos uma
reflexão com o intuito de, percebendo melhor a realidade,
possam se sentir incentivados a construir ou a potenciali-
zar novas formas de participação da juventude nos pro-
cessos sociais, políticos e econômicos em busca da trans-
formação social, na perspectiva da Agricultura Familiar
Sustentável.
22

Fiscalizar
a Limpeza

Abaixo o Lixo

No Programa ProJovem Campo - Saberes da Terra,


o trabalho vem sendo enfocado como fonte de
realização, de aprendizagens, de desenvolvimento
pessoal e de forma de participação e transforma-
ção social. Destacamos os valores e os desafios
para exercê-lo de forma digna e cidadã no âmbito
das especificidades do campo, das contradições
de uma sociedade consumista em tempos de glo-
balização, onde sobressai a supervalorização do
agronegócio, a exploração e manutenção do tra-
balho escravo, entre outros aspectos. O trabalho
do agricultor e da agricultora, particularmente,
está diretamente relacionado à identidade pes-
soal e social, pois, por meio dele, desenvolvem e
constroem sua condição de sujeitos emancipados.
23

Essa perspectiva provoca perguntas que


valem a pena serem feitas: Na caminha-
da no Saberes, você avalia a elevação da
escolaridade e a qualificação profissional
como possibilidades transformadoras do (a)
agricultor (a) e da própria sociedade? Qual a
sociedade que você quer? Como você pode
contribuir? Como, através da formação, você
estará investindo na melhoria da qualidade
do campo, do país, do planeta? Estas e tan-
tas outras questões podem nos fazer, refletir
e agir! Assim, temos um grande campo de
atuação política e educativa para construir-
mos o novo projeto de sociedade.

Para que isto se consolide, é de extrema ur-


gência o avanço das políticas públicas, dian-
te dos desafios da formação e do preparo
profissional da população juvenil do campo
brasileiro - que guarda em si um imenso po-
tencial de trabalho e de transformação. No
processo formativo, desejamos incentivar
experiências de ações coletivas nas quais os
(as) jovens reconheçam o valor da organiza-
ção, vivendo a satisfação de estarem juntos,
confrontando as diferenças e descobrindo
as complementaridades.

Não há saída sem organização. Não há solu-


ção individual, apenas coletiva!

Boa sorte e esperamos que os trabalhos sejam


muito prazerosos e frutíferos!!!
24
25

Texto 1
DECLARAÇÃO UNIVERSAL
DOS DIREITOS HUMANOS

CONSIDERANDO que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os


membros da família humana e seus direitos iguais e inalienáveis é o fun-
damento da liberdade, da justiça e da paz no mundo;

CONSIDERANDO que o desprezo e o desrespeito pelos direitos do homem


resultaram em atos bárbaros que ultrajaram a consciência da Humanida-
de, e que o advento de um mundo em que os homens gozem de liberdade
de palavra, de crença e da liberdade de viverem a salvo do temor e da
necessidade;

CONSIDERANDO ser essencial que os direitos do homem sejam protegidos


pelo império da lei, para que o homem não seja compelido, como último
recurso, à rebelião contra a tirania e a opressão;

CONSIDERANDO ser essencial promover o desenvolvimento de relações


amistosas entre as nações;

CONSIDERANDO que os povos das Nações Unidas reafirmaram, na Carta,


sua fé nos direitos do homem e da mulher, e que decidiram promover o
progresso social e melhores condições de vida em uma liberdade mais
ampla;

CONSIDERANDO que os Estados Membros se comprometeram a promo-


ver, em cooperação com as Nações Unidas, o respeito universal aos direi-
tos e liberdades fundamentais do homem e a observância desses direitos
e liberdades;

CONSIDERANDO que uma compreensão comum desses direitos e liberdades


é da mais alta importância para o pleno cumprimento desse compromisso:

A Assembléia Geral das Nações Unidas proclama a presente “Declaração


Universal dos Direitos do Homem” como o ideal comum a ser atingido
por todos os povos e todas as nações, com o objetivo de que cada indiví-
duo e cada órgão da sociedade, tendo sempre em mente esta Declaração,
se esforce, através do ensino e da educação, por promover o respeito a
esses direitos e liberdades, e, pela adoção de medidas progressivas de ca-
ráter nacional e internacional, por assegurar o seu reconhecimento e a sua
observância universais e efetivos, tanto entre os povos dos próprios Esta-
dos Membros, quanto entre os povos dos territórios sob sua jurisdição.
26

Artigo 1 Artigo 8
Todos os homens nascem livres e iguais em Todo o homem tem direito a receber dos
dignidade e direitos. São dotados de razão tribunais nacionais competentes remédio
e consciência e devem agir em relação uns efetivo para os atos que violem os direitos
aos outros com espírito de fraternidade. fundamentais que lhe sejam reconhecidos
pela constituição ou pela lei.
Artigo 2
I. Todo o homem tem capacidade para go- Artigo 9
zar os direitos e as liberdades estabelecidas Ninguém será arbitrariamente preso, deti-
nesta Declaração, sem distinção de qual- do ou exilado.
quer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua,
religião, opinião política ou de outra na- Artigo 10
tureza, origem nacional ou social, riqueza, Todo o homem tem direito, em plena
nascimento, ou qualquer outra condição. igualdade, a uma justa e pública audiência
II. Não será também feita nenhuma distin- por parte de um tribunal independente e
ção fundada na condição política, jurídica imparcial, para decidir de seus direitos e
ou internacional do país ou território a deveres ou do fundamento de qualquer
que pertença uma pessoa, quer se trate acusação criminal contra ele.
de um território independente, sob tu-
tela, sem governo próprio, quer sujeito a Artigo 11
qualquer outra limitação de soberania. I. Todo o homem acusado de um ato delitu-
oso tem o direito de ser presumido inocen-
Artigo 3 te até que a sua culpabilidade tenha sido
Todo o homem tem direito à vida, à liber- provada de acordo com a lei, em julgamento
dade e à segurança pessoal. público no qual lhe tenham sido asseguradas
todas as garantias necessárias a sua defesa.
Artigo 4 II. Ninguém poderá ser culpado por qual-
Ninguém será mantido em escravidão quer ação ou omissão que, no momento,
ou servidão; a escravidão e o tráfico de não constitua delito perante o direito na-
escravos estão proibidos em todas as suas cional ou internacional. Também não será
formas. imposta pena mais forte do que aquela
que, no momento da prática, era aplicável
Artigo 5 ao ato delituoso.
Ninguém será submetido a tortura, nem
a tratamento ou castigo cruel, desumano Artigo 12
ou degradante. Ninguém será sujeito a interferências na
sua vida privada, na sua família, no seu lar
Artigo 6 ou na sua correspondência, nem a ataques
Todo homem tem o direito de ser, em to- a sua honra e reputação. Todo o homem
dos os lugares, reconhecido como pessoa tem direito à proteção da lei contra tais
perante a lei. interferências ou ataques.

Artigo 7 Artigo 13
Todos são iguais perante a lei e têm I. Todo homem tem direito à liberdade de
direito, sem qualquer distinção, a igual locomoção e residência dentro das frontei-
proteção da lei. Todos tem direito a igual ras de cada Estado.
proteção contra qualquer discriminação II. Todo o homem tem o direito de deixar
que viole a presente Declaração e contra qualquer país, inclusive o próprio, e a este
qualquer incitamento a tal discriminação. regressar.
27

Artigo 14 niões e de procurar, receber e transmitir


I. Todo o homem, vítima de perseguição, informações e idéias por quaisquer meios,
tem o direito de procurar e de gozar asilo independentemente de fronteiras.
em outros países.
II. Este direito não pode ser invocado em Artigo 20
casos de perseguição legitimamente moti- I. Todo homem tem direito à liberdade de
vada por crimes de direito comum ou por reunião e associação pacíficas.
atos contrários aos objetivos e princípios II. Ninguém pode ser obrigado a fazer par-
das Nações Unidas. te de uma associação.

Artigo 15 Artigo 21
I. Todo homem tem direito a uma naciona- I. Todo o homem tem o direito de tomar
lidade. parte no governo de seu país diretamente
II. Ninguém será arbitrariamente privado ou por intermédio de representantes livre-
de sua nacionalidade, nem do direito de mente escolhidos.
mudar de nacionalidade. II. Todo o homem tem igual direito de
acesso ao serviço público do seu país.
Artigo 16 III. A vontade do povo será a base da au-
I. Os homens e mulheres de maior idade, toridade do governo; esta vontade será ex-
sem qualquer restrição de raça, nacionali- pressa em eleições periódicas e legítimas,
dade ou religião, tem o direito de contrair por sufrágio universal, por voto secreto
matrimônio e fundar uma família. Gozam ou processo equivalente que assegure a
de iguais direitos em relação ao casamento, liberdade de voto.
sua duração e sua dissolução.
II. O casamento não será válido senão com o Artigo 22
livre e pleno consentimento dos nubentes. Todo o homem, como membro da socie-
III. A família é o núcleo natural e fundamen- dade, tem direito à segurança social e à
tal da sociedade e tem direito à proteção da realização, pelo esforço nacional, pela
sociedade e do Estado. cooperação internacional e de acordo com
a organização e recursos de cada Estado,
Artigo 17 dos direitos econômicos, sociais e culturais
I. Todo o homem tem direito à propriedade, indispensáveis à sua dignidade e ao livre
só ou em sociedade com outros. desenvolvimento de sua personalidade.
II. Ninguém será arbitrariamente privado de
sua propriedade. Artigo 23
I. Todo o homem tem direito ao trabalho, à
Artigo 18 livre escolha de emprego, a condições justas
Todo o homem tem direito à liberdade de e favoráveis de trabalho e à proteção contra
pensamento, consciência e religião; este di- o desemprego.
reito inclui a liberdade de mudar de religião II. Todo o homem, sem qualquer distinção,
ou crença e a liberdade de manifestar essa tem direito a igual remuneração por igual
religião ou crença, pelo ensino, pela prática, trabalho.
pelo culto e pela observâcia, isolada ou co- III. Todo o homem que trabalha tem
letivamente, em público ou em particular. direito a uma remuneração justa e satisfa-
tória, que lhe assegure, assim como a sua
Artigo 19 família, uma existência compatível com a
Todo o homem tem direito à liberdade de dignidade humana, e a que se acrescenta-
opinião e expressão; este direito inclui a rão, se necessário, outros meios de prote-
liberdade de, sem interferências, ter opi- ção social.
28

IV. Todo o homem tem direito a organizar Artigo 27


sindicatos e a neles ingressar para prote- I. Todo o homem tem o direito de partici-
ção de seus interesses. par livremente da vida cultural da comu-
nidade, de fruir as artes e de participar
Artigo 24 do progresso científico e de fruir de seus
Todo homem tem direito a repouso e benefícios.
lazer, inclusive à limitação razoável das II. Todo o homem tem direito à proteção
horas de trabalho e a férias remuneradas dos interesses morais e materiais decor-
periódicas. rentes de qualquer produção científica,
literária ou artística da qual seja autor.
Artigo 25
I. Todo o homem tem direito a um padrão Artigo 28
de vida capaz de assegurar a si e a sua Todo o homem tem direito a uma ordem
família, saúde e bem-estar social e internacional em que os direitos
inclusive alimentação, vestuário, habi- e liberdades estabelecidos na presente
tação, cuidados médicos e os serviços Declaração possam ser plenamente reali-
sociais indispensáveis, e direito à segu- zados.
rança em caso de desemprego, doença,
invalidez, viuvez, velhice ou outros casos Artigo 29
de perda de meios de subsistência em I. Todo o homem tem deveres para com
circunstâncias fora de seu controle. a comunidade, na qual o livre e pleno
II. A maternidade e a infância tem direito desenvolvimento de sua personalidade é
a cuidados e assistência especiais. Todas possível.
as crianças, nascidas dentro ou fora do II. No exercício de seus direitos e liberda-
matrimônio, gozarão da mesma proteção des, todo o homem estará sujeito apenas
social. às limitações determinadas pela lei, exclu-
sivamente com o fim de assegurar o devido
Artigo 26 reconhecimento e respeito dos direitos
I. Todo o homem tem direito à instrução. e liberdades de outrem e de satisfazer
A instrução será gratuita, pelo menos as justas exigências da moral, da ordem
nos graus elementares e fundamentais. pública e do bem-estar de uma sociedade
A instrução elementar será obrigatória. A democrática.
instrução técnico-profissional será acessí- III. Esses direitos e liberdades não podem,
vel a todos, bem como a instrução supe- em hipótese alguma, ser exercidos con-
rior, esta baseada no mérito. trariamente aos objetivos e princípios das
II. A instrução será orientada no sentido Nações Unidas.
do pleno desenvolvimento da persona-
lidade humana e do fortalecimento do Artigo 30
respeito pelos direitos do homem e pelas Nenhuma disposição da presente Decla-
liberdades fundamentais. A instrução ração pode ser interpretada como o re-
promoverá a compreensão, a tolerância conhecimento a qualquer Estado, grupo
e amizade entre todas as nações e gru- ou pessoa, do direito de exercer qualquer
pos raciais ou religiosos, e coadjuvará as atividade ou praticar qualquer ato desti-
atividades das Nações Unidas em prol da nado à destruição de quaisquer direitos e
manutenção da paz. liberdades aqui estabelecidos.
III. Os pais têm prioridade de direito na
(Disponível em http://www.dhnet.org.br/direitos/de-
escolha do gênero de instrução que será
conu/textos/integra.htm, acesso em: 05 mar. 2008)
ministrada a seus filhos.
29

PARA DEBATER

• A Assembléia Geral das Nações Unidas proclamou a “Declaração Universal
dos Direitos do Homem como o ideal comum a ser atingido por todos os po-
vos e todas as nações”. E você, o que acha dessa afirmação? Compare-a com
a sua realidade.

• Na sua opinião, como as afirmações abaixo se apresentam na realidade dos


povos do campo?

• ”Todo o homem tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal” (Arti-


go 3);

• ”Ninguém será mantido em escravidão ou servidão; a escravidão e o tráfico


de escravos estão proibidos em todas as suas formas” (Artigo 4);
”Ninguém será submetido “à tortura, nem a tratamento ou castigo cruel,
desumano ou degradante” (Artigo 5);

• Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qualquer distinção, a igual
proteção da lei. (Artigo 7, grifo nosso);

• ”I. Todo o homem tem direito à propriedade, só ou em sociedade com ou-


tros; II. Ninguém será arbitrariamente privado de sua propriedade” (Artigo 17);

• “I.Todo homem tem o direito de tomar parte no governo de seu país, direta-
mente ou por intermédio de representantes livremente escolhidos;.II. Todo o
homem tem igual direito de acesso ao serviço público do seu país.” (Artigo 21).
30

Texto 2

PRIORIDADES DA 1ª CONFERÊNCIA
NACIONAL DE JUVENTUDE

Tema Proposta Votos

1 Jovens Reconhecimento e aplicação, pelo poder público, transformando


634
negros e em políticas públicas de juventude as Resoluções do 1º Encontro
negras Nacional de Juventude Negra (ENJUNE), priorizando as mesmas
como diretrizes étnico-raciais de/ para/ as juventudes.

2 Educação Destinar parte da verba da educação no ensino básico para o mo- 547
básica – delo integral e pedagógico do CIEP’s (Centros Integrados de Educa-
elevação da ção Pública).
escolaridade

Fortaleci- Aprovação pelo Congresso Nacional do marco legal da juventude:


3 mento regime de urgência da PEC n.º 138-B /2003, Plano Nacional de
531
institucional Juventude e Estatuto dos Direitos da Juventude PL 27/2007.

4 Meio Criar uma política nacional de juventude e meio ambiente que 521
Ambiente inclua o “Programa Nacional de Juventude e Meio Ambiente”, ins-
titucionalizado em PPA (Plano Plurianual), com a participação dos
jovens nos processos de construção, execução, avaliação e decisão,
bem como da Agenda 21 da Juventude que fortaleça os movimen-
tos juvenis no enfrentamento da grave crise ambiental global e
planetária, com a construção de sociedades sustentáveis.

5 Esporte Ampliar e qualificar os programas e projetos de esporte, em todas 520


as esferas públicas, enquanto políticas de Estado, tais como os pro-
gramas Esporte e Lazer da Cidade, Bolsa Atleta e Segundo Tempo
com núcleos nas escolas, universidades e comunidades, democra-
tizando o acesso ao esporte e ao lazer a jovens, articulados com
outros programas existentes.
31

6 Juventude Garantir o acesso à terra ao jovem e à jovem rural, na faixa etária de 16 515
do campo a 32 anos, independente do estado civil, por meio da reforma agrária,
priorizando este segmento nas metas do Programa de Reforma Agrária
do Governo Federal, atendendo a sua diversidade de identidades so-
ciais, e, em especial aos remanescentes de trabalho escravo. É funda-
mental a revisão dos índices de produtividade, e o estabelecimento do
limite da propriedade para 35 módulos fiscais.

7 Trabalho Reduzir a jornada de trabalho de 44 para 40 horas semanais sem re- 471
dução de salários, conforme campanha nacional unificada promovida
pelas centrais sindicais.

8 Educação Defendemos que a ampliação do investimento em educação é fator 455


Superior imprescindível para construirmos uma educação de qualidade para
todos e todas e que consiga contribuir para o desenvolvimento do País.
Para tanto, defendemos o investimento de 10% do PIB em educação.
Para atingir este percentual reivindicamos o fim da desvinculação das
receitas da união (DRU) e a derrubada dos vetos ao PNE (Plano Nacional
de Educação). Reivindicamos que 14% dos recursos destinado as univer-
sidades federais seja destinado exclusivamente à assistência estudantil
por meio da criação de uma rubrica específica. Defendemos também
a ampliação dos recursos em assistência estudantil para estudantes do
PROUNI e para estudantes de baixa renda de universidades privadas.
Garantir a transparência e democracia na aplicação dos recursos.

9 Cultura Criação, em todos os municípios, de espaços culturais públicos, descen- 453


tralizados, com gestão compartilhada e financiamento direto do estado,
que atendam às especificidades dos jovens e que tenham programação
permanente e de qualidade. Os espaços, sejam eles construções novas,
desapropriações de imóveis desocupados ou organizações da sociedade
civil já estabelecidas, devem ter condições de abrigar as mais diversas
manifestações artísticas e culturais, possibilitando o aprendizado, a frui-
ção e a apresentação da produção cultural da juventude. Reconhecer e
incentivar o Hip Hop como manifestação cultural e artística.

10 Política Criar o Sistema Nacional de Juventude, composto por Órgãos de 428


e Participação Juventude (Secretarias/ coordenadorias e outros) nas três esferas
do Governo, com dotação orçamentária específica; Conselhos de
Juventude eleitos democraticamente, com caráter deliberativo, com
a garantia de recursos financeiros, físicos e humanos; Fundos Nacio-
nal, estaduais e municipais de Juventude, com acompanhamento e
controle social, ficando condicionado o repasse de verbas federais de
programas de projetos de juventude à adesão dos estados e municí-
pios a esse Sistema.

11 Jovens Implementar políticas públicas de promoção dos direitos sexuais e di- 378
mulheres reitos reprodutivos das jovens mulheres, garantindo mecanismos que
evitem mortes maternas, aplicando a lei de planejamento familiar, ga-
rantindo o acesso a métodos contraceptivos e a legalização do aborto.
32

12 Segurança Contra a redução da maioridade penal, pela aplicação efetiva do 365


Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA

13 Política Garantir uma ampla reforma política que, além do financiamento 360
e participação público de campanha, assegure a participação massiva da Juventude
nos partidos políticos, com garantia de cota mínima de 15% para jo-
vens de 18 a 29 anos nas coligações, com respeito ao recorte étnico-
racial e garantindo a paridade de gênero; Mudança na faixa-etária da
elegibilidade garantindo como idade mínima de 18 anos para verea-
dor, prefeito, deputados estaduais, distritais e federais e 27 anos para
senador, governador e presidente da República.

14 Outros temas Fim da obrigatoriedade do serviço militar, e criação de programas 336


alternativos de serviços sociais não obrigatórios.

15 Fortalecimento Criar o Sistema Nacional de Políticas Públicas de Juventude que 313


institucional confira status de Ministério à Secretaria Nacional de Juventude,
exigindo que a adesão de estados e municípios seja condicionada
à existência de órgão gestor específico e respectivo conselho de
juventude. A partir de dezembro de 2009, os recursos do Fundo Na-
cional de Juventude, do ProJovem e demais programas de juventu-
de, apenas continuarão a ser repassados aos estados e municípios
que aderirem ao Sistema.

16 Povos e Assegurar os direitos dos povos e comunidades tradicionais (qui- 303


comunidades lombolas, indígenas, ciganos, comunidades de terreiros, pescadores
tradicionais artesanais, caiçaras, faxinalenses, pomeranos, pantaneiros, quebra-
deiras de coco babaçu, caboclos, mestiços, agroextrativistas, serin-
gueiros, fundos de pasto, dentre outros que buscam ser reconheci-
dos), em especial da juventude, preservando suas culturas, línguas
e costumes, combatendo todas as práticas exploratórias e discri-
minatórias quanto a seus territórios, integrantes, saberes, práticas
culturais e religiosas tradicionais.

17 Cultura Estabelecimento de políticas públicas culturais permanentes dire- 283


cionadas à juventude, tendo ética, estética e economia como pila-
res, em gestão compartilhada com a sociedade civil, a exemplo dos
Pontos de Cultura, que possibilitem o acesso a recursos de maneira
desburocratizada, levando em consideração a diversidade cultural
de cada região e o diálogo intergeracional. Criação de um mecanis-
mo específico de apoio e incentivo financeiro aos jovens (bolsas)
para formação e capacitação como artistas, animadores e agentes
culturais multiplicadores.

18 Cidadania GLBT Incentivar e garantir a SENASP/ MJ a incluir em todas as esferas dos 280
cursos de formação dos operadores (as) de segurança pública e
privada em nível nacional, estadual e municipal no atendimento e
abordagem e no aprendizado ao respeito à livre orientação afeti-
vo-sexual e de identidade de gênero com ampliação do DECRADI
– Delegacia de Crimes Raciais e Intolerância.
33

19 Jovens com Ratificação imediata da Convenção sobre os Direitos da Pessoa com


Deficiência da ONU como emenda constitucional. 239
deficiência

20 Jovem Garantia de políticas públicas integradas que promovam a geração 274


do Campo de trabalho e renda para o jovem e a jovem do campo, com parti-
cipação da juventude na sua elaboração e gestão. Assegurando o
acesso a terra, à capacitação e ao desenvolvimento de tecnologia
sustentável apropriada à agricultura familiar e camponesa voltada
para a mudança de matriz tecnológica. Transformar o Pronaf Jovem
em uma linha de crédito para produção agrícola e não agrícola.

21 Segurança Assegurar, no âmbito das Políticas Públicas de Segurança, prioridade 277


às ações de prevenção, promoção da cidadania e controle social,
reforçando a pratica do policiamento comunitário, priorizando áreas
com altas taxas de violência, promovendo a melhoria da infra-estru-
tura local, adequadas condições de trabalho policial, remuneração
digna e a formação nas áreas de Direitos Humanos e Mediação de
Conflitos, conforme as diretrizes apontadas pelo PRONASCI.

22 Cultura Estabelecimento de cotas de exibição e programação de 50% para 247


a produção cultural Brasileira, sendo 15% produção independente
e 20% produção regional em todos os meios de comunicação (TV
aberta e paga, rádios e cinemas). Valorização dos artistas locais ga-
rantindo a preferência nas apresentações e prioridade no pagamen-
to. Entender os cineclubes como espaços privilegiados de democra-
tização do áudio visual.

(Disponível em http://www.presidencia.gov.br/estrutura_presidencia/sec_geral/Juventude/ acesso em: 20 maio 2008)

PARA DEBATER

?
O que a I Conferência Nacional de Juventude repre-
senta na luta por políticas públicas de juventude, em
particular a do campo?

?
Como você avalia as prioridades estabelecidas em
tal Conferência? Quais os seus argumentos para tal
posicionamento?

?
Alguém da turma participou ou conhece quem par-
ticipou desta Conferência? Se sim, que tal convidar
para uma conversa com a turma?
34

Texto 3

JUVENTUDE, É PRECISO ACREDITAR


Luciano Osmar Menezes

O desenvolvimento de nossa personalidade nativa da crise é tirar o “s” da crise e crie


se dá no conflito e no confronto diário de uma possibilidade fiel e criativa de fazer a
nossas relações intrapessoais e interpessoais mesma coisa de modo diferente de ser mais
tais como: comigo mesmo; com os outros; ousado e empreendedor.
com o mundo e com o Transcendente.
A pós-modernidade nos faz pensar e nos
Devemos descobrir e apontar quais são os organizar para que tenhamos cada vez mais
nossos sonhos, ideais e utopias que carrega- direcionamento vocacional e exige capacita-
mos. Questionarmos em que mundo esta- ção e competência profissional na formação
mos. Darmo-nos conta quais são as razões de valores tanto morais, éticos, estéticos,
concretas de nossas esperanças? Digamos culturais, sociais, econômicos, políticos e
que esse é o primeiro passo para identificar religiosos com argumentos comprometidos
e enfocar os nossos princípios básicos. O coerentes às potencialidades que possuí-
que realmente acreditamos para fazermos a mos e queremos desenvolver, com filosofia
diferença na sociedade. própria de vida e no serviço do resgate da
cidadania.
Não é fácil desenvolver o caminho da cons-
trução do eu, ou seja, de nossa identidade O sistema capitalista está aí com sistema
juvenil. A pergunta que fazemos: qual é o de ideologia própria, total e única com seus
sentido do autoconhecimento? Às vezes con- próprios interesses de apropriação, explora-
fundimos como: uma pessoa, um indivíduo, ção e dominação de tudo e de todos, um só
um cidadão, um sujeito, não sabemos qual “céu” e uma só “terra” tanto dos recursos
é o melhor conceito? Ou tudo é a mesma materiais e humanos, uma dimensão sem
coisa? Será que todos estão comprometidos fronteiras, sem divisões e sem limites, liber-
com a vida do ser humano? dade individual (liberalismo) e sem oposição
ideológica. Seu maior objetivo é formar no
A auto-realização se dá na interação do mundo, um único bloco econômico capitalis-
sujeito e com o objeto. Quanto mais intensi- ta, que todos sejam “iguais” e que na verda-
ficarmos os significados de nossa existência, de alguns são mais “iguais” do que outros.
a experiência do sentido terá mais lucidez e Isso é injustiça e o poder fica na mão apenas
eficácia. de alguns. Onde mais ou menos 20% da
população mundial retêm 80% da riqueza do
Ser jovem hoje exige busca de informação de mundo e sendo que 80% da população têm
tudo o que acontece no mundo pós-moder- 20% da riqueza.
no e globalizado. O grande desafio hoje está
nos valores e estes, estão em crise. A alter- O sistema NEOLIBERAL está aí. Um novo
35

para ratificar o “novo” que vem e pronto. O assessorando-se no intuito de unir forças,
que vamos fazer, juventude !? Nossa atitu- necessidades, desejos, sonhos e esperanças.
de muda o mundo; o modo como vemos o Ninguém é melhor do que todos nós juntos.
mundo é muito mais importante do modo Cativando-se e deixando-se cativar por aque-
do que o mundo é. O mundo vai ser melhor les que nos querem bem e por aqueles que
quando eu for melhor. nos desafiam na oportunidade de crescer. A
nossa missão é estimular outros jovens que
Juventude, a concepção de mundo que eu por vezes perderam os seus referenciais e o
tenho é muito importante. Qual é a sua? O seu sentido de vida. Que todos tenham mais
que fazer? Quais as razões e ações para fazer vida e vida em plenitude.
a diferença? Mudar o sistema não resolve,
fazer revolução não soluciona, derrubamos Pensemos que hoje nós podemos fazer o
o capitalismo e oferecer o que em troca? melhor de nós, para que amanhã ao olhar-
Começarmos de pequeno no exercício par- mos o passado, chegarmos à conclusão de
ticipativo, cooperativo e solidário que seja que a nossa vida realmente valeu a pena ter
um processo democrático que comece na sido vivida. Mas o que fazer para mudar?
família entre pais e filhos, depois para comu- Tomemos hoje a decisão de mudar a nossa
nidade e sociedade. vida. Definir quais são os nossos objetivos,
sonhos mais ardentes, ambições e lutemos
Os jovens sentem-se mais apoiados e segu- por eles. Usemos as ferramentas que temos
ros quando os adultos se dispõem a conver- à mão. Aproveitemos as oportunidades.
sar e a dar conselhos; ficam mais autônomos
quando são chamados a dar opinião sobre [Texto produzido durante o curso de Especialização
em Juventude Contemporânea - Unisinos]
questões importantes; aprendem noções de ( Disponível em: www.casadajuventude.org.br aces-
ética se são incentivados a discutir valores so em: 20 maio 2008)
pessoais; e constroem melhor a própria
identidade quando aprendem sobre tradi-
ções com os mais velhos. Eis uma solução.

Outro desafio é ter uma visão integradora PARA DEBATER


e solidária. Saber organizar e cooperar com
responsabilidade e com comprometimento, • De acordo com o fragmento - “Juventude, a concep-
pensar naquilo que acreditamos e sonha- ção de mundo que eu tenho é muito importante. Qual
mos para a melhor qualidade de vida. Sem é a sua? O que fazer? Quais as razões e ações para
drogas, sem doenças sexualmente trans- fazer a diferença? Mudar o sistema não resolve, fazer
missíveis – aids..., ter saúde física, mental e revolução não soluciona, derrubamos o capitalismo e
espiritual. oferecer o que em troca?” - Luciano Menezes propõe
várias questões. Procure respondê-las individualmen-
O nosso olhar crítico dever ser alargado e te e, em seguida, coletivamente. Registrem as refle-
dizer não para os canais abertos de TV ou xões que considerarem mais importantes.
outros meios de comunicação social, que
incitam os jovens a se tornarem consumido- • Abaixo propomos novas perguntas:
res compulsivos e afetivos- sexuais depen-
dentes.

Que a juventude seja unida nas diversas


? Como a Juventude se manifesta e se organiza em
seu cotidiano?

diferenças culturais e sociais. Pensarmos glo-


balmente e agir localmente. Ter a permanen-
te humildade de nossas convicções e está
? Que ações podem contribuir para efetivação do
direito da Juventude?
36

Texto 4
Foto: Dirceu Tavares.

POLÍTICA TODO MUNDO FAZ

Tem gente que pensa que política é papo careta,


que tem a ver só com o governo e é feita por políti-
Pesquisa sobre políticas públicas com representante da cos profissionais e partidos na época das eleições.
Secretaria de Educação do Estado de Pernambuco. Não é bem assim: a política não está fora de nós.
Foto: Dirceu Tavares. Ela interessa a todos e todas e faz parte do nosso
dia-a-dia. Por exemplo: quando você decide partici-
par de um movimento com objetivo de diminuir o
lixo acumulado nas ruas do seu bairro, querendo ou
não, você está fazendo política. Além disso, quando
falamos bem ou mal do governo, acabamos influen-
ciando a opinião de outras pessoas, que também
tentarão fazer a cabeça de mais gente. Em miúdos:
a todo instante, contribuímos para formar a chama-
da “opinião pública”.

Política é isso: toda atividade que as pessoas prati-


Aluna entrevista Secretário de Educação sobre as políticas cam com objetivo de influenciar os acontecimentos,
públicas do município de Aliança PE. o pensamento e, sobretudo, as decisões da socie-
Foto: Dirceu Tavares. dade em que vivemos. Ela envolve uma tomada de
decisão com objetivo de atender a determinados
interesses. Portanto, duas palavras são chaves para
compreender política: decisão e interesses.

Quem participa da vida de uma comunidade, de
uma cidade, Estado ou país, torna-se sujeito de
suas ações, sendo capaz de fazer críticas, de esco-
lher, de defender seus direitos e de cumprir melhor
os seus deveres também. O exercício da participa-
ção é um dos principais instrumentos na formação
de uma atitude democrática.
(Disponível em: http://www.juventude.gov.br/conferen-
Aluna entrevista Secretário de Educação sobre as políticas
públicas do município de Aliança PE. cia/11_participacao_PB.pdf. Acesso em: 11 mar. 2008)

PARA DEBATER

• O que a política tem a ver com as nossas vidas?

• O que isso tem a ver com ser/ estar sendo cidadão ou cidadã?
37

Texto 5

SECRETARIA NACIONAL DE JUVENTUDE


Atribuições

Vinculada à Secretaria-Geral da Presidência da República, a Secre-


taria Nacional de Juventude (SNJ) foi criada por Medida Provisória
assinada pelo Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em fevereiro de
2005, transformada na Lei 11.129 de 30 de junho de 2005. A SNJ
é responsável por articular os programas e projetos, em âmbito
federal, destinados aos jovens na faixa etária entre 15 e 29 anos;
fomentar a elaboração de políticas públicas para o segmento juvenil
municipal, estadual e federal; interagir com os poderes Judiciário e
Legislativo na construção de políticas amplas; e promover espaços
para que a juventude participe da construção dessas políticas. A
Secretaria também coordena o Programa Nacional de Inclusão de
Jovens (ProJovem).

A SNJ é resultado do Grupo de Trabalho Interministerial, criado pelo


presidente da República em 2004, que reuniu 19 ministérios, reali-
zou um diagnóstico da juventude brasileira e levantou os programas
federais voltados para a população jovem. O grupo, coordenado pela
Secretaria-Geral da Presidência da República, recomendou a criação
da Secretaria, com a missão de articular as políticas e ações existen-
tes, a implantação do Conselho Nacional de Juventude e o desenvol-
vimento do ProJovem.

As competências da SNJ foram definidas pelo Decreto nº 5.364, de


1º de fevereiro de 2005, com as alterações determinadas pelo De-
creto 5.849 de 18 de julho de 2006.

Política Nacional de Juventude

A implantação de uma Política Nacional de Juventude, cujo marco


foi a criação da Secretaria Nacional de Juventude, é fruto da urgên-
cia contemporânea de compreender a juventude como segmento
social específico e o jovem, como sujeito portador de direitos. A
nova visão pressupõe reconhecer que a juventude não é única, mas
sim heterogênea, com características distintas que variam de acor-
do com aspectos sociais, culturais, econômicos, territoriais.
38

O eixo articulador dessa concepção de política pública de juventude é


norteado por duas noções fundamentais: oportunidades e direitos. As
ações e programas do Governo Federal buscam oferecer oportunidades e
garantir direitos dos jovens, para que eles possam resgatar a esperança e
participar da construção da vida cidadã no Brasil.

Oportunidades para adquirir capacidades


Acesso à educação, à qualificação profissional e à cidadania

Oportunidades para utilizar capacidades


Acesso ao mercado de trabalho, ao crédito, à renda, aos esportes, ao
lazer, à cultura e à terra

Garantia de Direitos
Oferta de serviços que garantam a satisfação das necessidades básicas
dos jovens e as condições necessárias para aproveitar as oportunidades
disponíveis

O diagnóstico da juventude brasileira, realizado em 2004 pelo Grupo de


Trabalho Interministerial, orientou a identificação dos principais desafios
para a nova política
39

Conselho Nacional de Juventude - CONJUVE


DEBATER
O Conselho Nacional de Juventude, presidido pela primei-
ra vez por um membro da sociedade civil, foi criado pela
Lei nº 11.129 de 30 de junho de 2005 e tem as atribuições ? Como o poder público
está gerando oportu-
nidades para garantir o
de formular e propor diretrizes da ação governamental
voltada à promoção de políticas públicas para a juven- Direito da Juventude?
tude, fomentar estudos e pesquisas acerca da realidade
sócio-econômica juvenil e fazer o intercâmbio entre as
organizações juvenis nacionais e internacionais. ? Que ações podem
contribuir para
efetivação do Direito da
O Conselho é composto de 1/3 de representantes do Po- Juventude do campo?
der Público e de 2/3 de representantes da sociedade civil.
Ao todo, são 60 membros, 20 do governo federal e 40 da
sociedade civil. A representação do poder público contem-
pla, além da Secretaria Nacional de Juventude, todos os
Ministérios que possuem programas voltados para juven-
tude, a Frente Parlamentar de Políticas para a Juventude
da Câmara dos Deputados, o Fórum Nacional de Gestores
Estaduais de Juventude, e representantes das associações
de Prefeitos. Tal composição atende ao objetivo de trans-
formar a política de juventude numa verdadeira Política
de Estado.

A parcela da sociedade civil, maioria no Conjuve, refle-


te a diversidade de atores sociais que podem contribuir
para o sucesso da Política Nacional de Juventude. Há
representantes dos movimentos juvenis, organizações
não-governamentais, especialistas e personalidades com
reconhecido trabalho voltado para a juventude. O Conse-
lho contempla, ainda, as diversas formas de organização e
participação da juventude brasileira. Do movimento estu-
dantil à rede de jovens ambientalistas, dos trabalhadores
rurais e urbanos aos negros, indígenas e quilombolas, das
mulheres aos empreendedores, do hip-hop aos partici-
pantes de organizações religiosas.

O primeiro Conselho Nacional de Juventude da história re-


publicana coloca o Brasil em sintonia com inúmeros países
da América Latina e da Europa, que há anos vêm desen-
volvendo experiências semelhantes com bastante êxito.
O Conselho servirá, também, como um estímulo à criação
de novos Conselhos Estaduais e Municipais de Juventude,
além de fortalecer os existentes
Disponível em: http://www.presidencia.gov.br/estrutura_presiden-
cia/sec_geral/Juventude/
40

Texto 6


PARA DEBATER

? Quais as políticas públicas exis-


tentes na sua comunidade ou
Estado específicas para os indígenas?

? Como estão sendo efetivadas,


monitoradas e avaliadas?


41

Texto 7
ECOLOGIA, CIDADANIA E ÉTICA
Marina Silva

Vivemos uma era de limites. Dentre seus


primeiros sinais, dois fatos históricos
alteraram sensivelmente nossa visão de
mundo: as bombas atômicas em Hiroshima
e Nagasaki e a constatação do astronauta
russo, Iuri Gagarin, de que “a terra é azul”. A
primeira demonstrou o ponto a que chegou
a capacidade de destruição da tecnologia
humana. A segunda, a noção de integralida-
de, beleza e aparente fragilidade do plane-
ta, cujo destino nos envolve a todos.

A busca de limites que vem caracterizando


essa era nasceu das sucessivas crises civi-
lizatórias, entre as quais a crise ambiental
do século XX, configurada na desordem na
biosfera e decréscimo da qualidade da vida
humana, como resultados de longa, com-
plexa e conflituosa cadeia de relações com o
mundo natural.

Fenômenos como o aquecimento global ou


o buraco na camada de ozônio são auto-ex-
plicativos dessa crise e aumentam a percep-
ção de risco; ele é um elemento estrutural
e cultural da organização social. Apenas o
conhecimento detalhado desses fenôme-
nos, propiciado pelo avanço das ciências,
fez com que fossem reconhecidos como
ameaça a todas as formas de vida no plane-
ta. Em inúmeras outras questões, embora
essa constatação não seja cabal, há indícios
fortes de que devam ser consideradas como
fator potencial de risco relevante.
42

Um exemplo são os organismos geneticamente modifica-


dos (OGMS). Temos insistido que sejam tratado com base
no princípio da precaução, conceito que traduz o cuidado
necessário para prevenir situações possivelmente irrever-
síveis de degradação ambiental e da qualidade da vida
humana. Ele permite sermos pró-ativos nos casos em que
a ciência ainda não alcançou as respostas decisivas, mas
indica probabilidade de dano.

O princípio da precaução não condena tecnologias nem


leva à proibição intolerante de avanços científicos. Apenas
pleiteia ampliar os limites da proteção da vida no planeta.
E, muito claramente, impõe escolhas éticas. Leva o debate
sobre a adoção de práticas e tecnologias para o plano dos
valores morais e humanos e, com isso, cria balizas para os
diversos interesses em confronto. Transforma aquilo que,
aqui e agora, poderia ser apenas objeto de uma decisão
de perdas e ganhos mercantis ou setoriais, numa equação
complexa, onde a perda e o ganho devem ser sopesados
também em outras dimensões, relacionadas ao bem-estar
coletivo atemporal.
43

É muito difícil operar essa polêmica - que impõe limites


em um mundo obcecado pelo desafio de quebrar limites -
se ela não for considerada em sua essência, ou seja, como
questão ética da qual a ninguém é dado fugir.

Esse debate ético no espaço público é fundamental para


enfrentar os dilemas da sociedade de alto risco, que é a
outra face da sociedade do alto conhecimento e da di-
luição de fronteiras. De um ponto de vista filosófico, que
está na base da emergência do ambientalismo, significa
dizer que é preciso dar visibilidade, encontrar lugar para a
preocupação com uma ética para a vida, onde a ciência se
encontra com a espiritualidade, a razão com a emoção e
a compaixão, o interesse individual com o coletivo, emer-
gindo daí um fazer humano imbuído de sentido transcen-
dente, complexidade e diversidade, e não apenas de um
pragmatismo imediatista e embrutecedor.

Há de se reconhecer, contudo, que são enormes os em-


pecilhos para internalizar na sociedade princípios éticos
como o da precaução. No cotidiano, ele está no centro de
uma falsa polêmica, que opõe conservação ambiental a
crescimento e desenvolvimento e atribui à exigência de
cuidados ambientais a responsabilidade por malefícios
e carências sociais gerados, na verdade, pelas mesmas
posturas que destroem o meio ambiente e, com ele, mui-
tas oportunidades sustentáveis de geração de emprego,
renda e vida digna.

Uma pergunta fundamental deve ser feita: que mudanças


implicam a adoção da sustentabilidade socioambiental
como qualidade intrínseca de um novo ciclo de desenvol-
vimento? E se queremos - e acreditamos ser possível - ou-
tro tipo de desenvolvimento, é imperioso reconhecer que,
mais do que características técnicas, seu diferencial será a
ética pública, os limites e as condições por ela colocados.

Poucas vezes a variável socioambiental mereceu tanta


atenção e interesse por parte de segmentos econômicos,
de governo, da sociedade e da mídia como hoje no Bra-
sil. Talvez até certa hostilidade explícita indique avanços,
na medida em que mostraria que está definitivamente
superada a fase do mero discurso sustentabilista descom-
promissado e todos nos vemos diante da inevitabilidade
de materializá-lo em ações, métodos, relações, políticas.
44

É este o momento em que o único caminho é consolidar a


operação daquilo que se afirma no discurso. É o momen-
to de levar a sério. É o momento da ética essencial como
fonte de mudança de processos e comportamentos.

A nova política ambiental integrada, que busca articular


as políticas do Governo Federal em todas as áreas, passa
um novo sinal para a sociedade: a dimensão socioambien-
tal não pode ser e não será mais atropelada. Outro sinal
refere-se ao rigor e à eficiência nas ações de comando e
controle, especialmente quanto aos ilícitos. Ambos trazem
subjacente a decisão de enfrentar a discussão sobre a ne-
cessidade de políticas ambientais coerentes e informadas
pela ética pública.

A crise da sustentabilidade e as respostas da sociedade


brasileira e dos governos vêm-se construindo ao longo dos
últimos trinta anos. Da prioridade absoluta para as ações
de comando e controle chegamos à participação social e
governança como eixos indissociáveis em uma concep-
ção socioambientalista de políticas públicas. Sentimo-nos
parte dessa trajetória e estamos dispostos a fazer o nosso
papel. Essa é a premissa do diálogo e ela não tem volta.

(SILVA, Marina. Ecologia, cidadania e ética. In: PINSKY, Jaime (Org.).


Práticas de cidadania. São Paulo: Contexto, 2004)

PARA DEBATER]

• No texto Cidadania, Ecologia e Ética, de autoria de Marina Silva, encontramos o


seguinte trecho:
“É preciso dar visibilidade, encontrar lugar para a preocupação com uma ética para
a vida, onde a ciência se encontra com a espiritualidade, a razão com a emoção e a
compaixão, o interesse individual com o coletivo, emergindo daí um fazer humano
imbuído de sentido transcendente, complexidade e diversidade, e não apenas de um
pragmatismo imediatista e embrutecedor”.

• Perguntamos:
- Qual a sua opinião a respeito do fragmento acima?
- No atual contexto da Agricultura Familiar no Brasil, quais os principais desafios (éti-
cos, por exemplo) que enfrentam os agricultores e agricultoras?
- O que pode ser feito para superar esses desafios?
45

Texto 8
A NECESSIDADE DE COOPERAÇÃO NA PRODUÇÃO ECOLÓGICA
Carlos Neudi Finkler

tecnológico da agricultura capitalista, mas


os camponeses e camponesas para a Via
Campesina não devem ser apenas produto-
res, cumprem o papel de ser protagonistas
na luta pelas mudanças sociais nas suas
comunidades. Além de produzir, têm a
necessidade de ajudar fazer lutas políticas,
as mobilizações contra as transacionais
que implantam as políticas do império no
campo.

Produzir no campo, comercializar direta-


mente com os trabalhadores das cidades
e lutar, exige um grau de consciência e
um grau de organização maior do que ser
O objetivo deste texto é provocar para que apenas produtor. A cooperação agrícola
na discussão entre os camponeses e as na produção ecológica ao lado da soli-
camponesas se discuta a questão da coo- dariedade transforma-se também num
peração agrícola entre as famílias e pesso- elemento da cultura dos camponeses da
as que no seu dia-a-dia fazem a produção Via Campesina.
ecológica nas suas unidades de produção e
em suas comunidades. A cooperação é um meio necessário para a
adequação de tecnologias que sejam pro-
Também queremos chamar a atenção de dutivas, mas que causem menor impacto
técnicos, agentes comunitários e princi- destrutivo no ambiente.
palmente de militantes e dirigentes dos
movimentos sociais que compõem a Via A cooperação agrícola cria as possibilidades
Campesina para a necessidade de provocar de desenvolver a biodiversidade nas co-
essa discussão em seus respectivos mo- munidades de forma a não absorver todo
vimentos como uma forma de organizar o tempo de trabalho dos camponeses e
os produtores ecológicos para a produção camponesas.
ecológica e fortalecendo assim a organiza-
ção da Via Campesina. A cooperação cria condições para uma me-
lhor planificação da produção dos grupos
Para a Via Campesina, a produção eco- de produtores possibilitando para a aproxi-
lógica é uma questão estratégica, pois é mação da cultura agrícola do terreno mais
o enfrentamento local contra o modelo apropriado para ela.
46

A cooperação cria possibilidades para quisadores do passado. Para Adam Smith,


realizar a troca de sementes, produtos “o TRABALHO é o pai de todas as riquezas”.
ecológicos, animais, entre os próprios
camponeses e camponesas e mesmo entre Para Karl Marx, “o TRABALHO é o pai das
camponeses e operários ou trabalhadores riquezas e a TERRA a mãe de todas as ri-
urbanos de cidades próximas sem envolver quezas”. Podemos observar que TRABALHO
dinheiro nessas operações. Isto é impor- e TERRA são elementos centrais na preocu-
tante porque incentiva os trabalhadores pação de Marx, e para o debate hoje. Nas
urbanos a também se organizarem para nossas organizações se faz necessário ler-
poder ter acesso aos produtos ecológi- mos os escritos clássicos para embasarmos
cos vindo das comunidades, associações nossas lutas de enfrentamento contra o
cooperativas, etc, dos camponeses. Para imperialismo e suas empresas globalizadas.
trabalhadores urbanos e camponeses é
importante porque para ambos cria-se a [...] “Na agricultura moderna capitalista, do
possibilidade de conseguir produtos que mesmo modo que na indústria das cidades,
suas famílias necessitam sem que para isso o crescimento da produtividade e o rendi-
seja necessário o uso de dinheiro. mento superior do trabalho compram-se
ao preço da destruição e do esgotamento
Tanto camponeses como operários, para da força de trabalho. Por outro lado, cada
viver, necessitam mais de produtos do que progresso da agricultura capitalista é um
de dinheiro. Os camponeses e campone- progresso não somente da arte de despojar
sas vendem seus produtos por dinheiro, o solo. A produção capitalista não desen-
compram outros produtos que sua famí- volve portanto a técnica e a combinação
lia necessita. Enquanto o trabalhador e a do processo de produção social se não pelo
trabalhadora da cidade vendem sua força esgotamento simultâneo de suas fontes
de trabalho em troca de salário e com o donde jorra toda a riqueza: a terra e o
dinheiro do salário compram produtos que trabalhador” (Lênin, As três fontes e as três
sua família necessita. É por isso que essa partes constitutivas do Marxismo).
aliança entre camponeses e operários pode
ser concretizada por essa intercooperação. A agroecologia é uma ciência que impõe
o estudo para a elaboração de uma nova
A cooperação agrícola é a organização forma de organizar a economia do país de
do trabalho nos processos de produção uma maneira que atenda as necessidades
ecológica. Isso requer maior atenção e de toda a população sem a exploração do
estudo dos pesquisadores e dos militantes trabalho, sem a concentração de riquezas
e dirigentes, porque na produção ecológica e da terra e sem centralização dos ramos
não se busca o lucro como único fim, mas de produção, brecando a destruição dos
busca-se a satisfação das necessidades dos recursos naturais do planeta TERRA.
trabalhadores.
(FINKLER, Carlos Neudi. A necessidade de coopera-
ção na produção ecológica. In: Jornada de Agroe-
Na produção de bens que satisfazem as cologia: a organização camponesa reconstruindo o
necessidades reais não se pode esgotar a sustento da vida e a transformação da sociedade.
fonte dos recursos naturais e nem a ex- 5º. Encontro Estadual – Paraná, 2006.
ploração do trabalho alheio, como faz o ( Disponível em: www.jornadadeagroecologia.com.
capitalismo, como já identificaram os pes- br acesso em: 28 maio 2008)
47

PARA DEBATER

• O texto A necessidade de cooperação na produção ecológica, Carlos


Neudi Finkler diz, explicitamente, querer atingir dois objetivos:

a) “provocar para que na discussão entre os camponeses e as campone-


sas se discuta a questão da cooperação agrícola entre as famílias e pes-
soas que no seu dia-a-dia fazem a produção ecológica nas suas unidades
de produção e em suas comunidades”.

b) “Chamar a atenção de técnicos, agentes comunitários e principalmen-


te de militantes e dirigentes dos movimentos sociais que compõem a
Via Campesina para a necessidade de provocar essa discussão em seus
respectivos movimentos como uma forma de organizar os produtores
ecológicos para a produção ecológica e fortalecendo assim a organiza-
ção da Via Campesina”.

Perguntamos:

• De que maneira o (re) conhecimento da organização e atuação das


Organizações e dos Movimentos Sociais poderão nos ajudar a concretizar
os objetivos acima postos?

• O texto em questão é resultante da Jornada de Agroecologia: a orga-


nização camponesa reconstruindo o sustento da vida e a transformação
da sociedade. 5º. Encontro Estadual – Paraná, 2006.

- O que você sabe sobre a Agroecologia?

- Como essa ciência pode contribuir com a Agricultura Familiar


fundada numa ética para vida no planeta?

• Reflita, discuta e posicione-se frente à seguinte afirmativa:

“Os camponeses e camponesas para a Via Campesina não devem ser


apenas produtores, cumprem o papel de ser protagonistas na luta pelas
mudanças sociais nas suas comunidades. Além de produzir, têm a necessi-
dade de ajudar fazer lutas políticas, as mobilizações contra as transnacio-
nais que implantam as políticas do império no campo” (FINKLER, 2006).
48

Texto 9

PARA DEBATER

• O que o cartaz retrata?

• Há alguma semelhan-
ça com o seu cotidiano?
Quais?

• O que você consegue


conhece sobre A Nova
Legislação Brasileira de
Sementes e Mudas?

A LEI DE SEMENTES E MUDAS NO BRASIL: Lei 10.711/03

Até 2003, a lei brasileira de sementes dizia que pra ser semente, tinha
que ser desenvolvida em centro de pesquisa e ser registrada, certificada
e tudo mais. A semente da paixão (jeito que o povo da Paraíba arrumou
de chamar a sementes dos (as) agricultores (as), as sementes locais) não
tinha valor pela lei. Por isso que, quando a prefeitura ou o governo do
estado ia doar semente, tinha que ser dessa semente de fora. Mas agora
a lei mudou, foi aprovada a nova Lei de Sementes e Mudas no Brasil. Na
verdade, a nova lei trouxe quatro melhorias pra nós:

Primeiro, a nova lei reconhece que a semente da paixão também é se-


mente. Segundo, a lei diz que os (as) agricultores (as) familiares não preci-
sam de registro no Ministério da Agricultura pra poderem produzir se-
mentes ou mudas. Pode produzir, distribuir, trocar e até vender sementes
e mudas, tudo sem registro. Só que neste caso só pode trocar ou vender
pra gente da agricultura familiar.
49

Se quiser vender no mercado formal, na casa agropecuária, por exemplo,


aí vai precisar do registro de produtor de sementes ou de mudas, no Mi-
nistério da Agricultura.

A terceira é sobre o registro da própria semente. A semente pra vender


no mercado formal tem que ser registrada no Registro Nacional de Cul-
tivares. Mas a lei diz que a semente crioula (como eles chamam lá no
Sul), não precisa desse registro. Diz que é proibido excluir as sementes
ou mudas crioulas dos programas de financiamento, ou dos programas
públicos de distribuição ou troca de sementes. Eles podem até continuar
distribuindo semente registrada. Mas não venham dizer que é porque a
nossa semente não serve. Pela lei, do mesmo jeito que ele pode distribuir
a semente registrada, ele pode distribuir a semente da paixão. Aí agora
vai depender é da gente, de pressionar os prefeitos, governadores e até o
governo federal, mostrando que se quiserem ajudar a gente, que valori-

Saberes da Terra do Maranhão, tecnologia


com alta empregabilidade, baixo custo e
impacto ambiental.

Sementeira do Saberes da Terra, Maranhão.


50

zem a nossa semente. Pela nova Lei de Sementes e Mudas, ninguém pode
proibir um agricultor (a) familiar de produzir e vender suas sementes
locais para outros agricultores as familiares, inclusive nas feiras.

Além disso, não existe mais nenhum impedimento para as prefeituras e


os governos usarem sementes locais nos seus programas de distribuição
ou troca-troca de sementes.

E pela nova lei, o governo não pode mais excluir as sementes crioulas
dos programas de financiamento. É preciso dizer que, se a produção de
mudas para o mercado informal da agricultura familiar e camponesa ficou
mais fácil, a produção de mudas registradas ficou quase impossível!
As novas exigências para a produção comercial de mudas para o mercado
formal são tão complexas, que podemos de antemão dizer que agricul-
tores (as) familiares e suas organizações terão extrema dificuldade para
entrar ou continuar neste ramo.

Mesmo assim, vale dizer que existem algumas normas que ainda estão
sendo elaboradas pelo governo. Ou seja, ainda existe algum espaço para
as organizações camponesas tentarem influenciar.

A nova Lei de Sementes e Mudas criou as Comissões de Sementes e Mu-


das, em todos os estados. Estas Comissões devem ser ouvidas na hora de
se elaborar uma nova norma para a produção de mudas.

E a Lei também diz que as organizações da agricultura familiar têm direito


de participar dessas Comissões. É muito importante que as organizações

Saberes da Terra Maranhão.


51

camponesas e da agroecologia comecem a participar das Comissões de


Sementes e Mudas. É a melhor maneira de evitar a criação de regras que
venham a prejudicar os agricultores e o desenvolvimento do seu trabalho.

De onde vêm as leis de sementes e mudas?

Há muito tempo atrás nem existia esse negócio de lei de sementes e de


mudas. Cada um produzia sua semente, plantava, trocava, vendia... não
tinha complicação.

Foi assim até mais ou menos 1950, por aí. Daí em diante, os países ricos
começaram a inventar esse negócio de que semente precisa de lei. Eles
diziam que era preciso criar normas pra garantir que os agricultores (as)
iam ter acesso a sementes e mudas de boa qualidade, pra poder aumen-
tar a produtividade da agricultura e a oferta de alimentos. E mais ou me-
nos entre 1960 e 1980 os países ricos começaram a pressionar os outros
pra fazerem a mesma coisa. Foi um festival de criação de leis de sementes
pelo mundo todo.

Mas será que precisa mesmo de Lei pra a semente ter qualidade?

Aí é que são elas... Isso era mais uma desculpa pra favorecer as grandes
empresas dos Estados Unidos e da Europa. O que aconteceu é que com
essas leis ficou determinado que pra ser semente, só se fosse material
desenvolvido pelos especialistas, ou das empresas ou dos centros de pes-
quisa. Já as sementes crioulas, ou locais, ou da paixão, que os agricultores
(as) cultivam, cruzam, adaptam para as suas necessidades, essas, de acor-
do com as leis, deixaram de ser semente. As leis diziam que eram apenas
grãos e que não serviam pra plantar. Foi assim na maioria dos países.

Aqui no Brasil também foi assim. Mas, felizmente, por aqui esta história já
começou a mudar. A nova Lei de Sementes e Mudas, aprovada em 2003,
já reconhece a semente crioula, produzida pelos agricultores familiares, e
estabelece regras diferenciadas para ela.

(Disponível em: www.planalto.gov.br Acesso em: 18 jun 2008)

PARA DEBATER

?

Em sua comunidade, como é denominada a “semente da paixão” ?
Qual o significado do nome para a comunidade?

? Em que medida a Lei de Sementes e Mudas no Brasil (Lei 10.711/03)


contribui para a organização e melhoria da qualidade de vida dos (as)
Agricultoras (es) Familiares?
52

Texto 10
DESSALINIZAÇÃO DRIBLA
A ESCASSEZ DE ÁGUA E RENDA
NO SERTÃO NORDESTINO - PA
Seridó
Ministério do Desenvolvimento Agrário / Incra

O dia começa bem cedo no sertão do Rio Grande do


Norte. Às 5h30 da manhã, o sol já vai alto no horizonte.
No Projeto de Assentamento (PA) Seridó, no município de
São José do Seridó, a 240 quilômetros da capital do esta-
do, a movimentação dos agricultores começa ainda antes
da alvorada. A partir das 4h, homens e mulheres buscam
água na caixa de abastecimento local, com capacidade
para armazenar cinco mil litros. Nem o vento, que entre os
meses de agosto e outubro deixa as noites e madrugadas
levemente frias, amolece nesse instante os assentados
sertanejos, acostumados com as adversidades climáticas
do Semi-árido nordestino. Essa é a região com o menor
volume de chuvas do Brasil. No PA Seridó, eles protagoni-
zam uma solução-modelo para enfrentar a seca. Ali, a água
retirada do subsolo, a uma profundidade de 22 metros,
é imprópria para o consumo. Antes de ser utilizada pelos
assentados, passa pela dessalinização por osmose inversa
(veja infográfico). Por meio desse processo, é possível reti-
rar o excesso de sal que deixa o líquido salobro. “Antes de
termos o dessalinizador, tínhamos de andar cinco quilôme-
tros até o açude Cajazeira”, lembra o agricultor João Qui-
rino Dantas, 47 anos, presidente da Associação dos Pais
do PA Seridó, sem nostalgia desse passado. Seu Quirino,
como é conhecido, vive no local há 17 anos. Ele conta que
a máquina dessalinizadora chegou ao PA na década de 90
– a criação do assentamento pelo Incra ocorreu em 1989.
Desde 2006, no entanto, é que esses assentados passaram
a capitanear um sistema de reutilização dos resíduos da
água dessalinizada. E tornaram-se agentes de uma trans-
formação no PA.
53

Peixes e erva-sal Projeto auto-sustentável

No PA Seridó, o dessalinizador funciona A criação de tilápias e o cultivo de erva-


em dias alternados, durante quatro horas. sal, além de servirem para a destinação
Esse tempo é suficiente para abastecer sustentável dos resíduos da dessalinização,
a caixa que armazena o precioso líquido também representam incremento de renda
para o povo sertanejo. O processo de para o PA Seridó. O dinheiro obtido com a
dessalinização deixa 30% da água em con- venda do peixe é dividido em três partes
dições ideais para o consumo. O restante, –25% são repartidos igualmente entre as
uma solução com alta concentração de três famílias de assentados que trabalham
sal, é impróprio para o ser humano. Esse no projeto; outra quota de 25% é fraciona-
resíduo, que antes era deixado no meio da entre as três associações existentes no
ambiente, é agora aproveitado na criação assentamento, uma de pais, uma de mães
de tilápias, uma espécie de peixe, e na e outra de jovens. Os 50% restantes são
irrigação da erva-sal. A planta (Atriplex depositados numa conta bancária. O valor
nummularia), nativa da Índia, tem capa- economizado é utilizado na manutenção
cidade de se desenvolver retirando o sal do projeto. De olho no futuro, Seu Quirino
de soluções salobras. Posteriormente, a já está poupando para fazer com que o
erva-sal ainda é usada na fabricação de projeto seja auto-sustentável. O assentado
feno, que serve para alimentar a criação de explica que o primeiro ano de existência
ovinos e caprinos. O assentamento conta do projeto é todo financiado pelo Gover-
com dois tanques de tilápias, onde foram no Federal. A partir do segundo ano, os
colocados 1,4 mil alevinos. São seis meses agricultores começam a dividir as despesas
até que os peixes fiquem prontos para o e, do quarto ano em diante, assumem todo
abate. Já a área cultivada com erva-sal é o custeio.
de sete mil metros quadrados e abriga 864
pés da planta. A erva-sal pode ser podada
de quatro em quatro meses.
54

Experiência empolgante Redução de gastos

Durante a Semana Santa de 2007, os as- De acordo com Baltazar Gomes de Oliveira,
sentados venderam as suas primeiras tilá- técnico agrícola do Incra, a erva-sal tem
pias. Foram comercializados 777 quilos do em sua constituição até 18% de proteína.
peixe em São José do Seridó e em outros “O capim-elefante, um dos mais usados na
municípios vizinhos ao assentamento. Em região para alimentar o gado, tem cerca de
média, cada quilo saiu a R$ 4, o que resul- 10%”, compara. Esse sistema de reapro-
tou em mais de R$ 3 mil. Enquanto isso, veitamento ainda diminuiu o gasto com a
a primeira poda da erva-sal, ocorrida na mão-de-obra para eliminar os resíduos da
mesma época, rendeu 2,3 quilos. As folhas dessalinização da água. “Antes, nós gastá-
da planta foram processadas na picotadei- vamos R$ 700 por ano para desocupar os
ra e secadas ao sol. O feno obtido é mis- tanques que recebiam a solução salobra
turado a um pouco de capim e servido ao resultante da dessalinização”, contabiliza
rebanho de cabras e ovelhas do PA. O novo Seu Quirino. “Além disso, o cultivo da plan-
alimento ainda não está servindo a todo ta indiana é bastante econômico. Em um
o gado bovino por que os animais preci- ano, só precisou de duas adubações”. Para
sam passar por uma fase de adaptação. agregar valor à venda do peixe, os assen-
Nesse período, bois e vacas recebem uma tados recebem orientações sobre como
ração misturada à erva-sal. Cícero Martins retirar o filé de tilápia, fabricar lingüiça e
da Costa, chamado pelos assentados de inclusive hambúrguer. Tudo isso, além de
Nanã, fez o teste durante dois meses com aprender a utilizar o óleo, as vísceras e o
um touro pequeno: “Depois de 60 dias, couro na produção de sabão, adubo orgâni-
o ‘toureco’ estava com 235 quilos, 65 a co e artesanato. O treinamento é realizado
mais do que quando é alimentado com o pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro
concentrado de proteínas, vitaminas e sais e Pequenas Empresas (Sebrae). “Quere-
minerais normalmente utilizado”, conta, mos continuar com o projeto. Hoje temos
empolgado. água e fonte de renda extra para o PA. Se
pararmos, prejudicaremos a comunidade”,
reflete Seu Quirino.
55

Preocupação com emprego Educação em foco

Encravado no sertão potiguar, o PA Seridó Para propiciar educação formal e um


tem área total de 1,9 mil hectares. Cada futuro melhor para esses jovens, no assen-
uma das 63 famílias assentadas dispõe de tamento há creche, escola de primeira à
lotes de 18 hectares para trabalhar indivi- quarta série e atendimento médico-odon-
dualmente. Elas também contam com uma tológico. Os moradores também contam
área coletiva de 12,6 hectares. O sistema com um espaço de uso coletivo, que abri-
de criação de tilápias e cultivo de erva-sal ga a biblioteca rural Arca das Letras (um
ocupa dois hectares. A principal fonte de programa do MDA), sala para aulas de
renda das famílias tem sido a criação de alfabetização de jovens e adultos. A estru-
bovinos, ovinos e caprinos para a produção tura educacional inclui uma sala equipada
de leite. De janeiro a maio, período chu- com computadores e impressora para o
voso no Semi-árido, o rebanho do assen- curso de informática e um mini-auditório
tamento chega a produzir 1,3 mil litros de para a realização de palestras e reuniões.
leite por dia. Preocupados em melhorar a O Sebrae ainda é responsável por um curso
renda das famílias e gerar emprego para os de higiene e qualidade no processamento
jovens, os assentados têm procurado esta- e conservação do pescado, ministrado aos
belecer parcerias para cursos de formação assentados. A conscientização ambiental,
com diversos órgãos governamentais, não- nesse contexto, avança. Um grupo de 10
governamentais e também com empresas pessoas do assentamento trabalha num
privadas. Júlio César Santos Sousa, 30 anos, projeto de reciclagem de lixo. Elas fazem a
da Associação de Jovens local, diz que das seleção de material plástico, como garrafas
cerca de 380 pessoas que moram no PA e sacolas. O produto da seleção é levado
Seridó, 192 têm entre sete e 32 anos. para uma empresa, em Caicó, responsável
pelo seu processamento, e cada assentado
envolvido nesse projeto obtém uma renda
extra de cerca de um salário mínimo por
quinzena.
56

Como funciona o programa Água Doce PARA DEBATER

O dessalinizador instalado no PA Seridó é o ponto


de partida de um complexo produtivo. O equipa-
mento visa garantir a saúde dos assentados com
? Que notícias o texto traz
sobre o acesso e manejo
dos Recursos Hídricos na
água própria para consumo humano e, ainda, ajudar Agricultura Familiar, a partir
a ampliar a renda com os complexos de produção do Projeto de Assentamento
paralelos. A instalação do dessalinizador em comu- (AP) - Seridó, no município
nidades rurais faz parte do Programa Água Doce, de- de São José do Seridó, no
senvolvido pelo Governo Federal e coordenado pelo Rio Grande do Norte?
Ministério do Meio Ambiente (MMA). O programa
conta com a participação de diversos outros órgãos
federais, entre eles, o Ministério do Desenvolvimen-
to Agrário, Incra, Fundação Banco do Brasil, Banco
? E em seu estabelecimen-
to familiar, assentamen-
to ou comunidade como é a
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social captação, armazenamento e
(BNDES), Petrobras e o Programa de Revitalização o manejo da água?
do São Francisco, por intermédio da Companhia de
Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Par-
naíba (Codevasf). Uma das formas de se alcançar os
resultados no Semi-árido é aproveitar a água subter-
? Quais as implicações das
formas de utilização da
água para a produção da
rânea da região, conhecida por sua alta salinidade. Agricultura Familiar?
Segundo o engenheiro agrônomo Everaldo Rocha
Porto, pesquisador da Empresa Brasileira de Pesqui-
sa Agropecuária (Embrapa) Semi-árido, a dessalini-
zação é muitas vezes a única alternativa para obten-
? Na sua localidade quais
as discussões e proble-
mas enfrentados em relação
ção de água potável. “A qualidade é garantida, pois à água na perspectiva da
a porosidade da membrana do dessalinizador não construção da sustentabi-
permite nem a passagem dos vírus, que são corpos lidade da Agricultura Fami-
muito pequenos”, explica. Porto é também coorde- liar?
nador de Unidades Demonstrativas do Programa
Água Doce. “Se comparado ao abastecimento pelo
caminhão pipa, o sistema de dessalinização da água
fica bem mais barato”.
? Quais as semelhanças
e diferenças existentes
entre o manejo dos recursos
hídricos da sua comunidade
(BRASIL. Revista Terra da Gente: Publicação Especial do e do sistema de dessaliniza-
Ministério do Desenvolvimento Agrário/ Incra, outubro 2007,
p. 28-33) ção da água no AP – Seridó.

? Na sua região, quais são


os problemas relacio-
nados à disponibilidade e
condições das águas?
57

Texto 11
A HISTÓRIA DOS MOVIMENTOS SOCIAIS NO CAMPO
Leonildes Servollo de Medeiros
Ligas Camponesas de Pernambuco.

A disputa pela representação


dos trabalhadores rurais
e a emergência do sindicalismo

A continuidade e acirramento dos conflitos


no campo vieram acompanhados tam-
bém pela intensificação da disputa pela
representação dos trabalhadores rurais. Se
durante os anos 50 essa disputa não era
muito visível e configurava quase que uma
divisão regional entre as forças políticas
diversas, ela já ficou clara por ocasião do
Congresso de Belo Horizonte, quando as
Ligas Camponesas e a União dos Lavra-
dores e Trabalhadores Agrícolas do Brasil positivos militares”, em alguns pontos do
- ULTAB, aparecendo como porta-vozes país: Goiás, Bahia, Paraná, Acre, e outros.
das reivindicações que os conflitos carre- Francisco Julião, por seu lado, contrário à
gavam, lutavam por impor às organizações tese das guerrilhas, tentou unificar nova-
de trabalhadores suas palavras de ordem. mente a direção, mas sem sucesso. A partir
A partir desse evento, a bandeira das Ligas daí, isoladas politicamente e tendo que
Camponesas impôs-se ao chamado mo- enfrentar novos adversários (a organização
vimento camponês. No entanto, é difícil dos trabalhadores pela Igreja e a ação do
afirmar que essas organizações detiveram Estado), as Ligas só mantiveram sua força
realmente a hegemonia no campo nos nos estados de Pernambuco e Paraíba,
anos 1962 e 1963. onde sua organização estava profunda-
mente encravada nas lutas dos trabalhado-
A Crise das Ligas Camponesas res. No entanto, mesmo aí, encontraram
uma concorrência acirrada com o PCB e
A partir de 1961, é possível falar que as a Igreja. Exemplo típico foi o da Paraíba,
Ligas Camponesas, enquanto organização, onde, após a morte de João Pedro Teixeira,
entraram em crise interna. Fruto da re- que se deu justamente no momento em
flexão sobre a experiência cubana, parte que a crise das Ligas começava a se explici-
de sua direção, tendo à frente Clodomir tar, a Liga de Sapé, considerada a maior do
Moraes, incorporou as teses da guerra Brasil, tornou-se objeto de disputa acirrada
de guerrilhas e da impossibilidade de entre os julianistas, representados pela
transformações sociais e políticas pela via viúva de João Pedro, Elizabeth Teixeira, e
pacífica. Esse setor iria procurar instalar as lideranças vinculadas ao PCB, como é o
campos de treinamento, os chamados “dis- caso de Assis Lemos.
58

17ª Romaria da Terra e das Águas


de Santa Catarina, em Itaiópolis,
site do CPT

A partir daí, o SAR desencadeou uma in-


tensa campanha de sindicalização, utilizan-
do-se da rede de emissoras controladas
pela Igreja e dos párocos locais. Convoca-
vam os trabalhadores para reuniões, onde
a equipe de sindicalização os esclarecia so-
bre os seus direitos através de uma cartilha
especialmente elaborada para tal.

Do Rio Grande do Norte, a experiência es-


tendeu-se para outros estados do Nordeste
Igreja Entra Em Campo: através dos serviços de assessoramentos
Novas Forças Disputam vinculados aos secretariados de ação social
As Organizações das dioceses. Em 1961 surgiram o Serviço
de Orientação Rural de Pernambuco, a
O crescimento das organizações de tra- Equipe de Sindicalizaçao Rural da Paraíba e
balhadores correspondeu também a um a Equipe de Sindicalizaçao da Secretaria de
período em que a Igreja se tornava mais Planejamento da Arquidiocese de Teresina,
sensível para os problemas sociais, ao no Piauí. No ano seguinte, foi criado o Ser-
mesmo tempo em que se preocupava com viço de Orientação Rural de Alagoas.
o avanço das forças de esquerda, o “perigo
comunista”, no campo. Mas o trabalho da Igreja não se resumiu a
esses estados. Em 1961 foi criado o MEB
A Igreja na sindicalização rural (Movimento de Educação de Base), por de-
creto do governo federal. Através de esco-
Se durante toda a década de 50 é possível las radiofônicas e orientado pela Confede-
perceber em documentos eclesiais e em en- ração Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB,
contros episcopais uma crescente preocupa- esse órgão passou a ser um impulsionador
2
Sobre o trabalho ção com a situação dos trabalhadores rurais da sindicalização em diversos outros locais,
do SAR cf. CRUZ, e com as “estruturas sociais injustas”, é por especialmente em Sergipe, Maranhão e
Dalcy da Silva. A
redenção necessá- volta de 1960 que a Igreja se voltou para um Bahia, onde sua atuação foi mais direta.
ria (igreja católica
e sindicalismo ru-
trabalho organizativo e mobilizador. Neste Em alguns Estados eram os Círculos Ope-
ral-1960-1964). ano, o SAR2 (Serviço de Assistência Rural rários que estimulavam a sindicalização:
Campina Grande,
UFPB.1982, mi- do Rio Grande do Norte) criou um setor de São Paulo e Rio de Janeiro. Em outros
meo. Tese de mes- sindicalização rural que passou a mobilizar ainda eram as Frentes Agrárias, como no
trado. CC. também
CALAZANS, Maria e formar líderes sindicais e dar orientações Rio Grande do Sul. Em diversos locais se
Julieta C. Os tra- sobre a formação de sindicatos. Embora não articulava a ação de organismos de Igreja
balhadores rurais
e a sindicalização houvesse regulamentação legal para tanto, distintos, como foi o caso da Paraíba, onde
- uma prática. Rio
de Janeiro, 1983,
a Igreja também se juntou às forças que pas- a sustentação da equipe de sindicalização
mimeo. saram a pressionar o Estado para obtê-la. era dada pelos Círculos Operários.
59

Nesse emaranhado de organismos, havia


uma orientação comum, dada pela CNBB,
que era a de criação de um sindicalismo
cristão, afastado das lutas de classe, mas
defensor dos direitos dos trabalhadores
e de uma reforma agrária, baseada na
propriedade familiar. Tendo como objetivo
central o combate ao comunismo, a CNBB
defendia a extensão dessa sindicalizaçao “a
todos os centros rurais, sobretudo quando A prioridade que essa organização definiu
agitados por reivindicações justas, mas para sua ação dizia respeito à organização
conduzidas por segundas intenções”. Essa de operários e camponeses baseados nas

x
orientação, todavia era mediatizada pelo “exigências concretos das massas”. É com
tipo de concepção da Igreja local, que aca- essa perspectiva que ela se voltou para o
trabalho de sindicalização rural, tendo por

xJUC
bava por impor sua marca à organização
emergente. Assim, é difícil falar em homo- horizonte a construção de uma nova so-

xJUC
geneidade de linha de ação nessas entida- ciedade, de perfil socialista. Dentro dessa

x x
des criadas a partir da ação eclesial. visão entrou na disputa da representação

xJEC
dos trabalhadores rurais, não só com seto-

JUCxxJEC
JUC JEC
JEC
res considerados conservadores da Igreja

JEC
(os vinculados à hierarquia católica), mas

xx
JUC também com o PCB.

xx
A Criação da Contag_
O aparecimento da Ação Popular
Com a regulamentação, em 1962, da sindi-
Dentro dessa experiência surgiu ainda

x
calização rural, instituiu-se uma verdadeira
uma divergência mais profunda e de maior
corrida entre as diferentes forças políticas
repercussão, que envolveu a Ação Católica
que lutavam no campo em busca do reco-
Brasileira, através de seus segmentos JUC
nhecimento de “seus” sindicatos. Como a
e JEC (Juventude Universitária Católica e
legislação só permitia a existência de um
Juventude Estudantil Católica). Enquanto
sindicato em cada município, tratava-se de
organização de leigos, essas entidades
conseguir a carta sindical o mais rapida-
tinham certo grau de autonomia quanto à
mente possível, quer através do pronto en-
orientação da hierarquia da Igreja3, o que
caminhamento da documentação necessá-
lhes permitiu um engajamento nas lutas
ria ao Ministério do Trabalho, quer através
que se verificavam muitas vezes com orien-
de barganhas e pressões no interior da
tação distinta, colocando-se ao lado dos
Comissão Nacional de Sindicalização Rural.
que defendiam transformações radicais na
3
Sobre os pro-
nunciamentos da
estrutura social. Tiveram um peso muito
Igreja nesse perío- grande na ação do MEB, do qual constitu-
do, cf. CARVALHO,
Abdias Virar. A íam os principais quadros. Entrando em
iqreja católica e a conflito com a hierarquia da Igreja, setores
questão agrária.
In: PArVA, Vanilda. da Ação Católica criaram uma organização
Igreja e questão propriamente política, a Ação Popular, que
agrária. São Paulo:
Lovola. 1985. já nasceu em âmbito quase que nacional.
60

1964 Contag 1964


Em muitas áreas já existiam associações ou
então sindicatos que funcionavam sem re-
conhecimento. Tratava-se de legalizar sua
26 federações com direito a voto. Delas,
dez seguiam a orientação do PCB, oito da
Ação Popular - AP, seis eram vinculadas aos
grupos cristãos do Nordeste e duas colo-
cavam-se numa posição de “independen-
situação. Em outras, o sindicato era cria- tes”. Claramente a correlação de forças no
do independentemente da existência de interior da disputa pelo controle do poder
organizações anteriores ou da mobilização sindical havia se alterado.
dos trabalhadores. Como o controle sobre
um grande número de entidades também Apesar da diversidade presente, conse-
garantiria o controle sobre a federação a guiu-se chegar a um acordo, para uma
ser criada em nível estadual e como esse chapa única, onde o PCB tinha dois cargos
mecanismo se repetiria para a direção da chaves: o presidente (Lindolfo Silva) e o te-
confederação, em âmbito nacional, é fácil soureiro (Nestor Veras) e a AP, o secretário
perceber o interesse das forças políticas (Sebastião Lourenço de Lima).
em terem em suas mãos o maior número
possível de sindicatos. Reconhecida em Janeiro de 1964, a Contag
assumiu dois compromissos básicos: a luta
pelo reforço e ampliação dos sindicatos,
É sempre necessário ressaltar, todavia, que, na bem como da unidade do movimento e a
maior parte das vezes, os trabalhadores pas- encampação das resoluções do Congresso
savam ao largo dessa disputa, que se dava ao de Belo Horizonte.
nível das direções, chegando mesmo a fre-
qüentar mais de uma organização. Dois meses depois sobreveio o golpe
militar e alteraram-se os rumos das lutas
Com a realização em julho de 1963, em trabalhadoras e do sindicalismo rural.
Natal, da I Convenção Brasileira de Sindica-
tos Rurais, acelerou-se a competição. Nela, Um Balanço
com representação majoritária nordestina
e dos sindicatos vinculados à Igreja, discu- A riqueza do período que se encerra com o
tiu-se a necessidade de fundação de uma golpe militar foi enorme. Foi nele que se de-
confederação sindical. Três meses depois, senvolveram as primeiras experiências mais
as federações cristãs de Sergipe, Pernam- abrangentes de organização dos trabalhado-
buco e Rio Grande do Norte reuniram-se e res do campo e em que, através de um com-
encaminharam ao Ministério do Trabalho a plexo processo político, suas reivindicações
documentação necessária. imediatas se articularam com demandas am-
plas que colocavam em questão determina-
No entanto, essa confederação não foi das formas de exercício do poder, das quais o
reconhecida. Considerando que havia latifúndio era o maior símbolo. Evidentemen-
muitos processos de federações aguardan- te, isso foi produto de uma conjuntura muito
do reconhecimento (eram 19), a Comissão particular, ligada ao desenvolvimentismo, ao
Nacional de Sindicalização Rural - Consir populismo, ao crescimento do movimento
impôs nova fundação, convocando-a para operário e cuja multiplicidade de dimensões
o final do ano. Nesse momento, já havia não podemos desenvolver aqui.
61

Neste momento, antes de prosseguirmos para Mesmo no que se refere à forma de orga-
verificar o que se passou com as lutas dos tra- nização, se Julião4 freqüentemente alertava
balhadores rurais após 1964, queremos apenas para o fato de que “Goulart. . . compreen-
salientar alguns pontos, que chamam a atenção deu que só havia uma maneira de frear o
num balanço final do período. impulso do homem do campo: sindicalizá-lo
para submetê-lo ao controle do próprio
governo”, nem por isso deixou de recomen-
O primeiro aspecto a ser ressaltado é a dar a sindicalização. No célebre documento
enorme diversidade dos trabalhadores que Bença-mãe, datado de 1962, insistia que
se mobilizavam, colocando-a numa plurali- onde houvesse uma Liga se criasse um
dade de inserções no processo de produção sindicato e onde houvesse um sindicato
e de condições de vida. Essa diversidade se criasse uma Liga. Colocava-se, então, a
revela também uma grande amplitude geo- questão muito mais de disputar uma dada
gráfica, mostrando que, se os conflitos que orientação política do que de negar um ins-
eclodiram nos anos 50/60 tornaram-se mais trumento de organização que, de resto, se
intensos e ganharam maior visibilidade em generalizava, com o apoio do Estado.
determinadas áreas, como é o caso do Nor-
deste, nem por isso podem ser vistos como Um outro exemplo significativo é o da
um problema exclusivamente regional. Eles greve geral de Pernambuco, onde parti-
desvendaram questões estruturais não só ciparam Ligas, sindicatos “dos padres” e
de caráter econômico, mas também político, comunistas, numa aliança conjuntural.
que foram sintetizadas pela figura do latifún-
dio. Mais do que uma grande propriedade, Na história brasileira, as Ligas Camponesas
tecnicamente atrasada, pouco produtiva, ela firmaram uma imagem de radicalidade e
passou a simbolizar uma determinada forma de ação fora dos limites institucionais. No
de exercício do poder. entanto, grande parte de sua trajetória foi
marcada pela defesa dos trabalhadores na
A constituição dos trabalhadores rurais justiça, usando o instrumental legal exis-
como atores políticos implicou na pre- tente. Isso não as impedia de romper com
sença, no campo, de diversas forças que uma determinada ordem, quando levavam
buscavam representá-las e articulá-las a um os tradicionais senhores aos tribunais ou
projeto de sociedade que ultrapassava seus transformavam as praças em locais de suas
interesses mais imediatos. manifestações. É somente no seu período
final que as Ligas partiram para ações do
No entanto, apesar de ao nível das pro- tipo ocupação de terra, em Pernambuco e
postas políticas mais gerais, haver grandes na Paraíba.
divergências, é possível se pensar que
em nível das lutas mais imediatas havia Ao mesmo tempo, ações armadas e ocupa-
uma certa dose de convergência e muitos ções de terra ocorreram também em confli-
consensos. Assim, a necessidade de se tos onde a direção era do PCB. Os casos que
4
Cf. JULlÃO, Fran- lutar por uma legislação trabalhista, pelo expusemos anteriormente, de Formoso e
cisco. Cambão, la
otra cara de Brasil.
direito de livre organização, por alterações das lutas na Baixada da Guanabara, são bas-
México: Sigla na estrutura agrária era encarecida pelas tante ilustrativos. Talvez o caso do Imbé seja
Veinteuno, ed.,
1968, p. 180. diversas forças presentes. ainda mais significativo, visto que ele foi
62

apontado pela imprensa comunista como certos ganhos, foi a sua capacidade de
um exemplo a ser seguido no campo. fazer alianças e garantir apoios com outros
grupos sociais, partidos etc., quer a nível
Mesmo as entidades vinculadas à Igreja local, estadual ou federal. Nesses casos,
não puderam deixar de acompanhar pala- configuraram-se determinadas conjunturas
vras de ordem que permeavam os conflitos em que os governos tiveram que mediar
e tiveram que se envolver na defesa dos as lutas e tentar soluções. Foi o caso de di-
direitos, tal como compreendidos na época versas desapropriações de terra, titulações
e, embora sem orientar ações do tipo ocu- em favor de posseiros e vitórias grevistas.
pações, engajaram-se na luta pela reforma
agrária. Se nesse processo foi possível conseguir
inclusive a aprovação, pelo Congresso
Finalmente, as questões estratégicas eram Nacional, do Estatuto do Trabalhador
debatidas fundamentalmente em nível das Rural, o que se evidenciou foi, por outro
direções. Os conflitos eram movidos por lado, o fracasso das tentativas de constru-
reivindicações de caráter mais imediato: ção de canais institucionais para o enca-
a conquista de uma determinada terra, minhamento da questão da propriedade
do direito a nela permanecer, de direito a fundiária. Embora fosse grande a mobili-
férias, a salário mínimo, a se livrar do jugo zação dos trabalhadores rurais e tivesse se
dos proprietários expresso, por exemplo, constituído um consenso nacional sobre
no cambão. É nesse plano que muitas a necessidade de superar o suposto atra-
vezes as lutas se radicalizavam e ultrapas- so da agricultura, a força da propriedade
savam uma orientação inicialmente dada, territorial se impôs, impedindo qualquer
pois era aí que se davam os confrontos alteração que ameaçasse o direito pleno
diretos, a violência. de propriedade.

Outro aspecto a ser ressaltado e que indica (Texto extraído do Caderno 6 – Cidadania, Organi-
zação Social e Políticas Públicas – Saberes da Terra:
como muitas vezes os conflitos consegui-
Paraná, 2007)
ram maior projeção e, em alguns casos,

PARA DEBATER

? Que movimentos históricos ocorridos no Brasil


contribuíram para o processo de emancipação dos
povos do campo?

? Qual o papel das Organizações e Movimentos So-


ciais nas ações emancipatórias no que diz respeito à
luta pela terra?

? Na sua região, quais as lutas mais marcantes? Quais


são as organizações e os movimentos existentes?
63

Texto 12
CARTA DOS TRABALHADORES GAÚCHOS DE
EMPREENDIMENTOS DE ECONOMIA POPULAR SOLIDÁRIA
Centro de Educação Popular

Nós trabalhadoras e trabalhadores da chos e que nosso movimento significa uma


Economia Popular Solidária do Estado do alternativa concreta e viável de uma outra
Rio Grande do Sul, reunidos na Escola José economia, que não pretende amenizar as
César de Mesquita, na Cidade de Porto duras conseqüências do sistema capitalis-
Alegre, nos dias 12 e 13 de junho de 2004, ta, mas ser uma alternativa autônoma e
vimos a público manifestar as seguintes emancipatória.
questões:
3. Entendemos que buscamos alternativas
1. Somos homens e mulheres que lutam para solucionar um conjunto de limites
e trabalham na perspectiva de construir- colocados aos empreendimentos como
mos uma nova sociedade, baseada em o acesso ao crédito e ao financiamento,
novas relações econômicas, tendo como uma legislação facilitadora das atividades
referências a solidariedade, a igualdade de produtivas autogestionárias, a formação
oportunidades para todos, com participa- continuada para a qualificação produtiva,
ção, transparência, democracia e o acesso de gestão e de afirmação de princípios e
ao fruto do nosso trabalho, colocando em valores, as alternativas para a comercializa-
prática no nosso cotidiano que um outro ção com base na lógica solidária, do comér-
mundo é possível. cio justo, do consumo ético. Estas reivindi-
cações, assim como o acesso à terra pelos
2. Neste I Encontro de Trabalhadores e Tra- trabalhadores rurais, o direito ao trabalho
balhadoras de Empreendimentos da Eco- a todos os trabalhadores das cidades, são
nomia Popular Solidária, que aqui ocorre fundamentais para a afirmação e a conso-
assim como outros encontros nos demais lidação desta nova economia centrada na
estados do país, somos neste evento 374 valorização do trabalho humano, que para
trabalhadores e 140 empreendimentos nós é princípio e ponto de partida, e não
do meio urbano e rural, dos setores da meio ou instrumento a serviço de poucos
produção agrícola, da agroindústria, da ou a serviço da exploração.
pesca, da agricultura familiar, da confecção
e vestuário, do artesanato, da reciclagem 4. Entendemos que devemos construir de
de resíduos sólidos, do metal-mecânico, forma unificada no país estratégias que
da alimentação, da prestação de serviços, sensibilizem e desafiem a sociedade para o
dos movimentos sociais (rurais e urbanos), compromisso de consolidar esta alternati-
temos a certeza que representamos uma va, pois temos a certeza de que é com esta
expressiva parcela dos trabalhadores gaú- nova consciência que seremos capazes de
64

incluir pelo trabalho os milhares de brasi- PARA DEBATER


leiras e brasileiros que hoje vivem margi-

?
nalizados. Quais são os principais desafios que
enfrentam os agricultores e agricul-
5. Da mesma forma, queremos desafiar toras no atual contexto da Agricultura
os governos a dar prioridade a ações de Familiar no Brasil?
afirmação da economia popular solidária,

?
através de políticas públicas objetivas, que O que pode ser feito para superar
ao destinarem recursos orçamentários con- esses desafios?
sistentes, constituam instrumentos perma-
nentes de apoio e fortalecimento da EPS. • Analise, discuta e se posicione, a partir
do seguinte fragmento da Carta dos tra-
6. As trabalhadoras e trabalhadores gaú- balhadores gaúchos de empreendimen-
chos da EPS reunidos neste encontro vêem tos de economia popular solidária:
no 5º FSM (Fórum Social Mundial) um
momento importante para a afirmação po-
“Entendemos que buscamos alternativas
lítica e econômica da economia solidária,
para solucionar um conjunto de limites
para o qual estaremos empenhados em
colocados aos empreendimentos como
construir todas as ações que se fizerem ne-
cessárias, como a organização dos debates, o acesso ao crédito e ao financiamento,
a produção e comercialização em redes, a uma legislação facilitadora das ativi-
mostra de nossa produção, as rodadas de dades produtivas autogestionárias, a
negócios de comércio justo, entre outras. formação continuada para a qualificação
produtiva, de gestão e de afirmação de
7. Reafirmamos a importância do Fórum princípios e valores, as alternativas para
Estadual de EPS, bem como das demais for- a comercialização com base na lógica
mas de articulação setorial e regional, para solidária, do comércio justo, do consumo
o fortalecimento e a organização da econo- ético. Estas reivindicações, assim como o
mia popular solidária no Rio Grande do Sul. acesso à terra pelos trabalhadores rurais,
o direito ao trabalho a todos os traba-
8. Com estas certezas e esperanças, as lhadores das cidades, são fundamentais
trabalhadoras e trabalhadores aqui reuni-
para a afirmação e a consolidação desta
dos convocam todos aqueles lutadores e
nova economia centrada na valorização
lutadoras de um outro mundo a participa-
do trabalho humano, que para nós é
rem ativamente do I Encontro Nacional de
Empreendimentos de Economia Popular princípio e ponto de partida, e não meio
Solidária que se realizará em Brasília, pois ou instrumento a serviço de poucos ou a
sabemos da importância deste ato na serviço da exploração” .
organização dos trabalhadores autogestio-
nários do Brasil.

Porto Alegre, 13 de junho de 2004.


(Disponível em: http://www.camp.org.br/noticias2.
htm - Acesso em: 06 mai 2008)
65 Foto: Dirceu Tavares.

Texto 13
Arruado de casas na Usina Aliança PE.

AFINAL, QUAL É O PAPEL DO CONSELHO MUNICIPAL


DE DESENVOLVIMENTO RURAL (CMDR)?

Há pelo menos duas visões distintas quanto ao papel que deveria ser
cumprido pelos Conselhos Municipais de Desenvolvimento Rural.

A concepção mais tradicional vê nos Conselhos apenas um instrumento


através do qual os agricultores fazem a orientação e a fiscalização dos
investimentos realizados através do Pronaf Infra-estrutura e serviços. Seu
papel seria, aqui, o de fazer com que os recursos cheguem ao seu fim sem
desvios e com algum grau de envolvimento da população beneficiária.

De outro lado, algumas concepções mais recentes têm destacado que os


processos de desenvolvimento rural precisam incorporar outras dimensões:
é necessário ir além dos investimentos em infra-estrutura, é necessário ir
além dos limites do município.

Estas concepções realçam três aspectos importantes para se pensar o


desenvolvimento rural:

Primeiro, que o desenvolvimento rural não se restringe ao fortalecimento


da agricultura. As regiões rurais mais dinâmicas são justamente aquelas
que conseguem alcançar um maior grau de diversificação das economias
66

locais, integrando diferentes setores, fortalecendo a malha de relações Mesmo com es-
econômicas e sociais do território, e não somente de um setor econômico sas dificuldades,
(a agricultura). alguns CMDR têm
conseguido ir além
Segundo, que o desenvolvimento rural não se restringe aos limites de um e superar alguns
município. É cada vez mais difícil que um pequeno município, sozinho, desses limites,
consiga mobilizar as energias necessárias e estabelecer as condições para como se verá mais
encontrar o caminho do desenvolvimento. Ao contrário, a cada dia cresce adiante.
a importância das articulações intermunicipais, dos consórcios de municí-
pios, complementando esforços e iniciativas.
Terceiro, que há uma crescente importância da dimensão institucional do PARA DEBATER
desenvolvimento rural. Isto é, que as regiões rurais que conseguem se
desenvolver são aquelas que criam as instituições capazes de mobilizar
e de sustentar relações estáveis e de colaboração entre um conjunto de
agentes deste território, de formar pactos em torno dos destinos destes
? Qual a concepção
de desenvolvimento
rural que você defende?
espaços.
Os CMDR são um tipo de instituição que deveria estar atuando no de-
senvolvimento dos territórios, articulando as forças locais nessa direção.
Porém, o que se observa é que a maior parte dos Conselhos atua segundo
? O papel que o Con-
selho de desenvol-
vimento rural do seu
aquela concepção mais tradicional, fazendo apenas a gerência dos recur- município tem desempe-
sos do Pronaf Infra-estrutura. nhado é compatível com
essa visão?
Isso se deve à concepção dos agentes, ainda muito presas aos limites da
agricultura e do município, mas se deve também aos próprios marcos ins-
titucionais e legais que regem a constituição e funcionamento dos CMDR:
se espera que eles atuem na promoção do desenvolvimento, mas as nor-
mas que Ihe regulamentam se restringem apenas à gestão dos recursos
do Pronaf/lnfra-estrutura.
O resultado é uma falha institucional: o conjunto de agentes espera dos
CMDR que atuem na sensibilização e na articulação das forças vivas do
território visando a promoção do desenvolvimento, mas, por outro lado,
não lhes são dadas as condições e as competências para isso.
67

Constituição, Funcionamento e o Alcance das Ações


dos Conselhos Municipais de Desenvolvimento Rural

Apesar desse predomínio, o envolvimento das organizações dos


agricultores também tem sido expressivo. Em quase todos os lugares
tem sido respeitada a indicação de que ao menos 50% dos membros
sejam agricultores (as), o que confere aos CMDR um grau razoável de
representatividade e legitimidade.

O processo de escolha desses representantes tem acontecido princi-


palmente de duas formas: com a realização de reuniões nas comuni-
dades, onde são indicados os nomes; ou a indicação por intermédio
das entidades dos agricultores (sindicatos, associações e cooperativas).
Essas indicações, em geral, têm que ser submetidas ao prefeito muni-
cipal, que é quem nomeia os conselheiros. Na maior parte dos casos
os prefeitos têm ratificado as indicações das comunidades e organiza-
ções de agricultores. Por esse motivo, o processo de constituição dos
CMDR, mesmo com esses problemas, foi avaliado positivamente por
75% das pessoas entrevistadas na pesquisa.

O funcionamento dos Periodicidade e Rotatividade


CMDR regulamentação
Em 71 % dos municípios o
Apesar de serem constituídos Em 73% dos municípios visitados mandato dos conselheiros é de
às pressas e com um peso de- pela pesquisa os CMDR se reú- até dois anos, ocorrendo, no
terminante do Executivo Mu- nem com periodicidade mensal. curto prazo, um pequeno grau
nicipal, os CMDR nascem com E em 90% dos municípios foi de renovação. Esse quadro se
alguma legitimidade e, com o criada alguma lei municipal de altera em função da continui-
passar do tempo, em vários lu- regulamentação da existência dos dade ou não do grupo político
gares eles conseguem adquirir CMDR. É verdade que muitas ve- que está à frente do Executivo
vida. É o que se pode observar zes a pauta dessas reuniões fica Municipal, a cada quatro anos,
pelos elementos destacados a restrita à gestão do Pronaf/lnfra- portanto: quando muda o gru-
seguir: estrutura. E é verdade também po político, mudam os mem-
que essa regulamentação muni- bros indicados pelo Executivo
cipal dos CMDR é, em boa parte Municipal, quando o grupo
dos casos, uma adaptação local político se mantém, o grau de
da disposição federal que orienta renovação é menor.
a formação desses Conselhos.
Mas mesmo assim são importan-
tes indicadores de que há uma
institucionalização e uma regula-
ridade no seu funcionamento.
68

Estrutura de apoio Relação com Outras Caráter das Dificuldades


Instituições Locais
Ao contrário do que seria de se 70% dos Conselhos visitados
imaginar, a maioria dos CMDR con- A Relação entre os CMDR pela pesquisa têm caráter deli-
ta com algum tipo de estrutura - e outros conselhos é muito berativo. Mesmo considerando
sede, assistência técnica ou veículo pequena. Quando acontece, que este poder só se aplica à
- para a realização do seu trabalho. ela em geral se restringe à gestão do Pronaf/lnfra-estrutu-
Em geral trata-se de uma estrutu- participação de uma mesma ra, é um forte indicativo de que
ra cedida por algum dos agentes pessoa em vários conselhos. A os CMDR são vistos como uma
locais e raramente de estrutura relação entre os CMDR e ou- instância com poder de decisão,
própria. Mas ela é considerada tras instituições que dele não e não como algo meramente
suficiente por quase metade dos fazem parte já é maior, mas na figurativo.
entrevistados da pesquisa. maioria dos casos trata-se de
instituições tradicionalmente
ligadas a agricultura - raramen-
Capacitação te se mantém relações com
universidades e centros de pes-
50% dos entrevistados na pesqui- quisa, ou com organizações dos
sa da Plural souberam da oferta setores comercial ou industrial.
de cursos no ultimo período. Mas As relações entre os CMDR e
apenas 36% dos entrevistados os demais municípios de uma
participaram de alguma atividade mesma região também pratica-
no ano de 2000. mente inexiste.

O alcance das ações dos Conselhos

Na quase totalidade dos CMDR os assuntos que Mas essas formas de consulta são insuficientes
são discutidos se referem aos Planos Municipais para identificar corretamente e em profundidade
de Desenvolvimento Rural. os problemas e as potencialidades dos espaços
rurais. Para isso seria preciso um tempo maior de
Se por um lado isso é positivo, à medida que se estudos, consultas mais sistemáticas às comunida-
espera que o conjunto de problemas e demandas des e a estudiosos.
dos municípios seja pensado de maneira articu-
lada, num Plano de Desenvolvimento, por outro O resultado é que os planos acabam refletindo
lado é preciso reconhecer que esses planos não uma visão muito superficial e restrita dos muni-
têm conseguido absorver de maneira consistente cípios. Como conseqüência, as ações desenca-
esse conjunto de problemas e demandas. deadas a partir deles também ficam restritas às
proposições tradicionais dos agentes: se reproduz
Em boa parte dos casos os planos são feitos de aqui àqueles limites de se pensar o desenvolvi-
maneira muito rápida e mesmo apressada. Na mento apenas nos marcos da agricultura, do mu-
maior parte dos casos, a elaboração dos planos se nicípio, e de maneira reativa ao entendimento que
dá a partir de consultas às comunidades e organi- os próprios agentes têm dos problemas.
zações ou então a partir de diagnósticos rápidos,
o que já é importante, à medida que envolve os Além disso, em apenas 20% dos municípios são rea-
agricultores (as) e agentes locais. lizadas ações de monitoramento e de avaliação dos
resultados obtidos com os investimentos realizados.
69

PARA DEBATER O próximo quadro traz os principais pontos negati-


vos na experiência dos CMDR, segundo as opiniões

? No seu Município, como se deu o processo de


constituição do CMDR?
dos conselheiros.

AGRICULTORES PODER PÚBLICO

? Como aconteceu a elaboração do Plano?


1) Os problemas de
relação existentes
1) O funcionamento
dos Conselhos
entre o Conselho e
O que os agricultores (as) e o poder públi- o Executivo Municipal
co pensam sobre os Conselhos?
2) As dificuldades 2) As limitações
A visão dos principais segmentos ouvidos sobre de funcionamento do Pronaf para
a atuação dos CMDR, não difere muito uma da dos Conselhos a promoção do de-
outra. senvolvimento rural

Quando indagados sobre os principais pontos posi- 3) Os seus limites de 3) A capacitação


tivos na experiência dos CMDR, os conselheiros atribuições e competên- dos membros dos
representantes dos agricultores e do poder públi- cias Conselhos
co apontaram os fatores expressos no quadro a 4) A pouca capacitação
seguir (conforme a ordem de maiores citações): dos membros do CMDR

AGRICULTORES PODER PUBLICO Quando indagados sobre o que pode ser feito para
melhorar a atuação dos Conselhos, tanto os repre-
1) A Democratização 1) A democratização
sentantes dos agricultores (as) quanto os represen-
2) A viabilização 2) A viabilização tantes do Poder Público Municipal indicaram:
de obras e serviços de obras I) investir na capacitação dos conselheiros;
2) ter mais participação dos agricultores.
3) O desenvolvimento 3) A melhoria da renda
do município e da qualidade de vida É preciso notar, no entanto, que em relação à ca-
pacitação, o número de pessoas que tem participa-
4) A melhoria 4) O desenvolvimento do das ações de formação tem sido relativamente
da qualidade de vida do município baixo (aproximadamente 1/3 dos conselheiros). E
e de renda
vimos também que o percentual mínimo de repre-
5) O fortalecimento da sentação dos agricultores /as tem sido respeitado.
agricultura familiar
Será que não é preciso inovar mais nas alternativas
para tentar superar os atuais limites dos CMDR?

PARA DEBATER

? Os principais pontos positivos e negativos do CMDR do seu muni-


cípio coincidem com os citados no texto?

? Existem outros?

? Quais os maiores desafios do CMDR do seu município?


70

Os CMDR podem ser agrupados em três diferen- estrutura, temos então que reconhecer que os
tes situações: sucessos alcançados são significativos.
1) Há Conselhos que têm vida, que conseguem
atuar articulando as forças locais na promoção • Os problemas existentes na atuação dos CMDR
do desenvolvimento; são, portanto, de duas ordens. Primeiro, aspec-
2) Há Conselhos que funcionam apenas para tos operacionais, como a forma de definição dos
o cumprimento das exigências burocráticas e municípios, ou as atribuições excessivamente
formais previstas na regulamentação dos CMDR; restritas ao Pronaf/lnfra-estrutura. Segundo,
esses Conselhos atuam somente para garantir o problemas propriamente institucionais, como o
acesso e a gestão dos recursos do Pronaf/ Infra- isolamento do Pronaf em relação a outras políti-
estrutura; cas, ou a concepção de desenvolvimento que em
3) Há Conselhos muito fracos, que não conse- geral não ultrapassa os limites da agricultura e
guem cumprir nem mesmo as exigências buro- do município.
cráticas e formais. O fundamental, portanto, é que em cada mu-
nicípio os agentes locais consigam contornar e
A maior parte dos CMDR está na segunda situ- superar esses limites.
ação - a dos Conselhos que têm uma atuação
meramente burocrática, formal. Para isso, o caminho a ser percorrido passa
por:
Apenas um pequeno número consegue ter mais • ampliar a esfera de atuação do CMDR para
sucesso e efetivamente promover o desenvolvi- além do Pronaf/ Infra-estrutura;
mento rural.
• trabalhar relações mais contratualizadas entre
E um número ainda menor se encontra na tercei- os agentes (qual o papel de cada um, o que se
ra situação - a dos que têm um funcionamento espera das ações ali definidas);
bastante sofrível.
• procurar estabelecer mecanismos permanen-
Esse diagnóstico pode levar a algumas con- tes de consulta, articulação e monitoramento
siderações: daquilo que se planeja no CMDR;
• Mesmo não sendo maioria, os casos em que
os CMDR conseguem atuar articulando as forças • pensar o desenvolvimento rural como algo que
vivas de um território mostram que os problemas sempre vai além dos limites da agricultura e do
e limites existentes podem ser superados. O pa- município.
pel de instituição que promove o desenvolvimen-
to rural pode ser desempenhado pelos CMDR. PARA DEBATER
Importantes experiências têm demonstrado isso.

• Quanto a maioria dos CMDR, o fato de ater-se


às exigências burocrático-formais certamente re-
? Você concorda com as conclusões apontadas
pelo texto?

presenta um limite, sobretudo se considerarmos


tudo aquilo que se espera desses Conselhos. Mas
mesmo com esse limite, num país como o Brasil,
? Em qual das três situações indicadas o CMDR
do seu município poderia ser incluído?

com pouca tradição de participação das popula-


ções que são alvo de programas públicos em sua
gestão, isso não é pouca coisa. Se compreender-
? O que você pensa que poderia ser feito para
que as ações do Conselho consigam potenciali-
zar o desenvolvimento do município?
mos que todas as normas que levaram à criação
dos Conselhos e orientam seu funcionamento, (Texto extraído do Caderno 6 – Cidadania, Organização So-
limitam-se à gestão dos recursos do Pronaf/lnfra- cial e Políticas Públicas – Saberes da Terra: Paraná, 2007)
71

Texto 14
Ilustraçoes Henrique Koblitz

O 1º DE MAIO- DIA DE LUTA

Dia do Trabalhador. NÃO é dia memória; uma distorção lenta,


do trabalho. É do TRABALHA- subliminar, pois executada
DOR. A diferença é muito gran- não só pelos setores mais
de, diferença política, não de reacionários da sociedade,
grafia. mas muitas vezes por partidos
O dia 1o de maio é feriado inter- de esquerda e por lideranças
nacional. É dia de luta e luto em sindicais.
vários países do mundo, dia de
lembrar dos trabalhadores ope- Para muitos o Primeiro de
rários de Chicago que foram as- Maio é dia de show e de
sassinados por reivindicar uma sorteio de prêmios, e durante
jornada de trabalho de 8 horas essa manifestação, ninguém
diárias. Dia de lembrar que os fala de exploração, organi-
setores privilegiados se utilizam zação, luta, ninguém fala da
de mecanismos variados para história que originou o feriado.
preservar suas benesses.

É preciso estarmos constante-


mente preocupados em preser-
var nossa memória, a memória
social, a nossa história. Nesse
caso a necessidade é maior
ainda, uma vez que existe, há
muito tempo, um movimento
deliberado para distorcer essa
72

Operários” (1933), de Tarsila do Amaral

As Origens sufrágio universal, igualdade dos distritos


eleitorais, supressão do censo, eleições
“Declaramos que a limitação da jornada de anuais, voto secreto, pagamento aos depu-
trabalho é a condição prévia, sem a qual tados do Parlamento.
todas as demais aspirações de emancipa-
ção sofrerão inevitavelmente um fracasso” Desde a década de 30 os cartistas fizeram
conquistas consideráveis para a classe
Esta frase é de Karl Marx, “pai” do socia- operária como: 1º lei de proteção ao
lismo científico, quando da fundação da trabalho infantil (1833), lei de imprensa
Associação Internacional dos Trabalhado- (1836), reforma do Código Penal (1837),
res em 1866. regulamentação do trabalho feminino e
Há pelo menos duas décadas os trabalha- infantil (1842), lei de supressão dos direi-
dores europeus se organizavam e lutavam tos sobre os cereais e lei permitindo as
por reivindicações trabalhistas. associações políticas (1846), lei da jorna-
da de trabalho de 10 horas (1847).
As primeiras e mais importantes lutas ope-
rárias se desenvolveram na Inglaterra, a Em 1842, auge do movimento, foi feita
partir do início do século 19, primeiro com uma petição que exigia o sufrágio universal
o movimento Ludista e posteriormente e a resolução de problemas econômicos.
com o movimento cartista, reunindo várias Apesar dos 3 milhões de assinaturas que
categorias profissionais e transformando a acompanhavam, a petição foi recusada
a luta por reivindicações econômicas em pelo Parlamento.
lutas políticas. Foi nesse contexto que se
desenvolveram os primeiros sindicatos e Em 1848, organizou-se nova manifestação
a primeira Federação de Trabalhadores de apoio à petição, com 5 milhões de assi-
Ingleses. naturas. Londres foi ocupada pelo exército,
que impediu a manifestação. No entanto,
O “cartismo” nasceu em 1837, quando foi até o ano de 1858 vários movimentos gre-
redigida a “Carta ao Povo”, documento vistas serviram para organizar e dar maior
que continha seis pontos de reivindicação: consciência à classe operária inglesa.
73

O ano de 1848 foi importante não só na aparecimento de forma independente, com


Inglaterra, mas em vários países do mun- suas próprias reivindicações e formas de
do, marcado por uma onda revolucionária organização.
conhecida como a “Primavera dos Povos”.
Na França a Revolução de 1848 foi um
Normalmente o movimento de 1848 é momento de importante ascensão e organi-
apresentado sob a ótica das idéias liberais e zação independente da classe operária, seu
nacionalistas, particularmente nas regiões apogeu ocorreu quando do movimento co-
italianas e alemãs. Porém, como justificar nhecido como “Comuna de Paris” em 1871,
então o nome dado ao movimento? Essa porém não só o movimento operário inglês
situação é bastante desigual nos países e francês estava em ascensão, em outros
europeus. Se, é verdade que o sentimen- países europeus e também nos EUA surgiam
to nacionalista predomina na Alemanha e movimentos de trabalhadores, principal-
Itália, e que a burguesia lidera o movimento mente imigrantes, que viviam em condições
contra os governos absolutistas, a classe de superexploração.
operária, mesmo de forma incipiente faz seu
1º de Maio

O 1º. de Maio à lei, o fim do trabalho infantil e, princi-


palmente, a redução da jornada para oito
As origens do 1° de maio se relacionam horas diárias e quatro horas aos domingos.
com a proposta dos trabalhadores orga-
nizados na Associação Internacional dos Na segunda metade do século 19 a organi-
Trabalhadores (AIT) de declarar um dia de zação sindical conheceu aumento expres-
luta pelas oito horas de trabalho. Também sivo e se processou de forma autônoma,
conhecida como “Primeira internacional”, independente do Estado e muitas vezes,
foi fundada em Londres, sob influência contra o Estado. A proposta das 8 horas de
das idéias de Karl Marx. Porém foram os jornada máxima, tornou-se um dos obje-
acontecimentos de Chicago, de 1886, que tivos centrais das lutas operárias, e se tor-
vieram a dar-lhe o seu definitivo significa- nou o eixo principal de reivindicação dos
do de dia internacional de luta dos traba- trabalhadores, tema de maior destaque
lhadores. na imprensa alternativa que se desenvol-
veu, formando a cultura operária durante
Nos Estados Unidos a classe operária era décadas em que foi importante fator de
formada principalmente por imigrantes mobilização. Ao mesmo tempo a luta pela
europeus, alemães, tchecos, irlandeses e redução da jornada de trabalho foi respon-
de outras nacionalidades. A exploração do sável por violenta repressão e marcada por
trabalho operário soma-se à exploração prisões e morte de trabalhadores.
do imigrante, daquele que é considerado
um não cidadão e, portanto, sem qualquer Apesar da pressão de governo e patrões,
tipo de direitos. Foram essas condições foi criada, nos Estados Unidos, em 1885, a
que estimularam o desenvolvimento do Federação dos Grêmios e Sindicatos Ope-
movimento sindical no país. Grande parte rários, comandada por lideranças operárias
dos operários era influenciada pelos ideais inspiradas por idéias anarquistas ou socia-
socialista ou anarquista. listas. Sua primeira resolução foi convocar
uma greve geral em todo o país para o dia
As incipientes organizações operárias pas- 1º de maio de 1886, tendo como eixo a re-
saram a reivindicar dos patrões o respeito dução da jornada de trabalho. Em diversas
74

Imagem de August Spies

cidades dos EUA a paralisação, principalmente na


região nordeste, reuniu milhares de trabalhadores
e foi acompanhada por comícios, sendo alvo da
repressão policial.

Em Chicago a adesão à proposta da Federação foi


massiva e cerca de 400 mil operários das fábricas
cruzaram os braços. Aparentemente surpreendi-
dos patrões e governo deixaram que o movimento
transcorresse pacificamente. A repressão se ini-
ciou no dia seguinte e a partir de então foi marca-
da por fortes conflitos envolvendo a polícia, capan-
gas de empresas e a própria justiça de Estado.

No dia 2 de maio, domingo, a polícia entrou em


Imagem de Adolf Fischer choque com os grevistas numa pequena cidade
vizinha de Chicago, deixando um saldo de nove
mortos.

No dia 3, os grevistas dirigiram-se à fábrica Mac-


Cormick, a única indústria da região que funciona-
va, pois os trabalhadores haviam sido demitidos
e substituídos por desempregados fura-greves.
Além disso, os empresários haviam contratado 300
agentes da Pinkerton para protegê-la. Os trabalha-
dores reagiram fazendo comícios do lado de fora
dos portões, e mais uma vez houve confronto com
a polícia, que disparou, provocando seis mortos e
uma centena de feridos.

Ao mesmo tempo em que aumentava a repressão,


aumentava o vigor da greve e o estado de âni-
mo dos trabalhadores. Um dos líderes da greve,
o anarquista August Spies, convocou para o dia
seguinte, dia 4 de maio, um ato público contra a
repressão policial na Praça do Mercado de Feno,
centro de Chicago, que reuniu cerca de 15 mil
pessoas e foi cercada pela polícia, fortemente
armada. Quando o último orador, Samuel Fielden,
iniciava seu discurso, o chefe de polícia exigiu que
ele descesse do palanque e enquanto discutiam,
uma bomba explodiu entre os policiais, matando
oito homens. A polícia revidou, abrindo fogo e
provocando a tragédia: 80 operários foram assas-
sinados e mais de uma centena ficou ferida no
massacre de Chicago.
75

A (in) Justiça PARA DEBATER

Vários manifestantes, mas em especial os lideres • Em que medida o (re) co-


da greve e organizadores do comício foram presos. nhecimento da historicidade
O processo, reconhecido posteriormente como da luta dos trabalhadores e
uma grande farsa pela própria justiça estaduniden- trabalhadoras pela efetivação
se, voltou-se contra os militantes anarquistas Au- da democracia, contribui na
gust Spies, Adolf Fischer, Luis Lingg, Albert Parsons, organização de ações coleti-
George Engel, Michael Schwab, Oscar Neebe e Sa- vas, solidárias e humanizan-
muel Fielden, sendo que três deles, Spies, Parsons tes?
e Fielden, estavam entre os oradores do encontro.
• Como essas reflexões con-
A sentença, ditada a 20 de Agosto de 1886, conde- tribuem para a classe traba-
nou à morte os oito réus, embora posteriormente lhadora entender/ organizar/
Schwab e Fielden vissem a pena comutada para intervir na realidade para
prisão perpétua e Neebe para 15 anos de prisão. A transformá-la?
execução dos condenados foi marcada para 11 de
Novembro de 1887. Na antevéspera, Lingg suici- • Qual a importância desse
dou-se, numa última tentativa de salvar a vida dos (re) conhecimento na po-
companheiros. Mas as autoridades não recuaram, tencialização e organização
os quatro ativistas foram executados, enquanto política dos agricultores e
a tropa se encarregava de conter a multidão nas agricultoras do Brasil, con-
ruas. siderando a sua diversidade
geográfica, social, cultural,
O crime do Estado americano, idêntico ao de étnica, racial, de gênero, de
muitos outros Estados, que continuaram durante geração?
muitas décadas a reprimir as lutas operárias, inclu-
sive as manifestações de 1° de maio, era produto
de sociedades onde os interesses dominantes não
necessitavam sequer ser dissimulados. Na época,
o Chicago Times afirmava: “A prisão e os traba-
lhos forçados são a única solução adequada para
a questão social”, mas outros jornais eram ainda
mais explícitos como o New York Tribune: “Estes
brutos [os operários] só compreendem a força,
uma força que possam recordar durante várias
gerações...”

Seis anos mais tarde, em 1893, a condenação seria


anulada e reconhecido o caráter político e perse-
cutório do julgamento, sendo então libertados os
réus ainda presos, numa manifestação comum do
reconhecimento tardio do terror de Estado.

(Disponível em: http://www.historianet.com.br , acesso em:


26 mar 2008)
76

Texto 15
LIDERANÇAS INDÍGENAS PEDEM
MAIS ASSISTÊNCIA E CRITICAM
MOROSIDADE DA FUNAI
Megaron e Raoni, site do CIMI.


No dia nacional do índio as lideranças PARA DEBATER
indígenas reivindicam a implementação de
políticas públicas de assistência aos cerca de • Analise a seguinte afirmativa: “Dife-
430 mil índios que vivem no país, destituí- rença e Desigualdade não são sinôni-
dos em uma área de 1,1 milhão de quilôme- mos. Ao contrário, trata-se de condições
tros quadrados, de acordo com a Fundação antagônicas, antidemocráticas, enfim,
nacional do índio (FUNAI). Entre as princi- de injustiça social”.
pais reclamações está a demora nos proces-
sos de demarcação e homologação de terras • Agora responda:
indígenas. “Nos últimos anos, a FUNAI man-
tém um clima de morosidade nos processos ? Quais as políticas públicas que aten-
demarcatórios de terra”, critica o cacique dem aos grupos étnicos, indígenas,
Marcos Xucuru, de Pesqueira - Pe. quilombolas... de sua comunidade ou
Estado?
Para ele uma das principais conseqüências
na lentidão da homologação das áreas é o ? Como surge a necessidade de imple-
“acirramento do conflito entre os fazendei- mentação dessas Políticas Públicas con-
ros que se julgam donos dessas terras e os siderando análise da trajetória histórica
índios” O pai do cacique, o líder indígena destes povos?
Chicão Xucuru, foi assassinado a tiros em
1998. O crime foi encomendado por um ? Quais as implicações destas ações na
fazendeiro da região. Segundo Marcos Xu- atual trama social do campo?
curu, desde 1992, seis lideranças indígenas
da etnia foram executadas em decorrên- ? No contexto atual, como fortalecer o
cia dos conflitos fundiários. “quanto mais direito da igualdade na diversidade?
demora, mais cria esse clima de tensão,
resultando até no assassinato de várias
lideranças.” Ressalta o cacique.

(Fonte: Época -19/04/2005)


77

LEI 10.639/03
Combate a
desigualdade racial
Texto 16
A LEI 10.639/03

Adriana Brendler

A lei 10.639/03 foi uma conquista da luta A avaliação foi feita por Eliane Cavalleiro,
por uma política de combate a desigual- pesquisadora na área de educação e ra-
dade racial. O que você sabe sobre essa cismo da Universidade de Brasília (UNB),
Lei, que torna obrigatório o Ensino de His- durante palestra realizada hoje (16) na
tória e Cultura Afro-brasileira e Africanas Conferência Nacional de Educação Básica,
nas escolas? Esta política está implantada em Brasília.
efetivamente, ou seja, esta disciplina exis-
te na matriz curricular das escolas do seu Segundo a professora, que foi coorde-
município e/ ou estado? Como discutem a nadora-geral de Diversidade e Inclusão
questão racial? Educacional do MEC de 2004 a 2006,
várias políticas, como a de apoio técnico e
Pesquisadora aponta retrocesso na políti- financeiro ao Programa Cultura Afro-Bra-
ca de combate ao racismo nas escolas sileira, desenvolvido no período em que
ela esteve na instituição, foram interrom-
Brasília -16.04.08 - As políticas de combate pidas em 2007.
à desigualdade racial desenvolvidas pelo
Ministério da Educação (MEC) foram inter- De acordo com ela, durante esses dois
rompidas a partir de 2007 e estão causan- anos o MEC repassou recursos financeiros
do retrocesso na implementação de ações e técnicos a municípios para implantação
educacionais na área étnico-racial em de escolas em comunidades quilombolas,
estados e municípios. Entre elas, o cumpri- para distribuição de material didático-
mento da Lei 10.639, de 2003, que torna pedagógico e para ações de formação
obrigatório o Ensino de História e Cultura continuada de professores.
Afro-brasileiras e Africanas nas escolas.
78

Afro descendente. Descendente indígena.

“Eram políticas importantíssimas para a Inclusão Educacional, que tinha mais de 20


implementação de uma educação anti-ra- técnicos há dois anos, e hoje foi reduzida a
cista, ao combate de fato à discriminação menos da metade.
que está presente no cotidiano escolar. Na
medida em que ele [MEC] pára, as ações Presente à conferência, o diretor do Departa-
nos estados e municípios também param. mento de Educação para Diversidade e Cida-
Há uma interrupção de 2006 até 2008, há dania do MEC, Armênio Schmidt, respondeu
um retrocesso institucional no combate ao às criticas, mas confirmou a suspensão da
racismo” afirmou Eliane Cavalleiro. distribuição de material didático e de ações
de formação de professores na área étnico-
Ela apresentou uma relação com 18 livros racial em 2007. Segundo ele, a interrupção,
e materiais editados em 2005 e 2006 e não “apenas externa”, nas ações voltadas à ques-
publicados em 2007, além de cinco títulos tão racial, ocorreu por causa das mudanças
que tiveram projetos editoriais iniciados em no sistema de financiamento do MEC.
2006 e que até hoje não foram concluídos.
“O MEC ficou esse período de 2007 cons-
Para a pesquisadora, a política do MEC truindo uma nova forma de indução de
na área étnico-racial é descontínua, frag- políticas, de relação com estados e municí-
mentada e frágil, inclusive em termos de pios, que foi o Programa de Ações Articula-
recursos humanos. Como exemplo, citou a das. Durante o ano passado realmente não
equipe da Coordenação de Diversidade e houve publicações e formação de professo-
79

res. Mas, na nossa avaliação, não houve um


retrocesso, porque isso vai possibilitar uma PARA DEBATER
nova alavanca na questão da Lei (10.639).
Agora, estados e municípios vão poder soli- Revisitando as questões
citar a formação de professores na sua rede, encontradas no texto
e o MEC vai produzir mais publicações e em acima, pergunta-se:
maior número” argumentou.

Durante os debates, que seguiram à exposi- ? Como discutem a


questão racial?
ção da pesquisadora, a falta de material di-
dático, definições e orientações pedagógicas
para tratar tanto a temática racial como as ? A lei 10.639/03 foi
uma conquista da
luta por uma política de
situações de discriminações e racismo nas
escolas foram apontadas por professores combate a desigualdade
da educação infantil e ensino fundamental. racial. O que você sabe
Marinês Militão, professora de educação sobre essa Lei, que tor-
infantil, nível de ensino onde há maior con- na obrigatório o Ensino
centração de alunos negros, disse que não de História e Cultura
tem material para trabalhar em sala de aula. Afro-brasileira e Africa-
“Eu já pedi mil vezes para o MEC, mas até nas nas escolas?
agora nada”, lamentou.

Schmidt informou que o MEC está em fase


de levantamento das demandas dos esta-
dos e municípios. De acordo com ele, novos
materiais didático-pedagógicos ligados à
questão racial devem voltar a ser distri-
buído pelo ministério a partir do segundo
semestre deste ano. A estimativa de prazo
é a mesma para novas ações de formação
de professores, que devem ser realizadas na
modalidade à distância.

Adriana Brendler
Repórter da Agência Brasil
(Disponível em: http://www.agenciabrasil.gov.
br/noticias, acesso em: 16 abril 2008)
80

Texto 17
A CIDADANIA ROUBADA
Claudio Recco
Filme Delmiro Gouveia

Na história republicana do Brasil, o exercício mente por imposição, uma vez que este é
da cidadania enfrentou muitas limitações e, quem controla, direta ou indiretamente, a
em alguns casos, foi completamente elimi- vida das pessoas em sua propriedade ou
nado. Nos casos mais importantes, a cidada- na região. O coronel é sempre um gran-
nia foi limitada pela eliminação do direito de de proprietário rural, que, naturalmente,
voto ou pela supressão da conscientização possui o poder econômico e, na prática,
política acerca dos direitos individuais. o poder político local, o poder de polícia
e o poder de justiça. Em outras palavras,
O Coronelismo prefeitos, delegados e juízes são homens
da família do coronel ou seus “protegidos”.
Durante a República Velha, o direito de Além disso, o coronel conta com uma milí-
voto deixou de ser censitário e se tornou cia particular, formada pelos jagunços.
universal. No entanto, existiam vários
elementos de limitação da cidadania, Soma-se a toda essa estrutura de poder a
como a exclusão das mulheres do processo situação de ignorância à qual está submeti-
político, a exigência de alfabetização ao da a grande massa de trabalhadores rurais
mesmo tempo em que a Constituição não do país, distante dos centros urbanos,
se propunha a garantir a educação básica da escola e dos meios de comunicação,
como obrigação do Estado e as práticas distante dos direitos - assegurados pela lei,
coronelísticas. mas negados pelo exercício do poder por
parte das elites rurais.
O coronelismo foi uma conduta política
que se tornou comum na vida política bra- Era Vargas
sileira, principalmente após a proclamação
da República. Durante a República Velha O período de 1930 a 1945 também foi
(1889-1930), percebemos o coronelismo caracterizado por práticas que pretenderam
como limitador da cidadania, pois o po- limitar o exercício da cidadania no país.
der de mando do coronel influenciava as Durante a maior parte desse período, o
eleições, fazendo surgir o “voto de cabres- regime foi ditatorial. O “governo provisó-
to” e o “curral eleitoral”, expressões que rio” (1930-34) deu-se com o fechamento
refletem a postura dócil dos comandados, do Congresso Nacional e a intervenção nos
que votam nos candidatos indicados pelo Estados. Apesar de haver uma simpatia de
coronel em troca de favores ou simples- grande parte das camadas urbanas pelo
81

discurso de esquerda, e a Ação Integralista


Brasileira, fascista. Apesar das liberdades, o
governo Vargas determinou limites à cida-
dania, como o controle sobre o Congresso
Nacional (formado parcialmente pelos
“deputados classistas”) e a edição da Lei de
Segurança Nacional.

O Estado Novo (1937-45) foi uma ditadura.


Eliminou os direitos políticos e individuais e
impôs ao país forte repressão. Dois instru-
mentos importantes foram utilizados pelo
governo, o Departamento de Imprensa e
Propaganda (DIP) e o Departamento de
Ordem e Política Social (DOPS) que atuava
Presidente Getúlio Vargas
como uma polícia política, encarregada de
movimento tenentista e por muitos de seus controlar movimentos de transformação da
representantes que chegavam ao poder ordem social vigente.
com Vargas, os primeiros meses do novo
governo foram de desilusão, principalmente Olhar a Era Vargas significa perceber a
porque a política adotada por Vargas e seus formação do “Estado de Compromisso” no
interventores foi marcada pela conciliação Brasil, apoiado no industrialismo, no nacio-
com a maior parte dos coronéis. nalismo e no trabalhismo. Seu objetivo era
atender os interesses das novas elites urba-
O principal movimento de contestação à nas, preservar certos privilégios dos latifun-
política centralizadora de Vargas eclodiu diários, incorporar os tenentes à estrutura
em São Paulo. Foi a Revolução Constitucio- de poder e garantir o apoio da classe ope-
nalista. Esse é um exemplo de movimento rária. A industrialização, combinada com a
que envolve a cidadania: o povo paulista foi urbanização, reservou à classe operária um
“manobrado” pelas elites. Os livros didáti- importante papel dentro do projeto nacio-
cos afirmam que as velhas e novas elites, nalista e levou o Estado a desenvolver uma
até então inimigas, se aliaram e coman- política de manipulação, com a perseguição
daram o povo na luta contra o governo às antigas lideranças sindicais, influenciadas
federal. Predomina como visão sobre a pelo anarquismo. Esse projeto preocupou-
participação de setores populares nos mo- se em atrelar o movimento sindical ao
vimentos políticos mais importantes do país Estado por meio do assistencialismo, o que
a idéia de que a população nesse momento veio a eliminar gradualmente a consciência
não passou de “massa de manobra”, ex- de classe.
pressão que, embora geralmente não seja
utilizada de forma explícita nos livros, está A República Populista
implícita em nossa cultura.
O período entre 1945 e 1964 foi caracteriza-
O “governo constitucional” (1934-37) foi do pela reorganização do Estado de Direito,
marcado pela conquista de direitos políticos ou seja, as leis foram respeitadas e as liber-
e de liberdade, tendo o nível de organização dades individuais, garantidas, guardadas
social e de participação se tornado maior. algumas exceções, como o fechamento do
A imprensa destaca-se e parte dela assume PCB em 1947. Durante esse período, uma
uma posição crítica ante o governo. Surgem parcela significativa dos trabalhadores orga-
importantes grupos de oposição, como nizou-se de forma independente, enfraque-
a Aliança Nacional Libertadora, com um cendo o “peleguismo”, e formaram-se, em
82

Presidentes do período do
golpe militar e protestos dos
movimentos sociais.

alguns Estados do Nordeste, as Ligas Cam- institucionais. Os governos militares inova-


ponesas, num processo de organização que, ram e apostaram não apenas na repressão
apesar de reunir ainda setores minoritários mas também em um processo de alienação
do campesinato, já apresentava certo grau social, que se deu por meio da propagan-
de politização. A crise do populismo foi res- da direta ou subliminar, caracterizada pelo
ponsável pela polarização política, não ide- ufanismo nacionalista, do sucateamento da
ológica, entre aqueles que defendiam uma educação, da qual foi tirada a possibilida-
política popular e nacionalista e aqueles que de de formação consciente e crítica, e do
defendiam a abertura do mercado e uma controle sobre os meios de comunicação de
maior aproximação com a política externa massa, em especial a televisão - ainda hoje
dos EUA. Destacam-se nesse momento a o documentário “Muito além do cidadão
discussão que envolveu a criação da Petro- Kane”, da BBC de Londres, sobre a constru-
brás, a crise em relação à posse de Juscelino ção do império das Organizações Globo, não
Kubitschek e a campanha da legalidade, que pode ser visto no país.
garantiu a posse de João Goulart.

Ditadura Militar PARA DEBATER

Os governos militares que se sucederam


• Para os (as) agricultores (as) fami-
no poder desde 1964 também foram
liares quais as contribuições do (re)
responsáveis pela eliminação da cidada-
conhecimento da historicidade da
nia. É interessante perceber que o modelo
cidadania no Brasil?
político adotado pelos governos militares
tentou disfarçar o autoritarismo por meio
• Qual a importância desse (re) conhe-
da manutenção de eleições para o Legis-
cimento na concretização da Agricul-
lativo e para o Executivo da maioria dos
tura Familiar e da Sustentabilidade,
municípios, além de “permitir” a existência
enquanto expressão democrática? Por
de um partido de oposição.
quê?
Ao mesmo tempo, líderes políticos e sindi-
• Como essas reflexões contribuem no
cais foram cassados, presos ou exilados, a
entendimento e ampliação da interven-
imprensa foi censurada e as principais diretri-
ção crítica na realidade?
zes do governo foram impostas pelos atos
83

Texto 18

PARA DEBATER
HOMEM RURAL
Cenair Maicá
Dante Ramon Ledesma
? Quais as reais necessi-
dades da comunidade
da qual faz parte?

?
Trabalhando, trabalhando Até que ponto a não
Não viu a vida passar. satisfação dessas neces-
O suor que regou a terra sidades tem representado
Nem sementes viu brotar. desrespeito à cidadania?

?
Trabalhando, esperando Qual a importância de
Enfrentando chuva e sol, conhecer a legislação
Enxada na terra alheia vigente (Federal, Estadual,
Nunca traz dia melhor. Municipal) no processo de
potencialização/alargamen-
Assim a geada dos anos to da participação social
Foi lhe branqueando a melena. e vivência cidadã? E na
E este homem rural conquista de novos direitos
Hoje é peão de suas penas para os (as) agricultores
(as) familiares?
E quando as ervas campeiras
Já não lhe curem as feridas.
Perdido na capital
Na esperança de mais vida.

Chegou, ficou e esperou


Por uma mão estendida
Porque o deixaram tão só
Porque lhe negaram guarida.

De que vale tanta ciência


Para um pobre agricultor
Quando a própria previdência
O esqueceu num corredor

Esperando, esperando...
84

Texto 19

DA LAMA AO CAOS
Chico Sciense

Posso sair daqui pra me organizar


Posso sair pra me desorganizar

Da lama ao caos, do caos a lama


Um homem roubado nunca se engana

O sol queimou, queimou a lama do rio


Eu vi um chie andando devagar
E um ratu pra lá e pra cá

E um caranguejo andando pro sul


Chico Science
Saiu do mangue e virou gabiru

O Josué eu nunca vi tamanha desgraça


Quanto mais miséria tem, mais urubu ameaça
PARA DEBATER
Peguei um balaio fui na feira

? Como podemos nos roubar tomate e cebola


organizar? Ia passando uma véia e pegou minha cenoura

? É possível desorgani- Aê minha veia deixa a cenoura aqui


zar para organizar? Com a barriga vazia não consigo dormir
E com o bucho mais cheio comecei a pensar

? É fácil resolver um que eu me organizando posso desorganizar


problema social sozi- que eu desorganizando posso me organizar
nho? que eu me organizando posso desorganizar
porque da lama ao caos, do caos a lama

? Você participa ou um homem roubado nunca se engana.


participou de algum
tipo de organização ou Da lama ao caos, do caos a lama
movimento social? Um homem roubado nunca se engana.
85

Patativa do Assaré

Texto 20
A TERRA DOS POSSEIROS
DE DEUS
Patativa do Assaré

Esta terra é desmedida


PARA DEBATER E devia ser comum
Devia ser repartida
? A terra é uma das
grandes lutas histó-
ricas das organizações
Um toco pra cada um
Mode morar sossegado.
e movimentos sociais. Eu já tenho imaginado
Analisando a política Que a baixa, o sertão e a serra,
de Reforma Agrária Devia sê coisa nossa;
brasileira avalie: Quem Quem não trabalha na roça,
detém a posse da Terra?
Que diabo é que quer com a terra?
Ela é direito de quem?

? Que outras lutas


poderíamos associar
à luta pela terra?
86

Texto 21

JUVENTUDE
TRANSCENDENTAL
Luciano Gonçalves Ribeiro Eu sou jovem, Eu quero nessa juventude,
quero curtir, emergir crescer e nunca envelhecer
Eu não quero apenas estar aqui Em qualquer lugar Um mundo, um tempo,
E viver cada dia sem me exaurir livre para ir ou vir uma esperança, um sinal
Quero ter forças Ou, até mesmo, ter que fugir Desejar, ir além,
para sempre seguir Pra onde não me possam ferir exceder, transcender
Sempre lutar, nunca desistir Viver uma juventude
Se estiver ruim, transcendental.
Eu sou jovem, tenho que agir não irei dizer ‘está bem’
Revoltar–me, Se aqui me sentir (Disponível em: http://www.pucrs.
br/mj/poema-juventude. Acesso em 12
mas também evoluir como um refém
jun 2008)
E em tempo que está por vir O que quero ter, nunca se tem
Não deixar o passado se repetir E quem quero ver, nunca vem

Eu sou jovem, repito,


PARA DEBATER
Quero mudanças, irei proferir
quero ir além
?
E quem não quiser me ouvir
Como está organizada a
Desculpe–me: Vencer a quem me detém
juventude em sua comuni-
falarei o que sentir E nesse mundo de ninguém
dade?
Vamos viver um novo tempo, Lutar, buscar,
libertar–me, ser alguém
?
um novo existir
Que ações contribuem
para efetivação do Direito
Não vamos deixar Eu sou jovem, insisto,
da Juventude?
o sistema nos engolir sou inestimável, indecifrável
Sou jovem, eterna juventude
?
Nem nos deixar destruir
Como o poder público
Nem nos acomodar depois de Um ser: inexaurível, inexorável,
está gerando oportunida-
tudo que vermos por aí inexplicável, inefável
des para garantir o Direito da
Vamos mudar, nem que este Energitude, atitude,
Juventude?
mundo se precise explodir. transcenditude
87

Texto 22
EDUCAÇÃO DO CAMPO:
DIREITO DE TODOS
E DEVER DO ESTADO
Maria Fernanda dos Santos Alencar

É afirmado na Constituição Bra-


sileira, em seu Art. 205, que “a
Capa da primeira constituição brasileira
educação, direito de todos e de-
ver do estado e da família, será
Quadro 1. Distribuição das escolas no Brasil quanto ao
promovida e incentivada com a
atendimento do nível de ensino- Escola Rural e Urbana
colaboração da sociedade, visan-
do ao pleno desenvolvimento Quantidade de escolas
da pessoa, seu preparo para o
exercício da cidadania e sua qua- Nível de Ensino oferecido Brasil Urbana Rural
lificação para o trabalho.” pelas Escolas
Ensino Fundamental 119.023 31.023 88.000
No Art. 206, a Constituição 1ª. a 4ª. série
determina que o ensino deva
Ensino Fundamental 11.319 10.067 1.252
ser orientado por vários prin-
5ª. a 8ª. série
cípios. Dentre esses princípios,
o primeiro é o da “igualdade Fundamental Completo 42.166 30.082 12.084
de condições para o acesso e 1ª. a 8ª. série
permanência na escola”, ou seja, 21.304 20.356 948
Ensino médio
é compreendido, através des-
Fonte: MEC /INEP
se principio, que todos e todas
tenham as mesmas garantias de
Quanto à infra-estrutura, dados do MEC /INEP, apontam a
poder entrar na escola e nela
precariedade: escolas sem energia elétrica, sem laboratório de
continuar estudando.
informática, biblioteca, falta ou insuficiência de cadeiras esco-
lares para todos os estudantes e de material didático suficiente
Entretanto, dados do Ministério
para as atividades didático-pedagógicas.
da Educação - MEC, por meio do
Instituto de Educação e Pesqui-
sa - INEP, informam que não há Número de escolas e os recursos disponíveis na escola
Comparativo escolas Urbanas e Rurais – Brasil -2002
escolas suficientes para o atendi-
mento ao nível de ensino ade- Escolas No. de Escolas Energia Biblioteca Laboratório TV/ Vídeo/
quado, pois na medida em que Elétrica de Informática Parabólica
cresce o nível de ensino, diminui Urbana- de 1ª. 121.610 100% 40,6% 39% 27%
o número de escolas que o ofe- a 8ª. série e
Ensino Médio
rece. Vejamos o quadro abaixo
que apresenta esta defasagem Rurais – de 1ª. 114.368 82% 28% 7% 13%
quanto ao atendimento em rela- a 8ª. série e
Ensino Médio
ção ao nível de ensino.
88

Além da Constituição Brasileira, promul- d) A Educação de Jovens e Adultos (EJA)


gada em 1988, temos a Lei 9.394/96, está no âmbito da Educação Básica, res-
conhecida como Lei de Diretrizes e Bases ponsabilidade, portanto, tanto dos Municí-
da Educação Nacional – LDB, que aprovada pios e dos Estados.
pelo Congresso Nacional, diz de que forma
o direito à educação pode ser exigido. e) A Educação Especial, modalidade de
Assim, está posto na LDB, que: ensino, deverá estar assegurada na escola
regular. As escolas deverão dispor de apoio
Art. 5º. O acesso ao ensino público fun- especializado tanto por parte dos Estados
damental é direito público subjetivo, quanto dos municípios.
podendo qualquer cidadão, grupo de
cidadãos, associação comunitária, organi- A legislação ainda garante o direito às pe-
zação sindical, entidade de classe ou outra culiaridades da área rural, respeitando-se
legalmente constituída, e, ainda, o Minis- as diferenças, sem provocar desigualdades.
tério Público, acionar o Poder Público para Desta forma, a LDB, em seu art. 28, afirma:
exigi-lo.
Art. 28. Na oferta da educação básica para
Para o atendimento a esse direito subjeti- a população rural, os sistemas de ensino
vo, que significa direito que se tem a partir promoverão as adaptações necessárias a
do nascimento, a LDB estabelece que os sua adequação, às peculiaridades da vida
entes federativos: Governo Federal, esta- rural e de cada região, especialmente.
dos e municípios organizarão, com respon-
sabilidades repartidas, os seus sistemas de I. conteúdos curriculares e metodologias
ensino. Assim: apropriadas às reais necessárias e interes-
ses dos alunos da zona rural;
a) Ao Governo Federal cabem as seguintes II. organização escolar própria, incluindo a
responsabilidades: elaboração das normas adequação do calendário escolar e fases do
para os sistemas (função Normativa), pela ciclo agrícola e as condições climáticas;
distribuição dos recursos (redistributiva) III. adequação à natureza do trabalho na
e pela garantia dos direitos (Supletiva). É zona rural.
ainda responsável pelo Ensino Superior e
pelas escolas agrotécnicas federais e Cen- Além da Constituição Federal e da LDB
tros de Educação Tecnológica (CEFET). 9394/96, há um outro instrumento legal,
aprovado como Resolução Nº. 001/2002,
b) Aos Estados cabe a responsabilidade pelo Conselho Nacional de Educação, de-
com o Ensino Médio. nominado de Diretrizes Operacionais para
a Educação Básica nas Escolas do Campo.
c) Aos municípios cabe a responsabilidade Esta Resolução apresenta um conjunto de
com a Educação Infantil (Creche e Pré- recomendações sobre como a educação do
escola) e Ensino Fundamental (1ª. a 8ª. campo seja garantida e de qualidade para
série), podendo esta responsabilidade ser todas as crianças, jovens e adultos que
compartilhada com os Estados. moram no campo.
89

A Resolução 001/02, na busca pela garan- Referência Bibliográfica


tia do acesso à educação, diz:
BRASIL. Constituição da Republica Federa-
Art. 6ª. O Poder Público, no cumprimento tiva do Brasil, 2001. 8ª. Ed.
das suas responsabilidades com o atendi-
mento escolar e à luz da diretriz legal do _______. Diretrizes operacionais para a
regime de colaboração entre a União, os educação básica das escolas do campo.
Estados, o distrito Federal e os Municípios, Resolução 001/02. CNE/MEC, Brasília, DF.
proporcionará Educação Infantil e Ensino 2002.
Fundamental nas comunidades rurais,
inclusive para aqueles que não concluíram _______. Lei de Diretrizes e Bases da Edu-
na idade prevista, cabendo em especial cação Nacional. Lei n. 9394/96.
aos Estados garantir as condições neces-
sárias para o acesso ao Ensino Médio e à
Educação Profissional de Nível Técnico.
PARA DEBATER
Verificamos a partir do estudo de alguns
artigos de Leis que a educação é posta • A autora propõe várias questões, pro-
como direito subjetivo e dever do estado. cure respondê-las individualmente e,
Entretanto, os dados, no inicio apresenta- em seguida, coletivamente. Registrem
dos, demonstram que esse direito não tem as reflexões que considerarem mais
sido respeitado. Assim, interrogamos: importantes e realizem um debate.

1)Há vagas em todos os níveis e moda- • Que outros questionamentos você te-
lidades para todos, em idade escolar ou ria a fazer sobre a Educação do Campo?
para os que não tiveram acesso em idade
própria, em sua localidade ou Estado?

2) Há o conhecimento da comunidade das


leis estudadas: Constituição Federal, LDB
9493/96 e Diretrizes Operacionais para a
Educação do Campo?

3) De que forma a comunidade se reúne


para exigir o direito ao acesso e a perma-
nência à educação?
90

Texto 23
Foto: Dirceu Tavares.
O QUE SÃO POLÍTICAS PÚBLICAS

“[...] as políticas públicas, inclusive as


educacionais, [...] são fruto de uma multi-
plicidade de forças sociais que, de forma
variada, explicitam seus interesses, um
arco que envolve projetos dos grupos no
poder (caso em que podem se transformar
em políticas de governo), compromissos
e acordos internacionais subscritos por
governos anteriores, consensos estabe-
lecidos com base no debate educacional
Aluna entrevista Secretário de Educação sobre as políticas (que podem se transformar em políticas
públicas do município de Aliança PE.
de Estado), passando pela capacidade
Foto: Dirceu Tavares. de pressão de diferentes setores sociais
organizados, portadores de expectativas
específicas, como também da percepção
política e do grau de interferência da pró-
pria tecnoburocracia.” (OLIVEIRA, 2006, p.
7, citado em Carvalho, 2008).

Política Pública é a forma de efetivar di-


reitos, intervindo na realidade social. Ela
é o principal instrumento utilizado para
coordenar programas e ações públicos. Por
exemplo, pouco adianta estar escrito na
Constituição Federal e em outras leis que a
moradia, a saúde e a educação são direi-
Aluna entrevista Secretário de Educação sobre as políticas
públicas do município de Aliança PE.
tos dos cidadãos, se não houver políticas
públicas concretas que efetivem estes
direitos. Ela deve ainda ser resultado de
um compromisso público entre o Estado
e a sociedade, com o objetivo de modifi-
car uma situação em uma área específica,
promovendo a igualdade. Se não houver
91

políticas concretas para a efetivação e para o atendimento das necessidades


garantia dos direitos, eles ficam apenas coletivas. Resultam de diferentes formas
no plano das intenções e não se efetivam. de articulação entre Estado e sociedade.
Para tornar-se concreta, a política pública A tomada de decisão quanto à direção
deverá ser traduzida em um plano de ações da ação de desenvolvimento, sua estru-
composto por programas e projetos. Por turação em programas e procedimentos
exemplo, a política nacional de educação específicos (fundos de apoio, serviços,
é formada por diretrizes gerais que visam pesquisa, etc.), bem como a dotação de re-
o direito à educação com qualidade para cursos é sancionada, na maioria das vezes,
todos. Dentro desta política, está, entre por intermédio de atores governamentais.
outros, o programa de merenda escolar. A política pública pretende universalizar o
E dentro deste programa, o projeto de acesso a direitos sociais como é o caso da
descentralização do programa de merenda educação. Envolve um conjunto de ações
escolar, para que ele chegue a todos os diversificadas e continuadas no tempo, vol-
municípios brasileiros. tadas para manter e regular a oferta de um
(Disponível em:www.polis.org.br. Acesso em:10 abri determinado bem ou serviço, envolvendo,
2008). entre estas ações, projetos sociais especí-
ficos.” (Isabel Cristina Moura Carvalho- Psi-
cóloga e doutora em educação - Professora
“Políticas públicas são aquelas ações da Universidade Luterana do Brasil –ULBRA
continuadas no tempo, financiadas princi- – Canoas,RS).
palmente com recursos públicos, voltadas
92

Texto 24
BASES PARA UMA POLÍTICA
PÚBLICA DE EDUCAÇÃO
DO CAMPO
(Fragmento)

Edla Soares

O direito, ou seja, a garantia de determinadas condi-


ções de existência e de uma nova sociabilidade, tecida
a partir de práticas e valores considerados indispensáveis
e necessários à humanização dos homens e das mulheres
do campo, é o principal foco da discussão sobre as bases
que fundamentam uma política pública de educação. Tra-
ta-se, em primeiro lugar, do direito que surge do avanço
da consciência coletiva ou da compreensão dos movimen-
tos sociais à respeito da importância da educação na pro-
dução das condições de vida digna para a população que
reside, vive e ou trabalha no campo brasileiro. O campo,
nesse caso, entendido como espaço de vida, de trabalho,
de amor, de cultura, de produção de conhecimento e,
portanto, espaço de realização humana e de construção
da identidade camponesa.

Os direitos são necessariamente para todas as pessoas e


grupos sociais e, em função disso, são estruturalmente
universais e gerais. Não privilegiam setores, constituin-
do-se em fundamento maior da sociedade democrática.
Daí porque um dos grandes desafios da política pública
da educação do campo é contemplar, ao mesmo tempo,
a universalidade e a diversidade, possibilitando que o re-
conhecimento desse território ocorra mediante o acolhi-
mento da diferença e o pertencimento se faça, do ponto
de vista educacional, pela igualdade.
93

Isso supõe que sejamos capazes, independente da geração


da qual fazemos parte, de reconhecer em nosso pensa-
mento e em nossa convivência que o mundo não é homo-
gêneo, a começar de nossa experiência familiar. Faz parte
da humanização de nossa trajetória o reconhecimento da
diversidade e da existência dos outros com suas diferen-
ças, tratados como sujeitos, portanto, iguais, jamais es-
tranhos e, assim procedendo, um engajamento na defesa
intransigente de um modo de pertencimento das pessoas
à comunidade e à sociedade que impeça a transformação
das diferenças em efetivas desigualdades.

[...]
Somos desafiados a conceber e viabilizar, através das polí-
ticas públicas, o modo ou um jeito de pertencer ao mundo
que tem, como ideal e orientação, enfrentar as desigual-
dades em todos os níveis, exigindo com isso, a participa-
ção do campo num projeto de educação popular, gestado
no âmbito dos movimentos sociais que compartilham uma
proposta de escola que não seja solitária e sim solidária. A
proposição parece ser simples, no entanto, não o é. A mu-
dança de t pelo d cria um novo e fecundo significado. Des-
sa escola, espera-se a conversa e o diálogo de todos com
as grandes questões da vida, do país e da humanidade,
bem como suas soluções e, ao mesmo tempo, o respeito PARA DEBATER
ao interesses, à cultura e as especificidades do campo.
E, assim sendo, o campo que nos interessa é um imenso
espaço de vida, de amor e de produção de conhecimento”. ? Que contribuições
este texto apresen-
ta para a nossa discus-
(SOARES, Edla. Bases para uma política pública de educação do cam- são sobre Direitos?
po, 2005, mimeo)
94

Texto 25
CONSELHOS ALÉM DOS LIMITES
Ricardo Abramovay

A PROFUSÃO de conselhos gestores é a mais importante


inovação institucional das políticas públicas no Brasil de-
mocrático. Não há estudo sobre o tema que não enfatize
a precariedade da participação social nestas novas organi-
zações e sua tão freqüente submissão a poderes locais do-
minantes. Mas é praticamente unânime o reconhecimento
do potencial de transformação política que os conselhos
encerram. Se eles tendem muitas vezes a reproduzir um
ambiente social avesso à ampla discussão dos assuntos
públicos, não é menos certo que sua simples existência
abre caminho para a entrada na vida dos indivíduos e dos
grupos organizados de temas até então ausentes. [...] Os
conselheiros podem ser mal informados, pouco repre-
sentativos, indicados pelos que controlam a vida social da
organização ou localidade em questão, mal preparados
para o exercício de suas funções ou, o que parece tão fre-
qüente, uma mistura de cada um destes elementos. Mas
o simples fato de existirem conselhos abre o caminho para
que se amplie o círculo social em que se operam as discus-
sões sobre o uso dos recursos públicos.
95

Segundo informações do Perfil dos municípios brasileiros


(IBGE, 2001), existiam, em 1999, quase 27 mil conselhos,
numa média de 4,9 por município; 99% dos municípios
brasileiros têm conselhos de saúde, 91% de educação e de
assistência e ação social e 71% de crianças e adolescentes.

Apesar da existência de Conselhos de Desenvolvimento


Rural em mais de um quinto dos municípios brasileiros, eles
são muito recentes, o que explica a inexistência de estudos
sistemáticos de caráter nacional a seu respeito. No Perfil
dos Municípios Brasileiros não são citados uma só vez e se
incluem, provavelmente, na categoria de “outros” presen-
tes em 52% dos municípios brasileiros (IBGE, 2001). Mas,
algumas informações fragmentárias e estudos pioneiros
como o recentemente divulgado pelo Consórcio EMATER/
PR-DESER (IPARDES, 2001), permitem que se avancem hipó-
teses úteis para a formulação de propostas.

PARA DEBATER

? Há conselhos em seu município? Como estão organiza-


dos? Quem dele participa? Como se dá a participação?

? Existe aproximação ou afastamento entre a realidade


local e o exposto nos enunciados abaixo?

? “Os conselheiros podem ser mal informados, pouco


representativos, indicados pelos que controlam a vida
social da organização ou localidade em questão, mal pre-
parados para o exercício de suas funções ou, o que parece
tão freqüente, uma mistura de cada um destes elemen-
tos”.

? “Mas o simples fato de existirem conselhos abre o


caminho para que se amplie o círculo social em que se
operam as discussões sobre o uso dos recursos públicos”.
96

Texto 26
É reunião demais!
Um dos mais sérios problemas detectados Conselhos Municipais. Quando há regras
pelo professor Sérgio Schneider, da Uni- impeditivas do acúmulo da representação,
versidade Federal do Rio Grande do Sul, o problema passa a ser o de localizar inte-
durante o processo de capacitação dos ressados para ocupar as vagas disponíveis.
conselheiros de desenvolvimento rural Neste sentido, o que surpreendeu na reali-
levado adiante por iniciativa do Ministério zação desta capacitação é que, ao contrário
do Desenvolvimento Agrário foi o excesso do que se imaginava, o principal problema
de reuniões e o acúmulo de funções repre- não é falta de espaço para a participação
sentativas sobre os mesmos indivíduos. A popular, mas, paradoxalmente, encontra-
observação de Sérgio Schneider (2001), em ram-se muitas situações em que a queixa
texto que não tem ambição analítica rigo- era justamente o contrário; ou seja, que a
rosa, mas apenas relata rapidamente suas dificuldade que havia no município era a de
impressões de viagem, reforça o problema encontrar público disponível para participar
aqui apontado: “Em muitos casos, um mes- destas múltiplas atividades. A afirmação
mo representante, em geral funcionário corriqueira que se escutou variadas vezes
indicado pelo prefeito, participa de vários foi de que: - professor, mas tem reunião

Antes reclamavam que não


tinha políticas públicas
no município. Agora reclamam
que tem política pública demais...
97

demais, e nós não podemos participar em


PARA DEBATER
todas”. Nos municípios rurais onde a base
da economia é a agricultura esta situação
se agrava em função das distâncias serem
maiores e pelo fato de que este excesso de
? De que forma os conselhos garantem
a fiscalização das políticas públicas, e
a efetivação de direitos.
reuniões acaba subtraindo um tempo que
para o agricultor significa redução da carga
horária em que permanece trabalhando na
terra. A lição a extrair das diferentes situ-
? Como os conselhos vêm favorecendo
a ampliação das discussões sobre o
uso dos recursos públicos?
ações presenciadas parece ser a de que a
simples criação, por força de legislação ou
mesmo do pré-requisito para o acesso aos
fundos públicos, dos espaços que estimu-
? Analise a seguinte afirmativa: “a
simples criação, por força de legisla-
ção ou mesmo do pré-requisito para o
lam a participação política não implica,
acesso aos fundos públicos, dos espaços
inexoravelmente, que destes regramentos
que estimulam a participação política não
emergem formas mais eficazes de controle
implica, inexoravelmente, que destes re-
social das esferas públicas”.
gramentos emergem formas mais eficazes
de controle social das esferas públicas”
Dos 5.506 municípios brasileiros, apenas
(ABRAMOVAY, 2001).
20 não tinham nenhum conselho e 33 um
único fórum desta natureza. Existem 4,3
conselhos em média nos municípios com
população até cinco mil habitantes. Em
? Falta gente para participar dos conse-
lhos ou há concentração de funções e
poder nas mãos de poucos dirigentes do
mais de um terço destes pequenos municí-
governo e das organizações? Como pode
pios, a média vai além de cinco conselhos
ser mudada essa situação?
(IBGE, 2001). Trabalho recente do IBAM
(Noronha, 2000: 85) examinou o funciona-
mento de municípios conhecidos pela alta
participação popular nos conselhos. No
? O texto 25 apresenta que “... existiam,
em 1999, quase 27 mil conselhos,
numa média de 4.9 por município;”. O
pequeno município de Dionísio Cerqueira
texto 26 afirma que “Existem 4,3 con-
(SC) era freqüente a participação das mes-
selhos em média nos municípios com
mas pessoas em vários dos nada menos
população até cinco mil habitantes”. A
que 11 conselhos existentes.
partir dessas informações podemos con-
cluir que, nos municípios mais populosos
há mais ou há menos conselhos que nos
menos populosos?
98

Testo 27
O ANALFABETO POLÍTICO
Bertold Brecht

O pior analfabeto é o político.


Ele não ouve, não fala
Nem participa dos acontecimentos políticos
E não sabe que o custo de vida, o preço
Do feijão, do peixe, da farinha,
Do aluguel, do sapato e do remédio
Depende das decisões políticas
O analfabeto político é tão burro que
Se orgulha e estufa o peito dizendo PARA DEBATER
que odeia a política
Não sabe o imbecil, ?Que relação você esta-
que da sua ignorância política belece entre POLÍTICA e
Nasce a prostituta, o menor abandonado, CIDADANIA?
O assaltante e o pior de todos os bandidos,
?Como você avalia a
Que é o político vigarista, pilantra, o corrupto realidade do seu grupo ou
E lacaio das empresas comunidade em relação à
Nacionais e multinacionais. participação política?
99

Texto 28
PRÁTICAS DE CIDADANIA CONTRA
O CRIME E A VIOLÊNCIA
Eduardo Capobianco e Paulo de Mesquita Neto

Foto: Dirceu Tavares.


No Brasil, desde a transição
para a democracia, há um
processo de fortalecimento das
práticas de cidadania. Hoje,
além de votar em eleições, a
maioria da população participa,
em menor ou maior grau, de
atividades políticas ou públicas
na esfera municipal, estadual
ou federal. Essa participação
pode ser realizada de maneiras
diversas, incluindo atividades
relacionadas à divulgação de
informações, expressão de opi-
Diretor da formação continuada de professores das Escolas do
niões, manifestações públicas, Campo observa a análise dos movimentos sociais em Aliança PE.
contatos com autoridades, co-
Foto: Dirceu Tavares.
laboração na solução de proble-
mas comunitários, colaboração
com organizações da sociedade
civil ou com partidos políticos.

A organização e a mobilização
da sociedade civil têm contri-
buído de maneira significativa
para o fortalecimento das
práticas de cidadania.. Freqüen-
temente, a participação em as-
suntos políticos ou públicos se
efetiva por meio ou com apoio
de organizações da sociedade
civil, que, de maneira crescente, Representante da Secretaria de Educação do Estado de Pernam-
buco dialoga sobre as políticas públicas no município de Aliança.
100

Texto 29
¿ SER CIDADÃO
reivindicam junto às instituições públi-
OU CIDADÃ: O QUE É?
cas mais transparência, respeito à lei e
João Francisco Souza
maior garantia dos direitos civis, políti-
cos e sociais, atenção às necessidades
da população e abertura para participa-
“Ser cidadão, ou cidadã, é poder ter con-
ção da população no desenvolvimento
dições de romper as barreiras da ignorân-
de políticas públicas. Além de reivindi-
cia moral, espiritual e intelectual. É ter
car, as organizações da sociedade civil
a capacidade de pensar e refletir a vida
passaram, mais recentemente, a propor
política, econômica, cultural e social em
mudanças para aumentar a legitimida-
que vive, local e globalmente. Ser capaz de
de, eficácia e eficiência das instituições
adquirir, e ter sempre presente em si, uma
e políticas públicas, visando torná-las
consciência histórica, democrática e inter-
não apenas mais democráticas, mas
nacional, cuja plataforma seja o direito de
também capazes de resolver os proble-
igualdade de oportunidade, a tolerância, a
mas que afetam a qualidade de vida da
solidariedade, o respeito, a paz e a justiça.”
população e limitam as possibilidades
(SOUZA, 2004)
de desenvolvimento da sociedade.

PARA DEBATER
PARA DEBATER

? O que compreende por Participa-


ção Política?
? Que relevância tem esse texto no pro-
cesso de pensar mais e melhor sobre

?
nossa atuação nas políticas públicas das
Como temos participado das deci-
comunidades da qual fazemos parte?
sões em nossa comunidade?

? Quais os instrumentos de partici-


pação popular que temos utilizado
? O que é dito pelo Professor João Fran-
cisco de Souza, no fragmento acima,
acrescenta algo em relação ao que você já
e como tem sido essa utilização junto
sabia?
aos poderes públicos do município?
101

Texto 30
A SEMENTE
Carlos Rodrigues Brandão

Somente a mente
de um ser tão bom
Pode criar do sentimento
Um bem tão grande
como a semente.
Somente um dom cheio de vida
PARA DEBATER Como a semente pode gerar:
Da vida a terra,
Da terra a planta,

? Que relação você consegue estabele-


cer entre SEMENTE, SONHO e VIDA?
Da planta a flor
Acontecida de seu amor
De flor e fruto

? E o que isso tem a ver com a sua


e/ou a nossa cidadania?
Dentro do sonho que há na mente
De uma semente cheia de vida.
Se um deus não há
Dentro de quem existe o gesto
Que sente e sonha nascer da terra
Tudo o que brota da maravilha

Da força viva de uma semente?


Mas se há um deus onipotente
Que cria tudo com o seu poder
Mas se um deus há que tudo cria
Com o seu amor como um presente
Do dom da vida
Se um deus existe eternamente
Ah! Pode crer
Que ele algum dia já foi semente.
102

Texto 31
OS AGRICULTORES EXPROPRIADOS
DE SUAS SEMENTES
Robert Ali Brac de la Perrière

Desde sempre, os camponeses têm conservado uma


parcela das sementes – variedades tradicionalmen-
te ou descobertas vegetais recentes – para plan-
tá-las, de novo, na estação seguinte. Atualmente,
este costume está sendo posto em causa: uma das
reivindicações dos partidários do registro de paten-
tes relativas às variedades vegetais é a supressão do
“privilégio do fazendeiro”que consiste em semear,
de novo, uma variedade comercial protegida.

A maior parte das organizações camponesas consi-


dera o “privilégio do fazendeiro” como um direito
fundamental do agricultor: o da escolha livre entre a
compra e autopromoção das sementes que ele pre-
tende utilizar. Na prática, tal privilégio já se encontra
consideravelmente reduzido pela generalização de
híbridos vegetais. Para as empresas, os híbridos
constituíram um importante meio de aperfeiçoa-
mento vegetal das espécies alogâmicas, alem de
um meio de aumentar seu lucro, condicionando o
agricultor a comprar; anualmente, suas sementes.
Para os descobridores de variedades protegidas por
direito de novidade vegetal (DNV), o “privilégio”já é
percebido como uma concorrência direta, contrária
à lei. Por sua, para a indústria das sementes, esta
concorrência parece cada vez mais insuportável, na
medida em que, por um lado, a pesquisa torna-se
mais onerosa e, por outro, verifica-se a generaliza-
ção do direito das patentes relativas às biotecnolo-
gias das variedades transgênicas.
103

Além da autoprodução das sementes em seus campos, os


agricultores implantaram estruturas eficazes de seleção, PARA DEBATER
consideradas por eles como indispensáveis na luta contra
o aumento das despesas de produção que oneram a ren- ? Como são tratadas as
tabilidade de sua produção. Quando o mercado foi limita- sementes e mudas no es-
do, os descobridores de variedades vegetais exigiram, na tabelecimento familiar, no
Europa, a penhora, por contrafação, dos agricultores que assentamento ou comuni-
faziam seleção por conta própria. Na revisão de 1991, da dade?
Convenção da UIPN-VV, este “privilégio” foi consideravel-
mente reduzido, ao se reconhecer que cada país é livre ? Qual a importância das
para outorgá-lo, ou não. As associações que reagrupam sementes e mudas para a
os agricultores, em toda a Europa, adotaram uma posição produção familiar?
bastante firme em favor desses direitos. Assim, a questão
dada é de ordem política e coloca frente a frente interes- ? Quais sementes e mudas
ses legítimos altamente conflitantes. Do ponto de vista da estão produzindo, quais
propriedade intelectual, a utilização de sementes trans- não estão e por quê?
gênicas patenteadas é comparada, freqüentemente, ao
direito de uso de programas de informáticas: legalmente, ? Como a comunidade
elas não podem ser multiplicadas por seus usuários.De pode avançar na organiza-
um ano para o outro, em vez de reproduzi-las, os agricul- ção da produção e circula-
tores são obrigados, por lei, a comprar suas sementes. Na ção de sementes e mudas?
América do Norte, várias centenas de fazendeiros foram
denunciadas à justiça por terem voltado a semear varie-
dades transgênicas patenteadas. Nos países industria-
lizados, as novas obrigações decorrentes do registro de
patentes relativas às sementes transgênicas são bastante
questionáveis, pois elas tendem a incorporar os campone-
ses à industria das empresas produtoras de sementes e,
além disso, não existe nenhum controle da disseminação
das características transgênicas sobre as plantas vizinhas.

Para os países do Sul, que se caracterizam por uma agri-


cultura bem mais polimorfa, essas novas obrigações são
inadequadas, na medida em que a agricultura camponesa
tem necessidade de um sistema bastante flexível, que re-
conheça ao agricultor o direito de semear, sem qualquer
entrave, os cereais colhidos na safra anterior e de proce-
der livremente a troca entre comunidades rurais. Além do
aspecto econômico, as práticas de seleção e multiplicação
de sementes locais servem para manter uma diversidade
de vegetais adaptados a uma ampla gama de terrenos.
Todas essas práticas, aliás, favorecem a conservação da
biodiversidade (PERRIÈRE, 2004).
104

Texto 32
A mandala abaixo apresenta as Políticas PARA DEBATER
Públicas para a Agricultura Familiar im-
plantadas pela Secretaria de Agricultura
Familiar (SAF) Ministério do Desenvolvi-
mento Agrário(MDA) do Governo Federal.
? Quais as políticas públi-
cas implantadas para a
agricultura familiar exis-
Leiam e discutam as questões a seguir: tentes em sua localidade?
Quem são os beneficiários?
A SAF tem por missão: consolidar o con- Como tiveram acesso?
junto da agricultura familiar de modo a
promover o desenvolvimento local susten-
tável por meio da valorização humana e
da negociação política com representantes
? Essas políticas, de fato,
atendem as necessida-
des desses beneficiários?
da sociedade, respeitando os desejos e
anseios das organizações sociais e prati-
cando os princípios da descentralização, da ? Possibilitam o desenvol-
vimento local sustentá-
democracia, da transparência e da parce- vel?
ria, com responsabilidade.
(Disponível em http://www.mda.gov.br/saf, Acesso
em 28 jul 2008.) ? De que forma essas
políticas repercutem na
sustentabilidade da Agricul-
tura Familiar?
105

Texto 33

A agricultura familiar representa 70% dos alimentos que


chegam à mesa dos brasileiros. Esse segmento produtivo é
responsável, por exemplo, por 89% da mandioca, 67% do
feijão, 70% dos frangos, 60% dos suínos, 56% do leite, 69%
da alface e 75% da cebola produzidos no Brasil - seja para
o mercado interno, seja para exportação.

(Disponível em: http://www.mda.gov.br/condraf. Acesso em 31 jul


2008)

PARA DEBATER

? O que a produção dos estabelecimentos Familiares


hoje representa na mesa dos (as) brasileiros/as? Qual
a circulação interna (local) e externa (fora da localidade)
dessa produção? Pesquise e compare dados novos e anti-
gos.

? De que forma a agricultura familiar pode ajudar a supe-


rar a crise mundial de alimentos?

? As políticas para a agricultura familiar ajudam aos agri-


cultores com relação a sustentabilidade local, regional
e nacional?
106

Texto 34
PROGRAMA NACIONAL
DE FORTALECIMENTO
DA AGRICULTURA FAMILIAR - PRONAF

É um programa de fortalecimento da agricultura familiar,


mediante apoio técnico e financeiro, visando o desenvolvi-
mento rural sustentável.

A IMPORTÂNCIA DAS POLÍTICAS OBJETIVO DO PRONAF JOVEM


PÚBLICAS PARA JUVENTUDE
• Atender as demandas específicas da
RURAL
juventude rural;
• Promover ações de interesse da juventu-
As Políticas Públicas possuem o papel de
de rural e gênero;
contribuir para um modelo agrícola que
• Aumento das relações sociais e de cida-
ofereça oportunidades a juventude rural;
dania;
• Aproveitamento e conservação dos sa-
• Oportunidades de ocupação – ge-
beres tradicionais;
ração de emprego e renda;
• Diversificação e/ou potencialização das
• Capacitação técnica, administrativa
atividades geradoras de renda;
e gerenciamento;
• Aproveitamento das potencialidades
• Incentivo ao empreendedorismo,
locais / regionais;
inovação tecnológica;
• Agregação de valor aos produtos;
• Diversificação das atividades
• Acesso a novos mercados;
– agropecuárias e não agropecuárias
• Proporcionar o espírito empresarial, de
• Emancipação econômica e social;
liderança, de associativismo e cooperati-
• “Agentes” de desenvolvimento
vismo;
• Aumento da qualificação técnica;
• Acesso a novas tecnologias (qualidade
AGENTES OPERADORES DO PRONAF
de vida);
JOVEM
• Sustentabilidade x Independência (ex:
insumos).
• Banco do Brasil;
• Banco do Nordeste;
• Banco da Amazônia;
107

Quem são os beneficiários?

• Jovens agricultores e agricultoras pertencentes a famílias


enquadradas no Pronaf;
• Maiores de 16 anos e com até 29 anos;
• tenham concluído ou estejam cursando o último ano em
centros familiares rurais de formação por alternância;
• tenham concluído ou estejam cursando o último ano em
escolas técnicas agrícolas de nível médio;
• tenham participado de curso ou estágio de formação
profissional que preencham os requisitos definidos pela
Secretaria da Agricultura Familiar do Ministério do Desen-
volvimento Agrário;

PRONAF JOVEM

Finalidade :
Investimento em atividades agropecuárias ou não agrope-
cuária desenvolvidas pelos jovens rurais.

Beneficiários:
Jovens agricultores (as) pertencentes à família enquadra-
das no Pronaf, maiores de 16 (dezesseis) anos e com até
29 anos (vinte e nove anos.

Limite Encargo Prazo Carência Observações

Até Financeiro Até Até *Uma única operação por


R$7.000,00 1% a a 10 anos família.
*Grupos A e A/C devem
te pago duas parcelas do
financiamento do grupo A
108

Portaria que regulamenta o Pronaf Jovem - SAF/


MDA n 98.

Art. 1º Estabelece que poderá ser concedida a DAP aos


jovens beneficiários que:

I - tenham concluído ou estejam cursando o último ano


em centros familiares rurais de formação por alternân-
cia, que atendam à legislação em vigor para instituições
de ensino;

II - tenham concluído ou estejam cursando o último ano


em escolas técnicas agrícolas de nível médio, que aten-
dam à legislação em vigor para instituições de ensino;

III - tenham participado de curso ou estágio de forma-


ção profissional que preencham os seguintes requisitos:
a) carga horária de 100 (cem) horas ou mais, que
poderão ser alcançadas mediante o somatório das
cargas horárias de mais de um curso ou estágio
de formação profissional, voltados para atividades
agropecuárias ou não agropecuárias e de prestação
de serviços no meio rural, a serem desenvolvidas na
unidade familiar ou proximidades;
b) ministrado por instituição pública de assistência
técnica e extensão rural mantidas pelo poder execu-
tivo municipal, estadual ou federal ou;
c) ministrado por instituição ou entidade de assistên-
cia técnica e extensão rural não governamental, ou
ainda pelo SENAR, SEBRAE e SESCOOP ou;
d) ministrado por instituição ou entidade que desen-
volva seus trabalhos voltados à juventude rural há
pelo menos 1 (um) ano.

Art. 2º As entidades credenciadas para a emissão de DAP


responsabilizar-se-ão pela análise dos documentos que
comprovam a participação dos jovens nos cursos, estágios
e outros processos de capacitação ou formação técnico-
profissional descritos no art. 1º desta Portaria.
109

Desempenho da Linha Pronaf Jovem por unidade federativa – Período 2003-2007

Safra 2003/2004 Safra 2004/2005 Safra 2005/2006 Safra 2006/2007 Total/UF

UF Contato Valor Contato Valor Contato Valor Contato Valor Contato Valor

AC - - - - - - - - - -
AM - - - - - - - - - -
AP - - - - - - - - - -
PA - - - - - - - - - -
RO - - - - - - - - - -
RR - - - - - - - - - -
TO - - - - 1 5.950 7 40.887 8 46.836
N - - - - 1 5.950 7 40.887 8 46.836
AL - - - - 2 11.782 3 17.881 5 29.662
BA 2 28.025 - - 94 530.922 41 232.552 138 791.499
CE - - 2 11.966 65 343.643 97 494.861 164 850.470
MA - - 1 4.907 40 230.361 114 665.681 155 900.949
PB - - 1 5.997 4 22.603 2 11.894 7 40.494
PE - - - - 2 11.152 46 260.218 48 271.370
PI - - - - 13 65.892 8 45.112 21 111.004
RN - - 1 5.821 3 17.026 24 136.107 28 158.954
SE - - - - 2 10.392 1 5.967 31 16.359
NE 2 28.025 5 28.690 226 1.243.773 336 1.870.274 569 3.170.762
DF - - - - - - - - - -
GO 2 16.983 - - 5 29.807 12 70.970 19 117.760
MS - - - - 2 8.804 6 35.005 8 43.809
MT 1 18.000 - - - - - - 1 18.000
CO 3 34.983 - - 7 38.611 18 105.975 28 179.569
ES - - - - 13 77.671 17 98.144 30 175.815
MG 1 7.500 8 59.316 22 122.666 33 170.692 64 360.174
RJ - - - - - - - 6.000 1 6.000
SP - - - - 9 53.999 50 299.993 59 353.992
SE 1 7.500 8 59.316 44 254.336 101 574.829 154 895.981
PR - - 1 18.000 109 637.664 157 925.878 267 1.581.542
RS 2 43.400 1 6.000 99 632.333 75 437.193 177 1.118.926
SC 1 5.959 - - 27 161.076 85 507.411 113 674.446
S 3 49.359 2 24.000 235 1.431.074 317 1.870.482 557 3.374.915

Total 9 119.867 15 112.007 513 2.973.744 779 4.462.446 1.316 7.668.064


110

VALOR MÉDIO DOS CONTRATOS - R$ 5.826,80


Analise comparativa entre % do total dos contratos e % do total do valor
financiado por Região

0,6% 0,6%
42,3% 43,2% 44,0% 41,4%

11,7% 2,1% 11,7% 2,3%

N NE CO SE S N NE CO SE S

Comparação entre % total de contrato e % total de valor financiado por


Agência Financiadora

0,2% 0,2%
39,1% 37,5%

60,7% 62,3%

BB BNB BASA BB BNB BASA

(Fonte:apresentação realizada no Seminário Nacional PRONAF JOVEM, Centro de Estudos Sindi-


cais Rurais da Contag – CESIR, Brasília, novembro de 2007 por Diogo de Paula.)

PARA DEBATER

? De que forma o PRONAF (Programa Nacional para a Agricultura Fami-


liar) atende as necessidades do (a) agricultor (a)?

? Há na sua comunidade beneficiário do Pronaf Jovem? Como, então,


vem se dando a implementação desse Programa em sua localidade?

? Quais são os avanços que o PRONAF está trazendo


para o campo?

? Quais as maiores dificuldades que os jovens ainda enfrentam para


acessar essa linha de crédito?
111

Texto 35
PARTICIPAÇÃO E ESCOLA
Aida Monteiro

“Ao considerarmos que a escola é um dos exercê-la e materializá-la. Nesse sentido,


principais “locus” de formação da cidada- a escola é um local singular, uma vez que
nia e tem como função principal a sociali- trabalha com a socialização dos diversos
zação dos conhecimentos historicamente tipos de conhecimentos, com valores e
acumulados e a construção de saberes atitudes.
escolares, é importante destacar que
compreendemos a cidadania na perspec- Essa escola, que o sociólogo francês Alain
tiva democrática, ou seja, a que contribui Touraine denomina de escola democrati-
e deve assegurar aos cidadãos o exercício zante, assume o compromisso de capacitar
dos direitos à liberdade e à igualdade de os indivíduos para serem atores, ensina a
acesso aos bens sociais e ao desenvolvi- respeitar a liberdade do outro, os direitos
mento [...].” individuais, a defesa dos interesses sociais
e os valores culturais”.
Compreender o papel da escola nessa
direção é entender que a formação da PARA DEBATER
cidadania é prática de vida em todas as

?
instâncias de convívio social dos indivídu- Como você entende a “escola demo-
os: na família, na escola, no trabalho, na cratizante” descrita no texto? Que
comunidade, na igreja e no conjunto da princípios e valores devem fundamentar
sociedade. É trabalhar, em todos os níveis as relações educativas?
e modalidades de ensino, com a formação

?
de hábitos, atitudes e mudanças de menta- Como viabilizar uma educação do
lidades, calçada nos valores da solidarieda- campo que vise a “cidadania ativa”
de, da justiça e os respeito ao outro. isto é, “a que possibilita ao ser humano
É o que Maria Victoria Benevides, da Uni- não apenas conhecer os seus direitos,
versidade de São Paulo, denomina de cida- mas motivá-lo a criar oportunidades
dania ativa, a que possibilita ao ser huma- para exercê-la e materializá-la” no pró-
no não apenas conhecer os seus direitos, prio processo de aprender/ensinar ?
mas motivá-lo a criar oportunidades para
112

Texto 36
JOVENS E A PARTICIPAÇÃO

• A maioria dos jovens (54%) acha que a • Entre 2002 e 2006 aumentou em 39%
política é algo “muito importante”. Mas o número de jovens entre 16 e 17 anos
não confiam nos partidos políticos (65%), que retiraram seu título eleitoral (Tribunal
nos deputados e senadores do Congresso Superior Eleitoral, 2006);
Nacional (64%) e nem nos vereadores da
sua cidade (55%). (Instituto Cidadania, • 68,8% dos jovens de 15 a 24 anos acredi-
2003); tam que o voto pode mudar a situação do
país. (Instituto Cidadania, 2003);
• 13 milhões de jovens brasileiros partici-
pam ou já participaram de alguma forma • 59% dos jovens acham que o melhor
associativa, como movimentos sociais, jeito para resolver os problemas do país é
ONGs, sindicatos, partidos políticos, gru- a participação nas decisões importantes do
pos culturais ou religiosos. (Unesco/ Ibope governo (Instituto Cidadania, 2003).
2004);
(Disponível em: http://www.juventude.gov.br/con-
ferencia/11_participacao_PB.pdf. Acesso em 10
• 28,1% dos jovens participam de algum mar. 2008)
tipo de grupo, seja religioso (42,5%), es-
portivo (32,5%) ou cultural (26,9%). (Ibase/
Pólis, 2005); PARA DEBATER

• 65,6% dos jovens procuram se informar


sobre política, mas sem participar direta-
mente (Ibase/Pólis, 2005);
? O que esses dados revelam sobre a
participação social e política da ju-
ventude brasileira? Você se reconhece
em algum desses dados?
• A grande maioria dos jovens acha que
“é preciso que as pessoas se juntem para
defender seus interesses” (89,5%) e que
“é preciso abrir canais de diálogo entre
? Teria algum questionamento a fazer
em relação a eles? Algum encami-
nhamento político? Outras falas ou
cidadãos e o governo” (87%). (Ibase/Pólis, ações?
2005);
113

Texto 37
“O que passou não conta? Indagarão
as bocas desprovidas.
Não deixa de valer nunca.
O que passou ensina
com sua garra e seu mel”.

Thiago de Mello

“A eficácia política, social e civil das democracias depende de


muitos fatores e de condições históricas específicas para o seu
bom desempenho. Há, contudo, um fator que funciona como
uma regra constitutiva para a possibilidade de seu êxito: que
os homens e as sociedades que elas organizam tenham en-
tendimento pleno de suas formas de organização e que, desse
modo, possam avaliar e contribuir criticamente, de modo siste-
mático, para o aprimoramento de sua capacidade de represen-
tação simbólica e de satisfação real de seus sonhos e necessi-
dades”.

Carlos Vogt

(Disponível em: http://www.comciencia.br/reportagens/2005/07/01.shtml. Acesso em:


16 mai. 2008)

PARA DEBATER

? Quais as características sociohistóricas do Brasil e


suas possíveis repercussões na organização da vida
dos povos do campo?
114

Cronologia da Luta
1945 no Brasil, até o golpe militar Trabalhadores (CGT),
– Fim do Estado Novo de 64. posteriormente, foi
– Os movimentos sociais no – Fundado o DIEESE esmagada pelo Golpe
campo, retomam suas lutas. (Departamento Intersindical Militar. Fundação da
de Estatística e estudos Federação Estadual
1950 Sócio-Econômicos). Terá dos Trabalhadores na
1º Congresso Camponês destacado papel na Agricultura do Estado de
de Pernambuco, inicio contestação da política Pernambuco, 06 de junho.
das primeiras discussões salarial durante a ditadura Reconhecida pelo Ministério
sobre Reforma Agrária no militar e, nos anos do Trabalho no mesmo ano.
Congresso Nacional. seguintes, na denúncia do – Fundação da Federação
desemprego e suas causas.. Estadual dos Trabalhadores
1951 na Agricultura do Estado do
O governo do Paraná, sob 1960 Rio Grande do Norte, em 15
pressão dos posseiros de – É criado, no Rio Grande de junho. Reconhecida pelo
Porecatu em armas desde do Sul, o Movimento dos Ministério do Trabalho em
1950, declara pela 1ª vez Agricultores Saem Terra 14 de agosto de 1963.
no Brasil, que as terras em – MASTER. Inauguração – Fundação da Federação
litígio passariam a ser de de Brasília, tendo à época, Estadual dos Trabalhadores
utilidade pública, para fins aproximadamente 141 mil na Agricultura do Estado de
de desapropriação. habitantes. Sergipe, em 18 de junho.
– 1º Congresso da Reconhecida pelo Ministério
Federação de Mulheres 1961 do Trabalho em 18 de julho
do Brasil, em S. Paulo. – 1º Congresso Nacional dos de 1963.
A entidade atua Lavradores e Trabalhadores – Fazendeiros mandam
nacionalmente, em especial Agrícolas ou “Congresso matar João Pedro
na luta pela paz, até ser de Belo Horizonte”, com Teixeira, presidente da
fechada pelo golpe de 64. cerca de 1.600 delegados. Liga Camponesa de Sapê,
Jânio renuncia e, o Vice- Paraíba. Durante o enterro 5
1954 presidente João Goulart mil pessoas compareceram.
– A II Conferencia Nacional assume através da João Pedro foi imortalizado
dos Trabalhadores Agrícolas, Emenda Constitucional no filme “Cabra marcado
cria a União dos Lavradores nº 4, com compromisso para morrer”.
e Trabalhadores Agrícolas parlamentarista.
do Brasil 1963
– ULTAB. Defendem o fim 1962 – Fundação da Federação
do latifúndio e das formas – Regulamentação Estadual dos Trabalhadores
feudais de exploração da sindicalização de na Agricultura do Estado de
do trabalho no campo. trabalhadores rurais. São Paulo, em 29 de abril.
– Presidente Getulio Vargas – Acontece o 1º Congresso Reconhecida pelo Ministério
se mata com tiro de revólver de Trabalhadores na do Trabalho em 17 de
no peito, no Catete, Rio. Lavoura do Nordeste, setembro do mesmo ano.
em Itabuna, Bahia. Um – Fundação da Federação
1955 marco na construção de Estadual dos Trabalhadores
– É criada a 1ª Liga uma identidade regional e na Agricultura do Estado da
Camponesa em nacional, dos trabalhadores Paraíba, em 19 de junho.
Pernambuco, no Engenho e trabalhadoras rurais. Reconhecida pelo Ministério
Galiléia, em Vitória de Santo – Ocorre o 4º Congresso do Trabalho em 26 de
Antão. Marco inicial da Sindical com 2.566 novembro do mesmo ano.
primeira grande onda de delegados, é fundado – Fundação da Federação
lutas pela reforma agrária o Comando Geral dos Estadual dos Trabalhadores
115

na Agricultura do Estado Trabalhador Rural, através da associações etc.


do Paraná, em 20 de julho. Lei 4.214, de 02 de março. – Onda de prisões pelo
Reconhecida pelo Ministério – Trabalhadores rurais país. Diretoria da CONTAG
do Trabalho em 29 de julho assalariados nas Usinas de é destituída e perseguida,
de 1965. Barreiros, PE, seqüestram o seus principais dirigentes
– Fundação da Federação delegado e trocam tiros com são presos e exilados,
Estadual dos Trabalhadores a polícia. dentre esses, Lyndolpho
na Agricultura do Estado da – Fundação da Silva e José Pureza.
Bahia, em 01 de setembro. Confederação Nacional O governo militar, por
Reconhecida pelo Ministério dos Trabalhadores na meio do Ministério do
do Trabalho em 06 de Agricultura Trabalho, constitui uma
agosto de 1965. – CONTAG, no Rio Junta Governativa para
– Fundação da Federação de Janeiro, em 22 de administrar a CONTAG,
Estadual dos Trabalhadores dezembro. Reconhecida, encabeçada por José Rotta,
na Agricultura do Estado do por meio do Decreto dirigente sindical paulista.
Ceará, em 19 de setembro. Presidencial 53.517, de – O General-Presidente
Reconhecida pelo Ministério janeiro de 1964. Castelo Branco promulga o
do Trabalho em 18 de Estatuto da Terra, Lei 4.504
dezembro do mesmo ano. 1964 de 30 de novembro, que
– Fundação da Federação – Comício da Central do previa a desapropriação
Estadual dos Trabalhadores Brasil pró-reformas de base de propriedades que não
na Agricultura do Estado do reúne 300 mil pessoas. João cumprissem sua função
Rio Grande do Sul, em 06 de Goulart social.
outubro. Reconhecida pelo anuncia a nacionalização das
Ministério do Trabalho em refinarias de petróleo. 1965
24 de agosto de 1965. – O Comando Geral dos – Fundado o MDB
– Fundação da Federação Trabalhadores – CGT, anuncia (Movimento Democrático
Estadual dos Trabalhadores uma Greve Geral pelas Brasileiro, hoje PMDB), de
na Agricultura do Estado reformas de base. oposição ao regime
de Alagoas, em 10 de – Marcha da Família com ditatorial de 1964. José
dezembro. Reconhecida Deus pela Liberdade, uma Rotta, presidente da Junta
pelo Ministério do Trabalho experiência conservadora Governativa do Ministério
em 19 de março de 1964. de mobilização de massas, do Trabalho, é eleito para
– Fundação da Federação coordenada pela direita assumir a presidência da
Estadual dos Trabalhadores brasileira. Consolidava-se CONTAG. Regulamentação
na Agricultura do Estado do o ambiente para o Golpe da Sindicalização Rural,
Rio de Janeiro, em 1963. Militar de 1964. por meio da Portaria
Reconhecida pelo Ministério – João Goulart é deposto Ministerial nº 71, de 02 de
do Trabalho em 04 de maio pelos militares. fevereiro.
de 1965. – General Castelo Branco,
– Em plebiscito nacional, assume a Presidência da 1966
o povo diz não ao República no período 1964 – Setores da Igreja
Parlamentarismo no Brasil. – 1967. Católica passam a ter
João Goulart reassume Cria o Conselho de Segurança uma presença maior no
os plenos poderes de Nacional – CSN, núcleo real campo. Consolidavam-se as
Presidente da Republica. da ditadura militar, extingue Comunidades Eclesiais de
– 1ª Convenção Brasileira os partidos políticos, cassa Base – CEBs, fundamentais
de Sindicatos Rurais, com os mandatos legislativos na formação de quadros
400 dirigentes sindicais, de por todo o país e intervem para as organizações
17 estados. em todas as organizações populares e sindicais no
– Promulgado o Estatuto do democráticas – sindicatos, campo.
116

1967 de abril. Reconhecida pelo Frente Agrária Gaúcha e


– Criação do Fundo de Ministério do Trabalho pela Federação Estadual
Assistência ao Trabalhador em 03 de março de 1969. dos Trabalhadores na
Rural – FUNRURAL, através Fundação da Federação Agricultura – FETAG/RS.
do Decreto-Lei nº 276, de Estadual dos Trabalhadores Realização do III Encontro
28 de fevereiro. Realização na Agricultura do Estado das Federações do
do Encontro Nacional dos de Santa Catarina, em 02 Nordeste, no Rio Grande
Canavieiros, em Carpina, de julho. Reconhecida pelo do Norte.
Pernambuco, dando inicio Ministério do Trabalho em
aos primeiros passos para 07 de janeiro de 1969. 1970
a retomada da CONTAG, Fundação da Federação – Fundação da Federação
da influencia do Ministério Estadual dos Trabalhadores Estadual dos Trabalhadores
do Trabalho. Realização na Agricultura do Estado na Agricultura do Estado
da 1ª Conferência do Pará, em 30 de de Alagoas, em 28 de
Intersindical, no Rio de dezembro. Reconhecida outubro. Reconhecida pelo
Janeiro. Contando com a pelo Ministério do Ministério do Trabalho
participação de dirigentes Trabalho em 28 de janeiro em 30 de novembro do
sindicais portuários, de 1969. Cerca de 10 mesmo ano. Fundação
industriários, bancários e mil canavieiros entram da Federação Estadual
dirigentes sindicais do meio em Greve, na cidade dos Trabalhadores na
rural. Consolida-se o apoio pernambucana do Cabo. Agricultura do Estado do
urbano a retomada da José Francisco, apoiado Piauí, em 19 de dezembro.
CONTAG. General Costa e por setores progressistas Reconhecida pelo
Silva, assume a Presidência do sindicalismo rural e Ministério do Trabalho em
da Republica, durante o urbano, derrota José Rotta, 22 de novembro de 1971.
período de 1967 a 1969. por 01 voto de diferença, – Criação do Programa
Durante sua gestão, o povo tornando-se Presidente da Nacional do Álcool
viveu o momento mais CONTAG. – PROALCOOL, que só veio
duro e cruel da ditadura a ser implementado em
militar. As organizações 1969 1975, como alternativa
estudantis foram – General Garrastazu ao setor automobilístico,
dizimadas. 68 municípios Médici, assume a diante da crise do petróleo.
foram impedidos de Presidência da Republica, – Fundação da Federação
eleger prefeitos, sendo durante o período de 1969 Estadual dos Trabalhadores
considerados de Segurança a 1974. Durante sua gestão, na Agricultura do Estado de
Nacional. O governo proíbe foi aprovado o decreto- Goiás, em 28 de outubro.
qualquer manifestação lei da censura prévia
pública. Fundação da em livros e periódicos. 1971
Federação Estadual Apesar das denuncias – Fundação da Federação
dos Trabalhadores na internacionais sobre a Estadual dos Trabalhadores
Agricultura do Estado do tortura de presos políticos na Agricultura do Estado
Espírito Santo, em 20 de no Brasil, manteve-se a do Mato Grosso, em 23 de
dezembro. Reconhecida forma brutal de governar e outubro. Reconhecida pelo
pelo Ministério do Trabalho eliminar quem discordasse. Ministério do Trabalho em
em 11 de abril de 1968. O Presidente, declara no 1972.
Rio Grande do Sul que “o – Criação do Programa de
1968 homem não foi feito para a Assistência ao Trabalhador
– Fundação da Federação democracia”. Realização do Rural – Prorural. Através da
Estadual dos Trabalhadores IV Congresso Estadual de Lei Complementar nº 11 de
na Agricultura do Estado Jovens Rurais no Rio Grande 25/05/1971
de Minas Gerais, em 27 do Sul, coordenados pela – Governo Militar lança o
117

Programa de Redistribuição 1975 – Os trabalhadores rurais,


de Terras – PROTERRA, – Fundação da Federação legalmente, passam a ter
através do Decreto-Lei nº Estadual dos Trabalhadores direito ao FGTS.
1.179 de 06 de julho. na Agricultura do Estado – A Campanha por Anistia
– 4ª eleição da CONTAG, do Amazonas, em 14 de Ampla, Geral e Irrestrita,
sendo reeleito José dezembro. Reconhecida ganha as ruas do país.
Francisco, para a pelo Ministério do Trabalho – Começa mobilização da
presidência da entidade. em 29 de maio de 1976. 1ª greve dos canavieiros de
-A Igreja Católica cria a Pernambuco após 11 anos.
1972 Comissão Pastoral da – Realização do 3º
– Fundação da Federação Terra – CPT, a luta contra o Congresso Nacional dos
Estadual dos Trabalhadores latifúndio e por Trabalhadores Rurais
na Agricultura do Estado do democracia no campo se – CNTR, em Brasília, com
Maranhão, em 02 de abril. fortalece. cerca de 1.500 delegados
– Mudança da sede da (as).
CONTAG do Rio de Janeiro, 1976 – O Congresso Nacional
para Brasília. –Juscelino Kubitschek aprova o fim do
– Começou a funcionar morre em acidente de carro bipartidarismo (ARENA–
provisoriamente em na via Dutra. MDB). General João
Taguatinga, o Centro de - Morre do coração, na Baptista Figueiredo,
Estudos Sindicais Rurais Argentina, o ex-Presidente assumiu a Presidência
– CESIR, da CONTAG. João Goulart. a Republica durante o
período de 1979 – 1985.
1973 1977 Sua gestão foi marcada
– Realização do 2º – Assassinato de Eugênio pela militarização dos
Congresso da CONTAG, em Lira, advogado dos conflitos agrários. Criou o
Brasília, com mais de 700 trabalhadores rurais da Ministério Extraordinário
delegados. Bahia. para Assuntos Fundiários
– 6ª eleição da CONTAG, – MEAF, cuja direção
1974 com a reeleição de José coube ao General Danilo
– 5ª eleição da CONTAG, Francisco a presidência Venturini. Criou o Grupo
José Francisco foi reeleito da entidade. Inaugurada executivo de Terras do
para a presidência da a sede própria do Centro Araguaia -Tocantins
entidade. de Estudo Sindical Rural – GETAT, também sob
– General Ernesto Geisel, – CESIR, no Núcleo controle militar.
assumiu a Presidência Bandeirante
da Republica, durante o – DF. Construída com 1980
período de 1974 – 1979. recursos próprios, sem – Mil pessoas, entre
Durante sua gestão, os nenhuma doação do sindicalistas, intelectuais,
crimes praticados contra Estado ou de organizações líderes rurais e religiosas,
militantes de esquerda internacionais. aprovam no colégio SION,
foram ampliados com em São Paulo, manifesto
requintes de crueldade, 1979 de fundação do PT.
a exemplo do jornalista – Fundação da Federação Realização da Semana
Vladimir Herzog. Impõe Estadual dos Trabalhadores Sindical (25 de abril a 1º de
a sociedade, a eleição na Agricultura do Estado do maio), coordenado pelas
indireta para governadores Mato Grosso do Sul, em 29 Federações e Sindicatos.
e cria a figura dos de fevereiro. Reconhecida Greves em Minas Gerais
senadores biônicos, como pelo Ministério do Trabalho e no Nordeste, mobilizam
forma de garantir controle em 23 de maio do mesmo mais 250 mil trabalhadores
político. ano. rurais assalariados. José
118

Francisco, presidente da Agrícola – Federações do Teixeira, líder da Liga


CONTAG; Chico Mendes, RS, SC, PR, SP, ES e MS. Camponesa de Sapé, na
dirigente sindical rural A sede da CONTAG volta Paraíba. Com direção do
do Acre; Luis Inácio da a funcionar na Avenida cineasta Eduardo Coutinho.
Silva, presidente do PT, W-3 Norte, Quadra 509-B, 10º Encontro do Vale do
Jacó Bittar, dentre outros Edifício CONTAG, Brasília São Francisco reforça a luta
sindicalistas e militantes – DF. CONTAG realizou o 3º dos trabalhadores rurais de
de esquerda, foram Encontro Nacional sobre Itaparica.
processados pela Lei Conflito de Terras, em
de Segurança Nacional, Brasília. 1984
por participarem de ato – Encontro nacional de
contra a morte violente de 1983 Trabalhadores Sem Terra,
Wilson Souza Pinheiro. 7ª – Fundação da Federação religiosos, militantes
eleição da CONTAG, com a dos Trabalhadores na de esquerda e ONG’s,
reeleição de José Francisco Agricultura do Estado do de 4 dias em Cascavel
a presidência da entidade. Acre, em 07 de agosto. no Paraná, fundam o
Reconhecida pelo MST (Movimento dos
1981 Ministério do Trabalho em Trabalhadores Rurais
– 1ª Conferencia Nacional 28 de outubro de 1984. Sem-Terra). Plenária
da Classe Trabalhadora Congresso de fundação Nacional da CUT, em 18
– CONCLAT, de 21 a 23 de da Central Única dos de maio, em São Paulo.
agosto, em Praia Grande, Trabalhadores (CUT), em 1º Congresso Nacional
São Paulo. Reuniu 5.030 São Bernardo, São Paulo. da CUT, de 24 a 26 de
delegados de 1.126 Jair Meneguelli é eleito agosto, em São Bernardo
entidades. 1º de outubro, o primeiro presidente do Campo, São Paulo.
foi o Dia Nacional de Luta, – fica no cargo até 1994. Com 5.222 delegados
convocado pela Comissão Congresso Nacional da (as), foi eleita a direção
Nacional Pró-CUT. Foi Classe Trabalhadora, nacional, tendo como
entregue ao Governo em Praia Grande. É presidente, o metalúrgico
Militar, um manifesto criado o Conselho Jair Meneguelli. Apesar das
exigindo o fim do Sindical para gerir as mais de 8 milhões pessoas
desemprego, da carestia, políticas intercategorias. nas ruas em 100 dias, a
contra a redução de O movimento sindical emenda das Diretas não
benefícios da previdência brasileiro estava dividido foi aprovada na Câmara
social, pela reforma em duas organizações Federal. Foram 298 votos
agrária, direito a moradia, sindicais nacionais. a favor, 65 votos contra e,
liberdade e autonomia Pistoleiros matam a tiros, 112 ausências. Foram 22
sindical e, por liberdades na porta de sua casa, votos a menos que os 2/3
democráticas. CONTAG Margarida Maria Alves, exigidos. Salário mínimo
lançou livro sobre “As Lutas presidente do STR de passa a ser unificado em
Camponesas no Brasil”, Alagoa Grande, na Paraíba. todo o território nacional.
pela Editora Marco Zero. 1º comício pró-diretas,
reuniu 10 mil pessoas no 1985
1982 Pacaembu, em São Paulo. – Tancredo Neves morre
– Encontro Nacional de 8ª eleição da CONTAG, após ser eleito para
Avaliação do MSTTR, com com a reeleição de José Presidência da Republica
a presença de dirigentes Francisco a presidência durante o período de
da CONTAG e de todas da entidade. A FASE lança 1985 a 1990. Seu vice-
as Federações. CONTAG o vídeo, “Cabra marcado Presidente José Sarney,
realizou o 3º Encontro para morrer”, baseado assume a Presidência.
Interestadual de Política na historia de João Pedro – 2 pistoleiros matam
119

com 12 tiros, o dirigente 1988 1991


sindical João Canuto de – 3º Congresso Nacional – Zélia Cardoso lança o
Oliveira. A última frase do da CUT, de 07 a 11 de Plano Collor 2, com feriado
líder sindical: “Morro, mas setembro, em Belo bancário, congelamento de
fica a semente”. Realização Horizonte. O metalúrgico preços. Realização do 5º
do 4º Congresso da Jair Mneguelli foi reeleito a Congresso da CONTAG, com
CONTAG, em Brasília. O presidência da central. mais de 2 mil delegados (as)
Presidente José Sarney, – Fundação da Federação de todo o país. Realizava
participa da abertura do Estadual dos Trabalhadores assim, o primeiro congresso
congresso. na Agricultura do Tocantins, em Brasília temático e
– Governo Federal cria em 27 de novembro. eleitoral da historia do
o 1º Plano Nacional da – Sarney lança o Plano MSTTR.
Reforma Agraria – PNRA, Verão, a moeda passa a ser – 4º Congresso Nacional
que passa a ser objeto o Cruzado Novo (Ncz$). da CUT, de 04 a 08 de
de criticas e ataques de – Assassinado por setembro, em São Paulo, o
setores conservadores no Grileiros, o sindicalista metalúrgico Jair Mneguelli
Congresso Nacional acreano, ambientalista e foi reeleito a presidência
–1ª eleição em congresso personalidade mundial, da central. 1º congresso
da historia da CONTAG, em Chico Mendes. da Força Sindical, em
Brasília. José Francisco foi – I Seminário Nacional São Paulo. Prega um
reeleito para a presidência de Trabalhadoras Rural, “capitalismo moderno”,
da entidade. coordenado pela CONTAG. privatizante e competitivo..
– A Constituição Federal é
1986 promulgada, batizada como 1992
– 2º Congresso Nacional constituição Cidadã. – O Congresso Nacional,
da CUT, no Rio de Janeiro, sob forte pressão popular,
de 01 a 03 de agosto. 1989 instaura a CPI para apurar
O metalúrgico Jair – 1ª eleição presidencial denúncias contra Fernando
Meneguelli foi reeleito a após 29 anos. Vitória Collor.
presidência da central. de Fernando Collor, em – Começa no Rio a Eco-92,
segundo turno. conferência da ONU sobre
1987 – Greve Geral de 14 a 15 ecologia, com 114 chefes de
– Surge a União de março. A CUT e a CGT, estado e 40 mil ecologistas
Democrática Ruralista se uniu para a realização de todo o mundo.
– UDR, organização ligada desta greve contra o “Plano – O impeachment: foi
a CNA e a Sociedade Verão”. Cerca de 35 milhões aprovado por 441 votos a
Rural Brasileira. Passa a de trabalhadores (as) favor e 38 contra. Collor
estimular seus associados, aderiram a greve. teve seus direitos políticos
a usar a força das armas – A eleição da CONTAG suspensos por oito anos.
no combate às ocupações não ocorreu em congresso, – O vice-presidente
de terra. -Paulo Fonteles, conforme deliberação do Itamar Franco, assume a
advogado dos posseiros do 4º congresso nacional. Presidência da Republica.
sul no Pará, é morto por Foram colocadas urnas nas – III Seminário Nacional
um pistoleiro com 5 tiros Federações, cabendo um de Trabalhadoras Rurais,
na cabeça. voto por Sindicato filiado. pressão no Congresso
– É constituída a Comissão Foi eleito Aloísio Carneiro Nacional, garantiu
Nacional de Mulheres para a presidência da a regulamentação
Trabalhadoras Rurais CONTAG. das conquistas das
– CNMTR. Greve Geral em – II Seminário Nacional trabalhadoras rurais.
20 de agosto, convocada de Trabalhadoras Rural, v Jornada de Lutas dos
pela CUT e CGT. coordenado pela CONTAG. Trabalhadores Rurais, de
120

abril a julho, promovida de 27 de maio de 1994, a partir de convenio entre a


pela CONTAG, CUT, antecedeu a nova moeda. CONTAG e a EMBRAPA.
MST, CPT e outras Em 01 de Julho nascia o – Criação do Fórum pela
entidades. Reivindicavam Real. 5º Congresso Nacional Reforma Agrária e Justiça
terra para plantar e da CUT, em São Paulo. O no Campo, envolvendo
morar, credito rural metalúrgico Vicentinho organizações sociais
subsidiado, salário digno, foi eleito presidente da e sindicais que atuam
previdência garantida central. no campo, Partidos
aos trabalhadores rurais, – 1º Congresso Nacional Políticos e, organizações
dentre outras. Extraordinário da CONTAG, governamentais ligadas aos
em Brasília. direitos humanos.
1993 – Festa de comemoração – Descoberto aparelho
– Fundação da Federação dos 30 anos da CONTAG, de espionagem dentro de
Estadual dos Trabalhadores em Brasília. tomada elétrica no CESIR,
na Agricultura de – A CONTAG realiza o 1º em Brasília. A CONTAG
Rondônia, em 20 de junho. Grito da Terra Brasil – GTB. e a CUT, realizaram o I
– CONTAG assina convenio Em parceria com a CUT, Encontro Nacional de
com o Banco do Brasil, MST, MAB, CNS, MONAPE e Meninos e Meninas
permitindo a cobrança da CAPOIB. Trabalhadoras Rurais, em
Contribuição Confederativa – O candidato a Presidência Brasília.
em todos os municípios do da Republica Luis Inácio – Chacina em Corumbiara,
país. Congresso Nacional Lula da Silva, visitou a Rondônia. Policiais Militares
aprovou a Lei Agrária CONTAG e recebe apoio de a serviço do latifúndio,
e o Rito Sumário da maioria das Federações. executaram com tiros pelas
desapropriação para fins – Assinado o convênio da costas, sete trabalhadores
de reforma agrária. CONTAG com o INSS, os rurais, inclusive uma
– CONTAG em convenio sócios (as) aposentados ou criança de 07 anos.
com a Organização pensionistas, podem pagar – CONTAG e FASER,
Internacional do Trabalho suas mensalidades através promoveram em Brasília,
- OIT, começou a de desconto em folha de no CESIR, o Seminário
desenvolver o Programa: pagamento. Nacional “Agricultura
Erradicação do Trabalho Familiar e a Extensão
Infantil. 1995 Rural”.
– O Nordeste enfrentou a – Fernando Henrique – Morre Florestan
pior seca do século, mais Cardoso assume a Fernandes, pioneiro da
de 12 milhões de famílias Presidência da Republica. sociologia crítica no país.
foram atingidas. – Realização do 6º CNTR,
– A Câmara dos Deputados em Brasília, com mais de 2 1996
aprovou o Projeto de lei mil delegados. – No Pará, no município
que institui o pagamento – O Conselho Monetário de Eldorado dos Carajás, a
do salário maternidade Nacional – CMN, aprovou Policia Militar assassinou
para as seguradas no dia 23 de agosto, 19 trabalhadores sem-terra
especiais. a resolução nº 2.191, que bloqueavam a Rodovia
que institui o Programa PA-150. No 4º Grito da Terra
1994 Nacional de Fortalecimento Brasil – GTB, coordenado
– Entra em cena o da Agricultura Familiar pela CONTAG, em parceria
Plano Real (o 6º plano – PRONAF. com a CUT e organizações
econômico, em 8 anos). – Criação do banco de sociais, mobilizaram mais
Um indexador, a Unidade tecnologias do MSTTR, de 100 mil trabalhadores
de Real de Valor – URV, o Banco Nacional da e trabalhadoras rurais em
instituída pela Lei 8880 Agricultura Familiar – BNAF, todo o país.
121

– Eleita Margarida Pereira 1997 1998


da Silva, a Hilda de – Edição do Decreto 2.250, – Fundação da Federação
Pernambuco, para um que delibera que terras Estadual dos Trabalhadores
mandato de três anos à ocupadas, não poderão na Agricultura do Distrito
frente da Coordenação ser objeto de vistoria. Federal e Entorno, em 28
da CNMTR da CONTAG. A – Programa de radio “A de junho. Realização do
CNMTR desencadeou uma VOZ DA CONTAG”, foi um 7º CNTTR, em Brasília,
serie de eventos sobre o dos ganhadores do Premio contando com mais de
papel das mulheres nas Vladimir Herzog de Anistia 1400 delegados.
eleições partidárias e, nos e Direitos Humanos.
Congressos das Federações – 3º Encontro de Meninos 1999
e da CONTAG. e Meninas Trabalhadoras – Fernando Henrique
– A CONTAG, Federação Rurais, em Brasília, Cardoso assume o 2º
do Rio Grande do Norte e coordenado pela CONTAG. mandato presidencial.
ASSOCENE, promoveram – 6º Congresso Nacional – I Fórum CONTAG de
o I Salão Nordestino da da CUT, de 13 a 17 de Cooperação Técnica, em
Agricultura Familiar, em agosto, em São Paulo. Brasília/DF, em agosto,
Natal-RN. Os 2.266 delegados (as) sobre Desenvolvimento
– Lei 9.126, regulamenta reelegeram o metalúrgico Rural Sustentável.
a aplicação dos Fundos Vicentinho para a – 2º Congresso Nacional
Constitucionais para o presidência da CUT. Extraordinário da CONTAG,
credito agrícola, com juros – Começa a em Brasília, contando com
e condições de pagamento implementação mais de 600 delegados (as).
diferenciado para a do Programa de – O programa de rádio “A
agricultura familiar. Desenvolvimento Local VOZ DA CONTAG”, ganha
– 3º Seminário de Avaliação Sustentável – PDLS, em premio por sua luta em
e Planejamento do Sistema todos os municípios defesa dos direitos da
CONTAG de Comunicação, do país, coordenado criança, concedido pelo
no CESIR, em Brasília. nacionalmente pela Instituto Airton Sena.
– II Encontro Nacional CONTAG. – Seminário Nacional
de Meninos e Meninas – Começa a de Educação do Campo
Trabalhadoras Rurais, implementação do projeto – Construindo o PADRS, em
coordenado pela CONTAG, “Educação em Saúde Brasília, com a participação
contou com a presença de Reprodutiva, Gênero e de todas as Federações.
Lula, presidente de honra Família”, nos estados do – Dia Nacional de
do PT. Rio Grande do Norte, Protestos e Paralisação
– Realização de 05 Ceará e Pernambuco, de rodovias, contra o
Seminários Regionais coordenado pela CONTAG. modelo de reforma
de Desenvolvimento – Realização da 1ª agrária implementado
Alternativo, identificando Plenária Nacional das pelo governo, sob a
recortes regionais do Mulheres Trabalhadoras coordenação da CONTAG e
desenvolvimento, começava Rurais, com 300 FETAGs.
a ganhar forma o PADRS. participantes. – 1º Encontro Nacional da
– Começa a implementação – Morre Paulo Freire, Juventude Trabalhadora
do Projeto CUT/ CONTAG educador pernambucano, Rural, em Brasília,
de Pesquisa e Formação com 76 anos. coordenado pela CONTAG.
Sindical, importante – Morre Herbert de Sousa, – 1º Encontro Nacional
instrumento na construção o Betinho, com 62 anos, de Trabalhadores
do PADRS. de Aids, no Rio de Janeiro. e Trabalhadoras
– Estréia o voto eletrônico, – Fundação da Social- Rurais Aposentados e
para prefeito de 57 cidades. Democracia Sindical – SDS. Aposentadas, em Brasília,
122

coordenado pela CONTAG. terra, saúde, educação de Educação Básica para


– CONTAG e Federações e inclusão social, as Escolas do Campo”, por
lançam o Projeto coordenada pela CONTAG meio da resolução nº 01,
Alternativo de e entidades parceiras. de 03/04/2002. Resultado
Desenvolvimento Rural – 7º Congresso Nacional da construção coletiva
Sustentável – PADRS, da CUT, de 15 a 19 de e pressão da CONTAG e
em São Paulo, junto à agosto, em Serra Negra organizações parceiras.
sociedade civil. – SP. Os 2.309 delegados – Conselho Deliberativo da
– Morre Francisco Julião, (as) elegeram o professor CONTAG aprova apoio a
líder das Ligas Camponesas João Antonio Felício, para eleição de Luis Inácio Lula
nos anos 50-60. a Presidência da CUT. da Silva à Presidência da
– Realização do II Fórum - IV Fórum CONTAG de Republica.
CONTAG de Cooperação Cooperação Técnica,
Técnica, em dezembro, realizado em Recife/PE, 2003
em São Luis. Sobre em novembro, sobre a – Luis Inácio LULA da Silva
Processos de Organização importância estratégica da assume a Presidência da
de Base, Educação, Gestão Educação do Campo para Republica.
Participativa e Políticas o Desenvolvimento Rural – Marcha das Margaridas –
Publicas. Sustentável. 2003 Razões para Marchar.
– Criação do Ministério do Mais de 40 mil mulheres
Século 21 Desenvolvimento Agrário estiveram em Brasília, na
– MDA, reivindicação segunda versão da maior
2000 histórica do MSTTR. manifestação de mulheres
– Fundação da Federação da historia desse país.
Estadual dos Trabalhadores 2001 – 8º Congresso Nacional
na Agricultura de Roraima, – Realização do 8º CNTTR, da CUT, de 03 a 07 de
em 02 de setembro. em Brasília, com mais de 2 junho, em São Paulo.
-Marcha Mundial das mil delegados e delegadas. Com a presença de 2.712
Mulheres, contra a Atentados terroristas delegados (as). Foi eleito
violência e a pobreza, em destroem as torres para a presidência da
130 países. gêmeas do World Trade central, o metalúrgico Luis
– III Fórum CONTAG de Center, em Nova York, e Marinho.
Cooperação Técnica, parte do Pentágono, em – Fundação da Federação
realizado em Porto Washington, deixando Estadual dos Trabalhadores
Alegre/ RS, em Julho, 3.300 mortos. na Agricultura do Amapá,
sobre Instrumentos de – Os Estados Unidos em 26 de outubro.
Gestão Participativa, iniciam bombardeio ao – Realização da 1ª PNTTR,
Sistemas de Gestão para Afeganistão. Segundo o de avaliação e correção
Sustentabilidade da governo norte-americano, de rumos do MSTTR a
Agricultura Familiar e o governo afegão estaria partir das deliberações
Estratégias de Gestão para protegendo Osama Bin do 8º Congresso da
a Inserção da Agricultura Laden, principal acusado CONTAG, contando com
Familiar no MERCOSUL. pelo atentado terrorista. a participação de mais de
– Marcha das Margaridas 600 delegados (as).
– 200 razões para Marchar. 2002
Maior manifestação de – Falece o sindicalista
mulheres já ocorridas no baiano e, ex-Presidente da
Brasil, aproximadamente CONTAG, Aloísio Carneiro.
10 mil mulheres – O Conselho Nacional
marcharam em Brasília, de Educação aprova as
reivindicando credito, “Diretrizes Operacionais
123

PARA DEBATER Texto 38


? Que relações conse-
guem estabelecer entre
as lutas dos povos do cam-
CHEGANÇA
po? O que isso lhe ensina? Antônio Nóbrega

? Tomando como refe-


rência à “Cronologia da
Luta” e os fragmentos de
Sou Pataxó,
sou Xavante e Cariri,
Ianonami, sou Tupi
Carlos Vogt e Thiago Melo , Guarani, sou Carajá.
pergunta-se: Sou Pancararu,
Carijó, Tupinajé,

? De que maneira as
questões discutidas se
relacionam às suas experi-
Potiguar, sou Caeté,
Ful-ni-o, Tupinambá.
Depois que os mares dividiram os continentes
ências de vida e à possibili- quis ver terras diferentes.
dade de melhoria do “estar Eu pensei: “vou procurar
sendo” no mundo na busca
do “ser mais”? um mundo novo,
lá depois do horizonte,
levo a rede balançante
pra no sol me espreguiçar”.

eu atraquei
num porto muito seguro,
céu azul, paz e ar puro...
botei as pernas pro ar.
Logo sonhei
que estava no paraíso,
onde nem era preciso
dormir para se sonhar.

PARA DEBATER

? -Sobre o que fala a letra de Chegança?

? -Você acrescentaria algo ao que é dito? Discordaria?


Questionaria? Concordaria? Por quê? Em que me-
dida essas reflexões contribuem na compreensão das
repercussões das principais características sociohistóri-
cas do Brasil em nossas vidas? Como podem ampliar as
possibilidades de intervenções críticas e transformado-
ras na realidade?
124

Texto 39
ÁRVORE DA MANDIGA
Mestre Bola Sete

No tempo da escravidão
Quando nego matou sinhá
Foi na árvore que o nego foi morar
O feitor passava perto
Não podia enxergar
Procurava o nego escravo
Que matou sua sinhá
Exu santo malandro
Mensageiro dos Orixás
Protegia o nego escravo
Que cansou de apanhar, camaradinha!
Iê, Viva meu Deus Camará!

PARA DEBATER

? Existe alguma semelhança entre o que diz a


letra da música e os atuais acontecimentos?
Por quê?

? Você acrescentaria algo ao que é dito? Discor-


daria? Questionaria? Concordaria? Por quê?

? Em que medida os conhecimentos sobre


as condições sociohistóricas do Brasil, nos
ajuda a compreender tal realidade? E a trans-
formá-la?

? Sabemos que o passado, presente e futuro


estão inter-relacionados. No entanto, em
que medida expressam situações humanizantes
ou desumanizantes?

? Trata-se de questões exclusivas dos negros e


negras? De outros povos? Quais?

? Como isso se concretiza na comunidade em


que você vive?
125

Texto 40
DA RAIZ A FLOR: PRODUÇÃO PEDAGÓGICA
DOS MOVIMENTOS SOCIAIS E A ESCOLA DO CAMPO
Maria do Socorro Silva

é o período de delineamento da identidade


Desde a chegada dos colonizadores por- social e política do trabalhador brasileiro.
tugueses que tivemos, em nosso país Evidentemente, havia trabalhadores mas
conflitos e rebeliões populares formados não uma classe trabalhadora. Até então,
por complexa composição étnica, social e quem trabalhara no Brasil foram os escravos
ideológica – índios, caboclos, camponeses, e a sociedade imperial escravista desmere-
escravos, alfaiates, barqueiros, religiosos, cera inteiramente o ato de trabalhar.
seleiros, etc - com proporções e alcan-
ces distintos, ora manifestando-se como Os movimentos sociais e políticos surgidos
amplos movimentos de massa construindo ao longo no inicio da República, vão estar
novas formas de organização social, po- impactados pelo processo de urbanização e
lítica e econômica, ora manifestando-se industrialização, além disso o ideário do par-
como ações específicas e localizadas ou tido comunista colocava o operariado como
movimentos messiânicos, de confronto o protagonista da transformação do país,
com a opressão, a miséria, a dependência, e, portanto, sujeito prioritário do processo
a ausência de direitos, a luta pela posse da organizativo e das ações educativas que
terra e por melhores condições de vida e visavam prioritariamente alfabetizar para
de trabalho nas sociedades Colonial, Mo- votar e formar quadros para o partido.
nárquica e Republicana.
No entanto, as várias revoluções que
Durante todos esses períodos tivemos vão ocorrer a partir da década de 1950
ações populares de intervenção na ordem no mundo terão uma intensa e decisiva
social, práticas reprimidas de participação participação dos camponeses: a revolu-
social e política do povo que colocaram ção chinesa, vietnamita, argelina, cubana,
em ebulição os direitos políticos e sociais, nicaragüense, e o surgimento das Ligas
antes que a cidadania e a sociedade civil se Camponesas no Brasil vão contribuir para
estabelecessem entre nós, e que tiveram repensar o papel desses sujeitos sociais
nos camponeses (as) sujeitos protagonistas como protagonistas das transformações
de várias dessas lutas e mobilizações. políticas e sociais.

A Abolição da escravidão (1888) juntamente Entretanto, as ciências sociais e as teorias


com a proclamação da República (1889), políticas sempre tiveram dificuldades em
marcam um dos momentos de maior encontrar um lugar para o campesinato,
transformação social já vivido pelo país. A sendo visto por muitos teóricos como uma
chamada Primeira República, que se segue, classe destinada a desaparecer, com uma
126

economia inviável e politicamente conserva- fixação das pessoas no campo como manei-
dora, contribuindo para o desconhecimento ra de evitar a explosão de problemas sociais
da cultura, da vida e da realidade campo- nas cidades, servindo assim também aos
nesa e de suas organizações nos estudos e segmentos das elites urbanas e da oligar-
pesquisas acadêmicas do País. quia rural que não queria o esvaziamento
da mão de obra no campo.
Na verdade, essa concepção vem sendo
rompida porque a realidade mostra que a A partir de 1950, o discurso baseado numa
priori não existe uma classe ou grupo mais tendência social e política urbanizante
revolucionário do que outro, na verdade e desenvolvimentista vem se contrapor
temos uma sociedade complexa na qual a ao discurso do ruralismo. Para o discurso
diversidade e heterogeneidade da classe urbanizador (ABRAÃO, 1986), as populações
trabalhadora na forma de produzir e repro- migrantes rurais têm uma mentalidade que
duzir a base material e imaterial da vida, as não se ajusta ao racionalismo da cidade,
relações sociais e a construção de diferentes cabendo à escola preparar culturalmen-
identidades sociais vão definindo os cená- te aqueles que residem no campo, com
rios e os sujeitos das transformações políti- uma educação que facilite a adaptação a
cas e sociais dentro de cada sociedade. um meio que tende a uniformizar-se pela
expansão da industrialização e da urbaniza-
Na área educacional a partir de 1930, pres- ção, cabendo a escola oferecer uma forma-
sionados pelo forte movimento migratório ção universal e única, e que os problemas
interno, o aumento da miséria no campo das escolas rurais estariam vinculados a
e na cidade, o movimento dos pioneiros sua organização, os métodos e técnicas que
da educação, a pressão dos setores urba- utilizava e a formação do professorado.
nizados da população por escola, o inte-
resse do empresariado para que se tivesse Esse discurso urbanizador vai se tornan-
uma capacitação da força de trabalho dos do gradativamente hegemônico na teoria
migrantes rurais ou estrangeiros, teve inicio pedagógica com uma perspectiva universa-
uma série de iniciativas dentre as quais: lista que vai anulando as especificidades e
as campanhas educativas nacionais, a a necessidade de uma política educacional
educação de adultos, as missões rurais, os especifica do campo, o que foi reforçado
programas radiofônicos, a implementação pela concepção de Educação de Base.
da extensão rural no Brasil. Os movimen-
tos civis e as lutas pela democratização da Segundo Brandão (1984), numa sociedade
educação pública, laica e gratuita vai sofrer que divide o trabalho e o poder, e que faz
forte influência do ruralismo pedagógico, de tal divisão a condição de sua ordem e a
e contribuir para o surgimento do debate base de tantas outras divisões, o sistema
sobre a educação rural em nosso País. de educação acompanha ao lado de outras
práticas sociais essa reprodução e desigual-
O ruralismo teve grande influência na cons- dade. Nesse sentido, o discurso da escola
trução dos primeiros prédios públicos na estendida a todos do mesmo modo, onde
área rural, conhecidos como “escolas típicas todos de início são dados como iguais e
rurais”, criação das “escolas normais rurais”, partem das mesmas condições, contribuem
no entanto, esse discurso foi marcado pelos para que saiam das salas de aula desigual-
seus limites seja pela visão redentora da es- mente repartidos para a vida e o trabalho,
cola, da idealização do campo ou da idéia de enfatizando que a diferença da qualidade
127

individual estabelece a diversidade dos A mobilização da sociedade brasileira em


resultados, esvaziando a dimensão social, defesa da escola encontrou nessas idéias
política e pedagógica da escola. fundamentos para suas proposições e
espaços para formulação de movimentos
A partir de 1960, as lutas contra a exclusão pedagógicos e sociais que com suas ações
da população a escolarização, pela Refor- demarcaram uma nova perspectiva e contri-
ma Agrária vão contribuir para a redefini- buíram para trabalhos posteriores no campo
ção da Educação. A educação popular pas- da Educação Popular, gostaríamos, portanto,
sa a ser entendida, não só como um direito de destacar os seguintes movimentos e orga-
de cidadania, mas como a necessidade nizações: movimentos de educação popu-
e encontrar caminhos para um processo lar (MCP, CPC, A campanha de Pé no Chão
educativo, mas, também, político, econô- também se aprende a ler, MEB); movimentos
mico, social e cultural. da Ação Católica (JAC, JEC, JIC, JOC E JUC) e
Ação Popular; movimentos sociais do campo
O marco dessa redefinição é o II Congres- (Ligas Camponesas, ULTAB, MASTER)”. (SILVA,
so Nacional de Educação de Adultos. Na Maria do Socorro, 2006. Adaptado).
preparação deste, no Seminário Regional
de Pernambuco, Paulo Freire, como relator PARA DEBATER
convoca a um trabalho com o homem e
não para o homem; a utilização de moder-
nas técnicas de educação de grupos com a
ajuda de recursos audiovisuais que convoca
? A seguir apresentamos algumas
questões para auxiliar no debate:

o trabalho educativo da escola a ser com o


homem e não para o homem.(Paiva, 1985).
Esse documento vai ser um marco para a
? Que tipo de organização social carac-
terizava/ caracteriza o Brasil? Como
se davam/ dão as relações políticas?
constituição dos movimentos pedagógicos
que vão se estruturar a partir de então.

Para Paiva (1985), esse Congresso marca,


? Que movimentos contribuíram/ con-
tribuem para o processo de emanci-
pação dos povos do campo?
O inicio da transformação do pensamento
pedagógico brasileiro, com o abandono do
‘otimismo pedagógico’ e a (re) introdução
da reflexão social na elaboração das idéias
? Como isso repercutia na vida das
camadas subaternizadas da época? E
nas de hoje?
pedagógicas. Além disso, ele serviu tam-
bém como estímulo ao desenvolvimento
de idéias e novos métodos educativos para
adultos.
? Em que o texto lido contribui para
melhor entender as condições socio-
históricas do Brasil hoje?

As práticas educativas desenvolvidas nesse


período cunharam uma concepção de
Educação Popular, como um conjunto de
? Cidadania: o que isso significava nos
diferentes contextos sociohistoricos
do Brasil?
práticas que se realizam e se desenvolvem
dentro do processo histórico no qual estão
imersos os setores populares, ela deve ser
compreendida também como estratégias
? O texto reafirma o que você sabia?
Nega? Traz novidades ao seu reper-
tório de saberes? Explicite o porquê e
de luta para a sobrevivência e libertação como.
desses setores.
128

Texto 41 Texto 42
UMA VEZ
Mestre Tony Vargas

Uma vez, A capoeeeeeeira


perguntei a Seu Pastinha É o grito de Zumbi
O que era a capoeira Ecoando no quilombo,
E ele, É se levantar do tombo
mestre velho respeitado, Antes de chegar ao chão
Ficou um tempo calado, É o ódio,
Revirando a sua alma É a esperança que nasce,
Depois respondeu Um tapa sutil na face
com calma, Que foi arder no coração
Em forma de ladainha: Enfim,
(Disponível em: http://www. A capoeira É aceitar o desafio
sindmetalsjc.org.br/x_fotos_no- É um jogo, é um brinquedo, Com vontade de lutar
ticia/negros---cartaz-menor.jpg, É se respeitar o medo,
Acesso em: 16 maio 2008)
É dosar bem a coragem A capoeira
É uma luta, É um barco pequenino
PARA DEBATER É manha de mandingueiro, Solto nas ondas do mar...
É o vento no veleiro, (coro)

? Quais as políticas
públicas existentes
na sua comunidade ou
Um lamento na senzala
É um berimbau
bem tocado,
Solto nas ondas do mar,
Solto nas ondas do mar...
Estado específicas para É um corpo arrepiado, É um peixe, é um peixinho,
os/as negros/as? Um sorriso de menininho Solto nas ondas do mar...
A capoeira (coro)

? Como estão sendo


efetivadas, monitora-
das e avaliadas?
É o vôo de um passarinho,
O bote da cobra coral...
Sentir na boca
Solto nas ondas do mar,
Solto nas ondas do mar

Todo o gosto do perigo, (Disponível em: http://www.


capoeiradobrasil.com.br/ Acesso
É sorrir para o inimigo em:12 maio 2008)
E apertar a sua mão
129

AS CANTIGAS DE CAPOEIRA De acordo PARA DEBATER


com Waldeloir Rego, “as cantigas de capo-
eira fornecem valiosos elementos para o
estudo da vida brasileira, em suas várias
manifestações, os quais podem ser exami-
? Existe alguma seme-
lhança entre o que diz a
letra da música e os atuais
nados sob o ponto de vista lingüístico, fol- acontecimentos? Por quê?
clórico, etnográfico e sociohistórico”. Ainda
segundo Waldeloir, não podemos estabele-
cer nenhum marco divisório entre cantigas ? Você acrescentaria algo
ao que é dito? Discorda-
ria? Questionaria? Concor-
de capoeira antigas e atuais, pois muitas
das cantigas consideradas atuais são - ou daria? Por quê?
incluem em suas letras - quadras antiqü-
íssimas, que remontam aos primórdios
da colonização. São quadras (estrofes de ? Em que medida os
conhecimentos sobre as
condições sociohistóricas
quatro versos) que relatam passagens da
do Brasil, nos ajuda a com-
Donzela Teodora, Decamerão, Princesa Ma-
preender tal realidade? E a
galona, Imperatriz Porcina, Carlos Magno
transformá-la?
e os Doze Pares de França, João de Calais,

?
cenas da vida patriarcal brasileira e outros
O passado, presente
variados motivos. Também as cantigas con-
e futuro estão inter-
sideradas antigas, na maior parte, não o
relacionados. Expressam
são. Na verdade, são quadras de desafios, situações humanizantes ou
cantigas de roda infantis ou de samba de desumanizantes? Em que
roda, cujos autores viveram até bem pou- medida?
co. Em geral, a cantiga de capoeira pode

?
ser o enaltecimento de um capoeirista que Trata-se de questões
se tornou herói pelas bravuras que prati- exclusivas dos negros e
cou em vida, ou então o relato de “fatos da negras? De outros povos?
vida cotidiana, usos, costumes, episódios Quais?
históricos, a vida e a sociedade na época
da colonização, o negro livre e o escravo na
senzala, na praça e na comunidade social.
Sua atuação na religião, no folclore e na
? Como isso se concretiza
na comunidade em que
você vive?
tradição. Louvam-se os mestres de capoei-
ra e evocam-se as terras de África de onde
procederam”. É importante notar também
que as cantigas transmitem ensinamentos,
? Analise o texto outra
vez e responda: qual
o sentido da CAPOEIRA
conselhos de prudência, a sabedoria que defendido na música”Uma
constitui a filosofia da capoeira. Vez” ? Por que será que ora
(Disponível em: http://www.capoeirado- essa palavra aprece de uma
brasil.com.br. Acesso em 12 maio 2008) maneira, ora de outra?
130

Estado? Govern
Texto 43

?
Em que medida a formulação crítica de um conceito de Estado, Governo, De-
mocracia e suas relações com a legislação (Federal, Estadual, Municipal) pode
contribuir com a efetivação da cidadania?

“É possível se considerar Estado “A articulação e o desenvolvimento das políticas e


como o conjunto de institui- das lutas sociais são condicionadas pelas formas de
ções permanentes como órgãos organização do Estado, isto é, elas se situam numa
legislativos, tribunais, exército e arena institucional forjada pelo bloco no poder no
outras que não formam um bloco contexto da correlação de forças sociais. Em gran-
monolítico necessariamente que des linhas podemos distinguir a forma democrática
possibilitam a ação do governo; do Estado de direito da forma arbitrária do Estado
e Governo, como o conjunto de autoritário ou da ditadura. As democracias e as dita-
programas e projetos que partem duras não são formas puras, mas processos concre-
da sociedade (políticos, técnicos, tos que variam historicamente.
organismos da sociedade civil e
outros) propõe para a sociedade Nos regimes democráticos temos a institucionali-
como um todo, configurando-se zação dos direitos do cidadão como sujeito político
a orientação política de um de- do poder isto é, com direito a voto e veto na eleição
terminado governo que assume de políticos e programas governamentais. O Esta-
e desempenha as funções de do se curva diante da sociedade, presta contas aos
Estado por um determinado contribuintes e os governantes tomam decisões em
período”. função de mandatos de seus representados. Nas
(HÖFLING,2001) ditaduras, ao contrário, o Estado cristaliza o pre-
domínio da força, da repressão sobre a sociedade,
sem mecanismos de representação, de cumprimen-
tos de mandatos, de reconhecimento de direitos”
(FALEIROS, 1991).
131

o? Democracia?
Gramsci supera o conceito de Estado Segundo Gramsci, as esferas distinguem-
como sociedade política (ou aparelho se por materialidades próprias. Enquanto
coercitivo que visa adequar as massas a sociedade política tem seus portadores
às relações de produção). Ele distingue materiais nos aparelhos coercitivos de Esta-
duas esferas no interior superestruturas. do, na sociedade civil operam os aparelhos
Uma delas é representada pela sociedade privados de hegemonia (organismos relati-
política, conjunto de mecanismos através vamente autônomos em face do Estado em
dos quais a classe dominante detém o sentido estrito, como a imprensa, os parti-
monopólio legal da repressão e da vio- dos políticos, os sindicatos, as associações,
lência, e que se identifica com os apare- a escola privada e a Igreja). Tais aparelhos,
lhos de coerção sob controle dos grupos gerados pelas lutas de massa, estão empe-
burocráticos ligados às forças armadas e nhados em obter o consenso como condi-
policiais e à aplicação das leis. A outra é ção indispensável à dominação. Por isso,
a sociedade civil, que designa o conjunto prescindem da força, da violência visível do
das instituições responsáveis pela ela- Estado, que colocaria em perigo a legitimi-
boração e/ou difusão de valores simbó- dade de suas pretensões. Atuam em espa-
licos e de ideologias, compreendendo o ços próprios, interessados em explorar as
sistema escolar, os partidos políticos, as contradições entre as forças que integram o
corporações profissionais, os sindicatos, complexo estatal.
os meios de comunicação, as instituições
de caráter científico e cultural, etc. [...] Gramsci pressupõe uma maior autono-
mia dos aparelhos privados em relação ao
Sociedade civil e sociedade política Estado em sentido estrito. Essa autonomia
diferenciam-se pelas funções que exer- abre a possibilidade [...] de que a ideologia
cem na organização da vida cotidiana e, (ou o sistema de ideologias) das classes
mais especificamente, na articulação e oprimidas obtenha a hegemonia mesmo
na reprodução das relações de poder. Em antes de tais classes terem conquistado o
conjunto, formam o Estado em sentido poder de Estado.
amplo: “sociedade política + socieda-
de civil, isto é, hegemonia revestida de Em condições de hegemonia, a burguesia
coerção”. Na sociedade civil, as classes solidariza o Estado com as instituições que
procuram ganhar aliados para seus proje- zelam pela reprodução dos valores sociais,
tos através da direção e do consenso. Já conformando o que Gramsci chama de
na sociedade política as classes impõem Estado ampliado. [...] A solidariedade dos
uma “ditadura”, ou por outra, uma domi- aparelhos ideológicos com o Estado não
nação fundada na coerção. decorre de um atributo estrutural imutável.
132

As classes subalternas podem visar, como [...] O paradigma da revolução como pro-
projeto político, à separação de determina- cesso, inspirado em Gramsci, ampara-se na
dos aparatos ideológicos da sua aderência continuidade orgânica de rupturas parciais
ao Estado, a fim de se tornarem agências que favoreçam reformas radicais na ordem
privadas de hegemonia sob sua direção. vigente. Um reformismo, convém sublinhar,
que se obstine em extirpar as agudas desi-
[...] Gramsci entende que a conquista do gualdades e injustiças inerentes ao atual ci-
poder deve ser precedida por uma longa clo de reprodução planetária da hegemonia
batalha pela hegemonia e pelo consen- do capital. A interferência cada vez maior
so dentro da sociedade civil, ou seja, no das forças renovadoras da sociedade civil
interior do Estado em sentido amplo. [...] A na execução de uma política conseqüente
teoria gramsciana acentua a noção de uma de reivindicações e avanços sociais torna-
“longa marcha” através das instituições da se, assim, pré-requisito para se vislumbrar
sociedade civil. uma progressiva inversão na correlação de
forças, capaz de deslocar a burguesia como
[...]A revolução passa a ser concebida como classe hegemônica e substituí-la pelo con-
“uma batalha cotidiana e a longo prazo junto dos trabalhadores.
travada no seio das instituições, envolvendo (MORAES, 2002)
a participação consciente da grande maioria
da população”.

Texto 44
(RE /DES) CONSTRUINDO SENTIDOS...

1824: Uma Constituição Antidemocrática

[...]“O primeiro processo constitucional do Brasil iniciou-se


com um decreto do príncipe D. Pedro, que no dia 3 de ju-
nho de 1822 convocou a primeira Assembléia Geral Consti-
tuinte e Legislativa da nossa história, visando a elaboração
de uma constituição que formalizasse a independência
política do Brasil em relação ao reino português. Dessa
maneira, a primeira constituição brasileira deveria ter sido
promulgada. Acabou porém, sendo outorgada, já que du-
rante o processo constitucional, o choque entre o impera-
dor e os constituintes, mostrou-se inevitável”.[grifo nosso]

(Disponível em: http://www.historianet.com.br. Consultado em:


26/03/2008) AUTOR??
133

OUTORGAR PROMULGAR
PARA DEBATER
Verbo bitransitivo Verbo transitivo direto
1. dar como favor; dar poderes a;
facultar, conceder, conferir
1. ordenar a publicação de
(lei ou similar) ? Há quem diga que as
palavras são históri-
cas, ideológicas, polis-
Ex.: <o rei outorgou a liberdade a Ex.: p. um edito
seus súditos> <o povo outorgou um sêmicas (pode assumir
mandato ao senador> Transitivo direto vários sentidos) e poli-
2. tornar público; publicar oficial- fônicas (há sempre nela
Transitivo direto e transitivo indireto mente contida, muitas outras
2. (sXIII) pôr-se de acordo em relação Ex.: p. uma encíclica vozes) . E que os dicio-
nários da língua materna
a ou com (algo); aprovar, concordar Fonte: Dicionário eletrônico Houaiss da não dão conta dos diver-
Ex.: <o. uma proposta><não outor- língua portuguesa 1.0
gamos com essa decisão> sos sentidos que uma
palavra pode assumir em
GLOSSÁRIO determinado enunciado.
Pronominal
Pergunta-se:
3. (sXIII) revelar sentimento, posição Substantivo masculino
etc.; confessar-se, declarar-se,
- Você já havia pensa-
reconhecer-se 1. Rubrica: história, bibliologia. do nisso antes? Qual a
Ex.: não se outorga por na Idade Média e Renascença, sua opinião sobre esse
reunião, na parte final de um ma-
assunto?
Vencido bitransitivo nuscrito ou enfeixada num volume
- O que isso tem a ver
4. tornar viável; consentir, próprio, de anotações, antes interli-
com a efetivação da
possibilitar neares (glosas), sobre o sentido de
cidadania e melhoria da
Ex.: chegou ao limite máximo palavras antigas ou obscuras encon-
tradas nos textos qualidade de vida dos
que o chefe lhe outorgara
2. dicionário de palavras de senti- povos do campo?
do obscuro ou pouco conhecido;

?
Bitransitivo
elucidário Discuta sobre as
5. dar por direito; facultar, permitir dimensões históricas
Ex.: o diploma outorgava-lhe 3. conjunto de termos de uma área
do conhecimento e seus significa- (ontem/ hoje/ amanhã),
o poder de ensinar
dos; vocabulário sociais e políticas das
Ex: g. de botânica palavras OUTORGADA e
Transitivo direto
4. pequeno léxico agregado a uma PROMULGADA refletin-
6. Rubrica: termo jurídico. obra, principalmente para esclare- do sobre:
declarar por escritura pública cer termos pouco us. e expressões - o (s) sentido (s) empre-
(negócio) regionais ou dialetais nela contidos; gado (s) no fragmento de
Ex.: o. uma venda vocabulário texto apresentado;
5. Rubrica: informática. √os possíveis resquícios
Transitivo indireto utilitário de processadores de texto ainda existentes da polí-
7. Rubrica: termo jurídico. em que se podem registrar frases e tica monárquica no Brasil
intervir como parte interessada em expressões muito us., para rápida contemporâneo;
Ex.: o. em um processo inserção no texto dos documentos - as experiências cotidia-
Fonte: Dicionário eletrônico Houaiss da nas da sua comunidade
Fonte: Dicionário eletrônico Houaiss da
língua portuguesa 1.0 ou Estado.
língua portuguesa 1.0
134

Texto 45 Texto 46
MEU PAÍS
PARA DEBATER
Zezé Di Camargo e Luciano
Aqui não falta sol
Aqui não falta chuva ? Que fenôme-
nos são identi-
ficáveis na música
A terra faz brotar qualquer semente
Se a mão de Deus Protege “Meu País”, de
e molha o nosso chão autoria de Zezé Di
Por que será que tá faltando pão? Camargo E Lucia-
Se a natureza no ? São comuns
O poema “Pós-tudo”, poema visual ao “seu País”?
nunca reclamou da gente
de Augusto de Campos. Analise a letra em
O Brasil que a gente ama
Do corte do machado, sua relação com a
a foice, o fogo ardente musicalidade?
PARA DEBATER Se nessa terra tudo que se planta dá

? Quais as condições
necessárias à compre-
Que é que há, meu país?
O que é que há? ? Reflita sobre
a seguin-
te afirmativa:
Tem alguém levando lucro
ensão de um novo sujeito Tem alguém colhendo o fruto “somos sujeitos
histórico? O que o iden- Sem saber o que é plantar de história(s) em
tifica? Tá faltando consciência permanente (re/
Tá sobrando paciência des) construção,

? Por que mais do que


ativo o novo sujeito
é de direito, histórico e
Tá faltando alguém gritar
Feito um trem desgovernado
fazendo-se”. Ago-
ra responda: Em
que medida essa
Quem trabalha tá ferrado
interativo? O que isso sig- Nas mãos de quem só engana afirmativa pode
nifica? É possível perce- Feito mal que não tem cura contribuir na re-
ber esse sujeito no nosso Estão levando à loucura flexão do trecho
cotidiano? O país que a gente ama abaixo?
Feito mal que não tem cura
Estão levando à loucura
O país que a gente ama

“Tá faltando consciência


Tá sobrando paciência
Tá faltando alguém gritar
Feito um trem desgovernado
Quem trabalha tá ferrado
Nas mãos de quem só engana
Feito mal que não tem cura
Estão levando à loucura
O país que a gente ama”.
(Grifo nosso)
135

Texto 47
MANCHETES

SER OU NÃO SER


Pessoas que sentem atração sexual pelo
mesmo sexo recebem apoio do Governo
Federal, que criou 15 programas de combate AFRO-DESCENDENTES
ao sexismo e à homofobia. lutam para garantir posse de terra.
(Revista Mátria, CNTE, 08/03/2008, p. 14)
Jornal do Commercio - 05 de novembro de 2006
Jornal do Commercio - 05 de novembro de 2006.
Disponível em: http://pfdc.pgr.mpf.gov.br/clipping/2006/
afro-descendentes-lutam-para-garantir-posse-de-terra-
1/, consultado em 10.04.08
A HOMOFOBIA é responsável pelo
assassinato de 2.403 gays, lésbicas e
travestis nos últimos 20 anos.
(Revista Mátria, CNTE, 08/03/2008, p. 16) NOSSA MÚSICA
RAIZ JOGADA AO
ESQUECIMENTO
A Música Caipira é um importante
A POLÊMICA PERSISTE legado da cultura brasileira, um
Considerado crime pela lei brasileira, o
legado que está esquecido pela
aborto é defendido por uma legião de
geração atual.
pessoas que o entendem como um caso
de saúde pública, por isso lutam por Por Eduardo Aliberti - 20/10/2002 às 23:20
sua descriminação. Opiniões continuam Disponível em: http://www.midiaindependente.org/pt/
blue/2002/10/39421.shtml, Consultado em: 08/05/2008
divididas.
(Revista Mátria, CNTE, 08/03/2008, p. 32)

PARA DEBATER

A RAÇA “INDESEJÁVEL”
Preocupação com racismo contra negros e ? Na sua opinião essas manchetes
hoje, podem ser consideradas “notí-
cias atuais”? Por quê?
índios esconde

?
o anti-semitismo histórico e presente da Tratam de fenômenos identificáveis
sociedade brasileira não na sua comunidade ou Estado?
Carlos Haag Quais (outros também) seriam?
Edição Impressa 146 - Abril 2008

?
Disponível em: http://revistapesquisa.fapesp.br/index.php?art=3489&
bd=1&pg=1&lg=
O reconhecimento de que as ações
Consultado em: 07/05/2008 humanas interferem na efetivação
(Revista Mátria, CNTE, 08/03/2008, p. 33) da cidadania pode contribuir para uma
transformação social, sobretudo, para
os povos do campo? Como? Em que
medida?
136

Texto 48
ORGANIZAÇÕES E MOVIMENTOS SOCIAIS:
DIVERSOS OLHARES

“Os movimentos sociais, especialmente os 1. Características dos


movimentos sociais populares, são enten- Movimentos Sociais
didos como forças sociais e correntes de
opiniões e proposições sobre/para o conjun- • Articular segmentos específicos de
to social que, atuando nos mais diferentes determinada sociedade (unir os sujeitos
âmbitos das problemáticas humanas, geram sociais);
processos de transformação social e garan-
tem sua autonomia em relação ao Estado e • Mantém os protagonistas mobilizados;
aos Partidos, pela orientação social de sua
ação que incide sobre as mentalidades e • Investimento com a organização;
práticas cotidianas.
• Faz análise de conjuntura;
[...] Segundo Proud’ Homme (1993:102), “a
eficácia de sua ação política corresponde a • Inquietação pelo processo formativo;
sua capacidade flexível de formular publica-
mente problemas sociais e fazer que sejam 2. Tipos de Movimentos Sociais
traduzidos em decisões políticas. Assim, a
existência ou a criação de canais para a cir- • Nem todo Movimento Social é popular;
culação das demandas sociais influirá sobre
o fortalecimento dos movimentos sociais na • Quanto à espacialidade (campo, urba-
medida em que permita a inovação institu- no, nacional, internacional);
cional”. (SOUZA, 2007)
• Quanto aos fins: reivindicatórios (gêne-
“Grandes organizações coletivas de alcance ro, ecologia, etnia, etária) e macro social”.
regional, nacional, internacional que tem
como objetivo unir, organizar e mobilizar di- (CALLADO, 2006)
ferentes segmentos da sociedade em busca
ora de reivindicar políticas sociais pontuais
ora de lutar por um projeto alternativo de
sociedade”.
137

Movimentos Sociais Populares, na versão forças sociais e, neste sentido, destacamos


Gohn (1992: 43), “são formas renovadas de a sua produtividade nas diferentes formas
educação popular. Eles ocorrem [...] através de organização social e cultural nas últimas
dos princípios que fundamentam programas décadas do século XX, considerando:
de educação popular, formulados por agen-
tes institucionais determinados”. Referin- i) os objetos sociais e culturais que pro-
do-se especificadamente aos Movimentos blematizam, tais como o sindicalismo, as
Sociais Populares na América Latina, Souza, questões da terra (propriedade e uso), o
situa estes movimentos como correntes de racismo, a ecologia, a ética, a estética, o
opinião e forças sociais: “Enquanto corren- feminismo, a educação, de entre outros;
tes de opinião aproximam-se por idéias e
sentimentos semelhantes. São grupos de ii) a instituição de organizações sociais e cul-
pessoas com posicionamento político e turais, a exemplo da Central Única dos Tra-
cognitivo similar, que se sentem parte de balhadores (CUT), dos Movimentos Sociais
um conjunto, além de se perceberem como de Educação, do Movimento das Escolas
força social capaz de firmar interesses frente Comunitárias, do Movimento Nacional de
a posicionamentos contrários de outros Meninos e Meninas de Rua, dos Movimen-
grupos” (Souza, 1999: 38). tos dos Homossexuais: Gays e lésbicas, do
Movimento Ecológico, do Movimento Ética
Estes movimentos afiliados a discursos pro- na Política, do Movimento Ação Cidadania
duzidos pela ala progressista da Igreja Ca- Contra a Fome, a Miséria e pela Vida; do
tólica, Teologia da Libertação (Gohn, 1997), Movimento dos Índios;
tiveram uma marcante atuação política nos
anos da ditadura militar no Brasil, especial- iii) a produção e emergência de novos su-
mente nas áreas urbanas, quando das lutas jeitos sociais e culturais, a exemplo dos “in-
pela redemocratização do país. Nos anos telectuais em atuação específica junto aos
recentes ampliam o leque de sua atuação movimentos sociais”, dos “Sem Terra”, dos
seja em âmbito nacional ou regional, nos “Caras pintadas”, dos “Sem Teto”, “Os Povos
campos ou nas cidades, mas, tendo como das Florestas”, “os Meninos e as Meninas
conteúdo básico as questões da democra- de Rua”, o Educador e a “Educadora Popu-
cia política, dos direitos sociais e culturais. lar”, “o Professor e a Professora Indígena”,
Do que está posto, acrescentamos que, enfim aqueles que foram nomeados por Sa-
em nosso trabalho, os Movimentos Sociais der (1988) como os “novos atores sociais”.
Populares no Brasil são analisados enquanto (CARVALHO, 2004)
138

ORGANIZAÇÃO SOCIAL Objetivos PARA DEBATER

Organização Social, ou simples-


mente OS, é a pessoa jurídica de
direito privado, sem fins lucrati-
Pretende-se, com a imple-
mentação do modelo de OS,
a obtenção dos seguintes
? Em que medida as Orga-
nizações e Movimentos
Sociais podem contribuir na
vos, constituída sob a forma de resultados: vivência de relações respei-
associação ou fundação, voltada tosas, solidárias e humani-
para a execução de atividades • Prestação de serviços aos zantes?
de relevante valor social, nota- cidadãos de forma eficaz, efi-
damente nas áreas de ensino, ciente e efetiva, ou seja, que
pesquisa científica, desenvolvi- os serviços sejam prestados,
mento tecnológico, proteção e respectivamente, com quali-
preservação do meio ambiente, dade, ao menor custo possível
cultura e saúde. e que proporcione o impacto
que se deseja na sociedade;
O modelo previsto na MP nº
1.648-7, de 23 de abril de 1998 • Participação da sociedade
foi convertido na Lei nº 9.637, de no gerenciamento de enti-
15 de maio de 1998, e pretende dades que utilizem recursos
incentivar o estabelecimento públicos;
de parcerias entre o Estado e
a sociedade para a gestão de • Prestação de serviços de
serviços de natureza social, con- forma continuada ao cidadão
templando o foco no cidadão- brasileiro;
cliente, a ênfase no desempenho
e o controle social. O Estado • Acompanhamento da gestão
mantém suas responsabilidades das OS pelo Poder Público
no fomento a estas atividades, com base em resultados;
transferindo recursos públicos
para as OS, passando a desenvol- • Parceria entre o Estado e a
ver controles mais eficazes, com Sociedade na resolução dos
base nos resultados efetivamen- problemas nacionais relativos
te alcançados. à área social.

(Disponível em: http://www.mp.gov.


br/gestao/conteudo/publicacoes.
Acesso em 01 abril 2008)
139

Texto 49
POLÍTICA: ORGANIZAÇÃO
DA ECONOMIA
João Francisco de Souza

A questão econômica é “a mais grave e de As organizações populares assumem, como


solução dificílima” ao se tratar do problema sua tarefa, o questionamento de uma cultu-
“da construção da democracia”. Ela está ra que combina individualismo econômico
diretamente relacionada com “o problema com valores fortemente hierarquizados,
da concentração da riqueza em mãos da resultando numa mescla de impotência com
minoria e da pobreza na vida da grande cinismo ou prepotência e soberba. Ao bus-
maioria dos mexicanos”7. Diferente não é car soluções organizadas para as situações
no Brasil. que os geram, os movimentos sociais popu-
lares não as encaram como uma fatalidade.
Essa concentração e centralização da rique- E a possibilidade de buscar “soluções de for-
za é a geradora das desigualdades sociais ma organizada e sem perseguições políticas
e culturais, bem como dos amplo bolsões ou policiais, é para nós democracia”8.
de pobreza latino-americanos que criam as
chances diferenciadas de uma vida digna e, Na busca das soluções para os problemas
portanto, das possibilidades de ser pessoa. econômicos da sobrevivência, “se quer
promover a dignidade do ser humano, a
Sua solução ainda se torna mais complexa justiça, a construção de outras relações
porque as práticas corporativistas predo- sociais, a sua participação social e a liberda-
minantes em nossas sociedades impedem de pessoal e coletiva” (Casa de la Mujer de
seu equacionamento, na medida em que os Pinabetal).
grupos integrados e beneficiários não per-
cebem as necessidades alheias. Há cientis- As soluções para o problema das desigual-
tas sociais que propõem o deslocamento do dades e da pobreza passam necessariamen-
7
Depoimento do debate da construção da democracia para te pelas atividades econômicas, geradoras
Bispo dom Samuel o da destruição do corporativismo, pelas de bens materiais e simbólicos, mesmo que
Ruiz, Emérito de
San Cristóbal de dificuldades que este cria tanto no campo não se restrinjam a elas. Como pode ser ob-
las Cosas, Chiapas, político quanto no econômico – social, im- servado, tanto nos bairros quanto na área
México, ao autor.
pedindo de encontrar soluções que gerem rural, os projetos produtivos, desde que
Grupo de saúde eqüidade, acesso ao trabalho e segurança coletivos, por mais aparentemente insignifi-
8

de São Luiz do
Maranhão. social. cantes, têm contribuído para superação da
140

cultura que combina cinismo com impo- organizar as mais diversificadas ações reivin-
tência construídas pelas relações sociais dicativas, mas também, e sobretudo, para o
capitalistas e corporativas, como a troca do “Movimiento Vecino” e a “Unión de Colô-
voto por comida, emprego; bajulação em nias Populares”, no México, e para a Casa de
troca de benefícios. Superam-na à medida Cultura da Mulher Negra, Santos, é neces-
que junta as pessoas para discutirem as sário criar dinâmicas próprias de trabalho,
saídas para o problema da sobrevivência, independentes dos governos, para resolver
organizam a telha de costura para garantir os problemas que vão sendo coletivamente
o aluguel, a compra da comida. identificados.

O enfrentamento organizado desses proble- Dirigentes que pensam dessa forma valori-
mas propicia a superação do individualismo zam as iniciativas que denominam de auto-
econômico com valores democráticos, como gestionárias. São respostas que se constro-
a participação, a decisão coletiva, a coope- em com os que mais sofrem para garantir
ração, a solidariedade, o respeito ao outro, a sobrevivência familiar. Daí, uma predomi-
resultando na construção da autoconfiança nância de projetos “de caráter comunitário,
com a descoberta dos valores pessoais, micro, para tratar de conseguir fontes de
coletivos e a força da mobilização, tanto emprego. Projetos com mulheres, pequenas
quanto na emersão de formas econômicas oficinas com jovens, comercialização dos
diversificadas de sobrevivência e de melho- produtos, além de representar alternativas
ria da qualidade de vida. ao desemprego, garantem a sobrevivência”
(Movimiento Vecino).
Um desses valores novos para os trabalha-
dores é o da autonomia, entendida inicial- São projetos produtivos como “oficinas me-
mente como a ruptura da independência, cânicas para carros e consertos de eletrodo-
particularmente, em relação ao governo. mésticos” do Movimiento Vecino; “oficinas
Como informa um dirigente da organização de costureiras e de produção de vassouras”
“Movimiento Vecino”, México, as organiza- e de “produção de picolés com crianças” em
ções do movimento urbano popular estão organizações de bairros em Recife; restau-
“lutando para arrancar espaços ao governo, rante de “comidas baianas e artesanatos”,
crédito e outras tantas coisas. Também va- da Casa de Cultura da Mulher Negra em
mos mais adiante, estamos criando nossas Santos. Esses projetos não contam, como
próprias dinâmicas de trabalho com as pes- se pode constatar, com o apoio de nenhum
soas; implantando autogestão para resolver governo. São recursos que vão sendo conse-
alguns problemas”. guidos com festas, bingos, apoio de alguma
igreja ou instituição de assessoria. Pensam,
Pensa-se que é ir mais longe buscar solu- como formula um dirigente da “Unión de
ções próprias e não ficar esperando apenas Colônias Populares”, que “os tempos em
pelas soluções governamentais. Trata-se de que tínhamos que solicitar tudo ao governo
141

foram ultrapassados. Agora propomos tudo um coletivo de produção, conforme se pode


isso. No entanto, à cidadania ainda lhes falta constatar na observação e na entrevista
cultura política. Por isso estamos trabalhan- com seu dirigente, que afirma: “começamos
do por uma nova cultura social em nosso falando do alcoolismo, que não era possível
país por meio da busca coletiva para esses continuarmos bebendo tanto. Tanto conver-
problemas. Estamos construindo outra fisio- samos que conseguimos convencer alguns.
nomia para o movimento popular. Estamos (...) Nasceu a idéia de que era mais impor-
lhe dando outro rosto com as diversas e di- tante nos organizarmos como camponeses
ferentes organizações rurais e urbanas. Um que esperar que outros solucionassem nos-
rosto mais transparente construindo novas sos problemas. Partimos para o trabalho co-
formas de descentralização articuladas”. letivo. Mas nossas terras eram pouco férteis,
além de minifúndios. Inicialmente fomos
A “Unión de Colônias Populares”, lutava pouquíssimos. Éramos uns oito homens. O
no final da década de setenta, pelo me- número aumentou. Conseguimos ajuda com
lhoramento das condições de vida das os amigos e a organização ‘Desenvolvimento
populações mais pobres. Atualmente, Econômico e Social de México’ (DESMI) para
está ampliando o seu raio de ação. Articu- comprar terra. Hoje, somos setenta e três
la organizações de moradores de bairros homens e cinqüenta e uma mulheres”.
populares, grupos que reivindicam habi-
tação, comerciantes e projetos produtivos Adquiriram uma área de 70 hectares onde
com mulheres, jovens, crianças. Organiza-os plantam milho e mandioca, coletivamente.
em torno da produção e comercialização Retiram o necessário para a alimentação das
de mercadorias, do abastecimento e da famílias e comercializam, nas feiras livres, o
alimentação. “El Pueblo Creyente” organi- restante da produção. Na “Casa de la Mujer”,
za médios e pequenos proprietários rurais as mulheres produzem pão, criam coelhos
e urbanos para a produção, adquirindo e cultivam hortaliças. Em nenhum dos dois
máquinas, fertilizantes e sementes, também projetos há participação do governo. Pensam
para garantir a comercialização coletiva dos seus dirigentes que é mais significativo que
produtos. se “organizem como camponeses para cons-
Iniciativas semelhantes a do “Pueblo truir suas próprias soluções”, pois já estavam
Creyente” multipcam-se no espaço rural. cansados de “apelar às autoridades”.

No próprio México o coletivo de “Hombres Essas experiências são chamadas de au-


del Lago del Tigre”, a “Casa de la Mujer de togestionárias por conta própria, porque,
Pinabetal” se constituíram com os próprios além de não contarem com o apoio do
recursos dos camponeses e camponesas e poder público, procuram, “coser-se com
empréstimos de amigos e de uma organiza- as próprias linhas” (Coletivo de Mulheres
ção não-governamental. Começou-se falan- Negras) e as contribuições financeiras que
do do alcoolismo e se conseguiu chegar a recebem de fora de igrejas ou ONGs, mes-
142

mo sem juros, são empréstimos que vão a demandas mais globais das maiorias da ci-
devolvendo na medida que produzem e dade e do campo, diversificando e enrique-
comercializam. Esses recursos, por sua vez, cendo suas atividades com as discussões
vão apoiar outros projetos. E mais, buscam das questões de gênero, étnicas, culturais e
tomar decisões a partir de discussões cole- do meio ambiente.
tivas, realizar algumas tarefas ou todas, em
conjunto, e experimentar gestão colegiada, Além da percepção dos limites das ativida-
além da prestação de contas dos processos des autogestionárias por conta própria, há
e resultados, em reuniões amplas e abertas. outros dirigentes intelectuais que são contra
Muitas iniciativas de projetos produtivos esse tipo de iniciativa. Discordam porque
do MST, no Brasil, também se enquadram têm outra representação social do próprio
nesse mesmo estilo. papel da organização popular. Entendem
que sua tarefa é “arrancar recursos financei-
São projetos produtivos que se poderiam ros dos governos” para a ação “comunitária
denominar de autogestionários por conta e coletiva”. Esses são identificados pelos
própria. No entanto, percebem dirigentes e, autogestionários por conta própria como
sobretudo intelectuais, os limites desse tipo mais tradicionais. Eles, no entanto, se vêem
de ação. De acordo com um dirigente do como buscando o respeito a um direito e
“Movimiento Vecino”, esse tipo de atuação exigindo o cumprimento de um dever das
“não resolve o problema de fundo, mas autoridades.
pode ser um caminho na medida em que
pudermos entender que é um projeto de
economia popular viável para nosso país.
PARA DEBATER
Inclusive pode ser apoiado a partir de inves-

?
timentos governamentais e ou da iniciativa
Que aprendizagens construímos a
privada”.
partir do estudo e/ou participação
em Organizações e Movimentos Sociais?
Essas organizações querem se caracterizar

?
como de defesa das condições de vida da
Quais dimensões educativas você
cidadania em geral. Significa que deixam de
consegue identificar nesse processo,
ser uma organização do tipo sindical para
considerado o aprendizado dos direitos,
se transformar em uma de interesses mais
as identidades/ações afirmativas, a
gerais da cidadania, uma organização cívico
constituição de sujeitos coletivos e lutas
popular, na qual as demandas não estão li-
humanizantes, por exemplo?
gadas aos setores mais pobres, mesmo que

?
esses continuem sendo os sujeitos privile-
Que implicações esse processo traz
giados nem apenas as sindicalizados. Hoje,
para uma nova organização social?
tentam vincular essas atividades produtivas
143

Texto 50
PEDAGOGIAS EM MOVIMENTO:
O que temos a aprender
dos movimentos sociais?

Miguel Arroyo

O Aprendizado dos Direitos

Nas décadas de 1970-1980 várias pesquisas, A brutal exclusão dos setores populares
dissertações e teses mostraram a influência urbanos dos serviços públicos, mais básicos,
dos movimentos sociais na conformação da provocou, desde a década de 50, reações e
consciência popular do direito à educação mobilizações pela inserção social. Pelo direi-
básica, à escola pública. Pesquisas têm mos- to à cidade, aos bens e serviços públicos.
trado como a ampliação e democratização
da educação básica e a inserção dos setores As camadas urbanas em toda América
populares na escola pública teve como um Latina foram crescendo e ocupando o
dos mais decisivos determinantes a pressão espaço urbano, de maneira caótica. Como
dos movimentos sociais. Esta é uma relação se inserir? Como ter parte ou ter direito à
bastante pesquisada e reconhecida. cidade? A inserção social passou ao debate
político, social e educativo. Passou a inquie-
Neste texto, sugerimos a possibilidade de tar e mobilizar as próprias camadas popula-
ampliar essa relação. Perguntar-nos pelas res urbanas. Processos diversos e dispersos
virtualidades formadoras dos movimentos de mobilização que vão contribuir para a
sociais. Em que medida podem ser vistos conformação dos direitos sociais entre os
como um princípio, uma matriz educativa excluídos. Entre esses direitos, com desta-
em nossas sociedades. Que dimensões eles que o direito à educação e à escola pública.
formam e que aspectos eles trazem para a
teoria pedagógica e para o fazer educativo, A escola vai deixando de ser vista como
tanto nas propostas de educação formal uma dádiva da política clientelística e vai
quanto informal. sendo exigida como um direito. Vai se
dando um processo de reeducação da velha
O aprendizado dos direitos pode ser des- cultura política, vai mudando a velha auto-
tacado como uma dimensão educativa. Os imagem que os próprios setores populares
movimentos sociais colocam a luta pela carregavam como clientes agraciados pelos
escola no campo dos direitos. Na fronteira políticos e governantes. Nessa reeducação
de uma pluralidade de direitos: a saúde, a da cultura política tem tido um papel peda-
moradia, a terra, o teto, a segurança, a pro- gógico relevante os movimentos sociais, tão
teção da infância, a cidade. diversos e persistentes na América Latina.
144

Essa reeducação da cultura política que vai dado e proteção da prole. É a sensibilidade
pondo a educação e a escola popular na humana popular que pressiona.
fronteira do conjunto dos direitos huma-
nos se contrapõe ao discurso oficial e por Essas dispersas e diversas mobilizações po-
vezes pedagógico que reduz a escolarização pulares se prolongam por todas as últimas
a mercadoria, a investimento, a capital décadas. Controladas, cooptadas ou repri-
humano, a nova habilitação para concor- midas brotam e rebrotam tão persistentes
rer no mercado cada vez mais seletivo. As quanto a exclusão e marginação a que con-
lutas coletivas pela escola básica explicitam tinuam submetidos os setores populares,
essas tensões. ao longo destas décadas. Não é temerário,
portanto, supor que essas mobilizações agi-
De alguma forma os movimentos sociais ram como pedagogos no aprendizado dos
reeducam o pensamento educacional, a te- direitos sociais, especificamente do direito à
oria pedagógica, a reconstrução da história educação.
da educação básica. Um pensamento que
tinha como tradição pensar essa histó- Essa pedagogia que pode ser encontrada
ria como apêndice da história oficial, das nas lutas e mobilizações dos setores popu-
articulações do poder, das concessões das lares das cidades e dos campos se encontra
elites, das demandas do mercado... Seria de com o aprendizado dos direitos vindo da
esperar que a reconstrução da história da inserção no trabalho. O movimento ope-
democratização da escola básica popular na rário e o novo sindicalismo se articulam de
América Latina não esquecesse de que ela formas diversas, ao menos se aproximam
é inseparável da história social dos setores dessas dispersas mobilizações populares. Os
populares. De seus avanços na consciência atores não são tão diferentes.
dos direitos.
A consciência do direito ao trabalho e à ci-
A expansão da escola básica popular se tor- dade e à terra se alimentam e contaminam.
na realidade não tanto porque o mercado A consciência dos direitos se radicaliza na
tem exigido maior escolarização, nem por- inserção na produção e se amplia nas lutas
que as elites se tornaram mais humanitá- pela inserção nos serviços básicos para a
rias, mas pela consciência social reeducada reprodução digna da existência.
pelas pressões populares. Estas podem até
sonhar na escola como porta do emprego, Os sindicatos tiveram um papel pedagógico
entretanto as grandes massas pobres que relevante e reconhecido. Agiram como esco-
se debatem com formas de sobrevivência las de formação de lideranças e de formação
elementaríssimas agem por outra lógica. política das diversas categorias de trabalha-
Não será a desarticulação de suas vidas que dores. Os movimentos sociais não deixaram
as leva a pressionar pelos serviços públicos de ter papel pedagógico, formaram lideran-
mais básicos? Por espaços e tempos de dig- ças também e contribuíram para educar as
nidade e cuidado para seus filhos e filhas? O camadas populares nem sempre tocadas
espaço e o tempo de escola é equacionado pela mobilização operária. Em frentes diver-
nesse horizonte de dignidade para o cui- sas cumpriram papéis educativos próximos.
145

Humanizar as Possibilidades de Viver tem as lutas pela humanização das condi-


ções de vida nos processos de formação.
Como educadores não podemos ficar satis- Nos relembram quão determinantes são, no
feitos em reconhecer que os movimentos constituir-nos seres humanos, as condições
sociais têm tido um papel pedagógico no de sobrevivência. A luta pela vida educa
aprendizado dos direitos, podemos ir além e por ser o direito mais radical da condição
perguntar-nos por onde passa o pedagógico. humana.

Difícil separar esses processos formadores Os movimentos sociais articulam coletivos


da consciência dos direitos, mas importaria nas lutas pelas condições de produção da
encontrar as coincidências quanto as di- existência popular mais básica. Aí se desco-
mensões formativas que revelam. São coin- brem e se aprendem como sujeitos de direi-
cidentes em mostrar-nos que a formação tos. É importante constatar que enquanto
humana é inseparável da produção mais o movimento operário e os movimentos
básica da existência, do trabalho, das lutas sociais mais diversos apontaram nestas
por condições materiais de moradia, saúde, décadas essa matriz pedagógica, um setor
terra, transporte, por tempos e espaços de do pensamento pedagógico progressista
cuidado, de alimentação, de segurança. nos levava para relações mais ideológicas: o
movimento cívico, a consciência crítica, os
A ampliação da consciência do direito à conteúdos críticos como matriz formado-
escola passou nas últimas décadas de nossa ra do cidadão participativo. Outra direção
história colada às necessidades e às lutas e outras ênfases bastante distantes das
pela melhoria dessas condições básicas de ênfases que setores, também na fronteira
sobrevivência, de inserção no trabalho e na do pensamento pedagógico progressista,
cidade, da reprodução da existência sobre- davam aos vínculos entre trabalho e edu-
tudo da infância e da adolescência popular. cação, e entre movimentos sociais e educa-
Não podemos esquecer desse subsolo ção. Matrizes mais coladas a materialidade
material que alimenta tanto os movimentos da produção das existências na fábrica, no
sociais quanto o movimento operário e que campo, no trabalho, nas lutas e mobiliza-
alimenta o aprendizado dos direitos inclusi- ções sociais.
ve do direito à escola.
Alguém nos lembrará que estamos em
É importante destacar como o aprendizado outros tempos, em outro contexto. Sem
dos direitos vem das lutas por essa base dúvida. Podemos perguntar-nos como
material. Por sua humanização. Os movi- ficam no atual contexto esses vínculos entre
mentos sociais têm sido educativos não movimentos sociais e educação? Essas
tanto através da propagação de discursos e matrizes pedagógicas tão destacadas nas
lições conscientizadoras, mas pelas formas relações entre educação, trabalho, movi-
como tem agregado e mobilizado em torno mentos sociais não estariam perdendo suas
das lutas pela sobrevivência, pela terra ou virtualidades pedagógicas? A desestrutura-
pela inserção na cidade. Revelam à teoria ção da organização produtiva, da organiza-
e ao fazer pedagógicos a centralidade que ção operária, das lutas sociais e dos direitos
146

conquistados não estariam desestruturando bemos que a infância e a adolescência que


também suas proclamadas virtualidades freqüentam as escolas públicas, estão entre
formadoras? Quais as conseqüências para o aquelas que sofrem de maneira brutal a
pensar e fazer educativos dessa desestrutu- exclusão e as formas precaríssimas de viver.
ração e precarização das bases da produção Como pensar currículos, conteúdos e meto-
da existência? A classe trabalhadora e a dologias, como formular políticas e planejar
diversidade de lutas, tão decisivas no apren- programas educativos sem incorporar os es-
dizado dos direitos, estão sendo desestru- treitos vínculos entre as condições em que
turadas. Podemos encontrar, ainda, sinais os educandos reproduzem suas existências
de resistência, de afirmação de direitos e de e seus aprendizados humanos?
mobilização? Questões centrais para conti-
nuar a procura dos vínculos entre educação Todo processo educativo formal ou infor-
e trabalho, educação e movimentos sociais. mal, tanto pode ignorar como incorporar as
formas concretas de socialização, de apren-
Poderíamos ver nesses brutais processos de dizado, de formação e deformação a que
desestruturação produtiva, de sem-terra, de estão submetidos os educandos. Ignorar
desemprego, de perda da estabilidade e dos essa realidade e fechar-nos em “nossas”
direitos conquistados não tanto o distan- questões, curriculares e didáticas, terminará
ciamento dessa matriz pedagógica, mas a por isolar os processos didáticos escolares
recolocação da centralidade, da imediatez dos determinantes processos socializadores
da produção reprodução da existência, para em que os setores populares se reprodu-
a formação humana. Os movimentos sociais zem desde a infância.
e o movimento operário retomam as lutas
mais básicas por trabalho, terra, moradia, (Disponível em: www.curriculosemfronteiras.org.
saúde, escola, alimentação, sobrevivência Acesso em: 23 abril 2008)
da infância e da adolescência, pelo direito à
escola como possibilidade de liberação do
trabalho e da exploração infantil... PARA DEBATER

Diante da opressão e exclusão que avan-


çam, terá de ser retomada com mais ra- ? Que aprendizagens construímos a
partir do estudo e /ou participação
em Organizações e Movimentos So-
dicalidade e não abandonada a produção
da existência enquanto matriz e princípio ciais?
educativo, formador-deformador. E os mo-
vimentos sociais que não saíram de cena e
que situam suas lutas nessa produção mais ? Quais dimensões educativas você
consegue identificar nesse processo,
considerado o aprendizado dos direitos,
imediata da existência terão de ser perce-
bidos como educadores por excelência das as identidades/ ações afirmativas, a
camadas populares.. constituição de sujeitos coletivos e lutas
humanizantes, por exemplo?
Retomar esses vínculos nestes tempos não
perdeu atualidade inclusive para o pensar e
o fazer pedagógicos escolares, quando sa- ? Que implicações esse processo traz
para uma nova organização social?
147

Texto 51
AGRICULTURA FAMILIAR
E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
Alicia Ruiz Olalde

Como expressa a Professora Nazareth pressão dos movimentos sociais organiza-


Wanderley “A agricultura familiar não é uma dos, mas está fundamentada também em
categoria social recente, nem a ela cor- formulações conceituais desenvolvidas pela
responde uma categoria analítica nova na comunidade acadêmica nacional e apoiada
sociologia rural. No entanto, sua utilização, em modelos de interpretação de agências
com o significado e abrangência que lhe multilaterais, como a FAO, o IICA e o Banco
tem sido atribuído nos últimos anos, no Bra- Mundial.
sil, assume ares de novidade e renovação”
(WANDERLEY, 2001: 21). Contudo, não se pode afirmar que este
segmento tenha sido reconhecido como
Muitas terminologias foram empregadas prioridade pelos governos, haja vista que
historicamente para se referir ao mesmo a agricultura patronal tem concentrado,
sujeito: camponês, pequeno produtor, la- nos últimos anos, mais de 70% do crédito
vrador, agricultor de subsistência, agricultor disponibilizado para financiar a agricultura
familiar. A substituição de termos obedece, nacional. Assim, há hoje dois projetos em
em parte, à própria evolução do contexto pugna os para o campo no Brasil. O primei-
social e às transformações sofridas por esta ro é um enfoque setorial, cuja preocupação
categoria, mas é resultado também de novas central está na expansão da produção e da
percepções sobre o mesmo sujeito social. produtividade agropecuária, na incorpo-
ração de tecnologia e na competitividade
A partir dos anos 90 vem se observando do chamado agribusiness. Este enfoque se
um crescente interesse pela agricultura articula em torno dos interesses empresa-
familiar no Brasil. Este interesse se materia- riais dos diversos segmentos que compõem
lizou em políticas públicas, como o PRONAF o agronegócio e está claramente repre-
(Programa Nacional de Fortalecimento da sentado no Ministério da Agricultura. Em
Agricultura Familiar) e na criação do MDA contraposição, o segundo enfoque enfatiza
(Ministério do Desenvolvimento Agrário), os aspectos sociais e ambientais do proces-
além do revigoramento da Reforma Agrária. so de desenvolvimento, de acordo com o
A formulação das políticas favoráveis à agri- que vem se denominando a sustentabilida-
cultura familiar e à Reforma Agrária obede- de do desenvolvimento rural, que procura
ceu, em boa medida, às reivindicações das equilibrar a dimensão econômica, social e
organizações de trabalhadores rurais e à ambiental do desenvolvimento.
148

Este segundo enfoque tem escolhido a como portador de soluções, vinculadas à


agricultura familiar como um dos seus melhoria do emprego e da qualidade de
pilares chaves. Uma pesquisa realizada pela vida (WANDERLEY, 2002). Este enfoque é
FAO (Organização das Nações Unidas para representado também pelo Prof. José Eli da
Agricultura e Alimentação) e pelo INCRA Veiga e colaboradores no documento “O
(Instituto Nacional de Colonização e Re- Brasil Rural precisa de uma Estratégia de
forma Agrária), cujo objetivo principal era Desenvolvimento”, onde os autores su-
estabelecer as diretrizes para um “modelo gerem que o projeto de desenvolvimento
de desenvolvimento sustentável”, esco- para o Brasil rural deve visar a maximização
lheu-se como forma de classificar os esta- das oportunidades de desenvolvimento
belecimentos agropecuários brasileiros a humano em todas as regiões do país diver-
separação entre dois modelos: “patronal” e sificando as economias locais a começar
“familiar”. Os primeiros teriam como carac- pela própria agropecuária. Em reportagem
terística a completa separação entre gestão publicada pela Revista Rumos em novem-
e trabalho, a organização descentralizada e bro-dezembro de 2003, o mesmo Prof.
ênfase na especialização. José Eli da Veiga observa o brutal poder
devorador de postos de trabalho da atual
O modelo familiar teria como característica modernização das grandes lavouras, exem-
a relação íntima entre trabalho e gestão, a plificado no caso da cana-de-açúcar, onde
direção do processo produtivo conduzido a demanda de força de trabalho foi cortada
pelos proprietários, a ênfase na diversi- pela metade nos anos 90, apesar da expan-
ficação produtiva e na durabilidade dos são de 10% da área cultivada.
recursos e na qualidade de vida, a utilização
do trabalho assalariado em caráter comple- O modelo “produtivista”, de necessário
mentar e a tomada de decisões imediatas, aumento da produção e da produtividade,
ligadas ao alto grau de imprevisibilidade do orientado para as funções da agricultura
processo produtivo (FAO/INCRA, 1994). como fornecedora de alimentos baratos,
A escolha da agricultura familiar está matérias-primas e divisas, tem cedido lugar
relacionada com multifuncionalidade da à ótica da multifuncionalidade, mesmo
agricultura familiar, que além de produzir que esse termo seja muito polêmico por
alimentos e matérias-primas, gera mais de ter sido utilizado pela União Européia
80% da ocupação no setor rural, e favo- para justificar a manutenção dos subsídios
rece o emprego de práticas produtivas agrícolas. Nesses países, a agricultura se
ecologicamente mais equilibradas, como apresenta não apenas como fornecedo-
a diversificação de cultivos, o menor uso ra de bens, senão também de serviços
de insumos industriais e a preservação do tangíveis e intangíveis, como os serviços
patrimônio genético. ambientais e procura responder também
a certas aspirações simbólicas da socieda-
Assim, o meio rural, sempre visto como de, como a preservação da paisagem e da
fonte de problemas, hoje aparece também cultura local.
149

Além disso, a agricultura familiar está segundo o mesmo autor, [...] é altamente
associada à dimensão espacial do desen- integrada ao mercado, capaz de incorporar
volvimento, por permitir uma distribuição os principais avanços técnicos e de respon-
populacional mais equilibrada no território, der as políticas governamentais [...] Aquilo
em relação à agricultura patronal, nor- que era antes de tudo um modo de vida
malmente associada à monocultura. Estas converteu-se numa profissão, numa forma
idéias devem ser contextualizadas no deba- de trabalho (ABRAMOVAY, 1992, p.22-127).
te sobre os caminhos para a construção do
desenvolvimento sustentável. Para esse autor, em lhe sendo favorável
esse ambiente e com apoio do Estado, a
Recentemente, vem sendo defendida uma agricultura familiar preencherá uma série
perspectiva que reforça as idéias acima de requisitos, dentre os quais fornecer
apresentadas é a dimensão territorial do alimentos baratos e de boa qualidade para
desenvolvimento rural, onde as atividades a sociedade e reproduzir-se como uma
agrícolas e não-agrícolas devem ser integra- forma social engajada nos mecanismos de
das no espaço local, perdendo sentido a tra- desenvolvimento rural. O pensamento de
dicional divisão urbana/rural e ultrapassan- Abramovay fica claramente evidenciado
do o enfoque predominantemente setorial quando expressa que “Se quisermos com-
(agrícola) do espaço rural. No âmbito das bater a pobreza, precisamos, em primeiro
políticas públicas, isto se traduziu na cria- lugar, permitir a elevação da capacidade de
ção da SDT (Secretaria do Desenvolvimento investimento dos mais pobres. Além disso,
Territorial), subordinada ao MDA. é necessário melhorar sua inserção em
mercados que sejam cada vez mais dinâmi-
Todavia, mesmo havendo consenso en- cos e competitivos”.
tre vários autores sobre a importância da
agricultura familiar, as visões em relação ao Assim, existe uma visão onde o agricul-
modelo que essa agricultura familiar deveria tor familiar está fortemente inserido nos
adotar divergem em certos aspectos. mercados e procura sempre adotar novas
tecnologias. Em contraposição, há uma
Abramovay diferencia a agricultura familiar corrente que tem sido caracterizada como
no interior das sociedades capitalistas mais “neo-populismo ecológico”, por resgatar
desenvolvidas como uma forma completa- alguns conceitos do pensamento de Ale-
mente diferente do campesinato clássico. xander Chayanov, que destaca a autonomia
Enquanto que os camponeses podiam ser relativa do pequeno produtor, enfatizando a
entendidos como “sociedades parciais com utilização de recursos locais, a diversificação
uma cultura parcial, integrados de modo da produção e outros atributos que apon-
incompleto a mercados imperfeitos”, repre- tam para a sustentabilidade dos sistemas
sentando um modo de vida caracterizado de produção tradicionais. Nessa visão, a
pela personalização dos vínculos sociais e sobrevivência do agricultor familiar teria
pela ausência de uma contabilidade nas ope- muito mais de resistência do que de funcio-
rações produtivas. Já a agricultura familiar, nalidade à lógica da expansão capitalista.
150

Este segundo enfoque está associado ao agricultor-empresário, mas o do agricultor-


que se conhece como agroecologia. Na camponês que domina tecnologias, toma
agroecologia (ALTIERI, 2002), os objetivos decisões sobre o modo de produzir e traba-
de um programa de desenvolvimento rural lhar (SCHNEIDER, 2003).
seriam:
Contudo, a agroecologia não está pensando
1) Segurança alimentar com valorização de numa agricultura apenas de subsistência,
produtos tradicionais e conservação de ger- mas a integração ao mercado de produtos e
moplasma de variedades cultivadas locais; insumos deve ser olhada com cautela, para
não aumentar a dependência do produtor.
2) Resgatar e reavaliar o conhecimento das Por outro lado, tem que reconhecer que
tecnologias camponesas; os autores que enfatizam a necessidade de
modernizar a agricultura familiar, também
3) Promover o uso eficiente dos recursos não deixam de reconhecer os impactos
locais; ambientais e sociais que muitas das chama-
das técnicas modernas tem provocado ou
4) Aumentar a diversidade vegetal e animal poderão vir a provocar.
de modo a diminuir os riscos;
Em síntese, há consenso sobre a necessida-
5) Reduzir o uso de insumos externos; de de construir uma agricultura mais sus-
tentável que considere os aspectos sociais e
6) Busca de novas relações de mercado e ambientais, além dos aspectos econômicos,
organização social. e sobre a importância dos agricultores fa-
miliares na construção desse novo modelo,
O pensamento agroecológico resgata a mas ainda há divergências sobre os modelos
figura do camponês e valoriza seus conheci- mais apropriados para que a agricultura
mentos, sobretudo em relação ao convívio familiar atinja esses objetivos. Há uma linha
com o meio ambiente, aprendido através que defende maior competitividade e inte-
de gerações de interação do homem com gração nos mercados e o enfoque agroeco-
os recursos naturais. lógico que se fundamenta numa profunda
mudança no modelo tecnológico, na orga-
O desenvolvimento rural, sob essa ótica, nização da produção e até mesmo numa
representa uma tentativa de ir além da mudança de valores e na própria organiza-
modernização técnico-produtiva, apresen- ção da sociedade.
tando-se como uma estratégia de sobrevi-
vência das unidades familiares que buscam (Disponível em: www.ceplac.gov.br/radar/artigos.
consultado em: 20 julho 2008)
sua reprodução. O modelo não é mais o do
151

BIBLIOGRAFIA
PARA DEBATER

?
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O que a expressão
agrário em questão. São Paulo: HUCITEC
a seguir lhe sugere:
/UNICAMP, 1992, 275 p.
“AGRONEGÓCIO versus
ALTIERI, M. Agroecologia: bases científicas
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para uma agricultura sustentável. Guaíba-

?
RS: Agropecuária, 2002, 592 p.
O que você (re) desco-
FAO/ INCRA Diretrizes de Política Agrária e
briu sobre esse assun-
Desenvolvimento Sustentável. Brasília, Ver-
to a partir da leitura do
são resumida do Relatório Final do Projeto
texto?
UTF/ BRA/ 036, março, 1994.

?
SCHNEIDER, S. Desenvolvimento Rural
De que maneira tudo
Regional e articulações extra-regionais. In:
isso tem a ver com
Anais do I Fórum Internacional: Território,
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41-52.
152

Texto 52
O HOMEM COMO UM SER INCONCLUSO,
CONSCIENTE DE SUA INCONCLUSÃO,
E SEU PERMANENTE MOVIMENTO
DE BUSCA DO SER MAIS

Na verdade, diferente dos outros animais, deve ser uma forma nostálgica de querer
que são apenas inacabados, mas não são voltar, mas um modo de melhor conhecer
históricos, os homens se sabem inacabados. o que está sendo, para melhor construir o
Têm a consciência de sua inconclusão. Aí se futuro. Daí que se identifique com o movi-
encontram as raízes da educação mesma, mento permanente em que se acham ins-
como manifestação exclusivamente huma- critos os homens, como seres que se sabem
na. Isto é, na inconclusão dos homens e inconclusos; movimento que é histórico e
na consciência que dela têm. Daí que seja que tem o seu ponto de partida, o seu sujei- 9
Em Ação cultural
para a libertação,
a educação um que fazer permanente. to, o seu objetivo. O ponto de partida deste discutimos mais
Permanente, na razão da inconclusão dos movimento está nos homens mesmos. amplamente este
sentido profético
homens e do devenir da realidade. (PAULO FREIRE, 2005) e esperançoso da
educação (ou ação
cultural) proble-
Desta maneira, a educação se refaz constan- matizadora. Profe-
tismo e esperança
temente na práxis. Para ser tem que estar PARA DEBATER que resultam do
sendo. caráter utópico

?
de tal forma de
O que faz você perceber-se como ação, tomando-se
A educação problematizadora, que não é sujeito histórico capaz de interpretar a utopia como a
unidade inque-
fixismo reacionário, é futuridade revolu- e (re)criar a existência? brantável entre
cionária. Daí que seja profética e, como a denúncia e o

?
anúncio. Denúncia
tal, esperançosa9. Daí que corresponda à Nesse processo inacabado o que de uma realidade
condição dos homens como seres históricos representa para você a busca do ser
desumanizante e
anúncio de uma
e à sua historicidade. Daí que se identifique mais? realidade em
que os homens
com eles como seres mais além de si mes- possam ser
mos - como “projetos” -, como seres que ca-
? Qual a sua opinião sobre a seguinte mais. Anúncio
e denúncia não
minham para frente, que olham para frente; afirmativa: “Para ser tem que estar são, porém,
como seres a quem o imobilismo ameaça sendo.” palavras vazias,
mas compromisso
de morte; para quem o olhar para trás não histórico.
153

Texto 53
OS MOVIMENTOS SOCIAIS DO CAMPO

“São os movimentos sociais do cam-


po que trazem uma nova consciência,
novas aspirações para os povos do
campo. Novos valores, nova cultura,
nova identidade, nova consciência
de dignidade, nova consciência de
direitos: direito à terra, direito a
quebrar todas as cercas – inclusive
a do analfabetismo, da ignorân-
cia e da educação primária. Este é
um novo momento sociocultural.
A educação só cresce nessas ter-
ras, não cresce na modernidade, na
agroindústria”(ARROYO, 2004).

PARA DEBATER

? Como essa reflexão contribui na melho-


ria da qualidade de nossas vidas? De
ser(mos) mais ?

? O que significa pensar/sentir/agir nessa


perspectiva de movimento e luta dos
povos do campo?
154

Texto 54
HISTÓRIA DOS MOVIMENTOS DO CAMPO BRASILEIRO
1945 Início das primeiras organizações Notícias mais sistemáticas
Fim do Estado Novo de trabalhadores rurais de conflitos: resistência
na terra, greves, etc.
1946
Nova Constituição

Primeiras discussões 1950


1950 sobre a Reforma Agrária
no Congresso Nacional
1º Congresso Camponês
de Pernambuco

1951
Confederação Rural Brasileira
1º Congresso Camponês de Gioânia

1953
1º Encontro Nacional
de Trabalhadores Agrícolas

1954
II Conferência Nacional 1954
dos Trabalhadores Agrícolas ULTAB
(Criação da ULTAB)

Primeiras propostas 1955 1955


1955 de extensão da Legislação 1955
Criação das Resistência e expulsão
Trabalhista ao campo Ligas Camponesas Ligas
no Engenho Galiléia - PE

1957
Ocupação de Francisco Beltrão
e Pato Branco - PR
1959
Operação Arranca Capim - SC

1960 1960 • Acampamentos promovidos


1960 Criação do SAR - RN Criação do MASTER - RS pelo MASTER.
• Resistência armada e ocupação
de terra do RJ.
• Expanção das Ligas Camponesas
e aumento dos conflitos em
diversos pontos do país

1961 1961 Sindicalismo


Renúncia de Jânio Quadros. Congresso Camponês
Cristão
Crise Política. de Belo Horizonte
Intensificação do debate
no Congresso Nacional e na
sociedade sobre Reforma Agrária

Sindicatos 1962
AP Regulamentação da
sindicalização rural

1963 1963
13 de março 1963 Dez. Congresso
Comício Central Dez de criação da CONTAG
CONTAG
1963
Greve Geral
• Estatuto do Trabalhador Rural.
na Zona da Mata - PE
• Criação da SUPRA.
155

CONTAG
1964 1964 1964
1964 31 de Março / Golpe Militar Intervenção sobre • Estatuto da Terra.
a CONTAG • Criação do IBRA e do INDA.
Repressão sobre
as organizações e lutas

1965 CNA 1965


1965 • Suspensão da intervenção. Transformação da
• Eleição para o CONTAG. Confederação Rural Brasileira
em Confederação Nacional
de Agricultura.

Abandono progressivo 1968


das propostas reformistas Novo grupo liderado
e estruturação da políticas por José Francisco da Silva,
modernizantes assume a Contag

1970 Revitalização e/ou continuidade


1970 Extinção do IBRA e INDA dos conflitos por terra.
e criação do INCRA Aparecimento de novas áreas
de conflito.

1971
• Criação do FUNRURAL
• Criação do PROTERRA

1973
II Congresso Nacional
dos Trabalhadores Rurais

1975 1975
Criação da CPT

Período Geisel: “Distensão”. 1978 1978


Retomada das mobilizações Conquista dos STR de Erechim, Primeiras mobilizações
pelos trabalhadores urbanos Chapecó e Francisco Beltrão. dos atingidos por barragens -
- Greve no ABC - Itaparica, Itaipu.

1979 1979 1979


III Congresso Nacional Greve dos Canavieiros PE
dos Trabalhadores Rurais

Governo Figueiredo: 1980 1980


1980 Intensificação das lutas operárias. Mobilização por melhores preços Criação do GETAT
Reformada do discurso para os produtos agricolas. e do GEBAM
sobre Reforma Agrária. Greve em Pernambuco. Primeiros
“Empates” no Acre. Retomada
das ocupações de terra no Sul.

1981 1981
I CONCLAT Ronda Alta

1982 1982
Criação da CUT Expansão do modelo
Criação da CONCLAT/CGT pernambucano de greves a outros
estados nordestinos.
1983
Criação da CUT
Criação da CONCLAT/CGT
156

CONTAG
Campanha das Diretas - Já. 1984 1984
1984 Eleição de Tancredo Neves Criação do Movimento Greve de Guariba - SP
pelo Colégio Eleitoral. CNA
dos Sem Terra

Início da Nova República 1985 1985 / Maio


1985 IV Congresso Nacional dos Proposta de Plano Nacional de
1985 Trabalhadores Rurais Reforma Agrária.
I Congresso dos Sem Terra
1985 / Outubro
Aprovação do Plano
Nacional de Reforma Agrária.

1985/1986 UDR
Greves rurais se alastram. Constituição da Frente UDR
Novos acampamento e ocupações. Ampla Agropecuária.

1987
Decreto 2.363

1988 1988 1988


Aprovação da nova Constituição. Criação do Departamento Fundação do DESER
Rural da CUT

1989 1989 1989


Eleição presidencial com vitória Fed. Dos Empregados Rurais Criação do DETER-CUT
de Collor. Lula fica em segundo de São Paulo em SC e no PR.

1990 1990 1990


1990 Criação do Fórum Sul Criação do DETR-CUT no RS Fundação da Escola Sind. Sul,
dos Rurais da CUT em Florianópolis/SC, enquanto
estratégia da Secretaria
Nacional de Formação da CUT.

1992
Impeachment de Collor.
Assume Itamar

1994 1994
Criação do Plano Real. O DNTR e o Fórum Sul dos Rurais
FHC é candidato à presidência. da CUT, em conjunto a outras enti-
É eleito dades, organizam o Grito da Terra
Brasil - contra a fome, a miséria e
pelo emprego.

1995 1995 1995


Filiação da CONTAG à CUT Greve dos Canavieiros PE

1997 1997
Criação da FETRAFESC Inauguração da sede própria
da Escola SUL.
1998
FHC é reeleito

1999 1999 1999


Ocorre o III Encontro Elaboração e início
da Agricultura Familiar, das atividades do Projeto
em Francisco Beltrão. Terra Solidária.
Constitui-se a Frente Sul
da Agricultura Familiar.
157

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