VASCONCELLOS, Celso dos S. Para Não Desistir da Docência. In: Gestão da Sala de Aula. São Paulo:
Libertad, 2018 (no prelo).
[maio de 2018]
INTRODUÇÃO .................................................................................................................................................. 4
3.Aprendizagem .............................................................................................................................................................. 25
4.Ensino ........................................................................................................................................................................... 25
Preâmbulo
Há professores desistindo da docência! Este fato não é novo; a novidade é o aumento
expressivo da desistência, sobretudo quando consideramos não apenas aqueles que efetivamente
pedem demissão, mas os que se demitem da função docente e continuam a atuar nas escolas.
Isto nos preocupa muito, muito mesmo em função da mais alta relevância da profissão docente.
O fenômeno da desistência docente é bastante complexo, tendo um leque enorme de
motivações.2 Assim sendo, seu enfrentamento também tem múltiplas frentes de atuação. Em
grandes linhas, podemos categorizar estas formas de atuação em dois grandes campos: Objetivo
e Subjetivo.
Dialética Objetividade-Subjetividade
Do ponto de vista Objetivo, podemos vislumbrar um conjunto de demandas que passa
fundamentalmente pelas questões da remuneração (salário, plano de carreira, concurso, etc.) e
das condições de trabalho (número de alunos em sala, instalações e equipamentos, quadro
funcional completo, material didático adequado, trabalho coletivo constante, gestão democrática,
ambiente de trabalho, indisciplina, violência da comunidade, dos alunos e/ou dos pais, burocracia,
assédio moral dos colegas, solidão, aula em várias escolas e/ou de outras matérias para
completar carga horária, rotatividade dos profissionais da escola, etc.). Há também o desafio da
organização política da categoria para as necessárias lutas. Além disso, pesam a falta de apoio
dos pais, a transferência de suas responsabilidades para a escola/professor, e a desvalorização
da profissão docente na sociedade como um todo. A docência é uma das profissões mais bonitas
e mais complexas! Todavia, paradoxalmente, muitas vezes, é uma das mais banalizadas e
desvalorizadas!
Do ponto de vista Subjetivo, temos de enfrentar toda a hipercomplexa questão do sentir,
querer, pensar, falar, fazer humano. A questão da subjetividade pode parecer pequena frente à da
objetividade, com toda sua concretude, suas contradições tão radicais que tanto fazem sofrer os
professores (e estudantes!). Há apenas um pequeno “detalhe”: toda ação no campo objetivo é
realizada (ou não) por um sujeito (pessoal e/ou coletivo)!
Para “complicar” um pouco a montagem desta equação, não devemos esquecer que o
sujeito não é “um anjo”, um ser abstrato, mas que, pelo contrário, é constituído na placenta social.
Já dizia o velho Marx, O indivíduo é o ser social (1989: 195); Ortega y Gasset (2005), na mesma
1.Prof. Celso dos Santos Vasconcellos é Doutor em Educação pela USP, Mestre em História e Filosofia da Educação
pela PUC/SP, Pedagogo, Filósofo, pesquisador, escritor, conferencista, professor convidado de cursos de graduação e
pós-graduação, consultor de secretarias de educação, responsável pelo Libertad - Centro de Pesquisa, Formação e
Assessoria Pedagógica. celsovasconcellos@uol.com.br www.celsovasconcellos.com.br
2.Há, inclusive, uma desistência que é bastante positiva: daqueles que estavam no magistério por “acidente”, por uma
questão de sobrevivência ou mesmo por “bico” para complementar a renda. Todavia, estes, em geral, são poucos.
1
Para Não Desistir da Docência – Celso dos S. Vasconcellos
linha, afirma que O homem é o homem e suas circunstâncias; Wallon (1979) diz que somos
geneticamente sócias; Vygotsky (1984) nos lembra que as funções psicológicas superiores
primeiro estão entre nós e só depois em mim (inter intrapsíquico), etc.
A saída para o equacionamento desta complexa composição da realidade é a dialética
entre Objetividade e Subjetividade, qual seja, uma supõe, nega e supera a outra, num contínuo
movimento, sem que haja um ponto de “gênese absoluta”, isto é, um ponto do qual
necessariamente deveria se começar a mudança. Como nos lembra Morin (1998: 14), Qualquer
um de nós, onde quer que esteja, está na luta inteira!
“Já passou o tempo do professor; informação hoje tem-se em qualquer lugar, não precisando mais
da escola e do professor; se até os pais conseguem ensinar, para quê o professor?; o professor
passa apenas algumas horas com os alunos, que influência pode ter?; quem sabe faz, quem não
sabe ensina; atualmente temos de ser tudo pai, mãe, psicólogo, assistente social, menos
professores; se é o aluno que aprende, para quê o professor?; como concorrer com a tecnologia, se
temos apenas saliva e giz?”; etc.
Se alguém (...) me perguntar, com irônico sorriso, se acho que, para mudar a Docência, basta que
nos entreguemos ao cansaço de constantemente afirmar que mudar é possível e que os seres
3.Porseu turno, para mudar a subjetividade, são necessárias novas condições objetivas. Sem saída? Não! Como vimos,
processo dialético de aproximações sucessivas, nas respectivas Zonas de Autonomias Relativas (ZAR).
2
Para Não Desistir da Docência – Celso dos S. Vasconcellos
humanos não são puros espectadores, mas atores também da história, direi que não. Mas direi
também que mudar implica saber que fazê-lo é possível. (cf. Freire, 2000: 53).
A referência ao cotidiano escolar como “inferno” é relativamente comum por parte dos
professores que estão em crise. De fato, há situações assim, como relata a diretora de uma
escola municipal de São Paulo:
“Não tem nenhum perigo de a escola dar certo... Realmente tudo está muito bem organizado para
deseducar, desumanizar. Está tudo errado! A escola está um caos total. Estamos com um terço dos
professores em licença médica por depressão, compulsão, repressão ou seja lá o que se nomeie.
Enfim, todos estão desistindo... A escola está trabalhando como uma máquina desenfreada, indo na
direção do caos e pra piorar... descobri que não tem leme, direção, guidão ou seja lá o que para
desviar do caos. Também não encontro o freio, a ré, o paraquedas, ou uma boia que seja.”
É um desabafo que revela quadro devastador. Ocorre que o “inferno” da escola pode ficar
maior ou menor em função do posicionamento que tivermos, pessoal e coletivamente, diante dele.
Vamos a um exemplo: a questão da indisciplina. Como é sabido, a indisciplina em sala de aula
tem sido um dos motivos de desistências de professores. Também aqui estamos diante de um
quadro complexo, cujas causas remontam desde a crise geral da sociedade, a modernidade
líquida (Bauman), a falta de perspectiva de emprego, a permissividade da mídia, até a questões
das novas configurações da família. Tudo isto deve ser levado em conta para não cairmos em
abordagens ingênuas do problema. Todavia, há, com certeza, uma parte que à escola, ao
professor. Questionamos: será que a escola tem feito a “lição de casa”?
Há uma passagem de Rubem Alves (1981: 21) que, embora forte, cremos que seja
importante para nos fazer refletir: Quando os ferros em brasa nos marcaram, não é verdade que já
éramos bois de carro, há muito tempo? (Vasconcellos, 2017c). Metaforicamente, isto é uma
grande humilhação: é receber a marca do proprietário. Entretanto, faz sentido, pois se vamos
abrindo mão daqueles instrumentos que temos à disposição na escola, por não acreditar neles,
por não querer ressignificá-los no caso de estarem distorcidos, que moral temos de reclamar
quando as coisas estouram? Se o professor abriu mão de atuar na sua ZAR, o limite de seu
trabalho fica muito mais forte, seu campo de ação fica muito mais restrito. Daí a importância de
exorcizar os fantasmas que nos levam ao desamino, à descrença, ao ceticismo, enfim, à
desistência.
O inferno dos vivos não é algo que será; se existe, é aquele que já está aqui, o inferno no qual
vivemos todos os dias, que formamos estando juntos. Existem duas maneiras de não sofrer. A
primeira é fácil para a maioria das pessoas: aceitar o inferno e tornar-se parte deste até o ponto de
deixar de percebê-lo. A segunda é arriscada e exige atenção e aprendizagem contínuas: tentar
3
Para Não Desistir da Docência – Celso dos S. Vasconcellos
saber reconhecer quem e o que, no meio do inferno, não é inferno, e preservá-lo, e abrir espaço.
(Calvino, 2002: 150)
Sintetizando: por um lado, não existe formulação teórica ou reflexiva que garanta, por si,
um bom trabalho educativo. Por outro, não existe atividade humana consciente que não seja
pautada por alguma referência teórica ou reflexiva. Como seres semióticos, teleológicos, de
linguagem, precisamos de instrumentos simbólicos que façam nossa mediação com o mundo. No
entanto, estes instrumentos são o que são, isto é, instrumentos, não tendo poder de atuar por
conta própria. É nesta tensão entre a necessidade e o limite do instrumento teórico que nos
situamos, que produzimos reflexões, textos, e incentivamos que os educadores nas escolas façam
o mesmo.
O presente texto é composto basicamente por dois blocos reflexivos. No primeiro,
procuramos contextualizar o problema da desistência docente e analisar, passo a passo, as
representações mentais, as ideias desmobilizadoras que temos encontrado nos professores, no
cotidiano da escola, bem como contrapô-las a outros argumentos, no sentido de sua superação.
No segundo, buscamos algumas perspectivas mais gerais para o resgate do significado, da
satisfação, da realização, enfim, das grandes alegrias da docência!
Partilhamos um desejo especial que é ajudar a resgatar um elemento da nossa Criança
Interior, que pode ter vários nomes, mas que é o motor do desenvolvimento humano e da
aprendizagem:
Introdução
Nosso desejo é contribuir com o trabalho dos Professores, para que a escola possa
cumprir sua função social, na perspectiva de um projeto emancipador:
Aprendizagem Efetiva
Desenvolvimento Humano Pleno
Alegria Crítica (Docta Gaudium)
por parte de cada um e de todos os educandos, através da apropriação crítica,
criativa, significativa e duradoura dos saberes necessários (conceituais,
procedimentais e atitudinais) visando a potencialização da consciência, do caráter,
da cidadania e da formação para o trabalho, pautada na solidariedade, na
autonomia, na justiça, na paz e na responsabilidade.
Só que não através de palavras fáceis, de discursos demagógicos de “elevação de
autoestima”, de “massagear o ego”, falar o que o professor quer ouvir (na linha da
chamada “autoajuda”). Mas de elementos teóricos, metodológicos e práxicos rigorosos,
que ajudem a superar o senso comum tão presente na educação escolar. É claro que
desejamos sensibilizar o professor, pois, parafraseando Cora Coralina, podemos dizer que
“Nada do que escrevemos tem sentido, se não tocarmos o coração das pessoas”.4
4.Recuperamos aqui (sem nenhuma conotação religiosa, mas sim didática) a belíssima passagem dos discípulos de
Emaús, descrita por Lucas, no final de seu Evangelho: os discípulos, ao recordarem o que tinha acontecido enquanto
caminham com Jesus, sem no entanto reconhecê-lo, afirmam: “Não é verdade que ardia o nosso coração quando ele
nos falava pelo caminho, quando nos explicava as Escrituras?” (Lc 24,32). Notem que, pelo que afirmam os discípulos,
Jesus não fazia um discurso fácil, apelando para elogios aos interlocutores ou malabarismos retóricos, mas, digamos
assim, dava uma aula de história. Este, nos parece, é o ideal de todo professor: conseguir tocar o coração dos alunos a
partir do trabalho rigoroso com seus conteúdos, sem apelos outros.
4
Para Não Desistir da Docência – Celso dos S. Vasconcellos
Acadêmicos que estão se Parabéns! Vocês escolheram uma das mais bonitas
preparando para serem profissões. Mas também uma das mais complexas
Professores Aproveitem ao máximo as oportunidades de formação na
academia (e fora dela)
Este texto, com muita esperança, também é para vocês.
De imediato também, gostaríamos de dizer que tudo deve ser feito por todos para que o
professor, que realmente quer ser professor, não desista! Este “todos” inclui, entre outros, os
governantes, os dirigentes do sistema de ensino, os gestores escolares, os pais, os alunos, os
agentes dos meios de comunicação, os membros do judiciário, os parlamentares, os sindicalistas,
os líderes religiosos e comunitários, os colegas professores e o próprio professor!
—Mediação Simbólica
As pessoas precisam de palavras para comer (Alves, 1984: 52); ninguém vive sem um
teoriazinha de mundo (e de educação, de profissão, etc.). Ao propormos esta reflexão, entramos
na disputa pelas representações que vão embasar a prática dos educadores.
Por um lado, não existe formulação teórica ou reflexiva que garanta uma mudança de
postura ou um bom trabalho educativo. Por outro, não existe atividade humana consciente que
não seja pautada por alguma referência teórica ou reflexiva. Como seres semióticos, teleológicos,
de linguagem, precisamos de instrumentos simbólicos que façam nossa mediação com o mundo.
No entanto, estes instrumentos são o que são, isto é, instrumentos, não tendo poder de atuar por
conta própria. É nesta tensão entre a necessidade e o limite do instrumento teórico que nos
situamos, que produzimos reflexões, textos, e incentivamos que os educadores nas escolas façam
o mesmo. Seria interessante que nesta reflexão se buscasse:
Visão abrangente, de conjunto: que o olhar não ficasse restrito a um aspecto ou detalhe
da prática deixando de lado todo o resto (Totalidade)
Visão crítica: que não se ficasse preso às aparências, às manifestações primeiras; que
se fosse capaz de penetrar na essência dos processos, não ser ingênuo nas análises,
captar os conflitos e contradições; que não se usasse uma linguagem estereotipada. Que
se procurasse superar o pensamento dicotômico (Criticidade)
Visão de processo: que se percebesse como as coisas vêm acontecendo no decorrer do
tempo; não ser acomodado, nem “apressadinho”, querer tudo já (Historicidade)
Visão esperançosa: que, apesar das dificuldades, não se desistisse, mantivesse-se o
entusiasmo, acreditando que uma outra escola/mundo é possível. Esperança do verbo
Esperançar (Freire), e não do substantivo espera (Princípio Esperança)
Visão compromissada: que cada um se envolvesse, que não colocasse as coisas só para
os outros (“diagnoutro”), como se não dependesse dele também (Ética).
A teoria não é suficiente, uma vez que o muda a realidade é prática. A questão é que não é
qualquer ação que produz a mudança desejada. A prática, para ser transformadora, precisa ser
atravessada por uma intencionalidade, por uma leitura crítica da realidade e por um plano de ação
(três dimensões básicas da atividade humana: Projeção da Finalidade, Análise da Realidade e
Elaboração do Plano de Ação), qual seja, precisa ser mediada pela teoria. O importante, cremos,
é perceber que a teoria é necessária, mas não é suficiente. Deve se deixar desafiar pelo contexto
concreto que inclui afetos, sensibilidades, condições políticas e materiais, etc. Não há,
evidentemente, fórmula mágica, mas há Método (Méthodos - do grego Meta + Hodos – horizonte
+ caminho), que possibilita a autêntica Atividade Humana.
Cabe destacar que, ao construirmos nossos argumentos, estamos aqui trabalhando com o
conhecimento, que é a nossa grande ferramenta também em sala de aula (apesar de seus limites
e contradições).
6
Para Não Desistir da Docência – Celso dos S. Vasconcellos
a emoção, e tem base tanto psíquica quanto orgânica. Como dizem os especialistas, num certo
grau todos nós podemos ter traços de neurose, depressão ou mesmo de psicopatia. Como
costuma dizer Caetano Veloso, de perto, ninguém é normal!
Se os professores estão desistindo, todos (governantes, políticos, juristas, empresários,
gestores, famílias, profissionais dos meios de comunicação, colegas professores, etc.) devemos
fazer de tudo para que não desistam mais, e façam um trabalho de qualidade. Um dos contributos
para isto tem a ver exatamente com a atribuição de sentido à atividade docente. Primeiro, na
afirmação da relevância social do trabalho escolar; depois, na afirmação da possibilidade de o
professor realizar este trabalho com seus alunos.
Procurando não fazer uma análise simplista, mas indo ao fundamento dos fatos,
indagamos: até que ponto determinados dirigentes que efetivamente desejam fazer mudanças em
suas instituições (ou países) conseguem fazer se não contam com uma base nos sujeitos que
dela fazem parte (microfísica do poder)? Em outros termos, sem uma outra educação?
Para fortalecer o ânimo do professor em relação ao âmago de seu trabalho, a
aprendizagem (o desenvolvimento e a alegria crítica), é bom resgatarmos um dos mitos
fundadores do Brasil, expresso na Carta de Caminha: Em se plantando, tudo dá!, e aplicá-lo
metaforicamente à situação de aprendizagem de nossas crianças, jovens e adultos: nas mais
diversas e adversas situações (crianças de rua, crianças em acampamentos do MST, crianças
dentro de favelas controladas pelo narcotráfico, crianças internadas em hospitais, crianças em
situação de guerra, jovens na antiga FEBEM, adultos nas prisões, adultos moradores de rua,
jovens e adultos nos movimentos de alfabetização) eles aprendem quando oportunidades,
situações significativas, são oferecidas.
É certo que a educação não depende só da escola ou do professor (É preciso toda uma
aldeia para se educar uma criança), todavia, o professor e a escola participam desta educação
(hoje, praticamente toda criança está na escola – e por muitos anos). Vem, então, a humilde
esperança do nosso trabalho no cotidiano da escola. Snyders sintetizava bem esta tensão
dialética: é preciso fazer a revolução e dar aula amanhã cedo (1981: 10). Não se trata de uma
coisa ou de outra, mas de ambas, num movimento de afirmação, negação e superação por
incorporação.
Exigir primeiro a mudança das condições, para que então se comprometer com a mudança
da escola, não seria ser revolucionário de fachada, de “final de semana”? Lembremos o óbvio:
quando as condições estiverem transformadas, não haverá mais necessidade de sujeitos de
transformação! Nos dias correntes, em que há tanta dor, tanto sofrimento, é que precisamos de
pessoas que se comprometam com a transformação.
Observando a realidade, percebemos que a mudança (de muitos aspectos) é necessária.
Conhecendo a História, percebemos que, dentro de certos limites dados/chegados em cada
momento histórico, é possível (um olhar sobre um período de maior duração ajuda a perceber que
muita coisa mudou). Refletindo sobre nossa posição no mundo, constatamos que embora
necessária e possível, a mudança não é fácil! Mas quem disse que a vida seria fácil?
O fato de estarmos lutando por algo que consideramos bom e justo não nos tira da dura
realidade, não nos confere um estatuto especial de “protegidos da Natureza/Deus/História/Razão/
Técnica/Desejo”. Pelo contrário: na medida em que optamos por um projeto de humanização
radical de todos, vamos nos confrontar com todas as lógicas montadas historicamente na direção
da desumanização. Mais uma vez lembramos o poema de Brecht: Há homens [e mulheres] que
lutam um dia e são bons... Mas há aqueles que lutam a vida toda, e estes são os imprescindíveis.
8
Para Não Desistir da Docência – Celso dos S. Vasconcellos
Argumentos Inibidores
O cotidiano dos educadores é bastante desafiador. Além de todos os entraves objetivos, a
veiculação reiterada de certos discursos pode ter o efeito de se tornarem representações sociais,
crenças, verdadeiros obstáculos epistemológicos (Bachelard) e, consequentemente, baixar a
convicção docente, enfraquecer o ânimo para o trabalho, para efetivar o curriculum numa nova
perspectiva. Muitos professores acabam incorporando acriticamente e reproduzindo estes
discursos. Seria interessante nos interrogarmos: que discursos estão presentes no cotidiano de
nossa escola? Há discursos desmobilizadores? Como vamos enfrentá-los?
Apresentamos algumas falas que têm circulado no cotidiano escolar e que, ao colocarem
em questão a função social da escola e da docência, atingem o entusiasmo dos educadores.
Imediatamente, indicamos caminhos de contra-argumentos, possibilitando uma outra interpretação
das falas iniciais.
9
Para Não Desistir da Docência – Celso dos S. Vasconcellos
A nossa sociedade é hipócrita e ambígua quando aplica aos professores o velho discurso da
abnegação e do valor espiritual e formativo de nosso trabalho, quando na realidade despreza tudo o
que não tenha valor material. (Esteve, 1992: 24)
6.Costuma-se dizer que o professor deve “vestir a camisa da escola”, mas esquece-se de dizer o necessário
complemento: que a escola deve “vestir a pele do professor”...
10
Para Não Desistir da Docência – Celso dos S. Vasconcellos
dizeres do tipo: “Não me sequestre, sou professor”, “Hei de vencer, mesmo sendo
professor”. Ao coitadinho dá-se esmola. Nós não queremos esmola. Queremos respeito,
dignidade
Trabalho competente (todo aluno aprendendo): gera respeito e admiração (“Eu gosto
daquela professora porque ela quer que a gente aprenda”)
Ver positividade do aluno: normalmente, pais são chamados à escola só para ouvir
queixas sobre os problemas dos filhos
Diminuir faltas, licenças e rotatividade (por exemplo, como um pai vai apoiar a greve de
um professor cujo nome ele nem sabe, por ter tão pouco vínculo?)
Ganhar visibilidade social (ocupar espaço na mídia, mesmo que seja local, mesmo que
seja no mural da escola, no blog da escola, etc.)
Articular-se com movimentos sociais
Ética profissional (pressão sobre colegas desistentes e que fazem “bico” do magistério)
Elevar expectativas dos pais sobre a escola (pais satisfazem-se com muito pouco: vaga,
uniforme, kit de material, transporte, alguém para tomar conta do filho, etc. Tudo isto é
importante, mas é condição para a educação, e não educação de qualidade)
Participação dos pais na construção do Projeto Político Pedagógico (envolvimento mais
profundo com a escola)
Não montar armadilhas para colegas dos anos seguintes. Evitar desgastes futuros em
função de trabalho equivocado no presente: as crianças, de imediato, podem não
manifestar de forma explícita sua insatisfação com a prática pedagógica, mas isto a marca,
levando a, posteriormente, ou ao desânimo, ou à revolta em relação à escola).
Outro aspecto básico desta luta é a organização da categoria docente, a participação
inteligente e crítica nas associações profissionais e nos sindicatos, a articulação com outros
segmentos da sociedade (em particular os representantes do povo no parlamento). No início da
revolução industrial, os trabalhadores, entre eles crianças e mulheres (até mesmo grávidas),
chegavam a morrer em cima das máquinas, tal o nível de exploração. Sabem como isto mudou?
Um dia, os capitalistas foram visitar o interior das fábricas e ficaram altamente sensibilizados; a
partir de então, estabeleceram um limite para a jornada de trabalho, passaram a se preocupar
com o bem estar dos trabalhadores, etc. Foi assim? Só nos contos da carochinha... As mudanças
foram conquistas a partir da organização da classe trabalhadora. Às vezes, parece que certos
professores esperam o “reconhecimento natural de seu valor para a sociedade”, não vendo a
necessidade de se organizar para tal.
2)Administração dos Recursos Financeiros
Lutar por plano de carreira
Diminuir demanda de especialistas na escola (quanto mais gente, menor a fatia de
recursos para cada um)
Diminuir gastos com fracasso escolar (reprovação, evasão)
Diminuir gastos devido às faltas de professores, licenças sem necessidade
Fiscalizar a aplicação das verbas da educação (tanto no aspecto de aplicação naquilo
que é prioritário, quanto no combate à corrupção)
Buscar novas formas de organização do trabalho pedagógico (de maneira a potencializar
o trabalho do professor com mais experiência)
Professor x Professor-Auxiliar
Uso da Educação a Distância em parte das atividades
(Estes são aspectos muito delicados que precisam ser muito bem entendidos e
discutidos, para não servirem de “tapa buraco” para a falta de professores, em
função da não mudança das condições de trabalho)
Ter critério para gastos pessoais
11
Para Não Desistir da Docência – Celso dos S. Vasconcellos
Outras possibilidades
Vilas Docentes (semelhante às vilas militares: professores morando
gratuitamente, próximos das escolas onde atuam)
Vale Livro
Financiamento especial para aquisição de residência
Diminuição da carga horária e bolsa de estudos para aperfeiçoamento
profissional.
3)Adequação da expectativa salarial
Se for para consumir tudo aquilo que a mídia comercial veicula (carro, celular, cerveja ,
corpo, moda, peitos & Cia, status/sucesso, vida de celebridade, etc.), vinte mil reais por mês será
pouco... Vira e mexe, revistas da área administrativa ou econômica colocam em suas capas
manchetes do tipo “Como ganhar seu primeiro milhão”, gerando, naturalmente, uma falsa
expectativa para a absoluta maioria da população (inclusive para os docentes).
“Quando você diz ‘estudar para ser isto que eu sou’, deve estar influenciado
pelos valores da sociedade de consumo, que colocam o valor econômico como o
maior ou único valor, e referindo-se ao meu salário, não é? Pois é bom distinguir: uma
coisa é o que eu ganho (ou aquilo que muitos professores ganham, fruto de uma
relação de expropriação a que vêm sendo submetidos, como estratégia de desmonte
profissional), que pode não ser suficiente para adquirir os bens que você considera
indispensáveis. Outra, muito diferente, é o meu valor: isto não pode ser comparado
com o que eu ganho!
Estamos juntos há pouco tempo e você ainda não teve oportunidade de me
conhecer melhor. Eu estou aqui por opção e não por medo da vida lá fora, por
incompetência. Note bem: o que estou falando é importante porque também na sua
vida, num certo momento de sua trajetória, você terá de fazer uma opção profissional,
e qual será o seu critério? Escolher a profissão onde se ganha mais? Será esta a
melhor opção? Se o meu projeto fosse simplesmente ganhar mais, eu tenho
conhecimento e capacidade para conseguir isto sem ser na escola. Não que eu queira
ganhar mal; não é isto, tanto é que estou lutando nas instâncias certas para reverter
este quadro.
O que quero dizer é que estou aqui inteiro, por opção. Eu sei porque estou
aqui, e tenho algo muito importante para vocês, que dificilmente encontrarão em outro
7.Existem, p. ex., alunos nossos de curso noturno cujos salários são maiores que os nossos; existem alunos nossos na
escola particular cujas mesadas são maiores que nossos salários.
12
Para Não Desistir da Docência – Celso dos S. Vasconcellos
lugar. Em outro lugar vocês podem encontrar informações, todavia provavelmente não
as encontrarão marcadas por sentido, desejo, projeto, perspectiva, criticidade,
totalidade, historicidade, tal como eu e meus colegas nos propomos a trabalhar com
vocês, a partir da nossa competência e do nosso compromisso. Não quero impor
projeto algum a vocês, mas ajudar cada um a construir o seu. Tenho convicção disto.
A escola compra o meu tempo, mas não compra o melhor de mim. O melhor de
mim eu dou a quem eu quero. E é isto que quero partilhar com vocês: a busca de um
sentido digno para a existência, através do conhecimento, do desenvolvimento
humano pleno e da alegria crítica!”
Que sentido tem a vida se não podemos imprimir na realidade nossos sonhos, nossos
projetos? Que sentido pode ter a vida quando há tanto sofrimento, tanta dor, tanta incompreensão,
injustiça? (o problema da presença do Mal). Ora, será que um dos sentidos básicos não é
justamente nos colocarmos nesta luta por um mundo melhor?
A opção de ser professor passa por uma concepção de vida, de sociedade! O sistema
social é altamente excludente, não havendo condições para que todo ser humano tenha uma vida
digna. Já há muitos anos, Josué de Castro denunciava uma tendência cruel que vem se
confirmando: passamos a ter dois tipos de pessoas na sociedade: os que não comem porque não
têm o que comer, e os que não dormem, de medo dos que não comem! (cf. 2003: 130). A questão
nuclear não está nesta constatação, mas justamente na postura diante dela. Este é o divisor de
águas. Vamos apresentar esta lógica como sendo inexorável dizendo ao aluno: “seja o melhor”,
“tenha um diferencial competitivo no mundo globalizado”, “garanta o seu”? Ou vamos ter coragem
de despertar os educandos para a indispensável mudança que deve ocorrer?
Eticamente, um novo paradigma se impõe: não se trata mais de estudar simplesmente
para poder garantir o seu lugarzinho no bonde da história. Trata-se, isto sim, de estudar a fim de
ganhar competência, buscar naturalmente seu espaço, mas se comprometer também em mudar o
rumo deste bonde, ou seja, ajudar a construir uma sociedade onde haja lugar para todos!
Sintetizando, diríamos que o papel do professor é educar (= humanizar) através do
ensino! Em função das distorções históricas, esclarecemos que ensino não é a mera transmissão
de informações aliada ao controle dos corpos. O ensino não tem um fim em sim mesmo: é um
meio, é uma forma de organização, uma mediação sistemática que visa a apropriação crítica,
criativa, significativa e duradoura dos elementos relevantes da cultura (material e/ou espiritual),
expressos justamente na proposta curricular. Daí a exigência de aprendizagem por parte de todos.
Portanto, dialeticamente, a atividade de ensino se define com seu par complementar, a atividade
de estudo, que propicia a aprendizagem, a formação do aluno. A escola deve primar por sua
característica antropoplástica (Jaeger, 1979: 13), formadora do anthropos (arte de plasmar o ser
humano).
Por isto é que afirmamos que o professor deve ser especialista no humano. Os alunos
estão precisando mais do que nunca de um sentido para o conhecimento, para o estudo, para as
coisas, para a própria vida.
8. Em carta para Levina, datada de 16 de julho de 1931, in van der Veer e Valsiner, 1996: 29.
14
Para Não Desistir da Docência – Celso dos S. Vasconcellos
15
Para Não Desistir da Docência – Celso dos S. Vasconcellos
Neste momento, sinceramente, eu não quero ganhar mais, eu quero ser respeitada. Odeio ser
humilhada todos os dias. Penso que muitos professores se sentiriam satisfeitos com seus salários
se tivessem atenção nas suas aulas. O prazer de ser prestigiado, o dinheiro não paga.
Nesta fala, a professora reafirma a linha de reflexão de Winnicott: O pior é não ser visto,
não ser ouvido! É a famosa luta pelo reconhecimento a que se referia Hegel na Fenomenologia do
Espírito.
“Existem muitos atrativos hoje fora da escola; fica difícil conseguir o interesse do aluno”. A
escola, pela prática simbolizadora que desenvolve, pode trabalhar em muitos universos virtuais.
Deve-se considerar o prazer que há no conhecer. Além disto, seria o caso de cairmos no mito do
eterno retorno? Ou vamos reconhecer que no passado também existiam atrativos para além da
escola?9
As pesquisas revelam claramente: os alunos gostam da escola e até do professor; o que
não gostam é das aulas... Será que isto não nos dá uma dica de como melhorar a relação deles
com o saber? Com os jogos eletrônicos, p. ex., será que não poderíamos reaprender a força
mobilizadora que o desafio —no nível adequado— tem para a atividade humana
(problematização)? Os professores se queixam que os alunos “não têm limites”; mas como é que,
p. ex., se submetem a limites tão bem definidos (através de regras rígidas) dos jogos de
computador? O que está por detrás disto?
Em relação à mídia, temos vantagens significativas, como o contato direto, face a face,
com o aluno, possibilidade (nem sempre utilizada) de altíssima interatividade. Há ainda a
possibilidade de exercer a crítica, do ver além das aparências, do estabelecer relações mais
profundas, iniciativa que na mídia comercial fica muito difícil fazer (dada sua contradição de fundo
de precisar manipular para vender suas quinquilharias).
O professor deve ter suficiente convicção, segurança, autoestima, crença na importância
daquilo que está ensinando para não se deixar abalar pelos momentos de “vácuo”, de falta de
retorno dos alunos, lapsos de interesse da classe. Se isto não acontecer, há o risco de se cair
num ciclo vicioso de desmobilização recorrente entre alunos e professor.
9.Aquilo que alguns filhos fazem hoje no game —bicicross—.muitos pais faziam “ao vivo e a cores” no passado.
16
Para Não Desistir da Docência – Celso dos S. Vasconcellos
Antes de tudo, entendemos que ao invés de culpa (que remete ao campo da moral,
desencadeando mecanismos de defesa), o mais apropriado é falarmos de responsabilidade
(campo da ética) e, neste sentido, todos os segmentos são responsáveis pelo problema da
educação, embora nem todos pelas mesmas coisas ou com o mesmo compromisso, com o
mesmo interesse na mudança.
Constatamos que há professores que sentem-se desmotivados porque se percebem
impotentes (Tristeza é o que sentimos ao perceber que nossa capacidade de agir encontra-se
diminuída ou entravada – Espinosa, 1979: 214): os problemas que sofrem em sala de aula teriam
origem fora dela, e eles nada poderiam fazer. Ao focar sua parcela de responsabilidade no
problema temos por intenção fortalecer sua potência, ao perceberem que têm coisas que podem
fazer já na sala de aula e na escola, ao mesmo tempo em que se engajam nas lutas maiores, que,
por serem tão abrangentes, levarão mais tempo para sua mudança.
Limite Externo
(Natureza, Sociedade)
Zona de
Autonomia
Relativa
(// ZDP)
Limite Interno
Projetado pelo Sujeito
Contradições do Sujeito
Zona de Ação Atual (Eu e/ou o Outro Armadilha)
— Esquema: Zona de Autonomia Relativa—
17
Para Não Desistir da Docência – Celso dos S. Vasconcellos
18
Para Não Desistir da Docência – Celso dos S. Vasconcellos
mediação: ser uma espécie de catalisador (andaime, cf. Bruner). Sem ele, o aluno poderia levar
anos para aprender sozinho aqueles conteúdos ou aprender de forma ingênua, fragmentada.
Cabe ao docente acolher o educando, provocá-lo para o conhecimento (problematizar), dispor
objetos/situações potencialmente significativas para o estudo (subsidiar), e interagir com suas
elaborações até que chegue a uma síntese satisfatória.
Ninguém começa a ser educador numa certa terça-feira às quatro horas da tarde. Ninguém nasce
educador ou marcado para ser educador. A gente se faz educador, a gente se forma, como
educador, permanentemente, na prática e na reflexão sobre a prática. (Freire, 1991: 58)
b)“O professor fica pouco tempo com aluno, seu trabalho tem pouca chance de dar resultado, pois o
que faz aqui dentro é desfeito lá fora. Sinto-me impotente...”
Em primeiro lugar, indagamos: pode-se generalizar a influência negativa do meio? Quem
disse que tudo o que acontece fora da escola vai contra sua linha de trabalho (numa espécie de
fio de Penélope: o que faz aqui, se desfaz acolá)? Quando os educadores vêem os pais como
inimigos (que são chamados à escola apenas para serem repreendidos), não se cria parceria,
identificação com a comunidade, o que terá repercussões graves, inclusive no que diz respeito à
não valorização dos profissionais da educação por parte das famílias (refletindo até mesmo na
falta de apoio, p.ex., aos movimentos da categoria por recuperação salarial). Não estaria na hora
de dar um basta a esta arrogância de algumas escolas? Hoje, com a perspectiva da educação na
cidade como um todo (Cidade Educadora), cada vez mais existe um diálogo franco, processos de
cooperação e formação mútua: quem disse que a escola é portadora exclusiva da verdade, do
bem? Sem dispensar absolutamente a crítica fundamentada às grandes mazelas sociais, com
certeza a escola tem muito que aprender com a comunidade, com os movimentos sociais, etc.
Além disto, como a sociedade vai conhecer o trabalho da escola —supondo que este seja de
muito boa qualidade— se ela se isola, constrói muros de tijolos físicos e psicológicos.
19
Para Não Desistir da Docência – Celso dos S. Vasconcellos
Por outro lado, embora o tempo de permanência diário na instituição seja limitado, há
continuidade do contato, pois o aluno fica na escola durante vários anos. Enquanto a interferência
do meio é um tanto caótica, a ação educativa escolar é intencional, viabilizando um trabalho de
formação planejado. Além disto, há a possibilidade de uma ação coletiva integrada (todos falando
a mesma linguagem, convergindo para os mesmos objetivos).
20
Para Não Desistir da Docência – Celso dos S. Vasconcellos
Notem bem: ao trazer estas contribuições não queremos ser arrogantes, mas exercitar o
poder que temos a partir de um instrumento básico do nosso trabalho de educadores: o
conhecimento! Palavras para comer...
10.Assim, como ilustração, por muitas décadas foi válido, do ponto de vista científico, aquilo que a escola ensinou sobre
os estados/fases da matéria serem sólido, líquido e gasoso. De uns anos para cá, incorporou também os estados de
plasma e o condensado de Bose-Einstein (agora já se fala de um sexto: gás fermiônico), mas aqueles, embora
relativizados, continuam pertinentes
21
Para Não Desistir da Docência – Celso dos S. Vasconcellos
o professor é aquele que trabalha com a produção de sentido, nunca foi tanto o tempo do
professor como agora!
Com a crise dos modelos, dos paradigmas tradicionais, aliada à revolução tecnológica,
estamos colocados como nunca diante de tarefas históricas extraordinárias: simplesmente recriar
as formas de organização das relações entre os homens, o trabalho, a afetividade, o lazer, a
cultura, a política, uma vez que as condições para a reprodução material da vida estão dadas
potencialmente, todavia, ao mesmo tempo, estão aprisionadas numa estrutura ultrapassada de
organização social, gerando uma contradição fundamental.
O mundo está para ser reinventado! Isto nos remete a solicitar o melhor de cada um e de
todos nós: usar o conhecimento, a imaginação, a intuição, a criatividade para encontrar
alternativas. É um tremendo desafio colocado ao ser humano de nosso tempo. Não se trata tanto
de ter um projeto de futuro muito bem definido, delineado; mas essencialmente de participar de
um princípio esperança (Bloch, 2005), de uma pedagogia da esperança (Freire, 1992), partilhando
a profunda crença na possibilidade de mudança e de construção de um futuro melhor para todos
(Vasconcellos, 2017c). Mais do que nunca, portanto, o professor é necessário!
2.Encontro Humano
O magistério nos permite trabalhar com gente11, permite-nos o relacionamento com
crianças, jovens e adultos, com suas dificuldades e dramas, é certo, mas também com seus
sonhos, com suas fantasias, com suas trajetórias, com suas riquezas, com suas formas peculiares
de ser, enfim, com seus mistérios (daí o sentido da reverência diante do outro). É muito difícil, mas
é, ao mesmo tempo, um privilégio porque temos, através do outro, um convite constante para
crescer. Porque cada aluno meu, todo ano, todo semestre é um pequeno desafio para que eu
melhore como ser humano, para poder me aproximar dele, para poder compreendê-lo, para que
ele de fato aprenda. Nossos alunos têm características gerais, mas também têm características
singulares, que precisam ser percebidas e trabalhadas. Então, essas peculiaridades dos alunos
representam um eterno desafio para crescer, para nos tornarmos um ser humano melhor, para
poder compreender melhor a Ana Cláudia, o Pedro César... Entendemos que o currículo escolar
é, antes de tudo, o encontro dos currículos pessoais dos alunos e dos professores.
O encontro humano na sala de aula é marcado também por momentos muito significativos,
como este relatado por uma professora12:
"(...) lembrei da recepção das crianças da minha classe quando cheguei na escola ontem. Na
verdade, eu estava muito preocupada com a minha filha, que está com uma alergia muito forte;
estava chateada com a forma de ser tratada na hora da consulta. Por conta de uma manhã tão
tumultuada pensei que teria muita dificuldade de dar aula, mas para minha surpresa foi um dia
maravilhoso devido à manifestação de carinho que recebi das crianças. A profissão de professor(a)
não é fácil, mas ao mesmo tempo ela proporciona a oportunidade de vivenciar esses momentos
primorosos, momentos que ficarão na memória para sempre, um presente que não tem preço".
O professor que está aberto a aprender com os alunos, está o tempo todo se renovando.
Nós estamos cada ano mais velhos; nossos alunos, no entanto, estão chegando sempre
mais ou menos com a mesma idade. Isto, com certeza, permite uma renovação, nos desafia a
manter diálogo com novas formas de ver e estar no mundo. Há, por exemplo, grandes publicitários
que não deixam de dar aula para se alimentarem da energia, da criatividade, da forma de ser das
novas gerações.
Hoje em dia, com a “sociedade da informação”, com o avanço das tecnologias da
informação e da comunicação, parece que está todo mundo com pressa de estar com pressa em
outro lugar. O sujeito está ali, mas o quente mesmo está acontecendo em outro lugar. Quando
chega lá, o quente mesmo está noutro... Ou seja, nunca está onde deveria estar. Só há um
problema: educação não se faz sem presença! As crianças, os jovens, os adultos estão chegando
na escola muito marcados pela fragmentação. Se não encontram alguém que ao menos está
buscando uma inteireza, o encontro humano fica impossível.
11.Há pessoas que trabalham com máquinas, com plantas, com madeira, com papel, etc. Nós temos este privilégio de
trabalhar com pessoas e ainda em fase de desenvolvimento.
12.Do Ensino Fundamental I, da Rede Municipal de Educação de Guarulhos/SP.
24
Para Não Desistir da Docência – Celso dos S. Vasconcellos
3.Aprendizagem
Para exercer a contento nossa atividade, precisamos continuar aprendendo ao longo da
vida. Isto vale também para outras profissões. Todavia, a aprendizagem do professor tem
algumas peculiaridades pelo fato de ter de lidar com a complexidade, com a sistematização, com
as categorias de historicidade, totalidade, criticidade, em função do ensino que vem em seguida.
Ora, o conhecimento dá um grande prazer; Freud chegou mesmo a compará-lo com o
prazer sexual. É claro que estamos falando de construção de conhecimento e não de mero
acúmulo de informações, o que costuma ser profundamente enfadonho.
Os gregos tinham ao menos três nomes para tempo. Chrónos, que é o tempo
“cronológico”, o tempo físico, o tempo corrido, que pode ser medido. Kairós, que é o tempo
oportuno, o tempo especial, o tempo da visitação. E Aión, que é um tempo muito diferente porque
é um tempo que não é tempo, que não é marcado pela duração, mas pela intensidade. Algumas
vezes traduzido como Eternidade, mas, talvez melhor compreendido como o tempo dos deuses,
porque para os deuses não existe tempo. O tempo é uma invenção humana. O famoso fragmento
53 de Heráclito diz “Tempo é criança brincando, jogando; de criança o reinado”; o termo que usa
em grego não é Chrónos, e sim é Aión. Deleuze fala do Devir-Criança. Para que possamos viver
nosso Devir-Professor, o nosso Vir a Ser deve estar marcado por essa questão da infância, ou
seja, essa alegria de conhecer. O olhar da criança é marcado por este espanto, assombro,
surpresa, contradição, desequilíbrio, pulsão, fome, gosto, paixão, disposição epistemofílica,
avidez, sede, carência, consciência da incompletude, tendência, inclinação, vontade, curiosidade,
interesse, desejo, necessidade, motivação, mobilização para a aprendizagem.
Esta disposição epistemofílica, este desejo, esta curiosidade está na base de todo
processo de conhecimento. Avançando, lembramos que Freud comparava o prazer de conhecer
ao orgasmo. Nos encontros de formação, temos provocado os professores: “Se sua vida sexual
não vai muito bem, estude mais, pesquise mais!”. Isto porque, a rigor, todo processo de
aprendizagem está mexendo com a libido, com esta disposição básica para a vida, em todas as
suas dimensões. Isto vale também para quem tem uma vida contemplativa. Os escritos de Santa
Tereza D’Ávila, de São João da Cruz, os relatos que fazem sobre a contemplação, em alguns
momentos o êxtase, a intensidade da vivência é tão grande que parecem que estar descrevendo
um orgasmo. É impressionante a alegria que revelam no estado de contemplação. Mas a gênese
é a mesma: a busca, a curiosidade. Ninguém vai contemplar a face do Senhor se não estiver
ardentemente buscando-a. O salmista já dizia isto de forma tão clara: “Uma só coisa peço ao
Senhor, e só a ela busco: habitar na casa do Senhor todos os dias de minha vida”. Não estudo e
pesquisa que se sustente se não estiverem marcos por uma profunda curiosidade, por uma
ardente busca. Então, o professor que está envolvido em processo de conhecimento é aquele que
está alimentando, desenvolvendo a sua libido. Daí a sua alegria.
Notem que está tudo ligado. Estamos falando da mais profunda raiz da epistemologia, do
processo de construção do conhecimento, ao mesmo tempo da experiência do amor do casal, ou
da oração do místico. Está tudo relacionado. Essa é uma coisa muito bonita do conhecimento,
este eterno convite a ser mais, a aprender em níveis cada vez maiores de abrangência e
complexidade. E essa é a possibilidade de alegria radical do professor. O professor que é
professor está sempre envolvido nessa dinâmica da aprendizagem.
4.Ensino
O Magistério propicia o prazer de ensinar, de ver o outro aprender com nossa mediação (é
o outro quem cresce —por mais que goste de um aluno, não posso conhecer por ele—, mas com
nossa ajuda). Preparamo-nos a vida toda para ser o profissional que somos hoje; dedicamo-nos a
estudar, pesquisar, determinada área do conhecimento humano; agora, na sala de aula,
25
Para Não Desistir da Docência – Celso dos S. Vasconcellos
percebemos que aquilo que faz tanto sentido para nós, faz sentido também para outras pessoas,
com as quais talvez nunca tivéssemos encontrado antes. Nada se compara com a satisfação de
encontrar um antigo aluno e ouvir aquela carinhosa e significativa saudação: “Professor...” Neste
momento, temos a certeza de que deixamos uma marca (ensino vem do latim insignare, pôr um
sinal —signum—, marcar com sinal, dar a conhecer). Dessa forma, o magistério favorece a
experiência radical de ser coautor da criação. O professor, assim, não morre jamais (Rubem
Alves).13
Uma das marcas do professor é justamente esta: está sempre antenado com
possibilidades novas para a atividade de ensino. Tirou férias, está caminhando na praia, vê uma
pedra, uma formação rochosa meio diferente, o que faz? “Vou mostra isso para os alunos!” Está
sossegado em casa assistindo um filme, de repente, “Opa, posso passar esse filme para os
meninos, vai ser interessante para discutir aquele tema...” Este é o professor, ligado, vislumbrando
novas possibilidades de ensino.
Entretanto, esta alegria só pode ser experimentada por quem se dedica, se entrega
efetivamente ao ensino. Infelizmente, há professores esperando que primeiro os alunos se
disponham, para que daí ele faça sua parte. Nós somos os adultos da relação, temos de tomar
iniciativa. Certa feita, adentram a sala da coordenação pedagógica um professor e um aluno do
Ensino Médio. O aluno, dirigindo-se ao coordenador diz “O professor me xingou”; o professor vira-
se e fala “É, mas ele me xingou primeiro...” Alguém ali não estava com clareza sobre seu papel.
Afinal, quem é o adulto da relação?
Martin Buber, no livro Histórias do Rabi, tem uma colocação muito interessante: “O mestre
orienta os discípulos e, nos momentos de depressão, os discípulos reorientam o mestre”. Isto é
fantástico. Quem já foi resgatado por seus alunos em momentos difíceis de sua vida sabe o
quanto esta afirmação é verdadeira. Todavia, isso só pode acontecer se houve uma entrega
primeiro, se vínculos profundos foram criados com os alunos. Como nos diz Fernando Pessoa:
Este poema remete à essa necessidade mergulhar, de se entregar àquilo que estamos
fazendo.
A educação é uma coisa maravilhosa, mas pede uma entrega. Nós temos que arriscar.
Não podemos ficar esperando que a iniciativa venha do aluno. A iniciativa primeira tem que ser
nossa. Há uma alegria enorme. Todavia, só é vivida por quem se entrega.
Pequeno exemplo, relatado por professoras da Rede Municipal do Rio de Janeiro, sobre
duas professoras trabalhando com o 6º ano, com os mesmos alunos, na Comunidade da Maré.
Uma professora: os alunos agridem, ameaçam de morte, riscam o carro, furam o pneu. A outra: os
alunos vão buscá-la lá fora, como uma espécie de anjos da guarda, para protegê-la. Como
explicar isso? - É o salário do professor que é um absurdo. Sim, de um modo geral o salário é um
absurdo, mas, nesse caso, é o mesmo. - É a família que não põe limites. É a mesma família. São
os mesmos alunos. – É o Estatuto da Criança. É o mesmo Estatuto. – É o Faustão. É o mesmo
13.Um fato recente na rede de ensino da cidade de São Paulo é revelador: foi desenvolvido um projeto com alunos
monitores de informática. Um dos objetivos básicos era propiciar o protagonismo juvenil. Ao término do projeto, emergiu
algo surpreendente: vários destes jovens manifestaram o desejo de ser professor. Tinham experimentado justamente
este prazer de ensinar...
26
Para Não Desistir da Docência – Celso dos S. Vasconcellos
Faustão. Qual seja, todos os fatores externos são os mesmos. O que muda, segundo o relato das
professoras? A atitude delas, a postura, o vínculo.
Pelo relato, a primeira professora chega na classe, no 1º dia de aula, com uma postura
mais ou menos assim: “–Ai meu Deus! O que eu vim fazer aqui? Todos esses neguinhos safados,
filhos de marginais. Não vejo a hora de sair daqui.” Como sabemos, ela não precisa falar coisa
alguma, mas os alunos captam. Freud explica: nosso grande encontro é o dos inconscientes. O
que falamos é só a pontinha do iceberg. A violência física dos alunos é uma resposta, não
consciente, a essa violência simbólica, afetiva, estética, ética da professora.
E a outra professora? Pelo que contaram, no primeiro dia de aula chega na sala de aula e
diz algo do tipo: “–Eu vim para ficar. Vocês estão me vendo, aqui, este ano. Se me procurarem no
ano que vem, nesta escola, vou estar aqui. E no outro ano, também vou estar. Eu vim para ficar.
Quero dizer de coração aberto: nunca os vi, sempre os amei. Quando me fiz professora, me fiz
professora para ser professora de todos os alunos que a sociedade me colocasse. Não me fiz
professora para trabalhar com este ou com aquele aluno. Me fiz professora para trabalhar com
todos aqueles alunos que a sociedade me colocasse. Desejei ardentemente esse encontro com
vocês. Nunca os vi, sempre os amei. Esta é a minha profissão e, modéstia a parte, sou muito boa
nisso. Já ajudei muita gente a aprender. E sei que vocês todos podem aprender, porque todo ser
humano pode aprender se forem dadas todas as condições. E nós vamos dar as condições aqui.
Só não consigo fazer isso sozinha. Preciso da ajuda de vocês. Posso contar com vocês? Vamos
combinar? Nenhum a menos? Se algum colega tiver dificuldade, vamos ajudar para que venha
aprender? Se algum colega começar a faltar, vamos atrás? Vamos combinar?”
Certamente, um contrato como esse na sala de aula faz uma profunda diferença. O que
cada uma delas está fazendo? Usando sua respectiva Zona de Autonomia Relativa. Só que cada
uma numa direção. Não estamos negando os limites externos, todavia é fundamental lembrar que
sempre existe um espaço de liberdade, uma Zona de Autonomia Relativa (Vasconcellos, 2017a).
—Querer
Desejo
Possibilitar o contato do professor (desejo nasce do desejo, do encontro):
Com pessoas (do presente ou do passado) marcadas pelo desejo, pela vida, pela busca
de alternativas; este contato pode se dar direta ou indiretamente
Com práticas de mudança que estão acontecendo na nova direção; sentir o gosto, o
clima, a satisfação de quem mudou. Perceber que é possível
Com o “outro lado” (os que sofrem sua ação); ver como sua ação está repercutindo
27
Para Não Desistir da Docência – Celso dos S. Vasconcellos
Com os excluídos, aqueles que não estão tendo “sucesso” no “esquema da escola” (ou
da sociedade); tocar a chaga daquele que sofre (ir além do próprio umbigo)14
Consigo: rever a opção pelo magistério, para ficar inteiro
Para isto, é preciso ajudar a superar o isolamento, o medo de mudar e, sobretudo, a
indiferença.
Necessidade
Ajudar professor a tomar consciência das suas contradições (entre o que sente, pensa,
quer, fala, faz). Desestabilizar, provocar a reflexão
Para isto, é preciso procurar romper estado de equilíbrio cognitivo do professor;
problematizar a ingenuidade, a alienação, ajudar a sair do “piloto automático”.
14.Como ofício temos de saber mais sobre aprendizagem. Como se processa, mas também como se quebra
o desenvolvimento mental, ético, emocional, identitário... da infância submetida à barbárie e à exclusão
(Arroyo).
28
Para Não Desistir da Docência – Celso dos S. Vasconcellos
Referências Bibliográficas
Geral:
ALVES, Rubem. Palavras para comer. In: Estórias de quem gosta de ensinar. São Paulo: Cortez/Autores
Associados, 1984.
ARENDT, Hannah. Entre o Passado e o Futuro, 4a ed. São Paulo: Perspectiva, 1997.
BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2001.
BRUNER, Jerome. A Cultura da Educação. Porto Alegre: Artmed, 2001.
BUBER, Martin. Eu e Tu. Trad. N. Aquiles von Zuben. 2ª ed. São Paulo: Cortez & Moraes, 1979.
CALVINO, Italo. As Cidades Invisíveis. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.
CAMUS, Albert. O Mito de Sísifo — ensaio sobre o absurdo. Lisboa: Edição Livros do Brasil, s/d.
CASTRO, Josué. Fome: um tema proibido – últimos escritos (org. Anna M. de Castro). Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2003.
ESPINOSA, Baruch de. Ética. In Os Pensadores, 2a ed. São Paulo: Abril Cultural, 1979.
FRANKL, Viktor. Um sentido para a vida - Psicoterapia e Humanismo. Aparecida, Ed. Santuário, 1989.
FREIRE, Paulo. A Educação na Cidade. São Paulo: Cortez, 1991.
FREUD, Sigmund. Além do Princípio do Prazer. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas
Completas, vol. XVIII, 1ª reimpressão. Rio de Janeiro: Imago, 1988.
FREUD, Sigmund. Cinco Lições de Psicanálise. Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1978.
HABERMAS, Jürgen. Teoría de la acción comunicativa, I – Racionalidad de la acción e racionalización
social. Madrid: Taurus, 1999.
HAMILTON, David. Mudança social e mudança pedagógica: a trajetória de uma pesquisa histórica. In:
Teoria e Educação, n. 6. Porto Alegre: Pannonica, 1992, p. 3-32.
HERÁCLITO. Os Pré-Socráticos: fragmentos, doxografia e comentários. In: Os Pensadores, 2a ed. São
Paulo: Abril Cultural, 1978.
JAEGER, Werner. Paidéia – a formação do homem grego. São Paulo: Martins Fontes, 1979.
KLUCKHOHN, Clyde e MURRAY, Henry A. Formação da Personalidade: Determinantes. In: Personalidade
na Natureza, na Sociedade e na Cultura, vol. 1. Belo Horizonte: Itatiaia, 1965.
KRISHNAMURTI, Jiddu. A Educação e o Significado da Vida. São Paulo: Cultrix, 1957.
MARX, Karl. Manuscritos Económico-Filosóficos. Lisboa: Edições 70, 1989.
29
Para Não Desistir da Docência – Celso dos S. Vasconcellos
MORIN, Edgar. A Boa e a Má Utopia. In: Encontros de Châteauvallon. Para uma Utopia Realista. Lisboa:
Instituto Piaget, 1998.
NIETZSCHE, Friedrich W. Genealogia da Moral: uma polêmica. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.
ORTEGA Y GASSET, José. Meditaciones Del Quijote, 8ª ed. Madrid: Revista de Occidente/Alianza Editorial,
2005 [1914].
PLATÃO. Diálogos (O Banquete, Fédon, Sofista, Político). In: Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural,
1979.
SNYDERS, Georges. A Alegria na Escola. São Paulo: Manole, 1988.
__________ Escola, Classe e Luta de Classes, 2a ed. Lisboa: Moraes, 1981.
Van der VEER & VALSINER, Jaan. Vygotsky: uma síntese. São Paulo: Loyola, 1996.
VASCONCELLOS, Celso dos S. Sociedade, políticas para a educação e a produção da subjetividade
avaliativa. In: FETZNER, Andréa R. e MENEZES, Janaina S. da S. (orgs.). A Quem Interessa a
Democratização da Escola? Reflexões sobre a Formação de Gestores. Rio de Janeiro: Outras
Letras, 2012.
__________ Coordenação do Trabalho Pedagógico: do projeto político-pedagógico ao cotidiano da sala de
aula, 13a ed. São Paulo: Libertad, 2017.
VYGOTSKY, Lev S. A formação Social da Mente. São Paulo: Martins Fontes, 1984.
VYGOTSKI, Lev S. El problema del retraso mental. In: Fundamentos de Defectología. Obras Escogidas V.
Madrid: Visor, 1997.
WALLON, Henri. Psicologia e Educação da Criança. Lisboa, Vega, 1979.
WINNICOTT, Donald W. Tudo Começa em Casa. São Paulo: Martins Fontes, 1989.
Sobre a Esperança
ALVES, Rubem. Da Esperança. Campinas, SP: Papirus, 1987 [1969].
BLOCH, Ernst. O Homem como Possibilidade. In: Tempo Brasileiro (8). Rio de Janeiro: Edições Tempo
Brasileiro, 1966.
__________ O Princípio Esperança, vol. 1. Rio de Janeiro: EdUERJ/Contraponto, 2005.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Esperança. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992.
__________ Rumo a uma “pedagogia do desejo”. In: Pedagogia dos Sonhos Possíveis. São Paulo: Editora
Unesp, 2001.
FROMM, Erich. A Revolução da Esperança: por uma tecnologia humanizada. São Paulo: Círculo do Livro,
s/d.
FUNDAÇÃO AMERÍNDIA (org.). Globalizar a Esperança. São Paulo: Paulinas, 1998.
FURTER, Pierre. Dialética da Esperança: uma interpretação do pensamento utópico de Ernst Bloch. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 1974.
GARAUDY, Roger. O Projeto Esperança. Rio de Janeiro: Salamandra, 1978.
30
Para Não Desistir da Docência – Celso dos S. Vasconcellos
JOHANN, Jorge R. Educação e a Utopia da Esperança: um novo homem e uma nova sociedade. Canoas:
Editora da Ulbra, 2008.
MATOS, Olgária C. F. Ethos e Amizade: a morada do homem. In: DOMINGUES, Ivan (org.) Conhecimento e
Transdisciplinaridade. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2001.
MOLTMANN, Jürgen. Teologia da Esperança, 3ª ed. revista e atualizada. São Paulo: Edições Loyola, 2005.
MORIN, Edgar. A Boa e a Má Utopia. In: ENCONTROS DE CHÂTEAUVALLON. Para uma Utopia Realista.
Lisboa: Instituto Piaget, 1998.
VASCONCELLOS, Celso dos S. O Professor como sujeito histórico de transformação. In: Para onde vai o
Professor? Resgate do Professor como Sujeito de Transformação, 14a ed. São Paulo: Libertad,
2017c.
Sobre o Professor
ALVES, Rubem. Conversas com quem gosta de ensinar. São Paulo: Cortez/Autores Associados, 1981.
ARROYO, Miguel G. Ofício de Mestre: imagens e auto-imagens. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.
BRANDÃO, Carlos R. Lutar com a Palavra – escritos sobre o trabalho do educador. Rio de Janeiro: Graal,
1982.
CODO, Wanderley e VASQUES-MENEZES, Iône. O que é burnout? In: CODO, Wanderley (coord.),
Educação: carinho e trabalho. Petrópolis, RJ: Vozes, 1999.
ESTEVE, José M. O Mal-Estar Docente. Lisboa: Escher, 1992.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e
Terra, 1997.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Indignação: cartas pedagógicas e outros escritos. São Paulo: Editora Unesp,
2000.
GUSDORF, Georges. Professores para quê? Lisboa: Moraes, 1970.
MEIRIEU, Philippe. Carta a um Jovem Professor. Porto Alegre: Artmed, 2006.
NÓVOA, António. Professores: Imagens do Futuro Presente. Lisboa: Educa, 2009.
SEVERINO, Antônio J. Formação de professores e a prática docente: os dilemas contemporâneos. In:
PINHO, Sheila Z. de (org.). Formação de Educadores: Dilemas Contemporâneos. São Paulo,
Editora UNESP, 2011.
TORRES SANTOMÉ, Jurjo. A Desmotivação dos Professores, 2ª ed. Mangualde: Edições Pedago, 2011.
VASCONCELLOS, Celso dos S. Para onde vai o Professor? Resgate do Professor como Sujeito de
Transformação, 14a ed. São Paulo: Libertad, 2017c.
__________ Competência Docente na Perspectiva de Paulo Freire. Revista de Educação AEC. Brasília:
abril/junho de 2007 (n. 143).
__________ É Possível Sair do Marasmo – entrevista. A Revista do Educador Direcional. São Paulo: junho
de 2006 (n. 17).
__________ Falsas Idéias e (Des)Estímulo aos Educadores. Pátio Revista Pedagógica. Porto Alegre:
agosto/outubro de 2006 (n. 39).
__________ O(a) Professor(a) mexe com o sentido da vida – entrevista. Mundo Jovem. Porto Alegre:
outubro de 2005 (n. 361).
__________ A transformação cabe ao Professor – entrevista. Extra Classe. Porto Alegre: Sinpro/RS, maio
de 2007 (n. 113).
Dica de Leitura:
http://www.celsovasconcellos.com.br/index_arquivos/Page569.htm
31
Para Não Desistir da Docência – Celso dos S. Vasconcellos
32
Para Não Desistir da Docência – Celso dos S. Vasconcellos
Trabalho com alunos e pais sobre o sentido da Aluno escolhe o momento para ser avaliado
mudança da avaliação (núcleo: aprendizagem, Assembleias de classe (periódicas ou em
desenvolvimento e alegria crítica) função de necessidade) para refletir aberta e
Avaliação Socioafetiva: não vinculada à sistematicamente sobre os problemas surgidos
Aprovação/Reprovação Aulas assistidas (e refletidas) por colegas
Gravação das aulas para análise posterior Avaliação externa da instituição
Sentir-se autorizado a fazer o que acredita:
parar a fim de atender os alunos, tentar outras
abordagens, usar novos recursos didáticos
34