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O presente texto foi elaborado (agosto/2010 e sofreu alterações em agosto/2011) com a
finalidade pedagógica de sensibilização para processos de formação de grupos que pretendem
romper com a cultura da heterossexualidade obrigatória, do sexismo e da
homofobia/lesbofobia/transfobia social e institucional. Fortaleza, agosto de 2011 sob a
inspiração do arco-íris... Trata-se de um texto introdutório ao debate.
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Assistente Social da Coordenadoria da Diversidade Sexual da Prefeitura de Fortaleza,
coordenando o Núcleo de Formação e Pesquisa em Direitos Humanos LGBT. Mestra em
Serviço Social pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Militante
lesbiana/negra/feminista no movimento de mulheres lésbicas negras feministas latino-
americano e do Caribe e no DIVAS – Grupo em Defesa da Diversidade Afetivo-Sexual. E-mail:
maryluciatrabalho@gmail.com .
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Na perspectiva teórica, aqui adotada, a realidade é sempre mais complexa do que as teorias
que tentam explicá-la, porque é movimento, é contraditória, envolve diferentes sujeitos e sofre
múltiplas determinações e precisa ser compreendida a partir da totalidade.
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Na perspectiva feminista,
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Não estou adotando sexo como relação sexual, embora este possa ser uma outra definição
de sexo.
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A sociedade pré-estabelece
(1) Na lógica sexista, uma criança nasce com uma genitália “pênis”,
portanto, será considerado macho e chamado de Pedro e,
portanto, será homem e masculino.
(2) Nessa mesma lógica sexista, uma criança nasce com uma
genitália “vagina”, portanto, será considerada fêmea e chamada
de Marcela e, portanto, será mulher e feminina.
Ex.1: Pedro possui pênis. Seu sexo biológico é macho. No entanto, sua
identidade de gênero não afirma o gênero dominante, no caso o gênero
masculino. Diferentemente se reconhece com identidade de gênero
travesti. Relaciona-se com mulheres e a orientação do desejo afetivo-
sexual afirma a heterossexualidade.
Ex.2: Pedro possui pênis. Seu sexo biológico é macho. No entanto, sua
identidade de gênero não afirma o gênero dominante, no caso o gênero
masculino. Diferentemente se reconhece com identidade de gênero
travesti. Relaciona-se com homens e a orientação do desejo afetivo-
sexual afirma a homossexualidade.
Ex.3: Pedro possui pênis. Seu sexo biológico é macho. No entanto, sua
identidade de gênero não afirma o gênero dominante, no caso o gênero
masculino. Diferentemente se reconhece com identidade de gênero
transexual feminina (ou mulher trans). Realizou o processo de
readequação genital no SUS. Relaciona-se com mulheres e a orientação
do desejo afetivo-sexual afirma a lesbianidade.
Ex.4: Pedro possui pênis. Seu sexo biológico é macho. No entanto, sua
identidade de gênero não afirma o gênero dominante, no caso o gênero
masculino. Diferentemente, se reconhece com identidade de gênero
transexual feminina (ou mulher trans). Relaciona-se com homens e a
orientação do desejo afetivo-sexual afirma a heterossexualidade.
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Apesar do conceito de homofobia designar etmologicamente medo, aversão, ódio a iguais.
Historicamente, o termo é associado a homossexuais masculinos, invisibilizando a opressão
sofrida pelas lésbicas, travestis e transexuais. Por este entendimento é que o movimento de
mulheres lésbicas latino-americanas e caribenhas fez a opção política de adotar o conceito de
lesbofobia para visibilizar as diferentes formas de violência praticadas contra mulheres
lésbicas. E o movimento trans fez a opção política de adotar o conceito de transfobia para
visibilizar a opressão que sofrem as travestis e transexuais. Neste artigo adotaremos a
conjunção dos termos homofobia/lesbofobia/transfobia.
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Sobre a utilização do termo “sapatão” há polêmicas e divergências no âmbito do próprio movimento
lésbico-feminista latino-americano e caribenho. Compartilho de vertente teórico-política do movimento
lesbiano-feminista que compreende que os conceitos têm história e, portanto, reconheço que o termo
“sapatão” nasce de um fundamento patriarcal. Isso significa dizer que nasce para informar socialmente
que uma mulher que deseja e sente tesão por outra mulher pretende ser homem. Afinal, na perspectiva
patriarcal as mulheres são objeto de desejo dos homens. Acredito ser necessário e imprescindível
afirmar o conceito mulher como desconstrução do instituído socialmente. Portanto, incomoda e se
revela como afronta ao patriarcado tornar público “sou mulher e amo, desejo, sinto tesão por outra
mulher!” Assim, não me filio à perspectiva teórico-política queer que valoriza a adoção do termo como
ação política do movimento de lésbicas no sentido de seu fortalecimento político. E nesse sentido,
compartilho que a “partir dos anos 90 surge nos Estados Unidos um novo desvio de gênero,
representado em alguns espetáculos da cantora Madonna e promovido por ativistas e alguns
universitários com o nome de movimento e teoria queer: bizarro, ambíguo, insulto usado para designar
homossexuais, reivindicado aqui para afirmar e reunir todos os comportamentos diferentes daquele da
heterossexualidade normativa: homossexuais, lésbicas, transexuais, travestis, bissexuais etc.) Inspirados
por uma forma de pós-modernismo e reprovando os movimentos feministas, lésbicos e gays anteriores
por terem centrado o seu foco sobre questões relativas às identidades coletivas construídas, os queer
consideram que as categorias de oposição binária (homens/mulheres, homo/heterossexual) são
ultrapassadas ou mesmo “essencialistas” (enquanto nós havíamos demonstrado que elas são
construídas pela opressão!). Trata-se então de ultrapassar o gênero (transgendering), embaralhando,
desordenando, “perturbando” (Butler, 1990) as categorias de sexo e sexualidade. Eles *queer+ se
interessam pelo(s) gênero(s) como uma “representação” quase teatral (performance), que cada
indivíduo poderia desempenhar à sua maneira (ver os artigos críticos de F. Collin, 1994; Charest, 1994;
Marthieu, 1994). Os aspectos simbólicos, discursivos e paródicos do gênero são privilegiados em
detrimento da realidade material histórica das opressões sofridas pelas mulheres, e essa tendência
encontra forte oposição entre algumas lésbicas e feministas, especialmente as feministas “de cor”
americanas e as do Terceiro Mundo” (Hirata, Helena... *ET al]. (orgs). 2009, pág. 228).
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HETERONORMATIVIDADE =
E o que é Homofobia/Lesbofobia/Transfobia?
E o que é HOMOFOBIA/LESBOFOBIA/TRANSFOBIA
INSTITUCIONAL?
Violência psicológica
Violência moral
- identidade de gênero
- orientação sexual
- prática sexual
- identidade política.
HSH - Mulheres que fazem sexo com mulheres. Conceito elaborado pelo
Ministério da Saúde.
Bissexuais -
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MESQUITA, Marylucia - Artigo “Orientação Sexual: Experiência privada, opressão privada e pública –
um desafio para os direittos humanos”, apresentado durante o X Congresso Brasileiro de Assistentes
Sociais no RJ em 2001.
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não têm gostam de fazer sexo oral, outras que gostam de sexo oral, anal
e etc. Esta é, por exemplo, a dimensão privada da sexualidade. No
entanto, não podemos restringir a sexualidade apenas à dimensão
privada porque isso seria insuficiente e superficial.
Nesse sentido, se impõe reconhecer a dimensão pública da
sexualidade humana. Ou seja, a prática afetivo-sexual exige a garantia
de uma dimensão pública, coletiva. O ser humano necessita expressar
que é amado e pode amar. E isso é garantido à população heterossexual
que tem direito à expressão pública de seu afeto na rua, nos bares em
qualquer espaço público. Não é justo que heterossexuais tenham direito
à coisa pública e lésbicas, gays, travestis, transexuais e transgêneros
tenham que viver em guetos, “no armários”, excluídos da sociedade. A
sexualidade assim como a necessidade de alimentar, de ter um local
para morar, de ter trabalho é uma dimensão fundamental da nossa
existência humana e não deve permanecer aprisionada. A sociedade e o
Estado precisam garantir o reconhecimento das múltiplas sexualidades,
da diversidade sexual. Afinal, a sexualidade é uma parte integral da
individualidade de todo ser humano e seu desenvolvimento total
depende da satisfação de necessidades humanas básicas tais como
desejo de contato, intimidade, expressão emocional, prazer, carinho e
amor. Nessa perspectiva, a sexualidade é construída através da
interação entre o indivíduo e sociedade. O pleno desenvolvimento da
sexualidade é essencial para o bem estar individual, interpessoal e
social. (Idem, 2001)
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
DOCUMENTOS: